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As Conferências Nacionais no governo Lula: limites e possibilidades da

construção de uma esfera pública 1


Céli Pinto
UFRGS

O Brasil não é um país desprovido de instrumentos de controle de seu regime político.


Poucos paises no ocidente com o tamanho e a complexidade do país apresentam uma
rede tão bem tecida de conselhos municipais, estaduais e federais , conferências,
orçamentos participativos, referendos, plebiscitos e possibilidades de projetos de lei de
iniciativa popular.

Entretanto, no que pese esse conjunto de ferramentas para o exercício da democracia, o


que parece acontecer é uma completa e inalcançável distância entre a elite política que
governa o país e os instrumentos de participação. Uma hipótese que pareceria bastante
razoável é que o que acontece no espaço do que se poderia chamar de democracia
participativa não influencia ou muda a democracia representativa, principalmente se os
analistas se detiverem nos eventos de corrupção que tomaram grande parte da discussão
política brasileira no de 2005.
A questão, todavia tem uma maior complexidade do que um apartheid entre experiências
de participação e o principio da representação, pois a grande maioria dos instrumentos de
democracia participativa tem estatuto legal e são iniciativas do governo, mormente do
executivo.

O presente artigo trabalha com uma destas iniciativas durante o governo Lula – as
Conferências Nacionais. Elas não foram criadas por esse governo, algumas já estão em
sua décima segunda edição, mas tomaram grande vulto nesse período, por serem a
vitrine da participação da sociedade civil no governo, principalmente daqueles setores
que estiveram ao lado do PT desde a sua fundação..

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Este artigo teve a colaboração fundamental de meu bolsista de iniciação científica o acadêmico de
Ciências Sociais da UFRGS Guilherme Perin. A ele todos os meus agradecimentos

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Para cumprir o objetivo do artigo decidiu-se trabalhar apenas com as conferências que
aconteceram pela primeira vez no governo Lula. Tal decisão calcou-se em duas razões: a
primeira de ordem metodológica, pois a comparação entre uma conferência tradicional
com seus acertos, costumes e vícios com uma nova conferência poderia trazer problemas
que impossibilitaria a comparação, ou pelo menos o quadro geral que pretendemos traçar.
A segunda razão de tomar somente essas conferências é que elas permitem verificar
como um governo de um partido tradicionalmente imbricado com sociedade civil e com
os princípios da democracia participativa atua neste campo, quando as conferências
acontecem pela primeira vez por sua iniciativa.

No que pese as Conferências serem grandes encontros das organizações da sociedade


civil, uma primeira constatação que deve ser feita é a de que as Conferências são
políticas do governo, convocadas pelos ministros das pastas as quais as conferências
ligam-se por seu tema. As conferências a serem analisadas nestes artigos são 2 : I
Conferência Nacional do Meio Ambiente (23-30 novembro de 2003); I Conferência
Nacional de Promoção da Igualdade racial (30 de junho-2 de julho 2005); I Conferência
Nacional das Cidades (23 a 26 de outubro de 2003); I Conferência Nacional de Políticas
para a Mulher (15 a 17 de julho de 2004) 3 .

As 4 conferências têm temas com raízes profundas nos movimentos sociais, mas são
marcadas por significativas diferenças . É possível dividí-las em dois dois grupos quanto
sua natureza identitária: em um grupo estão as conferências das mulheres e da igualdade
racial e no outro, as conferências do meio ambiente e das cidadesÇas duas primeiras
estão estreitamente ligadas ao movimento feminista e movimento negro que recolocaram
as mulheres e os negros no cenário da sociedade civil a partir de suas lutas ao longo das

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Estas não foram as únicas conferências inauguradas no governo Lula, houve em 2003 a I Conferências
Nacional de Aquicultura e Pesca. A I Conferência Nacional Infanto Juvenil pelo Meio Ambiente, a I
Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica. Em 2004 aconteceu também a I
Conferência Nacional do Esporte. Em 2005 houve a I Conferência Nacional da Cultura. As escolhas que
foram feitas se relacionam diretamente ao problema que estamos tratando de analisar , que é o do encontro
da esfera pública construída a partir da sociedade civil com o Estado
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Este artigo pretende ser uma contribuição a partir de um ponto de vista específico para a robusta
produção relacionada com formas de participação na sociedade civil em espaços institucionalizados. Entre
os importantes trabalhos na área destaco: Raichelis (2000) Gohn (2001) Tatagiba (2002) Fuks.Perissinotto,
Souza (2004)

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três últimas décadas. As duas outras conferências, das Cidades e do Meio Ambiente
tratam de temas menos associados a grupos, que se constituem como sujeito político
através de identidades construídas no interior dos movimentos sociais. No caso da última
o tema torna-se para alguns militantes fator de identidade, mas estando interesses muito
contraditórios em jogo, esta não é uma caractrística definidora do grupo.

Em relação a essas conferências o objetivo do artigo é examinar basicamente três


momentos: a convocatória com seus objetivos e temas; a seleção de seus delegados; as
recomendações finais dos relatórios. O propósito é examinar o processo geral das
conferências, as particularidades de cada uma, entendendo este momento como de
encontro entre a esfera pública e o Estado. Ao longo do artigo haverá o propósito de
mostrar a construção desta esfera pública e a originalidade deste encontro que pode gerar
espaços de avanços significativos em relação a demandas de grupos e da própria
sociedade civil como um todo.

O artigo está organizado em três partes seguindo a dinâmica da organização das


conferências que possuem modelos muito próximos: na primeria parte será analisada a
convocatória, onde está presente a forma de organização, os temas e objetivos; na
segunda parte será examinado o conjunto dos representantes presentes em cada
conferência; na terceira parte serão analisadas as recomendações e decisões.

As convocatórias

As conferências nacionais são políticas governamentais, convocadas através de decreto


do Presidente da República delimitando a temática e delegando aos ministérios
correspondentes suas organizações. A partir desse decreto é feito pelo ministério um
regulamento que detalha os temas, objetivos e estabelece comissões organizadoras,
cronogramas e regulamentos para reuniões regionais e eleição de delegados. Os decretos
presidenciais convocando as conferências têm um modelo padrão: convoca, estabelece os
temas, delega responsabilidade de execução, entretanto nota-se uma distinção
interessante entre os dois grupos identificados: nas convocações das conferências das

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Mulheres e da Igualdade Racial há um detalhamento da temática,enquanto nas outras


duas o decreto é muito mais generalizado. No decreto da Conferência da Igualdade Racial
o temário é especificado da seguinte forma:

“Art. 2º - A 1ª Conferência Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial terá


como tema ‘Estado e Sociedade Construindo a Igualdade Racial’, com os seguintes temas”:
Desigualdades raciais e mecanismos de reprodução da discriminação na realidade
brasileira, considerando a estrutura do Estado.
Ações e políticas públicas desenvolvidas para a promoção da igualdade racial nas
instâncias de governo municipal, estadual e federal, em face dos compromissos
internacionais pertinentes ao tema formalmente assumidos pela República Federativa do
Brasil.
Diretrizes da Política Nacional para a Promoção da Igualdade Racial considerando
as perspectivas de gênero, raça/etnia, cultura e religião, apontando prioridades para os
próximos anos”. (www.presidencia.gov.br/seppir/ – acessado em 7 de janeiro de 2006)

