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Ao Ministro da Educação

Dr. Abraham Weintraub

Porto Alegre, 25 de abril de 2019


Exmo. Dr. Abraham Weintraub,
DD. Ministro da Educação do Brasil

Na tentativa de auxiliar com alternativas viáveis ao desenvolvimento


efetivo do ano letivo em tempos de coronavírus e, considerando a inexistência de
vacina provável para aplicação e imunização ainda em 2020, de modo que a
permanência do vírus entre nós é real, aliada à falta de tratamento eficaz que
neutralize o alto contágio, ouso sugerir a adoção das medidas a seguir, em relação ao
Ensino Fundamental e Médio, com base nas diretrizes previstas pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394/1996.

I – Sugestões:

a) o retorno às aulas presenciais, em lotação máxima de 50% (ou


menos), em escala de revezamento, com a utilização obrigatória de máscaras de
proteção entre os alunos durante a circulação, e distanciamento maior entre classes (o
que o percentual máximo permitirá), apenas em relação a disciplinas cuja presença
do professor é indispensável para a compreensão do conteúdo, como
Matemática e Língua Portuguesa (talvez em séries mais avançadas também química
e física). É inconteste que disciplinas como Matemática a presença do professor é
indispensável para a compreensão e assimilação do conteúdo. Essas disciplinas tem
um condão teórico-prático que se difere do perfil teórico de outras disciplinas.

b) adoção do ensino a distância nas demais disciplinas, com


regime de avaliação através de provas e trabalhos virtuais até o final do ano.

c) redução de média mínima para aprovação em disciplinas com ensino


a distância, se for necessário, visto que não se pode exigir em tempo excepcional
a resposta regular que seria exigível com alunos e professores presentes em
sala de aula, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes, sem, por
óbvio, maturidade completa para o ensino nessa modalidade.

d) organização de um calendário de reforço de conteúdos, se for


necessário, para 2021, paralelo ao calendário regular, em relação a deficiências que
possam restar no tocante às disciplinas ministradas a distância em 2020, o que
não será necessário quanto às ministradas presencialmente em sistema de
revezamento, uma vez que, é evidente que o professor em sala de aula, com
metade, ou menos, de alunos em sala, terá condições ainda mais eficazes de
explicar o conteúdo – de modo que os alunos sairão, provavelmente, muito mais
fortes em Português e Matemática do que sairiam com as disciplinas ministradas em
salas cheias.

II – Regramento:

A Lei de Diretrizes e Bases de Educação permite a execução das


Sugestões acima, como se vê dos seguintes dispositivos:

“Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove)


anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por
objetivo a formação básica do cidadão, mediante:
(...)
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a
distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações
emergenciais.
(...)” destaquei

“Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base


Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados
por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o
contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: (Redação dada
pela Lei nº 13.415, de 2017)
(...)
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências curriculares do ensino
médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer competências e firmar
convênios com instituições de educação a distância com notório reconhecimento,
mediante as seguintes formas de comprovação:
(...)” destaquei

Outrossim, o Decreto 9.057/2017, que dispõe sobre as Diretrizes e


Bases da Educação nacional autoriza os Estados e Municípios a permitir a realização
do ensino a distância:

“Art. 8º Compete às autoridades dos sistemas de ensino estaduais,


municipais e distrital, no âmbito da unidade federativa, autorizar os cursos e o
funcionamento de instituições de educação na modalidade a distância nos
seguintes níveis e modalidades:
I - ensino fundamental, nos termos do § 4º do art. 32 da Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996 ;
II - ensino médio, nos termos do § 11 do art. 36 da Lei nº 9.394, de
1996 ;
III - educação profissional técnica de nível médio;
IV - educação de jovens e adultos; e
V - educação especial.”

E, embora o art. 9º não seja claro quanto à tipificar situações como as


vividas em função da pandemia, é evidente que as características de alto contágio do
vírus, aliadas à possibilidade de transmissão pelas crianças aos seus familiares, no
que se incluem avós e pessoas em situação de risco, pode-se aplicar perfeitamente o
inciso I, se interpretado de modo sistemático ao conceito de situação de emergência
hoje por todos experimentado, mormente considerando que já há autorização para
tanto em nível federal:

“Art. 9º A oferta de ensino fundamental na modalidade a distância em


situações emergenciais, previstas no § 4º do art. 32 da Lei nº 9.394, de 1996 , se
refere a pessoas que:
I - estejam impedidas, por motivo de saúde, de acompanhar o ensino
presencial;
(...)”

Ante o exposto, submeto à avaliação dos senhor, reconhecendo que


não é o ideal, mas o momento em que vivemos não permite a realização do ideal, que
seria a possibilidade do retorno às escolas com a vivência presencial de todas as
disciplinas. Trata-se aqui de um esboço inicial, na tentativa de auxiliar. No mais,
coloco-me à disposição para esclarecer algum ponto que não tenha ficado claro, ou
para aprofundar, ou esmiuçar, outro que considerem necessário.

Att.,

Profª Me. Patrícia Trunfo,


Advogada da União – Professora de Cursos de Pós-Graduação em
Direito.

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