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IV Unidade: Técnicas de colheita de dados

No entanto, os métodos de colecta de dados, que tradicionalmente são baseados em observações,


entrevistas e documentos, agora incluem um vasto leque de materiais, como sons, e-mails, álbum
de recortes e outras formas emergentes. As técnicas de recolha de dados possuem conjuntos de
procedimentos bem definidos, dos mais gerais aos mais específicos, todos destinados a produzir
certos resultados na colecta e no tratamento da informação requerida pela actividade
investigativa.

1. A tipologia dos dados

Antes de entrar em campo, os pesquisadores planejam sua colecta de dados. A proposta deve
identificar que tipo de dados o pesquisador vai registrar e os procedimentos para registrá-los. Na
interpretação de dados deveremos produzir um resumo verbal ou numérico ou usar métodos
gráficos para descrever as suas principais características. Mas, o método mais apropriado
dependerá da natureza dos dados, em que podemos distinguir dois tipos fundamentais: os dados
qualitativos e os dados quantitativos.

 Dados qualitativos: Os dados qualitativos representam a informação que identifica


alguma qualidade, categoria ou característica, não susceptível de medida, mas de
classificação, assumindo várias modalidades.
 Dados quantitativos: Os dados quantitativos representam informação resultante de
características susceptíveis de serem medidas, apresentando-se com diferentes
intensidades, podendo ser de natureza descontínua (ou discreta) ou contínua.

2. Técnicas de colheita de dados

Em cada uma das técnicas, é preciso mencionar que há adequações procedimentais quanto ao
tipo de dado, podendo ser qualitativo/quantitativo ou documental/não-documental. Essas
diferenças implicam processos distintos em uma investigação científica.

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2-Técnicas Não-Documentais

2.1 Observação

A observação é sistematicamente organizada em fases, aspectos, lugares e pessoas, relaciona-se


com proposições e teorias sociais, perspectivas científicas e explicações profundas e é submetida
ao controle de veracidade, objetividade, fiabilidade e precisão.

O método de recolha de dados por observação é um método em que o investigador observa os


participantes no seu ambiente natural ou contextos “artificiais” criados para o efeito, como os
laboratórios. É uma estratégia muito valorizada na investigação, já que nem sempre o que as
pessoas dizem que fazem é aquilo que realmente executam. Este método (ou conjunto de
métodos) pode ser utilizado quer em investigação quantitativa, quer em investigação qualitativa,
dependendo do processo utilizado:

Observação Quantitativa: Neste caso, o processo de recolha de dados é completamente


normalizado, tudo é planejadamente regularizado (quem e o que se observa), existindo grelhas
padronizadas de registro, como na utilização de procedimentos de amostragem ou de ocorrência
de determinado comportamento. Tais procedimentos requerem uma observação estruturada, ou
seja, observação em que o observador sabe o que procura e o que considera importante e para
isso utiliza instrumentos técnicos específicos para a recolha de dados ou dos fenômenos a
observar. Estes procedimentos são muito utilizados, por exemplo, na observação de
comportamentos de docentes e aprendizes em sala de aula.

Observação Qualitativa: Este tipo de abordagem tem um carácter mais exploratório e aberto no
acto do investigador efetuar anotações de campo, ou seja, uma observação não-estruturada.
Nesse caso, o investigador pode assumir papeis diferentes, dependendo dos objetivos que ele
pretende atingir, podendo ser mais ou menos participante nesse contexto (participante completo,
participante-como-observador, observador-como-participante ou completamente observador).
Logo, o observador qualitativo também pode se envolver em papéis que variam de não-
participante até integralmente participante.

2.2 Entrevista

A entrevista compreende o desenvolvimento de uma interacção de significados em que as


características pessoais do entrevistador e do entrevistado influenciam decisivamente em seu
curso: “A entrevista nasce da necessidade que o investigador tem de conhecer o sentido que os
sujeitos dão aos seus atos e o acesso a esse conhecimento profundo e complexo é proporcionado
pelos discursos enunciados pelos sujeitos.

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Trata-se de um recurso delicado, em que o entrevistador tem de conseguir criar uma atmosfera de
confiança com o entrevistado, caso contrário, os resultados obtidos vão ter pouca credibilidade. 
Existem três características básicas que podem diferenciar as entrevistas:

 As entrevistas desenvolvidas entre duas pessoas ou com um grupo;


 As entrevistas que abarcam um amplo conjunto de temas (biográficas) ou que incide em
um só tema (monotemáticas); 

 As entrevistas que se diferenciam consoante o maior ou menor grau de predeterminação


ou de estruturação das questões abordadas.

