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RESUMO
O trabalho está inserido no contexto de um programa do governo federal criado em 2012, intitulado Gestão de Riscos
e Resposta a Desastres Naturais, como instrumento para o enfrentamento dos desastres naturais ocorridos no Brasil
nos últimos anos, como aquele na Região Serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, que levou à morte mais de
900 pessoas. A pesquisa teve como tema central o mapeamento geotécnico voltado para o planejamento urbano, em
escala 1:25.000. O objetivo principal do trabalho consistiu no desenvolvimento de método para a elaboração de carta
geotécnica de aptidão urbana, com a finalidade de fornecer à gestão pública diretrizes de mapeamento para a expansão
urbana dos municípios, de forma a prevenir os desastres naturais. O estudo foi desenvolvido na bacia hidrográfica do
rio Maracujá, em uma área de 120 km2, no município de Ouro Preto, Minas Gerais. O método baseou-se na análise
de suscetibilidade do meio físico aos processos geodinâmicos e no comportamento geotécnico do terreno, e propõe
o critério de exclusão para a definição das unidades geotécnicas, que leva em consideração aspectos geológicos,
geomorfológicos, ambientais, legais e geotécnicos. O resultado principal foi o zoneamento da área em três unidades:
alta aptidão à urbanização; média aptidão à urbanização; e baixa aptidão à urbanização. O método apresentou como
principais vantagens o fato de ser direto, portanto, passível de replicação, sem a necessidade de procedimentos mais
complexos; a execução de todo o procedimento em tempo relativamente curto; e a facilidade de obtenção das principais
informações para a elaboração da carta geotécnica.
Palavras-chaves: Planejamento Urbano, Aptidão Urbana, Critério De Exclusão.
ABSTRACT
The work is in the context of the federal program created in 2012, entitled Management Risk and Natural Disaster
Response, as a tool to dealing with natural disasters occurred in Brazil in recent years, like the one in the mountainous
region of Rio de Janeiro, in January 2011, which led to death more than 900 people. The research aimed to geotechnical
mapping focused to urban planning, at 1:25,000 scale. The main objective was to develop a method for preparation
of geotechnical map of urban suitability, with the purpose of providing public management guidelines for mapping
urban expansion of cities to prevent natural disasters. The study was developed in the region of the Maracujá River
basin, in an area of 120 km2, in Ouro Preto, Minas Gerais state. The method was based on the susceptibility analysis
Carvalho T. R. R. & Sobreira F. G.
of the environment to geodynamic processes and geotechnical behavior of the land, and proposes the exclusion crite-
rion for the definition of geotechnical units, which takes into account the geological, geomorphological, geotechnical,
environmental and law aspects. The main result was the zoning of the area into three units: areas of high suitability
for urbanization; areas of intermediate suitability for urbanization; and areas of low suitability for urbanization. The
method has as main advantages the fact of being direct, therefore, with possibility of replication without the needing
for more complex procedures; implementation the entire procedure in a relatively short time; and the ease of obtaining
the main information for the preparation of geotechnical map.
para o planejamento da ocupação urbana. Além por relevo de mar-de-morros esculpido sobre
disso, a bacia é cortada transversalmente pela rochas do embasamento cristalino, a partir do
BR-356, principal acesso do município à capital qual se desenvolve espesso manto de alteração.
do estado, Belo Horizonte, e tem suas principais Estas características são a realidade de grande
vias de acesso em boas condições. parte do sudeste brasileiro, o que permite
Outro fator relevante para a escolha da que os procedimentos desenvolvidos neste
bacia consistiu nos aspectos do meio físico, estudo possam ser replicados em outras áreas
uma vez que a maior parte da área é formada semelhantes.
Fig. 3 - A e B representam o setor sul da área, com relevo mais declivoso e solos pouco espessos.
C e D representam o baixo e médio curso da bacia, com relevo de mar-de-morros e solos bastante
espessos.
