Renovar as Missão como

Obras Pontifícias eixo fundamental

Serviço de Informação Missionária

Ano 48 - N°1 janeiro a abril de 2020

CORONA
VÍRUS
Olhar de fé frente à
crise mundial
Editorial
Índice
Editorial...................................... 3
Rápidas....................................... 4
Destaque..................................... 5
Coronavírus: olhar de fé frente à crise mundial
Fabrício Preto
Nossos Missionários...................... 8
De coração a coração
Bernardo Afonso Vieira
POM.......................................... 10
Renovar as Obras Pontifícias
Pe. Maurício da Silva Jardim
Testemunhos.............................. 12
Na alegria ou na dor, serviremos ao Senhor
Cida Alves e Erica Júlia
Propagação da Fé....................... 14
Testemunho da alegria
Pe. Badacer Neto
Missão em Contexto.................... 16
Nossa querida Amazônia
Paulo Martins
IAM........................................... 18
Testemunhando a vida em missão
Ir. Patricia Souza
Pontifícias União Missionária....... 20
Missão como eixo fundamental
Pe. Antônio Niemiec
2 janeiro - abril 2020
Serviço de Informação Missionária
Ano 48 - N°1 janeiro a abril de 2020
O SIM é uma publicação quadrimestral das POM,
organismo oficial de animação, formação e coope
ração missionária universal da Igreja Católica, em
quatro ramos específicos:
• Pontifícia Obra da Propagação da Fé
• Pontifícia Obra da Infância
e Adolescência Missionária
• Pontifícia Obra de São Pedro Apóstolo
• Pontifícia União Missionária
Expediente
Direção:
Pe. Maurício da Silva Jardim
(diretor nacional das POM)
Conselho Editorial:
Pe. Badacer Ramos de Oliveira Neto
(secretário nacional da Obra da
Propagação da Fé e Juventude Missionária)
Ir. Patricia Souza
(secretária nacional da Obra da
Infância e Adolescência Missionária)
Pe. Antônio Niemiec
(secretário nacional da
Pontifícia União Missionária)
Jornalista: Fabrício Preto (Mtb 15907)
Revisão: Cecília Soares de Paiva
(Jornalista DRT/MS 280)
Projeto Gráfico e diagramação: Wesley T. Gomes
Capa: ©Vatican Media
Impressão: Cidade Gráfica e Editora Ltda.
Tiragem: 12 mil exemplares.
SGAN 905 - Conjunto B
70790-050 Brasília - DF
Caixa Postal: 3.670 - 70089-970 Brasília-DF
Tel.: (61) 3340-4494
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E-mail: imprensa@pom.org.br
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contato pelo e-mail: material@pom.org.br
 Editorial

Esperança em
tempos de dor
E tudo mudou. O ano de 2020 será marcado por uma nova forma de
relacionamento social, reconfigurando nosso jeito de lidar com o mundo e
com o cuidar da vida.
A nova edição do SIM está inserida na realidade frente à pandemia do novo
coronavírus, vivida em todo o mundo. Trazer o olhar da fé frente a tudo isso
foi nosso desafio ao organizar esta edição, com o Papa Francisco entre nós,
a nos encorajar diariamente com suas mensagens

