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Unidade II

Unidade II
3 PROVAS DE PISTA: CORRIDAS

Para o estudo das provas de atletismo, começaremos pelas corridas de pista e finalizaremos com as
corridas de rua.

As corridas representam uma das formas naturais do homem de se locomover de modo mais rápido
possível. Por isso, sempre foi uma atividade muito importante, usada como forma de sobrevivência por
nossos ancestrais para caçar, guerrear e ainda como brincadeira pelas crianças nas aldeias.

Para os gregos antigos, a corrida era admirada pela beleza plástica de seus movimentos; estes foram
reproduzidos em muitos utensílios domésticos, como vasos de cerâmica e metais, que marcaram a
antiga cultura grega.

Como competição, as corridas aconteceram já nos primeiros jogos olímpicos da Grécia Antiga, em
776 a.C. A prova de velocidade possuía 192 metros, o que correspondia à volta do estádio; mais tarde
foram acrescidas a prova do dualo (ida e volta) e também as provas de resistência, que correspondiam
de 8 a 24 estádios, ou seja, 4600 metros.

Na ocasião, já havia uma série de preocupações com a técnica da corrida, que era refletida nas obras
de arte da época. Nelas, observam‑se detalhes técnicos da postura para correr, movimentar os braços e
para a colocação dos pés no chão.

Os espartanos avaliavam os homens de acordo com sua capacidade de correr nas competições. As
mulheres competiam longas distâncias, já as crianças atuavam em distância curtas.

Nos tempos modernos, os ingleses foram os primeiros a mostrar interesse pelas corridas de longa
duração: utilizavam mensageiros bem preparados que percorriam grandes distâncias para a entrega de
correspondências e que, como corredores, participavam de competições profissionais. Essas competições
envolviam grandes apostas.

Surgem, assim, os primeiros nomes de corredores que fizeram a história do atletismo a partir
do século XVIII. As corridas começaram a ser praticadas em outros países e em outros continentes,
originando extraordinários corredores, como Paavo Nurmi e Emil Zatopeke, imbatíveis nas corridas de
longas distâncias. Os ingleses começaram a incursionar nas provas mais curtas, como a milha, e ainda na
velocidade, o que contribuiu para as constantes adaptações até se chegar ao formato atual.

Hoje as corridas oficiais realizadas na pista começam com a velocidade de 100 metros e vão até os 10.000
metros, as mais longas. Já as corridas com distâncias superiores são identificadas como corridas de rua.
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ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Para entender as características particulares de cada uma das provas de corridas, é necessário
classificá‑las de acordo com os padrões de regulamento, técnica e aspectos fisiológicos envolvidos no
tipo de esforço empreendido.

3.1 Classificação das provas de corridas

3.1.1 Quanto à organização

• Balizadas: são as provas curtas de até uma volta na pista, representadas pelas distâncias de 100,
200 e 400 metros rasos; 100 m (F) e 110 m (M), mais os 400 m (M e F), que se completam com
o revezamento 4 x 100 m (M e F). Além dessas provas, existem outras parcialmente balizadas,
são as corridas de 800 m, balizada apenas até o fim da primeira curva, e o revezamento 4 x
400 m, que é balizada para o primeiro corredor da equipe e até o fim da primeira curva para
o segundo corredor.

• Não balizadas: são as provas de 1500 m rasos, 3000 m com obstáculos, 5000 m e 10.000 m rasos.

Figura 8 – Vista da pista com suas raias onde se desenvolvem as corridas balizadas

3.1.2 Quanto ao desenvolvimento

• Rasas: são as corridas em que o atleta corre toda a prova sem ter que suplantar nenhum tipo de
obstáculo durante todo o percurso da corrida; são as provas de 100, 200, 400, 800, 1500, 5000 e
10.000 m rasos.

• Com obstáculos: correspondem às provas de 100 m (F), 110 m (M) e 400 m (M e F) com
barreiras, nas quais o corredor deve ultrapassar dez barreiras, e à prova de 3000 m com
obstáculos com quatro obstáculos pesados em cada volta, na qual o quarto obstáculo tem
um fosso de água na frente.

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3.1.3 Quanto ao ritmo

• velocidade pura: 100 e 200 metros;

• velocidade prolongada: 400 metros;

• meio fundo: 800 e 1500 metros;

• fundo: 5000 e 10.000 metros;

• grande fundo: maratona (42.195 metros).

3.1.4 Quanto ao esforço fisiológico

São provas que envolvem as capacidades predominantes no tipo de esforço solicitado:

• velocidade pura: 100 e 200 metros;

• velocidade prolongada: 400 e 800 metros;

• resistência anaeróbica: 5000, 10.000 metros e a maratona.

3.1.5 Corridas em pista coberta (200 metros) ou de competições indoor

• corridas: 60, 400, 800, 1500 e 3000 metros rasos; 60 metros com barreiras e revezamento 4 x 400m;

• saltos: distância, triplo, altura e com vara;

• arremesso de peso;

• provas combinadas: pentatlo e heptatlo.

Figura 9 – Pista coberta para as competições indoor

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3.1.6 Quanto ao piso

• Pistas: piso sintéticos, ao ar livre (abertas) e recintos fechados (cobertas ou indoor);

• Em terrenos variados: corridas de rua e cross‑country.

Saiba mais

Para ampliar o conhecimento sobre a divisão e composição dos grupos


de provas que compõem o atletismo, leia o livro Atletismo: corridas, de
Fernandes (2003a).

3.2 Técnica das corridas rasas

Como visto anteriormente, a corrida é uma forma natural do homem se locomover com mais rapidez
que o caminhar, que é a maneira mais comum.

Todos os humanos possuem uma maneira ou estilo próprio para utilizarem esses recursos naturais
de locomoção, porém, quando se trata de correr em disputas esportivas, alguns detalhes técnicos devem
ser observados porque proporcionam uma forma mais eficiente e produtiva para percorrer a distância
desejada e chegar mais rápido ao destino final.

Analisando a ação de andar e correr, a diferença principal está no fato de que, ao caminhar, um dos
pés estará sempre em contato com o chão, enquanto que, correndo, durante o ciclo da passada, o corpo
passa por uma fase aérea, ou seja, o pé de trás deixa o chão antes que o da frente toque o solo para
efetuar o contato anterior da passada.

Na figura a seguir, observamos o ciclo completo da passada na corrida. O ciclo se inicia com a
impulsão realizada no pé esquerdo (a) – sapato preto –, enquanto a perna direita – sapato branco – é
projetada flexionada (a, b) para cima e à frente. Nesse instante, o pé de trás deixa o solo e acontece o
momento aéreo da corrida (b), os dois pés estão no ar, e na sequência a perna direita se estende (c),
buscando alcançar a maior distância possível para tocar o solo mais longe e ampliar a passada. Depois,
começa a passada seguinte a partir da letra (e) observada na figura.

A) B) C) D) E)

Figura 10 – Fases da técnica na corrida

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Além desse detalhe vital, para fazer uma análise completa de toda a técnica da corrida, outras regras
precisam ser levadas em consideração.

Uma técnica correta para correr deve satisfazer quatro regras importantes: descontração, equilíbrio,
coordenação e eficácia.

• Descontração: o ato de correr solicita a participação de alguns músculos ou grupos musculares,


enquanto que os demais músculos devem estar mais descontraídos possível para que não haja um
desgaste desnecessário do uso de energia, que melhora as condições de esforços para a realização
da técnica.

• Equilíbrio: a cabeça é de grande importância para o equilíbrio geral do corpo e, consequentemente,


tem grande influência para o equilíbrio do corredor; com isso, deve ser posicionada de forma a
favorecer a estabilidade do corpo durante a corrida. Para isso, ela deve estar em linha com o eixo
do corpo com o olhar dirigido aproximadamente a 15 m à frente.

• Coordenação: todos os movimentos do corpo devem estar em sintonia para proporcionar uma
técnica refinada sem desgastes desnecessários, porém, a colocação e a movimentação dos braços
estão intimamente ligadas ao das pernas, em que se busca coordenar a movimentação dos braços
ao ritmo das passadas.

• Eficácia: a amplitude dos movimentos executados pelo corredor deve estar relacionada ao uso
racional das possibilidades do corpo, o que resulta num gesto orgânico mínimo adequado ao
ritmo desejado.

Para atingir esses importantes requisitos e adquirir uma boa técnica, alguns pontos devem ser
observados, como a ação total do corpo, bem como seu ângulo de inclinação, movimento dos braços e
das pernas e colocação dos pés.

3.2.1 Ação total do corpo

Esse requisito técnico não é decisivo para o resultado final da corrida, mas pode contribuir desde
que o conjunto de todos os movimentos do corpo sejam realizados no sentido da corrida, ou seja, para
frente e em linha reta. Para isso, os pés devem estar apontados para frente, os braços se movimentando
flexionados e sem cruzar exageradamente na frente do corpo e, finalmente, sem oscilações nos ombros
e nos quadris.

3.2.2 Ângulo de inclinação do corpo

O ângulo de inclinação do corpo para frente deve ser natural, determinado em razão do ritmo da
corrida. O ponto ideal da inclinação pode ser identificado observando‑se a formação de uma linha reta
composta pela perna que está apoiada atrás, o tronco e a cabeça.

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3.2.3 Movimento dos braços

Os braços se movimentam de forma paralela, flexionados aproximadamente em 90º, sem se cruzarem


adiante do tronco. Os movimentos são realizados exclusivamente nas articulações dos ombros e nunca
na dos cotovelos.

Na falta de condição das pernas, já no fim da corrida, a movimentação dos braços é de grande
importância, a tal ponto que alguns corredores, ao encerrarem a prova, dizem que terminaram correndo
com os braços.

3.2.4 Movimento das pernas

As pernas possuem uma movimentação que se caracteriza pelo ritmo empregado na corrida.

Nas corridas de ritmo mais cadenciado, como nas de longas distâncias, as pernas se movimentam
ligeiramente flexionadas, porque as passadas são mais curtas e por isso não há necessidade de se
elevar tão alto os joelhos. Assim, o apoio dos pés no chão é feito com predomínio dos calcanhares,
caracterizando a técnica pendular de movimentação das pernas.

Nas corridas de médias distâncias, que no atletismo correspondem às provas de meio‑fundo, 800
e 1500 metros, os braços se colocam um pouco mais flexionados e as mãos totalmente descontraídas.
Como o ritmo da prova é mais rápido, as passadas se tornam mais amplas e, com isso, os joelhos se
elevam um pouco mais alto que nas corridas de fundo. Dessa forma, os pés devem fazer o contato com
o chão pela sua parte média.

Finalmente, nas corridas de velocidade, que são realizadas em máxima intensidade, as passadas
devem ser mais amplas possíveis, o que exige uma grande elevação dos joelhos. Por isso, o contato no
chão é feito pela parte anterior dos pés (ponta), enquanto que as mãos se colocam espalmadas, mais
contraídas que os outros tipos de corridas.

3.3 Técnica das corridas de velocidade

As corridas de velocidade, no atletismo, envolvem as provas de velocidade pura, 100 e 200 metros
rasos, e de velocidade prolongada, os 400 metros rasos, para adultos. Nas categorias inferiores, 50 e
75 metros.

São classificadas como provas de velocidade pura, que é a velocidade inata de um indivíduo, o que
a torna fundamental na seleção de futuros corredores. Significa a máxima capacidade de deslocamento
na unidade de tempo sem perdas aparentes de energias, que, segundo muitos estudos, é conseguida
entre 40 a 70 metros.

Além da velocidade pura, essas provas envolvem uma série de variantes, como a velocidade de
reação, velocidade em relação aos movimentos cíclicos, em relação a movimentos acíclicos e velocidade
de força.
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A velocidade de reação está presente no momento da saída e pode ser medida a partir do tiro de
partida e o primeiro movimento do corredor para dar a largada, o que significa, nesse caso, a capacidade
de reagir o mais rápido possível a um estímulo acústico (tiro), mas pode ser também um estímulo visual
ou tátil.

A velocidade de movimetnos cíclicos é alta e a movimentação se repete sempre da mesma maneira.


Caracteriza‑se nos movimentos técnicos, sempre iguais e precisos, que o corredor realiza durante toda
a distância percorrida.

A velocidade de movimentos acíclicos é alta e a movimentação é repetida de maneira diferente,


como é o caso da efetivação de um drible, uma finta e outras formas muito comuns nos esportes.

Já a velocidade de força tem relação com a capacidade da realização de trabalhos de alta intensidade
contra uma determinada resistência; está presente na fase de aceleração no início da corrida, o que a
torna muito importante e até decisiva nas corridas de 100 e 200 m.

Todas essas variantes devem ser trabalhadas na preparação dos velocistas e devem ser completadas
com o treinamento técnico.

