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1.

INTRODUÇÃO
1.1 O CONTRATO
O termo "contrato", derivado do latim contractus, significa pacto, convenção ou
acordo de vontade.
Na história do Direito, a teoria contratual evoluiu com o passar do tempo,
acompanhando a antiga questão de autonomia das pessoas, tendo como ideia matriz a de
que, nele, em função da plenitude da manifestação de vontade, a liberdade é absoluta,
uma vez que materializa um encontro de interesses.1
O contrato pode ser definido, portanto, como um pacto celebrado livremente
pelas partes, com o objetivo de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos,
como conceituava Clóvis Beviláqua, ou para criar obrigações e direitos recíprocos,
como demarcava Hely Lopes Meireles.
Por essência, é bilateral (sinalagmático), pois, em oposição ao ato jurídico, que é
unilateral, depende da convergência de vontades opostas em torno de um mesmo
objeto;2 comutativo, uma vez que estipula obrigações mútuas de obrigações e
vantagens; e, em regra, oneroso (podendo ser gratuito em situações
excepcionais),3operando com força de lei entre as partes, devendo por elas ser fielmente
atendido.4
Em termos genéricos, para que produza efeitos, tendo, por conseguinte, eficácia
jurídica, o contrato deve conter: agentes capazes; objeto lícito e possível; forma
prescrita ou não proibida em lei' e livre manifestação de vontade das partes.

1.2 O CONTRATO E O ESTADO


Com a contemporânea noção de personificação do Estado, fixou-se a natural
possibilidade do mesmo, na sua atividade cotidiana — sendo pessoa jurídica e, por
conseguinte, apta a adquirir clientes e contrair obrigações — celebrar os mais diversos
contratos.
Impende registrar que, enquanto os particulares dispõem de ampla liberdade para
contratar (obras, serviços, fornecimentos etc.), o Estado, diferentemente, para fazê-lo, é
obrigado a adotar um procedimento preliminar. Este procedimento obrigatório constitui-
se na licitação pública.
Dessa forma, a licitação é o procedimento administrativo pelo qual a
Administração Pública, no exercício da sua função administrativa, abre aos interessados
a possibilidade de apresentação de propostas, dentre as quais selecionará a mais
vantajosa para a celebração de um contrato.6
A exigência de licitação prévia é da própria Constituição Federal, conforme
prescreve o inc. XXI do art. 37:
Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos
termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

Encerrada a licitação (ou procedido o afastamento do certame licitatório por


dispensa ou inexigibilidade), a Administração Pública, de regra, celebra o contrato com
o terceiro vencedor da competição (ou um documento que substitua o ajuste, como, por
exemplo, a carta-contrato, como se detalhará posteriormente).
Portanto, regra geral, o contrato administrativo decorre da licitação, sendo o
resultado desta vinculante para a Administração. Não se admite, por conseguinte, que,
após a seleção da proposta mais vantajosa, a Administração a ignore, deixando de
celebrar o contrato. O art. 50 da Lei n° 8.666/93 determina esse procedimento:
Art. 50. A Administração não poderá celebrar o contrato com preterição da
ordem de classificação das propostas ou com terceiros estranhos ao
procedimento licitatório, sob pena de nulidade.