3.1 Preparação da base cartográfica e pro- cadastro se restringiu à delimitação das feições
dutos cartográficos produzidos erosivas atuais e passadas, e das planícies de
A base cartográfica foi preparada em inundação. As cicatrizes de escorregamento não
ambiente SIG, na plataforma ArcGis 9.3, foram consideradas devido à falta de registros
por meio da digitalização de quatro folhas de ocorrências, assim como de imagens que
topográficas que recobrem a área de estudo, possibilitassem uma análise temporal e pela
todas em escala 1:25.000: SF23-X-A-III-3-NE própria dificuldade de se identificar cicatrizes
– Itabirito, SF-23-X-A-III-4-NO – Cachoeira antigas em campo.
do Campo, SF-23-X-A-III-4-SO – Dom Bosco, Com a base cartográfica montada, outros
executadas pela Diretoria do Serviço Geográfico documentos foram gerados, tendo em vista
do Exército (DSG); e SF23-E-I-2-SO – Rio de os condicionantes dos processos geológicos
Pedras, do Departamento Nacional de Produção ocorrentes, mapeáveis na escala 1:25.000.
Mineral (DNPM). A digitalização abrangeu as Assim, foram elaborados: mapa de declividade;
curvas de nível, pontos cotados, curso d’água mapa geomorfológico; mapa de inventário
e estradas. de feições; e mapa de Áreas de Preservação
Foram incluídas na plataforma imagens Permanente (APP).
orbitais IKONOS, de 2006, com resolução Não foi gerado um mapa de materiais
espacial pancromática de 1 m e multiespectral inconsolidados, haja vista o prazo relativamente
de 4 m, e resolução radiométrica de 11 bits curto para a execução do projeto; entretanto, tal
(2048 níveis de cinza), cedidas pela Prefeitura limitação foi parcialmente suprida com dados
Municipal de Ouro Preto. Também foram de pesquisas realizadas anteriormente na Bacia
utilizadas imagens Google Earth. do Maracujá, como também por observações
Ainda agregou-se ao sistema o mapa feitas em campo. Todavia, ressalta-se que, se
geológico, em escala 1:10.000, adaptado de houver meios, é importante sua realização para
Campos (2006), acrescido das planícies de a obtenção de um produto cartográfico mais
inundação, interpretadas e delimitadas a partir preciso.
de fotografias aéreas e validação de campo. 3.2 Trabalhos de campo
Simultaneamente à preparação da base
Os trabalhos de campo foram realizados
cartográfica foram realizados os trabalhos de
basicamente em três etapas. A primeira objetivou
fotointerpretação, a partir de fotografias aéreas
o reconhecimento da área, a identificação dos
em escalas 1:30.000 (1986), cedidas pela CEMIG,
processos geodinâmicos atuantes na bacia, e
e 1:25.000 (1949), cedidas pelo Laboratório de
definição dos procedimentos a serem seguidos
Sensoriamento Remoto da UFOP/DEGEO. Estas
para a elaboração da Carta de Aptidão Urbana.
imagens possibilitaram uma análise temporal da
Em uma segunda fase, os trabalhos de
ocupação da área e a observação de locais hoje
campo foram intensificados, com o intuito
ocupados ou modificados pela ação do homem.
de coletar informações e validar os produtos
A fotointerpretação teve como objetivo final
cartográficos intermediários produzidos (mapas
estabelecer o zoneamento da área por meio da
de declividade, geomorfológico e de inventário
técnica de avaliação do terreno, baseada no
de feições). Ao todo foram investigados 72
reconhecimento, interpretação e análise das
pontos, nos quais se analisaram aspectos
formas de relevo (landforms) (MAURO &
relativos à geomorfologia, geologia, materiais
LOLLO, 2004).
inconsolidados e processos geodinâmicos, a
Elaborou-se um inventário de processos,
partir de uma abordagem sintética.
obtido a partir do reconhecimento de campo, dos
Com a elaboração do Mapa de Aptidão
trabalhos de fotointerpretação aliado a análises
Urbana preliminar, retomaram-se os trabalhos
de imagens orbitais e informações da Defesa
de campo, em uma terceira etapa, que teve o
Civil. Como as erosões lineares aceleradas e os
objetivo de ajustá-lo com a verificação dos
processos hidrológicos (inundação e enxurrada)
limites das unidades estabelecidas em relação à
são os principais fenômenos presentes na área, o
realidade da bacia hidrográfica.
