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mitológicas, marinhas, batalhas, bodegones e floreiros, etc. Tudo passou, com a morte
de D. Estêvão, para a posse de sua filha D. Eugénia de Meneses da Silva (1731-1788),
6a condessa de Tarouca, casada com Manuel Teles da Silva, 6o conde de Vila Maior.
Embora uma grande parte da colecção não seja hoje localizável, existem ainda várias
peças que poderão ser identificadas. Do que se trata nesta comunicação, além de fixar Sigilografia, sociabilidade e
autorias, seriar criterios e propor identidades, é a possibilidade de avaliar, em termos
gerais, o gosto estético de um grande diplomata-coleccionador português do século representação do poder: um sinete
XVIII, mostrando que, ao contrário do que muitas vezes se pensa, o mercado nacional
das artes não se limitava à iniciativa régia. de Alexandre de Gusmão
Miguel Metelo SEIXAS
(CHAM e Instituto de Estudos Medievais, Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Universidade dos Açores)
Tiago C. P. dos Reis Miranda
(CHAM, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa,
Universidade dos Açores)

Tal como o da heráldica, o estudo da sigilografia padece do predomínio do período


medieval sobre os subsequentes e de uma certa predilecção pelas análises tipológicas
e simbólicas em detrimento de outras abordagens, como as que relacionam o uso
desses emblemas como formas de auto-representação e comunicação. Longe, porém,
de escassearem a partir da Época Moderna, tanto as práticas heráldicas como o uso
de selos continuaram a manifestar-se com intensidade. Decerto, com formas, cargas
semióticas e objectivos diferentes dos que haviam tido na Idade Média.
Originalmente entendidos e usados como forma de autenticação de documen-
tos, os selos foram perdendo tal utilidade na medida em que se vulgarizou, em sua
substituição, o recurso à assinatura autógrafa. Mas pela sua natureza de emblemas
gráficos, entendidos como signos, os selos sempre conjugaram a função autenticadora
com outra, não menos importante: a de representação abstracta do sigilante, usada
como forma de comunicação dessa imagem aos destinatários e potenciais observa-
dores do documento em que o selo se inscrevia. Nesse sentido, o selo era assumido
simultaneamente como elemento identitário e como recurso para a construção da
imagem social do sigilante. E, por decorrência, para perpetuação da sua memória.
Se a primeira função, de natureza autenticadora, veio a declinar por força da emer-
gência de outros recursos, as segundas, de teor representativo e comunicacional,
mantiveram-se redivivas.
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A relação dos selos com a construção da identidade e da memória foi assinalada O primeiro Secretario português, resultante da conjugação de preceitos e datas de
desde os tempos da Antiguidade grega. Platão usou-a como metáfora para exemplificar origens diversas (5), foi impresso em 1745 e reeditado com inusitada frequência até
a fixação do conhecimento na mente humana: à segunda década do século XIX. Nele assim se descrevem os procedimentos para o
uso de selos:
“Sócrates — [...] supõe que, tendo em vista o argumento, que nas nossas almas há uma
espécie de bloco de cera que recebe as impressões; num, maior, noutro, mais pequeno, “[...] Fechará o Secretario a Carta em meya folha de papel da mesma qualidade. Por-
noutro, da cera mais pura, noutro, mais suja, nuns de cera mais dura, noutros, mais -lhe-ha Sinete, que será pequeno, se a pessoa for superior, mayor alguma cousa, se
líquida, nalguns, mais apropriada. for igual, e grande, se for inferior. Isto entende-se se a Carta for para fóra da terra;
Teeteto — Suponho.
 que se for para a mesma parte, de donde o Secretario escreve, raras vezes se usa de
Sócrates — Digamos que é uma prenda da Memória, a mãe das Musas, e que, se Signete. Sendo para fòra da terra, será o Sobrescrito ao largo, de sorte que a obrêa
quisermos recordar algo – entre o que vimos, ouvimos, ou pensamos nós próprios –, fique para baixo: se for para pessoa, que esteja na mesma terra, será o Sobrescrito ao
tomamos impressões nesse mesmo bloco de cera e colocamos a cera sob as sensações alto, e ficará a obrêa para a parte direita. Nelle, além do tratamento, porá o principal
e os pensamentos, como se estivéssemos imprimindo um sinete. Aquilo cuja impressão titulo, dignidade, ou emprego, que tiver a pessoa, a quem escrever: e se a Carta for
é fixada, recordamo-lo e sabemos, enquanto a sua imagem permanecer; por sua vez, para fòra da terra, porá tambem em baixo a parte, onde a tal pessoa assiste; a fim de
o que é apagado ou não pode ser impresso, esquece-se e não se sabe.
 que a Carta lhe possa ser entregue” (6).
Teeteto — Suponhamos assim.

