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Curso de Extensão EAD

EXERCENDO PRESBITERATO
com excelência
1. LIDERANÇA ATRAVÉS DE RELACIONAMENTOS
(CRIAR RELACIONAMENTOS)
AULA 1: LIDERANÇA ATRAVÉS DE RELACIONAMENTOS (CRIAR RELACIONAMENTOS)
PRESB. ÍTALO FRANCISCO CURCIO

INTRODUÇÃO

Existem expressões utilizadas no dia a dia que, nem sempre, quem as pro-
nuncia o faz com consciência de seu significado original. O fato de se utilizar
determinada palavra de forma recorrente não deve justificar uma eventual im-
provisação. Durante um diálogo, uma conversa com certo grupo de pessoas ou
um pronunciamento para determinada coletividade devemos estar preocupa-
dos com nossa comunicação.
Particularmente, nosso objetivo é estudar temas importantes para a forma-
ção de oficiais na Igreja, com especial ênfase ao exercício do presbiterato, con-
siderado de muita importância na Tradição Reformada.
A reflexão neste estudo é sobre liderança e como ela pode ser exercida por
meio de relacionamentos.
Vemos logo nesta frase que duas palavras podem ser consideradas chave
para o entendimento da mensagem: liderança e relacionamento.
São essas duas palavras que deveremos deixar claras para que haja entendi-
mento do tema a ser desenvolvido. Não podemos simplesmente perguntar o que
é liderança? E o que é relacionamento? Não é fácil responder a essas perguntas.
Segundo os dicionários mais populares, o significado de liderança é associa-
do a chefia, comando ou algum posto de destaque ocupado por determinada
pessoa numa instituição, e o significado de relacionamento é associado a inte-
ração entre pessoas.
Porém, como dissemos, as respostas não são simples assim, é necessário um
maior aprofundamento para que entendamos exatamente o que é liderança e o
que é relacionamento.
Grosso modo, pode-se dizer que liderança é o ato de um líder e que relacio-
namento é o ato de se relacionar, porém isso é muito pouco para nossa reflexão.
Assim, mais do que um significado, devemos assimilar os conceitos de lide-
rança e de relacionamento.
Quanto ao primeiro conceito, podemos dizer que cada pessoa pode ser um
líder em suas mais diferentes atividades desenvolvidas na sociedade. Isso pode

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ocorrer na família, na escola, num clube, numa empresa e, particularmente, na
Igreja, sem necessariamente ser um “chefe” ou um “comandante”.
O professor britânico, do Departamento de Educação da Universidade de Ox-
ford, John Wilson, diz em seu livro Pensar com Conceitos que “Nas perguntas so-
bre conceitos não há moldura na qual se possa construir a resposta”. O autor argu-
menta que ao se fazer perguntas sobre conceitos, essas deverão estar separadas
das outras perguntas, ou seja, deve-se retirar de um todo aquilo que realmente se
deseja. O conceito não vem necessariamente destacado ou “emoldurado”.
Portanto, antes de se pensar em responder: Como exercer uma liderança?
Ou: Como devemos nos relacionar? É necessário assimilarmos esses respecti-
vos conceitos.
Por isso, nesta reflexão, falaremos acerca dos conceitos de liderança e de relacio-
namento, lembrando-nos sempre de que conceitos não se definem, se assimilam.
Nesse contexto, devemos ter bem claro, portanto, que um líder nem sempre
é um chefe, e que um chefe nem sempre é um líder. Jesus mesmo, ao responder
à mãe de Tiago e João, disse:

Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que


os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim en-
tre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre
vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro
entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que
não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida
em resgate por muitos (Mt 20.25-28).

Quanto ao segundo conceito, devemos também pensar que relacionamento não


se limita a uma simples interação entre pessoas, nesse caso, deve-se ir além.
Como se disse anteriormente, é necessário que seja assimilado.
Particularmente, nesse caso, é importante destacar outra fala de John Wil-
son, quando em seu livro menciona o fato de que diversos conceitos podem va-
riar de acordo com a cultura considerada.
Relacionamento é um dos conceitos tidos como complexos, pois pode ser as-
similado de diferentes formas, dependendo da cultura considerada. A assimila-
ção de relacionamento depende da ética, da moral e até da cosmovisão conside-
rada, além do contexto no qual é avaliado. Não se pode confundir, por exemplo,

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um relacionamento afetivo com um relacionamento comercial, entre outros.
Como nosso estudo é feito segundo os princípios da Ética Cristã Reformada,
os valores considerados referem-se a essa cosmovisão, na qual liderança e re-
lacionamento compõem um binômio com conceitos bem definidos.