Sobre o tema, é importante destacar um princípio7 que está intimamente atrelado


à obrigatória celebração do contrato com o vencedor da licitação: o Princípio da
Adjudicação Compulsória.
No âmbito do Direito Administrativo, adjudicar é atribuir o objeto ao vencedor
da licitação.
Assim, em função deste princípio, a Administração Pública, ao efetuar uma
licitação, obrigar-se-á a adjudicar o objeto deste certame ao vencedor da mesma. Em
outras palavras, ter-minada a licitação, tendo ela um vencedor, a Administração não
poderá adjudicar o objeto a outro, salvo se este vencedor, sem justificativa plausível,
negar-se a firmar o contrato no prazo estabelecido, o que demandará a aplicação das
sanções previstas.
Também em face do Princípio da Adjudicação Compulsória, enquanto estiver
válida a adjudicação, a Administração não poderá instaurar nova licitação para o mesmo
objeto.
Contudo, insta esclarecer que o direito do vencedor da licitação restringe-se à
adjudicação e não à contratação, pois, mesmo após a adjudicação, a Administração
ainda poderá revogar ou anular a licitação em nome do interesse público. Não se deve
confundir, portanto, o direito à adjudicação compulsória com o eventual direito de ser
contratado pelo Poder Público.
De tudo que foi explicitado, vislumbra-se que a adjudicação compulsória
acarreta a preferência para o licitante vencedor, isto é, se a Administração for realmente
contratar o objeto licitado, obrigatoriamente terá que efetuá-lo com o adjudicatário, ou
seja, o vencedor da licitação a quem a Administração adjudicou o objeto licitado. Em
resumo, são efeitos jurídicos da licitação homologada e adjudicada:
- o adjudicatário adquire o direito de contratar com a Administração nos termos
propostos;
- o adjudicatário fica vinculado ao prometido em sua proposta para a celebração do
contrato;
- o adjudicatário se sujeita às penalidades previstas no edital, caso se negue a celebrar o
contrato nas condições e prazos estabelecidos; e
- a Administração está impedida de contratar o objeto licitado com outro (licitante ou
não).

2. CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO
Todas as vezes que o Estado (Administração Pública) estabelece um ajuste com
um terceiro, visando a execução de um objeto pelo qual será procedida uma
remuneração, estará celebrando um contrato.
Assim, estando a Administração em um dos pólos deste contrato, convencionada
está no ordenamento jurídico brasileiro a denominação Contrato da Administração.
Tal expressão é utilizada, portanto, em sentido lato, abrangendo qualquer contrato
celebrado pela Administração Pública, que poderá reger-se tanto pelo Direito Público
como pelo Direito Privado.
Nesse passo, a Lei n° 8.666/93, no parágrafo único do art. 2°, num texto não
muito feliz do legislador, dispôs:
Art. 2°.................................
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer
ajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em que
haja um acordo de vontades para a formação de vínculo c a estipulação de
obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada.

2.1 SUBDIVISÃO DOS CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO


Como mencionado, a expressão Contrato da Administração engloba todos os contratos
celebrados pela Administração Pública. Estes contratos subdividem-se em:
a) Contratos Privados celebrados pela Administração Pública; e
b) Contratos Administrativos.

2.1.1 CONTRATOS PRIVADOS CELEBRADOS PELA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA
São os contratos celebrados pela Administração Pública com terceiros, regidos
pelo Direito Privado (Direito Civil ou, em alguns casos, pelo Direito da Empresa).
Nessa condição, a Administração situa-se no mesmo plano jurídico do particular.8
São exemplos de contratos privados celebrados pela Administração Pública, a
locação de um bem imóvel para uso da Administração, que é regulado pela Lei do
Inquilinato, o contrato de permuta, regido pelo Direito Civil, o contrato de comodato,
também sob a égide do Direito Civil etc.

2.1.2 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS


São os contratos que a Administração Pública celebra com terceiros, visando à
consecução de objetivos de interesse público.
Por serem contratos típicos da Administração, regem-se precipuamente pelo
Direito Público, com aplicação supletiva das normas de Direito Privado.9
Nesta espécie contratual, a Administração participa com supremacia de poder e
privilégio administrativo, que afloram nas chamadas “cláusulas exorbitantes”,
derrogatórias do direito comum, ou seja, cláusulas que não constam dos contratos
tradicionais, por conferirem prerrogativas para a Administração.10 Por conseguinte,
admite-se no contrato administrativo restrições ao Princípio da Reciprocidade das
Prestações, essência dos acordos bilaterais.
Consequentemente, o contrato administrativo pode ser conceituado como o
acordo celebrado entre a Administração Pública e o particular, regido precipuamente
pelo Direito Público, que objetiva uma atividade que reflita o interesse público.