A técnica das corridas de velocidade envolve dois componentes, que são a técnica da corrida e a
técnica para correr em velocidade.

3.3.1 Técnica da corrida

A técnica da corrida é dividida em três fases: saída, desenvolvimento e chegada. Todas elas estão
fortemente relacionadas entre si e são decisivas no resultado final, assim, todos os detalhes de cada uma
delas devem ser muito bem trabalhados.

3.3.1.1 Saída – 1ª fase

Diferentemente das corridas de meio fundo e fundo, as corridas de velocidade são provas curtas
aplicadas em velocidade máxima. Essa fase da corrida é decisiva para o resultado final, visto que a
definição do vencedor é concretizada por décimos de segundo, o que reveste de grande importância os
detalhes técnicos da partida.

É conhecida como saída baixa, porque os corredores partem de uma posição agachada e apoiam os
pés em um bloco de partida.

Uma técnica correta requer o posicionamento ideal dos apoios dos pés no bloco de partida
com uma adequada distância entre eles que possibilite conforto para o corredor quando ele
estiver posicionado para efetuar a largada, além da preocupação com a posição do corpo, braços
e cabeça.

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A distância entre o apoio dos pés no bloco caracteriza três tipos de saída, que podem ser identificadas
como saída curta, média e longa.

• Saída curta: pouco usada, caracteriza‑se pela proximidade em que os pés estão posicionados nos
apoios do bloco de partida; a ponta do pé de trás fica na direção do calcanhar do pé da frente e
os quadris mais elevados, acima da linha dos ombros no momento do comando “prontos”.

• Saída média: a mais aplicada, é identificada pela colocação do joelho da perna de trás na direção
da ponta do pé da frente. Ao comando de “prontos”, os quadris se elevam pouco acima da linha
dos ombros.

• Saída longa: mais utilizada por corredores longilíneos, nela se observa que o joelho da perna de
trás é posicionado na direção do calcanhar da perna da frente e os quadris se elevam na altura da
linha dos ombros.

A) B) C) D)

Figura 11 – Procedimentos para a saída do bloco nas corridas de velocidade

Ressaltamos os aspectos da figura anterior destacando‑os com as respectivas letras indicadas.

• “Às suas marcas” (A): posicionar‑se no bloco de partida com o joelho da frente no chão e ficar
imóvel.

• “Prontos” (B): eleva o quadril e aguarda o tiro de partida, imóvel.

• “Tiro” (C): é dada a largada impulsionando‑se para frente.

• Iniciada a corrida (D).

Os procedimentos para a realização da partida em uma competição devem estar de acordo com as
regras oficiais comandadas pelo juiz de partida, os quais consistem no seguinte:

• Os corredores têm um tempo para preparar e testar a posição do seu bloco. Após esse procedimento,
todos se colocam em pé atrás do bloco aguardando a voz de comando do juiz.

• O juiz, colocado no lado de dentro da pista, diz “às suas marcas”, e todos os corredores ocupam
sua posição no bloco.

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• Após todos estarem imóveis nos seus blocos, o juiz diz: “prontos”, e os corredores elevam os
quadris; quando todos estiverem completamente imóveis, o juiz aciona sua arma e, assim, é dado
o tiro de partida.

3.3.1.2 Desenvolvimento – 2ª fase

Essa fase corresponde à realização da corrida propriamente dita; então, a preocupação se volta para
a técnica para correr em velocidade, que veremos em sequência.

A velocidade da corrida é um produto da distância e da frequência das passadas, cuja proporção


varia nos diferentes momentos de uma mesma corrida e entre um atleta e outro (DYSON, 1978).

A amplitude da passada se refere à distância desta na corrida e depende de alguns fatores, como a
constituição, o peso, a potência, a flexibilidade e a coordenação do corredor; a maioria desses fatores
pode ser melhorada através de exercícios específicos e educativos.

Um dos fatores que tornam Usain Bolt um fenômeno na história do atletismo é a amplitude de
suas passadas. Estudos mostram que a amplitude delas é de 2,45 metros em média, enquanto seus
maiores adversários têm, em média, 2,20 a 2,23 metros, o que significa uma diferença decisiva para o
sucesso desse corredor. Em cada passada, ele tira uma vantagem de 20 cm, que por si só já garante,
praticamente, a vitória em qualquer disputa.

Figura 12 – Largura da passada de Usain Bolt, com 2,43 m de média, e seus adversários, com 2,23 m

Contrariamente, a frequência das passadas pode ser minimamente melhorada por depender
de fatores inatos relacionados à constituição física do atleta. Dependendo dessa constituição,
ele já nasce com mais ou menos capacidade de velocidade, principalmente em relação à
quantidade ou proporção de fibras musculares brancas de contração veloz na composição de
sua musculatura.

Portanto, para melhorar o desempenho na fase do desenvolvimento da corrida, os exercícios devem


visar ao treinamento que possa aumentar a distância e a frequência das passadas.

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3.3.1.3 Chegada – 3ª fase

Essa fase, principalmente nas corridas mais rápidas (100 e 200 metros), na maioria das competições,
decide a classificação dos participantes. Devido a esse detalhe, é preciso haver uma justa preocupação
com a técnica de finalizar a corrida, em especial as de velocidade, uma vez que a maioria dos oito
concorrentes termina praticamente junto e, assim, a definição fica por conta de uma melhor utilização
da técnica de chegada.

Pela regra oficial, a chegada é definida pela passagem do tronco do corredor no plano vertical da
linha de chegada. Assim, uma boa técnica é aquela que possibilita ao corredor, no momento exato,
projetar em primeiro lugar o seu tronco (excluindo a cabeça, pescoço, braços, mãos, pernas ou os pés),
além da linha de chegada.

Para tal, a técnica mais aplicada é a chegada com projeção do tronco à frente, que consiste na ação
pela qual, ao aproximar‑se da linha de chegada, o corredor projeta seu tronco adiante de todo o corpo,
muito antes dos pés atingirem a linha final, o que possibilita ao corredor, em um momento de decisão,
tirar vantagem de uma boa utilização de sua maestria técnica.

Figura 13 – Chegada com projeção do tronco à frente

Muitas vezes torna‑se difícil definir a olho nu qual foi o vencedor e, por isso, nessas provas, é
utilizado o sistema de foto finish, que não possibilita nenhum tipo de dúvida.

A) B) C)

Figura 14 – Visão da corrida completa e suas fases na corrida de velocidade: saída (A), desenvolvimento (B) e chegada (C)

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3.4 Técnica para correr em velocidade

Todos os meios fundamentais de corrida, desde o sprint mais curto até as distâncias mais longas,
atêm‑se a princípios mecânicos básicos, cujo conhecimento é importante não somente para entender
a corrida em si, como também para analisar outras provas atléticas e desportivas que derivam dos
movimentos inatos da corrida.

O movimento de corrida é produzido por uma combinação de forças:


internamente, a força muscular, que produz uma troca na reação do solo e
vence a resistência devido à viscosidade dos músculos, a tensão das fáscias,
ligamentos e tendões, etc.; externamente, a força da gravidade, a resistência
do ar e as forças exercidas pelo solo contra o calçado do corredor e por isso o
corredor usa calçados com cravos na sola para assegurar o máximo de força
para frente (DYSON, 1978).

Para correr em velocidade, tecnicamente falando, é preciso considerar alguns fatores essenciais, que
se resumem na ação total do corpo, o que envolve uma unidade formada pela linha de inclinação do
corpo, posição da cabeça, direção do olhar, movimentação das pernas e forma de colocar os pés no chão.
Esse conjunto de ações deve contribuir para a realização de movimentos para frente em linha reta, feitos
sem perda aparente de energia usada desnecessariamente.

• Inclinação do corpo para frente

O ângulo de inclinação do corpo durante a corrida de velocidade é uma característica natural


utilizada para tomada de equilíbrio. Nos metros iniciais, é mais inclinado e, à medida que se
acelera a corrida, a inclinação também diminui. A inclinação ideal é aquela em que todo o
corpo forme uma linha reta a partir do ponto de apoio no chão do pé que está atrás, quadril,
tronco e cabeça.

No caso das corridas de velocidade, essa inclinação é pouco mais acentuada que nas demais
corridas por causa da amplitude das passadas, que são maiores.

• Movimentação das pernas

A forma de movimentação das pernas também é definida pelo ritmo da corrida e pela distância
das passadas. Dessa forma, nas corridas de velocidade, em que as passadas são mais amplas,
ocorre maior elevação do joelho da perna da frente e o calcanhar se aproxima mais da parte
posterior da coxa, o que sugere que o movimento dos pés descreva um círculo (por isso, é
conhecida como técnica circular de movimentação das pernas). Esses detalhes influenciam
a colocação dos pés no chão, já que nessas corridas o contato do pé é feito com sua parte
anterior e com a lateral externa, o que justifica a colocação dos cravos apenas na parte da
frente das sapatilhas para correr em velocidade.

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• Movimento dos braços

A movimentação dos braços se constitui em um papel fundamental nas corridas de velocidade.


Eles devem estar flexionados no máximo em 90º e se movimentar no sentido da corrida,
coordenados com a movimentação das pernas; são úteis para equilibrar o movimento,
compensando a rotação dos quadris e absorvendo as reações provocadas pelo impulso das
pernas sobre o solo.

A) B)

Figura 15 – Técnica das corridas de velocidade: inclinação do corpo,


posição dos braços e cabeça, elevação do joelho (A) e colocação do pé (B)

Lembrete

Para uma boa técnica de corrida alguns pontos devem ser observados,
como a ação total do corpo, ângulo de inclinação do corpo, movimento dos
braços e das pernas e colocação dos pés.

3.5 Metodologia para ensino, desenvolvimento e treinamento da velocidade

Neste tópico serão mostrados exemplos de exercícios para que o aluno possa entender a metodologia
utilizada em várias finalidades.

Na etapa de iniciação, com crianças de até 10 anos de idade, não se deve ter preocupação com os
aspectos técnicos, mas, sim, despertar o senso de velocidade.

Para isso, devem ser utilizados todos os tipos de jogos e brincadeiras que envolvam
velocidade. Muitas dessas brincadeiras as crianças já fazem naturalmente com seus amigos,
nas ruas, recreios nas escolas, festas, etc. Quando aplicadas por um professor, deve haver
organização e regras.

A partir dos 14 anos, na etapa de desenvolvimento, tem início a evolução e a melhora da técnica.
Para isso, começam a ser empregados os exercícios educativos, também conhecidos como exercícios de
coordenação para velocidade.

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Vejamos os exercícios educativos para corridas de velocidade:

• Trotar 15 metros em linha elevando o joelho da perna direita flexionada na altura da cintura e
voltar caminhando para o ponto inicial para repetir o exercício. Fazer uma série de dez repetições.

• Repetir a série elevando o joelho esquerdo.

• Repetir o exercício trocando a cada dois tempos a perna que eleva o joelho.

• Repetir, só que agora fazer a elevação do calcanhar contra a parte de trás da coxa.

• Repetir, alternando uma elevação do joelho e uma de calcanhar tocando na parte de trás da coxa.

• Aumentar para 20 metros a distância a ser percorrida para repetir todos esses exercícios em duas
partes, sendo que na primeira executa‑se apenas a metade do exercício, na segunda, deve‑se correr
em ritmo moderado o restante do percurso. A corrida deve ser feita levando em consideração os
aspectos técnicos.

• Fazer o skipping, que é como correr sem sair do lugar, durante um tempo curto, observando as
posições corretas da técnica.

Observação

Todos esses exercícios devem ser realizados em linha rigorosamente reta,


com os braços flexionados em 90º, linha do corpo inclinada ligeiramente
à frente e sempre usar a ponta dos pés para fazer o contato com o chão.

3.6 Regras de competição

As corridas de velocidade, quanto à organização, são classificadas como provas balizadas, o que
implica que o corredor deve se manter correndo em sua raia do início ao fim da prova.

Para chegar à final nas provas balizadas, serão realizadas fases preliminares (séries) de acordo com
o número de participantes.

O corredor deverá se manter em sua raia durante toda a corrida. Caso ele cometa uma invasão da
raia vizinha, será desclassificado.

Se cometer alguma irregularidade durante a saída, o atleta será desqualificado e receberá um cartão
vermelho. Exceção será feita no caso das provas combinadas, nas quais ele receberá um cartão amarelo
de advertência e será desqualificado na reincidência.

Em todas as provas de pista deve ser medida a velocidade do vento para homologação de recordes.
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A chegada será definida quando o corredor ultrapassar seu tronco no plano vertical da linha de
chegada, ficando excluídos o pescoço, cabeça, braços, pernas e pés.

Essas regras são apenas aquelas mais comuns para a orientação de qualquer participante.

