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O presente artigo trabalha com uma destas iniciativas durante o governo Lula – as
Conferências Nacionais. Elas não foram criadas por esse governo, algumas já estão em
sua décima segunda edição, mas tomaram grande vulto nesse período, por serem a
vitrine da participação da sociedade civil no governo, principalmente daqueles setores
que estiveram ao lado do PT desde a sua fundação..
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Este artigo teve a colaboração fundamental de meu bolsista de iniciação científica o acadêmico de
Ciências Sociais da UFRGS Guilherme Perin. A ele todos os meus agradecimentos
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Para cumprir o objetivo do artigo decidiu-se trabalhar apenas com as conferências que
aconteceram pela primeira vez no governo Lula. Tal decisão calcou-se em duas razões: a
primeira de ordem metodológica, pois a comparação entre uma conferência tradicional
com seus acertos, costumes e vícios com uma nova conferência poderia trazer problemas
que impossibilitaria a comparação, ou pelo menos o quadro geral que pretendemos traçar.
A segunda razão de tomar somente essas conferências é que elas permitem verificar
como um governo de um partido tradicionalmente imbricado com sociedade civil e com
os princípios da democracia participativa atua neste campo, quando as conferências
acontecem pela primeira vez por sua iniciativa.
As 4 conferências têm temas com raízes profundas nos movimentos sociais, mas são
marcadas por significativas diferenças . É possível dividí-las em dois dois grupos quanto
sua natureza identitária: em um grupo estão as conferências das mulheres e da igualdade
racial e no outro, as conferências do meio ambiente e das cidadesÇas duas primeiras
estão estreitamente ligadas ao movimento feminista e movimento negro que recolocaram
as mulheres e os negros no cenário da sociedade civil a partir de suas lutas ao longo das
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Estas não foram as únicas conferências inauguradas no governo Lula, houve em 2003 a I Conferências
Nacional de Aquicultura e Pesca. A I Conferência Nacional Infanto Juvenil pelo Meio Ambiente, a I
Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica. Em 2004 aconteceu também a I
Conferência Nacional do Esporte. Em 2005 houve a I Conferência Nacional da Cultura. As escolhas que
foram feitas se relacionam diretamente ao problema que estamos tratando de analisar , que é o do encontro
da esfera pública construída a partir da sociedade civil com o Estado
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Este artigo pretende ser uma contribuição a partir de um ponto de vista específico para a robusta
produção relacionada com formas de participação na sociedade civil em espaços institucionalizados. Entre
os importantes trabalhos na área destaco: Raichelis (2000) Gohn (2001) Tatagiba (2002) Fuks.Perissinotto,
Souza (2004)
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três últimas décadas. As duas outras conferências, das Cidades e do Meio Ambiente
tratam de temas menos associados a grupos, que se constituem como sujeito político
através de identidades construídas no interior dos movimentos sociais. No caso da última
o tema torna-se para alguns militantes fator de identidade, mas estando interesses muito
contraditórios em jogo, esta não é uma caractrística definidora do grupo.
As convocatórias
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Em primeiro lugar destaca-se uma política nacional que o governo pretende levar a efeito
em conjunto com a sociedade civil. Os objetivos são primordialmente buscar subsídios
para essas políticas, mesmo assim, é possível perceber entre os dois decretos variações.
No primeiro o temário é prospectivo e delimitado à questão racial, no segundo há uma
solicitação de análise da realidade brasileira e uma avaliação das políticas até então
levadas a efeito. Isto é indicativo do espaço ocupado pelos dois grupos. O Conselho
Nacional da Condição da Mulher está no interior do aparato estatal desde a primeira
metade da década de 80, tendo sua presidente naquela oportunidade, status de ministro. Já
a presença do movimento negro é muito mais recente e só veio ter uma secretaria para
tratar seus assuntos, com status de ministério, no governo Lula.
