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Jimmy Azevedo
Arquivo Pessoal/Divulgação/JC
Anita diz que morte da mãe foi provocada por vingança
Recentemente, de forma simbólica, o Senado Federal promoveu uma homenagem para restituir
o mandato do pai, Luiz Carlos Prestes (1898-1990). É um absurdo, depois de tantos anos. É mais
uma autopromoção desses políticos, critica Anita. Luiz Carlos Prestes, uma das maiores
lideranças comunistas do século XX, foi eleito senador em 1945. Com a cassação do registro do
Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1948, Prestes e companheiros como Carlos Marighela,
João Amazonas e Jorge Amado perderam os mandatos. Antes, a partir de 1924, Prestes
coordenou uma coluna de militares que combatiam a República Velha e seus efeitos nefastos,
como miséria e opressão ao povo de regiões remotas do País. Foram percorridos 25 mil
quilômetros, entre o Brasil e Bolívia.
Jornal do Comércio O ex-presidente Getulio Vargas é endeusado como o pai dos pobres. No
entanto, a ditadura Vargas (1937-1945) foi tão sanguinária quanto o regime de 1964, guardados
os dois contextos históricos. A ditadura Vargas, inclusive, era simpática à Itália fascista. Que
leitura histórica a senhora faz desse líder político?
Anita Prestes - Getulio era um político esperto e habilidoso. Era um político que surfava na
onda. Meu pai e os comunistas nunca apertaram a mão dele ou estiveram com ele quando ele
decidiu, em 1942, apoiar os países aliados que combatiam os países do Eixo. Apenas apoiaram a
decisão dele, porque achavam que o nazifascismo tinha que ser derrotado.
JC Como a senhora vê o papel de Getulio Vargas no assassinato da sua mãe, Olga Benário?
Anita Foi Getulio quem entregou minha mãe aos nazistas. Ele foi o responsável direto pelo
assassinato dela, pois sabia que a cabeça dela estava a prêmio na Alemanha. Ele era uma figura
controversa. O meu pai só não foi torturado (durante a ditadura Vargas) porque era uma figura
conhecida mundialmente. A prisão, a extradição e o assassinato da minha mãe foi uma vingança
a Prestes praticada por Getulio, já que Prestes não se alinhou às oligarquias durante a
revolução de 30.
JC Que papel teve a Coluna Prestes (1924) para influenciar outros movimentos revolucionários
em prol dos oprimidos pelo mundo?
Anita - Não sei dizer em que a Coluna Prestes influenciou movimentos socialistas no mundo.
Mas meu pai sempre foi referência para o mundo. Dizem que a marcha de Mao Tsé-Tung (1936)
teve inspiração na Coluna Prestes. Mas foi em um outro contexto, aquele movimento pretendia
apenas ocupar um determinado território.
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Anita - Estive em Cuba há dois anos. É uma sociedade igualitária. É um absurdo falarem de
ditadura. Lá não existe nem rico, nem pobre e nem miserável. Todos estão no mesmo nível
social. Não há mendigo nas ruas, e o povo cubano é muito entusiasmado. Agora, os próprios
cubanos sabem que cometeram alguns erros e estão tentando consertar. Mas o grande
problema são os embargos (econômicos dos EUA) ao governo socialista cubano. Lá, por
exemplo, tem eleições democráticas e o povo vai às urnas.
Anita - Lula (Luiz Inácio Lula da Silva, PT) nunca me enganou, nem a mim, nem ao meu pai. O PT
nunca nos enganou, pois é um partido comprometido com a burguesia. O Lula não quis
estudar, e se deixou levar pelos intelectuais burgueses. Os próprios governos Lula estiveram
comprometidos com os setores dominantes, governando para a burguesia, garantindo os
interesses do grande capital internacionalizado. Não houve ruptura. Na verdade, foi a
continuidade do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O governo da
presidente Dilma (Rousseff, PT) é a mesma coisa em um cenário econômico menos favorecido
do que no período de Lula.
Anita - É muito difícil falar em esquerda no Brasil. É muito cedo para identificar quem se
denomina de esquerda e quem realmente o é. A prática é que vai revelar quem realmente é
esquerda.
JC Os protestos de junho, no Brasil, mostraram que é possível chegar a uma ruptura com o
sistema estabelecido através das massas?
Anita - É importante quando o povo descontente sai às ruas para protestar por direitos. Mas,
como foi de uma forma desorganizada, os resultados práticos acabaram sendo limitados. Os
protestos de junho mostraram que o povo precisa de organização para mudar a situação atual.
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