2.1.2.1 SUJEITOS DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


São sujeitos do contrato administrativo:
a) a Administração Pública, que é a parte contratante (art. 6°, inc. XIV, da Lei
n° 8.666/93); e
b) a pessoa física ou jurídica celebrante do acordo, que é a parte contratada
(art. 6°, inc. XV, da lei citada).11 12

Insta registrar que a Lei n° 8.666/93 define, no inc. XI do art. 6°, que a
Administração Pública é constituída pela administração direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, abrangendo inclusive as entidades com
personalidade jurídica de direito privado sob controle do poder público e das fundações
por ele instituídas ou mantidas.
Por seu turno, o art. 1° da lei prevê que o diploma estabelece normas gerais
sobre licitações e contratos administrativos no âmbito desses entes federativos, ditando,
no seu parágrafo único, que também se subordinam ao seu regime os fundos especiais,
as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia
mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente.
Não obstante, a Emenda Constitucional n° 19/98, alterando o art. 173, §1°, da
Constituição Federal, previu lei específica para reger os contratos e as licitações das
empresas públicas e sociedades de economia mista, desde que observados os princípios
gerais sobre o tema." Nesse curso, verifica-se que a EC, alterando também o art. 22,
XXVII, da Constituição, estabeleceu que cabe à União editar dois estatutos: um para a
Administração direta, autárquica e fundacional e pessoas sob controle direto ou indireto
do Poder Público, e outro para as empresas públicas e sociedades de economia mista.14
15

2.1.2.2 CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


A natureza peculiar do contrato administrativo determina-lhe características próprias,
muito embora, evidentemente, algumas sejam inerentes a qualquer tipo de contrato:
a) bilateralidade, por ser um acordo de vontades que prevê obrigações e direitos de
ambas as partes;
b) onerosidade, porque sempre remunerado;
c) formalismo, expressando-se sempre por escrito;
d) comutatividade, porque estabelece deveres recíprocos;
e) natureza personalíssima (realizado intuitu personae), não podendo o particular deixar
de atendê-lo de forma direta, estando impedido de transferi-lo para ser executado por
terceiros, a não ser com a anuência da Administração (com exceção das concessões de
serviços públicos, que podem ser transferidas); e
f) ser precedido de licitação (ou de sua dispensabilidade ou inexigibilidade).

3. DISCIPLINA NORMATI VA
3.1 COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal (DF) possuem
competência para legislar sobre licitação e contratos, sendo da alçada privativa da União
editar "normas gerais" sobre a matéria,16 conforme prescreve o art. 22, inc. XXVII, da
Constituição Federal:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XXVII — normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades,
para as administrações públicas diretas, autárquicas e funcionais da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e
para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art.
173, § 10, III;17

Como a competência privativa da União limita-se à edição de normas gerais,


compete às demais entidades federadas (Estados, Municípios e DF) a edição de normas
específicas, ou seja, normas que atendam peculiares locais.

3.2 REGRA CONSTITUCIONAL


Conforme o já esposado, o art. 37, inc. XXI, prescreve que a Administração
Pública deve contratar mediante procedimento licitatório:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
XXI — ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública
que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que
estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da
proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
obrigações.

3.3 LEGISLAÇAO ESPECÍFICA


O contrato administrativo tem a seguinte disciplina legal:
a) Lei Federal n° 8.666, de 21/06/93,18 o denominado "Estatuto de Licitações e
Contratos Administrativos", notadamente o Capitulo III, "Dos Contratos", do art. 54 ao
art. 80;
b) outras leis reguladoras do assunto, promulgadas por Estados e Municípios, dispondo
sobre regras especificas voltadas para os respectivos territórios; e
c) supletivamente, as normas gerais sobre contratos dispostas no Código Civil
Brasileiro.19

3.4 REGIME JURIDICO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


Conforme prescreve o art. 54 da Lei n° 8.666/93, os contratos administrativos
regulam-se pelos preceitos de Direito público e, subsidiariamente, pelo Direito privado.
A supremacia e a indisponibilidade do interesse publico não eximem a
Administração, em nenhuma hipótese, do atendimento aos princípios basilares que
regem os atos administrativos (legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade,
publicidade, probidade administrativa e outros correlatos).
Além do atendimento as regras constitucionais e legais, deve o contrato
administrativo coadunar-se perfeitamente como disposto no instrumento convocatório
de licitação (ou no instrumento de dispensa ou inexigibilidade) e com o estabelecido na
proposta apresentada pelo particular.

4. INTERPRETAÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATI VO


A interpretação do contrato administrativo realizar-se-á com base nos pressupostos
regedores da interpretação de atos regulados pelo Direito Publico.
Assim, na busca da finalidade do contrato, deve o interprete ter sempre em
mente que o que se pretende com o acordo, antes de tudo, é a satisfação dos interesses
da coletividade.
Diferentemente do contrato privado, onde ha liberdade contratual, quando as
partes é permitido renunciar direitos, nos contratos administrativos, a Administração,
por estar representando o interesse de coletividade, não é permitido, por mera
liberalidade para com o particular, abrir mão de direitos e poderes intrinsecamente seus.

4.1 APROVAÇAO JURIDICA DAS MINUTAS DE CONTRATOS


As minutas dos contratos administrativos devem, obrigatoriamente, ser
examinadas e aprovadas previamente pela assessoria jurídica da Administração. Tal
apreciação constitui requisito essencial para a validade jurídica do documento.20 21

5. CLAUSULAS OBRIGATÓRIAS DO CONTRATO ADMINISTRATIVO


O contrato administrativo, como qualquer contrato, possui clausulas que fixam o
seu objeto e estabelecem as condições imprescindíveis para a sua execução. Tais
clausulas são obrigatórias (também chamadas "necessárias" ou "essenciais") em todos
os contratos administrativos, porquanto, sem elas, ocorreria a nulidade contratual.
Além dessas, os contratos administrativos são complementados com as
denominadas clausulas assessorias (ou "secundarias") que possuem a função de
complementar e esclarecer as vontades das partes.
As clausulas obrigatórias, prescritas no art. 55 da Lei n° 8.666/93, são as que
estabelecem:
a) o objeto do contrato e seus elementos característicos;
b) o regime de execução ou a forma de fornecimento;
c) o preço e as condições de pagamento, os critérios, database e periodicidade do
reajustamento de preços, os critérios de atualização monetária entre a data do
adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento;
d) os prazos dos contratuais;
e) o credito pelo qual correra a despesa (com a indicação funcional programática e
da categoria econômica);
f) as garantias oferecidas para assegurar a execução do contrato, quando exigíveis;
g) os direitos e responsabilidades das panes, as penalidades cabíveis e os valores das
multas;
h) as situações passiveis de rescisão do contrato;
i) o reconhecimento dos direitos da Administração no caso de rescisão administrativa
(prevista no art. 77 da Lei n° 8.666/93).
j) as condições de importação, a data e a taxa de cambio para a conversão, quando for o
caso;
k) a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu, ao
convite e a proposta do licitante vencedor (adjudicatário);
1) a legislação aplicável a execução do controle e, especialmente, aos casos omissos;
m) a obrigação do contratado manter, durante toda a execução do contrato, em
compatibilidade com as obrigações assumidas, todas as condições de habilitação e
qualificação exigidas na licitação ou no termo que a dispensou ou a inexigiu; e
n) a que declare competente o foro da sede da Administração para dirimir qualquer
questão contratual, inclusive nos casos de contratos com pessoas físicas ou jurídicas
domiciliadas no estrangeiro.22

6. PRERROGATIVAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NOS CONTRATOS


ADMINISTRATI VOS
6.1 CLAUSULAS EXORBITANTES
Por terem características especiais, notadamente por buscarem o interesse
publico, os contratos administrativos possuem clausulas lido existentes nos contratos
tradicionais, que são as chamadas "Clausulas Exorbitantes", as quais demandam a
participação da Administração Pública no contrato com supremacia de poder.
O termo “exorbitante” designa uma exorbitância em relação ao direito comum,
proporcionando vantagens para a Administração.
Tais cláusulas não são lícitas no contrato regido pelo Direito Privado, por
desigualarem as partes, mas são absolutamente compatíveis com as finalidades dos
contratos administrativos, pois visam privilegiar a Administração, conferindo-lhe
prerrogativas que permitam a plena defesa do interesse da coletividade.
A Lei n° 8.666/93 consagra a existência destas cláusulas no art. 58, incs. I a V,
dispondo que o regime jurídico do contrato administrativo instituído pela lei confere à
Administração a prerrogativa de:
a) modificação unilateral, para adequá-lo às finalidades de interesse da coletividade,
respeitados os direitos do contratado;
b) rescisão unilateral, nos casos elencados nos incs. I a XII e XVII, do art. 78;
c) fiscalização da execução;
d) aplicação de penalidades motivadas pela inexecução total ou parcial; e
e) ocupação provisória de bens imóveis, apossamento de bens móveis e utilização de
pessoal e serviços do contratado vinculados ao objeto do contrato, quando de serviços
essenciais, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas
contratuais e no caso de rescisão contratual.

6.1 ANÁLISE DA PRERROGATIVA DE ALTERAÇÃO UNILATERAL DO


CONTRATO ADMINISTRATIVO POR PARTE DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
A alteração unilateral do contrato administrativo resulta do privilégio que a lei
fornece à Administração para adequá-lo às finalidades de interesse da coletividade,
respeitados os direitos do contratado (inc. I do art. 58 da Lei n° 8.666/93).23
As alterações do contrato administrativo podem ser qualitativas ou
quantitativas. Qualitativas são aquelas admitidas quando as alterações não determinem
modificações das características básicas do objeto nem reduzam seus atributos,
restringindo-se a pequenos acréscimos ou detalhamentos das especificações originais.
Quantitativas, como o próprio nome pressupõe, são as alterações efetivas de
quantidade do objeto, limitada, entretanto, a percentuais que a lei estabelece.
Neste diapasão, a Lei n° 8.666/93 prescreve como a seguir:
a) Alteração qualitativa — quando a Administração altera o projeto ou as
especificações, objetivando melhor adequação técnica aos fins do contrato (art. 65,
alínea "a"); e
b) Alteração quantitativa — quando há necessidade de modificação do valor contratual
em face de aumento ou redução quantitativa do objeto contratual (art. 65, alínea “b”).

6.1.1 OBRIGATORIEDADE DE O CONTRATADO ACEITAR AUMENTO OU


REDUÇÃO DO OBJETO
No contrato administrativo, o contratado é obrigado a aceitar, nas mesmas
condições estabelecidas no contrato inicial, acréscimos ou supressões em obras,
serviços ou compras até 25% do valor originário do contrato, ou até 50%, na hipótese
de reforma de edifício ou equipamento. 24
Caso não se submeta às alterações exigidas pela Administração, o contratado
será considerado descumpridor do ajuste, o que dará margem para a rescisão unilateral
do acordo por parte do Poder Público.
Nenhum acréscimo ou supressão poderá exceder a esses limites, ressalvadas as
supressões que tenham resultado de acordo celebrado entre os contratantes.25
Sobre o assunto, decidiu o TCU (Decisão n° 215/1999 - Plenário):
O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE:
8.1. com fundamento no art. 1°, inc. XVII, § 20 da Lei n°
8.443/92, e no art. 216, inc. II, do Regimento Interno deste Tribunal, responder à
Consulta formulada pelo ex-Ministro de Estado do Meio Ambiente, dos
Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, Gustavo Krause Gonçalves Sobrinho,
nos seguintes termos:

a) tanto as alterações contratuais quantitativas — que modificam a dimensão do


objeto — quanto as unilaterais qualitativas — que mantêm intangível o objeto,
em natureza e em dimensão, estão sujeitas aos limites preestabelecidos nos § 1°
e 2° do art. 65 da Lei n° 8.666/93, em face do respeito aos direitos do contratado,
prescrito no art. 58, I, da mesma lei, do princípio da proporcionalidade e da
necessidade de esses limites serem obrigatoriamente fixados em lei;

b) nas hipóteses de alterações contratuais consensuais, qualitativas e


excepcionalíssimas de contratos de obras e serviços, é facultado à Administração
ultrapassar os limites aludidos no item anterior, observados os princípios da
finalidade, da razoabilidade e da proporcionalidade, além dos direitos
patrimoniais do contratante privado, desde que satisfeitos cumulativamente os
seguintes pressupostos:

I — não acarretar para a Administração encargos contratuais superiores aos


oriundos de uma eventual rescisão contratual por razões de interesse público,
acrescidos aos custos da elaboração de um novo procedimento licitatório;
II — não possibilitar a inexecução contratual, à vista do nível de capacidade
técnica e econômico-financeira do contratado;
III — decorrer de fatos supervenientes que impliquem em dificuldades não
revistas ou imprevisíveis por ocasião da contratação inicial;
IV — não ocasionar a transfiguração do objeto originalmente contratado em
outro de natureza e propósito diversos;
V — ser necessárias à completa execução do objeto original do contrato, à
otimização do cronograma de execução e à antecipação dos benefícios sociais e
econômicos decorrentes;
VI — demonstrar-se — na motivação do ato que autorizar o aditamento
contratual que extrapole os limites legais mencionados na alínea "a", supra —
que as consequências da outra alternativa (a rescisão contratual, seguida de nova
licitação e contratação) importam sacrifício insuportável ao interesse público
primário (interesse coletivo) a ser atendido pela obra ou serviço, ou seja
gravíssimas a esse interesse; inclusive quanto à sua urgência e emergência;

No caso de supressão de obras, bens ou serviços, se o contratado já houver


adquirido os materiais e posto no local dos trabalhos, estes deverão ser pagos pela
Administração pelos custos de aquisição regularmente comprovados e monetariamente
corrigidos, podendo caber indenização por outros danos eventualmente decorrentes da
supressão, desde que regularmente comprovados.

6.1.2 DESEQUILÍBRIO CONTRATUAL EM FUNÇÃO DE MODIFICAÇÃO


UNILATERAL
De regra, as cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos
administrativos não poderão ser alteradas sem a prévia anuência do contratado.
Ocorrendo, todavia, modificação unilateral do contrato, para adequá-lo às finalidades
do interesse público, essas cláusulas deverão ser devidamente revistas, para que seja
mantido o equilíbrio contratual.

6.2 ANÁLISE DA PRERROGATIVA DE RESCISÃO UNILATERAL DO


CONTRATO ADMINISTRATIVO POR PARTE DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA
A rescisão unilateral do contrato administrativo também advém da primazia que
a lei fornece à Administração para adequá-lo às finalidades de interesse da coletividade,
respeitados os direitos do contratado (inc. II do art. 58 da Lei n° 8.666/93).
Contudo, este privilégio somente será conferido em certas situações, conforme previsto
no art. 79, inc. I, da Lei n° 8666/93, as quais estão elencadas no art. 78 da mesma lei:
a) o não cumprimento de cláusulas contratuais, especificações, projetos ou prazos;
b) o cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especificações, projetos e prazos;
c) não conclusão da obra, do serviço ou do fornecimento, nos prazos estipulados;
d) o atraso injustificado no início da obra, serviço ou fornecimento;
e) a paralisação da obra, do serviço ou do fornecimento, sem justa causa e prévia
comunicação à Administração;
f) a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado com
outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou
incorporação, não admitidas no edital e no contrato;
g) o desatendimento das determinações regulares da autoridade designada para
acompanhar e fiscalizar a execução, assim como as de seus superiores;
h) o cometimento reiterado de faltas na execução, anotadas na forma do § 1° do art. 67
da Lei;26
i) a decretação de falência ou a instauração de insolvência civil;
j) a dissolução da sociedade ou o falecimento do contratado;
k) a alteração social ou a modificação da finalidade ou da estrutura da empresa, que
prejudique a execução do contrato;
l) razões de interesse público, de alta relevância e amplo conhecimento, justificadas e
determinadas pela máxima autoridade da esfera administrativa a que está subordinado o
contratante e exaradas no processo administrativo a que se refere o contrato;
m) a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, regularmente comprovada,
impeditiva da execução do contrato;
n) descumprimento do disposto no inc. V do art. 27 da Lei no 8.666/93, que obriga o
contratado a atender ao preconizado no disposto no inc. XXXIII do art. 70 da
Constituição Federal.27