3.7 Técnica das corridas de meio fundo

As corridas de meio fundo, também conhecidas como corridas de meias distâncias, são representadas
oficialmente no atletismo pelas provas de 800 e 1500 metros rasos.

Essas provas envolvem resistência e velocidade, em especial os 800 metros. Segundo Mansilla (1994),
um corredor dessa prova precisa ter uma ótima velocidade (principalmente nos 400 metros rasos) e ser
capaz de correr os 1500 metros com dignidade. São provas que, além dos fatores fisiológicos, envolvem
capacidade tática e predisposição psicológica.

3.7.1 Saída – 1ª fase

Diferentemente das corridas de velocidade, a saída dessas provas não é decisiva para o resultado
final e, por isso, os corredores fazem a saída em pé (sem uso dos blocos de partida).

As vozes de comando do juiz de partida são as mesmas das demais corridas. O corredor se coloca
em pé, atrás da linha de partida e, ao ouvir a voz de “às suas marcas”, o corredor se aproxima da linha,
coloca um pé à frente e fica com as pernas ligeiramente flexionadas e com o braço contrário também
adiantado. Após todos os corredores se posicionarem e ficarem imóveis, é dado o tiro de partida.

A prova de 800 metros é uma prova balizada até o fim da primeira curva da pista, quando acaba o
balizamento; portanto, correm oito corredores em cada série. Para os 1500 metros não há balizamento.

3.7.2 Desenvolvimento – 2ª fase

As técnicas para correr essas provas são parecidas com as de velocidade, mas por serem desenvolvidas
em um ritmo menos veloz, as passadas não são tão amplas. Assim, a ação total do corpo envolve alguns
aspectos particulares para a técnica dessas corridas:

• O corpo deve estar bastante relaxado e menos inclinado que nas corridas de velocidade para que
não haja um desgaste desnecessário de energia.

• Os braços se movem com naturalidade em coordenação com o movimento das pernas.


Descontraídos e flexionados, juntamente com as mãos relaxadas, seus movimentos devem ser
para frente, no sentido da corrida.

• Como o corpo não se inclina muito à frente, as passadas não são tão amplas. Devido a isso, o
apoio dos pés no chão é feito na parte média do pé.

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3.7.3 Chegada – 3ª fase

Essa fase não é tão decisiva quanto nas corridas de velocidade, porém é vital estar muito atento aos
metros finais da prova; no caso de precisar disputar a colocação na linha de chegada, o corredor deve
optar pela técnica mais adequada para o momento, que pode ser a chegada normal ou a com projeção
do tronco à frente.

3.8 Técnica das corridas de fundo

As corridas de fundo são representadas oficialmente pelas provas de 5000 e 10.000 metros
rasos. São provas de longa duração e intensidade média, portanto denotam esforços de natureza,
predominantemente, aeróbica.

Como são corridas longas, é necessário que o corredor utilize da melhor maneira possível todas as
suas reservas, o que torna muito importante a técnica para correr:

• Braços: flexionados em um ângulo inferior a 90º, devem se movimentar de forma paralela no


sentido da corrida e bem relaxados.

• Tronco: em posição ereta ou pouco inclinado para frente.

• Pernas: devem se movimentar de forma pendular, porque as passadas são mais curtas devido à
longa distância da prova. Com isso, os joelhos não se elevam tanto e o calcanhar também não se
aproxima muito da parte de trás da coxa.

• Pés: por conta da menor amplitude das passadas, o contato dos pés com o chão é feito inicialmente
pelo calcanhar e se distribui por toda sua extensão, terminando na ponta.

Nesse grupo de corridas ainda se acrescentam as corridas de grande fundo, que são as provas
mais longas do atletismo não classificadas como provas de pista, pois são praticadas em outros
ambientes com pisos variados, como asfalto, calçamentos, estradas de terra etc.; sendo classificadas
como provas de rua e o exemplo clássico dessas são a maratona (42 quilômetros) e a meia maratona
com 21 quilômetros.

A colocação ideal dos pés no solo ainda é assunto de muitas pesquisas nos laboratórios de biomecânica,
patrocinados especialmente pelas grandes indústrias de calçados esportivos na busca constante do
melhor tipo de calçado para cada distância de corridas.

Na figura a seguir, são apresentadas as formas de pisada utilizadas na técnica das principais distâncias
de competições oficiais.

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A) B) C)

Figura 16 – Colocação dos pés no solo nas diferentes provas de corridas

Considerando as respectivas letras da figura anterior, temos: (A) corridas de velocidade – 50


a 400 metros; (B) corridas de meio fundo – 800 e 1500 metros; (C) corridas de fundo – acima de
1500 metros.

3.9 Técnica das corridas com obstáculos

Como foi visto na classificação das provas de corridas, essas provas são compostas de dois tipos de
obstáculos: as corridas com barreiras e aquelas com obstáculos propriamente ditos.

As corridas com barreiras – 100 m (F), 110 m (M) e 400 m (M e F) – são as provas clássicas dessa
especialidade, desenvolvidas com muita beleza plástica.

Dentre todas as provas do atletismo, são as mais recentes que compõem a modalidade, cujas
primeiras referências, de acordo com Fernandes (2003a), falam sobre uma celebração que foi executada
no Ethon College, nos Estados Unidos, em 1837. Há ainda outro destaque, o de uma competição na qual
afeiçoados do atletismo disputaram em 1853 uma corrida com 50 obstáculos com 1,06 m de altura, que
é a mesma de hoje para a prova dos 110 m.

Mais tarde, ficou instituído que essa prova deveria constar de dez barreiras com 1,06 m de altura.
Essas barreiras eram coletivas, tomavam toda a largura da pista e eram fixas no chão. Causavam muitas
quedas com lesões graves quando os corredores esbarravam nelas, o que levou os organizadores a
substituirem esse tipo de barreira por outra individual e em forma de cavalete, que caía ao ser tocada,
mas mesmo assim causava lesões.

Apenas no ano de 1935 foi utilizada a barreira em forma L (letra ele), que contribuiu definitivamente
para o sucesso e evolução dessa prova até chegar na forma oficial atual.

De acordo com as regras da Iaaf, a barreira deve ser de metal ou material parecido, com uma
haste de madeira ligando suas extremidades superiores e com um peso. Ainda, caso seja tocada
pelo corredor, deve ser derrubada com uma força de apenas 3,6 a 4,0 kg.

A partir daí, com essa definição, as mudanças passaram a acontecer na técnica usada pelos corredores
para passarem sobre as barreiras.

43
Unidade II

3.10 Técnica das corridas com barreiras

As corridas com barreiras, quando comparadas a outras disciplinas do atletismo como as corridas
rasas, o lançamento de disco e o salto em distância, apresentam um histórico relativamente novo,
pois essas disciplinas eram praticadas desde a época da Grécia Antiga (FERNANDES, 2003a; SANTOS;
MATTHIESEN, 2013).

Assim como diversas disciplinas do atletismo, não se sabe certamente o início desse tipo de prova,
porém as primeiras referências sobre as corridas com algum tipo de barreira ou obstáculos são do início
do século XIX, da Universidade de Oxford, na Inglaterra (SANTOS; MATTHIESEN, 2013).

Esse tipo de corrida era bastante popular entre os estudantes ingleses. A história descrita é que
Halifax Wyatt, um aluno do colégio D’Exeter, após participar de uma prova hípica, decidiu refazer o
percurso da prova a pé, saltando os obstáculos que realizou com seu animal (SANTOS; MATTHIESEN,
2013).

A ideia foi disseminada entre os jovens de Oxford, e em 1850 foi celebrado um grande evento
chamado de Steeple‑chase pedestre, que era uma corrida com 2 milhas de distância e possuía 24
obstáculos. A prova ocorria em um campo com muita dificuldade de mobilidade, pois o trajeto foi
concebido em uma área com lama quase intransponível, e somente era possível vencê‑la sobre um
cavalo (SANTOS; MATTHIESEN, 2013).

Em 1853, houve uma prova de corrida com 50 obstáculos, com altura de 1,06 metros entre Oxford e
Cambrigde. Pouco tempo depois, em 1888, na França, foi aceita uma prova em que era preciso efetuar
a passagem sobre dez barreiras com 1,06 metros de altura (FERNANDES, 2003a).

Mesmo com a padronização da altura dos obstáculos, eles eram fixados no chão, e ainda causavam
muitos acidentes e contusões nos atletas. Os obstáculos formavam uma barreira única que transpassava
a pista toda. Alguns anos depois, as barreiras passaram a ser individuais, mas continuavam fixas ao solo,
exibindo os mesmos problemas e perigos aos competidores (FERNANDES, 2003a).

No início do século XX, o interesse por esta disciplina cresceu, assim os obstáculos foram trocados
por um implemento mais leve. Então, em qualquer contato do atleta com ele, o aparelho cairia no chão.
Com isso, o esportista não poderia derrubar mais que três barreiras, pois isso causaria sua desclassificação
(FERNANDES, 2003a).

Além da alteração do peso das barreiras, em 1930, as barreiras que apresentavam um padrão “T”
foram substituídas pelas barreiras em formato de “L”, inventada pelo treinador H. Hillman, contribuindo
para uma maior confiança dos atletas, que não tinham mais a preocupação em se machucar ao bater nas
barreiras. Tais fatores promoveram o aumento da velocidade das provas (FERNANDES, 2003a; SANTOS;
MATTHIESEN, 2013).

A prova masculina de 110 metros com barreira faz parte do programa olímpico desde 1986, e a prova
feminina (com 100 metros) foi inserida em 1932, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (MATTHIESEN, 2004).
44
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Já a prova de 400 metros ocorre desde os Jogos Olímpicos de Paris (1900), e a prova feminina de
mesma distância foi incorporada somente em 1984, nos Jogos de Los Angeles (MATTHIESEN, 2014).

Atualmente, os recordes nas provas são:

Tabela 2

Prova Atleta (ano) Tempo


110 m Aries Merritt (2012) 12.80 seg
Masculino
400 m Kevin Young (1992) 46.78 seg
100 m Kendra Harrison (2016) 12.20 seg
Feminino
400 m Yuliya Pechenkina (2003) 52.34 seg

Fonte: Iaaf (2015).

Sobre a análise técnica, com as modificações das barreiras no início do século XX, a passagem sobre
elas também passou por algumas alterações, principalmente devido à maior velocidade que os atletas
desenvolveram. Então, alguns deles criaram características peculiares, destacando‑os na evolução
técnica da disciplina (FERNANDES, 2003; SANTOS; MATTHIESEN, 2013).

Vejamos alguns exemplos:

• 1886 – Arthur Crome, de Oxford: utilizava a perna com o joelho estendido no ataque à barreira.

• 1891 – A. F. Copland: realizava a flexão de joelho da perna de ataque.

• 1898 – A. Kraenzlein, da Universidade da Pensilvânia: deslocava‑se com muita velocidade,


transpondo a barreira com a perna de ataque estendida, adotando três passadas entre as barreiras.

• 1920 – E. Thomson, Canadá: usava uma acentuada inclinação de tronco e extensão dos braços à
frente durante a transposição da barreira.

• 1941 – F. Walcott: corredor de baixa estatura, utilizava os braços estendidos à frente, porém
sem grande inclinação do tronco. Sua perna de passagem era o ponto principal de sua técnica,
e isso também foi adotado por outros atletas de mesma característica. Quando passava pela
barreira, ele trazia a perna em direção ao tronco, e com este movimento consegue imprimir
uma velocidade maior.

Com essas descrições, é possível identificar alguns elementos técnicos que compõem o atletismo.

As provas de barreira são provas de velocidade. Ao ultrapassar uma sequência de barreiras, o esportista
procura realizar essa tarefa sem a mínima perda de velocidade e ainda tentando conservar seu centro de
gravidade paralelo ao solo, mesmo no momento da transposição.

45
Unidade II

As provas de barreiras podem ser divididas em suas distâncias, com 100, 110 e 400 metros. Apesar
de apresentarem algumas similaridades técnicas, o ritmo empregado entre as barreiras varia devido às
diferentes alturas, e é preciso fazer algumas alterações técnicas.

Uma prova de corridas com barreiras possui quatro fases em comum:

• Saída: é utilizada uma saída baixa, semelhante às provas de velocidade.

• Da saída ao ataque à primeira barreira: nesta etapa, o corredor deve vencer determinada distância,
que irá variar de prova para prova.

• Entre as barreiras: todas as barreiras estão dispostas uniformemente dentro da respectiva raia, ou seja,
as barreiras têm a mesma distância entre si. De acordo com as distâncias, esses espaços são alterados.