Bastante semelhante é o decreto que convoca a Conferência das Mulheres:


“Art. 2° A 1ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres terá como tema ‘Políticas
para as Mulheres: um desafio para a igualdade numa perspectiva de gênero’ , a partir dos
seguintes eixos temáticos:
I - Análise da realidade brasileira: social, econômica, política, cultural e os desafios para
a construção da igualdade;
II - Avaliação das ações e políticas públicas desenvolvidas para as mulheres nas três
instâncias de governo: municipal, estadual e federal frente aos compromissos
internacionais - acordos, tratados e convenções;
III - Proposição de diretrizes da Política Nacional para as mulheres numa perspectiva de
gênero, apontando as prioridades dos próximos anos.” (www.ptsc.org.br – acessado em 6
de fevereiro de 2006. )

Em primeiro lugar destaca-se uma política nacional que o governo pretende levar a efeito
em conjunto com a sociedade civil. Os objetivos são primordialmente buscar subsídios
para essas políticas, mesmo assim, é possível perceber entre os dois decretos variações.
No primeiro o temário é prospectivo e delimitado à questão racial, no segundo há uma
solicitação de análise da realidade brasileira e uma avaliação das políticas até então
levadas a efeito. Isto é indicativo do espaço ocupado pelos dois grupos. O Conselho
Nacional da Condição da Mulher está no interior do aparato estatal desde a primeira
metade da década de 80, tendo sua presidente naquela oportunidade, status de ministro. Já
a presença do movimento negro é muito mais recente e só veio ter uma secretaria para
tratar seus assuntos, com status de ministério, no governo Lula.

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As duas outras conferências foram convocadas por decretos presidenciais bem mais
vagos. A conferência das Cidades ainda trouxe a idéia de construção de política 4 , a do
Meio Ambiente tem apenas um lema , deixando todos os detalhes para o regimento, o
lema é “Vamos cuidar do Brasil” .
Chama atenção ainda em relação aos decretos que à exceção da Conferência do Meio
Ambiente, nas outras três aparece em Parágrafo único à necessidade de haver um
“processo democrático de escolha de seus delegados” A expressão é a mesma para as três
conferências.

Os regulamentos

Os regulamentos das conferências são muito próximos um do outro na forma como


tratam os objetivos, os representantes, e os temas. Os objetivos das conferências da
Mulher e da Igualdade Racial se atém à construção de planos de políticas nacionais para
as mulheres e as minorias étnicos raciais. São planos focais. As outras duas conferências
têm menos compromissos com políticas específicas e mais com projetos alternativos
para o país e isto é um aspecto revelador da posição distinta que estes dois grupos
encontram-se em relação ao Estado. Nos objetivos da conferência do o Meio Ambiente
lê-se:
“I mobilizar, educar e ampliar a participação popular na formulação de
propostas para um Brasil sustentável”;
III - diagnosticar e mapear a situação socioambiental mediante indicadores,
atores sociais, percepções, prioridades. 5 (www.mma.gov.br – acessado em 25 de janeiro
de 2006. )

Vale antes de comentar estes objetivos transcrever os da Conferência das Cidades para
evidenciar um tipo comum de característica:

4
ª Conferência Nacional das Cidades desenvolverá seus trabalhos a partir do lema "Cidade para
Todos" e sob o tema "Construindo uma Política Democrática e Integrada para as Cidades".

5
O objetivo n. II refere-se à politicas: II - definir diretrizes para consolidar
e fortalecer o Sistema Nacional de Meio Ambiente-SISNAMA, instituído pela Lei no
6.938, de 31 de agosto de 1981, como um instrumento para a sustentabilidade ambiental;

5
6

“II - Identificar os principais problemas que afligem as cidades brasileiras trazendo a voz
dos vários segmentos e agentes produtores, consumidores e gestores”;
IV - Propor a natureza e novas atribuições, bem como indicar os membros do Conselho das
Cidades;
V - Propor as formas de participação no processo de formação do Conselho das Cidades;
VI - Avaliar programas em andamento e legislações vigentes nas áreas de Habitação,
Saneamento Ambiental, Programas Urbanos, Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana,
desenvolvidas pelos.
Governos Federal, Estaduais, Municipais e do Distrito Federal nas suas diversas etapas,
com base nos princípios e diretrizes definidos;
VII - Avaliar o sistema de gestão e implementação destas políticas, intermediando a
relação com a sociedade na busca da construção de uma esfera público-participativa;
VIII - Avaliar os instrumentos de participação popular na elaboração e implementação das
diversas políticas públicas” 6 . (www.cidades.gov.br– acessado em 23 de janeiro de 2006. )

O que chama a atenção nesses objetivos é sua amplidão e sua pretensão em repensar
políticas gerais e formas de participação. Ambas as conferências deixam muito claro sua
opção por formas participativas de democracia, A Conferência do Meio Ambiente faz
uma clara associação entre ampliação da participação e desenvolvimento sustentável, já
a das Cidades enfatiza a participação referindo-se especificamente a “construção de uma
esfera público-participativa”.

Os temas das conferências são com é de se esperar especifico de cada área, mas nas
conferências das Mulheres e a Igualdade Racial os textos coincidem em várias passagens
A conferência Racial prediz como objetivos:

“I-Reflexão sobre a realidade brasileira, do ponto de vista da sociedade e da estrutura do


Estado, considerando os mecanismos de reprodução da discriminação, do racismo e das
desigualdades raciais”.
II - Avaliação das ações e políticas públicas desenvolvidas para a promoção da igualdade
racial nas três instâncias de governo: municipal, estadual e federal, bem como o
cumprimento dos compromissos internacionais objetos de acordos, tratados e convenções.
III - Proposição de diretrizes para a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial e
Étnica considerando a perspectiva de gênero, cultura e religião.”
(www.presidencia.gov.br/seppir/ – acessado em 7 de janeiro de 2006 )

A Conferência das Mulheres aponta como objetivos:

6
Os incisos I e III referem-se à políticas específicas: - I Propor princípios e diretrizes para as políticas
setoriais e para a política nacional das cidades; III - Indicar prioridades de atuação ao Ministério das
Cidades

6
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“I - Análise da realidade brasileira: social, econômica, política, cultural e os desafios para a


construção da igualdade;
II - Avaliação das ações e políticas públicas desenvolvidas para as mulheres, nas três
instâncias de governo: municipal, estadual e federal frente aos
compromissos internacionais - acordos, tratados e convenções;
III -Proposição de diretrizes da Política Nacional para as mulheres numa perspectiva de
gênero, apontando as prioridades dos próximos anos.” (www.ptsc.org.br – acessado em 6
de fevereiro de 2006)

Há apenas uma pequena nuance nesses objetivos, que é a maior abertura da conferência
das Mulheres em relação à da Igualdade Racial no que concerne à análise da realidade
brasileira, enquanto a última restringe-se a questão das desigualdes raciais à primeira
fala de desigualdades em geral.

