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Candomblés:A etimologia da palavra candomblé, segundo Yeda Castro, pertence ao

tronco africano Bantu, oriunda da língua quicongo/quimbundo/umbundo, kandombele,


traduzida por rezar, invocar, pedir intercessão dos deuses e local onde se realiza o culto
as divindades africanas. O termo pertence aos povos da África Centro Ocidental, portanto,
mais adequado aos candomblés Congo-Angola, mas transformou-se num anteposto
genérico para os de origem Ketu ou Jeje-Nagô.
São religiões que se constituíram no Brasil de culto às divindades africanas - Orixás,
Inkises e Voduns - originárias de diferentes regiões da África. Caracterizam-se pelo
fenômeno do transe, relação não mediada com aquelas divindades, e são de tradição oral,
fundamentalmente míticas, coletivas, de tempo circular (mítico, de repetição), baseadas
na senioridade, iniciáticas, possuem métodos divinatórios e tem um estilo de vida
marcadamente comunitário, entre outras características.
Por serem originários de regiões diversas em África, inicialmente os candomblés eram
identificados como de “nação” e segundo Lima (p.19-20 :1984) a conotação política da
palavra ganhou sentido teológico, identificando as diferentes naturezas rituais dos
terreiros de candomblé. Assim, temos as nações Ketu (Iorubá), Angola (Banto), Jejê,
Xangô do Nordeste, Xambá, Tambor de Mina e nações de Batuque, por exemplo.
Segundo Silveira (p.374:2010) o Candomblé da Barroquinha, suposto primeiro terreiro
Ketu, pode ter sido fundado entre 1788 e 1830, mesmo sendo um dos mais estudados, as
lacunas, conjunturas e presunções persistem. Quem teria plantado os fundamentos do Ilê
Iyá Omi Axé Airá Intile da Barroquinha, Iyá Akalá ou Iyá Airá? Além da imprecisão, não
existem registros seguros de como se constituíram estas tradições religiosas, por exemplo,
quem foram e como se decidiu a composição do panteão dos deuses africanos em cada
escola, já que estas religiões não são monoteístas. Da mesma maneira, é incerto quando
e de que forma se construíram os ritmos, orações, comidas, objetos e práticas religiosas.
Alguns estudiosos levantam a hipótese de que teria existido um proto-candomblé, mas os
estudos sobre a continuidade ou da descontinuidade entre os Calundus e os Candomblés
não são conclusivos (citação do congresso).
Por outro lado, existem mitos de fundação de alguns candomblés, que personalizam sua
origem ou reforçam a “pureza” dos mesmos por seus vínculos africanos. Por exemplo,
Silveira ao se referir a Maria Julia, escrava liberta, a quem foi dado o título de princesa
Iyá Nassô, e comandou o terreiro Ketu mesmo sendo de Oyó se pergunta: “Porque teria
vindo para a Bahia escravista uma personagem de tamanha importância?” (SILVEIRA,
p.602 :2010). Exemplos de construção de “pureza” lastreada por vínculos com a África,
estão relatados por Parés (cap.5 :2006) sobre a suposta primeira mãe-de-santo Jeje,
Ludovina Pessoa, que viajava anualmente para África. Também em Silveira (p.29-30
:2003) com relatos sobre o retorno à aquele continente de Otampé Ojaró, considerada
fundadora do terreiro de Alaketu, conhecida também pelo nome de Maria do Rosário. No
Rio Grande do Sul, no Batuque, encontramos dois mitos de fundação, um que afirma que
ele foi trazido por uma escrava de Pernambuco e outro de que foi resultado de produções
coletivas realizadas por “etnias africanas que o estruturaram enquanto espaço de
resistência simbólica à escravidão” (ORO, p.13 :2008).
Vejamos algumas concepções do candomblé ioruba que constam em Prandi (2001). Em
relação à cultura cristã ocidental podemos citar a noção de tempo e alguns dos seus
desdobramentos. A concepção do tempo no ocidente é linear e irreversível e para eles é
o oposto, o tempo é reversível e circular. O tempo mítico e da memória seguem o mesmo
ciclo: do presente se dirigem ao passado e retornam ao presente, não há futuro. Essa
estrutura de tempo mítico se manifesta no rito do candomblé, a memória restitui o passado
no presente e atualiza o mito. O tempo é cíclico, a natureza é cíclica, a existência humana
também é. A reencarnação recompõe o ciclo da vida, não da forma evolucionista
kardecista que se situa no futuro neste mundo e no outro mundo. Após a morte há um
período de suspensão e de espera. Tudo ocorre na dimensão do presente e do agora, com
interferência das divindades e dos ancestrais que vivem no passado mítico. Para os
iorubas tudo ocorre em três planos: o Aiê que é onde vivemos, o tempo presente; no
Orum, onde estão as divindades e os ancestrais ilustres, o passado mítico; e o mundo
intermediário, daqueles que aguardam o renascer. Tudo acontece no Aiê, não existe a
noção cristã de salvação. Não ser esquecido pelos familiares é a condição para renascer,
porque o seu lugar é na família, mas quando ele se torna uma memória viva para uma
crescente comunidade de pessoas e depois para todo o povo poderá acessar o Orum e
tornar-se um ancestral ou um Orixá, habitando o passado mítico.
Pureza e legitimidade
Bibliografia de referência

CASTRO, Yeda Pessoa de (2005), Falares africanos na Bahia (Um vocabulário afro-
brasileiro). Rio de Janeiro: Topbooks.
LIMA, Vivaldo da Costa. Nações-de-Candomblé. Encontro de nações-de-candomblé.
Salvador: Ianamá/Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA/Centro Editorial e
Didático da UFBA, 1984. p. 10-26
Earl Castillo, Lisa, Parés, Luis Nicolau. Marcelina da Silva e seu mundo: novos dados
para uma historiografia do Candomblé Ketu. Afro-Ásia [en linea]. 2007, (36), 111-
151[fecha de Consulta 12 de Abril de 2020]. ISSN: 0002-0591. Disponible en:
https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=77011144004
Luis Nicolau Parés, A formação do Candomblé, história e ritual da nação jeje na
Bahia, Campinas, Editora UNICAMP, 2006.
ORO, Ari Pedro. As Religiões Afro-Brasileiras do Rio Grande do Sul. Debates do
NER, Porto Alegre, ANO 9, N. 13, P. 9-23, JAN./JUN. 2008. Disponível em <
https://www.seer.ufrgs.br/debatesdoner/article/viewFile/5244/2975> Acessado em: 12-
04-2020.
SILVEIRA, Renato. “Sobre a fundação do terreiro Alaketo”, Afro-Ásia, no 29-30
(2003), pp. 345-80.

http://www.abralic.org.br/anais/arquivos/2013_1434328668.pdf

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