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Unidade III
7 ATIVIDADE MOTORA PARA IDOSOS E GESTANTES
7.1 Idosos
Dessa forma, o envelhecimento conduz o idoso a uma maior vulnerabilidade a fatores intrínsecos e
extrínsecos que o predispõem ao risco de morbimortalidade, como a perda de peso não intencional, o
autorrelato de fadiga, a diminuição da força de preensão, a redução das atividades físicas, a diminuição
da velocidade da marcha, a diminuição das atividades diárias e a diminuição das relações sociais (LANA;
SCHNEIDER, 2014).
Ainda não se tem um consenso definido sobre o termo “fragilidade”; no entanto, a discussão
apresenta o propósito bem claro de compreender, identificar e avaliar o quanto o processo de
envelhecimento, que conduz o idoso a uma maior fragilidade, pode ser adiado, controlado e
tratado, afastando, assim, o risco de morbimortalidade.
Uma das definições mais encontradas de “síndrome da fragilidade” diz respeito a uma síndrome
biológica caracterizada pela diminuição da reserva homeostática e pela redução da capacidade de
resistência do organismo às agressões, que resultam no declínio cumulativo em múltiplos sistemas
fisiológicos, ocasionando um quadro de vulnerabilidade e efeitos adversos.
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Unidade III
7.1.2 Epidemiologia
Em 2018, o Brasil atingiu a marca de 30,2 milhões de pessoas idosas de acordo com a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características dos Moradores e Domicílios (PARADELLA,
2018). As mulheres representam 16,9 milhões (56%) do total. Essa tendência é global, e, de acordo com o
site de notícias da Organização Mundial de Saúde (OMS) no Brasil, a população com mais de 60 anos irá
passar dos atuais 841 milhões para 2 bilhões até 2050, o que tornará as doenças crônicas e o bem‑estar
da terceira idade um novo desafio para a saúde pública global. Pode-se conferir, na figura a seguir, a
distribuição da população por idade e sexo.
O envelhecimento de qualidade ruim reflete em uma demanda maior na utilização dos sistemas
de saúde, além de em um aumento da frequência e do tempo das internações hospitalares
(SOUZA; JACOB FILHO, 1994). Os autores, em sua revisão sobre os desafios da saúde pública
frente à epidemiologia do envelhecimento, descrevem algumas abordagens necessárias. Também
há mais estudos em diversas vertentes sobre a complexidade que o tema apresenta em relação
aos aspectos sobre nutrição, atividade física, prevenções, serviços de saúde, institucionalização,
entre outros.
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ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
O profissional de Educação Física que atua com idosos deve conhecer as características fisiológicas
e anatômicas do envelhecimento. É importante que ele entenda sobre o processo, também chamado de
senescência, assim como sobre as alterações produzidas pelas afecções que podem acometer o idoso,
chamadas de senilidade.
Envelhecer pode variar muito ao se compararem os indivíduos; para alguns, acontece de forma mais
rápida. Na literatura, o envelhecimento se relaciona com fatores biológicos associados ao estilo de vida, à
condição socioeconômica e a doenças. Os aspectos biológicos estão ligados às questões moleculares, celulares,
teciduais e orgânicas da pessoa. Na dimensão do psíquico, relaciona-se aos fatores cognitivos e psicoafetivos,
que interferem na personalidade e no afeto (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012).
• envelhecimento primário;
• envelhecimento secundário;
• envelhecimento terciário.
Fechine e Trompieri (2012) descrevem o envelhecimento primário como natural ou senescência, uma
característica genética típica da espécie. Este acontece de forma gradativa e progressiva, na qual ocorrem
efeitos cumulativos. Nessa condição, o indivíduo está submetido à influência de vários fatores determinantes
para o envelhecimento, entre eles o exercício, a alimentação, o estilo de vida, a exposição a eventos diversos,
a educação e a posição social. É um envelhecimento geneticamente determinado ou pré‑programado.
Por último, tem-se o envelhecimento terciário, também conhecido como terminal, que se
caracteriza por um período de profundas perdas físicas e cognitivas, ocasionadas pelo acúmulo dos
efeitos do envelhecimento e por patologias dependentes da idade (FECHINE; TROMPIERI, 2012).
É importante entender que a idade cronológica ordena as pessoas conforme a data de nascimento.
Já a idade biológica (individual) é demonstrada pelo organismo, que tem como base as suas condições
tecidulares, quando comparadas a valores normativos. E, por fim, a idade psicológica é evidenciada
pelos aspectos relacionados ao desempenho, à maturação mental e à soma de experiências (FECHINE;
TROMPIERI, 2012).
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Unidade III
A partir dos 40 anos de idade, a estatura do corpo começa a diminuir cerca de 1 cm por década.
Essa perda se deve à diminuição dos arcos do pé, ao aumento das curvaturas da coluna, além de a um
encurtamento da coluna vertebral devido a alterações nos discos intervertebrais.
Quanto à composição corporal, ocorre um aumento do tecido adiposo, que tende a se depositar nos
compartimentos omentos (peritônio, membrana que recobre as paredes do abdômen) na região perirrenal
(em torno dos rins). No tecido subcutâneo, o tecido adiposo diminui nos membros e aumenta no tronco.
É comum o ganho de gordura em substituição à perda de massa muscular, e esse é considerado um dos
principais fatores que influenciam no surgimento de certas doenças e incapacidades. Para as mulheres,
o aumento da massa gorda é maior do que para os homens (1,7% e 1,5% por década, respectivamente)
(SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012).
O teor total de água do corpo diminui por perda de água intracelular, levando à diminuição da
relação fluido intracelular para o extracelular. O potássio total, que, na maior parte, é intracelular,
também diminui. A perda de água e potássio se deve, preferencialmente, à diminuição geral do número
de células nos órgãos (SOUZA; JACOB FILHO, 1994). Em relação à perda de massa, os órgãos internos
mais afetados são os rins e o fígado, mas os músculos são os que mais sofrem prejuízo ponderal com o
passar do tempo.
Os exercícios físicos regulares, como os aeróbios, são fundamentais para manter a eficácia do
metabolismo oxidativo e auxiliar no maior gasto energético. Os exercícios de fortalecimento dos grupos
musculares do tronco e os que diminuem a pressão interna do abdômen são essenciais para evitar o
acúmulo de gordura visceral e no peritônio. Esses exercícios, quando associados a uma reeducação
alimentar adequada, podem gerar, em muitos casos, a diminuição dessa gordura.
Quanto à perda de água, é preciso diminuir o uso de sódio para evitar a retenção de líquido. Em
períodos de muito calor, a ingestão de água deve ser mais rigorosa, pois a desidratação é mais intensa, e,
com a perda de potássio, podem surgir, em algumas pessoas, quadros de câimbra e arritmia extrassístole.
Como se sabe, o potássio é um dos principais componentes das células. Tem papel essencial em
funções como contração muscular, condução nervosa, frequência cardíaca, produção de energia e síntese
de ácidos nucleicos e proteínas. Os exercícios contra resistência ou de musculação são recomendados
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ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
para ganhar e/ou manter a massa magra; consequentemente, observa-se a manutenção ou a diminuição
da massa gorda (NORDIN; FRANKEL, 2014; ACSM, 2014).
Sistema ósseo
As moléculas de cálcio estão aderidas às fibras colágenas da matriz óssea. Como a destruição de
colágeno no idoso é mais lenta do que a formação de novas fibras, a quantidade de sais inorgânicos no
osso passa a ser maior do que a quantidade de colágeno, embora haja a perda real de cálcio. Isso torna
o osso mais quebradiço (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012).
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Unidade III
A perda de tecido ósseo ocorre de maneira diferente no homem e na mulher. Na mulher, não há
perda óssea significante antes da menopausa. Porém, após esse período, o processo é mais intenso
do que nos homens. Isso altera a densidade óssea tanto do tecido compacto quanto do esponjoso
(FECHINE; TROMPIERI, 2012; FOSS; KETEYIAN, 2000; GUSMÃO; BELANGERO, 2009).
A osteoporose é outra doença que se encontra em mulheres e homens. Nas mulheres, a perda de
sais minerais equivale a 0,75%, e, aos 35 anos e na menopausa, equivale de 2% a 3%. Para os homens,
a perda chega a 0,4% a partir dos 40 anos.
Para as mulheres, um dos fatores responsáveis pela osteoporose na menopausa é a produção diminuída de
estrogênio, uma vez que esse hormônio está diretamente relacionado ao estímulo das atividades osteoblásticas,
além de fatores como dieta e inatividade física (FECHINE; TROMPIERI, 2012; FLECK; KRAEMER, 2006).