©Vatican Media
de esperança: “É tempo de colocar a rota da vida
na sua direção, Senhor”, diz o pontífice.
O nosso tempo pede renovação e as Pontifícias
Obras Missionárias, em todo o mundo, vivem um
caminho de reforma para requalificar evangelica-
mente sua razão de ser. O contexto que envolve
essa reforma é um mundo de rápidas e profundas
mudanças, em que todos necessitamos de perma-
nente conversão pastoral missionária.
Trazemos testemunhos para ajudar a vivermos
essa conversão. Nesta edição do SIM apresenta-
mos o relato dos seminaristas do Piauí (Regional
Nordeste IV) que realizaram a terceira experiência
missionária “De coração a coração”, na Amazônia
(Regional Norte I).
A Obra da Propagação da Fé está presente
no SIM com o testemunho do grupo de Idosos
e Enfermos Missionários, da cidade de Ipatinga,
Diocese de Itabira Coronel Fabriciano (MG).
Exercem a sua vocação missionária cooperando com
toda a Igreja. Destacamos a realização do Congresso Missionário Nacional
e a Experiência Missionária Sem Fronteiras que marcaram os 15 anos da
Juventude Missionária.
Outra notícia boa refere-se à Infância e Adolescência Missionária que em
setembro deste ano celebra, por todo o Brasil, a 8ª Jornada Nacional, com o
tema: “IAM testemunhando a vida em missão”.
Nas páginas da União Missionária, temos o destaque sobre a missão
como eixo fundamental, na abordagem sobre as novas Diretrizes da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil e do Programa Missionário Nacional.
Diante do que vivemos, desejamos que o SIM seja sua companhia,
especialmente para você que precisa de companhia, de afeto e para você
que consegue ficar em isolamento social, em oração e tentativas por fazer o
melhor pela proteção à saúde e à vida de si e dos demais que precisam sair.
Uma boa leitura!

2020 janeiro - abril 3

Rápidas

15 anos de juventude
em missão no mundo
A Juventude Missionária do Brasil viveu, entre os dias
15 e 19 de janeiro, o I Congresso Missionário Nacional e a
V Experiência Missão Sem Fronteiras. Jovens dos diversos
estados do País desembarcaram em Brasília para celebrar
a história de 15 anos da JM. O tema foi “Batizados e en-
viados: As juventudes em missão no mundo”, reunindo
dois grandes eventos promovidos pelas Pontifícias Obras
Missionárias (POM), por meio da Pontifícia Obra da
Propagação da Fé, agregados como um grande encontro
de formação e oportunidade para vivenciar experiências
missionárias nas comunidades de Planaltina (DF).

Multiplicadores da Infância
e Adolescência Missionária
Durante os dias 27 a 31 de janeiro estiveram reunidos
em Brasília, na sede das Pontifícias Obras Missionárias,
40 assessores e assessoras de todas as regiões do país para
participar do Curso de Multiplicadores da Infância e
Adolescência Missionária (IAM). O objetivo foi vivenciar
um processo de formação integral, capacitando para a
formação de novos assessores e multiplicadores da IAM
pelas regiões. Foram estudados os temas referentes ao
carisma e organização da IAM, com aprofundamento
de questões, tais como o processo formativo e a vida de
grupo, metodologia, missão e espiritualidade missionária.

Assembleia Continental das POM

Dois grandes encontros fo-
ram realizados na Cidade do
México, refletindo sobre a con-
versão pastoral e missionária na
Igreja do Continente Americano.
Entre os dias 14 e 16 de fevereiro,
ocorreu o Seminário Continental
de Missiólogos. Foi um espaço
de estudo, reflexão e discussão,
com a preocupação em responder
acerca dos atuais desafios da mis-
são ad gentes da Igreja. Nos dias
seguintes ao seminário, entre 17
e 20 de fevereiro, foi realizada a
Assembleia Continental das POM,
reunindo os diretores nacionais
dos países da América.
4 janeiro - abril 2020
 Destaque

Coronavírus:
Olhar de fé frente à
crise mundial
Diante da crise global pelo enfrentamento
ao coronavírus, perguntamos que respos-
©Vatican Media

