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A VIAGEM AO ORIENTE:

ROTAS MARÍTIMAS… ABRAÇOS DE CULTURAS


“Viagens ao Oriente com chá”
Leituras com Chá na Biblioteca Escolar no dia da sua inauguração

Trabalho articulado entre a disciplinas de Português, Ed. Visual e a


Biblioteca Escolar no âmbito da 4.ª edição do projeto
LEITURAS D'ORIENTE E D'OCIDENTE

Alunos do 9º ano e secundário


LEITURAS COM CHÁ

A Taça de Chá, Almada Negreiros


https://bit.ly/2Gi34VU

https://bit.ly/2tdix0U

https://bit.ly/2GxQnpo

https://bit.ly/2DkPJIo
Leituras com chá
“O Louro Chá no Bule Fumegando”
de Pedro António Correia Garção, in 'Antologia Poética'

O louro chá no bule fumegando


De Mandarins e Brâmanes cercado;
Brilhante açúcar em torrões cortado;
O leite na caneca branquejando.
Vermelhas brasas, alvo pão tostado;
Ruiva manteiga em prato bem lavado;
O gado feminino rebanhado,
E o pisco Ganimedes apalpando;
A ponto a mesa está de enxaropar-nos.
Só falta que tu queiras, meu Sarmento,
Com teus discretos ditos alegrar-nos.
https://bit.ly/2tb95es
Se vens, ou caia chuva, ou brame o vento,
Não pode a longa noite enfastiar-nos,
Antes tudo será contentamento.
A Taça de Chá
de Almada Negreiros, in 'Frisos - Revista Orpheu nº1'
O luar desmaiava mais ainda uma Elle, num gesto ultimo, fechou-lhe
máscara caida nas esteiras bordadas. os labios co'as pontas dos dedos, e
E os bambús ao vento e os disse a finar-se:--Chorar não é
crysanthemos nos jardins e as garças remedio; só te peço que não me
no tanque, gemiam com elle a atraiçoes emquanto o meu corpo fôr
advinharem-lhe o fim. quente. Deitou a cabeça nas esteiras
Em róda tombávam-se adormecidos os e ficou. E Ella, num grito de garça,
idolos coloridos e os dragões alados. ergueu alto os braços a pedir o Ceu
E a gueisha, procelana transparente para Elle, e a saltitar foi pelos jardíns
como a casca de um ovo da Ibis, a sacudir as mãos, que todos os que
enrodilhou-se num labyrinto que nem passavam olharam para Ella.
os dragões dos deuses em dias de Pela manhã vinham os visinhos em
lagrymas. bicos dos pés espreitar por entre os
E os seus olhos rasgados, perolas de bambús, e todos viram acocorada a
Nankim a desmaiar-se em agua, gueisha abanando o morto com um
confundiam-se scintillantes no luzidio leque de marfim.
das procelanas. A estampa do pires é igual.
Na ampla sala de jantar das tias velhas
de Álvaro de Campos

Na ampla sala de jantar das tias velhas


O relógio tictaqueava o tempo mais devagar.
Ah o horror da felicidade que se não conheceu
Por se ter conhecido sem se conhecer,
O horror do que foi porque o que está está aqui.
Chá com torradas na província de outrora
Em quantas cidades me tens sido memória e choro!
Eternamente criança,
Eternamente abandonado,
Desde que o chá e as torradas me faltaram no coração.
Aquece, meu coração!
Aquece ao passado,
Que o presente é só uma rua onde passa quem me esqueceu...
As Metamorfoses
de Agustina Bessa Luís

“Às vezes surpreendo-me com pessoas mortas há muito e


que parecem esperar de mim alguma coisa. Talvez que eu
demonstre conhecê-las e lhes fale.
Os mortos gostam que a gente fale com eles. Que sabemos
da morte?
Pode haver lugares selectos para as pessoas que amaram e
sofreram; uma primeira classe onde os sorrisos são
distribuídos como chávenas de chá.”
Gilberto Mendonça Teles
poeta e crítico literário brasileiro