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As duas outras conferências foram convocadas por decretos presidenciais bem mais
vagos. A conferência das Cidades ainda trouxe a idéia de construção de política 4 , a do
Meio Ambiente tem apenas um lema , deixando todos os detalhes para o regimento, o
lema é “Vamos cuidar do Brasil” .
Chama atenção ainda em relação aos decretos que à exceção da Conferência do Meio
Ambiente, nas outras três aparece em Parágrafo único à necessidade de haver um
“processo democrático de escolha de seus delegados” A expressão é a mesma para as três
conferências.
Os regulamentos
Vale antes de comentar estes objetivos transcrever os da Conferência das Cidades para
evidenciar um tipo comum de característica:
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ª Conferência Nacional das Cidades desenvolverá seus trabalhos a partir do lema "Cidade para
Todos" e sob o tema "Construindo uma Política Democrática e Integrada para as Cidades".
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O objetivo n. II refere-se à politicas: II - definir diretrizes para consolidar
e fortalecer o Sistema Nacional de Meio Ambiente-SISNAMA, instituído pela Lei no
6.938, de 31 de agosto de 1981, como um instrumento para a sustentabilidade ambiental;
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“II - Identificar os principais problemas que afligem as cidades brasileiras trazendo a voz
dos vários segmentos e agentes produtores, consumidores e gestores”;
IV - Propor a natureza e novas atribuições, bem como indicar os membros do Conselho das
Cidades;
V - Propor as formas de participação no processo de formação do Conselho das Cidades;
VI - Avaliar programas em andamento e legislações vigentes nas áreas de Habitação,
Saneamento Ambiental, Programas Urbanos, Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana,
desenvolvidas pelos.
Governos Federal, Estaduais, Municipais e do Distrito Federal nas suas diversas etapas,
com base nos princípios e diretrizes definidos;
VII - Avaliar o sistema de gestão e implementação destas políticas, intermediando a
relação com a sociedade na busca da construção de uma esfera público-participativa;
VIII - Avaliar os instrumentos de participação popular na elaboração e implementação das
diversas políticas públicas” 6 . (www.cidades.gov.br– acessado em 23 de janeiro de 2006. )
O que chama a atenção nesses objetivos é sua amplidão e sua pretensão em repensar
políticas gerais e formas de participação. Ambas as conferências deixam muito claro sua
opção por formas participativas de democracia, A Conferência do Meio Ambiente faz
uma clara associação entre ampliação da participação e desenvolvimento sustentável, já
a das Cidades enfatiza a participação referindo-se especificamente a “construção de uma
esfera público-participativa”.
Os temas das conferências são com é de se esperar especifico de cada área, mas nas
conferências das Mulheres e a Igualdade Racial os textos coincidem em várias passagens
A conferência Racial prediz como objetivos:
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Os incisos I e III referem-se à políticas específicas: - I Propor princípios e diretrizes para as políticas
setoriais e para a política nacional das cidades; III - Indicar prioridades de atuação ao Ministério das
Cidades
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Há apenas uma pequena nuance nesses objetivos, que é a maior abertura da conferência
das Mulheres em relação à da Igualdade Racial no que concerne à análise da realidade
brasileira, enquanto a última restringe-se a questão das desigualdes raciais à primeira
fala de desigualdades em geral.
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deve ser analisada em conjunto com outras questões, entre elas a própria existência de
uma esfera pública anterior, que pode ser o agente provocador da convocação.