Sistema articular
Todos os tipos de articulações sofrem alterações com o envelhecimento. Os discos intervertebrais são
constituídos por um núcleo pulposo e um anel fibroso. O núcleo pulposo, no jovem, é constituído por uma
grande quantidade de água, fibras colágenas delgadas e proteoglicanas; o anel fibroso é uma fibrocartilagem
constituída por condrócitos e uma matriz, onde se encontram fibras colágenas espessas e proteoglicanas.
O estresse físico, como o trabalho de mobilidade específico e os exercícios físicos, é fundamental para
a nutrição dos discos intervertebrais, que não possuem rede vascular. O suprimento dos discos vertebrais
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ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
depende da difusão dos vasos periféricos, e estes servem de aporte para as questões metabólicas e
regenerativas (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; NORDIN; FRANKEL, 2014; ACSM, 2014).
Nas articulações sinoviais (ou diartroses), ocorrem importantes alterações na cartilagem articular e
na perda de líquido. A função dessa cartilagem é diminuir o atrito entre as superfícies articulares, o que
explica a sua aparência lisa e brilhante e sua estrutura adaptada a essa função.
No jovem, a cartilagem é constituída por camadas de células, os condrócitos, e uma matriz, onde
se encontram água, fibras colágenas e proteoglicanas. Com o envelhecimento, ocorrem alterações,
especialmente nas camadas superficiais da cartilagem articular: o número de células, a água e as
proteoglicanas diminuem, enquanto as fibras colágenas aumentam em número e espessura. Como
consequência, a cartilagem fica mais delgada, e surgem rachaduras e fendas na superfície. Essas
alterações aumentam em frequência com a idade.
Com a prática de exercícios físicos, é possível evitar a desidratação acelerada. Com o estresse físico,
o volume de nutrientes intra-articular aumenta, provocando um ajuste na articulação em específico,
e esses processos degenerativos podem ser retardados. O trabalho focado no reequilíbrio muscular
e postural do idoso evita a degeneração por compensações provocadas pelo aumento do atrito
indesejado, em consequência de uma determinada articulação estar trabalhando com sobrecarga
(NORDIN; FRANKEL, 2014).
O estresse físico apenas por exercícios de mobilidade articular pode melhorar significativamente
o quadro de dor e desconforto, pois o estresse proporciona uma melhor vascularização, aumenta o
volume de nutrientes e mantém certa atividade das bursas, promovendo, assim, a lubrificação da referida
articulação (NORDIN; FRANKEL, 2014; COX, 2002).
Sistema musculoesquelético
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Unidade III
Consequentemente, a perda de massa muscular contribui para outras alterações, como a diminuição
da densidade óssea, a menor sensibilidade à insulina, a menor capacidade aeróbia, a menor taxa de
metabolismo basal, a menor força muscular e o menor nível de atividades físicas diárias. Nos idosos, o
enrijecimento e a perda de elasticidade dos tendões e dos ligamentos associada à perda de força são
fatores que desencadeiam torções, luxações e o aumento das quedas (SOUZA; JACOB FILHO, 1994;
FECHINE; TROMPIERI, 2012).
Ao envelhecer, a redução da massa muscular se deve, possivelmente, à perda das fibras musculares
de contração rápida do tipo II. Essa perda de força e potência muscular está relacionada com a perda
da quantidade, assim como da qualidade, das proteínas nas unidades contráteis do músculo (FECHINE;
TROMPIERI, 2012; FLECK; KRAEMER, 2006). A inatividade física é uma das grandes responsáveis pelo
aceleramento do processo de envelhecimento (FLECK; KRAEMER, 2006; CÂMARA; SANTARÉM; JACOB
FILHO, 2008; COX, 2002). Os idosos que não fazem exercício físico apresentam maior porcentagem de
gordura e menor teor de massa muscular quando comparados aos idosos que praticam regularmente
exercício físico (COX, 2002; FECHINE; TROMPIERI, 2012).
A redução das atividades, a do gasto energético em repouso e a do efeito termogênico dos alimentos
são fatores que favorecem o acúmulo de gordura. Juntas, elas induzem a um decréscimo substancial nas
necessidades energéticas diárias (FECHINE; TROMPIERI, 2012; FLECK; KRAEMER, 2006).
Sistema nervoso
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ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
O peso do cérebro diminui com a idade, assim como o seu volume. As menores perdas ocorrem
a partir dos 45 anos, e, até os 90 anos, a perda pode chegar a, aproximadamente, 10% por década
(FECHINE; TROMPIERI, 2012). Ocorre certo grau de atrofia no córtex cerebral e um aumento volumétrico
dos ventrículos encefálicos.
Lembrete
Perda da substância
cinzenta em virtude da
morte celular neuronal
e/ou da atrofia cortical
Aumento dos
ventrículos
Perda da substância branca
em virtude da perda axônica
ou da diminuição da
mielinização
A maior parte das células que compõem o córtex são as células nervosas (ou neurônios), mas há
também as células da glia (responsáveis pela produção de bainha de mielina). Com o envelhecimento, as
células nervosas, como outras células, apresentam acúmulo de um pigmento: a lipofuscina (trata-se de
um pigmento de desgaste, tipo lixo celular, que tem como base os lipídeos).
Muitas das células piramidais mostram alterações no envelhecimento de vários tipos, como os
dendritos inchados na base, o desaparecimento de dendritos ou o número reduzido de espinhas em
várias áreas do córtex. Essas alterações podem evoluir até a morte completa da célula.
Na medula espinal, somente após os 60 anos de idade se inicia a morte celular. A maneira como a
perda de células nervosas pode afetar a função do sistema nervoso varia entre as pessoas e depende de
vários fatores, entre os quais a região em que ela é mais intensa.
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Unidade III
A prática de exercícios físicos é fundamental para a manutenção do SNC e das atividades do sistema
circulatório, além de gerar um aumento do fluxo sanguíneo para uma boa oxigenação, observada
em idosos mais ativos com exercícios tanto aeróbios quanto contra resistência, mesmo naqueles que
apresentam doenças crônicas (FECHINE; TROMPIERI, 2012; NORDIN; FRANKEL, 2014; ACSM, 2014;
CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008).
Sistema respiratório
A função pulmonar aumenta na adolescência e se estabiliza aos 30 anos. Em seguida, inicia-se o seu
declínio. Com o envelhecimento, são esperadas algumas alterações estruturais no aparelho respiratório.
São observadas uma caixa torácica mais rígida e uma diminuição da elasticidade pulmonar. A capacidade
vital diminui, e o volume residual aumenta. No entanto, na capacidade pulmonar total, observam-se
poucas alterações (SOUZA; JACOB FILHO, 1994; FECHINE; TROMPIERI, 2012; FOSS; KETEYIAN, 2000).
Após os 30 anos de idade, há a redução do consumo máximo de oxigênio (VO2 max) com perda
gradativa de, aproximadamente, 1%. A redução do VO2 associada à idade ocorre devido a fatores como
redução arteriovenosa de oxigênio e diminuição do débito cardíaco máximo. As alterações fisiológicas
no envelhecimento podem ser atribuídas às combinações entre alterações anatômicas e às reorientações
das fibras elásticas dos pulmões. São alterações fisiológicas definidas pela diminuição da elasticidade
pulmonar: a redução da capacidade da difusão do oxigênio, a redução dos fluxos expiratórios, o fecho
prematuro de vias aéreas e a redução da complacência da parede torácica.
Tendo em vista os aspectos positivos do exercício, os autores observam que o programa regular
de exercício físico pode modificar vários processos fisiológicos que diminuem com o envelhecimento,
melhorando, assim, a eficiência cardíaca, a função pulmonar e os níveis de cálcio. É consenso que os
adultos praticantes de atividades aeróbias têm minimizado muitos dos declínios respiratórios decorrentes
do envelhecimento, com significativa melhora da qualidade de vida (FECHINE; TROMPIERI, 2012; ACSM,
2014; FLECK; KRAEMER, 2006; CÂMARA; SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008).
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ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
• individualidade biológica;
• especificidade;
• sobrecarga;
• adaptabilidade;
• progressividade;
• continuidade;
• reversibilidade.
• promoção da saúde;
• segurança;
• para atividades moderadas, acumular, pelo menos, de 30 a 60 minutos por dia (maior benefício),
em episódios de, no mínimo, 10 minutos, para um total de 150 a 300 minutos por semana;
• realizar de 20 a 30 minutos ou mais por dia de intensidade vigorosa, para um total de 75 a 150
minutos por semana;
• treinar de 3 a 5 vezes por semana (treinar menos que 3 vezes aumenta o risco por excesso de
carga por intensidade do treinamento);
125
Unidade III
7.1.6 Contraindicações
São conhecidos os diversos benefícios dos exercícios físicos para a população idosa, que é considerada,
no entanto, uma das que mais possuem riscos de eventos adversos durante a prática de exercícios. Esse
fato se deve às múltiplas comorbidades. Na literatura, é consenso encontrar a recomendação de que, ao
aderir a um programa de atividade física, o idoso se submeta a uma avaliação médica para diagnóstico e
que a prescrição de exercícios seja elaborada a partir das considerações acerca das limitações (CÂMARA;
SANTARÉM; JACOB FILHO, 2008; ACSM, 2018).