LIDERANÇA

O fato de determinado sujeito ser um líder ou de exercer certa liderança re-


quer necessariamente seu pertencimento a determinado grupo de pessoas, as
quais, por sua vez, integram uma instituição.
Essa instituição pode ser a família, a escola, a Igreja ou a sociedade como um
todo. Portanto, jamais se é líder sozinho, um eremita não pode se autoprocla-
mar um líder.
Epistemologicamente, liderança engendra afeto, empatia e altruísmo, pois li-
derar um grupo pressupõe um conhecimento profundo de seus componentes,
uma intimidade, mesmo que não explícita, uma identificação, um “saber se colo-
car” no lugar de cada um desses componentes ou “entender seus sentimentos”.
Considerando-se a família tradicional, preconizada na Bíblia, tem-se no pai a
figura de seu líder. Mesmo em novos modelos de família, nem sempre referen-
dados pelos princípios cristãos, normalmente existe um líder.
Numa empresa, podem existir vários líderes em face das várias atividades
desenvolvidas. Existem as lideranças nas especificidades de seus produtos,
existem as lideranças no âmbito das categorias funcionais, entre outras, no en-
tanto, nenhuma dessas lideranças deve, por tradição ou necessidade, superar
a liderança da empresa que se entende ser exercida pelo seu proprietário, seu
diretor presidente ou seu CEO ‒ Chief Executive Officer.
Na sociedade existem diferentes lideranças, devido aos seus vários segmen-
tos, que podem ir desde um poder local, como um condomínio ou uma “Socie-
dade Amigos de Bairro”, até um poder institucionalizado como o município, o
estado e até a federação.
Nesse caso, as lideranças, geralmente surgidas no meio do povo, se desta-
cam e acabam por ser escolhidas para dirigirem esses segmentos sociais.
Num regime democrático, a escolha do líder costuma ser pelo voto, direto ou
representativo, porém pode-se ter também uma liderança exercida por alguém

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que, mesmo sem ser escolhido democraticamente, acaba por ser o condutor
de um grupo. Em casos mais extremos e ainda mais contundentes, pode-se ter
inclusive um ditador, quando o sujeito se autoproclama líder, ou um déspota,
quando o próprio grupo social o aclama e o eleva a líder.
Particularmente no que concerne à Igreja, o reconhecimento e a escolha de
um líder ocorrem segundo algumas especificidades que dependem de sua iden-
tidade e a fé professada.
Considerando-se uma Igreja cristã, deve-se saber ainda à qual denominação
pertence o grupo, pois cada uma dessas denominações possui sistema de go-
verno específico, cuja liderança é exercida por uma pessoa escolhida de acordo
com sua Constituição.
No sistema presbiteriano de governo, as lideranças são escolhidas democra-
ticamente por voto de seus membros, dentro de um modelo representativo.
Os chamados oficiais da Igreja, como diáconos, presbíteros e pastores, são
pessoas que se distinguem na comunidade local, com qualidades pautadas na
Bíblia Sagrada, de acordo com a doutrina e Constituição da Igreja, e são eleitos
pelos membros para exercerem suas respectivas funções.
Cada um desses oficiais pode ser considerado um líder, a partir do momento
que foi distinguido pela Igreja para poder representá-la nas diferentes ações
por ela promovidas.
O conjunto de diáconos constitui um grupo conhecido por “Mesa Diaconal” ou
“Ministério de Ação Social e Diaconia”, que, por sua vez, também elegerá seu
líder para representá-la nos diferentes setores da Igreja local e nacional.
O conjunto de presbíteros constitui um grupo denominado Conselho, que
possui como líder nato o pastor titular da Igreja, eleito democraticamente por
voto direto de seus membros. Cada presbítero também possui um papel de lide-
rança, por representar a Igreja em decisões a serem tomadas de acordo com seu
Estatuto e a Constituição da Igreja Nacional.
Portanto, o líder, em qualquer situação, deve ser alguém respeitado pelo gru-
po que representa, assim como, ele mesmo, deve respeitar seus liderados.
O líder é exemplo, é paradigma de comportamento, por isso deve ser de con-
duta ilibada, sempre vigilante em suas atitudes, para não escandalizar a socie-
dade que vê nele o modelo a ser seguido.

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RELACIONAMENTO

O relacionamento entre pessoas é algo inerente à humanidade. Não se ima-


gina um grupo social, em qualquer estágio, sem relacionamento entre seus in-
tegrantes. Por isso, o relacionamento é um conceito que vem acompanhado dos
princípios e valores aceitos por esse grupo.
Os relacionamentos entre pessoas se distinguem pela sua própria natureza
como relacionamento entre pais e filhos, marido e mulher, os líderes da Igreja
e seus membros, patrão e empregado, professor e aluno, médico e paciente,
entre outros.
Como se vê, falar sobre relacionamento também não é uma tarefa simples,
por isso, ao se falar sobre esse conceito, devemos especificar qual relaciona-
mento se pretende abordar.
Particularmente, em nosso caso, falamos do relacionamento entre os líderes
da Igreja e seus membros.
A maior expressão do relacionamento entre membros de uma Igreja é a co-
munhão e união entre eles. Quem não conhece o Salmo 133?

Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É


como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a
barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É
como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de
Sião. Ali, ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre.
Esse é o espírito do relacionamento na Igreja, portanto o paradigma a ser se-
guido por todos os seus membros, todos os irmãos em Cristo e, especialmente,
por seus líderes.
Um pastor, presbítero ou diácono não pode exercer uma liderança profícua na
Igreja sem um relacionamento exemplar com os irmãos. Essa é a base para ser
um líder.
Liderança e relacionamento constituem um binômio inseparável!

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