O tema da esfera pública tem sido amplamente discutido tanto pela literatura
internacional como pela literatura brasileira. Ambos partem quase que absolutamente das
premissas colocadas por Habermas em sua clássica obra Mudança Estrutural da Esfera
Pública (1984), entretanto, com maior ou menor ênfase também a quase totalidade dos
estudiosos têm uma postura crítica ao autor alemão, principalmente quanto a sua crença
na possibilidade de igualdade de condições dos cidadãos para discutirem e colocarem
racionalmente seus pontos de vista na arena pública. Fundamental para esta discussão é a
já clássica coletânea editada por Craig Calhoun Habermas and the Public Sphere (1996),
onde aparece talvez pela primeira vez a idéia de públicos múltiplos e contra públicos
nos escritos de Nancy Fraser (1996). Outros dois temas fundamentais presentes na obra
de Habermas e que merece atenção dos estudiosos da questão da esfera pública são os da
independência e do local onde ela acontece. Ora, se a esfera pública é diferente do Estado
e tira seu poder de construir opinião e confrontar o próprio Estado por esta
independência, o local a partir de onde ele se expressa necessita ser independente do
Estado. Habermas tem um grande entusiasmo pelos cafés ingleses do século XVII onde
as pessoas livremente expressavam suas opiniões e eram ouvidas pelo parlamento ante
que esse tomasse suas decisões. Habermas estava tratando com um estado liberal não
democrático, onde a diferença de classe, de estilo de vida e cultura entre quem tomava a
decisão e quem dava opinião não era significativa. Como garantir a independência dos
cafés nas sociedades democráticas de massas como as contemporâneas? Atualmente os
estudiosos do tema parecem encontrar duas possibilidades de realização dessa esfera
pública, de um lado aparecem às experiências locais tendo as cidades, os povoados, até
os bairros como a possibilidade de efetiva reunião de pessoas envolvidas na busca de
opiniões coletivas, de outro lado à possibilidade planetária da comunicação via Internet,
que abre perspectivas para se pensar em esferas públicas e sociedades civis mundiais
(Eisenberg & Cepik). Em relação à América Latina e ao Brasil é muito forte a idéia da
realização da esfera pública no espaço local das cidades e dos bairros. Os trabalhos de
Silva (2002 ) e Avritzer (2000 ) têm apontado para esta possibilidade( Silva Avritzer ).
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A problemática das Conferências que tratamos nesse artigo encontra em uma primeira
vista mais pontos de divergência do que convergência com a noção de esfera pública,
principalmente por sua clara relação com o Estado e sua magnitude, longe das esferas
locais. Entretanto, o que trataremos de discutir ao longo das páginas seguintes, através na
análise dos documentos desses eventos e que se trata de um complexo acontecimento
que traz em si novos e importantes elementos para a discussão da noção da esfera pública
e da possibilidade de sua realização em cenários como o brasileiro.
Representantes
Como já foi visto nas páginas anteriores as Conferências são momentos particulares de
encontro da sociedade civil com o Estado podendo ser chamadas de um caso particular
de esfera pública. Assim as chamando estamos avançando em relação à caracterização
delas feitas até aqui, mas ainda gostaria de manter esta classificação de forma provisória.
As conferências são mega eventos tanto na sua organização como no número de
delegados que delas participam. Todas têm estágios estaduais e municipais que
abrangem quase a totalidade dos estados da federação e um enorme número de
municípios. Anterior a isto forma comitês e comissões organizadoras nacionais
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Tabela I
Composição Comissões organizadoras (ou preparatórias)
conferência 1 2 3 4 5 6 7 87
I
Conferência 8 2 1 3 1 - - 2 6
Nacional do
Meio
Ambiente
I Conferência
Nacional das 9 8 18 7 1 9 3 12
Cidades
I Conferência
Nacional de 5 6
Promoção da
Igualdade
Racial
I Conferência
Nacional de 4 4
Políticas para
as mulheres
As tabelas acima trazem dados bastante reveladores das formas variadas que esses diversos
segmentos da sociedade civil se organizam junto ao estado para montarem as conferências.
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1 – Associações Comerciais e Industriais ;2 – Associações profissionais ou de prestadores de
serviços;3 – ONGs e Movimentos sociais;4 – Centrais Sindicais;5 – Entidades Religiosas;
6 – Fundações de pesquisa e estudo e organizações acadêmicas;
7 – Associações privadas de autoridades públicas;8 – Governo
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Há ainda dois representantes do Conselho Nacional de Meio Ambiente-CONAMA, dois representantes do
Conselho Jovem da Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, os quais não tenho dados para
enquadrá-los em nenhuma categoria.