Sócrates — Aquele que sabe essas coisas, mas está a examinar algo do que vê e ouve, O selo que surge na carta de Alexandre de Gusmão é de lacre vermelho, de for-
considera se dessa maneira poderia estar a opinar falsidades.
[...]” (1). mato redondo e dimensões aparentemente reduzidas (c. 13,5 x 15 mm), mas, de facto,
muito usuais, se comparadas com as dos outros sigilos do mesmo conjunto. O centro
da composição é ocupado por um escudo, também ele de formato redondo, contendo
Este trecho de Platão lida com as questões da percepção, da construção da memória um campo percorrido por traços horizontais, correspondem à representação da cor
e do falso julgamento, usando a metáfora da cera mole para a mente humana, e do azul, segundo o código heráldico coevo, de invenção tradicionalmente atribuída ao
sinete para as impressões que nela se gravam, de modo a serem depois recordadas. polígrafo jesuíta Silvestro Pietra Santa (7). O brasonamento das armas de Alexandre
As mesmas questões colocam- se de forma acutilante na análise de um selo utilizado de Gusmão será pois: de azul, uma banda carregada de uma serpente e acompanhada
por Alexandre de Gusmão, que parece gravar ou insinuar na mente do observador de duas caldeiras carregadas de faixas veiradas e com asas serpentiformes. O escudo
uma determinada imagem. Apesar de já conhecido há alguns anos (2), trata-se de um é ladeado por duas volutas com carrancas de feição grotesca e encimado por um
registo que permanece por analisar; e, não se sabendo o paradeiro dos dois retratos coronel de marquês, assente numa pequena voluta.
coevos do mesmo personagem arrolados entre os bens da embaixada de Portugal na A observação do conjunto heráldico presente no selo de Alexandre de Gusmão
Santa Sé (3), este registo iconográfico merece especial atenção. permite recordar, desde logo, a dualidade de códigos de que usualmente se compõem
O selo encontra-se na correspondência de Francisco Mendes de Góis, indivíduo de as insígnias heráldicas pós-medievais. A partir do século XV, mais do que um código
sangue cristão-novo, agente do rei de Portugal em Paris, fazendo aí as vezes de seu de reconhecimento individual ou familiar, os emblemas heráldicos começaram a formar
encarregado de negócios, na ausência de qualquer outro chefe de missão. Conserva- um conjunto em busca de coerência e de inter-relação. Do ponto de vista simbólico,
do no núcleo do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Torre do Tombo (4), esse esses objectivos foram moldados pela construção de um discurso nobiliárquico em
conjunto de cartas tem a particularidade de não ter sofrido um trâmite arquivístico que se fundiam a ética cavaleiresca e o ideal de cruzada. No mundo português, tal
institucional sistemático, ou seja, parece relativamente “congelado”, possibilitando um discurso fazia sentido, principalmente, quando acompanhado do envolvimento na
acesso invulgar às práticas epistolares de destacadas figuras da sociedade portuguesa expansão ultramarina, para a qual se via transposto o princípio de luta contra o in-
de meados do século XVIII. fiel, e que, por isso, servia como fonte de glória e de reconhecimento pelos pares (8).
Um dos aspectos sobre as quais se podem recolher diversos tipos de informações Quer o empreendimento ultramarino, quer a fama almejada pressupunham, no
relevantes é o do uso concreto dos sinetes. Convirá saber, por exemplo, em que medida entanto, a observação de um outro valor: o da fidelidade à Coroa, considerada como
os variados conselhos que a esse respeito se encontram nos manuais de epistolografia motor principal, em simultâneo, da expansão e do reconhecimento devido a cada
foram de facto obedecidos.
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estirpe. A heráldica funcionou como código visual expressivo dessa realidade. Daí de “encerramento”, deixando praticamente de se verificar a criação de armas novas
adveio a gradual integração dos emblemas num referente comum, patrocinado pela e estabilizando-se a ligação entre os emblemas registados nos armoriais “oficiais”
Coroa, que, por via dos oficiais de armas e da produção de cartas de brasão e de e os respectivos apelidos: em vez de continuar a renovar os seus sinais, a heráldica
armoriais, assumiu o papel de autoridade heráldica. Daí decorreu também a necessi- do Antigo Regime limitou-se a produzir variações das conjugações possíveis de ele-
dade de introduzir nas armas elementos expressivos das dignidades, dos cargos, das mentos pré-existentes. O léxico cristalizou-se. E apenas passaram a ocorrer variações
honrarias. Longe de banir o antigo código, contudo, tais elementos novos vieram sintácticas.
sobrepor-se-lhe, dando assim origem à heráldica moderna, fenómeno sincrético do Fenómeno que ainda aguarda explicação mais exaustiva, pelo seu enquadramento
ponto de vista semiológico. Outra consequência fundamental foi o crescente enten- em processos de mobilidade social.
dimento da heráldica como manifestação por excelência da nobreza; na verdade, tal No Antigo Regime, fosse por meio de enriquecimento monetário, de aquisição
entendimento tornou-se dominante desde o século XVI, e não obstante muitas outras de “ciência” ou de exercício de cargos nobilitantes, os trajectos de ascensão social
entidades continuarem a fazer uso de armas. tendiam a desembocar na actuação do rei como concessor da graça da nobilitação.
Deste modo, nas armas modernas, passaram a coexistir, como observa Alessandro Mas dentro do quadro mental vigente a partir de finais do século XVI, a graça régia
Savorelli, dois códigos justapostos, em certa medida incongruentes: aquele que se não se exercia em nome do reconhecimento de uma mudança abrupta de estado,
reportava ao interior do escudo, e que desempenhava um papel essencialmente iden- procurando antes evidenciar-se como confirmação de um longo processo ou, melhor
tificativo, sem que essa sua carga semiótica implicasse ausência forçosa de leituras ainda, da reposição de uma condição latente, injustamente esquecida. Tratava-se do
simbólicas; e o conjunto dos elementos exteriores, que preenchiam um papel de repre- exercício da missão régia de “justiça retributiva” (10). As cartas de armas serviam,
sentação da dignidade social (9). Esses dois códigos divergiam em muitos sentidos. A nesse caso, como instrumento privilegiado da graça real. Por isso, elas evitavam a
gramática do primeiro, referente ao conteúdo do escudo, articulava-se com as normas todo o custo (e com excepção apenas de situações extremas, em que se tornasse im-
instituídas nos tratados de armaria e com práticas de base consuetudinária, algumas possível disfarçar o carácter abrupto da ascensão social) conferir armas novas, que
delas herdadas dos tempos primitivos das insígnias medievais. Embora pudesse en- evidenciariam um carácter inovador pouco compatível com a ideia de reposição da
trar em diálogo com outros brasões, o conteúdo de um escudo apresentava-se como ordem natural e salientariam a brusca alteração do estado social do armígero e da
potencialmente auto-suficiente do ponto de vista morfológico, porque a sua função sua descendência. Pelo contrário, a iniciativa régia tendia a englobar os agraciados
era eminentemente abstracta e identificadora, sendo possível aproximar, a diversos nas categorias sociais dominantes já existentes, reconhecendo-lhes o direito a armas
títulos, o código visual da heráldica, do código fonético e gráfico da linguagem: daí a tradicionalmente usadas pelas linhagens da antiga nobreza.
intrincada relação entre nome e armas, ambos sinais identitários de pessoas, famílias, Para este efeito, a autoridade estatal recorria a um expediente simples: depois de
instituições. Já a gramática da segunda componente da figuração heráldica, referente reconhecer as razões sociais subjacentes ao requerimento, e aproveitando o facto
aos ornamentos exteriores ao escudo, compunha-se de elementos que só faziam sentido de o estatuto de nobreza se transmitir por qualquer ascendência (quer varonil, quer
quando integrados em classificações partilhadas e comuns ao conjunto dos utentes, e feminina), bem como a extraordinária difusão de apelidos na sociedade portuguesa
dotados de generalizado reconhecimento social. Ou, pelo menos, de reconhecimento moderna, o poder central limitava-se a estabelecer correspondência entre a ostentação
por parte dos destinatários/receptores das imagens comunicadas. dos mencionados apelidos e o direito às armas identificadoras das estirpes armoriadas
Tais parâmetros devem ser levados em consideração ao analisar a heráldica presente homófonas. Como assinala Nuno Gonçalo Monteiro, tais circunstâncias não se apli-
no selo de Alexandre de Gusmão. No interior do escudo concentra-se a mensagem cavam apenas aos processos de obtenção de cartas de brasão de armas, mas também
referente à identificação do armígero, ou seja, expectavelmente, as insígnias identifi- a uma série de outras distinções nobiliárquicas:
cativas da sua origem familiar. Aqui começam as perplexidades: as armas patentes no
selo não correspondem a nenhum ordenamento inventariado em armoriais portugueses “Acrescente-se que o facto de a nobreza simples e a fidalguia no direito português se
ou em colectâneas de cartas de brasão de armas. Desde logo, poder-se-á, portanto, transmitirem quer por via masculina, quer por via feminina, bem como a inexistência
inferir que tais armas não advinham ao armígero pelo procedimento de transliteração de controlo na utilização dos apelidos, facilitavam bastante as coisas” (11).
dos sinais tradicionalmente associados ao respectivo apelido.
Esse procedimento tornara-se usual no seio do Juízo da Nobreza a partir de fi- Desta forma, um candidato que pudesse provar o seu direito à nobreza, conforme
nais do século XVI, quando vingou na heráldica portuguesa de família uma lógica os requisitos da praxe, veria ser-lhe atribuído um escudo composto pela conjugação
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das armas das linhagens correspondentes aos apelidos usados por si ou pela sua as- da Nobreza se perdeu na sequência do terramoto de 1755, desaparecendo assim a
cendência (12). Criava-se assim a ficção de uma continuidade heráldica, radicada no hipótese de se ter a certeza quanto à totalidade das cartas de brasão exaradas pelo
próprio conceito de mobilidade social vigente no Antigo Regime. rei de armas Portugal. Conhecem-se, todavia, outras fontes para a reconstituição
Esse fenómeno poder-se-á chamar de “transmigração” das armas das antigas de semelhantes mercês: algumas foram objecto de registo em livros do Cartório de
estirpes armoriadas para as famílias em ascensão social. Não se pense, contudo, que Nobreza que chegaram aos nossos dias, ou da chancelaria régia; havia também os
a heráldica coeva de Alexandre de Gusmão se esgotava nessas práticas. Os hábitos originais das cartas de armas remetidas aos armígeros, algumas das quais se manti-
heráldicos setecentistas formavam uma realidade complexa, que conjugava as dife- veram na respectiva descendência, outras se alienaram, outras ainda se perderam ou
rentes épocas em que o sistema heráldico se fora constituindo, assim como a natureza mantêm em paradeiro desconhecido, sendo amiúde objecto de publicação avulsa (13).
de desigualdade intrínseca à organização social do Antigo Regime. Essa realidade Além disso, sobraram os armoriais coevos coligidos pelos sucessivos reformadores
heráldica multiforme apresentava então duas tendências principais: do mesmo cartório e, depois, pelo “ajudante de brasões” do último reformador, nos
quais se registaram as armas atribuídas aos apelidos da nobreza portuguesa, com o
•  um fundo antigo, de valores e práticas originários da Idade Média, que conti- cuidado de inventariar as variações conhecidas (14). Em nenhuma dessas fontes se
nuava a nortear a heráldica das famílias da aristocracia antiga, em particular as encontra referência às armas ostentadas por Alexandre de Gusmão. Acresce ainda
da alta nobreza de corte e da fidalguia de província que não tivera necessidade que, dos exemplos coevos arrolados, ressaltaria como excepção a outorga de armas
de ver confirmado o seu estatuto. Este grupo heráldico não recorria à auto- novas, em vez da recuperação das antigas armas de linhagens homónimas. Assim,
ridade heráldica dos oficiais de armas (porque não a reconhecia como válida é legítimo deduzir que as insígnias presentes no selo em estudo não radicam numa
em relação às suas insígnias? Porque não precisava dela?), i.e., à autoridade concessão específica de armas novas. Estamos, portanto, perante um enigma herál-
régia, nem se preocupava com a questão da diferenciação das armas, usadas dico: se não são armas antigas e assumidas, nem armas novas e concedidas, qual a
fundamentalmente para traduzir um parentesco alargado e a pertença a uma sua origem e natureza?
linhagem considerada ancestral, numa estrutura clânica. A esse código veio Quando se desvia a atenção do escudo para os ornamentos exteriores, esta indaga-
colar-se o uso dos elementos exteriores denotativos das dignidades e dos cargos;
 ção colhe um novo elemento justificativo de perplexidade: o coronel. Com efeito, um
•  um grupo distinto, dependente do reconhecimento, pela Coroa, da actuação observador que se guie pela legislação em vigor na época ou pelas normas glosadas em
do Juízo da Nobreza, da intervenção do escrivão da nobreza e dos oficiais tratados de armaria e de nobiliarquia coevos reconhecerá sem dificuldade ou dúvida
de armas, da existência de um instrumento documental de comprovação do que tal insígnia se apresenta na forma correspondente à dignidade de marquês (15).
direito às armas. As cartas de brasão de armas desempenhavam um papel de A legislação filipina previa duras sanções para aqueles que fizessem uso indevido de
relevo como instrumentos de reconhecimento social, funcionando como prova coronéis, tidos como usurpadores (16). Como compreender, então, o aparente abuso
de nobilitação: para ter valor aos olhos da comunidade, a nobreza tinha de ser do coronel de marquês assumido por Alexandre de Gusmão? Como explicar, também,
exibida, e as cartas de brasão de armas autorizavam precisa e expressamente a presuntiva incoerência de armas que não correspondem a nenhum ordenamento
as diversas ocasiões em que o agraciado podia patentear os sinais constantes reconhecido pela autoridade régia ou sequer consignado em armoriais de natureza
no documento, comprovativos da antiguidade e nobreza da sua família. 
 oficial ou particular?
Para tentar responder a estas perguntas, deve-se partir da constatação de que não
Verificava-se, pois, uma “mistura” ou conjugação entre práticas consuetudinárias se encontra qualquer indício de resolução na tratadística coeva. Esta propala normas
de origem diversa (tradição medieval, procedimentos burocráticos dos oficiais de que em nada se ajustam à realidade patente no sinete de Alexandre de Gusmão. Onde
armas, transposições e tabelas informais de equivalências que se tornaram habituais tentar colher, então, explicação para as suas armas? Se a literatura normativa não a
entre determinadas dignidades e sinais) e disposições normativas emanadas da Coroa. concede, é possível procurá-la nas menções a sinetes existentes na correspondência
Como se encaixariam as insígnias do selo de Alexandre de Gusmão no seio destas integrada no mesmo conjunto documental onde se encontra o selo em estudo, e nas
práticas heráldicas? Por um lado, como se viu, as armas aí presentes não obedecem circunstâncias biográficas do próprio armígero.
a qualquer ordenamento tradicional. Por outro, tampouco se conhece qualquer ins- A consulta da correspondência de Francisco Mendes de Góis permite observar a
trumento de concessão de armas novas a Alexandre de Gusmão, ou sequer de armas importância do papel dos representantes diplomáticos na satisfação de encomendas,
que correspondam à imagem representada no selo. É certo que uma parte do Cartório não só régias, mas de diversos membros da corte ou altos funcionários da Coroa.
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Alexandre de Gusmão terá tido a experiência pessoal dessa realidade nas suas perma- “As salvas que vem com as que tenho bastão por ora: castiçais ainda não tenho os
nências no estrangeiro, primeiro na corte francesa, como secretário do embaixador, e, necessr.os, assucareiro, mostardeira; bassin & aiguiére, cafeterie, & thétiere; são por ora
sobretudo, depois, como agente do rei, ainda em Paris e em Roma. Nesta qualidade, as peças de que pouco a pouco quizera fornecerme, q.do VM. vá achando encontros a
Alexandre de Gusmão colocou os seus préstimos ao serviço dos desejos sumptuários proposito, e se houvesse hum par de castiçais daqueles que servem p.a hua, 2, 3, 4, e
5 luzes por meio dos braços que se lhe acrescentão com q são mui próprios p.a meza
e artísticos da corte (17).
ou de comida ou de parede” (21).
Após o regresso a Lisboa, empregado no Paço, verifica-se que Alexandre de Gusmão
continuou a reproduzir o mesmo modelo comportamental, mas como requerente. Com
O conjunto da correspondência recebida por Francisco Mendes de Góis permite,
efeito, em várias cartas dirigidas a Francisco Mendes de Góis, o secretário régio solici-
outrossim, observar a importância do fenómeno da moda. Em carta de 1 de Janeiro
tava-lhe ajuda para diversas aquisições. Valerá a pena analisar a sequência de pedidos.
de 1727, Pedro da Mota e Silva, por exemplo, tecia grandes arrazoados sobre a im-
A 31 de Março de 1739, Gusmão manifestava interesse em reunir prataria, de-
portância de ir acompanhando as mudanças da moda e remeter sempre para a família
clarando que
real o que de melhor houvesse entre as novidades de roupa e ornamentos, rematando
“A minha caza escolastica está tão mal fornecida de tudo o que se chama prata, que se
com a seguinte máxima: “o que mais se dezeja assim nestas couzas de S.ra como em
me faz precizo tirar forças da fraqueza p.a ajuntar alguã mais necessr.a e indispensavel, todas as que a vmce se encarregão, he a novidade, e que sejamos os primeiros que as
como são salvas, castiçais, e talheres”; e justificava o seu pedido com dois argumentos: tenhamos” (22).