erosivos, principalmente quando da intervenção - 15° – 25°. Áreas mais inclinadas, cuja ocupação
antrópica inadequada. Dessa forma, declividades é condicionada a execução de estudos geológico-
acima deste limite impõem sérios empecilhos à geotécnicos, conforme a Lei Federal 6766/1979
ocupação urbana. (BRASIL, 1979). A declividade máxima de
Terrenos com declividades de até 15° são 25° representa o limite técnico recomendável
pouco propensos a desenvolverem movimentos à ocupação, a partir do qual são necessárias
de massa; assim, este limite foi considerado infraestruturas que incidem custos extremamente
como máximo para a ocupação de encostas, elevados aos projetos de expansão urbana
sendo inclusive conservador em relação à Lei (CUNHA, 1991). Marsh (1978) considera o valor
Federal N° 6766/1979, também conhecida como de 25° o limite para intervenções, a partir do qual,
Lei Lehmann (BRASIL, 1979), que estabelece se eliminada a cobertura vegetal, os terrenos
17° como limite máximo. Dentro do intervalo passam a apresentar maior suscetibilidade
de declividade considerado (0-15°), a exceção ao desenvolvimento de processos erosivos e
se faz às planícies de inundação e aos locais movimentação de massas;
de ocorrência das grandes feições erosivas. As - 25° – 45° . Áreas m ui to incli nadas ,
planícies de inundação, por estarem sujeitas aos desaconselháveis à ocupação com base no
processos hidrológicos de inundação e enxurrada princípio da precaução. O Código Florestal
na área de estudo (por ocasião de eventos (BRASIL, 2012) considera áreas entre 25°
pluviométricos intensos), oferecem problemas e 45° como de uso restrito, permitindo o
à expansão urbana. manejo florestal sustentável e o exercício de
Os locais com declividades entre 15° e atividades agrossilvipastoris, bem como a
25° podem desencadear movimentos de massa manutenção da infraestrutura física associada
nas encostas, portanto, devem ser ocupados ao desenvolvimento das atividades, observadas
com apoio de projetos especiais, conforme a Lei boas práticas agronômicas, sendo vedada
Federal 6766/1979 (BRASIL, 1979). a conversão de novas áreas, excetuadas as
4.4 Produtos cartográficos produzidos hipóteses de utilidade pública e interesse social;
- > 45°. Áreas altamente inclinadas, com
Para o desenvolvimento das análises foram potencialidade em sediar diferentes eventos
gerados os seguintes produtos cartográficos: geodinâmicos de grande magnitude. O limite
mapa de declividades, mapa geomorfológico, de 45° ou 100% de declividade representa uma
inventário das feições erosivas, mapa de áreas de restrição legal definida pelo Código Florestal
preservação permanente. A integração e análise como Área de Preservação Permanente (APP)
destes temas proporcionaram a elaboração da (BRASIL, 2012).
carta de aptidão à urbanização. Na Figura 5 é apresentado o mapa
4.4.1 Mapa de Declividade de declividade, com as respectivas classes
consideradas no estudo.
Os critérios utilizados na definição das
classes de declividade foram fundamentados na 4.4.2 Mapa Geomorfológico
legislação, Lei Federal 6766/1979 (BRASIL, O mapa geomorfológico (Figura 6) foi
1979) e Código Florestal (BRASIL, 2012), bem elaborado a partir do sistema de classificação
como em trabalhos como Cunha (1991) e Marsh de Ponçano (1979). Este sistema apresenta
(1978), tendo-se em vista a ocupação urbana: cinco unidades de relevo, tendo como base
- 0° – 5°. Áreas mais planas que podem sofrer o cruzamento de amplitudes, com valores
influência direta dos corpos d’água (terraços referenciais de 100 e 300 m, e declividades,
fluviais e planícies de inundação), além de topos abaixo e acima de 15°.
de morros aplainados; Embora tenha se adotado o sistema de
- 5° – 15°. Áreas onde a inclinação das encostas classificação de relevo de Ponçano (1979) para
não significa grande empecilho à ocupação. O a geração do mapa geomorfológico, no Mapa
limite superior de 17° (aproximadamente 30%) de Aptidão Urbana foi utilizada a nomenclatura
representa uma restrição legal definida pela Lei de Florenzano (2008), por se considerar de
Federal 6766/1979 (BRASIL, 1979); mais fácil entendimento por parte de não
A B
Fig. 8 – Quadro-legenda.
aos Desastres Naturais no Município de Ouro encostas: guia para elaboração de políticas
Preto, MG”. municipais. Brasília: Ministério das Cidades,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 2006. 111 p.