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Mantendo os pares que anteriormente identificamos podemos perceber que as conferências das
Mulheres e a Racial foram organizadas pelo encontro de ONGs com órgãos estatais, enquanto
as outras duas têm características diversas . A Conferência Nacional das Cidades reúne um
conjunto bastante diferenciado de entidades, além de ONGs, sindicatos ligados à construção civil
e entidades profissionais e acadêmicas. Tal diversidade é uma característica bastante rica a ser
observada, mormente quando estamos tratando de analisar as possibilidades destes espaços como
esferas públicas. As conferências da Mulher e Racial indicam, pelo menos através do tipo de
presença nas reuniões preparatórias espaços de fala bem definidos, enquanto, conferências o
como a das cidades aparece como espaços abertos de discussão de um conjunto diversificado de
atores.
O número mais equilibrado de representantes da sociedade e do estado nas conferências da
Mulher e da Igualdade Racial, pode indicar uma menor liberdade de ação desses dois grupos em
relação aos outros dois, que parecem chegar até o estado com mais força e independência.
Todavia, também pode ser revelador, como já afirmamos acima uma maior presença por ter maior
poder , na medida em que tem mais tempo e espaço no interior do aparato estatal.
Vejamos agora como se constituíram as assembléias de delegados nas 4 conferências. Em todas
elas os delegados são eleitos em assembléias estaduais, estas por sua vez são compostas por
representantes eleitos nas conferências municipais.
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Tabela III -
Quadro geral dos participantes das quatro conferências
A tabela acima não deixa dúvidas sobre a característica de grande encontro entre a
sociedade civil e a Estado que estas conferências representam, mormente quando esses
representantes da sociedade civil chegam às elas através de um processo bastante
democrático de escolha nas etapas estaduais e municipais. O interessante mais uma vez
aqui é chamar a atenção para a Conferência das Mulheres, onde parece haver pouca
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Os Conselhos são formados por representantes do Estado e da sociedade civil, nas Conferências,
entretanto, não podem ser considerados apenas como de um ou de outro segmentos pois representam uma
instituição com regras e políticas próprias.
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Inclui Operadores e Concessionários públicos.,
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divididos em 30% representando as administrações municipais e 10% as estaduais, somados aos 300
representantes do governo federal
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clareza entre o que é Estado e o que é sociedade civil. É a única na qual a representação
da sociedade civil não é majoritária. Entretanto com já foi observado anteriormente,
deve-se ter presente que ao contrário das outras conferências inaugurais, a existência do
Conselho das Mulheres é bastante antigo, dada no início da década de 80, durante a
elaboração da constituinte de 88 , organizações da sociedade civil junto com o conselho
tiveram importante atuação em assegurar direitos para a mulher na carta constitucional.
A questão que esse tipo de relação suscita é a falta de independência que poderia
resultar.Todavia, parece-me que o histórico não indica este tipo de situação.Talvez seja
aqui importante chamar a atenção para o fato de que a sociedade civil não ser um partido
e o Estado outro, no sentido de terem propostas antagônicas. Ao contrário o que pode
ocorrer é a ocupação dos espaços no aparato estatal por agentes dos movimentos sociais,
isto é, a existência de uma burocracia estatal com origens e fidelidades nos movimentos
da sociedade civil.
Em relação aos participantes da sociedade civil é particularmente importante ter presente
o sentido de representação que foi dado a esta presença. Como já foi citado
anteriormente nos próprios decretos de algumas dessas conferências fica explicitado a
necessidade dos participantes serem eleitos democraticamente. Mas além disto, parece
ter estado muito presente à preocupação com a representatividade dos estados e
municípios, como fica claro na tabela abaixo.