“suposto quem busca o precizo não atende á delicadeza dos feitios, comtudo não me Dentre as encomendas variadas de que dá conta a correspondência recebida por
acomodo m.to aos dos nossos obreiros, e de hazard he cazo raro achar aqui couza Francisco Mendes de Góis, há, no entanto, uma tipologia de objectos que se reveste
capaz, o que em Paris he mui comum” (18). de peculiar importância para o caso em estudo: a dos sinetes. Nesse sentido, a carta
do 4o conde de Unhão de 9 de Dezembro de 1744 reveste-se do maior interesse, pela
Desta forma, Gusmão revelava preferência pela ourivesaria francesa em detrimento minúcia da encomenda. O titular abria a missiva com uma declaração sobre a quali-
da nacional, ao mesmo tempo que assinala a maior (e melhor) oferta do mercado dade das peças que desejava para a sua casa e com a advertência de se tratar de uma
parisiense. A mesma carta permite ainda perceber valores e prazos de transacção, encomenda paga (não apenas de um favor, portanto):
uma vez que o comanditário estabelecia duas condições: “1.a que toda a despeza não
chegue a 300$rs, 2.a, queV.M. disponha a saca dela de sorte, que eu a não haja de “Dezejando que na minha Caza hajão signetes, não sô capazes, mas os mais bem abertos
pagar antes de 15 de Junho, porque até esse tempo não me seria m.to comodo”. que se possão executar, sò o poderey conseguir qdo VM.ce me queira fazer o favor de
A escassa correspondência entre estes dois interlocutores chegada aos nossos tomar por sua conta esta encomenda [,] sendo a primeira condição com que a faço,
dias patenteia o carácter costumeiro das encomendas, evidenciando também a sua de vir com elles a noticia do seu cu[sto] porque de outra forma os não receberey”.
diversidade: a 9 de Dezembro do mesmo ano, Gusmão acusava a recepção de uma
caixa de rapé e dois castiçais (19); e a 9 de Fevereiro do ano seguinte formulava novo Acrescentava depois uma série de características do que pretendia: sinetes de três
pedido, dessa vez de peças de mobília bem discriminadas: tamanhos diferentes, natureza e espessura dos metais, especificidades das armas a
gravar e tipo de embalagem. À semelhança Alexandre de Gusmão, também o conde
“E ja que perdoa as m.as importunações comunicarlhehei agora, que p.a hum novo se preocupava com a qualidade estética das peças pedidas, como se depreende de uma
alojam.to p.a onde me mudo me são precizos dous espelhos irmãos, que com moldura passagem sobre um selo que anteriormente lhe fora enviado: “[...] pareceme alguma
e luz tenhão de largo cinco palmos, e altura proporcionada, com duas mezas de pedra, couza grosseiro, e quando VMce ache o mesmo [,] mandeme abrir outro da mesma
de boas cores p.a por debaixo deles com seus pés de talha dourada” (20). grandeza, mas com diversa targe ou ornato” (23).
A correspondência trocada aludia também à importância de modificar os sinetes,
No Outono de 1740, Gusmão assinalava ter recebido “três caixotes em que me conforme as alterações de estatuto, as demandas ou pretensões do requerente, como
remete as mezas espelhos e peças de prata”, e declarava-se satisfeito, não deixando, se vê, mais uma vez, pelas encomendas do conde de Unhão: “Advirto a VM.ce que
contudo, de solicitar a atenção do correspondente para os objectos que continuavam quando se faça signete grande, vejão se lhe podem pòr hum Pelicano que he o timbre
a faltar-lhe, no que atingia elaborados níveis de descrição, inclusive a respeito da da Caza de Aveiro, e de Porto Seguro em que ando em demanda com boas esperanças
utilidade das peças: de a conseguir” (24).
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Em que é que o sinete de Alexandre de Gusmão se poderá relacionar com o exposto? Assinale-se, nesse sentido, um possível entendimento do coronel patente no selo em
Em primeiro lugar, como forma de adesão ao fenómeno da moda: interessa observar estudo como possível reminiscência de lugares anteriores ou uma alusão ao encargo
que Alexandre de Gusmão teve necessidade de um sinete próprio, e de que este fosse de “papelista”, “criado” e/ou “secretário” da confiança do rei.
de natureza heráldica. Tal necessidade traduzia uma forma usual de reconhecimento, De origem social mediana, Alexandre de Gusmão foi batizado na freguesia de
constituindo, pois, prática corrente, porventura imprescindível. Os sinetes ganham, São Miguel, da Vila Santos, capitania de São Paulo, em 1695, sendo o nono filho do
portanto, em ser entendidos como formas de auto- representação: na verdade, o seu cirurgião-mor Francisco Lourenço e sua mulher Maria Álvares. Os avós paternos eram
uso para validar documentos já poderia ter sido substituído pelo da assinatura, mas oriundos da freguesia de São Pedro da Queimada, do lugar de Cabanas, no termo da
esta de modo nenhum transmitiria a complexidade da imagem do sinete. vila de Guimarães. Pelo lado da mãe, era neto de António Álvares, da Vila da Feira,
Tenha-se, aliás, em atenção que o sinete não se destinava à observação apenas dos e Maria Gomes ou Maria Gomes de Gusmão, já nascida em Santos, e que, devido a
destinatários directos das cartas, mas de todos aqueles por quem elas efectivamente esse apelido, se admite ter parentesco com o célebre autor de Escola de Belem (1678,
passavam, quer nos seus trâmites rotineiros de envio e circulação, quer, porventura, 1735) e Menino Christão (1695), o jesuíta Alexandre de Gusmão (1629-1724), natural
em práticas de abertura secreta, razoavelmente difundidas na época (25). Acresce de Lisboa e fundador de um seminário a poucas léguas de Salvador, na Bahia (26).
que, no caso do sinete em análise, a sua aposição em correspondência com um repre- Boa parte dos filhos de Francisco Lourenço foram professos em ordens ou institu-
sentante português numa corte estrangeira conferia-lhe uma dimensão de exibição tos religiosos, não se lhes tendo nunca surpreendido defeitos de sangue. Por indícios
transnacional. A escolha dos elementos figurativos do sinete, sendo por regra fruto posteriores, especula-se que a família fosse também aparentada com o arcediago
da iniciativa do sigilante, constituía por natureza uma forma de se auto-retratar. Não João Monteiro Bravo, de Guimarães, que tinha, decerto, outro prestígio e uma certa
admira que Alexandre de Gusmão tivesse escolhido como elemento identificador um importância no reino (27). O que, no entanto, se sabe sem margem para dúvidas é
escudo de armas: a identificação pessoal por via heráldica correspondia a uma prática que a fortuna do jovem Alexandre começou a mudar quando na segunda metade de
usual, associando-se a um estatuto distinto. 1708 trocou o Brasil por Portugal, na companhia do seu irmão Bartolomeu Lourenço,
Desde o final da Idade Média, com efeito, num sentido lato e informal, a exibição sacerdote inaciano, já então afamado pelas suas letras (28).
de sinais heráldicos andava ligada à condição de nobreza. Dito por outras palavras, Durante alguns anos, permaneceu Alexandre no mundo da corte, sob a tutela
as pessoas de qualidade – entendendo-se como tal todos aqueles que possuíam dig- de Bartolomeu e a proteção da Casa dos marqueses de Fontes. Entre 1712 e 1714,
nidades ou exerciam cargos relevantes do ponto de vista do reconhecimento social foi para Coimbra, estudar Direito Cesáreo na Universidade. E, sem que se conheça o
– deveriam forçosamente ter armas próprias. Alexandre de Gusmão, próximo do rei motivo, viu-se logo depois escolhido como secretário do conde da Ribeira Grande na
e inserido nos mecanismos de poder da corte, dificilmente escaparia a esta lógica. A sua embaixada a Paris (1714), e agente de negócios de D. João V (1717) (29). Lá se
análise das armas figuradas no sinete pode, entretanto, revelar uma série de dados valeu da sua qualidade diplomática para obter do regente de França o privilégio de
sobre as escolhas simbólicas do armígero. pleitear na Sorbonne o grau de doutor ao fim de seis meses (30).
Em primeiro lugar, quanto ao formato redondo do escudo. Tal formato difundiu- Retornando a Lisboa, teve os seus esforços reconhecidos com o emprego no despa-
-se muito no século XVII e XVIII, por ter sido adoptado em várias expressões das cho da correspondência de Roma, a mercê do hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo
armas reais. Verifica-se assim, mais uma vez, um fenómeno de moda, que teve como e a nomeação para secretário da delegação portuguesa ao Congresso de Cambrai, que
epicentro o espaço da corte. acabou por não ter efeito, devido a diversos desdobramentos da conjuntura política
O conjunto heráldico do selo de Alexandre de Gusmão é constituído por um escu- continental (31). Em 1721, foi prosseguir em pessoa parte das suas démarches junto
do e por elementos exteriores de dois tipos: uns, meramente decorativos, as volutas da Santa Sé. Mais uma vez, teve para isso a dignidade de agente do rei, que, associada
grotescas que ladeiam o escudo, de gosto claramente classicista e muito romano; ao seu saber e argúcia, lhe facultou o estreito convívio com o melhor do mundo das
outro, com importante repercussão simbólica, que é o coronel de marquês. O uso dos letras romanas. Houve também, nessa altura, a possibilidade de estreitar relações com
coronéis de nobreza estava regulamentado, como se viu, pelas Ordenações Filipinas. alguns dos seus compatriotas do campo das artes assistentes em Roma; entre eles,
Sendo, pois, o uso patente neste sinete uma aparente infracção, impõe-se relacioná-la os compositores Francisco António de Almeida, João Rodrigues Esteves e António
com uma oficiosa equivalência heráldica existente entre as dignidades nobiliárqui- Teixeira e o pintor Francisco Vieira (Vieira Lusitano) (32).
cas originariamente simbolizadas e o exercício de certos cargos, nomeadamente as Em 1728, o corte de relações diplomáticas de Portugal com a Santa Sé levou
funções de natureza de representação diplomática e algumas funções governativas. Alexandre de Gusmão mais uma vez de regresso a Lisboa. Tornou a assumir funções
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dentro do Paço, na gestão do arquivo do gabinete do rei, na redacção de papeis rela- Como se poderá a heráldica do selo de Alexandre de Gusmão relacionar com este
tivos aos assuntos de Roma e, cada vez mais, também do Brasil. Em 1732, ingressou trajecto?
como sócio na Academia Real da História Portuguesa; e ano seguinte obteve o lugar Considere-se primeiramente a natureza das armas representadas: elas não constam
de adjunto de Martinho de Mendonça de Pina e Proença na biblioteca real (33). de nenhum armorial conhecido, nem se sabe que tenham sido objecto de concessão.
Esses anos de inquestionável ascensão cortesã parecem ter tido momentos rela- Pode portanto presumir-se que se trata de armas assumidas. Tal facto poderá causar
tivamente difíceis noutros aspectos. A desgraça do seu irmão e tutor, Bartolomeu algum espanto, na medida em que os heraldistas dedicados à Idade Moderna se têm
Lourenço, acusado de judaizante e morto em Espanha em circunstâncias muito concentrado precisamente na concessão de armas: abundam as publicações e estudos
obscuras (1724), minou a fama da sua família e ameaçou tolher-lhe qualquer ve- de cartas de brasão. Essa centragem quase obsessiva – radicada, é certo, nos preceitos
leidade de reconhecimento social mais alargado e duradouro (34). Para além disso, da tratadística coeva, que se esforçava por declarar a superioridade das armas con-
sendo um letrado ultramarino, sem morada própria em Lisboa, ao retornar das suas cedidas e registadas, em relação às espontâneas – tem provocado alguma distorção
missões no exterior teve de fazer um expressivo esforço financeiro para conseguir no entendimento do fenómeno heráldico. Encontra-se por realizar um levantamento
manter a dignidade que o seu estatuto exigia. Logo em 1728, vemo-lo, por exemplo, dos usos heráldicos setecentistas, caldeado com uma análise prosopográfica dos
a arrendar o seu ofício de escrivão da ouvidoria de Ouro Preto, na comarca de Vila armígeros, para compreender o peso relativo e o enquadramento social destes dois
Rica, e a empenhar um anel e a insígnia de cavaleiro da Ordem de Cristo, avaliados tipos de práticas (44): quem assumia armas, quem as solicitava à autoridade régia?
de 580 mil réis (35). Que critérios, em ambas as circunstâncias, levavam à escolha e eventual combinação
O tirocínio de papelista e secretário do gabinete real foi-lhe conferindo uma inti- de determinados emblemas familiares?
midade crescente com D. João V. Em 1735 tinha acesso directo à câmara do soberano À partida, de acordo com os dados disponíveis, dir-se-ia que a as armas usadas
(36). Dois anos depois, recebeu em Lisboa um seu segundo irmão jesuíta, o padre por indivíduos do meio áulico ou dos altos funcionários da Coroa se encaixavam
Inácio Rodrigues, acompanhado de irmãs e sobrinhas que queriam ser freiras (37): o preferencialmente dentro da heráldica assumida (45). Também por este critério,
que sugere o início de algum desafogo e permite entrever o desejo de retomar a hipó- Alexandre de Gusmão parece, portanto, mimetizar os comportamentos dos que se
tese da obtenção de um reconhecimento verdadeiramente universal. Nesse contexto, situavam nas imediações do poder régio ou na alta nobreza curial.
compreende-se melhor a encomenda a Francisco Mendes de Góis de uma série de 1) Quanto ao conteúdo do escudo, observa-se que, não obstante tratar-se de uma
peças de prata em segunda mão, desde que sem armas: Alexandre de Gusmão, homem criação original, parece claramente inspirado na heráldica da prestigiosa linhagem de
maduro, tinha afinal condições de montar para si uma casa fidalga. Gusmão, a que apenas nominalmente se poderia ligar a sua avó materna. Note-se que
Os melhores resultados de tão longo esforço chegariam na década de 1740, com o uso das armas de famílias homónimas não obrigava propriamente à construção de
a nomeação para os lugares de contador-mor do reino (1742) (38) e conselheiro do ficções genealógicas: era um hábito comum, desprovido de implicações desse género.
Conselho Ultramarino (1743) (39), poucos meses antes de ajustar casamento (40). Seja como for, os elementos que compõem o escudo constante do selo de Alexandre
D. Isabel Maria Teixeira Chaves, a noiva escolhida, era filha de Francisco Teixeira de Gusmão parecem ter origem dúplice.
Chaves e de D. Maria Caetana de Almada (ou Maria Caetana Ramires), e neta paterna Em primeiro lugar, observam-se referências nobilitantes retiradas da heráldica da
de Duarte Teixeira Chaves. Este fora fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de família homónima, patentes nas duas caldeiras que constituem as figuras principais
Cristo, senhor do morgado da Encarnação de Chaves, alcaide-mor da vila e castelo das armas de Gusmão. Dentro do espírito de exaltação nobiliárquica próprio dos
de Piconha, tenente-general de artilharia, governador do Rio de Janeiro, comendador tratados de armaria e armoriais da Idade Moderna, tais figuras, consideradas como
de Santa Comba dos Vales e conselheiro de capa e espada do Conselho Ultramarino oriundas dos tempos primevos da Reconquista, e típicas da heráldica peninsular,
no final do século XVII (41). Depois do consórcio (1744), Alexandre e Isabel foram representariam a capacidade de sustentar uma hoste de combate. Tal simbologia, que
viver para um palácio da propriedade dos viscondes de Asseca, em frente ao Conven- remetia para os ricos-homens medievais, vincando assim a antiguidade e poder da
to de Nossa Senhora dos Remédios, em Santos-o-Velho (42). Seguidamente, o casal linhagem, foi amplamente glosada pelos panegiristas dos Guzmán, sobretudo no caso
adquiriu ainda uma lezíria, com dependências, na Azambuja, uma quinta com casas dos duques de Medina Sidónia (a que pertenciam, não esqueçamos, o fundador da
nobres, na vila das Caldas, e teve a mercê de uma segunda, em Linda-a-Velha (43). Ordem dos Pregadores e a rainha D. Luísa, esposa de D. João IV), mas também no do
Os sonhos de ascensão social e de conquista materiais e simbólicos mais expressivos célebre valido conde-duque de Olivares. Na época de Alexandre de Gusmão, circulava
seriam, portanto, em boa parte, bem-sucedidos. abundante literatura acerca dessa interpretação simbólica (46).
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Mais uma vez, importa realçar que a assunção de figuras das armas da prestigiosa da primeira metade do século XVIII, por terem sido adoptadas (e por vezes
linhagem de Gusmão não pressupunha afirmação de parentesco efectivo: tratava-se adaptadas) por diversos ramos descendentes do velho valido. Acresce que, no
antes de uma forma de mimetismo visual. O que talvez constituísse, em simultâneo, um período em que Gusmão esteve ao serviço na biblioteca do Paço, foram descritas
dos encantos e um dos motivos de sucesso do código heráldico, capaz de proporcionar e leiloadas com grande aparato as livrarias do grande ministro francês e do
associações visuais e simbólicas sem necessidade de explicitá-las ou de justificá-las. seu sobrinho Charles-Joachim Colbert de Croissy, que possuíam largas cente-
Em segundo lugar, a serpente sobre a banda não corresponde a quaisquer refe- nas de volumes com super-libros armoriados (49). É, portanto, provável que o
rências conhecidas na heráldica portuguesa, o que torna mais difícil a compreensão papelista do rei tenha tido oportunidade de contemplar e conhecer a heráldica
das razões da sua escolha. Terá a serpente, neste contexto, sido escolhida pelo seu do ministro francês, eventualmente tomado como exemplo de ascensão social
valor simbólico? É certo que, na cultura clássica como nos bestiários medievais, eram bem-sucedida e plenamente reconhecida pela autoridade régia.
atribuídas à serpente virtudes como a sabedoria, a sapiência e a prudência (47); mas •  Considerando ainda o percurso biográfico de Alexandre de Gusmão, não será
tal não chegou para que esta figura fosse adoptada na heráldica portuguesa de família de descartar a hipótese de a serpente – símbolo, como se viu, do saber e da
(48). Terá pois vingado, entre nós, a sua simbologia negativa, de animal demoníaco, sagacidade – ter sido por ele escolhida como exemplificativa das virtudes que
tanto assim que nunca a encontramos como figura principal em nenhum brasão haviam estado na origem do seu sucesso.