• angina instável;
• cardiomiopatia hipertrófica;
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ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
Os autores ainda salientam que essas são condições de prejuízo significativo à saúde e que
os pacientes devem ser assistidos clinicamente de forma rigorosa (CÂMARA; SANTARÉM; JACOB
FILHO, 2008).
7.2 Gestantes
A gravidez é entendida como uma alteração fisiológica, embora já tenha sido vista, historicamente,
com similaridades a alguma doença devido a seus sinais e sintomas. Atualmente, considera-se a gravidez
como um processo fisiológico normal (FERREIRA; NAKANO, 2001), e, portanto, apesar das inúmeras
adaptações gravídicas, não há impedimento para a prática de exercício físico quando a gravidez se
desenvolve dentro da normalidade.
A energia química utilizada pelo corpo é liberada no processo de oxigenação. O oxigênio serve como
oxidante através do sistema respiratório, e o sistema cardiovascular distribui a energia por meio da sua
bomba propulsora (coração) e dos vasos sanguíneos.
O custo energético aproximado da gestação é de 80.000 kcal ou 300 kcal/dia (ACOG, 2002). Este
é necessário para cobrir o crescimento e o desenvolvimento do feto, síntese de tecido materno,
como o útero, as mamas e a gordura, e para compensar o aumento do metabolismo decorrente
do incremento da atividade dos sistemas cardiovascular, respiratório e urinário e a adição do
metabolismo fetal.
A demanda é desigualmente distribuída, sendo bem intensa no meio da gravidez, com necessidade
extra de 390 kcal. Isso é provocado, principalmente, pelo depósito de gordura durante esse período.
Os últimos 25% do período gravídico são menos exigentes: apenas um adicional de 250 kcal/dia é
necessário para o crescimento do feto (ACOG, 2002).
127
Unidade III
kg P 90
15
13
11 P 50
9
Aumento de peso
P 25
7
P 10
5
1
0
16 20 24 28 32 36 40
Amenorreia (semanas)
A gravidez normal gera um desequilíbrio entre o metabolismo dos carboidratos e das gorduras. Observa‑se,
portanto, a redução da glicemia de jejum e da glicemia basal materna às custas do armazenamento de
gordura, da glicogênese hepática e da transferência de glicose para o feto (ZUGAIB, 2008). Essas alterações
são observadas na primeira fase, ou fase anabólica, que corresponde à primeira metade da gestação, e são
desencadeadas pelos hormônios sexuais placentários (estrógeno e progesterona).
A partir da segunda metade da gravidez, inicia-se o período catabólico, com lipólise, gliconeogênese
e resistência à insulina. Acredita-se que o hormônio lactogênio placentário, por sua ação somatotrópica,
estimule a lipólise com a liberação de ácidos graxos na corrente sanguínea materna. Assim, a partir da
trigésima semana de gestação, a mulher começa a utilizar suas reservas para se adequar ao crescimento
fetal. O excesso de ácidos graxos leva à resistência periférica à insulina, mantendo o ambiente de
hiperglicemia pós-prandial, com consequente hiperinsulinemia.
Observação
140
Glicemia
130 gestante
Glicemia
120 não gestante
110
Glicemia (mg/dL)
100
90
80
70
60
8 13 18 23 8
250
Insulinemia
gestante
200 Insulinemia
não gestante
Insulina (mcU/mL)
150
100
50
0
8 13 18 23 8
Hora do dia
129
Unidade III
A função do aumento do volume sanguíneo está associada à maior necessidade de fluxo sanguíneo
nos órgãos genitais, em especial o útero. Além disso, esse aumento tem papel de proteção para a
gestante e para o feto em relação à redução do retorno venoso, comprometido quando a gestante está
em posição supina e ereta, e em relação às perdas sanguíneas esperadas no processo do parto. Apesar do
aumento do volume total de sangue, o volume plasmático aumenta em proporção maior que o volume
celular. Em geral, pode-se observar um aumento de 45% a 50% do volume plasmático e de 33% do
volume celular, o que resulta em hemodiluição e anemia fisiológica (ZUGAIB, 2008).
Observação
Saiba mais
O débito cardíaco em gestantes chega a ser 50% maior do que em mulheres não gestantes.
10
9,3
9 8,9
8
7,1 7,2
Débito cardíaco (L/min)
6,8
7
5,8 6,2
6
5
5
4
3
2
1
0 Pós-parto imediato
Não gestante
20-24 semanas
28-32 semanas
28-40 semanas
Fase latente
Fase ativa
Período expulsivo
O aumento da pressão venosa nos membros inferiores é justificado pela compressão das veias pélvicas
pelo útero volumoso. Por essa razão, existe uma maior chance de a gestante apresentar hipotensão,
edema, varizes e hemorroidas.
131
Unidade III
Observação
Observação
Pré-carga é o volume de sangue que chega ao ventrículo esquerdo
antes de a contração ser iniciada.
↑ Débito cardíaco
↑ Volume sistólico
↑ Frequência cardíaca
↑ Volume de sangue
↑ Resistência vascular sistêmica
↑ Fluxo de sangue uterino
Emocional Metabólico
Endócrino Respiratório
↑ LH ↑ Volume total
↑ GH ↑ VO2
↑ Lactogênio placentário humano Ventilação prejudicada (elevação
↑ Estrógenos do diafragma)
↑ Progesterona
Musculoesquelético
132
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
Em relação às adaptações morfológicas, pode-se observar que, ao longo da gestação, com o crescimento
fetal, o músculo diafragma se eleva. Esse deslocamento pode alterar a posição cardíaca, e, assim, o coração
pode se apresentar deslocado para cima e para a esquerda. Além disso, o volume do coração aumenta.
Por esses motivos, pequenas alterações no ritmo cardíaco podem acontecer, em especial as extrassístoles.
Sopros cardíacos também podem ser observados devido à redução da viscosidade do sangue e ao aumento
do débito cardíaco (CUTFORTH; MACDONALD, 1966 apud ZUGAIB, 2008).
Outras alterações provocadas pela gestação podem incluir o sistema locomotor. Praticamente todas
as mulheres grávidas experimentam algum desconforto musculoesquelético durante a gravidez. Destas,
pelo menos 25% apresentam, ao menos, sintomas temporários (BORG-STEIN; DUGAN; GRUBER, 2005).
As mulheres grávidas apresentam um risco aumentado de queixas musculoesqueléticas, principalmente
de lombalgia. A mudança do centro de gravidade, devido ao aumento do tórax, do útero e do feto,
a rotação anterior da pelve, o aumento da lordose lombar e o aumento da elasticidade ligamentar,
causada pela ação de alguns hormônios (SHEPHARD, 2000), são os principais responsáveis pelos sintomas
(GARSHASBI; FAGHIH ZADEH, 2005).
da progesterona, que, mesmo antes do crescimento uterino, já piora a ventilação. O diafragma se eleva
em torno de 4 cm, o que colabora para o aumento do volume e do consumo de oxigênio (VO2) e,
presumidamente, ajuda a aumentar o suporte de oxigênio para o feto (PIVARNIK; STEIN; RIVERA, 2002).
A gravidez e o parto também têm sido considerados fatores de risco para a gênese da disfunção
do assoalho pélvico (VAN VEELEN; SCHWEITZER; VAN DER VAART, 2014). A pressão dentro da cavidade
abdominal gerada pelo útero em crescimento, assim como o estresse mecânico imposto pelo parto,
pode causar denervação parcial do assoalho pélvico e lesão no músculo e tecido conjuntivo. Algumas
situações, como o ganho excessivo de peso na gestação, a macrossomia fetal (bebê com peso excessivo),
o parto instrumental ou o trabalho de parto prolongado, relacionam-se, tradicionalmente, com fatores
que propiciam as lesões no assoalho pélvico, sendo a incontinência urinária a mais comum desordem
do assoalho pélvico (SOLANS-DOMENECH et al., 2010).