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Tabela IV
Representantes do governo
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Tabela V
Representantes da sociedade civil
38 Indígenas 95 (15.7%)
Universidade
170 (28%)
mov. Sociais 29 (4.8%)
(sem contar os Juventude 14
acimas)
I Conferência 2003 541 (46.4%) 190 (16.3%) 203 (17.4%) 153 (13%) 80 (6.9%)
Nacional das Concessionários
Cidades privados
I Conferência 2004
Nacional de
Política para as
Mulheres
I Conferência 2005 100% 15
Nacional de
Promoção da
Igualdade
Racial
FONTES: www.mma.gov.br – acessado em 3 de abril de 2006
www.cidades.gov.br – acessado em 23 de janeiro de 2006
A primeira e mais transparente característica desta tabela é a distinção entre de um lado as duas
conferências de caráter identitário e de outro as conferências das Cidades e do Meio Ambiente.
Os delegados das duas primeiras são restritivamente ligados aos movimentos sociais e as
posteriores Ongs que são constituintes das identidades mulheres/
negros/índios/ciganos/quilombolas. A forma como a sociedade civil foi representada na
Conferência da desigualdade Racial mostra um quadro claro dessa situação:
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Estes dados foram encontrados em uma nova fonte, acessada em 03 de abril de 2006.
http://www.mma.gov.br/cnma//arquivos/pdf/cnma_processos_resultados.pdf
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Conselhos Profissionais, sem especificação nenhuma na fonte.
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Adolescentes escolhidos pelo Brasil no processo de escolha dos delegados para a Conferência Infanto
Juvenil do Meio Ambiente que ocorreu paralelamente.
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Aqui estão as categorias apresentadas na tabela seguinte
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Tabela VI
Representantes da sociedade civil na I Conferência Nacional de Promoção da
Igualdade Racial
Nas outras duas conferências não existe esta questão identitária, pelo menos de forma tão
marcada, daí encontrarmos uma gama muito variada de identidades formando as conferências.
Essa característica diferenciadora permite que se avance na reflexão sobre esferas públicas.Nas
duas conferências que chamarei de identitárias, a esfera pública pode se constituir a partir da
multiplicidade de esferas, onde o encontro das diferenças realmente acontece entre iguais. Isto é,
há limites muito bem delimitados entre quem fica fora ou quem fica dentro do espaço da esfera
pública. As duas outras conferências pelas suas próprias naturezas acolhem um número mais
diversificado de atores. Isto é uma condição do tipo de problemática e de atores presentes na
conferência ou é uma escolha? A resposta a esta questão talvez não esteja em nenhuma das duas
alternativas, mas sim no exame do histórico desses atores sociais. No caso das mulheres e das
minorias raciais a exclusão histórica e o silêncio a que foram submetidos tende a levar a
movimentos mais exclusivos e a construção de esferas públicas , alternativas (contra públicos),
em um primeiro momento e múltiplas em um segundo (Fraser 1996). Já conferências onde o
centro não é uma questão inscrita em corpos, que segrega por presença, como são os casos das
conferências do Meio Ambiente e das Cidades, o conjunto de atores que discutem o problema é
muito mais amplo e mesmo que haja uma tendência forte para algumas soluções, examinando as
presenças, pode-se perceber um arco alargado de possibilidade de discussão. Na há nessa
observação nenhuma perspectiva normativa, nem a idéia de que uma solução seja melhor do que
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Neste número estão inclusos entidades profissionais, acadêmicas
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“(...)população branca/sociedade civil, comprometidos com a promoção da igualdade racial”. FONTE:
Regimento da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, Site da Secretaria Especial de
políticas de promoção de igualdade racial (www.presidencia.gov.br/seppir/) – acessado em 7 de janeiro de
2006
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a outra, o que está se tratando de analisar são os efeitos distintos que a história incorporada por
cada agente, movimento ou tema produzem na entrada destes na esfera pública.