português. Daí também a figuração dos seus parentes fantásticos, a serpe e a serpe •  Por fim, a serpente talvez faça sentido enquanto referência alquímica ou
alada, desprovidas da carga negativa da serpente. Como explicar, então, a escolha da maçónica, sendo certo que Alexandre de Gusmão teve estreito e continuado
serpente por parte de Alexandre de Gusmão? Não beneficiando de fontes documentais comércio com a paulista Teresa Margarida da Silva e Orta, autora de umas
que atestem directamente as razões dessa insólita opção, podem emitir-se algumas pos- herméticas Aventuras de Diófanes (50), e com o escocês William Dugood (ou
sibilidades explicativas, que se devem considerar apenas como hipóteses de trabalho:
 Duiguid), jacobita, pedreiro-livre, ourives exímio, membro da Royal Society
e encarregado em Lisboa dos instrumentos régios de matemática e física, in-
•  O pai de Alexandre de Gusmão era cirurgião da praça de Santos. Ora, desde cluindo os destinados às mediações cartográficas e à demarcação das fronteiras
a Antiguidade a serpente desempenhava o papel de animal consagrado a da América (51).
Esculápio, simbolizando o conjunto das actividades curativas. A presença
do ofídio nas armas de Alexandre poderia pois constituir uma referência Saliente-se que as hipóteses interpretativas expostas não se excluem mutuamente:
à actividade paterna. Contudo, em desabono desta possível explicação pelo contrário, uma das vantagens do código heráldico consistia no valor polissémi-
corporativo-genealógica, deve dizer-se que o desempenho desse género de co dos seus sinais e no seu carácter eventualmente pouco explícito, que facultava a
profissão não era considerado nobilitante; pelo que se poderá estranhar a es- proliferação e sobreposição de interpretações, garantindo, assim, um efeito de certo
colha de semelhante referência num emblema destinado a exibir, precisamente, mistério, exigência de procura e exercício de “engenho” – ele próprio tão adequado
as pretensões sociais do seu portador.
 à cultura “barroca”.
•  Ainda na Antiguidade greco-romana, o caduceu do deus Hermes/Mercúrio Um dos factores mais relevantes para a compreensão da escolha heráldica de
compunha-se de uma vara alada na qual se enroscavam duas serpentes; tomado Alexandre de Gusmão parece residir na transposição do modelo clássico romano.
isoladamente, o caduceu foi considerado símbolo dos mensageiros, dos enviados Essa proximidade reflecte, antes de mais, a formação cultural corrente na época e no
ou embaixadores. Nesse sentido, a escolha de Gusmão estabeleceria uma ligação meio letrado em que o armígero circulava (52). Mas na sua passagem por Roma, terá
não apenas à cultura clássica, mas também à ideia do desempenho das funções granjeado uma ligação porventura mais forte e pessoal com a memória da Antiguidade.
(estas sim, nobilitantes) que haviam estado na origem da sua ascensão social. Indício possível a esse respeito poder-se-á entrever no facto de dado aos seus filhos
•  Dentro da heráldica coetânea de Alexandre de Gusmão, há um caso célebre mais velhos dois nomes muito incomuns: Viriato e Trajano (53). Se o primeiro se explica
de escudo cuja figura principal é uma serpente: trata-se das armas concedidas pela construção historiográfica do mito do resistente da Lusitânia, fundamento étnico
por Luís XIV a Jean-Baptiste Colbert Em sinal da sua elevação à condição e heróico para a futura nação, já o segundo assume carácter inusitado e de compreen-
de nobreza, resultante da fidelidade, esforço e valor com que havia servido a são menos evidente. Quereria Trajano aludir ao modelo romano imperial, concorde
Coroa, o rei de França outorgou ao seu ministro um escudo de ouro com uma com a doutrina cesarista que ajudava a justificar o “absolutismo”? Na verdade, esse
serpente de azul em pala. Tais armas conheceram uma ampla difusão na França fim seria melhor atingido pela escolha do nome de um imperador de reputação mais
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difundida. A opção por Trajano, além de reveladora de uma formação cultural mais e pelo exercício dos cargos nobilitantes. Uma linhagem que se mantivesse afastada
erudita, deveria corresponder a objectivos simbólicos mais específicos. Com efeito, do governo da república, entendendo- se este como contributo para o bem comum,
a figura de Trajano fora retomada pelos espelhos de príncipes, desde finais da Idade deixava de ser digna da qualidade de nobre.
Média, como exemplo da caridade régia, fonte de bem-estar de todos os súbditos (54). Nos tempos do Baixo-Império, época de inequívoca centralização do poder em
Que melhor comparação se poderia querer para o imaginário do rei Magnânimo? E detrimento das velhas instituições republicanas, à dupla origem tradicional (patrícia e
que mais inequívoca (e íntima) declaração de fidelidade poderia devotar ao mesmo consular),veio juntar-se uma terceira: a da nobreza criada por vontade do imperador,
monarca o seu secretário? normalmente em decorrência do exercício de altos cargos da administração imperial. O
Se o percurso de Alexandre de Gusmão o coloca em posição de acesso directo ao ponto de viragem nesse sentido ocorreu durante o governo de Trajano. No panegírico
soberano e à sua biblioteca, gabinete e arquivo, vários outros indícios reforçam o seu dedicado que lhe dedica, Plínio o Jovem apresenta-o como conservador da nobreza
apego à matriz cultural romana. As preferências artísticas que manifesta numa das romana e, como tal, encarregado de uma dupla missão: zelar, como juiz e fiel depo-
poucas grandes encomendas que se lhe atribui, conjugam o deus Neptuno com o rio sitário, pela conservação da memória colectiva das antigas famílias, garantindo que
Tibre e o rio Tejo, numa fonte monumental da autoria de Francisco Vieira, eventual- o seu brilho se pudesse perpetuar pelo exercício dos cargos públicos, e promover e
mente guardada pelas imagens de Diana, Cidália (55) e de uma musa não nomeada, reconhecer a ascensão de novos indivíduos que se distinguissem ao serviço do impe-
com uma lira na mão (56), fazendo lembrar as três parcerias de Alexandre com o rador, tornando-os fundadores de linhagens (63). A onomástica do filho segundo de
compositor Francisco António de Almeida (57). A esse quadro, acresce ainda o gosto Alexandre de Gusmão ganha, assim, uma possível nova leitura.
pela leitura da história, então entendida como repositório de exemplos (58). Ora, o No espaço diminuto de um selo, quantas mensagens se podem inscrever! Todas
modelo nobiliárquico romano parece vir, precisamente, esclarecer o entendimento elas remetem, de uma forma ou de outra, para a imagem que o sigilante quer trans-
que levou Gusmão a assumir as armas patentes no seu sinete. mitir de si próprio, junto dos seus interlocutores e, porventura, dos vindouros. Nesse
Entre as virtudes apresentadas como fundamento da nobreza na cultura romana, sentido, as escolhas emblemáticas (e epigráficas) dos elementos figurados no selo
figura aquilo que autores como Cícero designam de ingenium, e que se poderá traduzir de Alexandre de Gusmão traduzem um percurso pessoal caldeado de imaginário,
como “engenho” ou “fineza de espírito” (59). Plínio, o Velho, num discurso fúnebre, ambições e realizações, e integrado num quadro mental que incide sobre um estrato
ao enumerar as qualidades do homem nobre, coloca-as a todas sob o signo de uma sociopolítico específico: o destes homens que desempenham funções que os colocam
virtude maior, de conotação moral, a que chama sapientia. Entende o autor, por esse em contacto directo com outras cortes e com o núcleo central do poder político do
conceito, um ideal de prudência caldeada com perspicácia, virtudes práticas, bem ao reino, incluindo o próprio rei. O sinete de Alexandre de Gusmão surge, assim, como
gosto romano, mas que não excluem uma compreensão mais abstracta, no sentido instrumento de construção e de difusão da sua imagem social, associada ao contexto
da “sabedoria” (60). Nas subsequentes listagens das virtudes próprias do nobre, surge de reinterpretação dos modelos greco-romanos, mas também ao ideal de uma nobre-
também, com um sentido semelhante, a prudentia, pela qual se entende a experiência za que se ilustra e, no limite, só se mantém pelo serviço junto do príncipe. Não por
adquirida e a moderação, qualidades essenciais para o homem de Estado, incluindo acaso, anos depois, Matias Aires Ramos da Silva de Eça, irmão de Maria Margarida
o próprio imperador (61). Aparece-lhe, ainda, associada a providentia, ou seja, a da Silva e Orta, escreveria nas suas Reflexões sobre a vaidade dos homens: “Assiste a
capacidade de previsão. Tácito confirma o carácter essencial dessas qualidades num distinção dos homens só na vontade, ou coração dos Reis; esta é a origem verdadeira
homem que queira exercer proficuamente os cargos públicos (62). da Nobreza” (64).
Mais do que as virtudes, é, no entanto, o próprio conceito de nobreza romana que Retomando as palavras platónicas iniciais, o selo de Alexandre de Gusmão foi
parece estar subjacente ao sinete de Alexandre de Gusmão. Com efeito, em Roma a no- decerto pensado para inscrever uma mensagem na mente dos que o soubessem de-
breza conheceu tradicionalmente duas origens possíveis: a patrícia, quando as famílias codificar. À falta de um testemunho verbal sobre o assunto, dificilmente se poderão
invocavam a sua pertença à primitiva aristocracia que havia dirigido os destinos da conhecer com certeza todos os ângulos da intenção que o motivou. Os que aqui se
Cidade nos tempos remotos da monarquia; e a consular, constituída pelas famílias que apresentam procuram respeitar e valorizar as reconhecidas aptidões do armígero e a
descendiam, por linha agnática, dos que haviam exercido a mais alta magistratura da sinuosidade dos símbolos por ele escolhidos.
república. Mas mesmo nos casos de preclara origem patrício-consular, o nascimento
não bastava para perpetuar a nobreza da linhagem: esta era mantida pela emulação
dos antepassados, considerados como modelos cujas virtudes deviam ser imitadas,
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164-184. Para uma comparação com o resto da Península Ibérica, voltada especialmente para a relação
entre onomástica e heráldica, veja-se, Faustino MENÉNDEZ PIDAL DE NAVASCUÉS, “Des relations entre
les armoiries et les noms de famille en Espagne et au Portugal”, in 12. Internationaler Kongreß für ge-
nealogische und heraldische Wissenschaften, München, 1974: Kongreßbericht, Estugarda, Deutsche
Arbeitsgemeinschaft genealogischer Verbände, 1978, vol. H, pp. 279-290. 