• Da última barreira à chegada: ao passar pela última barreira, o corredor precisa terminar a distância da
prova até a linha de chegada. Semelhante às provas rasas, o atleta deve manter a maior velocidade possível.
13,00 m 8,50 m 8,50 m 8,50 m 8,50 m 8,50 m 8,50 m 8,50 m 8,50 m 8,50 m 10,50 m

Figura 17 – Distâncias da largada até a 1a barreira, entre as barreiras e


da última barreira até a chegada em uma prova de 100 metros com barreiras

Antes de investigarmos os aspectos técnicos, é importante destacar que a barreira deve ser transposta
mantendo o movimento em um plano horizontal e mais paralelo ao solo, e não saltar sobre ela, ou seja,
tendo uma movimentação com predominância no plano vertical. Além disso, é essencial cumprir três
regras básicas (FERNANDES, 2003):

• abordar a barreira sem diminuir a velocidade;

• ao fazer a transposição, permanecer em suspensão sobre a barreira o menor tempo possível por
meio de uma elevação da pelve;

• após a transposição, colocar‑se na melhor posição para dar continuidade à corrida sem qualquer
tipo de velocidade.

Para transpor as barreiras, é preciso manter os movimentos básicos de uma corrida rasa, tendo
como ponto principal o devido equilíbrio do velocista com o contato com o solo, e também a cada novo
contato após a transposição, devendo permanecer o menor tempo possível com o corpo no ar.

46
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

É óbvio que não podemos nos esquecer de outros fatores, como: a forma como o corpo sai do chão
para iniciar o ataque à barreira, a inclinação do tronco à frente do obstáculo, a rapidez com que a perna
atinge o solo e se dirige a ele após a passagem, e, por fim, a perna de passagem. Desse modo, vimos que
representa uma ação acíclica dentro de um ciclo de passadas de corrida.

Diante dessas alegações, é necessário ter atenção ao ponto de impulsão para o início da
passagem, o que varia de atleta para atleta dependendo da estatura, flexibilidade, mobilidade e
velocidade. A segunda parte está relacionada à forma pela qual se passa a barreira, que ressalta os
seguintes componentes:

• Perna de ataque: vai à frente e é lançada em direção da barreira para depois ser estendida quando
estiver sobre ela. Quando o centro de gravidade do corredor passar a barreira, a perna de ataque
vai seguir em direção ao solo, buscando a recuperação.

Figura 18 – Importante observar a perna que vai à frente em direção à barreira

• Perna de passagem: é a perna de trás, e esta, ao sair do contato com o solo, o joelho se flexiona
no plano horizontal para a lateral, deslizando no ar, tendo a mesma trajetória do corpo. Após a
passagem do centro de gravidade pela barreira e apoio da perna de ataque, a perna de passagem
segue à frente para dar prosseguimento da corrida com uma passada ampla.

• Braços: são utilizados na forma de oposição às pernas de ataque e de passagem. Assim, a perna
que vai à frente (ataque) e o braço contrário acompanha a perna que está atrás (passagem).

• Tronco: quando a perna de ataque busca seu posicionamento para iniciar a transposição, o tronco
começa a se inclinar sobre esta perna, formando um movimento do tipo canivete. Quanto mais
fechado for esse ângulo, mais facilitada será a transposição. Após a passagem, o tronco volta a se
elevar, buscando a posição para a corrida.

A descrição realizada de cada componente tem como objetivo saber como cada segmento do corpo
atua durante a transposição, porém é impreterível saber que eles estão ligados e que a movimentação
errônea de um deles vai interferir na cadeia de movimentos.

47
Unidade II

Na imagem adiante, é possível observar desde a impulsão com a elevação da perna de ataque e a
oposição de braços (A). Então, nota‑se o ataque sendo efetuado com a perna que está estendida à frente
junto à inclinação do tronco em direção à perna de ataque e extensão do braço à frente (B). Depois, a
perna de ataque segue em direção ao solo, e a perna de passagem avança com o joelho flexionado, em
uma abertura lateral paralela ao solo, passando rente à barreira (C). Ao terminar a transposição, a perna
de ataque continua a percorrer em direção ao solo, enquanto a perna de passagem é trazida rumo ao
tronco para iniciar o movimento para uma próxima passada (D). Por fim, a perna de ataque toca o solo,
o tronco volta para a posição ereta a fim de realizar a corrida, e a perna de passagem vai à frente do
tronco para efetuar o apoio para a corrida (E).
E)
A) B) C) D)

Figura 19 – Fases da transposição da barreira

Para as provas de 100 e 110 metros, com o início da saída baixa até a transposição da primeira
barreira, é preciso atentar para alguns detalhes: o atleta tem que estar ciente do número de passadas
que ele tem que executar até a primeira barreira para garantir desde a primeira transposição que o
ataque seja feito com a perna de ataque.

Normalmente a perna que vai à frente na saída baixa é a mesma perna de ataque. Em alto nível,
a quantidade varia entre sete a oito passadas. Se o esportista realizar sete passadas, é essencial fazer
a inversão das pernas na saída baixa. A última passada é fundamental para o desenvolvimento do
restante da prova.

A segunda parte da prova é a sequência de transposições entre as barreiras, que tem um total de
dez transposições.

Com a definição da perna de ataque e a perna de passagem, nesta etapa da prova é primordial
que o atleta consiga manter um ritmo, principalmente coordenando o número de passadas entre cada
barreira, tentando garantir uma manutenção de velocidade.

Esse ritmo entre as barreiras, para esportistas de alto nível, é realizado com três passadas, pois ele
atacará a barreira com a mesma perna de ataque. Lembrando que as distâncias entre as barreiras são de
8,50 e 9,14 metros, ou seja, dependendo da altura do atleta, ele pode sentir desconforto para desenvolver
essa distância em três passadas. Poderá executar quatro passadas, porém ele terá que alternar a perna de
ataque e passagem em cada passagem por barreira, além de realizar mais movimentos, comparando‑se
a esportistas que fazem três passadas, resultando em um gasto energético maior.
48
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Além da coordenação das passadas entre as barreiras, durante a transposição é vital que o competidor
mantenha sua movimentação o mais próximo possível do plano horizontal, pois esta é uma prova com
grande velocidade. Se ele não projetar seu corpo durante a transposição no plano horizontal, e sim para
o plano vertical, ele vai perder velocidade e tempo na transposição, resultando um tempo maior de seu
corpo no ar, ou seja, não tendo aceleração.

O fato é que o atleta deve desenvolver e treinar bastante essa fase da corrida com barreira para obter
um ótimo ritmo na prova.

A última etapa é a transposição da última barreira até a linha de chegada. Nesta fase, é como
se fosse uma prova de corrida rasa, na qual o atleta não tem mais barreiras para transpor. Após
esta última transposição, é essencial que ele execute algumas passadas com menor comprimento
para conseguir mais aceleração e assim ir aumentando gradualmente o comprimento até a linha
de chegada.

Para as provas de 400 metros, em que se tem a saída baixa também, deve‑se ter consistência, ou seja,
diferente das provas mais curtas, nas quais a velocidade é crucial, neste tipo de prova a consistência de
um ritmo é muito importante.

Na fase de saída até a primeira barreira, que tem 45 metros, o número de passadas varia entre 21 a
24 passadas, dependendo da estatura do indivíduo.

Na segunda parte da prova, a distância entre as barreiras é de 35 metros. A prova apresentará duas
curvas, pois nos 400 metros realiza‑se uma volta completa na pista. Nesta prova, o atleta precisa criar
a capacidade de efetuar a transposição com ambas a pernas, pois, devido à fadiga que a prova impõe,
deve‑se alternar o ritmo das passadas.

Nesta segunda etapa, por causa da distância, não é obrigatória uma transposição tão
vigorosa como nas provas de 100 e 110 metros. O esportista não precisa fazer uma transposição
com grande componente no plano horizontal justamente por não haver a necessidade de uma
velocidade grande.

A última etapa tem a mesma situação descrita para as provas de 100 e 110 metros, nas
quais é indispensável uma pequena aceleração e aumento gradativo da velocidade até a linha
de chegada.

Para Matthiesen (2014), os principais erros são:

49
Unidade II

Quadro 1

Correções de alguns erros comuns


Erros Correções
O aluno não deve atacar a barreira, nem muito perto nem
Saltar ao invés de transpor a barreira muito longe, e terá que manter o centro de gravidade o
mais próximo da barreira no momento da transposição.
A prova exige coordenação e ritmo. Para o aluno adquirir
segurança, precisa realizar vários exercícios com ataque
Medo para realizar a transposição e passagem sobre a barreira. Tais barreiras são feitas de
cordas e tubos plásticos e com alturas diversas.
O aluno não pode atacar a barreira estando muito
Flexão exagerada da perna de ataque próximo a ela, além da execução de exercícios para a
flexibilidade da articulação do quadril e joelho.
No movimento da perna de passagem, deverá ocorrer
uma abdução (elevação lateral com o joelho flexionado),
A perna de passagem não estar paralela ao solo com o calcanhar próximo do quadril. É necessário realizar
exercícios de flexibilidade e da técnica da perna de
passagem.
O tronco deverá fazer uma ligeira flexão no momento
da transposição. O aluno tem que criar a consciência das
Tronco ereto no momento da transposição dificuldades quando executa o movimento com o tronco
ereto quando comparado com o movimento efetuado
com o tronco flexionado.
Fazer exercícios de aceleração após a transposição da
Diminuir a velocidade após a transposição da barreira barreira.

3.11 Metodologia para o ensino e desenvolvimento da técnica

No atletismo, é necessário um bom aprendizado das especificidades técnicas. Para tal, é vital que os
alunos e atletas tenham um desenvolvimento paralelo à flexibilidade, coordenação, velocidade e ao ritmo.

A introdução das barreiras propriamente ditas se faz somente quando os alunos tenham o
domínio do aspecto técnico. Antes, o trabalho é exercido com o auxílio de cordas e obstáculos.
Ambos os instrumentos não apresentam uma altura elevada para sua transposição e a altura será
aumentada progressivamente.

Os exercícios e atividades descritas a seguir obedecem às observações já relatadas, assim há uma


progressão na complexidade em relação aos movimentos e às técnicas empregadas para cada atividade.
Vejamos como são as atividades:

• Exercício 1: fixam‑se vários obstáculos, como bancos, colchões, plintos de ginástica, e o aluno terá
que se deslocar de um para outro saltando sem cair no chão. Além de saltar, pode rastejar, saltitar
e trepar nos obstáculos, ou seja, utilizar suas habilidades fundamentais.

• Exercício 2: distribuem‑se bambolês no local da aula, e o aluno deverá entrar no bambolê saltando
com um pé para dentro dele. Também há uma variação para esta atividade: ao invés de entrar no
bambolê, o aluno terá que saltar para o outro lado do bambolê passando por cima dele.

50
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

• Exercício 3: empregam‑se diversos obstáculos de diferentes tamanhos pelo espaço, como bolas,
bolas medicinais, bancos, colchões e bastões, e os alunos precisam saltar tais barreiras.

• Exercício 4: em uma competição, há duas equipes, uma ao lado da outra. Os alunos ficam sentados
e são divididos em duas partes, formando duas colunas (uma de frente para a outra). Com isso, o
primeiro deve sair correndo, passar pelo obstáculo que está no meio do caminho e sentar no fim
da coluna à frente. O obstáculo pode ser uma bola, uma corda, um pequeno banco ou um cone.

O
b
s
t
á
c
u
l
o

Figura 20

Quando esse aluno sentar, o primeiro da coluna na qual ele sentou deverá sair e realizar a
mesma tarefa.

O
b
s
t
á
c
u
l
o

Figura 21

Exercício 5: vários bambolês são dispostos pelo espaço, e três deles ficam em linha reta para que
os alunos corram e coloquem o pé dentro de cada um deles, efetuando as três passadas que serão
utilizadas entre as barreiras. Pode‑se fazer uma variação: ao invés de ficarem em linha reta, os bambolês
são fixados em zigue‑zague.

Exercício 6: faz‑se uma linha reta no chão com giz ou corda, e o aluno deve transpor correndo a
linha que está no chão. O foco dessa atividade é fazer que o aluno execute as três passadas antes de
realizar a transposição. É preciso observar se os passos são iguais, não apresentando nenhum tipo de
aceleração ou retardamento do ritmo das passadas.

É interessante introduzir os conceitos de perna de ataque e perna de passagem: a perna que vai à
frente fica estendida, a outra fica flexionada.

51
Unidade II

Figura 22

Exercício 7: aqui temos o mesmo exercício anterior, mas agora o aluno terá que transpor as duas
linhas. Deverá apresentar uma maior amplitude de movimento, principalmente em relação à extensão
da perna de ataque, trazendo a perna de passagem.