As mesmas modificações hormonais provocadas pela relaxina, pela progesterona e pelo estrógeno,
associadas ao crescimento uterino e já mencionadas, podem provocar o estiramento da musculatura
abdominal, atingindo, principalmente, os músculos retoabdominais, acompanhadas pelas modificações
de postura. Tais alterações posturais podem provocar mudanças no ângulo de inserção dos músculos
abdominais e pélvicos, influenciando a biomecânica postural, além de gerar um déficit na função de
sustentação dos órgãos pélvico-abdominais. Assim, quanto mais a gravidez progride e os músculos
abdominais se alongam, mais haverá um prejuízo no vetor de força desses músculos, podendo ocorrer
uma diminuição na força de contração (ARTAL; O’TOOLE; WHITE, 2003).
Dessa forma, tanto as alterações biomecânicas quanto o estiramento dessa musculatura facilitam
o aparecimento da diástase dos músculos retoabdominais. A diástase dos músculos retoabdominais é
definida como a separação ou o afastamento dos feixes desses músculos ao longo da linha alba (ARTAL;
O’TOOLE; WHITE, 2003).
Figura 48 – Fotografia clínica de mulher de 30 anos de idade, seis meses após o parto
134
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
A ocorrência desse fenômeno é mais comum na gestação e no pós-parto imediato (BURSCH, 1987
apud RETT et al., 2009), tendo como principais fatores predisponentes a obesidade, a multiparidade,
a macrossomia fetal, a flacidez da musculatura abdominal, o polidrâmnio e as gestações múltiplas
(MESQUITA; MACHADO; ANDRADE, 1999). Pode ser uma situação transitória (ARTAL; O’TOOLE; WHITE,
2003) ou pode permanecer ao longo da vida da mulher (CHIARELLO et al., 2005).
Observação
A atividade física é definida como qualquer movimento corporal decorrente de contração muscular,
com dispêndio energético acima do repouso, que, em última análise, permite o aumento da força física,
da flexibilidade do corpo e da resistência, com mudanças no campo da composição corporal ou da
performance desportiva (WHO, 2004).
Até algumas décadas atrás, as mulheres grávidas eram aconselhadas a reduzir as suas atividades e
até mesmo interromper seu trabalho ocupacional, especialmente na fase final da gravidez. Porém, desde
a década de 1990, tem-se admitido o efeito positivo da atividade física regular durante a gestação,
desde que a mulher não apresente condições adversas específicas (LIMA; OLIVEIRA, 2005; ACOG, 2002).
Na literatura, parece haver o consenso de que manter um nível de atividade física razoável durante
uma gravidez descomplicada fornece vários benefícios para a saúde da mulher. Isso é explicado pelo
fato de a atividade física provocar uma resposta de redistribuição circulatória e térmica, mudando a
concentração no sangue do útero e da placenta para as extremidades. Esse processo ajuda a reduzir
e prevenir dores nas costas, promove a baixa retenção de líquidos, reduz o estresse cardiovascular,
aumenta a capacidade de oxigenação, diminui a pressão arterial, reduz o risco de diabetes gestacional
e de pré-eclâmpsia (BONEN et al., 1995 apud BARAKAT et al., 2015), evita tromboses e varizes e ajuda a
controlar o ganho de peso gestacional (DAVENPORT et al., 2013).
As vantagens incluem, também, aspectos emocionais, uma vez que a atividade física ajuda a tornar a
mulher grávida mais autoconfiante e satisfeita com a sua aparência, além de aumentar a sua autoestima,
reduzindo, assim, os riscos de depressão (ROBLEDO-COLONIA et al., 2012).
Para que, de fato, as vantagens de realizar exercício físico durante a gravidez sejam evidentes,
devem ser considerados vários aspectos fisiológicos na prática de exercícios da gestante. As alterações
cardiovasculares associadas à gravidez são uma consideração importante para mulheres grávidas em
135
Unidade III
repouso e durante o exercício. Após o primeiro trimestre, a posição supina, como já mencionado, resulta
em obstrução relativa do retorno venoso e pode, portanto, reduzir o débito cardíaco e causar hipotensão
ortostática. Por essa razão, as mulheres grávidas devem evitar a posição supina durante o exercício
sempre que possível.
Em geral, a participação em uma ampla gama de atividades de lazer parece ser segura. A segurança
de cada esporte é determinada, em grande parte, pelos movimentos específicos exigidos. Atividades ou
esportes de contato, como hóquei no gelo, futebol e basquete, podem resultar em trauma para a mulher
e o feto. Da mesma forma, atividades recreativas, que aumentem o risco de queda, como ginástica,
equitação e esqui, ou muito intensas, como esportes de raquete, oferecem mais riscos para as gestantes
e devem ser evitadas. O mergulho também deve ser evitado em toda a gravidez porque, durante essa
atividade, o feto está em risco aumentado para descompressão, que pode comprometer a circulação
pulmonar fetal. Esforço em pequenas altitudes parece ser seguro; no entanto, engajar-se em atividades
físicas em maiores altitudes envolve vários riscos.
A lista a seguir apresenta alguns tipos de exercícios físicos e/ou situações não recomendadas para a
prática durante o período gestacional:
• exercícios com movimentos repentinos ou de saltos, que podem levar à lesão articular;
• basquetebol e qualquer outro tipo de jogo com bolas que possa causar trauma abdominal;
• prática de mergulho (condições hiperbáricas levam ao risco de embolia fetal quando ocorre
a descompressão);
• qualquer tipo de ginástica aeróbia, corrida ou atividade em elevada altitude é contraindicado ou,
excepcionalmente, aceito com limitações, dependendo das condições físicas da gestante;
• exercícios na posição supino após o terceiro trimestre, pois podem resultar em obstrução do
retorno venoso.
Também existem algumas contraindicações para a prática de exercícios físicos na gestação de acordo
com possíveis complicações apresentadas pela gestante.
O exercício regular é contraindicado em mulheres com as seguintes complicações (LIMA; OLIVEIRA, 2005):
136
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
• Contraindicações absolutas:
—― sangramento uterino;
—― isoimunização grave;
• Contraindicações relativas:
—― hipertensão essencial;
—― anemia;
—― doenças tireoidianas;
—― obesidade mórbida;
Muitas das alterações fisiológicas e morfológicas da gravidez persistem por semanas após o parto.
Assim, os exercícios podem ser retomados gradualmente.
A intensidade do exercício deve ser monitorada de acordo com os sintomas que a gestante apresentar.
Essa intensidade se revela através da demanda sobre o sistema cardiovascular.
137
Unidade III
Na prescrição do exercício físico para a gestante, é muito importante que seja escolhida uma
atividade que melhor se adapte às suas características e aos seus interesses para, com isso, aumentar a
aderência ao exercício escolhido em longo prazo.
O treinamento de força também pode ser incluído no programa de exercícios da gestante. Seu
benefício inclui o fortalecimento muscular, que proporciona a manutenção do condicionamento
muscular ou o aumento de força muscular global, permitindo uma melhor adaptação do organismo
materno às alterações posturais provenientes da evolução gestacional, e contribuindo para a prevenção
de traumas e quedas, bem como para a prevenção e o tratamento de desconfortos musculoesqueléticos
(ZAVORSKY; LONGO, 2011).
O alongamento também deve ser parte fundamental do programa de exercícios, permitindo melhorar
a flexibilidade e o relaxamento muscular e ajudando na adaptação postural e na prevenção de dores de
origem musculoesquelética. Deve ser, portanto, complementar ao exercício aeróbio e ao treinamento de
resistência (WOLFE; DAVIES, 2003; ZAVORSKY; LONGO, 2011).
Técnicas de alongamento muscular, como a ioga e o stretching global ativo (SGA), comprovadamente
diminuem as queixas de dor pélvica posterior e de dor lombar durante a gestação (MARTINS; PINTO E
SILVA, 2014). Diante do aumento nos níveis de relaxina e de progesterona durante a gestação, deve‑se
evitar alongamentos extremos para prevenir lesões ligamentares e articulares.
Outro ponto importante é a inclusão do treinamento dos músculos do assoalho pélvico durante a
gestação, o que diminui o risco de incontinência urinária no pós-parto (BOYLE et al., 2012). A gestante
deve realizar o treinamento dos músculos do assoalho pélvico com contrações sustentadas, ou seja,
contrair e manter de cinco a dez segundos, e contrações rápidas (contrair e relaxar) em diferentes
posturas. Como sugestão, deve-se realizar, diariamente, duas séries de oito contrações sustentadas por
cinco segundos e duas séries de dez contrações rápidas (NASCIMENTO; SURITA; CECATTI, 2012).
