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Como vimos no estudo anterior, o texto bíblico foi conservado de maneira


precisa ao longo dos séculos. Entretanto, esse fato não torna automaticamente
a Bíblia um livro inspirado. É preciso verificar quão sólida é sua credibilidade
história e científica. Se estamos diante de um livro especial, o que se espera, no
mínimo, é que seus personagens, locais e histórias sejam reais e não fruto da
mente de um camponês do segundo milênio antes de Cristo. Mas por que isso
importa? Simples: os escritores bíblicos afirmam que as Escrituras constituem
a Palavra de Deus. Isso é muito sério e não há meio-termo. Conforme salien-
tou o famoso escritor e ex-ateu C. S. Lewis, ou a Bíblia é o maior engano de
todos os tempos (fruto de farsantes de mente doentia) ou é, de fato, a Palavra
de Deus. Isso exige de nós posicionamento. Não podemos simplesmente “tro-
peçar” na questão, nos levantar e fingir que nada aconteceu.

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Escavando as Escrituras
A década de 1990 foi marcada pelo surgimento de acadêmicos norte-ame-
ricanos e europeus fortemente influenciados por uma visão liberal e deprecia-
tiva das Escrituras Sagradas. Niels-Peter Lemche, Philip Davies e Thomas L.
Thompson são alguns dos chamados acadêmicos minimalistas, aqueles que
veem pouquíssimo valor histórico no texto bíblico. Philip Davies, da Universi-
dade de Shefield, na Inglaterra, afirmou várias vezes que o Antigo Testamento
deve ter sido escrito por volta do período grego (3º e 4º séculos a.C.) ou no
período romano (1º ou 2º século a.C.). Não é à toa que até mesmo William G.
Dever, um dos principais arqueólogos da atualidade, esteja lutando contra essa
postura displicente por parte desses acadêmicos. Ele não tem nenhuma moti-
vação religiosa para contestar aqueles pesquisadores, porque é agnóstico.[1]
Foram feitas várias descobertas arqueológicas relacionadas diretamente
com a Bíblia. Calcula-se que aproximadamente 40 personagens bíblicos te-
nham sua historicidade confirmada por meio de documentação arqueológica.
É o caso do rei Davi (1993); do líder religioso de Israel na época de Jesus, Cai-
fás (1990); do rei Ezequias (1830); de Pôncio Pilatos (1961); do rei Jeú (1845);
de Baruque, secretário de Jeremias (1975); e de Herodes, o Grande (1996).
O mesmo pode ser dito a respeito de diversas localidades relacionadas
com a história sagrada, que estiveram soterradas durante milênios em locais
inóspitos do Oriente Médio. Alguns exemplos: Cafarnaum (1852), Jericó
(1867), tanque de Siloé (1897), Babilônia (1899), Ur dos Caldeus (1922), Na-
zaré (1955) e Ebla (1968).[2]
Sir William Ramsay era um cético que não reconhecia a historicidade das
Escrituras. Influenciado pelos pressupostos do Iluminismo presentes na teolo-
gia alemã do século 19, ele foi à Ásia Menor com o único propósito de desa-
creditar a geografia e a história do livro de Atos, no Novo Testamento. Porém,
todas as pesquisas arqueológicas dele mostraram o contrário. A obra de Lucas
é extremamente precisa quando se refere aos costumes, lugares e personagens
do primeiro século depois de Cristo. Ramsay considerou o livro de Atos auto-
ridade em assuntos como topografia, antiguidades e sociedade da Ásia Menor;
um “aliado útil” em escavações obscuras e difíceis. Além disso, passou a se
referir a Lucas como um “historiador de primeira grandeza”.[3]
Por mais que tenhamos diversas confirmações arqueológicas de cidades e
personagens bíblicos, elas jamais provarão o sobrenatural. É preciso ter espaço
para a fé. Porém, ao contrário do que muitos pensam, essa fé está fundamen-
tada em evidências.