Estes primeiros documentos examinados já permitem perceber dois caminhos distintos


da relação da sociedade civil com o Estado nesse peculiar encontro que são as
conferências . Em primeiro lugar deve-se ter presente que em qualquer um desses quatro
grupos que se reuniram nas conferências que estamos analisando estão organizados na
sociedade civil em movimentos sociais e ONGs., que talvez mais do que qualquer outro
grupo no Brasil (e mesmo fora deles) são esses quatro os que maior êxito obtiveram em
construir esferas públicas de discussão, onde seus direitos e demandas foram
reconhecidos e legitimados. Mesmo a Conferência das Cidades que se origina de um
conjunto muito heterodoxo de pessoas, conseguiram construir fóruns muito fortes de
discussão dos temas. Daí um segundo ponto, que permite um interessante avanço na
discussão sobre a esfera pública. No caso há uma esfera pública anterior que se encontra
com o Estado em uma conferência convocada pelo último. Em uma primeira vista
portanto, as conferências não são uma esfera pública, pois carecem de independência.
Parece-me, todavia, que a questão não é de tão fácil solução, pois há de se avaliar que a
condição ideal de independência não se realiza na medida em que sociedade civil e
Estado não são sistemas, mas entidades inacabadas, cada qual limitada pela própria
presença do outra. Também não se pode perder de vista na análise as condições nas quais
esta relação se estabelece, e até mesmo a convocação. Se ela em si indica uma estreita
relação entre estes grupos e o Estado, não podem desta forma determinar sua
independência ou não. Sem deixar de ser uma variável a ser levada em consideração,

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deve ser analisada em conjunto com outras questões, entre elas a própria existência de
uma esfera pública anterior, que pode ser o agente provocador da convocação.

O tema da esfera pública tem sido amplamente discutido tanto pela literatura
internacional como pela literatura brasileira. Ambos partem quase que absolutamente das
premissas colocadas por Habermas em sua clássica obra Mudança Estrutural da Esfera
Pública (1984), entretanto, com maior ou menor ênfase também a quase totalidade dos
estudiosos têm uma postura crítica ao autor alemão, principalmente quanto a sua crença
na possibilidade de igualdade de condições dos cidadãos para discutirem e colocarem
racionalmente seus pontos de vista na arena pública. Fundamental para esta discussão é a
já clássica coletânea editada por Craig Calhoun Habermas and the Public Sphere (1996),
onde aparece talvez pela primeira vez a idéia de públicos múltiplos e contra públicos
nos escritos de Nancy Fraser (1996). Outros dois temas fundamentais presentes na obra
de Habermas e que merece atenção dos estudiosos da questão da esfera pública são os da
independência e do local onde ela acontece. Ora, se a esfera pública é diferente do Estado
e tira seu poder de construir opinião e confrontar o próprio Estado por esta
independência, o local a partir de onde ele se expressa necessita ser independente do
Estado. Habermas tem um grande entusiasmo pelos cafés ingleses do século XVII onde
as pessoas livremente expressavam suas opiniões e eram ouvidas pelo parlamento ante
que esse tomasse suas decisões. Habermas estava tratando com um estado liberal não
democrático, onde a diferença de classe, de estilo de vida e cultura entre quem tomava a
decisão e quem dava opinião não era significativa. Como garantir a independência dos
cafés nas sociedades democráticas de massas como as contemporâneas? Atualmente os
estudiosos do tema parecem encontrar duas possibilidades de realização dessa esfera
pública, de um lado aparecem às experiências locais tendo as cidades, os povoados, até
os bairros como a possibilidade de efetiva reunião de pessoas envolvidas na busca de
opiniões coletivas, de outro lado à possibilidade planetária da comunicação via Internet,
que abre perspectivas para se pensar em esferas públicas e sociedades civis mundiais
(Eisenberg & Cepik). Em relação à América Latina e ao Brasil é muito forte a idéia da
realização da esfera pública no espaço local das cidades e dos bairros. Os trabalhos de
Silva (2002 ) e Avritzer (2000 ) têm apontado para esta possibilidade( Silva Avritzer ).

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Trabalhos de pesquisa empírica em profundidade têm analisado muito dessas


experiências ( Dagnino (2002) Avritzer (2002) Boaventura (1995).

A problemática das Conferências que tratamos nesse artigo encontra em uma primeira
vista mais pontos de divergência do que convergência com a noção de esfera pública,
principalmente por sua clara relação com o Estado e sua magnitude, longe das esferas
locais. Entretanto, o que trataremos de discutir ao longo das páginas seguintes, através na
análise dos documentos desses eventos e que se trata de um complexo acontecimento
que traz em si novos e importantes elementos para a discussão da noção da esfera pública
e da possibilidade de sua realização em cenários como o brasileiro.

Representantes

Como já foi visto nas páginas anteriores as Conferências são momentos particulares de
encontro da sociedade civil com o Estado podendo ser chamadas de um caso particular
de esfera pública. Assim as chamando estamos avançando em relação à caracterização
delas feitas até aqui, mas ainda gostaria de manter esta classificação de forma provisória.
As conferências são mega eventos tanto na sua organização como no número de
delegados que delas participam. Todas têm estágios estaduais e municipais que
abrangem quase a totalidade dos estados da federação e um enorme número de
municípios. Anterior a isto forma comitês e comissões organizadoras nacionais

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Tabela I
Composição Comissões organizadoras (ou preparatórias)

conferência 1 2 3 4 5 6 7 87
I
Conferência 8 2 1 3 1 - - 2 6
Nacional do
Meio
Ambiente

I Conferência
Nacional das 9 8 18 7 1 9 3 12
Cidades
I Conferência
Nacional de 5 6
Promoção da
Igualdade
Racial
I Conferência
Nacional de 4 4
Políticas para
as mulheres

FONTES: www.mma.gov.br – acessado em 3 de abril de 2006


www.ptsc.gov.br – acessado em 6 de janeiro de 2006
www.presidência.gov.br/seppir/ - acessado em 7 de fevereiro de 2006
www.cidades.gov.br – acessado em 23 de janeiro de 2006

As tabelas acima trazem dados bastante reveladores das formas variadas que esses diversos
segmentos da sociedade civil se organizam junto ao estado para montarem as conferências.

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1 – Associações Comerciais e Industriais ;2 – Associações profissionais ou de prestadores de
serviços;3 – ONGs e Movimentos sociais;4 – Centrais Sindicais;5 – Entidades Religiosas;
6 – Fundações de pesquisa e estudo e organizações acadêmicas;
7 – Associações privadas de autoridades públicas;8 – Governo
8
Há ainda dois representantes do Conselho Nacional de Meio Ambiente-CONAMA, dois representantes do
Conselho Jovem da Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, os quais não tenho dados para
enquadrá-los em nenhuma categoria.