138
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
7.2.2.1.1 Intensidade
A intensidade do exercício deve ser medida, preferencialmente, pela FC ou pela sensação subjetiva
de esforço (escala de Borg) (BORG; NOBLE, 1974 apud NASCIMENTO; SURITA; CECATTI, 2012). Assim,
recomenda-se que o exercício seja realizado de acordo com os seguintes critérios: 60 a 80% da FC
máxima, calculada pela fórmula FCmáx = 220-idade. A Sociedade Canadense de Ginecologistas e
Obstetras (SCGO) assume as seguintes faixas de treinamento para gestantes (WOLFE; DAVIES, 2003;
ZAVORSKY; LONGO, 2011):
• Idade < 20 anos: 140 a 155 batimentos cardíacos por minuto (bpm);
Outro critério é a escala de percepção subjetiva de esforço de Borg, que varia de 6 (sem esforço)
a 20 (esforço máximo). A intensidade deve ser, preferencialmente, entre 12 e 14, correspondendo a
uma atividade leve ou um pouco cansativa (11). Outra opção mais simples é o talk test (TT), em que
a gestante é orientada a observar sua habilidade em manter uma conversa durante o exercício físico,
o que assegura que este esteja sendo realizado com intensidade leve a moderada, prevenindo-se o
esforço físico excessivo (WOLFE; DAVIES, 2003).
Se uma gestante previamente sedentária, obesa e com DG deseja iniciar a prática de exercício aeróbio
na gestação, sua zona de treino será entre 35% e 40% da FCR. Se sua FC medida em repouso for 90 bpm
e sua FC máxima (medida em um teste de esforço) for 185 bpm, sua %FCR para o treino será, então,
entre 123 e 128 bpm (FC prescrita = (0,35 x 95) + 90 = 123; (0,40 x 95) + 90 = 128).
No entanto, os próprios autores reconhecem que tal método não é prático e dificulta a
orientação para as gestantes. Eles concordam que o uso da escala de percepção de esforço de Borg
é uma boa alternativa; porém, apoiam que, no segundo trimestre gestacional, o exercício possa
ser realizado em intensidade 15-16 da escala de Borg, que corresponde a um exercício cansativo
(ZAVORSKY; LONGO 2011).
139
Unidade III
7.2.2.1.2 Volume
Mulheres ativas podem manter (ou adaptar) sua rotina de exercícios entre 4 e 5 vezes na semana, em
sessões de 30 minutos ou mais. Mulheres previamente sedentárias devem começar com 15 minutos de
exercício aeróbio, 3 vezes por semana, e aumentar gradativamente o tempo de exercícios. Por exemplo:
acrescentar 5 minutos por semana até o recomendado de 150 minutos de exercício aeróbio por semana
ou 30 minutos de exercício 5 vezes na semana (ACOG, 2002).
Devem ser evitados exercícios por períodos prolongados, além de, por exemplo, 60 minutos contínuos.
Vale lembrar que o ideal é a combinação de exercícios aeróbios, de resistência e de alongamento
muscular. Logo, uma ou duas sessões de exercício aeróbio na semana podem ser substituídas pelo treino
de resistência muscular em dias não consecutivos.
Muitas vezes, é difícil estabelecer uma duração máxima de exercício, pois dependerá do tipo, das
condições de preparo individual prévio e da relação entre intensidade e duração. Sabe-se que o tempo
superior a 50 minutos poderá levar à hipoglicemia e ser prejudicial ao feto. Recomenda-se a realização
de uma refeição leve entre 30 e 60 minutos antes do exercício.
A gestante deve ser orientada a interromper os exercícios ao apresentar os seguintes sinais e sintomas
de alerta (ACOG, 2002):
• sangramento vaginal;
• palpitações;
• tontura;
140
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
• As gestantes fisicamente ativas antes de engravidar podem manter suas atividades, inclusive no
primeiro trimestre gestacional, mas modificando (ou adaptando) sua intensidade e frequência
(ACOG, 2002).
• Recomenda-se priorizar sempre os exercícios que envolvam grandes grupos musculares, com
pouca carga e maior número de repetições, bem como evitar manobra de Valsalva durante o
treino de força.
• Todas as gestantes devem ser orientadas a realizar diariamente o treinamento dos músculos do
assoalho pélvico, com contrações sustentadas e rápidas desses músculos desde o primeiro trimestre.
• Mulheres que não praticavam exercício antes da gestação podem iniciar sua prática a partir do
segundo trimestre.
• A partir da vigésima semana, com o crescimento acelerado do volume uterino, deve-se ter
cuidado com a realização de exercícios em posição supina por tempo prolongado, a fim de evitar
a síndrome da hipotensão supina.
• Embora o alongamento seja recomendado para esse período, deve-se levar em conta alguns
cuidados a partir da décima semana de gestação, quando ocorre o pico do hormônio relaxina
circulante, levando a maior flexibilidade dos tecidos articulares e ligamentares. Logo, alongamentos
extensos e extremos podem aumentar o risco de lesões dessas estruturas.
Por fim, são apresentadas as recomendações de exercício físico no terceiro trimestre da gestação:
• A gestante diminui naturalmente a intensidade; porém, exercícios leves devem ser estimulados.
141
Unidade III
• Atividades aeróbias na água, como natação e hidroginástica, e caminhadas são indicadas para
manter a capacidade aeróbia e o condicionamento físico, assim como os exercícios de respiração,
mobilização e relaxamento envolvidos na preparação para o parto.
• Adaptações em exercícios podem ser necessárias para o conforto durante a execução de movimentos.
• O treinamento muscular do assoalho pélvico deve continuar durante o terceiro trimestre, não
havendo contraindicação para a sua prática.
Quanto à temperatura
A termorregulação altera-se durante a gestação. Embora não haja evidências de que a prática
de exercício seja suficiente para causar hipertermia considerável, muito temida por seus possíveis
teratogênicos, alguns cuidados devem ser tomados, como a hidratação adequada e permanente, além
de evitar a prática de exercícios em temperaturas altas ou extremas (EDWARDS, 2006).
Quanto à hidratação
A gestante deve ter cuidado extra com a hidratação durante a prática de exercício, mantendo-a
adequada antes, durante e após a prática (ACOG, 2002).
Quanto à nutrição
Diante do aumento do gasto calórico na gravidez e com o exercício, a mulher deve consumir calorias
suficientes para garantir uma nutrição adequada durante a sua prática.
A aids é uma doença causada pela infecção do vírus da imunodeficiência humana (HIV é a sigla
em inglês), que pode provocar imunossupressão profunda e um consequente quadro de infecções
oportunistas, neoplasmas secundários e distúrbios neurológicos (RASO et al., 2007). Esse vírus ataca o
sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas
são os linfócitos T‑CD4+. O vírus é capaz de alterar o DNA dessa célula e fazer cópias de si mesmo. Depois
de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção (BRASIL, 2018a).
O vírus da imunodeficiência humana pode ser encontrado em diversos tipos de secreções, como
sangue, saliva, esperma, secreções vaginais e leite materno. Todas as maneiras de possível contato com
essas substâncias podem gerar contágio. Porém, entre as principais já detectadas, estão: a transfusão de
142
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
FIQUE ATENTO:
HIV E AIDS
NÃO SÃO A MESMA COISA!
HIV
É a sigla para vírus da imunodeficiência humana, uma infecção
sexualmente transmissível.
AIDS
É a sigla para síndrome da imunodeficiência adquirida, que atinge o
sistema imunológico do indivíduo.
Mesmo que a pessoa não desenvolva aids, ela já é contaminante se for HIV positiva. O HIV é
responsável pela contaminação de mais de 76 milhões de pessoas, infectadas pelo vírus desde o início
da epidemia até 2017, e pela morte de mais de 14 milhões de pessoas no mundo. Em 2016, foram
identificadas 1,8 milhão de novas infecções pelo vírus (um novo caso a cada 17 segundos) e um total de
1 milhão de mortes decorrentes de complicações da aids. No Brasil, apenas em 2016, foram identificados
37.884 novos casos (UNAIDS, 2017).
8.1.2 Infecção pelo vírus HIV
O HIV infecta as células T auxiliares que expressam o grupamento de diferenciação (CD4+), macrófagos
e células dendríticas, produzindo uma doença lenta, progressiva e fatal, e pertence à família dos lentivírus
dos retrovírus. Esse tipo de vírus tem como característica um período de incubação prolongado antes
do surgimento dos sintomas da doença, da infecção das células sanguíneas e do sistema nervoso e da
inibição do sistema imune. Para se multiplicar no organismo humano, o HIV utiliza, especialmente, os
linfócitos T-CD4+, responsáveis pelo comando da resposta específica antígeno-anticorpo. Por meio da
glicoproteína gp120, o vírus tem a capacidade de se ligar ao receptor CD4 (componente da membrana dos
linfócitos) e penetrar nas células, usando o ácido desoxirribonucleico (DNA) destas para se multiplicar. Ao
completar o seu ciclo reprodutivo, liberado por brotamento, os novos vírus caem na corrente sanguínea,
infestando outros linfócitos e continuando, assim, a sua replicação (HAMMER et al., 2008).