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Testemunho da ciência
Para muitos, ciência e teologia bíblica são áreas excludentes. Mas, quando
devidamente compreendidas, tanto a ciência experimental quanto a teologia bí-
blica têm muito em comum. Prova disso é que os primeiros grandes cientistas,
considerados precursores do método científico, eram, em sua grande maioria, cris-
tãos devotos. Exemplos: Galileu Galilei, Isaac Newton e Johannes Kepler. Muitos
cientistas da atualidade também conseguem harmonizar ciência e fé.[4]
Na verdade, assim como ocorre com a arqueologia, a ciência experimental
corrobora muitas afirmações bíblicas, muito embora a Bíblia não seja um livro
de ciências. Alguns exemplos: a afirmação de que as estrelas são incontáveis,
numa época (1500 a.C.) em que se achava que fossem apenas algumas mi-
lhares (Gn 15:5); Terra suspensa no vácuo (Jó 26:7); pressão atmosférica (Jó
28:25); noções de sanitarismo (Lv 13:46 e outros); indicação do melhor dia
para a circuncisão (hoje se sabe que os percentuais de protrombina são altos
nesse dia) (Gn 17:11, 22); princípios dietéticos atualmente reconhecidos e re-
comendados (Gn 1:29); etc.
Em seu livro Razão, Ciência e Fé, o doutor em Filosofia pela Universidade
de Chicago, J. D. Thomas, afirma que “nesse conflito entre a Bíblia e a ciência,
segundo o ponto de vista popular, notámos que existe na realidade uma tensão
entre a Bíblia e o Cientismo [teoria que defende ser a ciência o único método
para o conhecimento de todas as coisas] e não entre a Bíblia e a ciência”.[5]
O Criador da verdadeira ciência, que motivou os primeiros cientistas a des-
vendarem as maravilhas da criação, também é o Deus que inspirou os autores bí-
blicos a revelarem Sua vontade ao pesquisador sincero. Pode ser que o papel aceite
tudo, mas você não precisa aceitar tudo o que está no papel. Pesquise, analise tudo
(1Ts 5:21), examine as Escrituras (Jo 5:39). E só então tome a sua decisão.
A Bíblia é a Palavra de Deus. Precisamos ter fé em sua origem sobrenatural,
mas Deus também nos deixou evidências mais que suficientes para chegarmos
à conclusão de que ela e um livro singular no qual podemos confiar plenamente.
Outro argumento em favor da inspiração está baseado na precisão das profecias
bíblicas. Esse será o tema do próximo estudo. [LGA e MB]

Perguntas para discussão:


1. De que forma a arqueologia ajuda a reforçar a confiabilidade da Bíblia?
2. A Bíblia e a ciência são contraditórias? Justifique sua resposta.
3. Quanto da Bíblia é inspirado por Deus e para que ela é útil? Leia 2 Timóteo 3:16.
4. Por que, principalmente, a Bíblia nos foi dada? Leia Romanos 15:4.

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Saiba mais:
cos (São Paulo: Vida,
• Alan Millard, Descoberta dos Tempos Bíbli
1999).
SP: Casa Publicadora
• Michelson Borges, A História da Vida (Tatuí,
Brasileira, 2011), 2 ed.
a

da Ciência – Fé cris-
• Nancy R. Pearcey e Charles B. Thaxton, A Alma
Cultu ra Crist ã, 2005 ).
tã e filosofia natural (São Paulo:
de (Tatu í, SP: Casa Publicadora
• Rodrigo P. Silva, Escavando a Verda
Brasileira, 2007).
• www.arqueologia.criacionismo.com.br

Notas:
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1. William G. Dever, What Did the Biblical Writers Know & When Did They Know It? What Archaeology Can
Tell Us About the Reality of Ancient Israel (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2002).
2. As duas listas não são exaustivas. Para mais informações, ver: Randall Price, Pedras que Clamam (Rio de
Janeiro: CPAD, 2001).
3. William M. Ramsay, St. Paul: The Traveller and the Roman Citizen (Grand Rapids, MI: Baker, 1962), p. 8.
4. http://michelsonentrevistas.blogspot.com/2008/04/assinatura-qumica-do-criador.html
5. J. D. Thomas, Razão, Ciência e Fé (São Paulo: Vida Cristã, 1984), p. 135, 136.

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