Nessa última característica incide o fato de a entrevista poder ser atrelada a um método
quantitativo ou qualitativo:
 
Entrevistas Quantitativas: São entrevistas padronizadas ou estruturadas, que usam questões
fechadas em que o entrevistado tem um protocolo de entrevista que é aplicado a todos os
participantes. Nesse caso, o protocolo de entrevista é muito semelhante a um questionário, sendo
que a principal diferença é que as questões são lidas pelo entrevistador (típico nas entrevistas
presenciais ou telefônicas).
 
Entrevista Qualitativa: São entrevistas baseadas em perguntas abertas, podendo estas
dividirem-se em 3 tipos: conversação informal (mais ou menos estruturada), guia de
entrevista/semi-estruturada (inclui um protocolo, que não tem de ser aplicado de forma
ordenada), aberta padronizada, em que a formulação das questões pode ser alterada, bastando
para tanto que se extraia as visões e as opiniões dos participantes. Ou seja, não se trata de um
simples registro de falas já que “o papel do entrevistador deve ser reflexivo, pois a renegociação
permanente das regras implícitas ao longo da interacção conduz à produção de um discurso
polifónico.

O protocolo de entrevista pode incluir os seguintes componentes  básicos: cabeçalho,


instruções iniciais para o entrevistador, as principais questões de pesquisa, instruções para
aprofundar as principais perguntas, questões alternativas para o entrevistador, espaço para
registrar os comentários  e espaço no qual o pesquisador registra notas reflexivas.”

2.3 Questionário

O questionário, um dos métodos mais usados na área dos estudos educacionais, é um instrumento
de recolha de dados por meio de um numero limitado de perguntas que são autopreenchidas
pelos participantes. Como muitas questões são mais abstratas e não podem ser respondidas
binariamente, ou seja, por meio de sim e não, foi construída as escalas de Linkert, em que o
sujeito pesquisado pode responder levando em conta os critérios objetivos e subjetivos dos
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questionamentos realizados. Normalmente, o que se deseja medir é o nível de concordância ou
não concordância à afirmação. O formato típico das escalas de Likert é constituído por 5 níveis: 

 Não concordo totalmente


 Não concordo parcialmente

 Indiferente

 Concordo parcialmente

 Concordo totalmente

2.4 Testes

Esta técnica de recolha de dados está relacionada com a investigação quantitativa, uma vez que
os objectivos deste tipo de investigação se concentram principalmente com a “testagem” de
hipóteses e de correlações estatísticas e causais entre fatos. É considerada uma técnica poderosa,
visto que existem inúmeros testes validados, de domínio público, que permitem a recolha de
dados numéricos. O recurso a esta técnica incluem testes, cujas características apresentam pontos
em comum, nomeadamente as medidas padronizadas, como nos testes de aptidão e de
personalidade.

2.5 Estudo de Caso

O estudo de caso é um dos mais relevantes métodos de pesquisa qualitativa. Este recurso consiste
em uma pesquisa sobre um determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade que seja
representativo de um determinado espaço e tempo, com o intuito de examinar aspectos variados
da vida. Essa modalidade pode ser dividida em várias etapas como: formulação do problema,
definição da unidade-caso, determinação do número de casos, elaboração do protocolo, colecta
de dados, avaliação e análise dos dados e preparação do relatório. Com relação à colecta de
dados, o método de estudo de caso pode ser considerado o mais completo dentre todos os outros,
pois se vale tanto de dados de pessoas quanto de dados documentais. Assim, sãolll inúmeros os
estudos que podem ser classificados sob essa técnica.

3 Técnicas Documentaisl

Pode-se levantar dois tipos de documentos a serem pesquisados para a recolha de dados: os
documentos oficiais e os documentos pessoais. Os documentos oficiais proporcionam
“informação sobre as organizações, a aplicação da autoridade, o poder das instituições
educativas, estilos de liderança, forma de comunicação com os diferentes actores da comunidade
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educativa, etc. Já os documentos pessoais integram as narrações produzidas pelos sujeitos que
descrevem as suas próprias acções, experiências, crenças, etc.

3.1 História de Vida

A história de vida é um tipo de relato que apresenta um carácter geral e é suscitada pelo
investigador para fazer “uma análise da realidade vivida pelos sujeitos, conhecer a cultura de um
grupo humano ou compreender aspectos básicos do comportamento humano e das instituições.
As fases mais importantes de análise da informação são: 1) depois de produzidos e registados, os
relatos são transcritos e analisados; 2) através da leitura do documento, o protagonista corrige,
completa e interpreta a sua narrativa sob a orientação do investigador e a seguir, auto-critica-a.