ta temos como mensagem de esperança

para os dias em que vivemos.
Continua
2020 janeiro - abril 5
Destaque
U
ma praça concebida para
abraçar o mundo. Localizada
na parte central de Roma, a
Praça de São Pedro é um dos locais
mais famosos e visitados por pere-
grinos de todos os países. Durante
as aparições do Papa, as multidões
ocupam a praça para vê-lo, podendo
abrigar mais de 300 mil pessoas.
Porém, nos últimos dias, isso tem
ficado apenas na memória. Na última
sexta do mês de março, olhares do
mundo todo observaram um homem
de vestes brancas subir as escadarias
com seu andar contínuo e firme, na
praça vazia, sob uma leve chuva e um
silêncio absoluto. Nesse dia, Francisco
deu ao mundo um dos gestos mais
simbólicos do nosso tempo.
Nunca aquele lugar esteve tão
vazio e tão cheio ao mesmo tempo.
Pelas câmeras de TV, o mundo todo
esteve ali de alguma forma, em oração.
A bênção Urbi et Orbi, geralmente
feita apenas no Natal e na Páscoa,
foi dada de modo extraordinário para
apelar pelo fim da pandemia do novo
coronavírus. O olhar contemplativo
de Francisco ao Jesus crucificado foi
seu gesto mais simbólico, pedindo pela
vida de tantos que a perdem, vítimas de
uma doença aparentemente invisível.
“Deus onipotente e misericordio-
so, olha a nossa dolorosa situação:
conforta teus filhos e abre nossos
corações à esperança, porque sentimos
sua presença de Pai em nosso meio”,
afirmou, ao abrir a oração. A bênção
de Francisco reforça a gravidade da
emergência global, principalmente na
Itália, um dos países mais atingidos
pela Covid-19.
Durante a oração, o Papa ressaltou
que a emergência atual pode ser uma
oportunidade para “redefinir o curso
da vida”, principalmente para a rea-
proximação das pessoas, já que todos
estavam “muito preocupados com a
sua imagem e não com os outros”.
“Vamos adiante sentindo-nos fortes
e capazes de tudo, com pressa. E não
paramos diante dos chamados das
guerras e das injustiças humanitárias.
Não ouvimos o nosso mundo grave-
6 janeiro - abril 2020
mente doente. É tempo de colocar a
rota da vida na sua direção, Senhor”,
disse o Papa Francisco.
Estamos diante de uma crise global
pelo enfrentamento ao coronavírus,
pandemia que afeta nossas vidas e muda
nossas rotinas, gerando instabilidade
em diferentes setores. Diante disso,
perguntamos qual resposta podemos
obter pela psicologia, sociologia e
por nossa fé?
Para a médica psiquiatra Dra. Yara
Helena Cherem Netto, parece que o
coronavírus veio para denunciar a fra-
gilidade humana. “Ele vem de forma
invisível quebrar a nossa onipotência
e nos faz perceber a nossa mais pura
humanidade. A ciência, diante dele,
se dobra e mostra ao mundo a natu-
reza do ser humano. A resposta mais
rápida que a medicina pode ofertar é
pequena, uma pergunta paira no ar
dentre tantas outras. Nos percebemos?
Nos cuidamos? Nos olhamos como
realmente somos diante do universo?”,
lembrou a médica.
Deus surpreende os
discípulos e discípu-
las do seu tempo que,
diante da morte, vão
ao túmulo cumprir
os rituais de um re-
cém-falecido, porém,
o túmulo está vazio. A
resposta de Deus dian-
te da crise dos discí-
pulos é a ressurreição.
A vida vence a morte.
Nossa fé não fica na
sexta-feira santa
Pe. Maurício Jardim
Ela ainda afirma que a ciência
e a fé já tardaram a dar as mãos
para enfrentar os desafios do futuro.
“Humanos, simplesmente humanos.
Muitos apelos temos na vivência
diária, mas nos tornamos surdos por
uma prepotência absurda, cuidar de
si, cuidar do irmão, ter compaixão
como lema. Essa é denúncia final do
coronavírus” ressaltou.
Sob o olhar da sociologia, Pe.
Paulo Adolfo, secretário executivo do
Centro Nacional de Fé e Política Dom
Helder Câmara, em breve pesquisa
na internet a respeito do impacto
social da pandemia da COVID-19,
constatou que as mais atingidas são as
mulheres por serem a maior força de
trabalho nas áreas de saúde e serviço
social. “Como o vírus é democrático,
atingirá todas as classes sociais, mas
seu impacto não se dará de forma
igual, pois vivemos numa economia
de mercado que não é democrática.
Nela os pobres sofrerão mais por
motivos que são óbvios: quem tem
mais dinheiro consegue se precaver
melhor e em caso de adoecimento terá
melhor atendimento” lembrou Paulo.
As dificuldades enfrentadas pelas
periferias já são muitas, agravadas
durante o tempo de pandemia: “Basta
imaginarmos como reagirão os mo-
radores dos projetos de moradia
populares e das favelas, nas quais
há necessidade de dividir pequenos
espaços entre muitas pessoas e ainda
faltam condições mínimas para os
cuidados necessários, como água e
sabão. Há muitas pessoas autônomas
que ficarão sem renda. Situação mais
complexa é a de moradores de rua,
que sequer tem uma casa e veem a
assistência que lhes é feita ameaçada
por decretos governamentais.”
São muitos os que assumem cora-
josamente o desafio da solidariedade.
Eles entregam-se para que, face à
epidemia, a vida continue, às vezes
pondo em risco a sua saúde ou a
própria vida.
É o que nos fala o Irmão Alois
Löser, prior da Comunidade de Taizé
na França: “A pandemia que nos agride
 Destaque
©Vatican Media