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Mantendo os pares que anteriormente identificamos podemos perceber que as conferências das
Mulheres e a Racial foram organizadas pelo encontro de ONGs com órgãos estatais, enquanto
as outras duas têm características diversas . A Conferência Nacional das Cidades reúne um
conjunto bastante diferenciado de entidades, além de ONGs, sindicatos ligados à construção civil
e entidades profissionais e acadêmicas. Tal diversidade é uma característica bastante rica a ser
observada, mormente quando estamos tratando de analisar as possibilidades destes espaços como
esferas públicas. As conferências da Mulher e Racial indicam, pelo menos através do tipo de
presença nas reuniões preparatórias espaços de fala bem definidos, enquanto, conferências o
como a das cidades aparece como espaços abertos de discussão de um conjunto diversificado de
atores.
O número mais equilibrado de representantes da sociedade e do estado nas conferências da
Mulher e da Igualdade Racial, pode indicar uma menor liberdade de ação desses dois grupos em
relação aos outros dois, que parecem chegar até o estado com mais força e independência.
Todavia, também pode ser revelador, como já afirmamos acima uma maior presença por ter maior
poder , na medida em que tem mais tempo e espaço no interior do aparato estatal.
Vejamos agora como se constituíram as assembléias de delegados nas 4 conferências. Em todas
elas os delegados são eleitos em assembléias estaduais, estas por sua vez são compostas por
representantes eleitos nas conferências municipais.

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Tabela III -
Quadro geral dos participantes das quatro conferências

conference anon. de N, 9 N repre N´represe soc


delegados de cons** governo civil
I Conferência 2003 1037 125(12.1%) 305 (29,4%) 607 (58.5%)
Nacional do - Membros do inclui desde
Meio CONAMA ONGs até cons.
Ambiente profs. e setor
- Membros do produtivo.
Conselho
Nacional de
Recursos
Hídricos

I Conferência 2003 2095 928 10 (44%) 1167 (56%)


Nacional das
Cidades
I Conferência 2004 1993 63 (3,1%) 960 (48,2%), 970 (48,7%),
Nacional de - Membros do equivalente a equivalente a
Política para CNDM 40% dos 60% dos
as Mulheres delegados delegados
oriundos das oriundos das
confs. confs. estaduais
estaduais 11
I Conferência 2005 1019 73 (7,1%) 349 (34,3%) 597 (58,6%)
Nacional de - Membros do
Promoção da CNPIR
Igualdade
Racial
FONTES: www.mma.gov.br – acessado em 3 de abril de 2006
www.ptsc.gov.br – acessado em 6 de janeiro de 2006
www.presidência.gov.br/seppir/ - acessado em 7 de fevereiro de 2006
www.cidades.gov.br – acessado em 23 de janeiro de 2006

A tabela acima não deixa dúvidas sobre a característica de grande encontro entre a
sociedade civil e a Estado que estas conferências representam, mormente quando esses
representantes da sociedade civil chegam às elas através de um processo bastante
democrático de escolha nas etapas estaduais e municipais. O interessante mais uma vez
aqui é chamar a atenção para a Conferência das Mulheres, onde parece haver pouca

9
Os Conselhos são formados por representantes do Estado e da sociedade civil, nas Conferências,
entretanto, não podem ser considerados apenas como de um ou de outro segmentos pois representam uma
instituição com regras e políticas próprias.
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Inclui Operadores e Concessionários públicos.,
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divididos em 30% representando as administrações municipais e 10% as estaduais, somados aos 300
representantes do governo federal

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clareza entre o que é Estado e o que é sociedade civil. É a única na qual a representação
da sociedade civil não é majoritária. Entretanto com já foi observado anteriormente,
deve-se ter presente que ao contrário das outras conferências inaugurais, a existência do
Conselho das Mulheres é bastante antigo, dada no início da década de 80, durante a
elaboração da constituinte de 88 , organizações da sociedade civil junto com o conselho
tiveram importante atuação em assegurar direitos para a mulher na carta constitucional.
A questão que esse tipo de relação suscita é a falta de independência que poderia
resultar.Todavia, parece-me que o histórico não indica este tipo de situação.Talvez seja
aqui importante chamar a atenção para o fato de que a sociedade civil não ser um partido
e o Estado outro, no sentido de terem propostas antagônicas. Ao contrário o que pode
ocorrer é a ocupação dos espaços no aparato estatal por agentes dos movimentos sociais,
isto é, a existência de uma burocracia estatal com origens e fidelidades nos movimentos
da sociedade civil.
Em relação aos participantes da sociedade civil é particularmente importante ter presente
o sentido de representação que foi dado a esta presença. Como já foi citado
anteriormente nos próprios decretos de algumas dessas conferências fica explicitado a
necessidade dos participantes serem eleitos democraticamente. Mas além disto, parece
ter estado muito presente à preocupação com a representatividade dos estados e
municípios, como fica claro na tabela abaixo.

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Tabela IV
Representantes do governo

conferência ano federal estadual municipal


I Conferência 2003 82 (27%) 116 107
Nacional do (38%) (35%)
Meio
Ambiente

I Conferência 2003 189 191(2.3.6%) 280(34.5%)


Nacional das (23.3%) executivo executivo
Cidades 41 (5,1%) 110 (13,6%)
legislativo legislativo
I Conferência 2004 300 173 487
Nacional de (31.3%) (18%) (50,7%)
Política para
as Mulheres
I Conferência 2005 106 75 168
Nacional de (30.3%) (21.6%) (48.1%)
Promoção da
Igualdade
Racial
FONTES: www.mma.gov.br – acessado em 3 de abril de 2006
www.ptsc.gov.br – acessado em 6 de janeiro de 2006
www.presidência.gov.br/seppir/ - acessado em 7 de fevereiro de 2006
www.cidades.gov.br – acessado em 23 de janeiro de 2006

Examinando a tabela acima se percebe que as quatro Conferências tiveram uma


abrangência nacional bastante homogênea no que concerne ao envolvimento de
autoridades municipais e estaduais. A próxima tabela refere-se aos delegados
participantes das conferências, quanto a eles é impossível, pelos dados oficiais vindos a
público classificar sua abrangência , isto é, nacionais, regionais ou municipais. Algumas
ONGs, associações e federações têm âmbito nacional óbvio por sua popularidade e
importância no país. Por outro lado, deve-se ter presente que estes delegados foram
retirados de conferências estaduais, portanto esteve bastante assegurada a
representatividade.

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Tabela V
Representantes da sociedade civil

conferência ano Mov social ong sindicatos Ent. Empre. outros.