Figura 23

Exercício 8: temos a mesma ideia dos exercícios anteriores, mas nesta atividade dois alunos seguram
as cordas nas extremidades e a elevam até determinada altura, e os outros alunos têm que transpor esta
barreira feita com a corda. Ela também poderá ser colocada na parte superior do cone para fica presa. É
preciso lembrar ao aprendiz que ele deve coordenar o ritmo que antecede a transposição e a utilização
das pernas de ataque e passagem.

Exercício 9: com as barreiras, o aluno deverá se posicionar ao lado da barreira e realizar a movimentação
somente da perna de ataque, passando sobre ela. Se a perna de ataque for à direita, o aluno se posiciona
do lado esquerdo da barreira, se for à esquerda, ficado lado direito dela. Depois é vital fazer o mesmo
para a perna de passagem. É importante analisar a movimentação da perna de ataque (flexão e extensão
em direção à barreira e, após a transposição, o direcionamento para o solo) e da perna de passagem
(abdução lateral, ficando paralela ao solo durante a transposição e, em seguida, a preparação para
passada). Trabalhe também a movimentação de braços.

Exercício 10: com as cordas duplas dispostas em linha reta, o aluno deverá transpor uma sequência
de no mínimo três cordas, realizando a movimentação completa no momento da transposição e a
manutenção do ritmo, de preferência três passadas entre cada conjunto de corda.

52
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Figura 24

Exercício 11: aplica‑se o mesmo exercício anterior, porém com as cordas suspensas.

Exercício 12: realiza‑se o mesmo exercício, porém com as barreiras.

Exercício 13: executa‑se o mesmo exercício, mas com o início sendo efetuado com a saída baixa.

3.11.1 Regras básicas de competição

As provas de corrida com barreiras são determinadas pela regra 168 da Confederação Brasileira de
Atletismo (CBAT, 2015). De acordo com esta regra, as provas para essa disciplina são:

• masculino – 110 e 400 metros;

• feminino – 100 e 400 metros.

Em cada prova é preciso transpor dez barreiras, por isso é necessário que cada prova tenha distâncias
diferentes para as barreiras.

Tabela 3

Distância da linha Distância da última


Distância da Distâncias entre
de saída à primeira barreira à linha de
prova as barreiras
barreira chegada
110 m 13,72 m 9,14 m 14,02 m
Masculino
400 m 45 m 35 m 40 m
100 m 13 m 8,50 m 10,50 m
Feminino
400 m 45 m 35 m 40 m

As categorias que têm provas de corridas com barreiras são: Adulto, Sub‑20 e Sub‑18.

53
Unidade II

70mm ± 5mm
1,19m ± 0,01m
0,225m min.
Final do top arredondado
0,01m – 0,025cm

Altura
0,70m máx.

Figura 25 – Exemplos com as medidas de uma barreira

As barreiras são colocadas de modo que a base fique apontada para o lado em que o atleta se
aproxima, pois, caso o corredor encostar em uma delas, vão cair sem atrapalhá‑lo.

Cada esportista terá que transpor todas as barreiras, caso contrário será desqualificado da prova.
Além disso, é obrigatório passar sobre a barreira: se passar o pé ou a perna abaixo do plano horizontal
da barreira, também será desqualificado (Regra 168, 7a). O último motivo para ele ser desqualificado é
derrubar propositalmente a barreira (Regra 168, 7b).

As barreiras apresentam alturas diferentes para cada categoria.

Tabela 4

Distância da prova Adultos Sub‑20 Sub‑18


110 m 1,067 m 0,991 m 0,914 m
Masculino
400 m 0,914 m 0,914 m 0,838 m
100 m 0,838 m 0,838 m 0,762 m
Feminino
400 m 0,762 m 0,762 m 0,762 m

A tolerância para a altura das barreiras não pode superar 3 mm, para baixo ou para cima.

A barra superior da barreira deverá ser pintada em preto e branco ou em cores em contraste à pista
e ao espaço da prova.

4 CORRIDAS DE REVEZAMENTO

As corridas de revezamento foram concebidas pelos norte‑americanos, que se basearam em vários


tipos de atividades que praticavam, tais como: competições de cavalos puxando diligências, que iam se
revezando pelo caminho devido às longas distâncias que tinham que percorrer; as atividades do corpo
de bombeiros de Massachusetts, dentre outras.

54
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

A ideia de se revezar nessas atividades mais tarde foi aplicada no atletismo. As provas nessa
modalidade são indispensáveis nas competições, e atualmente são as únicas do atletismo disputadas
por equipes, em que o fator coletivo é decisivo para as vitórias.

Oficialmente, são duas as provas de corridas de revezamento disputadas em pista: revezamento


curto: 4x100 metros; revezamentos longos: 4x400 metros.

Além das provas de pista, hoje os revezamentos de longas distâncias disputados nas ruas já são uma
realidade. Funciona do seguinte modo: cada componente corre uma distância diferente, conforme a
estratégia da equipe, para totalizar a longa distância percorrida que foi estabelecida no regulamento
dessa prova.

Tradicionalmente essas duas provas são as mais conhecidas e tecnicamente as mais complexas,
sendo praticadas por homens e mulheres. Neste livro‑texto faremos uma análise técnica delas.

As equipes de revezamento são compostas de quatro corredores, os quais percorrem uma distância
semelhante (100 ou 400 metros) conduzindo um bastão oco de 28 a 30 cm de comprimento. O bastão
tem uma circunferência de 12 a 13 cm e deve pesar 50 gramas, e deve ter uma cor que possa ser vista
facilmente durante a corrida. Esse bastão deve passar de mão em mão pelos quatro corredores, o que
caracteriza o revezamento.

A passagem do bastão deve ser realizada no interior de uma área especial dentro da pista, que é
denominada zona de passagem ou zona de revezamento. É marcada dentro da raia na qual cada
equipe está correndo. Essa região tem uma distância de 20 metros, que é medida a 10 metros antes e 10
metros depois da distância a ser percorrida por cada um dos atletas. Portanto, na prova de 4x100 metros,
existem três zonas de passagem: a primeira é utilizada pelo primeiro e segundo corredor; a segunda,
pelo segundo e terceiro corredor; a última, para a entrega do bastão do terceiro para o quarto corredor,
que finaliza a prova.

Ao corredor que vai receber o bastão, é permitido iniciar sua corrida a 10 metros antes do início da
zona de passagem. Essa zona de 10 metros que antecede à de passagem é chamada de zona opcional.

Antes da zona opcional, existe uma marca pessoal feita por cada corredor usando uma fita adesiva,
que foi definida com treinamento e serve como referência para o receptor como um sinal para ele iniciar
sua corrida dentro da zona opcional.

O receptor prepara‑se no início da zona opcional, em posição de arranque, e fica olhando para o
companheiro que está chegando, e quando este passar pelo handcap, ele inicia sua corrida e não olha
mais para trás. É uma zona de aceleração. Quando os dois atletas estão na zona de passagem, eles estão
em velocidade idêntica para realizar a passagem sem perder tempo, ou seja, na maior velocidade entre
ambos. Isso envolve muito treino.

A prova de 4x100 metros é totalmente balizada, o que determina que a equipe deve correr a prova
inteira dentro de sua própria raia. Já a prova de 4x400 metros é parcialmente balizada. O primeiro
55
Unidade II

corredor da equipe corre seus 400 metros dentro de sua raia, e o segundo corre balizado até o fim
da primeira curva da sua raia. Então, a prova deixa de ser balizada e os demais corredores da equipe
(terceiro e quarto) correm livremente pela pista para concluírem a prova.
Zona Zona de
Handcap opcional passagem

Raia Raia

Segunda Primeira
zona zona
2 1 2 1

1 2 Raia 1
Terceira Linha de
zona saída/chegada

Figura 26 – Marcação na pista das zonas de passagem do revezamento 4x100 metros, na raia 1

Nos 4x400 metros existe apenas uma zona de passagem (cada corredor corre uma volta inteira
na pista, que tem 400 metros de perímetro), que é marcada a 10 metros antes da linha de chegada
e 10 metros depois da saída, totalizando os 20 metros regulamentares da zona de passagem para
essa prova.

Raia 1
Zona de passagem
4 x 400m

chegada e
saída

Figura 27 – Localização da zona de passagem para revezamento 4x400m, na raia 1

56
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

4.1 Técnica des revezamentos

O revezamento de 4x100 metros é considerado uma das provas clássicas do atletismo e das mais
aguardadas pelo público, pois em uma equipe normalmente estão presentes quatro dos homens mais
rápidos do mundo.

Por ser uma prova muito rápida, o entrosamento técnico entre os quatro corredores da equipe deve
ser apurado, pois um erro, por menor que seja, pode comprometer o resultado na competição.

Assim, no ajuste de todos os detalhes, que fazem da técnica um componente decisivo, é preciso levar
em consideração um conjunto de ações que compõe a técnica como um todo.

Há duas formas de passagem do bastão, uma utilizada nos revezamentos rápidos, a outra, nos
menos velozes.

• Passagem não visual ou “às cegas”

Recebe essa denominação porque a passagem e a recepção do bastão são feitas sem que o corredor
da frente olhe para seu companheiro que está chegando para lhe entregar o bastão. É usada nos
revezamentos rápidos, como é o caso do 4x100m. Os dois atletas correm em velocidade máxima, e
se o indivíduo da frente precisar olhar para trás, terá que diminuir a velocidade, comprometendo
o resultado da equipe.

• Passagem visual

É utilizada nos revezamentos mais longos, haja vista a troca não exigir uma rapidez máxima como
no caso anterior. O corredor que está chegando com o bastão faz sua aproximação mais lenta
porque se desgasta após o esforço despendido durante sua corrida. Ele chega mais lentamente, e
assim o receptor do bastão também começa sua corrida de modo mais lento. Para não “escapar”,
olha para trás e observa o companheiro que está chegando com o fito de ter tempo suficiente
para acelerar e receber o bastão dentro dos limites da zona de passagem.

Além da forma como é feito o revezamento, é imperioso considerar os movimentos efetuados


pelos dois atletas para realizar a passagem do bastão sem perder tempo e também não correr o
risco de o bastão cair da mão ao ser entregue.

Para evitar essa situação, deve‑se avaliar qual é o estilo de passagem mais adequado para o
entrosamento dos corredores.

Diversos estilos foram aplicados, mas sempre outros são testados em busca da perfeição.

Hoje são feitos três tipos ou estilos de passagem: a ascendente, com troca de mãos; a descendente;
e a passagem horizontal.

57
Unidade II

• Passagem ascendente

É o estilo mais antigo dos três. As equipes profissionais quase não o utilizam, mas ele é mais fácil
para os iniciantes.

Recebe esse nome porque o movimento da mão do corredor que faz a entrega é de baixo para
cima, é um movimento ascendente que identifica o estilo.

Para receber o bastão, o corredor da frente estende o braço para trás, colocando a mão com a
palma voltada para o companheiro. Fica com os dedos unidos e apontados para o chão, menos o
polegar, que fica voltado para dentro.

Quando a mão estiver preparada, o corredor de trás estende seu braço e faz um movimento
de baixo para cima, colocando a extremidade do bastão na mão do companheiro entre o dedo
indicador e o polegar. Imediatamente após estar com o bastão na mão, esse corredor o transfere
para a outra mão para posicioná‑lo de forma adequada e entregá‑lo ao corredor seguinte.

Figura 28 – Passagem ascendente usado nos revezamentos 4x100m

Dessa maneira, se o primeiro corredor estiver correndo com o bastão na mão direita, entrega‑o na
mão esquerda do segundo, e este troca de mão e também vai correr com o bastão na mão direita,
e assim sucessivamente, até o último corredor. Todos correm com o bastão na mão direita.

Portanto, todos os corredores fazem o mesmo gesto em uma mesma sequência, ou seja, a ação
é uniforme entre os quatro atletas. Esse mecanismo identifica o método de passagem do bastão,
conhecido como método uniforme.

• Passagem descendente

É a mais usada pela maioria das equipes e recebe essa denominação porque o movimento de
entrega do bastão é feito de cima para baixo, ou seja, através de um movimento descendente do
bastão, até a mão do receptor.
58
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Para receber o bastão, o corredor da frente estende seu braço para trás, colocando‑o voltado para
seu companheiro, com a palma da mão voltada para cima e com os dedos unidos apontados para
trás, exceção do polegar, que fica voltado para dentro.

Quando isso acontece dentro da zona de passagem, o corredor de trás coloca a extremidade livre
do bastão na mão do corredor da frente, que agarra o bastão e segue correndo com ele, e não
precisa transferi‑lo para a outra mão como na técnica anterior.

