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Enxergando Deus - Parte Final

Epílogo

Durante anos ponderei, refleti e me esforcei bastante para encontrar uma maneira
de conhecer Deus, mas nada me aproximava do meu objetivo.
Acabei ficando com uma filosofia repleta de ideias sem vida e de conceitos sem
valor.
Então compreendi que, para conhecer Deus, eu teria de encontrá-Lo.
Mas onde procurar?
Depois de muito tempo e frustração entendi que, para encontrar Deus, era preciso
parar de procurar. Eu precisava simplesmente abrir os olhos e vê-Lo, aqui e agora.
Se não conseguisse ver Deus "aqui e agora", também não O veria "ali" ou "depois".
Propus um desafio a mim mesmo: "Se não posso ver Deus nas maravilhas da
natureza, nas flores, nas árvores, no pôr-do-sol, então onde poderia vê-Lo?"
Deus é a Fonte e a Alma da natureza.
Se não podemos ver Deus em atos de amor, bondade e justiça, onde O veremos?
Deus é a Fonte e a Alma da moralidade e da ética.
Se não vemos Deus no próprio mistério da visão, onde O veremos?
Deus é a Fonte e a Alma de toda consciência.
O que tornou este processo tão difícil foi justamente sua simplicidade.
Estamos acostumados a ideias muito complicadas.
Esquecemos a simples habilidade de ver com a alma — a visão espiritual.
Tive a felicidade de encontrar os ensinamentos da Torá e da Cabalá para me
mostrar o caminho.
O primeiro passo para abrir os olhos da alma é compreender que não há Deus.
Deus é uma caricatura sem vida, descrita como um ser invisível flutuando no
espaço.
Esta imagem falsa bloqueia os olhos da alma.
Temos de nos livrar de Deus para ver Hashem — a Realidade Suprema que abarca
e preenche tudo.
Para enxergar Hashem é preciso aprender a ver a totalidade com olhos de
admiração.
Hashem é o todo da realidade, maior que a soma das partes.
Quanto mais extensa e abrangente nossa visão, melhor poderemos enxergar
Hashem.
Hashem é absolutamente único e incomparável.
Para ver Hashem, temos de enxergar com olhos de admiração — sem expectativas
— e ver o que nunca vimos antes.
Ver com olhos de admiração é ver pela primeira vez todas as vezes.
A verdade de Hashem é acreditável quando a vida se torna inacreditável.
No entanto, não enxergamos o espiritual individualmente.
Não somos ilhas independentes e isoladas.
Todos se relacionam e dependem uns dos outros.
Por isso, só podemos enxergar Hashem se fizermos parte da consciência coletiva da
comunidade.
As comunidades são absolutamente necessárias para abrir os olhos da alma.
A Cabalá ensina que há dez atributos relacionados a Hashem.
Estes atributos (ou qualidades) são as dez sefirót, que não podem ser explicadas de
maneira filosófica.
Elas devem ser vivenciadas.
São "não-coisas".
São como cores e sabores.
Quando vemos ou experimentamos, sabemos.
Quanto mais integramos estas qualidades Divinas ao modo como agimos, falamos e
pensamos, mais as canalizamos para o mundo.
Se não vemos Hashem, Ele não estará em nosso mundo nem em nossas vidas.
A primeira sefirá é malchut — reinado.
É a consciência coletiva da comunidade, a lente necessária para se enxergar os
outros atributos Divinos.
lessod é vida, excelência e bênção.
A vida é a sinergia de todas as outras qualidades Divinas.
Através de iessód, enxergamos Hashem em nossas vidas.
Nossa missão diária de vida é conectar malchut a iessód.
Alcançamos satisfação pessoal quando somos membros contribuintes da
consciência coletiva de Hashem.
Tornamo-nos "fios vivos", trazendo a luz de Hashem para o mundo, quando
reconhecemos e incorporamos todas as qualidades Divinas que compõem a
verdadeira bênção da vida.
Nétsach é maestria e hod, magnificência.
Através de nétsach e hod, vemos Hashem na maravilhosa sincronia da natureza
com os acontecimentos diários — a providência Divina.
Guevurá é justiça, e chéssed, bondade.
Por meio do equilíbrio entre guevurá e chéssed, enxergamos Hashem no amor.
Tiféret é verdade e beleza.
Através de tiféret, vemos uma fração da essência Divina e experimentamos um
pouco de intimidade "cara a cara" com Hashem.
Através de tiféret, encontramos Hashem: falamos com Ele nas rezas e Ele fala
conosco por meio do estudo da Torá.
Biná é o pensamento lógico e analítico, e chochmá é o flash criativo de inspiração e
intuição.
Através de biná e chochmá, encontramos Hashem no processo de todo intelecto e
entendimento.
Descobrimos ser participantes em um processo Divino que não começa nem
termina conosco.
Compreendemos que Hashem é não somente objeto de conhecimento, como nas
outras sefirót, mas também o sujeito de todo conhecimento.
Hashem é, portanto, o conhecedor, o conhecimento e o conhecido.
Somos como fios que conectam um circuito; veículos para este misterioso processo
de autoconhecimento de Hashem.
Kéter é a fonte fundamental e a base de toda vontade e de toda consciência.
Através de kéter, encontramos Hashem na própria existência da vontade e da
consciência.
Ficamos conscientes da consciência e nos maravilhamos com o mistério do livre-
arbítrio.
Agora sabemos que Hashem é a raiz do existir, da autodeterminação e da
consciência.
Descobrimos que a vontade e a mente não são realmente nossas.
Compreendemos que tudo o que parece nos pertencer é, na verdade, um
empréstimo.
E confiamos.
A Cabala nos ensina que Hashern está aqui, agora, esperando ser visto e
conhecido.
Tudo o que temos a fazer é abrir os olhos para enxergar, abrir o coração para sentir
e abrir a mente para conhecer.
Juntos, podemos transformar cada lugar, acontecimento e encontro comum numa
oportunidade extraordinária de enxergar Hashem.
Se não agora, quando?

Por: David Aaron

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