I Conferência 2003 212 (35%) 124 (20%) 25 (4.1%) 65 (10.7%) 57 (9.4%)
Nacional do de entidades Cons. empresários chamados de
Meio 4 ambientalistas outros e sem
Ambiente
Profs. 13 definição
quilombolas 12

38 Indígenas 95 (15.7%)
Universidade
170 (28%)
mov. Sociais 29 (4.8%)
(sem contar os Juventude 14
acimas)

I Conferência 2003 541 (46.4%) 190 (16.3%) 203 (17.4%) 153 (13%) 80 (6.9%)
Nacional das Concessionários
Cidades privados
I Conferência 2004
Nacional de
Política para as
Mulheres
I Conferência 2005 100% 15
Nacional de
Promoção da
Igualdade
Racial
FONTES: www.mma.gov.br – acessado em 3 de abril de 2006
www.cidades.gov.br – acessado em 23 de janeiro de 2006

A primeira e mais transparente característica desta tabela é a distinção entre de um lado as duas
conferências de caráter identitário e de outro as conferências das Cidades e do Meio Ambiente.
Os delegados das duas primeiras são restritivamente ligados aos movimentos sociais e as
posteriores Ongs que são constituintes das identidades mulheres/
negros/índios/ciganos/quilombolas. A forma como a sociedade civil foi representada na
Conferência da desigualdade Racial mostra um quadro claro dessa situação:

12
Estes dados foram encontrados em uma nova fonte, acessada em 03 de abril de 2006.
http://www.mma.gov.br/cnma//arquivos/pdf/cnma_processos_resultados.pdf
13
Conselhos Profissionais, sem especificação nenhuma na fonte.
14
Adolescentes escolhidos pelo Brasil no processo de escolha dos delegados para a Conferência Infanto
Juvenil do Meio Ambiente que ocorreu paralelamente.
15
Aqui estão as categorias apresentadas na tabela seguinte

15
16

Tabela VI
Representantes da sociedade civil na I Conferência Nacional de Promoção da
Igualdade Racial

Indígenas Quilombolas Outros Negros Soc. Civil Total


grupos 16 “branca” 17
48 (7.4%) 48 (7.4%) 96 (14.8%) 360 (55.6) 96(14.9%) 648
FONTE: (www.presidencia.gov.br/seppir/– acessado em 7 de janeiro de 2006)

Nas outras duas conferências não existe esta questão identitária, pelo menos de forma tão
marcada, daí encontrarmos uma gama muito variada de identidades formando as conferências.
Essa característica diferenciadora permite que se avance na reflexão sobre esferas públicas.Nas
duas conferências que chamarei de identitárias, a esfera pública pode se constituir a partir da
multiplicidade de esferas, onde o encontro das diferenças realmente acontece entre iguais. Isto é,
há limites muito bem delimitados entre quem fica fora ou quem fica dentro do espaço da esfera
pública. As duas outras conferências pelas suas próprias naturezas acolhem um número mais
diversificado de atores. Isto é uma condição do tipo de problemática e de atores presentes na
conferência ou é uma escolha? A resposta a esta questão talvez não esteja em nenhuma das duas
alternativas, mas sim no exame do histórico desses atores sociais. No caso das mulheres e das
minorias raciais a exclusão histórica e o silêncio a que foram submetidos tende a levar a
movimentos mais exclusivos e a construção de esferas públicas , alternativas (contra públicos),
em um primeiro momento e múltiplas em um segundo (Fraser 1996). Já conferências onde o
centro não é uma questão inscrita em corpos, que segrega por presença, como são os casos das
conferências do Meio Ambiente e das Cidades, o conjunto de atores que discutem o problema é
muito mais amplo e mesmo que haja uma tendência forte para algumas soluções, examinando as
presenças, pode-se perceber um arco alargado de possibilidade de discussão. Na há nessa
observação nenhuma perspectiva normativa, nem a idéia de que uma solução seja melhor do que

16
Neste número estão inclusos entidades profissionais, acadêmicas
17
“(...)população branca/sociedade civil, comprometidos com a promoção da igualdade racial”. FONTE:
Regimento da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, Site da Secretaria Especial de
políticas de promoção de igualdade racial (www.presidencia.gov.br/seppir/) – acessado em 7 de janeiro de
2006

16
17

a outra, o que está se tratando de analisar são os efeitos distintos que a história incorporada por
cada agente, movimento ou tema produzem na entrada destes na esfera pública.

A construção de uma esfera pública aqui ocorre através da diferenciação de atores e não em uma
perspectiva habermasiana, pela igualização dos atores como cidadãos. Também ocorre por um
chamamento do Estado que contraria completamente o princípio da independência atribuído a
esfera pública. Todavia, apesar destas condições, que se poderia caracterizar de restritivas, a
hipótese de que em condições de precariedade de esferas públicas e da própria sociedade civil,
eventos como as conferências são potencialmente esferas públicas permanecem com pertinência.
O exame das resoluções permite avançar a questão.

Resoluções

As quatro conferências em tela produziram documentos muito volumosos com decisões


de grande abrangência sobre os temas que foram tratados durante os dias de reunião. São
documentos de mais de 100 páginas cada um trazendo com detalhes todas as decisões
tomadas. O relatório final da Conferência Nacional das Mulheres conta com 239
recomendações; o do Meio Ambiente chega a 1044 recomendações. Não é objetivo
desse artigo fazer a análise do conjunto de recomendações, mas indicar as tendências
gerais destes documentos, enfatizando o que eles tem de comum e no que cada um se
singulariza.

Como os dados vêm indicando ao longo desse texto, nos relatórios finais se repete a
tendência de se agrupar de um lado as conferências da Mulher e da Igualdade Racial e de
outro a das Cidades e do Meio Ambiente. As duas primeiras tem suas resoluções e
recomendações focadas nas questões específicas dos grupos que representam, mulheres e
grupos étnicos raciais. Enquanto as resoluções das duas outras conferências estão muito
próximas do que se poderia chamar de uma nova proposta de governo e desenvolvimento
econômico. Guardadas as diferenças todos os quatro documentos são enfáticos no
alastramento da participação da sociedade civil, na gerência da coisa pública e no
controle social.

17
18

O relatório da I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres estrutura-se a partir


de três questões fundamentais: a intervenção estatal no sentido de garantir políticas
públicas para as mulheres; as políticas específicas de ações afirmativas; a construção de
mecanismos de participação e de controle social das ações do estado. Há uma grande
centralidade nas recomendações e decisões que enfatizam a necessidade da
implementação da Política Nacional para a Mulher através de uma forte interferência do
Estado Caberia ao Estado institucionalizar essa política com a criação de Secretaria de
Políticas para a mulher em todos os estados. Também dirige ao Estado as demandas
pelo combate a violência, ao acessado a terra e a moradia e ao crédito rural, a promoção
da independência econômica da mulher através de, reformas estruturais 18 , a efetivação
do Plano de Ação Integral da Saúde da Mulher, garantia de educação não sexista. O que
chama a atenção nessas demandas é que mesmo quando elas envolvem questões mais
amplas, como quando se referem à reforma fiscal ou a implementação do Estatuto das
Cidades, o foco nunca se abre no sentido de incorporar outros setores excluídos. Quando
fala em reformas macro econômicas afirmam:

“Promover a ampliação da oferta de emprego por meio de uma revisão na política


macroeconômica e estratégias de desenvolvimento que incentivem o crescimento
econômico sustentável voltado para o mercado interno de consumo de massas. Redução da
jornada de trabalho, sem redução do salário, para aumentar o acessado ao emprego e
favorecer também a divisão do trabalho doméstico, propiciando mais tempo livre para as
mulheres participarem de outras atividades.” (www.fecosul.com.br– acessado em 6 de
fevereiro de 2006).