A Jorge Amado chá de confrei se ela for de lei


chá de macela se não for donzela
chá de poejo para o teu desejo chá de alho para um ato falho
chá de alfavaca já que a carne é fraca chá de bico quando houver fuxico
chá de poaia e rabo de saia chá de sumiço quando houver enguiço
chá de erva-cidreira se ela for solteira chá de estrada se ela for casada
chá de beldroega se ela foge e nega chá de marmelo quando houver duelo
chá de panela para as coisas dela chá de douradinha se ela for gordinha
chá de alecrim se ela for ruim chá de fedegoso pra mijar gostoso
chá de losna se ela late ou rosna chá de cadeira para a vez primeira
chá de abacate se ela rosna e late chá de jalapa quando for no tapa
chá de sabugueiro para ser ligeiro chá de catuaba quando não se acaba
chá de funcho quando houver chá de jurema se exigir poema
caruncho chá de hortelã e até manhã
chá de trepadeira para a noite inteira chá de erva-doce e acabou-se
chá de boldo se ela pedir soldo (pelo sim pelo não chá de barbatimão)
"Caso de Chá“- Conto de Carlos Drummond de Andrade
A casa da velha senhora fica na encosta do morro, tão bem situada que ali se
aprecia o bairro inteiro, e o mar é uma de suas riquezas visuais. Mas o
terreno em volta da casa vive ao abandono. O jardineiro despediu-se há
tempos; hortelão, não se encontra nem por milagre. A velha moradora
resigna-se a ver crescer a tiririca na propriedade que antes era um brinco.
Até cobra começou a passear entre a folhagem, com indolência; é uma
cobrinha de nada, mas sempre assusta.
O verdureiro que faz ponto na rua lá em baixo ofereceu-se para matá-la. A
boa senhora reluta, mas não pode viver com uma cobra tomando banho de
sol junto ao portão, e a bicha é liquidada a pau. Bom rapaz, o verdureiro,
cheio de atenções para com os fregueses. Na ocasião, um problema o
preocupa: não tem onde guardar à noite a carrocinha de verduras.

– Ora, o senhor pode guardar aqui em casa. Lugar não falta. – Muito
agradecido, mas vai incomodar a madame.
– Incomoda não, meu filho.
"Caso de Chá“- Conto de Carlos Drummond de Andrade
A carrocinha passa a ser recolhida nos fundos do terreno. Todas as manhãs o
dono vem retirá-la, trazendo legumes frescos para a gentil senhora. Cobra-
lhe menos e até não cobra nada. Bons amigos.
– Madame gosta de chá?
– Não posso tomar, me dá dispepsia, me põe nervosa.
– Pois eu sou doido por chá. Mas está tão caro que nem tenho coragem de
comprar. Posso fazer um pedido? Quem sabe se a madame, com esse
terreno todo sem aproveitar, não me deixa plantar uns pés, pouquinha coisa,
só para o meu consumo?
Claro que deixa. Em poucas horas o quintal é capinado, tudo ganha outro
aspeto. Mão boa é a desse moço: o que ele planta é viço imediato. A
pequenina cultura de chá torna alegre outra vez a terra abandonada. Não faz
mal que a plantação se vá estendendo por toda a área. A velha senhora sente
prazer em ajudar o bom lavrador. Alegando que precisa fazer exercício,
caminhando com cautela pois enxerga mal, ela rega as plantinhas, que lhe
agradecem a atenção prosperando rapidamente.
"Caso de Chá“- Conto de Carlos Drummond de Andrade
– Madame sabe: minha intenção era colher só uma pequena quantidade.
Mas o chá saiu tão bom que os parentes vivem me pedindo um pouco e eu
não vou negar a eles. É pena madame não experimentar. Mas não aconselho:
se faz mal, não deve mesmo tocar neste chá. O filho da velha senhora chegou
da Europa esta noite. Lá ficou anos estudando. Achou a mãe lépida, bem
disposta.
– E eu trabalho, sabe, meu querido? Todos os dias rego a plantação de chá
que um moço me pediu licença para fazer no quintal. Amanhã de manhã
você vai ver a beleza que está.

O verdureiro já havia saído com a carrocinha. A senhora estende o braço,


mostra com orgulho a lavoura que, pelo esforço em comum, é também um
pouco sua. O filho quase caiu duro:

– A senhora está maluca? Isso nunca foi chá, nem aqui nem na Índia. Isso é
maconha, mamãe!
Chá da china e
bolachas de açafrão
Oferta de tzurus
Bibliografia
Aldo, F. (5 de 11 de 2018). Conto: "Caso de Chá", por Carlos Drummond de Andrade.
Obtido de O Botequim: http://espacobotequim.blogspot.com/2011/12/conto-caso-de-
cha-por-carlos-drummond.html

Bessa-Luís, A., & Morais, G. (2007). As metamorfoses. Amadora: D. Quixote.


Citador. (29 de 10 de 2018). A Taça de Chá de Almada Negreiros. Obtido de Citador:
http://www.citador.pt/poemas/a-taca-de-cha-jose-sobral-de-almada-negreiros

Citador. (29 de 10 de 2018). O Louro Chá no Bule Fumegando de Pedro António Correia
Garção, in 'Antologia Poética' . Obtido de Citador: http://www.citador.pt/poemas/o-
louro-cha-no-bule-fumegando-pedro-antonio-correia-garcao

Na ampla sala de jantar das tias velhas de Álvaro de Campos. (29 de 10 de 2018). Obtido
de Arquivo Pessoa: http://arquivopessoa.net/textos/3234

Revista Prosa e Verso. (5 de 11 de 2018). A Jorge Amado, por Gilberto Mendonça Teles.
Obtido de Revista Prosa e Verso: https://www.revistaprosaversoearte.com/gilberto-
mendonca-teles-poemas/

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