NOTAS 12)  Esta particularidade fez com que, em algumas obras de síntese da história da armaria portuguesa, esta
tenha sido classificada como uma heráldica predominantemente “de apelidos”, como propôs Rui Dique
Travassos VALDEZ, “Quelques notes sur l’héraldique des familles portugaises”, in Comunicaciones y Con-
clusiones del III Congreso Internacional de Genealogia y Heráldica. Madrid, 6 al 11 de octubre de 1955,
Madrid: Instituto Internacional de Genealogia y Heráldica, 1955, pp. 617-624. Diversos autores assinalaram,
entretanto, a necessidade de matizar esta ideia, sobretudo por questões cronológicas, pois a aplicação
de uma “heráldica de apelidos” parece confinar-se ao período entre os séculos XVI e XVIII. Veja-se, por
todos, José Guilherme Calvão BORGES, “Heráldica de Família em Portugal – Algumas singularidades (um
estudo de heráldica comparada)”, in Anais da Academia Portuguesa da História, II série, vol. 41, 2003, pp.
1)  PLATÃO, Teeteto, (trad. de Adriana Manuel Nogueira e Marcelo Boeri), 2a ed., Lisboa, Fundação Calouste 310-345, pp. 320-324. Na verdade, há que enquadrar o fenómeno na mentalidade e nas práticas vigentes:
Gulbenkian, 2008, pp. 281-283. 
 são o uso e o significado sociais das armas que constituem as causas da existência de uma “heráldica de
apelidos” no Antigo Regime português.
2)  Reprodução impressa no Boletim “Descobrimentos”, No 19, do Jornal de Letras de 29/12/1999. 

