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Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri

IV Encontro Universitário da UFC no Cariri


Juazeiro do Norte-CE, 17 a 19 de Dezembro de 2012
A PRUDÊNCIA NA ÉTICA A NICÔMACO DE ARISTÓTELES

Dagmar Rodrigues1
Camila do Espírito santo2
Introdução/ Desenvolvimento

A pretensão do presente trabalho é analisar o que é a prudência enquanto virtude intelectual


e qual sua finalidade. Tal virtude é retratada no livro VI da Ética a Nicômaco. Para isso
devemos entender o que seja a deliberação e a escolha deliberada, que são condições da
ação moral, que fazem do prudente o homem da boa ação. Tal pesquisa busca esclarecer
por que Aristóteles afirma que a prudência é uma virtude própria da reta razão, qual a sua
finalidade e o que devemos fazer se pretendemos estar na posse de tal disposição. Segundo
o filósofo, o homem de prudência seria o melhor dentre os homens porque age
corretamente em vista do melhor dos fins. Analisa e escolhe certo de acordo com sua
análise, evita os vícios e ama o que é bom, uma vez que isso é o que lhe proporcinará
chegar ao fim desejado.

O prudente enquanto homem da razão

O homem dotado de prudência é superior aos não dotados de tal virtude porque o
seu agir é sempre um agir correto. Uma vez que a análise minuciosa de suas possíveis ações
é sempre critério primeiro para que possa agir de acordo com a reta razão, prudentemente,
corretamente. Por isso, se diz do que possui tal disposição, que ele saberá em qualquer
ocasião o que é bom tanto pra si como para os outros. Ele é temperante. Possuir tal
característica é coisa boa porque ela preserva nossa sabedoria. Ele é o que possui o
privilégio da intelectualidade, intelectualidade essa que não é transmitida por discursos
racionais.
1 A Prudência na Ética a Nicômaco de Aristóteles, Universidade Federal do Ceará – Cariri, Ceará,
dagmarreyle@hotmail.com.

2 A Prudência na Ética a Nicômaco de Aristóteles, Universidade Federal do Ceará – Cariri, Ceará,


camiladoespiritosanto@yahoo.com.br
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Enquanto homens dotados de prudência devemos nos afastar do vício, uma vez que
ele nos leva ao erro, nos impede de agir corretamente. Ele, o vício, ou nos leva ao excesso
ou à falta, não nos permitindo ficar no meio-termo, não nos deixa em conformidade com a
reta razão. Leva-nos aos extremos e por isso nos impede de ser cautelosos, não nos deixa
escolher certo, mas sim de uma maneira que alimente cada vez mais nossos vícios, fazendo
de nós errantes, distanciando-nos do acerto. Assim ao que é prudente cabe analisar, saber
distinguir o que é o certo do errado, tanto de um modo particular quanto de um modo geral,
visando atingir sempre o melhor dos fins, analisando qual o melhor dentre os meios para
que sua escolha possa ser a melhor. Logo se faz necessário o uso da deliberação, da boa
deliberação para que a escolha deliberada seja a melhor, a correta.

Deliberação e Escolha deliberada

Segundo Aristóteles, a alma possui duas partes, a racional e a irracional.


Sendo que a primeira parte é ainda composta de duas outras partes, uma é a parte científica
que possui a capacidade de contemplar, enquanto a outra é calculativa, a que analisa e
delibera. Assim a parte científica trata das coisas necessárias, invariáveis, que não podem
ser de outro jeito, enquanto a calculativa, trata de coisas variáveis.

Se pretendermos fazer uma escolha certa devemos desejar aquilo que afirma a
razão. Primeiro desejamos algo e se, por conseguinte, queremos agir de maneira correta,
raciocinamos para que nossa escolha seja certa e que nossa ação seja boa. Assim, a escolha
deve vir acompanhada de razão e intelecto e de disposição moral. Isso porque a boa ação só
é possível graças à combinação do bom uso da razão com o saber escolher o meio termo
correto.

Logo escolher o que é certo nos é possível por possuirmos capacidade de raciocinar,
analisando qual a melhor decisão a ser tomada. Sendo que nossa escolha tanto será boa e
correta quando fizermos uso da razão, isso porque ela sabe o que é bom e
consequentemente nos guiara para escolher o que é bom para nós e também para os demais.
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No entanto, só poderemos escolher sobre o que nos possibilita o futuro, porque o futuro é a
possibilidade, ela ainda não é. E como deliberar só é possível sobre o que está para
acontecer e pode ser diferente, pode ser mudado, é sobre ele que se delibera. Coisas
passadas não podem ser objeto de escolha, pois, já aconteceram. Mas com relação ao que
vai acontecer tanto podemos quanto devemos escolher. Sendo que nossa escolha será boa
quando formos prudentes e soubermos deliberar.