143
Unidade III
CCR5
Célula
gp 120 infectada
CD4 Protease
Transcrição
reversa Proteínas
Integrase RNA
do HIV
DNA integrado no
genoma da célula
do hospedeiro
O diagnóstico em tempo hábil, a disponibilização universal de medicamentos eficazes pelo sistema público
de saúde e o acompanhamento clínico adequado aumentaram tanto a expectativa quanto a qualidade de
vida das pessoas portadoras de HIV/aids, trazendo novos desafios para a promoção da integralidade, como a
reinserção social, incluindo o mercado de trabalho e o sistema educacional, e a promoção de hábitos saudáveis,
como a alimentação adequada e a atividade física (AIDS EDUCATION AND TRAINING CENTER, 2012).
Há alguns anos, receber o diagnóstico de aids era quase uma sentença de morte. Atualmente, pode
ser considerada uma doença de perfil crônico, para a qual não há cura, mas há tratamento. Uma pessoa
infectada pelo HIV pode viver com o vírus por vários anos sem apresentar nenhum sintoma ou sinal ou
apenas com uma fragilidade maior em uma idade mais avançada.
Duas grandes classificações estão em uso atualmente: o sistema da World Health Organization Clinical
Staging and Disease Classification System e o do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (AIDS
EDUCATION AND TRAINING CENTER, 2012). A tabela a seguir indica a classificação deste último:
144
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
As categorias mostradas na tabela anterior são baseadas na contagem de células CD4 e na condição
diagnóstica relacionada ao HIV. Se o indivíduo infectado, por exemplo, está na categoria B, mas está
assintomático, ele continua na categoria B. Além disso, a categorização é baseada em condições
específicas. Indivíduos nas categorias A3, B3, C1, C2 e C3 são considerados com aids.
8.1.4 Tratamento
No momento do parto, o vírus pode passar da mãe para o bebê pela placenta, devido ao contato
deste com a secreção e o sangue, e, ainda, por meio da amamentação. Os medicamentos antirretrovirais
impedem a multiplicação do HIV no organismo, diminuindo as chances de a mãe infectada passar o
vírus para o filho. O parto cesárea também diminui as chances dessa transmissão em comparação ao
parto normal (BRASIL, 2010).
O HIV, apesar de ainda não ter cura, pode ser controlado e permitir que o indivíduo tenha uma vida
normal. O objetivo desse controle é reduzir a morbidade e mortalidade, diminuir a replicação viral de
forma sustentada e recuperar ou prevenir a deterioração do sistema imune, evitando, assim, infecções e
neoplasias oportunistas (HSUE et al., 2009).
• Inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa: entre eles, está um dos medicamentos mais
conhecidos para o tratamento do HIV, denominado azidotimidina (AZT). Esse medicamento atua
em uma enzima chamada transcriptase reversa e se incorpora à cadeia de DNA criada pelo HIV,
tornando-a defeituosa e impedindo a replicação viral.
• Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa: atuam bloqueando diretamente a
transcriptase reversa e impedem a replicação viral.
• Inibidores da protease.
145
Unidade III
• Inibidores de fusão.
• Inibidores da integrase: os três últimos têm como objetivo impedir a fusão do HIV com o linfócito
T-CD4+; portanto, diminuir sua proliferação.
Esse tratamento pode apresentar efeitos colaterais, como diarreia, vômitos, náuseas, rash cutâneo
(vermelhidão), agitação e insônia. Muitas pessoas não sentem nenhum desses efeitos, o que pode estar
relacionado com características pessoais, estilo e hábitos de vida (HSUE et al., 2009). Com o tratamento,
ainda podem surgir efeitos adversos, que são alterações ou doenças passíveis de ocorrer em longo prazo,
resultantes da ação inflamatória do HIV no organismo e da toxicidade dos medicamentos somadas aos
fatores individuais e genéticos (idade, hábitos e estilo de vida). Entre esses efeitos, pode-se destacar o
surgimento de doença cardiovascular, alterações metabólicas, ósseas e minerais e lipodistrofia.
Perna direita
mostrando atrofia da Afinamento
gordura subcutânea, importante dos
com evidência da membros superiores
musculatura e dos pela perda da
vasos subcutâneos. gordura subcutânea.
Vasos temporais
e do arcabouço Atrofia importante
ósseo evidentes por da gordura
perda de gordura subcutânea facial,
facial subcutânea. conferindo aspecto
Depressão na região envelhecido à face
bucal por perda da do indivíduo.
gordura de Bichat.
146
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
Os pacientes que vivem com o HIV podem apresentar, também, alta prevalência de alterações da
densidade mineral óssea, como osteoporose e osteopenia, que são alterações metabólicas do tecido
ósseo caracterizadas pela diminuição da densidade mineral e pelo comprometimento da resistência e
da qualidade óssea. Podem ser fisiológicas ou patológicas e predispõem a elevação do risco de fratura
(LEOW; ADDY; MANTZOROS, 2003).
Estudos recentes com indivíduos infectados pelo HIV têm mostrado o impacto dos exercícios aeróbios
e dos exercícios de força, individualmente ou de maneira combinada, na função imunológica, nos fatores
psicológicos, no condicionamento cardiorrespiratório, na força, na composição corporal e na qualidade
de vida (HAND et al., 2009; MUTIMURA et al., 2008). Esses estudos indicam que exercícios de leve a alta
intensidade, assim como a combinação entre eles, parecem ser seguros e trazer efeitos positivos para a
população infectada pelo HIV. Tais benefícios incluem mudanças positivas na composição corporal, na
capacidade funcional, na depressão e ansiedade, na saúde geral e na qualidade de vida (HAND et al.,
2009; O’BRIEN et al., 2010). O treinamento físico, contudo, não confere, aparentemente, benefícios no
status do HIV, na carga viral ou na função imunológica (HAND et al., 2009).
8.1.6.1 Cuidados
• pressão arterial sistólica > 120 milímetros de mercúrio (mmHg); pressão arterial diastólica > 80 mmHg;
• lipoproteína de baixa densidade (LDL) – colesterol ruim – > 160 miligramas por decilitro (mg/dL);
147
Unidade III
• lipoproteína de alta densidade (HDL) – colesterol bom – em mulheres igual ou inferior a 50 mg/dL;
HDL-colesterol em homens igual ou inferior a 40 mg/dL;
A prescrição do exercício deve ser individual e levar em consideração o nível de aptidão física
relacionada à saúde, ao estágio da doença e ao esquema terapêutico (medicação) e seus efeitos adversos
(GRACE; SEMPLE; COMBRINK, 2015).
• o histórico médico;
• o exame físico;
O médico, com as informações em mãos (estágio da doença, contagem CD4, tipo de terapia de
alta dosagem, uso de outras medicações, histórico de sintomas e doenças recentes), pode auxiliar o
profissional de Educação Física (por meio do fornecimento detalhado das informações e discussões
dos casos) na prescrição do exercício, sendo este último responsável pela associação das informações
recebidas aos dados obtidos pelo questionário de risco para a prática de atividade física (PAR-Q) (GRACE;
SEMPLE; COMBRINK, 2015).
Apesar da capacidade funcional reduzida de indivíduos infectados pelo HIV, os testes de aptidão
física padrão podem ser aplicados para essa população. Os seguintes testes podem ser incluídos:
148
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
Vários cuidados, alguns deles já mencionados, devem ser tomados para a prescrição de exercício
físico para pacientes infectados com o HIV, e grande parte deles é recomendada pelo Colégio Americano
de Medicina do Esporte (ACSM, 2000). Alguns exemplos são: medicações adicionais ao tratamento,
efeitos psicológicos colaterais, função gastrointestinal piorada (especialmente diarreia), complicações
neurológicas (neuropatia periférica), letargia, fadiga, anemia, toxicidade mitocondrial e miopatia (LYLES
et al., 2007).
• Caquexia: a caquexia da aids é uma síndrome que leva à perda de peso acentuada não intencional
e, em geral, ocorre na fase avançada da infecção por HIV. É caracterizada por um IMC < 20 kg/m2
ou > 5-15% de perda de peso recente (GOLD et al., 2006).
• Lipodistrofia: o tratamento medicamentoso de alta dosagem recebido pelos indivíduos com o HIV
pode levar à lipodistrofia, caracterizada pela redistribuição dos estoques de gordura dos braços,
das pernas e da face para a região abdominal e cervical (LYLES et al., 2007).