Humanos, simplesmente humanos.

Muitos apelos temos na vivência
diária, mas nos tornamos surdos por
uma prepotência absurda, cuidar de
si, cuidar do irmão, ter compaixão
como lema. Essa é a denúncia final
do coronavírus

destaca repentinamente a necessidade
de mudanças profundas nas nossas
sociedades. Por exemplo, continuam
a gastar quantias astronômicas em
armamento, enquanto uma pequena
fração desse dinheiro seria suficiente
para restaurar a dignidade humana a
tantas pessoas que estão privadas dela.
A provação que estamos atravessando
contém um apelo à fraternidade e
muitos sabem como podem respon-
der”, lembrou o religioso.
Pe. Maurício Jardim, diretor
das Pontifícias Obras Missionárias,
ressalta que a resposta da fé diante
da crise vem do Mistério Pascal.
O escândalo da cruz e a aparente
derrota final de Jesus geraram nos
discípulos a frustação e o regresso.
Todos pareciam estar diante do
final do caminho, com expectativas
frustradas, tristes, abatidos, confusos
e enlutados. “Deus surpreende os
discípulos e discípulas do seu tempo
que, diante da morte, vão ao túmulo
cumprir os rituais de um recém-fale-
cido, porém, o túmulo está vazio. A
resposta de Deus diante da crise dos
discípulos é a ressurreição. A vida
vence a morte. Nossa fé não fica na
sexta-feira santa”, lembrou o diretor.
Segundo Pe. Maurício, é preciso
ter o olhar da fé e crer que a experi-
ência da Páscoa muda radicalmente
a mentalidade da comunidade cristã.
É uma experiência fundante de espe-
rança que se transborda em alegria
contagiante. “O melhor está por vir.
Deus tem a última e definitiva palavra.
Temos certeza que Deus nunca nos
abandona, caminha conosco e nos
ama até o fim. Jesus nos diz: ‘Estarei
convosco todos os dias”.
Fabrício Preto
Jornalista das POM
2020 janeiro - abril 7
Nossos Missionários
De coração a coração
Seminaristas do Piauí realizaram a terceira
experiência missionária na Amazônia.
P
artilhar sobre a vida missionária
é causa de alegria, traz ânimo
à alma e sempre renova o en-
contro e chamado de Deus à nossa
vocação. O Conselho Missionário
de Seminaristas (COMISE), do
Seminário Maior Interdiocesano
Sagrado Coração de Jesus, no Piauí,
nasceu em 1985, do chamado de Deus
na vida do missionário comboniano,
Padre Fábio Bertagnolli, que desde
1984, atuava como diretor espiritual
no Seminário, e também se dedicou
à animação missionária no ambiente
de formação. É importante destacar
que, desde o início, esse foi o objetivo
dos encontros: animar a missionariedade
na formação dos seminaristas.
Há 35 anos, o COMISE Bertagnolli,
em harmonia com o Projeto Formativo
8 janeiro - abril 2020
do Seminário Maior “Sagrado Coração
de Jesus”, caminha para despertar
no jovem formando, e no formador,
a necessidade de maior impulso na
vivência da missionariedade à qual foi
chamado. Alcançados seus 35 anos,
do nosso coração brota pura alegria
e gratidão pelos frutos colhidos até
aqui, frutos no nosso Piauí e em todo
o Brasil, nossa “terra de Santa Cruz”.
Neste sentido, crendo ser tempo de
celebrar a vida missionária, realizamos
a terceira experiência missionária
“De coração a coração”, do coração
do Piauí (Regional Nordeste IV) ao
coração da Amazônia (Regional Norte
I), pois, “para tudo há um momento,
e um tempo certo para cada coisa
debaixo do céu” (Ecl 3, 1).
Impulsionado pelo ritmo litúrgico
da Palavra de Deus e pela certeza de
que há um momento para tudo debaixo
do céu, celebro um kairós na minha
vida e experiência vocacional. É tempo
de gratidão pela graça que Deus me
reservou, dando-me possibilidade de
participar do COMISE, e neste tempo,
de vivenciar as três experiências de
cooperação missionária entre o Piauí e
a Amazônia, oportunidade única, em
que fazemos a experiência de dar da
nossa pobreza, de partilhar das alegrias
e sofrimentos, dos encantos e desen-
cantos, levando sempre a esperança.
A terceira experiência de coope-
ração entre os COMISEs - do Piauí e
do Amazonas - aconteceu na diocese
de Parintins, no Regional Norte 1 da
CNBB. Os jovens missionaristas fize-
ram esta experiência nos dias 07-27 de
janeiro de 2020. O grupo foi formado
por 30 jovens, sendo 13 seminaristas
e 2 padres do Piauí, 11 seminaristas
 Nossos Missionários