A Prudência é adquirida com a experiência

Para Aristóteles a verdade da alma depende das seguintes disposições: a arte, o


conhecimento científico, a sabedoria prática ou prudência, a sabedoria filosófica e a razão
intuitiva. Sendo que o conhecimento científico não pode ser obejeto de deliberação porque
tal conhecimento existe necessariamente. Não se pode deliberar sobre as estrelas ou sobre a
lua, pois se cria, na antiguidade, que tais eram objetos eternos imutáveis. Não se deve
analisar o que é e não deixará de ser simplesmente porque isso é imutável, porque quando
deliberamos fazemos em vista de uma escolha, o mesmo se dá com a sabedoria filosófica e
com a razão intuitiva, já que, conhecimento científico combinado com razão intuitiva é
sabedoria filosófica. Ambas as disposições dão conta de apreender as coisas que são mais
elevadas por natureza:

[...] Por isso dizemos que Anaxágoras, Tales e os homens semelhantes a


eles possuem sabedoria filosófica, mas não prática, quando os vemos
ignorar o que lhes é vantajoso e também dizemos que eles conhecem
coisas notáveis, admiráveis, difíceis e divinas, mas improfícuas. Isso
porque não são os bens humanos que eles procuram.3

Se tais disposições se ocupam com coisas divinas, coisas imutáveis e


imperecíveis, elas não necessitam de deliberação, porque a deliberação se faz sobre o que
pode ser diferente, sobre como algo pode ser ou deixar de ser, sobre como se deve ou não
agir.
3 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução: Editora Globo S/A, Porto Alegre (Tópicos, dos Argumentos
Sofísticos, Ética a Nicômaco e Poética). 1ª Ed. São Paulo, 1973. 1141 b 5
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Por sua vez, arte é uma capacidade raciocinada de produzir. Ela pertence ao
aspecto do variável, que inventa e produz coisas que tanto podem ser como não ser. Não se
ocupa com coisas que são ou que se geram por necessidade, nem com as coisas que fazem
de acordo com a natureza. Mas, embora, ela possa ser variável não é objeto de deliberação,
porque é uma técnica, a técnica de produzir, e segundo Aristóteles há uma diferença entre
produzir e agir, pois quando se produz algo se faz em vista de criar um objeto que possua
alguma utilidade e o agir é o que possibilita se alcançar algo.

O prudente não é também objeto de deliberação ele é o que delibera.


Delibera sobre o que é bom para ele e sobre o que é bom de um modo geral. Ele sabe que
só pode deliberar sobre o que pode ser diferente, sobre o que sua capacidade de raciocinar
dá conta, delibera sobre os meios para se alcançar um fim, analisando assim, por exemplo,
quais dentre os meios é o melhor para se enriquecer, roubar? Trabalhar? Enganar? O
prudente saberá analisar entre todos os meios qual o melhor a ser feito. Assim, a Phronesis,
é uma capacidade verdadeira raciocinada de agir com respeito às coisas que dizem respeito
à vida do homem. E se é prudente sua ação será sempre boa, porque visa um bom fim. E o
fim que visa o prudente, já está na própria ação, é a própria ação:

Daí o atribuirmos sabedoria prática a Péricles e homens como ele,


porque percebem o que é bom para si mesmos e para os homens em
geral: pensamos que os homens dotados de tal capacidade são bons
administradores de casas e de estado [...]4

Assim o homem dotado de sabedoria prática, de prudência, é o homem da


reta razão. O que sabe que é bom de modo particular e de um modo geral. É superior aos
que não possuem tal sabedoria, pois suas ações são praticadas em vista de um fim bom,
tendo como princípio a boa deliberação que implica em uma boa escolha. É o homem da
reta razão porque experiente, detentor de sabedoria, o que sabe analisar e isso porque o
tempo fez dele um bom analisador. Assim tal homem não age em hipótese alguma levado
pelas paixões visto que a experiência amadureceu sua capacidade cognitiva.

4Ibid., 1140 b 10
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Para Aristóteles quanto mais demorado uma deliberação, melhor. Devendo-se
colocar logo em prática a conclusão da deliberação. Mas tomar cuidado, pois deliberar mal
pode levar ao erro. Por isso se diz que o jovem embora possua facilidade para aprender
matemática não pode ser prudente, visto não ter experiência, pois quando deliberar pode ser
levado pelas paixões e acabar fazendo uma escolha errada. Por isso qualquer um pode
deliberar, mas deliberar bem, só ao prudente cabe.

Considerações finais

Assim chegamos à conclusão de que, a Prudência, como constatara Aristóteles é


uma virtude muito boa, uma vez que, seguida de razão nos faz agir corretamente, nos faz
temperantes e preserva nossa sabedoria. Ser prudente é dizer não aos vícios e permanecer
no meio-termo. É saber escolher para que sua ação seja boa. Como o prudente é o homem
dotado de reta razão suas escolhas devem sempre ser certas. O homem que sabe o que é
bom para si e para os demais. O que delibera sobre as coisas que são boas e más para si. É
superior aos demais porque sabe onde quer chegar e faz o melhor que pode para alcançar o
fim desejado, lembrando que prudência não é algo adquirido naturalmente, nem por
hereditariedade, mas por experiência. É o homem da meta e da boa meta. A prudência é a
virtude do bem agir, e o homem que a possui sabe escolher o fim certo porque analisa as
várias possibilidades que leva ao melhor dos fins.

Referência Bibliográfica

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco: (Tópicos, dos Argumentos Sofísticos, Ética a


Nicômaco e Poética). Trad.: Editora Globo S/A, 1ª Ed. Porto Alegre São Paulo, 1973.

SPINELLI, Priscila Tesch. A Prudência na Ética Nicomaquéia de Aristóteles.


Universidade do Vale do rio do Sino (UNISINOS) ,São Leopoldo RS, 2007.
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SILVEIRA, Denis Coitinho. Ensaios Sobre Ética. Pelotas: Editora e Gráfica Universitária,
2008.

ZINGANO, Marco. Aristóteles: tratado da virtude moral; Ethica Nicomachea I13 – III
8. 1ª Ed, São Paulo: Odysseus Editora, 2008.

ALBENQUE, Pierre. A Prudência em Aristóteles. Trad.: LOPES, Marisa. 2ª Ed, São Paulo:
Discurso Editorial, Paulus, 2008.

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