6.2.1 ATOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA CONSECUÇÃO DA


RESCISÃO UNILATERAL
a) motivação, que compreende a fundamentação legal e os motivos que alicerçam a
prática do ato; e
b) oferecimento ao contratado do direito à ampla defesa e ao contraditório.
___________________________________________________________________
1 Surgido no Direito Romano, com inspiração religiosa, o contrato estabeleceu-se inicialmente no âmbito
do Direito Canônico. A partir dessa origem, um pouco antes da Revolução Francesa, a teoria da
autonomia da vontade foi desenvolvida por estudiosos de todas as linhas de pensamento, quando se
firmou posição no sentido da obrigatoriedade de pleno atendimento pelas partes das convenções, que
passaram a ser equiparadas com a própria lei.
2 Há também os contratos unilaterais, quando apenas uma parte assume as obrigações, como na doação
pura.
3 Nos gratuitos, somente uma das partes se compromete economicamente.
4 Esse princípio advém dos brocardos do Direito Romano Lex Inter Partes (lei entre as partes) e Pact
Sunt Servada (de força obrigatória, ou seja, para serem cumpridos).
5 A liberdade contratual autoriza a criação de contratos atípicos; isto é, não regulamentados pelo direito
vigente, quando, então, as partes derrogam as normas em vigor e dão um conteúdo total-mente autônomo
ao instrumento.
6 No livro Curso Básico de Licitação 3' ed. São Paulo: Lex, 2011.
7 Princípios são normas expressas ou implícitas que servirão como uma bússola nos procedimentos de
contratação da Administração Pública. Os princípios consagrados pela Lei n° 8.666 (Art. 3°) são:
"isonomia, legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, probidade administrativa,
vinculação ao instrumento convocatório e julgamento objetivo". Embora não constantes do art. 3°, deve-
se também os seguintes princípios que estão explicitados ao longo do diploma: sigilo na apresentação das
propostas, procedimento formal e, como mencionado no texto principal deste trabalho, adjudicação
compulsória ao vencedor.
8 Alguns doutrinadores têm sustentado que, apesar da Administração nivelar-se ao particular no contrato
privado, ainda assim, considerando estar a Administração Pública em um dos pólos, sempre existirão
algumas vantagens a seu favor.
9 Conforme estabelece o art. 54, da Lei n° 8.666, de 21/06/1993, e suas alterações.
10 Maiores comentários sobre as cláusulas exorbitantes constam do capitulo 6 deste livro.
11 No caso, a expressão “Administração Publica” abarca a administração direta e parte da indireta
(autarquias e fundações públicas).
12 É possível que os sujeitos do contato administrativo sejam pessoas administrativas. Nesse caso,
entrementes, a relação jurídica, em tese, mais se assemelhará aos convênios, acordos que traduzem
interesses comuns e coincidentes dos participes. Sobre convênios administrativos, sugerimos a leitura de
nosso “Manual de Convênios Administrativos. 2 Ed. Minas Gerais: Fórum, 2011”.
13 Constituição Federal: "Art. 173
§1° A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas
subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação
de serviços, dispondo sobre:
I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade;
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e
obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários;
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública;
IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, com a participação de
acionistas minoritários;
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos administradores.
14 Constituição Federal: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações
públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o
disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art.
173, § 1°, III;