e 3 padres de Parintins e um seminarista de

Roraima. Fomos divididos em três grupos e
enviados para três realidades dentro da diocese,
sendo elas: Área Missionária São Francisco
Xavier (Vila Amazônia), Área Missionária
N. Sra. do Rosário (Comunidade de Caburi
e Mocambo) e Paróquia São Sebastião.
Dentro de cada comunidade, os semina-
ristas foram acolhidos pelas pessoas e tiverem
também a oportunidade de, durante as visitas,
acolher, seja no abraço, no olhar, através da
escuta ou num simples silenciar. Puderam
encontrar e foram encontrados, no meio de
tantas dores e alegrias, num largo sorriso
ou no entalo dos sofrimentos e injustiças do
cotidiano. Sendo assim, quem se aventura
no caminho da missão, não se esconde da
amizade, tanto da presença amiga de Deus
que chama e envia, quanto dos amigos a
quem somos enviados. Portanto, missão é
um caminho que se faz em companhia dos
outros, que se percorre de mãos dadas numa
caminhada sinodal. Consequentemente,
quantas não são as marcas do eterno que ficam
estampadas nos corações missionários pelas
amizades feitas em redor de uma mesa, num
simples sentar e ouvir? E quantos não são
os corações que, tendo feito tal experiência,
jamais deixam de ser missão no coração da
Igreja? Estas experiências me deixam sempre
mais convicto de que a minha vida é uma
missão e não apenas tenho uma missão.
Fazendo esse caminho missionário “de
coração a coração”, sinto um fortalecimento
vocacional e a certeza de que o chamamento
de Deus é sempre missionário. Creio que ser
padre, segundo “o coração de Jesus”, implica
sempre sair, primeiro ao encontro de Deus
para, então, sair ao encontro do outro, próximo
ou distante, onde for preciso ir, pois a Igreja
peregrina é por natureza missionária. É sendo
missão que sou feliz e ser enviado é, para mim,
uma graça, pois sei que a vocação só se realiza
na missão, sendo serviço.
Parabéns ao COMISE Bertagnolli pelos
seus 35 anos de ousadia na animação e for-
mação missionária dos futuros presbíteros
do Regional Nordeste IV. Missão é amor:
ousemos amar!
Bernardo Afonso Vieira Neto
Seminarista da Diocese de Parnaíba (PI)
2020 janeiro - abril 9
 POM
Paul Jeffrey
Renovar as Obras Pontifícias
As Pontifícias Obras Missionárias em todo o
mundo vivem um caminho de reforma para
requalificar evangelicamente sua razão de ser.
O
Papa Francisco, em 1º de
junho de 2018, durante a pre-
paração do Mês Missionário
Extraordinário – outubro de 2019,
dirigiu-se aos diretores nacionais
das Pontifícias Obras Missionárias e
pediu um caminho de reforma para as
POM: “Essa preparação será ocasião
providencial para renovar as nossas
Pontifícias Obras Missionárias. As
coisas devem sempre ser renova-
das: renovar o coração, as obras, as