3.2 Material Audiovisual

A técnica denominada Photovoice, por exemplo, envolve um processo que utiliza imagens


fotográficas captadas pelos participantes da investigação de pessoas com baixo poder sócio-
econômico, em que se procura avaliar as necessidades de uma comunidade e induzir a mudança
por meio da veiculação da informação aos responsáveis políticos. Por meio da documentação
sobre o próprio mundo dos participantes torna-se possível discutir criticamente com os
responsáveis políticos as imagens produzidas pelos participantes, e estes podem assim lançar
bases para uma mudança social. O método Photovoice tem como premissa teórica os pilares da
fotografia documental baseada na comunidade, sobretudo no que se refere à voz e à participação
dos vulneráveis. Para mais informações sobre esta técnica acesse https://photovoice.org/

3.3 Análise Documental 

A análise documental, nos remete à conexão interactiva de três tipos de actividades: redução,
exposição e extração de conclusões: “A redução de dados implica a selecção, focalização,
abstracção e transformação da informação bruta para a formulação de hipóteses de trabalho ou
conclusões. A redução de dados realiza-se constantemente ao longo de toda a investigação. Estes
dados podem ser reduzidos e transformados, quantitativa ou qualitativamente, de forma
diferente. Neste último caso, utilizam-se códigos, resumos, memorandos, metáforas, etc”. Nesse
sentido, a técnica da análise documental é caracterizada por um processo dinâmico ao permitir
representar o conteúdo documental de uma forma distinta da original, gerando assim um novo
documento. Ou seja, essa técnica permite criar uma informação nova (secundária) fundamentada
no estudo das fontes de informação primária, em um processo que relaciona a descrição
bibliográfica, a classificação, a elaboração de anotações e de resumos, e a transcrição técnico-
científica.

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Para além dos documentos escritos, esta técnica é também aplicada sobre imagens (fotografias,
pinturas, mapas), sobre áudio (músicas) e sobre documentos audiovisuais (vídeos). Com as
tecnologias da informação e comunicação cada vez mais difundidas na sociedade, os conteúdos
digitais também são documentos utilizados pelos investigadores. O processo de validação dos
dados provenientes desta variada fonte documental engloba, no entanto, o controle da
credibilidade dos documentos e das informações que eles contêm, chamando a atenção
especialmente para as informações contidas na Internet, onde a questão da autoria, credibilidade
e autenticidade é por muitas vezes difícil de ser estabelecida.

4. Triangulações de métodos: uma necessidade

Segundo Creswell, a investigação hoje é menos quantitativa versus qualitativa e mais sobre


como as práticas de pesquisa se posicionam em algum lugar em uma linha contínua entre as
duas. Porém, as estratégias mistas ainda são menos conhecidas do que as análises quantitativas
ou qualitativas.

O conceito de reunir diferentes métodos provavelmente teve origem em 1959, quando Campbell
e Fiske usaram métodos múltiplos para estudar a validade das características psicológicas. Eles
encorajaram outros a empregar seu ‘modelo multimétodo’ para examinar técnicas múltiplas de
colecta de dados em um estudo. Isso gerou outros métodos mistos, e logo técnicas associadas a
métodos de campo, como observações e entrevistas (dados qualitativos), que foram combinadas
com estudos tradicionais (dados quantitativos)”.

Nascia dessa forma a triangulação das fontes de dados como um meio para buscar convergências
entre os métodos qualitativos e quantitativos. A partir dessa triangulação de métodos surgiram
razões adicionais para reunir diferentes tipos de dados, pois os resultados de um método podem
ajudar a desenvolver ou informar outro método: “um método pode ser melhor acomodado dentro
de outro método para gerar informações em diferentes níveis ou unidades de análise. Ou os
métodos podem servir a um objectivo transformador maior, para mudar e defender grupos
marginalizados, como mulheres, minorias étnicas/raciais, membros de comunidades gays e
lésbicas, pessoas com deficiências e os pobres.

Há, ainda segundo Creswell (2007, p. 32), estratégias gerais de triangulação que merecem
menção:

 Procedimentos sequenciais,  nos quais os pesquisadores tentam elaborar ou expandir os


resultados de um método com outro método. Isso pode significar começar com um
método qualitativo para fins exploratórios e continuar com um método quantitativo
usando uma amostra maior, de forma que o pesquisador possa generalizar os resultados
para uma população;
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 Procedimentos concomitantes,  nos quais o pesquisador faz a convergência de dados
quantitativos e qualitativos a fim de obter uma análise ampla do problema de pesquisa.
Nesse projecto, o investigador colecta as duas formas de dados ao mesmo tempo durante
o estudo e depois integra as informações na interpretação dos resultados gerais;

 Procedimentos transformadores,  no qual o pesquisador usa uma lente teórica, em


perspectiva integradora, dentro de um projecto que contenha dados quantitativos e
qualitativos. Essa lente fornece uma estrutura para tópicos de interesse, métodos de
colecta de dados e resultados ou mudanças previstos pelo estudo. Dentro dessa lente pode
estar um método de colecta de dados que envolva uma técnica sequencial ou
concomitante.

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