13)  De que se tem procurado fazer, recentemente, uma compilação geral: Nuno Gonçalo Pereira BORREGO
3)  BIBLIOTECA DA AJUDA (Lisboa), Ms. 49-VIII-21, fl. 308-342, cf. Tiago C. P. dos Reis MIRANDA, “Em busca de (compilação, organização e índices), Cartas de Brasão de Armas. Colectânea, s.l., Guarda-Mór, 2003; Idem
um 
rosto”, Jornal de Letras, 29/12/1999, in Boletim “Descobrimentos”, No 19, p. 4. 
 (compilação, organização e índices), Cartas de Brasão de Armas – II, s.l., Dislivro Histórica, s.d. 

4)  ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO (Lisboa), Ministério dos Negócios Estrangeiros, Cx. 1, Mos 1 a 9; 14)  Cfr. Miguel Metelo de SEIXAS, “Qual pedra íman: a matéria heráldica na produção cultural do Antigo
Cx. 
2, Mos 1 a 12, e Cx. 3, Mos 1 a 11. Para uma enumeração relativamente sumária dos remetentes, ver Luiz Regime”, Lusíada. História, série II, n.º 7, 2010, pp. 357-413. 

Teixeira de 
SAMPAYO, Estudos históricos, Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 1984, pp. 253-254.

15)  Cfr. António de Villas Boas e SAMPAYO, Nobliarchia Portuguesa, Lisboa, Francisco Villela, 1676 (reimp.,
5)  Ver João Luís LISBOA e Tiago C. P. dos Reis MIRANDA, “A cultura escrita nos espaços privados”, in José Mat- 1708), p. 216 (“Os Titulos, Duques, Marquezes, Condes, & Viscondes, em lugar de Elmo, usaõ Coronel”). 

toso, (dir.) História da vida privada em Portugal, Vol. II (“A Idade Moderna”, org. Nuno Gonçalo Montreiro),
Lisboa, Temas & 
Debates/ Círculo de Leitores, 2011, pp. 372-373. 
 16)  Ordenações Filipinas, Liv. V, Tit.o XCII. 

6)  Francisco José FREIRE, O Secretario Portuguez compendiosamente instruído no modo de escrever cartas, 17)  B.A., 49-VII-1, 49-VII-8/12 e 49-IX-21. Ver também Jaime CORTESÃO, Alexandre de Gusmão e o Tratado de
Lisboa, 
Na Officina de Antonio Isidoro da Fonseca, 1745, p. 435. 
 Madrid, 
Parte I, Tomo I, Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, 1952, pp. 164-260. 

7)  Michel Pastoureau, com argumentos judiciosos, relacionou tal criação com procedimentos postos em prá- 18)  A.N.T.T., Ministério dos Negócios Estrangeiros, Correspondência de Francisco Mendes de Góis, Cx. 3, Mo
tica por 
gravadores flamengos no princípio do século XVII, aos quais o heraldista italiano acabou por dar 3, n.º 3, 
carta de Alexandre de Gusmão para Francisco Mendes de Góis, Lisboa, 31 de Março de 1739.
notoriedade, inserindo-os numa bem-sucedida tentativa de normalização do código. Este difundiu-se pela Reproduzido em Jaime 
CORTESÃO, op. cit., Parte II, Tomo I, 1950, pp. 360-361. 

Europa a partir da primeira metade do século XVII, de forma desigual. No século seguinte, mercê da sua 19)  A.N.T.T., Ministério dos Negócios Estrangeiros, Correspondência de Francisco Mendes de Góis, Cx. 3, Mo
ampla divulgação em tratados de armaria (sobretudo aqueles que incluíam gravuras), o uso desse código 3, n.º 3, 
carta de Alexandre de Gusmão para Francisco Mendes de Góis, Lisboa, 9 de Dezembro de 1739.
passou a beneficiar de aceitação universal. Cfr. Michel PASTOUREAU, “Aux origines des hachures héraldi- Reproduzido em 
Jaime CORTESÃO, op. cit., Parte II, Tomo I, 1950, pp. 361-362. 

ques (XVe – XVIIe siècle”, in Revue Française d’Héraldique et de Sigillographie, Tomo 65, 1995, pp. 21-32.