Figura 29 – Passagem do bastão no revezamento 4x100m, forma não visual e estilo descendente

Como não há a troca de mão ao transportar o bastão durante a corrida, a sequência das entregas
e recepções do bastão é feita de forma alternada, ou seja, se o primeiro atleta correr com o bastão
na mão direita, deverá entregá‑lo na mão esquerda do segundo, que corre com o bastão na mão
esquerda e o entrega na mão direita do terceiro, e assim até o último corredor, sempre alternando
a mão que leva o bastão.

Essa sequência define o método de passagem utilizado pela equipe, que é denominado método
alternado.

• Passagem horizontal

É semelhante à passagem descendente em quase todos os sentidos. A única diferença é que, ao


entregar o bastão, o movimento do braço de quem o entrega é feito como se estivesse empurrando
o bastão para a mão do companheiro, portanto, através de um movimento de trás para frente no
sentido horizontal.

59
Unidade II

Estilo de passagem do
bastão no revezamento
4 x 100 metros

Passagem horizontal

Figura 30 – Passagem do bastão no estilo horizontal

Lembrete

Em todas as técnicas de passagem, a entrega do bastão ao companheiro da


frente deve ser sempre não mão contrária em relação àquela usada pelo corredor
que transporta o bastão. Exemplo: se o primeiro corredor está com o bastão na mão
esquerda, deve entregá‑lo na mão direita do segundo, e assim sucessivamente.

4.1.1 Técnica de revezamento 4x100 metros

O revezamento 4x100 metros é uma grande atração no atletismo.

Exige um entrosamento perfeito entre os atletas. Para efetivá‑lo, entretanto, é preciso que seja
escolhida a técnica que melhor se adapte aos corredores.

Nesse caso, a forma de passagem deve ser a não visual ou “às cegas”, e o tipo de passagem aplicado
será o mais adequado entre os três utilizados: passagem ascendente, descendente ou a horizontal.

• Desenvolvimento da corrida

Por ser uma prova balizada, cada equipe corre em uma raia durante todo o percurso. A saída é feita
no início da primeira curva da pista. O segundo corredor corre na reta oposta, o terceiro, na segunda
curva, e o quarto fecha o revezamento correndo na reta principal para fazer a chegada.

4.1.2 Técnica de revezamento 4x400 metros

É uma clássica representante dos revezamentos longos. Essa prova possui quatro voltas na pista, e
cada atleta corre 400 metros, totalizando 1600 metros.

Devido ao longo percurso da corrida, é uma prova parcialmente balizada. O primeiro competidor
corre balizado, o segundo apenas até o fim da primeira curva, completando sua participação de forma
não balizada como os outros componentes da sua equipe.

60
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Tecnicamente, é conhecido como um revezamento lento, pois a passagem do bastão entre os


corredores se realiza de modo mais vagaroso. Isso ocorre por causa do cansaço do corredor que está
chegando com o bastão.

Devido a essa condição, o tipo de passagem utilizado é o visual. Nesse caso, o corredor que vai
receber o bastão inicia sua corrida de forma morosa no início da zona de passagem, sempre olhando
para o companheiro que vem chegando, para que este tenha tempo de alcançá‑lo dentro da área de
passagem. Para essa prova, o regulamento não permite que o receptor do bastão inicie a corrida antes
da zona de passagem como nos revezamentos rápidos, em que é aplicada a zona opcional.
Revezamento 4 x 400
Forma de passagem: visual
Tipo de passagem: ascendente

Raia

Zona de passagem (20 m)

Figura 31 – Passagem visual no revezamento 4x400m

Observação

Na técnica das corridas de revezamento, é muito importante distinguir


formas, tipos e métodos de passagem do bastão e as características de cada um.

4.2 Metodologia para ensino da técnica dos revezamentos

4.2.1 Método do jogo

No sistema para o ensino das corridas de revezamento, o uso do método do jogo é muito eficiente e
motivador para crianças durante o período de formação inicial multilateral especial.

Os jogos utilizados para essa finalidade devem conter os elementos que compõem esse tipo de
corrida, como o fator equipe, velocidade, entrega do bastão ou coisa semelhante, velocidade de reação
e o fator competição aplicado de forma pedagógica.

Para entender como devem ser elaborados esses jogos, também conhecidos como estafetas, vamos destacar
alguns exemplos que possuem a maioria das solicitações presentes nas competições desse tipo de corrida.
61
Unidade II

Em relação à organização, deve‑se fazer o seguinte:

• Dividir a turma em equipes e subdividi‑las em duas partes, lado a lado, no espaço utilizado
para o jogo.

• Colocar cones para marcar o ponto de saída e de chegada (de 10 a 15 metros de distância) do
corredor que faz a ação. Todos os participantes ficam de pé, formando uma coluna atrás dos
cones, de modo que uma parte da equipe esteja de frente para a outra.

Na execução, os primeiros componentes de cada equipe seguram o bastão em uma das mãos,
aguardando o sinal de início da corrida. Dado o sinal, o corredor parte em velocidade para entregar o
bastão ao companheiro que está aguardando à frente do grupo atrás do cone.

Assim, um entrega e o outro recebe, até que todos tenham executado essa ação.

Vence a equipe que não cometeu erros e terminou rigidamente na mesma posição na qual iniciou
o exercício.

Dependendo do número de equipes, devem ser atribuídos pontos para cada colocação. No caso de
três equipes, temos o seguinte: primeiro lugar: três pontos; segundo: dois; terceiro: um ponto. Todas as
equipes devem ser pontuadas.

Agora vamos apresentar quatro figuras e suas respectivas explicações.

A)

Figura 32

Cada equipe está dividida em duas partes, cada uma fica de pé atrás dos cones, uma de frente para
a outra. O primeiro integrante corre com o bastão e o entrega ao companheiro da equipe, que está do
outro lado.

Vence a equipe que terminar primeiro e na mesma posição em que iniciou a disputa.

62
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

B)

Figura 33

A equipe fica sentada atrás do cone. O primeiro corredor parte em velocidade com o bastão na mão,
contorna um cone distante – a 10/15 metros – e na volta o entrega ao seguinte componente da equipe,
que está esperando em pé.

Vence a equipe que terminar primeiro com todos os integrantes sentados e de braços cruzados sobre
os joelhos.

C)

Figura 34

Do mesmo modo como o exemplo anterior, modifica‑se a posição inicial e final da equipe, que deve
completar o percurso com todos de pé e formando uma coluna.

63
Unidade II

D)

Figura 35

Aqui temos o mesmo caso anterior, porém a equipe deve esperar sentada, de costas, e terminar
nessa posição.

Observação

A posição inicial e final de cada equipe deve ser modificada a cada


repetição do jogo.

4.3 Regras básicas de competição

Acentuaremos oito regras básicas:

• Cada zona de passagem deve ter 20 m de comprimento e com as seguintes medidas: 10 m antes
e 10 m depois da linha de saída e chegada de cada distância a ser percorrida.

• A prova do revezamento 4x100m é corrida inteiramente em raias.

• No revezamento 4x400m, a primeira volta é corrida totalmente balizada e a segunda até o


fim da primeira curva, onde deve haver uma linha inclinada indicando o fim do balizamento
(raia livre).

• No revezamento de 4x100m, com exceção do primeiro corredor, todos os atletas podem começar
a correr até 10 m (zona opcional) antes da zona de passagem.

• No revezamento 4x400m, não será permitido o início da corrida antes da zona de passagem
do bastão.

• O bastão deve ser um tubo liso oco, de forma circular, feito de material rígido, com o comprimento
mínimo igual a 28 cm e o máximo de 30 cm, com 50 gr de peso.

64
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

• O bastão deve ser carregado na mão durante toda a prova. Se for derrubado, deverá ser recuperado
pelo integrante que o derrubou. Ele pode sair de sua raia para pegar o bastão, desde que não
atrapalhe o adversário a continuar a corrida.

• Os competidores, antes de receber ou após a passagem do bastão, deverão permanecer em suas


raias ou zonas até que o curso esteja livre para não prejudicar outros integrantes. Caso fique
comprovado algum prejuízo nessa situação, a equipe será desclassificada.

4.4 Marcha atlética

Normalmente, quando se fala de atletismo, são lembradas as principais provas de corridas, saltos e de
lançamentos e arremessos. Todavia, como o atletismo propõe uma diversidade de disciplinas, cada uma
com suas características específicas, a marcha atlética apresenta questões fisiológicas, biomecânicas e
pedagógicas peculiares (CARNEIRO, 2001).

A marcha atlética muitas vezes é esquecida ou renegada pelos profissionais de Educação Física,
atuando em ambiente escolar ou não (MATTHIESEN, 2004). Uma característica desta prova são os
movimentos específicos de ombros e quadril, que não são observados em outras disciplinas do atletismo,
tornando‑a motivo de ironia e chacota (DUCAL, 1998).

Segundo Granell e Lazcorreta (2004), a marcha atlética é uma progressão na qual se efetua passo
por passo, de modo que o contato com o solo se mantenha sem interrupção.

Oficialmente as provas de marcha atlética são divididas em duas distâncias: 20 km para homens e
mulheres, com os 50 km apenas para homens. Caracterizam‑se pela execução de passos, de modo que
um dos pés do marchador (competidor) mantenha obrigatoriamente contato com o solo, enquanto o
outro pé se movimenta (VIEIRA, 2007).

A marcha é utilizada com meio de locomoção pelo homem desde o fim do período neolítico. Como
esporte, há registros de seu uso em jogos olímpicos na Antiguidade. Também era usada por mensageiros,
que andavam ou corriam para levar as mensagens a seus destinos (SANT, 2005).

Segundo Viera (2007), as provas masculinas com a distância de 50 km são disputadas desde os Jogos
Olímpicos de Los Angeles (1932), já as provas com distância de 20 km desde os Jogos Olímpicos de
Sidney (2000) (DARIDO; SOUZA JUNIOR, 2007).

Na história dos Jogos Olímpicos, a marcha atlética apresentou uma série de modificações em
sua estrutura de realização, principalmente em relação a suas distâncias. Ela teve sua primeira
aparição nos Jogos Olímpicos de Atenas (1906). Na Antuérpia (1920), houve a única prova com
distância de 3000 metros. Em Londres (1908), foram executadas as provas de 3500 metros e a
prova de 10 milhas, que equivale a mais ou menos 16 km. A prova masculina de 10 km começou
a ser efetuada em Estocolmo (1912) e teve sua última participação nos Jogos de Helsinque (1952)
(VIEIRA, 2007; GOMES, 2007).

65
Unidade II

Somente nas Olímpiadas de Melbourne (1956) que foram realizadas as provas de 20 e 50 km. A prova
feminina passou a compor o calendário da Iaaf em 1992 com a prova de 10 km, que teve sua primeira
competição regular nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992). Em Sidney (2000), a marcha atlética
feminina passa a ter 20 km (SANT, 2005).

No Brasil, segundo a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT, 2016), as provas oficiais para a
marcha atlética são:

Tabela 5 – Masculino

Prova Adulto Sub‑23 Juvenil Menores Mirins Pré‑Mirim


Marcha 20.000 m
20.000 m 10.000 m 10.000 m 5000 m 2000 m
atlética 50.000 m

Adaptado de: CBAt (2016).

Tabela 6 – Feminino

Prova Adulto Sub‑23 Juvenil Menores Mirins Pré‑Mirim


Marcha 20.000 m 20.000 m 10.000 m 5000 m 3000 m 2000 m
atlética

Adaptado de: CBAt (2016).

As melhores marcas, ou seja, os recordes homologados pela Iaaf (2016), nas principais provas de
marcha atlética são:

Tabela 7 – Recordes mundiais

Provas masculinas
Competidor Prova Recorde Data
Yohann Diniz – França 50 km 3:32.33 15/8/2014
Yohann Diniz – França 50.000 m 3:35:27.2 12/3/2011
Yusuke Suzuki – Japão 20 km 1:16.36 15/3/2015
B. Segura – México 20.000 m 1:17:25.6 7/5/1994
M. Shchennikov – Rússia 5000 m (pista) 18:07.08 14/2/1995
Provas femininas
Competidor Prova Recorde Data
M. Svensson – Suécia 50 km 4:10:59 21/10/2007
Hong Liu – China 20 Km 1:24.38 6/6/2015
O. Ivanova – Rússia 20 km 1:6:252.3 6/9/2001
N. Ryashkina – Rússia 10 km 41:56.23 24/7/1990
Gillian O’Sullivan – Irlanda 3000 m (pista) 11:35.34 15/2/2003

Fonte: Iaaf (2015).

66
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Tabela 8 – Recordes olímpicos

Provas masculinas
Competidor Prova Recorde Data
Ding Chen – China 20 Km 1:18:46 2012 – Londres
Jared Talent – Austrália 50 Km 3:36:53 2012 – Londres
Provas femininas
Competidor Prova Recorde Data
Elena Lashmanova – Rússia 20 Km 1:25:02 2012 – Londres

Adaptado de: Iaaf (2015).