• Dislipidemia: o tratamento medicamentoso de alta dosagem recebido pelos indivíduos com o HIV
também está associado à hipercolesterolemia, ao LDL aumentado, à hipertrigliceridemia e ao HDL
(KALRA et al., 2011).
• Densidade óssea: o início da terapia está associado à redução de 2 a 6% da densidade óssea nos
primeiros dois anos (MCCOMSEY et al., 2010).
As metas primárias (dependendo do estágio da doença) para prescrever o exercício físico para indivíduos
com o HIV são: melhorar a qualidade de vida, a tolerância ao esforço físico e a função neuromuscular;
diminuir o risco de doença cardiometabólica; e promover efeitos positivos a longo prazo.
Adicionalmente, pode-se considerar objetivos a curto e longo prazo, individualizados, baseados nas
anamneses e entrevistas objetivas e subjetivas. Além disso, pode-se considerar:
149
Unidade III
Quanto à frequência
A maioria dos estudos determinou que a frequência mínima de três vezes foi suficiente para o sucesso do
treinamento em pacientes com HIV positivo (TERRY et al., 2006). Em contrapartida, poucos estudos mostram
sucesso no treinamento com frequência menor que duas vezes por semana (SCOTT‑SHELDON et al., 2008).
Quanto à intensidade
O treinamento aeróbio está associado a adaptações em várias das capacidades funcionais relacionadas
com o transporte e a utilização do oxigênio. As mais evidentes são as adaptações metabólicas e
cardiopulmonares. Para essa variável, recomenda-se de 40% a 60% da frequência cardíaca de reserva
para indivíduos com HIV positivo. Pode-se utilizar intensidade baixa, moderada e alta, mas a maioria dos
estudos recomenda a intensidade moderada (O’BRIEN et al., 2010).
A intensidade do treinamento de força pode ser medida pela porcentagem de repetição máxima (RM).
A maior parte das prescrições varia entre 50% e 60% de 1 RM e aumenta progressivamente para intensidades
maiores – de 75% a 80% de 1 RM depois de 4 a 12 semanas (BHASIN et al., 2000). Treinamentos de alta
intensidade (acima de 85%) não parecem ter efeitos negativos (KALRA et al., 2011). A recomendação final,
portanto, varia entre 60% e 80% de 1 RM ou 2 a 3 séries de 8 a 10 repetições (DOLAN et al., 2006).
Quanto à duração
150
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
positivos, assim como os de intensidade moderada e mais duradouros. Para indivíduos infectados com
o vírus HIV, recomendam-se, no mínimo, 20 minutos de exercício em estado de equilíbrio (BAIGIS et
al., 2002). A duração recomendada, portanto, varia entre 30 e 45 minutos. A duração de uma sessão
de treinamento de força pode variar de acordo com o número de exercícios incluídos, além de com o
número de repetições e séries.
8.2 Câncer
O câncer (também conhecido como neoplasia) é um dos principais problemas de saúde pública
nos países em desenvolvimento, como o Brasil. As estatísticas mais recentes indicam que foram
diagnosticados 14,1 milhões de novos casos de câncer e que 8,2 milhões de mortes ocorreram como
consequência direta dessa doença em 2012, como se pode verificar nas tabelas a seguir:
151
Unidade III
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2005), o câncer pode ser conceituado como um
conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células
que invadem os tecidos e órgãos, podendo se espalhar (metástase) para outras regiões do corpo.
Assim, após uma alteração no DNA (nosso material genético), as células cancerosas começam a se
dividir descontroladamente, podendo se multiplicar por outros tecidos, e formam tumores ou neoplasias
malignas que afetam o funcionamento do corpo, utilizando energia e nutrientes acima do normal e se
concentrando fora das células normais.
• Resistência a apoptose.
• Angiogênese sustentada.
• Inflamação.
152
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
Com base nesses hallmarks, tem-se investido em ciência para o desenvolvimento de novos
tratamentos. Porém, mesmo com os avanços tecnológicos e a maior acessibilidade de indivíduos ao
tratamento do câncer, dois assuntos continuam em discussão: o crescimento e a epidemia mundial do
câncer e a qualidade de vida desses indivíduos.
Quanto ao primeiro assunto, discute-se o número de casos de câncer que serão diagnosticados
nos próximos anos, o que fará dessa doença uma epidemia mundial, exigindo, assim, uma maior ação
preventiva na sociedade atual.
Além da própria neoplasia, a maioria dos tratamentos cirúrgicos aplicados, quimioterápicos e/ou
radioterápicos, tem efeito prejudicial na saúde do indivíduo, podendo levar a uma série de morbidades
associadas ao câncer, que diminuem drasticamente a qualidade de vida do indivíduo. Dois exemplos
são a caquexia (ALVES et al., 2015) e a toxicidade cardiovascular induzida pelos quimioterápicos. São
necessárias, assim, estratégias para atenuar essas comorbidades e aumentar a qualidade de vida, como
o exercício físico (BERTUZZI et al., 2017).
Invasivo
Proliferação de Heterogeneidade
Transformação Progressão células das variantes
geneticamente instáveis das células tumorais
É importante ressaltar que, segundo as políticas e ações para prevenção do câncer no Brasil (INCA,
2009), o avanço dessa doença, na maior parte das vezes, se dá por fatores externos, que envolvem aspectos
físicos, ambientais, econômicos e sociais, compondo um complexo sistema conceitual que engloba desde
os aspectos individuais – caracterizados pela maior acessibilidade na tomada de consciência sobre o que
pode aumentar o risco de desenvolver o câncer – até a escolha na adoção de hábitos saudáveis e as
condições econômicas que possibilitam a efetivação dessa escolha.
153
Unidade III
CÉLULA NORMAL
Dano ao DNA
Falha de
reparo do DNA Mutações herdadas em:
— Genes que afetam
o reparo do DNA
— Genes que afetam o
Mutações no crescimentos celular
genoma das ou a apoptose
células somáticas
Expansão clonal
Angiogênese
Mutações adicionais
Escape
da imunidade
Progressão tumoral
Neoplasma maligno
Invasão e metástase
Um tumor benigno significa uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e
se assemelham ao seu tecido original e que, raramente, constituem um risco de morte.
154
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
As causas do câncer podem ter origem ambiental (fatores estruturais externos do ambiente e estilo
de vida das pessoas) ou genética. De todos os casos de câncer, de 80% a 90% estão relacionados a fatores
ambientais. O tabagismo, por exemplo, é um fator de risco para o câncer de pulmão, e a exposição solar
excessiva é um fator de risco para o câncer de pele.
Existem vários mecanismos que tentam explicar o efeito benéfico preventivo do treinamento físico
no desenvolvimento do câncer. Em mulheres na pós-menopausa, o câncer de mama é o mais prevalente;
assim, a prática de atividade física é altamente recomendada para a sua prevenção. Sabe-se que os
níveis elevados do IMC e do hormônio estrona, produzidos a partir da androstenediona, são fatores de
risco para o câncer de mama. Em contrapartida, os estudos epidemiológicos demonstram que a prática
regular de atividade física apresenta relação inversa a esses dois fatores. Assim, os mecanismos mais
prováveis pelos quais a prática regular de atividade física diminui os riscos de câncer de mama são
indiretos, diminuindo os níveis de estrona e alterando o IMC (NEILSON et al., 2009).
155
Unidade III
O câncer colorretal, um dos tipos de maior incidência, atinge o cólon (o intestino grosso e o reto).
Esse tipo de câncer é tratável e frequentemente curável quando localizado precocemente no intestino.
Os principais fatores de risco são:
• inatividade física;
• obesidade.
Esse tipo de câncer também foi muito estudado e apresenta menor incidência em indivíduos ativos
(FRIEDENREICH; ORENSTEIN, 2002). Na literatura, dados comprovam a redução de até 80% do risco
desse tipo de câncer através da atividade física: 1.000 kcal de gasto energético por semana podem
reduzir o risco em até 50% (FRIEDENREICH; ORENSTEIN, 2002; HAURET et al., 2004). A prática da
atividade física contribui para a diminuição do tempo do trânsito gastrointestinal, incrementando o
peristaltismo, reduzindo o tempo do decréscimo na segmentação fecal, ajudando a mover o bolo fecal
ao longo do cólon e contribuindo para a redução do contato de potenciais agentes carcinogênicos com
a mucosa do cólon. Além disso, a atividade física leva à redução da hiperinsulinemia (FRIEDENREICH,
2001) e a mudanças nas prostaglandinas (COLDITZ; CANNUSCIO; FRAZIER, 1997) e na função imune
(HOFFMAN‑GOETZ, 1994), todas essas associadas ao desenvolvimento do câncer de cólon.