20)  A.N.T.T., Ministério dos Negócios Estrangeiros, Correspondência de Francisco Mendes de Góis, Cx. 3, Mo 3,
8)  Cfr. Miguel Metelo de SEIXAS, “Reflexos ultramarinos na heráldica da nobreza de Portugal”, in Miguel Jas- n.º 3, 
carta de Alexandre de Gusmão para Francisco Mendes de Góis, Lisboa, 9 de Fevereiro de 1740. Mais
mins RODRIGUES, (coord.), Pequena Nobreza e Impérios Ibéricos de Antigo Regime, Lisboa, Instituto de uma vez, o comanditário expressa a forma e prazo de pagamento: “Quando VM. possa fazerme o favor de
Investigação Científica Tropical, Centro de História de Além-Mar (FCSH/UNL e Universidade dos Açores), mandar esta encomenda na primeira ocazião que se oferecer, lhe ficarei m.to obr.o, e para o gasto dela lhe
Direcção-Geral de Arquivos, 2012, pp. 1-37. 
 remeterei (logo que tirar da Caza da Moeda algum dr.o que me trouxe a ult.a frota) hũa letra de 200$rs, que
9)  Alessandro SAVORELLI, “Araldica e araldica communale: una sintesi storica”, in Miguel Metelo de SEIXAS, VM. governará como lhe parecer: se faltar p.a a conta pagarei pontualm.te, e se sobejar venha alguã peça
Maria de Lurdes ROSA (org.), Estudos de Heráldica Medieval, Lisboa, Instituto de Estudos Medievais, 2012, de prata”. Reproduzido em Jaime CORTESÃO, op. cit., Parte II, Tomo I, 1950, p. 363 e, sobre o mesmo, p. 365.

pp. 253-274. 
 21)  A.N.T.T., Ministério dos Negócios Estrangeiros, Correspondência de Francisco Mendes de Góis, Cx. 3, Mo 3,
10)  Ver, entre outros, Fernanda OLIVAL, As Ordens Militares e o Estado Moderno. Honra, mercê e venalidade n.º 9, carta de Alexandre de Gusmão para Francisco Mendes de Góis, Lisboa, 22 de Outubro de 1740. Mais
em 
Portugal (1641-1789), Lisboa, Estar, 2001, p.18, pp. 19-22. 
 uma vez atento ao ressarcimento do diplomata, o autor da carta acrescenta: “e espero a conta p.a saber
de quanto sou devedor”. Reproduzido em Jaime CORTESÃO, op. cit., Parte II, Tomo I, 1950, p. 371. 

11)  Nuno Gonçalo MONTEIRO, “Poder senhorial...”, p. 336. António Machado de Faria, baseado no seu conhe-
cimento 
das fontes de natureza heráldica e genealógica, procurou caracterizar a ligação entre apelidos 22)  A.N.T.T., Ministério dos Negócios Estrangeiros, Correspondência de Francisco Mendes de Góis, Cx. 1, Mo
e aspectos nobiliárquicos, nomeadamente a transmissão de património material e imaterial das famílias. 8, n.º 17, carta de Pedro da Mota e Silva para Francisco Mendes de Góis, Roma, 1 de Janeiro de 1727.
António Machado de FARIA, “O uso dos apelidos em Portugal”, in Brotéria, vol. LII, fasc. 2, Fev. 1951, pp. Sobre o investimento de D. João V em indumentária para a rainha e as princesas, ver, também, no mesmo
conjunto, Mos 9, 11 e 15, e as cartas de D. Mariana Vitória para a sua mãe, Isabel de Farnésio, onde se lê,
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por exemplo, que Maria Ana de Áustria recebia regulamente, em Lisboa, bonecas vestidas de acordo com a 40)  A.N.T.T., Cartórios Notariais, Lisboa, C 15 (antigo C 7-A), Liv. 608, fl. 17, e Jaime CORTESÃO, op. cit., P. I, T.
última moda de França (Caetano BEIRÃO (ed.), Cartas de D. Mariana Vitória para a sua família de Espanha, II, p. 193. 

Vol. I, Lisboa, Emprêsa Nacional de publicidade, 1936, pp. 167- 168). Sobre a revolução no mundo desde 41)  Manuel José da Costa Felgueiras GAYO, Nobiliário das Famílias de Portugal, Braga, Carvalhos de Basto,
finais do século XVII, Daniel ROCHE, La culture des apparences. Une histoire du vêtement, XVIIe-XVIIIe 1989, Vol. VIII, p. 161 (Tt.o de Pequenos, § 3, N 11); Marcelo CAETANO, op. cit., p. 107, e Jaime CORTESÃO,
siècle, Paris, Fayard, 1991. op. cit., P. I, T. II, p. 193. 

23)  A.N.T.T., Ministério dos Negócios Estrangeiros, Correspondência de Francisco Mendes de Góis, Cx. 3, Mo 11, 42)  A.N.T.T., Cartórios Notariais, Lisboa, C 15 (antigo C 7-A), Liv. 608, fl. 18, e C 3 (antigo C 11), Liv. 578, fl. 3. 

n.º 3, carta do Conde de Unhão para Francisco Mendes de Góis, Lisboa, 9 de Dezembro de 1744. 

43)  A.N.T.T., Cartórios Notariais, Lisboa, C 12 A, Liv. 477, fl. 4v; Jaime CORTESÃO, op. cit., P. I, T. II, p. 202, e
24)  A.N.T.T., Ministério dos Negócios Estrangeiros, Correspondência de Francisco Mendes de Góis, Cx. 3, Mo 11, Joaquim F. M. BOIÇA e Maria de Fátima Rombouts de BARROS, O Palácio e a Quinta dos Arciprestes, Oeiras,
n.º 3, carta do Conde de Unhão para Francisco Mendes de Góis, Lisboa, 9 de Dezembro de 1744. Para um Fundação 
Marquês de Pombal, 2007. 

surpreendente testemunho do uso que viriam a ter os sinetes mandados fazer nesse contexto, Tiago C. P.
dos Reis MIRANDA, “Proveniência, autoria e difusão”, in João Luís Lisboa, Tiago C. P. dos Reis Miranda e 44)  Tais questões já foram levantadas em Miguel Metelo de SEIXAS e João Bernardo GALVÃO-TELLES, “Privilégios
Fernanda Olival, Gazetas manuscritas da Biblioteca Pública de Évora, Vol. 2 (1732-1734), Lisboa, Edições não 
valem sem serem expressos”. A casa da Praça em Óbidos: um caso de heráldica de família nos finais
Colibri, 2005, p. 40. 
 do Antigo 
Regime”, in Dislivro Histórica, n.º 2, 2009, pp. 225-279. 

25)  Cf. João Luís LISBOA e Tiago C. P. dos Reis MIRANDA, “A cultura escrita nos espaços privados”, (...), pp. 384-386. 
 45)  Cfr. Miguel Metelo de SEIXAS, “Reflexos ultramarinos...”. 

26)  Jaime CORTESÃO, op. cit., P. I, T. I, pp. [123]-126. Diogo Barbosa MACHADO, Bibliotheca Lusitana, T. I, 46)  Cfr., entre outros, L’histoire du minstère du Comte-Duc, Colónia, Pierre van Egmongt, 1673, p. [1] (“[...]
Lisboa 
Occidental, Antonio Isidoro da Fonseca, 1741, pp. 95-96. 
 tout le monde 
connoit la grandeur de la Maison dez Guzmans [...]”); Fr. Francisco SOTA, Chronica de
los principes de Asturias y Cantabria, Madrid, Juan Garcia Infançon, 1681, p. 598; D. Antonio AGUSTIN,
27)  Jaime CORTESÃO, op. cit., P. I, T. I, pp. 126 e 127. 
 Dialogos de las armas, i linages de la Nobleza de España, ed. D. Gregorio Mayáns i Siscár, Madrid, Juan de
28)  José Soares da SILVA, Gazeta em forma de carta, T. I, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1933, pp. 8-9, e Jai- Zuñiga, 1734, p. 84, e Fr. Antonino BREMOND, De Guzmana stirpe S. Dominici fundatoris familiae fratrum
me 
CORTESÃO, op. cit., P. I, T. I, p. [155] e ss. 
 praedicatorum historica demonstatio, Romae, Hieronymi Mainardi, 1740, pp. 251-258, in maxime. O enlace
entre literatura panegírica, genealógica e épica atingiu o seu apogeu no século XVII. Cfr. Yvan LOSKOUTOFF,
29)  CORTESÃO, op. cit., P. I, T. I, pp. 164-[165] e 197. 

L’Armorial de Calliope : l’oeuvre du Père Le Moyne S. J. (1602- 1671): littérature, héraldique, spiritualité,
30)  ARCHIVES NATIONALES DE FRANCE (Paris), Parlement, Ordonnances de Louis XV, Vol. 8, fl. 139, lettre Tübingen, Gunter Narr Verlag, 2000. 

d’interstice 
à Alexandre de Gusmão, Paris, 19 de Janeiro de 1719. 

47)  Cfr. Gaston DUCHET-SUCHAUX, Michel PASTOUREAU, Le bestiaire médiéval. Dictionnaire historique et
31)  Jaime CORTESÃO, op. cit., P. I, T. I, pp. 210 e 222. 
 bibliographique, Paris, Le Léopard d’Or, 2002, pp. 131-132. 

32)  Jaime CORTESÃO, op. cit., P. I, T. I, p. 268, e Manuel Carlos BRITO, Estudos de história da música em Por- 48)  Verificam-se apenas duas ocorrências, Pedrosa e Tenreiro, reportando-se em ambos os casos a famílias
tugal, 
Lisboa, Editoral Estampa, 1989. 
 de origem galega, cuja heráldica se deve, por isso, enquadrar nos usos dessa província. Cfr. Manuel Artur
33)  Escrito do cardeal D. João da Mota e Silva ao Beneficiado António Baptista, Belém, 21 de Abril de 1738, NORTON, A Heráldica em Portugal. O armorial português de família e copiadores desaparecidos do Cartório
e Escrito do 
Beneficiado António Baptista a Alexandre de Gusmão, com resposta deste sobre o mesmo da Nobreza, Lisboa, Dislivro Histórica, 2004, vol. II, pp. 259 e 319-320. 

suporte, Lisboa, 30 e 31 de Outubro de 1738, ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO (Lisboa), Conselho 49)  Bibliothecae Colbertinae, 3 Vols., Parisiis, Gabrielem Martin et Franciscum Montalant, 1728; Catalogus
Ultramarino, Reino, Cxs. 216 e 361, respectivamente, docs. s/no; BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL Librorum Bibliothecae [...] D. D. Caroli-Ioachimi Colbert de Croissi, 2 Vols., s.l., s.n., 1740; M. DUBUISSON,
(Lisboa), Reservados, Cód., 10745, fls. 149v- 150, Jaime CORTESÃO, op. cit., P. I, T. I, pp. 327 e 334-339, Armorial des Principales Maisons e Familles du Royaume, T. I, Paris, H. L. Guerin & L. F. Delatour et alii,
e Luís Ferrand de ALMEIDA, Alexandre de Gusmão, o Brasil eo Tratado de Madrid (1735-1750), Lisboa, 1757, p. 108; Joannis GUIGARD, Armorial du Bibliophe, 1e P., Paris, Bachelin-Deflorenne, 1872, pp. 165-
Instituto Nacional de Investigação Científica; Coimbra, Centro de História da Sociedade e da Cultura da 169, e Joannis GUIGARD, Nouvel Armorial du Bibliophe, T. II, Paris, Émile Rondeau, 1890, pp. 152-156. 

