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CORONAVÍRUS

Sororidade na pandemia de
coronavírus: mulheres se unem
para ajudar as que estão mais
vulneráveis
Mulheres se unem para arrecadar dinheiro, comprar cesta básica e gás e até para pagar as
contas de casa uma das outras. 'Assim ninguém passa fome',

Por Laís Modelli, G1


19/04/2020 09h10 · Atualizado há 2 horas

Sororidade: mulheres se unem para ajudar as mais vulneráveis

A diarista Priscila Han Batista, de 38 anos, está sem trabalho desde a


chegada da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2). Faltam leite e
fraldas para duas de suas três filhas – a mais velha é adolescente.
Comida, só arroz ("mistura não tem faz uma semana”). O marido está
internado com Covid-19. As contas da casa em que a família mora, na
Zona Leste de São Paulo, ficaram atrasadas. Mas, na segunda-feira (13),
chegou uma ajuda inesperada: R$ 300 caíram na conta bancária da
faxineira.

O depósito foi feito pela artista Thais Ferreira, do Coletivo Massa, e pela
designer Thaiz Leão, do Instituto Casa Mãe. As duras criaram o projeto
Segura a Curva das Mães, que ajuda com dinheiro e apoio psicológico e
jurídico 732 mães vulneráveis de todo o Brasil.

Lançado em 26 de março, o programa surgiu como um cadastro on-


line no qual puderam se inscrever mães afetadas pela quarentena
(medida de restrição de circulação recomendada por especialistas em
saúde para frear a propagação do vírus). Priscila não se inscreveu –
mas “provavelmente alguém que sabia da minha situação fez isso”, diz
ela em entrevista ao G1.

"Quando a Thais me ligou para falar que eu receberia a ajuda, até achei
que fosse trote", conta a diarista, emocionada.

A cocriadora do Segura a Curva das Mães diz que as 732 mulheres que
receberão auxílio pelo projeto são trabalhadoras informais ou
desempregadas. Além disso, elas:

· têm 35 anos em média;

· são, na maioria, negras (65%);


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· têm, em média, dois ou três filhos; WHITEBOARD VIDEOS

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contavam com renda mensagem entre R$ 101 e R$ 200 por BUSCAR

integrante da família antes da quarentena

· e não recebem nenhuma ajuda fora de casa (69%) ou não têm


ninguém para ajudar dentro de casa (27%).

Existem pelo menos 5 milhões de mulheres que são mães e


moradoras de favelas brasileiras. Dessas, 92% terão dificuldade para
alimentar sua família caso fiquem um mês sem trabalhar, segundo um
levantamento realizado em março pelo instituto Data Favela, que
pesquisa estratégias de negócios voltados às comunidades do país.

O estudo também revelou que 73% dessas mulheres são


extremamente vulneráveis e não têm nenhum dinheiro guardado que
lhes permita comprar o básico, na hipótese permanecerem um dia que
seja sem função remunerada.

Esse é o caso de Priscila, que ganhava R$ 360 por semana e recebeu o


último pagamento (R$ 120) em 19 de fevereiro. Ela diz que não sobrou
nenhum real. O marido, que também é autônomo e recebia R$ 80 por
dia entregador, já estava sem rendimentos mesmo antes do
diagnóstico positivo para Covid-19.

“Na quinta [9 de abril] acabou o nosso


sabonete. Álcool em gel, a gente nunca pôde
comprar. Leite e fralda para as meninas
também faltou, mas consegui uma doação
esses dias de uma vizinha”, afirmou Priscila. Dos
gastos com a casa, vai pagar só a conta de luz,
porque conseguiu negociar com a empresa
fornecedora de energia.

Priscila trabalhou muitos anos em um hospital, do qual foi demitida em


2015, após engravidar da segunda filha.

"Eu não tenho registro em carteira de trabalho


desde então, e virei faxineira. Neste ano, estava
com uma vida tranquila e meu marido até
estava tirando carta de caminhão. Aí, aconteceu
tudo isso. Esta é a primeira vez em que fico sem
serviço e sem renda nenhuma."

Para arrecadar a quantia emergencial garantir suporte psicológico


(principalmente às grávidas) e jurídico (às mães que precisam receber
pensão alimentícia ou que foram demitida), o Segura a Curva das Mães
faz um financiamento coletivo na internet e conta com apoio de ONGs
e outras mulheres que se dispuseram a ajudar.

Faltam produtos para limpar a casa


Inscrita no Bolsa Família, mas sem receber o auxílio desde outubro de
2019 por causa de erro no cadastro, Priscila foi informada que
receberá o auxílio emergencial de R$ 600 disponibilizado pelo
governo federal aos trabalhadores informais. "Mas [no meu caso] vão
repassar o dinheiro somente no final abril! O que faço até lá? Falta
mistura e produto de higiene hoje."

No desespero, ela colocou à venda taças e peças de porcelana que


ganhou de presente de uma patroa. "Se conseguir vender, vou ganhar
R$ 250."

Enquanto a diarista dava entrevista para esta reportagem por telefone,


o marido passou mal e foi ao hospital, onde fez o teste para
coronavírus – deu positivo.

Sem ter como limpar a própria casa, Priscila


teve de ir com as filhas para a casa da sogra.
Neste domingo (12), porém, o hospital deu água
sanitária e álcool gel para a diarista desinfectar
o imóvel e poder retornar em segurança.