15 Apesar da EC n° 19/98 ter garantido a edição de lei específica para a regulação dos contratos e
licitações das empresas públicas e das sociedades de economia mista, não houve edição, até o momento,
desse diploma.
16 A Constituição Federal preconiza três formas de competência legislativa: privativa, concorrente e
suplementar. Privativa é a que cabe exclusivamente a um órgão componente do Estado Federal;
concorrente é a que cabe a mais de uma categoria de entes componentes da Federação; e suplementar é a
que dá a determinado ente o poder de suplementar a legislação produzida por outro.
17 Redação dada pela Emenda Constitucional n° 19/98.
18 Alterada expressa ou tacitamente por diversos diplomas, tais como as Leis 8.883/94, 9.032/95,
9.648/98, 9.854/99, 12.349/10 e 12.440/11.
19 Lei n. 8.666/93 — "Art. 54 —Os contratos administrativos de que trata esta Lei regulam-se pelas suas
clausulas e pelos preceitos de direito público, aplicando-se-lhes, supletivamente, os princípios da teoria
geral dos contratos e as disposições de direito privado".
20 Lei n° 8.666/93 — “Art. 38 — Parágrafo único. As minutas de editais de licitação, bem como as dos
contratos, acordos, convênios ou ajustes devem ser previamente examinadas e aprovadas por assessoria
jurídica da Administração”.
21 Para aprofundamento na matéria, sugere-se a leitura do artigo "Parecer de apreciação e aprovação
jurídica das minutas de editais licitatórios e contratos administrativos: obrigatório ou vinculativo
(BITTEN-COURT, Sidney. Fórum de Contratação e Gestão Pública - FCGP, Belo Horizonte, ano 8, n.
92, ago.
22 Não aplicável nas licitações internacionais para aquisição de bens e serviços cujo pagamento seja
efetuado com o produto de financiamento concedido por organismo financeiro internacional de que o
Brasil faça parte, ou por agencia estrangeira de cooperação, bem como nos casos de contratação com
empresa estrangeira, para a compra de equipamento fabricado e entregues no exterior, desde que para
este caso tenha havido prévia autorização do Chefe do Poder Executivo, e ainda nos casos de aquisição
de bens e serviços realizada por unidades administrativas estabelecidas no exterior.
23 Evidentemente, o contrato administrativo também pode ser alterado por acordo entre as partes
(bilateralmente), conforme prescreve o art.65, inc. II da Lei n° 8.666/93, do qual se tratará
posteriormente.
24 Lei n° 8.666/93 — "Art. 65. — § 1° O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições
contratuais, os acréscimos ou supressões que se fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e
cinco por cento) do valor inicial atualizado do contrato, e, no caso particular de reforma do edifício ou de
equipamento, até o limite de 50% (cinquenta por cento) para os seus acréscimos".
25 Foi uma alteração incluída pela Lei n° 9.648/98 no art. 65 da Lei n° 8.666/93 que determinou que
nenhum acréscimo poderá aceder os limites percentuais estabelecidos, enquanto que na supressão é
possível, desde que ocorra acordo entre as partes. Tal determinação legal tem causado controvérsias na
doutrina: para alguns, os limites não seriam aplicáveis às alterações qualitativas; para outros, grupo do
qual fazemos parte, impõe-se a observância dos limites em qualquer situação, uma vez que a lei não faz
qualquer distinção.
26 O § 1° do art. 57 da Lei n° 8.666/93 dispõe pela obrigatoriedade da Administração, através do fiscal
do contrato, registrar todas as ocorrências relacionadas com execução do ajuste, determinando o que for
necessário para a regularização das faltas ou defeitos observados.
27 Constituição Federal – “Art. 7° Inc. XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
menores de 18 e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
14 anos”.

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