Universidade de Coimbra, 1990, p. 26 e ss. 

50)  Teresa Margarida da Silva e ORTA, Aventuras de Diófanes, ed. Maria de Santa-Cruz, Lisboa, Caminho, 2002.

34)  Célia Cristina da Silva TORRES, “Bartolomeu de Gusmão e a Inquisição Portuguesa – Século XVIII”, in
51)  B.A., 49-III-20, no 5 (“Dissertação sobre os maravilhosos efeitos do magnete ou pedra de cevar, feita por
Bartolomeu Lourenço de Gusmão. O Padre Inventor, Rio de Janeiro, Andrea Jakobsson Estúdio/ UERJ,
Guilherme Dugood da Sociedade de Londres”, s.d.); FUNDAÇÃO DA CASA DE BRAGANÇA, N.N.G. (antigo
2011, pp. 75-91. 

609-II); Graça e J. S. da Silva DIAS, Os primórdios da Maçonaria em Portugal, 2a ed., Lisboa, Instituto
35)  A.N.T.T., Cartórios Notariais, Lisboa, C 3 (actual C 11), Liv. 480, fl. 43, e Liv. 482, fl. 20. 
 Nacional de Investigação Científica, 1986, Vol. II, T. I, pp. 52-53 e 75-76; António Egídio Fernandes LOJA,
36)  B.N.P., Secção de Reservados, Fundo Geral, Cód. 10746, notícias de 5 a 10 de Março de 1735. 
 A luta do poder contra a Maçonaria. Quatro perseguições no séc. XVIII, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa
da Moeda, 1986, pp. 166-169; Rómulo de CARVALHO, História do Gabinete de Física da Universidade de
37)  João Luís LISBOA, Tiago C. P. dos Reis MIRANDA e Fernanda OLIVAL, Gazetas manuscritas da Biblioteca Coimbra, Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1978, pp. 102, 180 e 184; Lilia Moritz
Pública 
de Évora, Vol. 3 (1735-1737), Lisboa, Edições Colibri, 2012, p. 296. 
 SCWARCZ e Paulo Cesar de AZEVEDO, O Livro dos livros da Real Biblioteca, São Paulo, Fundação Odebrecht,
38)  BIBLIOTECA PÚBLICA DE ÉVORA (Évora), CIV/1-10 d, folheto 51, fl. s/no, e Luiz Montez MATTOZO, Anno 2003, p. 220; Manuel Artur NORTON, D. Pedro Miguel de Almeida Portugal, Lisboa, Agência Geral do Ultra-
Noticioso 
e Histórico 1742, trans. e notas, Maria Rosalina Delgado, Lisboa, Lisóptima Edições/ Biblioteca mar, 1967, pp. 267-268; Nuno Gonçalo MONTEIRO (selecção, introdução e notas), Meu pai e meu Senhor
Nacional, 1996, p. 449. 
 muito do meu coração. Correspondência do conde de Assumar para seu pai, o marquês de Alorna, Lisboa,
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Quetzal Editores, 2000, pp. 155- 156 (referência
39)  Marcelo CAETANO, Do Conselho Ultramarino ao Conselho do Império, Lisboa, Agência Geral das Colónias,
que se agradece a Júnia Ferreira Furtado); David CONELL, “Recently identified at Burton Constable Hall.
1943, p. 
108. 

The Collection of William Dugood FRS – jeweler, scientist, freemason and spy”, Journal of the History of
288  
d i pl o ma ci a e tr a n s mi s s ã o cultural   289

Collections, 21(1), 2009, pp. 33-47, e Bruce B. HOGG, “Freemasons and the Royal Society. Alphabetic Lis of
Fellows of the Royal Society who were Freemasons”, 12 February – 20 October 2009, <http://freemasonry.
lmfm.net/os/wp- content/resources/frs_freemasons_complete_jan2010.pdf>.
52)  “Rome is familiar to the schoolboy and the statesman [...]”, como bem resumiu Edward GIBBON anos mais
tarde (Memoirs of my life, [1st ed., 1796], London, Penguin Books, 1990, p. 159). 
 Arte e Diplomacia no século
53)  A.N.T.T., Registos Paroquiais, Lisboa, Santos-o-Velho, Baptismos, Cx. 6, Liv. 17, fls. 162 e 182v-183. Do
primeiro, foram padrinhos os reis; do segundo, os príncipes do Brasil. José Freire Montarroio Mascarenhas,
chamado a testemunhar na inquirição de genere de Isabel Maria Teixeira Chaves, casada em segundas
XVIII em Portugal. A acção dos
núpcias com Belchior de Matos de Carvalho, familiar do Santo Ofício, disse ter havido ainda um outro filho
de nome romano – Sertório –, do qual não se achou, no entanto, o assento de baptismo (A.N.T.T., Tribunal embaixadores D. Luís da Cunha e
do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, Belchior, Mo 4, dilig.a 52). O terceiro filho de Alexandre de
Gusmão, nascido aos 30 de Julho de 1748, chamou-se Duarte e foi apadrinhado pelo infante D. Pedro e
a princesa da Beira (A.N.T.T., Registos Paroquiais, Lisboa, Santos-o-Velho, Baptismos, Cx. 6, Liv. 18, fl. 76). 

D. Martinho de Melo e Castro na
54)  Priscille ALADJIDI, “L’empereur Trajan: un modèle imaginaire de charité royale dans les miroirs des princes de
la fin du Moyen âge ”, in Anne-Hélène Allirot, Gilles Lecupre, Lydwine Scordia (eds.), Royautés imaginaires
encomenda das esculturas de John
(XIIe – XVI siècles), Turnhout, Brepols, 2005, pp. 53-74. 

55)  Aférese de Acidália, um dos nomes de Vénus e fonte de Beócia, onde as Graças se iam banhar. Cf. Mr.
Cheere para o Palácio de Queluz
CHOMPRÉ, Diccionario abbreviado da fabula, Lisboa, Simão Thaddeo Ferreira, 1798, subvoce Acidalia, e
João Franco BARRETO, Micrologia camoniana, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1982, p. 27. 
 (1755–1756)
56)  Jaime CORTESÃO, op. cit., P. I, T. I, pp. 268, 328 e 340. Sobre a encomenda da fonte, Luísa ARRUDA, “Desenho
e escultura”, in Vieira Lusitano, 1699-1783. O Desenho, Lisboa, Ministério da Cultura/ Museu Nacional de
Arte Antiga, 2000, pp. [163]-171. 

57)  Manuel Carlos de BRITO, op. cit., pp. 100, 111 e 123, e João Luís LISBOA, Tiago C. P. dos Reis MIRANDA Maria João NETO
e Fernanda OLIVAL, Gazetas manuscritas da Biblioteca Pública de Évora, Vol. 2, Lisboa, Edições Colibri, (ARTIS - Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras
2005, p. 193. 
 da Universidade de Lisboa)
58)  Ver Isabel Ferreira da MOTA, A Academia Real da História. Os intelectuais, o poder cultural e o poder Fernando Jorge GRILO,
monárquico no séc. XVIII, Coimbra, Minerva Coimbra, 2003, p. 59 e ss. 
 (ARTIS - Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras
59)  CÍCERO, Imp. Pomp., 29 e 36, apud Christophe BADEL, La Noblesse de l’Empire romain. Les masques et la da Universidade de Lisboa)
vertu, Seyssel, Champ Vallon, 2005, p. 41. 

60)  PLÍNIO, O VELHO, HN, VII, 139, elogio fúnebre de Lúcio Cecílio Metelo, apud Christophe BADEL, op. cit., p. 41.

61)  Christophe BADEL, op. cit., p. 168. 

62)  Christophe BADEL, op. cit., p. 169. 

RESUMO
63)  Christophe BADEL, op. cit., pp. 65-66. 

64) Matias AIRES, Reflexões sobre a vaidade dos homens e Carta sobre a Fortuna, ed. Jacinto do Prado Coelho e
Violeta Crespo Figueiredo, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1980, p. 177. Sobre a relação entre
A encomenda de uma obra de arte no séc. XVIII reveste alguma complexidade
Matias Aires e Alexandre de Gusmão, Jaime CORTESÃO, op. cit., P. I, T. I, pp. 107-119, e P. I, T. II, pp. 197-198. que urge clarificar, tanto para perceber todo o processo que liga o encomendador
ao artista, muitas vezes através de um ou vários intermediários, como para julgar
algumas das especificidades de programas decorativos e suas condicionantes, sejam
eles de cariz religioso ou decorativo.
Não nos interessa aqui analisar a questão do ponto de vista do encomendador
casual, aquele que compra um determinado objecto de arte por uma questão de opor-
tunidade, recorrendo por isso a um mercado de arte. Tal atitude, principalmente se
envolvia os mercados de arte internacionais sediados maioritariamente em Itália e nos
Países Baixos, igualmente revestia alguma complexidade e morosidade de execução.

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