O objetivo deste livro‑texto é ensinar como trabalhar com a marcha atlética. Para tal, baseamo‑nos
em parâmetros como: análise técnica, metodologia para o ensino e desenvolvimento da técnica e as
principais regras que compõem esta disciplina.

4.4.1 Análise técnica

A marcha pode ser considerada uma atividade natural e cíclica. Para utilizá‑la com maior eficiência,
é preciso respeitar as regras internacionais que regem a modalidade. Então, os atletas são obrigados a
adotar uma técnica diferente dos corredores. Isso ocorre porque na marcha atlética não se pode correr,
essa parte é chamada de fase de voo (o corpo perde momentaneamente o contato com o solo), nem
caminhar, pois tal medida não é eficiente para obter um bom rendimento esportivo (SANT, 2005).

Apesar do movimento da marcha atlética ser muito peculiar dentro do atletismo, é possível verificar
seu emprego no dia a dia. Quando uma pessoa está com pressa para chegar a determinado lugar, passar
a andar rápido pela rua, ou seja, apresentará um padrão de marcha.

A dificuldade de conciliar o padrão técnico com as exigências físicas que o movimento impõe é outro
elemento que torna o movimento da marcha mais complexo. Por causa da fadiga, qualquer adulto com
um bom preparo físico terá muita dificuldade em completar a distância de 1 km sem cometer qualquer
tipo de irregularidade técnica (SANT, 2005).

Conforme Matthiesen (2014), o movimento técnico da marcha representa uma progressão de passos
na qual o atleta sempre deverá manter um contato com o solo, não sendo permitida a perda deste
contato. O autor relata, ainda, que a observação do cumprimento desta regra deve ser feita a olho nu,
ou seja, sem auxílio de recursos eletrônicos.

Além desse contato contínuo com o solo, a perna do competidor que avança deve estar reta (em
extensão), sem exibir qualquer grau de flexão, tendo como referência o primeiro contato com o solo até
a posição ereta vertical (MATTHIESEN, 2014).

De acordo com as regras que regem a disciplina, com o passar dos anos, é possível observar algumas
modificações nos padrões técnicos dos atletas, como:
67
Unidade II

• Aumento da frequência gestual dos movimentos de quadril, pernas e braços.

• Contato com a perna de avanço (que toca o solo à frente) mais próximo ao centro de gravidade.

• Fase de apoio duplo mais dinâmico, ou seja, quando ambas as pernas se encontravam, as duas
estavam completamente estendidas, porém no momento a perna que estava apoiada (que irá
começar o movimento) encontra‑se flexionada, diminuindo a ação da inércia.

A técnica da marcha atlética é uma especialidade para se atingir o melhor rendimento possível, e
qualquer tipo de deficiência técnica pode causar a desclassificação de um marchador nas competições.

As características antropométricas e biológicas de um atleta de marcha atlética são muito


semelhantes às de corredores de longas distâncias, porém a diferença entre ambos se encontra na
capacidade técnica dos marchadores, prática que exige alta capacidade para realizar os gestos (técnica)
em altas velocidades, maior concentração de fibras musculares brancas que os corredores de fundo e a
capacidade de manter a técnica em níveis elevados de fadiga (SANT, 2005).

Durante a prova, o esportista não pode fazer o seguinte:

• Perder o contato com o solo.

• Desde o primeiro contato da perna com o solo, esta deve estar totalmente estendida (articulação
do joelho) até o momento em que a perna se encontra na vertical com o centro de gravidade. A
figura a seguir destaca que no primeiro contato com o solo a perna tem que estar estendida. Na
imagem ao lado, a segunda etapa descrita, vimos que a perna tem que permanecer estendida até
o plano vertical.

A) B)

Figura 36

Desse modo, o atleta é punido assim que perde o contato com o solo ou realiza uma flexão de
joelhos no momento do contato com o solo até a posição vertical da perna.

68
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Figura 37 – Flexão de joelho no momento do primeiro contato até a posição vertical

O movimento da marcha é composto de quatro fases:

• Fase de apoio duplo: o marchador tem os dois pés em contato com o solo.

• Fase de tração: inicia quando o calcanhar toca o solo e termina quando a perna fica perpendicular
ao solo, entrando na fase de apoio.

• Fase de apoio: a perna de apoio se encontra perpendicular ao solo, desde o momento de contato
com o solo. Nesta fase é imprescindível que desde o contato com o solo até a posição vertical da
perna, o joelho permaneça em total extensão.

• Fase de impulsão: instaura‑se quando a perna do atleta passa o plano vertical, o que vai gerar a
velocidade para o deslocamento.

Nas figuras a seguir observamos a técnica completa desenvolvida por um atleta de marcha atlética
(SANT, 2005, p. 57).

Observando a figura adiante, é possível identificar as fases descritas?

69
Unidade II

A) B) C)

D) E) F)

G) H) I)

Figura 38

Como destacamos, é importante salientar as ações dos membros superiores, ação do tronco e
membros inferiores.

Em relação aos membros superiores, os braços são flexionados a 90º, tendo um movimento
no sentido anteroposterior (indo para frente e para trás), sempre em consonância com o ritmo e
amplitude (distância) da passada que o marchador utiliza para se deslocar. Com isso, quanto maior for
a velocidade de deslocamento empregada pelo atleta, mais rápida será a movimentação dos membros
superiores. Desse modo, o movimento dos membros superiores deve ser o mais natural possível e
seguir até o centro do tórax. Ainda, é preciso evitar o encolhimento dos ombros para não haver uma
fadiga elevada (erro técnico).

70
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Figura 39 – Ação dos membros superiores na marcha atlética

Já o tronco fica ligeiramente inclinado à frente, havendo um movimento contrário à ação do quadril,
portanto ocorre uma rotação. Contudo, destaca‑se que esta não pode ser exagerada.

Por fim, temos os membros inferiores. Como vimos, os movimentos dos membros inferiores
apresentam as fases de tração e impulsão, e a perna deve tocar no solo somente estendida e permanecer
assim até que o segmento esteja no plano vertical.

Figura 40 – Extensão da perna em contato com o solo

As passadas na marcha atlética têm que ser realizadas sobre uma linha reta imaginária, que é traçada
tendo como referência o calcanhar e a ponta do pé, auxiliando o trabalho no quadril.

71
Unidade II

A) B) C)

Figura 41 – Exemplificação da passada correta a ser empregada durante a marcha.


Imagem A está correta, e imagens B e C estão incorretas

Os movimentos da região pélvica ou quadril são essenciais para o desenvolvimento de uma marcha
eficiente, pois eles estão relacionados à frequência e amplitude das passadas, o que, por consequência,
vai gerar uma marcha rápida, fluida e econômica.

Segundo Lopes, Torres e Filho (2012), o movimento do quadril tem duas funções:

• fazer um movimento no plano horizontal acompanhando a perna que está em atraso.

• fazer um movimento no plano vertical (cima/baixo) ao descer ao lado da perna que será impulsionada e
se elevar coordenadamente com a perna que está em tração.

Figura 42 – Movimentação circular do quadril no movimento da marcha

A ação mecânica da marcha atlética permite desenvolver uma velocidade três vezes maior que uma
pessoa andando normalmente. Este fator é determinado pela frequência elevada de passadas e por sua
amplitude. É interessante observar que a frequência de passadas de um marchador é superior à de um
corredor de velocidade ou maratonista (SANT, 2005).
72
ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Tabela 9 – Comparação da frequência de passadas

Frequência
Prova Duração da prova (passadas/segundos)

800 m rasos 1’45’’ 3,6 a 3,7


Maratona 2h08’ 3,1 a 3,2
20 km marcha 1h20’ 3,6 a 3,9

Adaptado de: Sant (2005).

4.4.2 Metodologia para o ensino e desenvolvimento da técnica

É difícil encontrar uma sequência pedagógica ou metodologia para o ensino dos movimentos
técnicos que compreendem esta prova, mesmo nos livros sobre atletismo (MATTHIESEN, 2014).

Apesar de reunir componentes que possam causar uma impressão de dificuldade inicialmente, o
ensino da marcha atlética é relativamente simples, pois ela é muito semelhante ao andar do ser humano
e pode ser inserida em diversas tarefas do cotidiano.

Para incorporar o aluno na marcha atlética, o professor utiliza como parâmetro seu próprio andar,
aumentando progressivamente a velocidade, até a inserção das especificidades técnicas que foram
discutidas anteriormente, e depois atuar diretamente no desenvolvimento da marcha.

Antes disso, entretanto, o aluno deve compreender quais são as principais diferenças entre o
andar, o marchar e o correr tanto lentamente como em velocidade (MATTHIESEN, 2014). Em especial,
precisa observar as diferenças de ritmo (frequência e comprimento da passada) e os tipos de apoio
proporcionados em cada situação.

Para o início da aprendizagem, é necessário que as atividades tenham curta duração, caso contrário
a fadiga vai diminuir o aprendizado técnico.

Deve‑se explorar atividades que envolvam o andar rápido, até que seja possível fixar os movimentos
técnicos específicos da marcha. Antes, é vital desenvolver as habilidades de movimentos fundamentais
(andar, marchar e correr) e atentar para os seguintes aspectos (MATTHIESEN, 2014):

• diferenças de ritmo na realização do deslocamento;

• intensidade do movimento;

• frequência e amplitude dos passos;

• existência ou não da fase aérea (de voo) durante o deslocamento.

73
Unidade II

A ideia básica para uma progressão metodológica para o ensino da marcha atlética pode ser a
seguinte (CND, 1998):

• Caminhada natural: em uma superfície lisa, deve‑se caminhar e ir aumentando a velocidade de


modo gradual, porém sem correr. Caminha‑se de forma confortável com um ritmo suave por pelo
menos 100 metros.

• Introdução da técnica da marcha atlética: usando as mesmas características da caminhada


natural, porém tendo uma impulsão mais forte, utiliza‑se o quadril à frente (em direção à perna
de tração). Mantém‑se sempre o contato da planta do pé com o solo, juntamente com a extensão
do joelho até o momento em que ela está na posição vertical, conservando um ritmo por pelo
menos 100 metros.

• Caminhando na linha: aplicam‑se os conceitos ensinados no último quesito, porém executando


os movimentos sobre uma linha, e os pés têm que manter o contato na mesma linha.

• Marcha atlética por uma distância: faz‑se a junção dos dois primeiros aspectos, porém com
distâncias de aproximadamente 400 metros, de modo que o aluno mantenha uma velocidade
constante, conservando a técnica do movimento. Pede‑se para que eles fiquem atentos às
sensações musculares após a prática, principalmente dos músculos anteriores da perna.

Matthiesen (2014) elenca algumas atividades que podem inserir essa sequência trabalhada anteriormente.

Na atividade 1, os alunos ficam dispostos pelo espaço e começam a andar com o objetivo de fitar o apoio
dos pés no solo. Devem aumentar progressivamente a velocidade do andar e continuar a observar as alterações
que este aumento provoca no ritmo e na frequência. Precisam notar as diferenças do comportamento das
pernas, do quadril, do tronco, dos braços e da cabeça em velocidades mais lentas e mais rápidas.

Na atividade 2, aplica‑se a mesma dinâmica da atividade anterior. Contudo, em vez de andar


livremente, eles devem marchar seguindo o ritmo ditado pelo professor através de palmas.

Na atividade 3 os alunos são dispostos em colunas, de preferência com a mesma quantidade de


alunos em cada uma, ficando de frente para uma linha. Após o sinal, eles devem iniciar o deslocamento
sobre a linha utilizando a técnica da marcha atlética. Pode ser feito em formato de competição, e vence
a equipe que chegar primeiro no fim da linha. É preciso lembrar que não se deve realizar as faltas da
marcha atlética, principalmente a falta de contato com o solo (fase aérea).

A atividade 4 é um pega‑pega. Os alunos são colocados em duplas, definindo‑se quem é o pegador


e quem é o fugitivo. Ao comando do professor, o fugitivo tem que marchar o mais rápido possível para
não ser apanhado pelo pegador (da sua dupla), que também estará marchando.

Na atividade 5 monta‑se um circuito no local disponível para fazer a prova de marcha atlética
propriamente dita. Nela, o aluno deve percorrer determinada distância. Será avaliado por árbitros, que
observam as ações técnicas pertinentes à modalidade e aplicam as advertências plausíveis segundo as regras.
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ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Quadro 2

Correção de alguns erros comuns


Erros Correção
Diminuir a velocidade nos movimentos realizados,
Perda de contato com o solo tendo como prestando atenção à movimentação do quadril,
resultado a fase aérea juntamente com os movimentos de ombros.
Segurar um bastão na mão e prestar atenção ao
movimento que eles fazem, juntamente com o trabalho
Pouco uso dos membros superiores de membros superiores, e assim aumentar a amplitude e
frequência de passadas.
Fazer o movimento de forma lenta, com passadas curtas,
Flexão de membros inferiores em uma subida, em que o aluno sinta a total extensão da
perna durante a passada.
Marchar sobre uma linha reta, com um colega avaliando
Movimentos laterais do quadril a movimentação do quadril, com dois bastões colocados
ao lado da pelve do marchador.
Marchar segurando um bastão nas costas, com os braços
Projeção excessiva do tronco posicionados a 90º.

