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O Princípio Da Hierarquia Face Ao Princípio Da Legalidade e Imparcialidade
O Princípio Da Hierarquia Face Ao Princípio Da Legalidade e Imparcialidade
2. Desenvolvimento
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2.2 Discricionariedade e auto-vinculação
Uma norma (permissiva, proibitiva ou impositiva) atribui discricionariedade quando da
mesma se extraia mais de uma possibilidade de atuação administrativa.
A razão de ser da atribuição de discricionariedade, como afirma David Duarte
(Procedimentalização, participação e fundamentação: para uma concretização do
princípio da imparcialidade administrativa como parâmetro decisório), é que ao ser
estabelecida uma relação direta entre decisor e as circunstâncias, é maior a
possibilidade de se atingir uma solução material mais adequada às exigências do caso
concreto. Se uma norma atribui discricionariedade é porque o ordenamento quer que
o decisor faça a melhor escolha, tendo em conta os elementos do caso concreto.
Existe auto-vinculação quando o decisor normativo estabelece critérios adicionais de
decisão, que se podem estabilizar no ordenamento, em virtude do imperativo de
reprodução jurídica dos efeitos criados, que por sua vez é proveniente dos princípios
da igualdade e da boa fé.
Se os pressupostos adicionais da norma de auto-vinculação estiverem dispostos como
condições únicas para a produção do efeito da estatuição, então quer a situação
material as sugira ou não, a possibilidade de ponderação esgotar-se-á aí.
Ao invés, se os pressupostos adicionais da norma de auto-vinculação, se apresentarem
apenas como condições acrescidas, não exclusivas, a aplicação da estatuição
normativa continua a não ser suscetível de realizar-se sem que a operação de decisão
não tenha de prosseguir na captação da realidade, onde ainda será uma norma de
auto-vinculação legítima (não há violação do princípio da imparcialidade).
O princípio da legalidade impõe ainda duas condições fundamentais: a construção da
norma de auto-vinculação tem de ser efetuada à luz (i) do interesse público secundário
que preside à norma primária e (ii) do contexto sistemático, situando-se dentro do
âmbito temático que os pressupostos iniciais delimitam.
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discricionária dos subalternos, tornando-se o mais sério limite à discricionariedade
concebido pelo ordenamento jurídico e conferido à própria Administração Pública.
Se numa primeira análise se poderia dizer que a situação em causa seria violadora da
norma legal atribuidora de competência discricionária ao subalterno, pois essa mesma
discricionariedade desapareceria ante a vontade prevalecente do superior hierárquico,
a verdade é que resultaria da lei um dever de obediência ilimitado dos subalternos aos
comandos hierárquicos legais do respetivo superior hierárquico.
Assim, o Autor em causa (bem como aliás André Salgado de Matos e Marcelo Rebelo
de Sousa, entre outros) defende a prevalência incondicional do princípio da hierarquia,
afirmando em abstrato que aquele prevalece sobre qualquer outro imperativo que
com ele conflitue.
3.Conclusão
Com o devido respeito, a posição do autor não nos parece coerente com a inequívoca
afirmação da dimensão principiológica daquele. Os princípios não contêm mandatos
definitivos, senão prima facie. O que caracteriza aquele tipo de normas é a existência
de relações de precedência condicionadas. Em rigor, não podemos, a priori, afirmar
que a hierarquia prevalece sempre. Podemos, claro, admitir que uma competência
indiscriminada de desaplicação provocará uma erosão da hierarquia administrativa,
mas este é somente um argumento que reforça o carácter prima facie do princípio da
hierarquia, não razão para a sua aplicação nos termos das relações de precedência
incondicionada.
Como principio que é, e estando no mesmo patamar que os princípios da
imparcialidade e da legalidade, as colisões entre estes devem ser solucionadas por
meio de ponderação dos interesses em conflito, observando-se ainda a necessidade do
estabelecimento de uma relação de precedência condicionada, onde se determinará
em quais situações determinado princípio prevalecerá sobre o outro.
4. Bibliografia