Saiba mais
É importante destacar que a redução das chances do desenvolvimento do tumor nessa região é
sustentada mesmo quando comparada entre indivíduos fisicamente ativos e pessoas sedentárias que
apresentam o mesmo IMC. Na pesquisa por casos clínicos mais graves, a associação passa a ser ainda mais
forte. Em outras palavras, a chance de indivíduos que praticaram atividade física regular durante toda a
sua vida apresentarem uma grave neoplasia de cólon é muito baixa (WOLIN; COLDITZ; PROCTOR, 2011).
156
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
Pode-se observar que grande parte dos efeitos da atividade física é preventiva para vários tipos
de câncer. Um estudo de Friedenreich (2001) mostrou que de 9% a 19% de todas as neoplasias são
atribuídas diretamente à inatividade física no continente europeu.
No que diz respeito a neoplasias do sistema respiratório, em um estudo de metanálise que considerou
12 estudos independentes e alguns de casos de indivíduos com câncer de pulmão, a prática de atividade
física também apresentou estreita associação com os casos de câncer (ZHONG et al., 2016).
Observação
Outros efeitos indiretos do exercício físico também são de extrema relevância. Adamsen et al.
(2003) demonstraram um aumento da capacidade aeróbia após seis semanas de treinamento de força,
combinado com exercício aeróbio com intensidade de 60% a 100% da FCmáx em bicicleta ergométrica,
durante o tratamento de pacientes com diversos tipos de câncer. Battaglini et al. (2009) evidenciaram a
melhora da capacidade cardiorrespiratória em dez pacientes com leucemia.
Muitos estudos também relatam um aumento da força muscular em indivíduos com câncer. Entre
eles, Adamsen et al. (2003) demonstraram um aumento da força muscular em pacientes com diversos
tipos de câncer. Schneider et al. (2007) realizaram um estudo com 270 pacientes com câncer de mama
ou próstata, sobreviventes de câncer, durante e após o tratamento, tendo observado uma melhora
significativa na força muscular.
Outros efeitos positivos podem incluir os benefícios no sistema imune, a redução da fadiga e a
melhora da qualidade de vida.
A maioria dos estudos indica que o exercício físico é uma intervenção segura e bem tolerada para
indivíduos com doença sob tratamento, tanto durante quanto após o tratamento medicamentoso.
Contudo, pacientes com câncer, em geral, têm idade mais avançada, apresentando outras comorbidades
associadas ao envelhecimento, além de receber diversas terapias citotóxicas sistêmicas e locais, que
podem aumentar o risco de complicações relacionadas ao exercício físico, principalmente em indivíduos
sedentários (SWEEGERS et al., 2018).
As diretrizes do ACSM (SCHMITZ et al., 2010) recomendam que pacientes com câncer participem de,
no mínimo, 150 minutos de exercício físico de intensidade moderada (caminhada leve, natação leve) ou
75 minutos de exercício físico intenso (corrida, trote, natação intensa).
No entanto, essa recomendação pode ser considerada uma meta a longo prazo e não é aconselhada
para indivíduos sedentários em uma prescrição inicial, durante ou imediatamente após a terapia
citotóxica. O segredo para prescrições seguras e efetivas nessa população é a individualização do
programa, adaptado às necessidades do indivíduo. Indivíduos com câncer, portanto, devem receber
atenção especial quanto às variações patofisiológicas da doença, ao gerenciamento terapêutico e ao
prognóstico das malignidades e características individuais.
Além disso, as prescrições individualizadas podem ser utilizadas na maioria dos cenários se
os princípios fundamentais da prescrição de exercícios forem seguidos de maneira adequada,
como a frequência (sessões por semana), a intensidade (nível de esforço para cada sessão), o
tempo (duração da sessão) e o tipo (modalidade de exercício). Nas prescrições individualizadas,
a questão inicial a ser considerada é o comportamento atual em relação à prática de exercícios
físicos. Os indivíduos que já são praticantes de exercícios com a frequência e a intensidade
recomendadas pelo ACSM são aconselhados a manter essa quantidade mínima, suficiente para
ter ganhos relacionados à saúde.
Lembrete
O treinamento de força também é importante para manter a massa muscular e prevenir a deterioração
comum nos indivíduos com câncer. A decisão de quando incluir o treinamento de força depende da
necessidade do indivíduo. Em pacientes com câncer sob tratamento relacionado à caquexia, ou quando
o exercício aeróbio é contraindicado, o treinamento de força pode ser considerado o foco central. Em
outros cenários, contudo, ele pode ser apropriado para iniciar o programa de treinamento, uma vez que
o treinamento aeróbio já é parte da atividade habitual de alguns indivíduos.
158
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
Resumo
2)
Envelhecimento secundário (ou envelhecimento patológico):
refere‑se às diversas doenças, que não se confundem com o processo
normal de envelhecimento.
159
Unidade III
As contraindicações são: PAS > 200 mmHg ou PAD > 110 mmHg em
repouso; queda da PA ortostática > 20 mmHg com sintomas; hipotensão
ao esforço maior que 15 mmHg; angina instável; arritmias não controladas;
estenose aórtica crítica ou sintomática; doença aguda ou febre; frequência
cardíaca de repouso > 120 bpm; insuficiência cardíaca descompensada;
bloqueio atrioventricular de 3º grau sem marcapasso; pericardite ou
miocardite em curso; depressão de segmento ST maior que 2 mV em
repouso; problemas ortopédicos graves que proíbam os exercícios resistidos;
e cardiomiopatia hipertrófica.
161
Unidade III
Exercícios
Questão 1. (Enade 2004, adaptada) O Sr. João tem 67 anos, é sedentário e não apresenta problemas de
saúde. Por recomendação médica, decidiu iniciar um programa de exercícios físicos. Assim, o profissional
de Educação Física que ele procurar deve indicar a realização de exercício(s):
I – Anaeróbio láctico, em uma pista de atletismo, para provocar maior resistência nas tarefas do dia
a dia.
A) I, II e III.
B) I e II.
C) II e III.
D) III.
E) I.
162
ATIVIDADE MOTORA APLICADA A POPULAÇÕES ESPECIAIS
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: um treinamento com característica anaeróbia láctica, em uma pista de atletismo, não
irá provocar maior resistência nas tarefas do dia a dia.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: ao longo dos anos, os idosos perdem força muscular e massa óssea e
muscular. O treinamento de força dinâmica, na musculação, pode prevenir ou retardar a
osteopenia∕osteoporose e a sarcopenia.
Justificativa: ao longo dos anos, os idosos diminuem o VO2 máx. Os exercícios aeróbios, na esteira ou
bicicleta, podem aumentá-lo.
Questão 2. (Enade 2016, adaptada) Integram uma equipe multiprofissional que trabalha em
um asilo com idosos institucionalizados uma profissional de Educação Física, um enfermeiro, uma
nutricionista, dois médicos, dois fisioterapeutas e uma terapeuta ocupacional. Na reunião semanal da
equipe, os integrantes discutem sobre a mobilidade e a aptidão física dos idosos, e a profissional de
Educação Física explica que, ao longo da vida, o organismo humano apresenta um nível de aptidão
física que, normalmente, aumenta até a metade da quarta década de vida e, depois, segue em declínio.
Ela apresenta, então, o gráfico a seguir, que mostra o resultado de uma coleta de dados sobre o nível
de força muscular ao longo da vida como um dos componentes da aptidão física, aferido por meio de
dinamômetro de pressão manual, em pessoas fisicamente ativas de ambos os gêneros.
50
45
40
pressão manual (kgf)
35
Força isométrica de
30
Masculino
25 Feminino
20
15
10
5
0
10 20 30 40 50 60 70
Idade (anos)
Figura 54
163
Unidade III
I – Com o avanço da idade, o declínio do nível de força muscular ocorre de forma mais acentuada
após os 30 anos.
PORQUE
164
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
TALANIAN, J. L. et al. Two weeks of high-intensity aerobic interval training increases the capacity for
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Figura 5
Figura 6
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Figura 12
Figura 13
Figura 14
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Figura 15
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sobre a adesão à prática de atividade física e controle glicêmico do diabetes. Arquivos Brasileiros de
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Figura 18
166
Figura 19
Figura 20
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Figura 25
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Figura 35
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Figura 36
Figura 37
Figura 38
Figura 39
168
Figura 40
Figura 41
Figura 42
Figura 43
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Figura 44
Figura 45
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Figura 47
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169
Figura 49
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Figura 50
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Figura 51
Figura 52
KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N. Robbins & Cotran: patologia: bases patológicas das doenças. Rio
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Figura 53
KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N. Robbins & Cotran: patologia: bases patológicas das doenças. Rio
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Exercícios
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000