Em outro momento do documento, quando o tema é a questão financeira, lê-se:


“Adotar políticas macroeconômicas e estratégias de desenvolvimento, com a redução da
taxa de juros e do superávit primário que assegurem as necessidades das mulheres,
garantindo a superação da pobreza e do desemprego”. (www.fecosul.com.br – acessado em
6 de fevereiro de 2006. )

18
Garantir que o Estado promova a independência econômica das mulheres, assegurando seus
direitos, o acessado ao emprego, a melhoria das condições de trabalho e o controle sobre os recursos
econômicos, com apoio à geração de renda e à economia solidária. (p.33) FONTE: Site da Federação dos
empregados no Comércio de Bens e Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (www.fecosul.com.br) –
acessado em 6 de fevereiro de 2006.

18
19

Este foco tão restritamente dirigido à questão da mulher tem um princípio


filosófico norteador que é o da negação da neutralidade do estado:.

“O desafio a ser enfrentado na implementação de políticas públicas é desmistificar a


neutralidade do Estado como propositor e articulador de uma ação política. Cabe ao poder
público garantir a universalidade, alterando as desigualdades sociais. Esta alteração precisa
ser também considerada do ponto de vista das relações de gênero, raça e etnia, de geração,
da diversidade de orientações sexuais e das necessidades específicas de pessoas com
deficiência, modificando relações de poder e acessado a direitos em sua dimensão social,
política, econômica e cultural. Possibilitando, assim, o rompimento da visão corrente e
assumindo o pressuposto de que a definição de masculino e feminino é uma construção
histórica, política, cultural e um componente estrutural das relações sociais e econômicas”
(www.fecosul.com.br – acessado em 6 de fevereiro de 2006. )

Esse enunciado é particularmente interessante como exemplo e está divido em


três partes: na primeira afirma a necessidade da universalidade, na segunda nomeia
aqueles que precisam ser incluídos para que o estado seja universal, onde parece haver
uma abertura aos outros excluídos da sociedade, entretanto, no final retoma o foco do
enunciado quando aponta o pressuposto da divisão entre o masculino e o feminino.

A segunda questão tratada no documento é a tema das ações afirmativas, estas são
particularmente importantes por duas razões: pela centralidade no debate teórico e
político sobre formas de democracia e pela atualidade que possui no Brasil, por conta
da discussão sobre a política de cotas para negros e estudantes de escolas públicas nas
universidades públicas do país. No caso das mulheres as cotas já são aplicadas nas listas
partidárias para cargos legislativos sem causar problemas, por conta de artifícios da lei
que não criou nenhuma limitação para a participação dos homens nas listas, nem retirou
possíveis posições de privilégio no interior destas, como financiamento de campanha,
entre outros. No documento em tela as políticas de ações afirmativas aparecem junto
com o tema da universalidade do Estado e como uma necessidade transitória:

“O princípio da universalidade deve ser traduzido em políticas permanentes nas três


esferas governamentais caracterizadas por sua indivisibilidade, integralidade e
intersetorialidade dos direitos, combinadas às políticas públicas de ações afirmativas,
percebidas como transição necessária em busca da efetiva igualdade e equidade de gênero

19
20

que considera a diversidade de raça e etnia” (www.fecosul.com.br – acessado em 6 de


fevereiro de 2006 )

È mister chamar a atenção para a forma que a diversidade de raça e de gênero


aparece no estrato acima. Não se está referindo ao gênero, raça e etnia o que apontaria
para uma posição mais inclusiva, mas sim incluindo a transversalidade de raça e etnia
no universo das mulheres.Em outra passagem do documento as ações afirmativas são
novamente mencionadas da mesma forma:

“Implantar e implementar políticas de ações afirmativas como instrumento


necessário ao pleno usufruto de todos os direitos e liberdades fundamentais para distintos
grupos de mulheres - negras, índias, jovens, idosas, populações tradicionais, mulheres
lésbicas e bissexuais, mulheres que fazem sexo com mulheres, mulheres vivendo com
HIV/AIDS, profissionais do sexo, mulheres com deficiência, mulheres privadas de
liberdade - para corrigir práticas discriminatórias”. (www.fecosul.com.br– acessado em 6
de fevereiro de 2006 )

O estrato acima mostra uma posição que trata de ser o máximo inclusiva possível e
traz em si uma questão fundamental na discussão das ações afirmativas e na política da
diferença, que é a da fragmentação e da necessária auto identificação. A fragmentação é
uma via muito rápida para a diluição dos direitos universais. Por outro lado deixam fora
mulheres brancas pobres heterossexuais que não sejam portadoras de HIV/AIDS,
profissionais do sexo , deficientes ou presidiárias. E este não é um contingente pequeno
para se desprezar em políticas públicas de inclusão.

Assim como as resoluções do relatório final da I Conferência Nacional de Políticas


para Mulher o relatório da I Conferência Nacional da Promoção da Igualdade Racial é
focada quase que exclusivamente na questão racial e étnica O relatório é um alentado
documento de reivindicações ao Estado. Comparado ao da Mulher é ainda mais tímido no
que se refere a mudanças estruturais ou demandas de participação no governo, através de
novos instrumentos institucionais. O documento está dividido em 10 itens todos
diretamente relacionados com a questão racial e étnica. A listagem dos itens é bastante
informativa: trabalho e desenvolvimento econômico;educação; saúde; comunidades

20
21

remanescentes de quilombos, população indígena; juventude negra; mulher


negra;religiões de matriz africana – comunidades de terreiro;política internacional;
fortalecimento das organizações anti-racismo. Em nenhum desses itens há alguma forma
de relação entre a condição dos negros e outras etnias com as condições gerais de
desigualdade e pobreza. Pela própria leitura nota-se a centralidade da questão negra,
apenas a população indígena é citada como um dos itens. O respeito à diversidade étnica
está presente no documento com destaque aos ciganos, várias vezes citados. Todos estes
itens são construídos como demandas ao Estado. Chama à atenção a centralidade das
políticas de ação afirmativas como a solução para as questões raciais e a pouca presença
de demandas por maior participação.

As políticas de ações afirmativas aparecem em primeiro lugar em relação ao


trabalho onde as ações para superar as desigualdades no trabalhos são, exigidas
pelas convenções 100, 111 e 169 da OIT 19 ,Para a implantação das ações propostas
ns convenções o documento afirma que cabe responsabilidade ao Estado e a
Sociedade . Em relação à educação a questão das cotas aparece relacionada ao
ensino superior em seus níveis de graduação e pós-graduação associada a
“destinação de verba orçamentária para cotistas, como medidas fundamentais para
viabilizar a conclusão do curso acadêmico e sucesso no
campo”(www.presidencia.gov.br/seppir/ – acessado em 8 de janeiro de 2006. ) A
mesma questão repete-se quando o documento refere-se à juventude negra com o
acréscimo de ações afirmativas relativas ao ensino profissionalizante.. Quanto à
questão da mulher negra o documento reafirma a existência de discriminação no
trabalho e novamente propõe:

“a criação de mecanismos de fiscalização quanto às práticas de assédio sexual,


discriminações raciais e por orientação sexual na ocupação de vagas no mercado de
trabalho. A saída proposta foi a defesa das políticas de ações afirmativas em todas as
esferas de trabalho como forma de promover a igualdade salarial e os direitos de promoção,
em todas as instâncias do mercado de trabalho, para negras, e também o estímulo à
profissionalização da mulher trabalhadora rural, quilombola e indígena, garantindo linhas
de créditos, facilitando o acessado à previdência rural e aos programas de reforma agrária e
urbana.” (www.presidencia.gov.br/seppir/ – acessado em 8 de janeiro de 2006. )

19
Convenção n.º 100 da OIT relativa à Igualdade de Remuneração entre a Mão-de-obra Masculina e a
Mão-de-obra Feminina em Trabalho de Valor Igual Convenção n.º 111 da OIT, sobre a Discriminação em
matéria de Emprego e profissão. Convenção no 169 da oit sobre povos indígenas e tribais

21
22

Neste estrato observa-se a mesma característica que foi chamada a atenção quando
do exame das Resoluções da Conferência das mulheres, isto é, há como uma cláusula,
que impossibilita as resoluções extrapolarem interesses que poderiam ser chamados
grosso modo de corporativos, ou seja o documento não inclui a mulher em geral ou a
mulher pobre em geral, dois recortes distintos mas incluidores, mas as mulheres com
características raciais étnicos específicos..