A construção de uma esfera pública aqui ocorre através da diferenciação de atores e não em uma
perspectiva habermasiana, pela igualização dos atores como cidadãos. Também ocorre por um
chamamento do Estado que contraria completamente o princípio da independência atribuído a
esfera pública. Todavia, apesar destas condições, que se poderia caracterizar de restritivas, a
hipótese de que em condições de precariedade de esferas públicas e da própria sociedade civil,
eventos como as conferências são potencialmente esferas públicas permanecem com pertinência.
O exame das resoluções permite avançar a questão.
Resoluções
Como os dados vêm indicando ao longo desse texto, nos relatórios finais se repete a
tendência de se agrupar de um lado as conferências da Mulher e da Igualdade Racial e de
outro a das Cidades e do Meio Ambiente. As duas primeiras tem suas resoluções e
recomendações focadas nas questões específicas dos grupos que representam, mulheres e
grupos étnicos raciais. Enquanto as resoluções das duas outras conferências estão muito
próximas do que se poderia chamar de uma nova proposta de governo e desenvolvimento
econômico. Guardadas as diferenças todos os quatro documentos são enfáticos no
alastramento da participação da sociedade civil, na gerência da coisa pública e no
controle social.
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Garantir que o Estado promova a independência econômica das mulheres, assegurando seus
direitos, o acessado ao emprego, a melhoria das condições de trabalho e o controle sobre os recursos
econômicos, com apoio à geração de renda e à economia solidária. (p.33) FONTE: Site da Federação dos
empregados no Comércio de Bens e Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (www.fecosul.com.br) –
acessado em 6 de fevereiro de 2006.
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A segunda questão tratada no documento é a tema das ações afirmativas, estas são
particularmente importantes por duas razões: pela centralidade no debate teórico e
político sobre formas de democracia e pela atualidade que possui no Brasil, por conta
da discussão sobre a política de cotas para negros e estudantes de escolas públicas nas
universidades públicas do país. No caso das mulheres as cotas já são aplicadas nas listas
partidárias para cargos legislativos sem causar problemas, por conta de artifícios da lei
que não criou nenhuma limitação para a participação dos homens nas listas, nem retirou
possíveis posições de privilégio no interior destas, como financiamento de campanha,
entre outros. No documento em tela as políticas de ações afirmativas aparecem junto
com o tema da universalidade do Estado e como uma necessidade transitória:
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O estrato acima mostra uma posição que trata de ser o máximo inclusiva possível e
traz em si uma questão fundamental na discussão das ações afirmativas e na política da
diferença, que é a da fragmentação e da necessária auto identificação. A fragmentação é
uma via muito rápida para a diluição dos direitos universais. Por outro lado deixam fora
mulheres brancas pobres heterossexuais que não sejam portadoras de HIV/AIDS,
profissionais do sexo , deficientes ou presidiárias. E este não é um contingente pequeno
para se desprezar em políticas públicas de inclusão.
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Convenção n.º 100 da OIT relativa à Igualdade de Remuneração entre a Mão-de-obra Masculina e a
Mão-de-obra Feminina em Trabalho de Valor Igual Convenção n.º 111 da OIT, sobre a Discriminação em
matéria de Emprego e profissão. Convenção no 169 da oit sobre povos indígenas e tribais
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Neste estrato observa-se a mesma característica que foi chamada a atenção quando
do exame das Resoluções da Conferência das mulheres, isto é, há como uma cláusula,
que impossibilita as resoluções extrapolarem interesses que poderiam ser chamados
grosso modo de corporativos, ou seja o documento não inclui a mulher em geral ou a
mulher pobre em geral, dois recortes distintos mas incluidores, mas as mulheres com
características raciais étnicos específicos..
Dos itens acima listados três merecem atenção por conterem informações
importantes que trazem sobre o tipo de posição dos delegados da conferência. A primeira
dela é a centralidade dos quilombolas, que não só estão presentes em todo o documento,
mas que recebem um tratamento especial em um item. Essas comunidades têm um
valor simbólico muito especial na medida em que representam na atualidade a resistência
do negro à escravidão. Há uma grande preocupação na preservação do modo de vida e da
cultura dessas pessoas, principalmente com garantia da propriedade da terra e com a
cultura e a história . O que merece destaque nesse último ponto é que o documento não
está preocupado em difundir por meio da escola por exemplo esta cultura, mas não
deixá-la morrer, através de escolas especiais nos redutos quilombolas.