Adaptado de: Matthiesen (2014).

4.5 Regras básicas de competição

A técnica da marcha atlética é desenvolvida tendo como base as regras que a IAAF (2015), determina
como requisito para a modalidade.

As provas de marcha atlética são divididas em duas categorias: provas de pista e de rua (regra 230.1).

Tabela 10 – Modalidades da marcha atlética – provas (distâncias)

Provas de pista 3000 metros e 5000 metros


Provas de rua 5000 metros, 10 km, 10.000 metros, 20 km, 20.000 metros, 50 km e 50.000 metros

Nas provas de pista, para um melhor controle, os atletas em provas de 3000 metros percorrem a
pista (7,5 voltas). Nos 5000 metros, eles fazem 12,5 voltas. É importante lembrar que uma volta na pista
oficial de atletismo tem 400 metros.

Já a regra 230.2 determina a técnica que se deve empregar durante toda a prova de marcha
atlética, independentemente da distância que será percorrida, ou se é uma prova de pista ou uma
prova de rua.

A marcha atlética é uma progressão de passos, executados de tal modo que


o atleta mantenha um contato contínuo com o solo, não podendo ocorrer
(a olho nu) a perda do contato com o mesmo. A perna que avança deve
estar reta (ou seja, não flexionada no joelho) desde o momento do primeiro
contato com o solo, até a posição ereta vertical (CBAT, 2015, p. 105).

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Unidade II

Como se pode perceber, essa regra determina os movimentos (técnica) bases da marcha atlética. É
preciso observar um aspecto: o atleta deve manter contato contínuo com o solo, conforme a figura a
seguir, na qual ele exibe um contato de pelo menos um dos pés com o solo.

Figura 43 – Técnica correta da marcha atlética

Já a figura a seguir destaca uma situação na qual o atleta perde o contato com o solo, o que
caracteriza uma fase aérea, ou seja, uma corrida, o que é proibido.

Figura 44 – Caracterização da perda de contado do atleta com o solo

A perna que toca o solo na passada tem que ter este contato sem extensão, não podendo haver
nenhuma flexão de joelho até que a perna tenha passado pela posição vertical.

Figura 45 – A perna flexionada no momento de contato com o solo

A característica da marcha atlética é manter uma técnica que promova um deslocamento o mais
horizontal possível, pois, se a força aplicada durante o movimento for vertical, poderá ocorrer a perda de
contato com o solo. Para identificar tais infrações (perda do contato com o solo e a perna flexionada), os
juízes somente podem observar sem qualquer auxílio de recurso tecnológico como um replay.

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ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

No tocante às punições existentes nas provas de marcha atlética, existem duas possíveis: a placa
amarela e o cartão vermelho.

A placa amarela, que é a regra 230.5, está associada a uma advertência dada ao atleta, que é aplicada
caso o árbitro não esteja satisfeito com os movimentos técnicos executados pelo competidor, e essa
infração é relacionada à perda de contato com o solo e à perna flexionada.

A) B)

Figura 46 – Placa de advertência de perda de contato com o solo (A) e a placa de advertência de perna flexionada (B)

O atleta não pode receber uma segunda advertência – placa amarela – de uma mesma infração de
um mesmo árbitro.

Já o cartão vermelho, que está previsto na regra 230.6, ocorre quando o árbitro identifica visualmente
que o competidor apresentou a perda de contato com o solo ou a flexão de joelho durante qualquer
parte do trajeto da prova.

Para o atleta sofrer uma desqualificação da prova, precisa receber três cartões vermelhos de árbitros
diferentes. Assim, ele recebe a plaqueta vermelha, que lhe informa que está desqualificado da prova.
Conforme a regra 230.7(b), não pode receber dois cartões vermelhos de árbitros distintos, somente se
forem de mesma nacionalidade.

Desqualificação:

7. (a) Exceto conforme previsto na Regra 230.7 (c), quando três cartões
vermelhos de três árbitros diferentes são enviados ao ÁRBITRO CHEFE, o
atleta será desqualificado e informado de sua desqualificação pelo Árbitro
Chefe ou seu assistente mostrando a plaqueta vermelha. A ausência da
notificação não implicará a colocação do Atleta desqualificado no resultado
final.

(b) Em todas as competições[,] segundo as Regras 1.1 (a), (b), (c) ou (e)[,]
em nenhuma circunstância cartões vermelhos de dois Árbitros de mesma
nacionalidade têm o poder de desqualificar um Atleta (CBAT, 2015, p. 106).

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Unidade II

Em provas de pista ou de ruas, o atleta que for desqualificado de uma prova deve imediatamente
deixar o local (a pista ou o percurso na rua). Depois, seu número é retirado e assim encerra sua prova.

Desse modo, vem à luz a seguinte questão: como o competidor sabe quantas punições já recebeu?

Durante o percurso são colocados um ou mais placares de advertência e próximos à chegada para
que os atletas sempre permaneçam informados sobre o número de advertências que foram aplicadas,
assim com o símbolo da infração cometida é destacado.

Figura 47 – Quadro informativo de punições para os atletas de marcha atlética

Exemplo de aplicação

As corridas no atletismo exigem o máximo de condicionamento físico para cada tipo de capacidade
envolvida na sua prática, por isso usa uma metodologia muito específica no preparo dos corredores.

Conhecendo os métodos e exercícios utilizados no preparo dos corredores, faça uma reflexão sobre
como o atletismo pode contribuir para as demais modalidades esportivas relacionadas à corrida.

Resumo

As corridas no atletismo representam uma das formas naturais de


o homem se locomover do modo mais rápido possível.

Como uma competição, as corridas foram praticadas em 776 a.C.


nos primeiros jogos olímpicos da Grécia Antiga. Houve uma prova de
velocidade de 192 metros, que correspondia a uma volta no estádio, e nos
jogos seguintes os organizadores foram acrescentando outras distâncias e
a modalidade foi evoluindo.

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ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

Nos tempos modernos, os ingleses foram os primeiros a demonstrar


interesse pela prática das corridas longas, e a partir do século XVIII
começaram a ser praticadas em outros países.

Hoje as corridas oficiais, disputadas em pista, variam de 100 a 10.000


metros e são organizadas de acordo com suas características técnicas e
fisiológicas, o que envolve uma classificação especial.

Essa classificação é identificada quanto à organização, ao


desenvolvimento, ao ritmo, ao esforço fisiológico, além das provas de rua,
que são as mais longas, as corridas em pista coberta (indoor) e, finalmente,
as provas de marcha.

Todos os seres humanos possuem uma maneira própria para usar


esses recursos naturais de locomoção, porém, quando se trata de correr
em disputas esportivas, alguns detalhes técnicos devem ser observados,
porque proporcionam uma forma mais produtiva de se percorrer
a distância desejada.

Comparando a corrida com a marcha (andar), a diferença principal é:


ao andar, o corpo sempre está em contato com o chão através dos pés;
quando corre, há um momento em que o corpo está totalmente no ar,
o que caracteriza uma fase aérea em cada passada.

Além desse detalhe, algumas regras importantes devem ser observadas,


como a descontração, o equilíbrio, a coordenação e a eficácia. Para utilizá‑las
com uma boa técnica de corrida, alguns pontos são fundamentais, como a
ação total do corpo, seu ângulo de inclinação, o movimento dos braços e
das pernas e a colocação dos pés no solo.

Na técnica das corridas de velocidade, que compreendem distâncias


de 50 a 400 metros e que envolvem a velocidade pura (inata), é preciso
considerar outras variantes, como: a velocidade de reação, de movimentos
cíclicos e a de força. O treinamento dessas variantes compõem a preparação
do velocista, que se completa com a preparação técnica.

A técnica de todas as corridas é dividida em fases e o treinamento deve


contemplar todas elas, como a saída, o desenvolvimento e a chegada. Essas
mesmas ponderações são também observadas para as corridas de meio
fundo, fundo e grande fundo.

Cada uma dessas provas é disputada com regras oficiais específicas,


as quais devem ser de conhecimento do professor, do técnico e do
próprio corredor.
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Unidade II

Na metodologia para o ensino, a execução e preparação do corredor, são


selecionados exercícios voltados para a melhora do desempenho técnico e
físico, daí a necessidade do conhecimento técnico de cada uma das provas
para poder analisar as deficiências. Então, com base nas observações, é
possível destacar exercícios adequados às devidas exigências.

Exercícios

Questão 1. Na figura a seguir, são apresentadas as formas de pisada utilizadas na técnica das
principais distâncias de competições oficiais.

A) B) C)

Considere os aspectos técnicos relevantes referentes à fase de apoio dos diferentes tipos de corrida
e relacione as figuras indicadas com as afirmativas a seguir:

I – A figura A demonstra a entrada do pé de uma corrida de velocidade; esta entrada possibilita


maior impulso e maiores agilidade e frequência de passadas.

II – As figuras B e C caracterizam as entradas das corridas de fundo com mais de 1500 m, pois no
meio do pé ou no calcanhar a amplitude de passada é a mesma.

III – A figura C caracteriza a entrada das corridas de fundo, pois favorecem passadas com menores
amplitudes e tronco mais ereto.

IV – A figura B caracteriza a entrada das corridas de velocidade, pois neste movimento a musculatura
da perna e da coxa é capaz de reagir com maior potência.

V – A figura B caracteriza as entradas das corridas de meio fundo entre 800 e 1500 m.

É correto apenas o que se destaca nas afirmativas:

A) I, II e III.

B) I, II e V.

C) I, III e V.

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ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

D) I, II e IV.

E) II, III e V.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: a entrada no solo com o antepé possibilita uma corrida com o tronco mais inclinado
para frente e com mais impulso, características da corrida de velocidade.

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a figura C demonstra a entrada do pé nas corridas de fundo e a figura B caracteriza a


técnica de entrada da passada de provas de meio fundo.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: a figura C caracteriza a técnica de entrada da passada de corridas de fundo quando a


amplitude é menor; o joelho se eleva menos e o corpo fica mais ereto.

IV – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a entrada com o meio do pé é uma técnica das corridas de meio fundo, que permitem
maior estabilidade do corpo, passadas fortes e controladas, com moderada amplitude e frequência.

V – Afirmativa correta.

Justificativa: a figura B caracteriza provas de meio fundo, 800 e 1500 m, em que o corpo fica mais
relaxado e não se inclina muito para frente.

Questão 2. Existem duas provas de corridas de revezamento disputadas em pista: a de 4x100 metros
e a de 4x400 metros. As equipes de revezamento são compostas de quatro corredores, os quais percorrem
uma distância semelhante (100 ou 400 metros), conduzindo um bastão.

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Unidade II

Zona Zona de
Handcap opcional passagem

Raia Raia

Segunda Primeira
zona zona
2 1 2 1

1 2 Raia 1
Terceira Linha de
zona saída/chegada

A respeito das regras e técnicas das corridas de revezamento, pode-se afirmar que:

I – A passagem do bastão ocorre dentro da zona de passagem. Ao ver o companheiro de equipe


passar pelo handcap, o receptor começa a correr para que na zona de passagem os dois atletas estejam
na mesma velocidade.

II – Nas provas de revezamento 4x100 m e 4x400 m, os corredores devem se manter sempre dentro
de sua raia.

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ATLETISMO: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS

III – Na prova de 4x100 m, existem três zonas de passagem. A primeira utilizada pelo primeiro e
segundo corredor; a segunda zona, para o segundo e terceiro corredor; a terceira e última zona, para a
entrega do bastão do terceiro para o quarto corredor, que finaliza a prova.

IV – Ao corredor que vai receber o bastão é permitido iniciar sua corrida a 10 metros antes do início
da zona de passagem. Essa zona de 10 metros que antecede a de passagem é chamada de zona opcional
e nela já pode ocorrer a troca do bastão.

V – Em provas de alto rendimento, a passagem do bastão é feita às cegas, quando os dois corredores
estão correndo em velocidade máxima. Caso o corredor da frente precisar olhar para trás, terá que
diminuir a velocidade, comprometendo o resultado da equipe.

É correto apenas o que se destaca nas afirmativas:

A) I, II e III.

B) I, II e V.

C) II, III e V.

D) I, II e IV.

E) I, III e V.

Resposta desta questão na plataforma.

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