'A maioria é diarista, manicure, camelô'


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Thais Ferreira, uma das criadoras do projeto Segura a Curva das Mães, que ajudará 732 mães vulneráveis de
todo o Brasil durante a pandemia de coronavírus. — Foto: Paulo Portilho/G1

“Recebemos relatos de perda das


oportunidades de trabalho – a maioria é
diarista, manicure, camelô e cabeleireira –; de
sobrecarga no cuidado doméstico; e de perda
do apoio que tinham antes do coronavírus, já
que muitas contavam com idosos para ajudar
no cuidado dos filhos. Muitas também
relataram maior exposição à violência no
ambiente doméstico, que já não era saudável e
seguro”, afirma Thaís.

Além de conhecer a realidade dessas mães, o Segura a Curva das Mães


também permitiu mapear geograficamente os locais em que elas
vivem. O objetivo é colocá-las em contato com iniciativas que já
estejam fazendo distribuição de itens de primeira necessidade na
região em que elas vivem.

Outra mulher que será ajudada pelo projeto é a bordadeira carioca


Patrícia G. (ela preferiu não fornecer o sobrenome), de 39 anos.
Autônoma, ela também perdeu o emprego com carteira de trabalho
assinada quando engravidou do segundo filho, a exemplo de Priscila.

Separada há um ano, Patrícia entrou na Justiça


para pedir a pensão alimentícia para os dois
filhos, que são autistas. A carioca também
entrou com medida protetiva contra o pai das
crianças, por causa de violência doméstica.
"Mas o judiciário entrou em recesso antes de o
pai ser intimado. Então, estou sigo sem a
pensão e sem a medida", conta ela.

Patrícia segue a Thaís Ferreira nas redes sociais e ficou sabendo pelo
Facebook do Segura a Curva das Mães. "Me inscrevi, inscrevi outras
mães de crianças especiais que eu conheço da escola municipal que
meus meninos estudam."

A bordadeira está sem trabalhar há um mês, mas diz que faltam


alimentos e produtos de higiene, já que amigas fizeram uma vaquinha
para arrecadar uma quantia emergencial. "Outra amiga fez compras no
Ceasa e entregou na porta de casa um caixote cheio de legumes, que
eu tratei e congelei."

A carioca conheceu esse grupo de mulheres em 2015, quando estava


grávida do primeiro filho. "Nos conhecemos através da doula
[acompanhante de parto] que tivemos para as nossas gestações. Ela
tinha um grupo de WhatsApp, das doulandas [gestantes] dela. Desde
então, somos amigas e nos ajudamos."

Rede de apoio entre mães


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Clareana Eugênio, criadora da rede com mais de 23 mil mães Maternashop, organiza doações para as mais
vulneráveis na pandemia. — Foto: Valeria Bomtempo

A empreendedora Clareana Eugênio criou um grupo no Facebook em


2015 chamado Maternashop, por meio do qual coloca em contato
mães empreendedoras e autônomas do Brasil todo. Com o lema
“compre de uma mãe”, as participantes usam o grupo para anunciar
seus serviços e produtos e comprar uma das outras. Atualmente, o
Maternashop tem mais de 23 mil mães membros.

Clareana conta que desde o começo de março, quando entraram em


vigor medidas de isolamento social em vários estados do país, ficou
assustada com a quantidade de postagens no grupo de mulheres
preocupadas com suas rendas e sem dinheiro para pagar contas
básicas do mês, como água e luz.

"Como administradora da comunidade [na rede social], vi o desespero


dessas mulheres que dependem totalmente de vendas para se
sustentar", conta a empreendedora. “Como minha voz dentro do grupo
tem um peso grande, resolvi usar meu tempo pra ajudar.”

Ao receber um pedido de ajuda de alguma mãe do Maternashop,


Clareana organiza a arrecadação de dinheiro dentro do próprio grupo
de acordo com a necessidade de cada mãe. As que têm condições
ajudam as que necessitam.

“Somos microempreendedoras e autônomas que se veem neste


momento tendo de se reinventar para não fechar seus negócios, não
deixar de honrar compromissos. Porém algumas estão
impossibilitadas de trabalhar, como as que oferecem serviços de babá
ou limpeza. A essas, temos ajudado arrecadando dinheiro entre nós
mesmas”, conta Clareana.

O socorro é dado de acordo com a necessidade de cada mulher: há


pedidos para pagar apenas uma conta da casa, como internet ou água,
assim como para comprar gás, fraldas, cesta básica e até enxoval de
bebê. As mais necessitadas também recebem uma quantia
emergencial de R$ 250.

“A princípio, eu me dispus a contar a história de cada uma dentro do


grupo pedindo ajuda para conseguir pagar contas de até R$ 100.
Felizmente, fui surpreendida por mulheres que fizeram doações em
que é possível pagar mais de R$ 250 por mãe”, conta Clareana.

A primeira arrecadação aconteceu dia 17 de março, e 22 mulheres do


grupo já receberam ajuda. “Recebemos mais de R$ 4,5 mil em doação
das próprias mães até o momento.”

As mulheres que pediram ajuda no Maternashop:

· têm idades entre 25 e 35 anos;

· mais de um filho;

· e são vendedoras autônomas ou trabalham como faxineira, babá e


motorista de aplicativos.

Antes da pandemia de coronavírus, o Maternashop arrecadava das


mulheres integrantes do grupo uma quantia simbólica chamada de
“fundo solidário”, que ajudava a remunerar as mães que moderam o
grupo.

Desde março, essas mulheres abriram mão do fundo – e ele passou a


ser usado para comprar cesta básica para as mais vulneráveis. “Assim,
ninguém passe fome”, diz Clareana.
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Mães empreendedoras que integram o Maternashop, grupo com mais de 23 mil mulheres que se ajudam
durante a pandemia de coronavírus. — Foto: Carol Esmanhotto

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