Dos itens acima listados três merecem atenção por conterem informações
importantes que trazem sobre o tipo de posição dos delegados da conferência. A primeira
dela é a centralidade dos quilombolas, que não só estão presentes em todo o documento,
mas que recebem um tratamento especial em um item. Essas comunidades têm um
valor simbólico muito especial na medida em que representam na atualidade a resistência
do negro à escravidão. Há uma grande preocupação na preservação do modo de vida e da
cultura dessas pessoas, principalmente com garantia da propriedade da terra e com a
cultura e a história . O que merece destaque nesse último ponto é que o documento não
está preocupado em difundir por meio da escola por exemplo esta cultura, mas não
deixá-la morrer, através de escolas especiais nos redutos quilombolas.

Em relação aos povos indígenas o destaque no documento deve-se a expressiva


organização desse grupo. Apesar de não ter havido conferências nacionais dos povos
indígenas, aconteceram até 2005 nove conferências regionais sendo a nona realizada em
Belém com representantes do Amapá, Pará e Maranhão. (www.gov.br acessado 07 de
abril de 2006).

Em linhas gerais, o documento da Conferência da Promoção da Igualdade Racial


está muito próximo das resoluções da Conferência das Mulheres, no sentido de serem
demandantes de políticas e ações públicas. Colocam-se como usuários do Estado,
buscando brechas para sua inclusão como receptores dos resultados dessas políticas, as
duas conferências demandaram muito pouco uma forma diferenciada de inserção na
arena política. Apenas em um parágrafo, quase final do documento no item referente ao
Fortalecimento das Organizações Anti-racismo o tema da representação aparece

22
23

“objetiva-se o fortalecimento de Coordenadorias Municipais e Estaduais, responsáveis


pela aplicação de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, bem como lutar pela
inserção de todos os municípios no Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade
Racial/Fipir (www.presidencia.gov.br/seppir/ – acessado em 8 de janeiro de 2006. )

Diferentemente dos Relatórios das duas conferências até agora examinadas, as


Conferências Nacionais do Meio Ambiente e das Cidades, tiveram aspectos muito
abrangentes e extrapolaram em muito os limites dos seus temas. Evidente que se
dirigiram ao governo para solicitar políticas, mas em nenhum dos casos esta foi à tônica.
As duas conferências constituíram-se como espaço de discussão de projetos alternativos
capazes de transformar as condições do desenvolvimento e da democracia brasileira.
Duas questões centralizaram os relatórios finais das conferências: uma nova proposta de
desenvolvimento e uma nova proposta de democracia, o primeiro voltado para acabar
coma as desigualdades e a pobreza o segundo no sentido de criar uma democracia
participativa com efetiva presença da sociedade civil nas decisões políticas.

As resoluções finais da I Conferência Nacional do Meio Ambiente enfatizam a


necessidade de fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente criado há 22 anos,
e está dividido em duas partes , na primeira especifica questões ambientais, como
recursos hídricos, agricultura, ,pecuária, recursos florestais , energia, meio ambiente
urbanos entre outros. Na segunda parte faz uma proposta de política ambiental para o
Brasil. Nos dois momentos é enfática a preocupação com uma nova forma de gerir os
recursos naturais a partir das necessidades das populações pobres e excluídas e de uma
redefinição da participação da sociedade civil..

A proposta para a o Sistema Nacional do Meio Ambiente baseia-se em uma gestão


integrada, descentralizada e participativa através de um controle social exercido pela
sociedade civil por meio de ONGs e dos movimentos sociais. Chama a atenção já neste
primeiro momento do longo documento de 1044 pontos a preocupação de inserir no
debate diferentes setores da sociedade tais como quilombolas, povos indígenas,
ribeirinhos, extrativistas, cooperativas e grandes empresários. É particularmente

23
24

interessante a forma como o a documento discute a questão da biodiversidade dando


grande importância ao conhecimento dos grupos de usuários tradicionais e afirmando de
forma enfática: “é necessário reconhecer a sabedoria tradicional como ciência” . Em
outro momento o documento é radicalmente contra o modelo econômico que privilegia a
exportação e a criação animal.

“Este modelo de produção não contribui para a segurança alimentar. A monocultura e a


intensificação da criação animal causam problemas sociais e ambientais, tais como
concentração da posse da terra, empobrecimento dos agricultores familiares, êxodo rural e
degradação dos recursos naturais. Os programas destinados a facilitar o acessado à terra,
crédito, habitação, água potável e eletricidade baseiam-se no assistencialismo ou na
compensação por perdas. A terra destinada à agricultura familiar e à reforma agrária é
insuficiente, de má qualidade, de difícil manejo e situada em áreas marginais para a
produção, criando a necessidade de orientação e de disponibilização de técnicos
qualificados.” (www.mma.gov.br – acessado em 25 de janeiro de 2006).

A alternativa ao modelo é o que é chamado de planejamento rural sustentável:


“O planejamento rural sustentável deve ser feito em conjunto com as cidades e de forma
participativa. São fundamentais a geração, a validação e a difusão de tecnologias
adequadas às diversas regiões, respeitando-se suas especificidades, vocação e tradição, de
modo a promover o fortalecimento da agricultura familiar e a inclusão social, enfocando o
apoio à economia local e fortalecendo os elos locais da cadeia produtiva. É necessário o
aprofundamento do compromisso com os setores mais pobres da população, com a
introdução de técnicas e práticas que conduzam à prosperidade das famílias, à criação de
sistemas agroflorestais e à regularização da situação fundiária. Este sistema também deve
garantir o compartilhamento de poder e responsabilidade entre Estado e usuários, além do
diálogo entre os saberes científico e tradicional” ((www.mma.gov.br – acessado em 25 de
janeiro de 2006. – acessado em 26 de janeiro de 2006. )

No estrato acima fica bastante claro uma forma diferenciada de pensar a questão agrária
brasileira, onde a preocupação central é a inclusão através da viabilidade de atividade
econômica e da participação através da gestão e da incorporação dos conhecimentos
tradicionais. O mesmo tipo de posicionamento encontra-se no item referente aos recursos
pesqueiros e aquicolas.