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No estrato acima fica bastante claro uma forma diferenciada de pensar a questão agrária
brasileira, onde a preocupação central é a inclusão através da viabilidade de atividade
econômica e da participação através da gestão e da incorporação dos conhecimentos
tradicionais. O mesmo tipo de posicionamento encontra-se no item referente aos recursos
pesqueiros e aquicolas.
O último relatório final a ser examinado traz as conclusões da I Conferência Nacional das
Cidades.. Este relatório é certamente o mais abrangente de todos, a partir da questão das
Cidades o documento propõe um novo pacto visando uma nova visão de cidade e de
administração das questões que lhe dizem respeito, o controle social e a participação
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Como pode ser observado no estrato acima há uma construção complexa do direito à
moradia, que inclui uma série de outros direitos básico que vêm acompanhados com
políticas de cotas para deficientes, prevenção do meio ambiente, prioridade da função
social da moradia e gestão democrática .
e conclui:
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Esta centralidade na cidade, no local, tem sido repetidamente discutida pelos teóricos da
democracia participativa como um loco privilegiado para a construção de esferas
públicas assim como as esferas públicas globalizadas ou pelo menos não restritas
territorialmente. Ora, ênfases são importantes para a partir delas pensar a possibilidade de
considerar as conferências esferas públicas nacionais.
@@@
Uma das características mais concensuadas sobre a esfera pública é a sua independência e
informalidade, a segunda delas na verdade mais enfatizada por Habermas e menos pelos
estudiosos mais contemporâneos. Tomando as conferências é muito fácil constatar a
presença do governo como o agente que as propõe e as organiza. Sem a iniciativa e
presença do Estado, até para torná-las viáveis economicamente. Por outro lado a
presença da sociedade civil nestes eventos foi marcante e inclusive majoritária. E neste
momento necessita-se retomar uma questão que permeou todo o texto, a sociedade civil
chega a estes eventos, como sociedade civil ou como expressão de uma esfera pública. A
diferença aqui é fundamental na medida em que a sociedade civil pode e se apresenta na
maioria das vezes como fragmentada, com grupos de diferentes expressões públicas?
importância ,tamanho e posições. Já uma esfera pública é um espaço , metafórico ou não,
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Gostaria de concluir este texto fazendo uma afirmação que pode ser tratada ao mesmo
tempo como uma nova hipótese: trata-se de pensar as esferas públicas em tempo de
democracia participativa como uma entidade com algumas características distintas
daquela pensada por Habermas, onde a presença do Estado não pode ser entendida como
um limitador, mas seu peso negativo ou positivo não deve ser pensando pela presença ,
mas pela forma como a sociedade civil através de suas organizações chega até ele e
inclusive participa de tomadas de decisão sobre as políticas públicas. Se as organizações
da sociedade civil ou cidadãos chegam aos conselhos por convite do governo, parece que
por mais positivo que suas atuações possam ser, não se constitui nem em esfera pública
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28
BILBIOGRAFIA
GOHN, Maria da Glória. Teorias dos movimentos Sociais. São Paulo: Ed Loyola, 1997.
HABERMAS. J. Mudança Estrutural da Esfera Pública (Rio de Janeiro: Tempos
Brasileiros, 1984)
RAICHELIS. Raquel. Esfera pública e Conselhos de Assistência Social. São Paulo:
Cortez, 2000.
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Paulo,1995
TATAGIBA Luciana. Os Conselhos Gestores e a Democratização das Políticas Públicas no
Brasil. In: DAGNINO, Evelina. Sociedade Civil e Espaços Públicos no Brasil (São Paulo:
Paz e Terra, 2002)
28