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DOSSIÊ

Pierre Bourdieu
UNIVERSIDADE FEDER AL DE MINAS GER AIS
Reitor Jaime Arturo Ramírez
Vice-Reitora Sandra Regina Goulart Almeida

EDITOR A UFMG
Diretor Flavio de Lemos Carsalade
Vice-Diretora Camila Figueiredo

CONSELHO EDITORIAL
Flavio de Lemos Carsalade (presidente)
Camila Figueiredo
Eduardo de Campos Valadares
Élder Antônio Sousa Paiva
Fausto Borém
Lira Córdova
Maria Cristina Soares de Gouvêa
JESSÉ SOUZA
UWE BITTLINGMAYER
Organizadores

DOSSIÊ
Pierre Bourdieu

Belo Hor iz onte


E d itora U F MG
2 0 1 7
© 2017, Os organizadores
© 2017, Editora UFMG

Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

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D724 Dossiê: Pierre Bourdieu / Jessé Souza, Uwe Bittlingmayer (organizadores).


Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017.
256 p.: il. (Debates contemporâneos).
ISBN: 978-85-423-0225-7

1. Bourdieu, Pierre, 1930-2002. 2. Sociologia – Filosofia. 3. Teoria crítica.


4. Sociologia – Política. I. Souza, Jessé. II. Bittlingmayer, Uwe, 1970-. III. Série.

CDD: 301
CDU: 301
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Elaborada pela Biblioteca Professor Antônio Luiz Paixão - FAFICH

Diretor da coleção Jessé Souza


Coordenação editorial Camila Figueiredo
Assistência editorial Maria do Carmo Leite Ribeiro
Direitos autorais Anne Caroline Silva
Coordenação de textos Lira Córdova
Preparação de textos Corina Moreira
Revisão de provas Ana Teresa Campos, Beatriz Trindade e Roberta Paiva
Projeto gráfico de miolo Heleno RF
Projeto gráfico de capa Cássio Ribeiro
Formatação Victoria Arenque
Produção gráfica Warren Marilac
Impressão e acabamento Imprensa Universitária UFMG

EDITORA UFMG
Av. Antônio Carlos, 6.627 CAD II Bloco III
Campus Pampulha 31270-901 Belo Horizonte-MG Brasil
Tel. +55 31 3409-4650 Fax +55 31 3409-4768
www.editoraufmg.com.br editora@ufmg.br
Sumá rio

PREFÁCIO 07

ARGÉLIA 1960

Laboratório sociológico para a origem e

cunhagem da teoria da prática de Bourdieu

Franz Schultheiss 11

OS LIMITES DO CONCEITO DE CAMPO

Bernard Lahire 29

O ESTADO COMO BANCO CENTRAL DO

CRÉDITO SIMBÓLICO

David Swartz 81

CONTRA A NATURALIZAÇÃO DA SEGUNDA NATUREZA!

A sociologia de Pierre Bourdieu entre crítica e política

Uwe Bittlingmayer 105

“ENQUADRAMENTO DISCURSIVO”

Relações de gênero e violência simbólica no pós-fordismo

Claudia Rademacher 137


SOCIALIZAÇÃO E REPRODUÇÃO DA

DESIGUALDADE SOCIAL

A sociologia política de Pierre Bourdieu e

a pesquisa em socialização

Ullrich Bauer 165

ACERCA DO FUNCIONAMENTO DA DOMINAÇÃO

NA MODERNIDADE

Ordens sociais, violência simbólica, controle social

Beate Krais 205

PARA ALÉM DE BOURDIEU?

Passos para uma teoria crítica da modernização

Jessé Souza 225

SOBRE OS AUTORES 255


Prefácio

A dimensão mais elevada do debate científico é a dimensão do debate


internacional. Como a ciência vive do debate e da discussão crítica e aberta
entre argumentos, a expansão e a ampliação do campo e do escopo da ar-
gumentação são, certamente, algumas das contribuições acadêmicas mais
importantes ao crescimento e à sofisticação do debate científico. Isso é
ainda mais verdadeiro em um país como o Brasil – e muito especialmente
no âmbito das ciências sociais –, onde a tradição “provinciana” e “nacional”
do debate científico é, ainda, amplamente dominante.
O “provincianismo” está no DNA da formação das ciências sociais no
Brasil. Isso tem a ver com o fato de que a institucionalização das ciências
sociais no país, que assumem um traço “moderno” a partir dos anos de 1930
do século XX, nasce, enquanto corpo de hipóteses que procura dar conta da
“singularidade brasileira”, a partir do tema do “mito nacional” brasileiro na
sistematização que lhe confere Gilberto Freyre. Assim, esse “conto de fadas
para adultos” – que é no fundo o que todo mito nacional é – que cria um
Brasil da emotividade, do afeto, do sexo e do calor humano, vai dominar não
apenas a forma como os brasileiros irão se perceber a partir da instituciona-
lização desse mito nas escolas, na propaganda, nas escolas de samba e em
todas as manifestações da “cultura brasileira” a partir de então. Ele vai ser,
também – e isso é o fato lamentável para a “autointerpretação” científica do
Brasil desde então –, o fundamento implícito de todas as grandes hipóteses
acerca da especificidade do Brasil como sociedade.
Desde a década de 1930, portanto, o Brasil é “estudado” por métodos
supostamente científicos, que redundam em uma autopercepção da nossa
sociedade como se aqui existisse um “planeta verde-amarelo”, seja para o
bem seja para o mal, sem qualquer vínculo efetivo – a não ser o das trocas
“econômicas” – com as outras sociedades do globo. Em certa medida, essa
“cegueira” existe em todo lugar. O mundo é até hoje percebido, pelas ciências
sociais dominantes, como unido na esfera material e econômica e separado na
esfera cultural e simbólica por “culturas nacionais” singulares. A “cegueira”
desse tipo de raciocínio é que ele, primeiro, separa “material” e “simbóli-
co” como se pudesse existir matéria sem símbolo e símbolo sem matéria.
Assim, a economia é percebida como se não existisse toda uma estrutura
“simbólica” de justificação moral, cultural, jurídica e política que legitima e
permite concretizar todo tipo de transação econômica. Intimamente ligada
a esse fato está a “cegueira” de não se perceber – paralelamente à história e
ao compartilhamento de experiências comuns que marcam, efetivamente,
todo horizonte “nacional” – estruturas simbólicas comuns pelo menos àquelas
sociedades regidas pelo que nos acostumamos a denominar de “capitalismo”.
Mas entre nós essa cegueira é ainda muito maior e traz consequências
mais profundas e ainda mais danosas. É que nos imaginamos, até hoje, nas
interpretações ainda dominantes, como “pré-modernos”, e explicamos nossas
mazelas sociais como sobrevivências de um “mal de origem” português, pa-
trimonial e corrupto que se funda em uma dominância das relações pessoais,
do “quem indica” e do “jeitinho brasileiro”. Esquecemo-nos que a sociedade
aqui, apesar da desigualdade abissal, funciona de modo muito semelhante
ao de qualquer outra do globo.
O fato de que ainda hoje sigamos acreditando no “conto de fadas” do mito
brasileiro – que pragmaticamente é muito importante e bem-vindo como
fonte de solidariedade social – como fundamento supostamente científico da

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