O último relatório final a ser examinado traz as conclusões da I Conferência Nacional das
Cidades.. Este relatório é certamente o mais abrangente de todos, a partir da questão das
Cidades o documento propõe um novo pacto visando uma nova visão de cidade e de
administração das questões que lhe dizem respeito, o controle social e a participação

24
25

efetiva na tomada de decisão. Também é o documento com a maior preocupação com


inclusão tanto dos grupos étnicos raciais, das mulheres, mas com muita centralidade nas
populações de baixa renda.O documento inicia-se com a declaração de um direto à
cidade:.
“Todos os brasileiros têm direito à cidade, entendido como o direito à moradia digna,
à terra urbanizada, ao saneamento ambiental, ao trânsito seguro, à mobilidade urbana, à
infra-estrutura e aos serviços e equipamentos urbanos de qualidade, além de meios de
geração de renda e acessado à educação, saúde, informação, cultura, esporte,lazer,
segurança pública, trabalho e participação”.. (http://www.pr.gov.br/cidades/resolucoes.pdf
- acessado 24 de janeiro de 2006. )

Como pode ser observado no estrato acima há uma construção complexa do direito à
moradia, que inclui uma série de outros direitos básico que vêm acompanhados com
políticas de cotas para deficientes, prevenção do meio ambiente, prioridade da função
social da moradia e gestão democrática .

A implantação de políticas públicas urbanas é um projeto de governo que deve ser


amparado por forte políticas de participação social. É particularmente importante prestar
a atenção na proposta de ações conjuntas dos Ministérios das Cidades e da Educação no
sentido de “formar a juventude para exercer justiça social e responsabilidade social” e
desta forma “garantir a gestão cidadã”.

O documento encerra com muita ênfase na democracia, propondo


mecanismos de aprofundamento da participação e do controle social, tais como
conferências permanentes para a “discussão e proposição às políticas do Ministério”
onde aponta para a necessidade da participação das Cidades, dos setores produtivos,
sindicatos, Ongs, Oscips e universidades. O relatório é enfático e se distingue neste ponto
das demais, ao propor a democracia participativa como forma de administração do
governo federal. Literalmente prescreve: “que os critérios e regras adotados para a
implantação deste processo nacional de democracia participativa sejam discutidos e
aprovados juntos aos movimentos populares e sindicais bem como aos conselhos
municipais e estaduais existentes” (http://www.pr.gov.br/cidades/resolucoes.pdf - acessado
24 de janeiro de 2006. )

e conclui:

“Adotar, no Governo Federal, a democracia participativa como método de decisão


sobre as políticas públicas, e o Orçamento Participativo para discussão e deliberação de
alocação dos recursos públicos federais para as cidades. Que os critérios e regras adotados

25
26

para a implementação deste processo nacional de democracia participativa sejam discutidos


e aprovados junto aos movimentos populares e sindicais, bem como aos existentes.”
conselhos municipais e estaduais (http://www.pr.gov.br/cidades/resolucoes.pdf - acessado
24 de janeiro de 2006).

A ênfase na solução dos problemas através da participação popular na Conferência das


Cidades pode ser entendida a partir de duas questões de naturezas distintas, a primeira
relaciona-se com uma característica típica do tema desta conferência que se diferencia
muito das três outras, que é sua territorialidade. Se as outras conferências foram
organizadas a partir de pequenas cidades, esta tinha o tema das Cidades como moto da
própria conferência. A segunda, refere-se à experiência histórica brasileira de orçamento
participativo de sucesso em diversas cidades brasileiras.

Esta centralidade na cidade, no local, tem sido repetidamente discutida pelos teóricos da
democracia participativa como um loco privilegiado para a construção de esferas
públicas assim como as esferas públicas globalizadas ou pelo menos não restritas
territorialmente. Ora, ênfases são importantes para a partir delas pensar a possibilidade de
considerar as conferências esferas públicas nacionais.

@@@

Uma das características mais concensuadas sobre a esfera pública é a sua independência e
informalidade, a segunda delas na verdade mais enfatizada por Habermas e menos pelos
estudiosos mais contemporâneos. Tomando as conferências é muito fácil constatar a
presença do governo como o agente que as propõe e as organiza. Sem a iniciativa e
presença do Estado, até para torná-las viáveis economicamente. Por outro lado a
presença da sociedade civil nestes eventos foi marcante e inclusive majoritária. E neste
momento necessita-se retomar uma questão que permeou todo o texto, a sociedade civil
chega a estes eventos, como sociedade civil ou como expressão de uma esfera pública. A
diferença aqui é fundamental na medida em que a sociedade civil pode e se apresenta na
maioria das vezes como fragmentada, com grupos de diferentes expressões públicas?
importância ,tamanho e posições. Já uma esfera pública é um espaço , metafórico ou não,

26
27

onde opiniões são construídas, elaboradas, buriladas. A esfera pública é um construto a


partir de posições diferençadas da sociedade civil. Se considerarmos que os atores da
sociedade civil presentes nas conferências constituíram anteriormente uma esfera pública
está frente a um evento que oferece material importante para uma nova reflexão sobre o
encontro da esfera pública com o Estado, não exatamente à moda habermasiana, mas com
um espaço de tensão entre a sociedade civil , aqui como esfera pública e o Estado, onde a
tensão antes de paralisadora é o moto construtor de criação de brechas no Estado para a
“intervenção” da sociedade civil.

As Conferências têm uma forte presença do Estado, ele as convoca e os delegados em


suas decisões majoritariamente estão demandando do estado, políticas públicas. De certa
forma não poderia ser de outra maneira, pois as conferências são convocadas para darem
subsídios para políticas. Se a análise parasse aqui, poderíamos concluir que essas
conferências não apresentam qualquer similitude com que se poderia entender como
esfera pública. Entretanto estas conferências têm atrás de si uma formidável organização
da sociedade civil, como diferentes características como foi examinado ao longo deste
artigo, cada delegado que chegou Brasília passou por diferentes fóruns, estaduais e
municipais, as decisões a que elas chegam traduzem a luta de movimentos sociais,
principalmente no caso das Conferências das Mulheres e da Igualdade racial. As duas
outras conferências têm algumas características distintas, mas também chegam às
conferências com uma discussão anterior importante.

Gostaria de concluir este texto fazendo uma afirmação que pode ser tratada ao mesmo
tempo como uma nova hipótese: trata-se de pensar as esferas públicas em tempo de
democracia participativa como uma entidade com algumas características distintas
daquela pensada por Habermas, onde a presença do Estado não pode ser entendida como
um limitador, mas seu peso negativo ou positivo não deve ser pensando pela presença ,
mas pela forma como a sociedade civil através de suas organizações chega até ele e
inclusive participa de tomadas de decisão sobre as políticas públicas. Se as organizações
da sociedade civil ou cidadãos chegam aos conselhos por convite do governo, parece que
por mais positivo que suas atuações possam ser, não se constitui nem em esfera pública

27
28

nem em aprofundamento da democracia participativa, todavia quando a processos de


eleição em cascata e grupos organizados pensando as questões que são discutidas nas
conferências, parece haver espaço para que sejam investigadas formas diferenciadas de
esferas públicas.

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