organizações, porque, caso contrá-
rio, acabaremos todos num museu.
Devemos renovar para não acabar
no museu. Bem conheceis a minha
preocupação ao perigo que o vosso
trabalho se reduza à mera dimensão
monetária da ajuda material — esta é
uma verdadeira preocupação — trans-
formar-se numa agência como tantas,
10 janeiro - abril 2020
mesmo se cristãmente inspirada. Sem
dúvida, não é isso que os fundadores
das Pontifícias Obras e que o Papa
Pio XI desejavam quando as fizeram
nascer e as organizaram ao serviço do
sucessor de Pedro. Portanto, propus
novamente, como atual e urgente para
a renovação da consciência missio-
nária de toda a Igreja, uma grande
e corajosa intuição do Papa Bento
XV, contida na sua Carta apostólica
Maximum illud: ou seja, a necessidade
de requalificar evangelicamente a
missão da Igreja no mundo”.
– E o que significa para as POM
colocar-se num caminho de reforma
para requalificar evangelicamente
sua razão de ser que é: “promover
o espírito missionário universal no
seio do povo de Deus” (Cooperatio
Missionalis, 5) – ?
Responde o Papa Francisco aos
diretores das POM: “Penso que sig-
nifica simplesmente uma conversão
missionária. Precisamos de nos requa-
lificar — a intuição de Bento XV — de
nos requalificar a partir da missão de
Jesus, requalificar o esforço de recolha
e distribuição dos auxílios materiais à
luz da missão e com a formação que
ela exige, a fim de que consciência,
conscientização e responsabilidade
missionárias voltem a fazer parte da
experiência comum vivida por todo
o santo Povo fiel de Deus”.
Perante esse apelo do Papa e co-
locando-se no caminho de conversão
missionária, o presidente internacio-
nal das POM, Dom Giampietro Dal
Toso, criou um grupo de trabalho para
desencadear o processo de reforma.
Na última assembleia continental
das POM, na cidade do México em
fevereiro de 2020, nosso presidente
fez memória a esse caminho. Na
ocasião, lançou algumas questões

para melhor discernimento desse
processo de reforma:
• Por que necessitamos de renovação?
• Como se pode formular o carisma
das POM em seu caráter pontifício?
• Como o carisma das obras podem
ajudar as Igrejas locais?
• Quais as tarefas do diretor nacional?
• Quais as tarefas dos secretários
internacionais?
• Qual a função do presidente
internacional?
• Pensar novas formas de manter
economicamente as obras.
O contexto que envolve essa refor-
ma é um mundo de rápidas e profundas
mudanças, em que todos necessitamos
de uma conversão pastoral missionária,
ou seja, uma refundação das POM
para voltar às fontes do carisma que
impulsionou o Papa Pio XI em 1922
declará-las obras pontifícias. Que
esse caráter pontifício seja realmente
entendido como universal (Missio
Ad Gentes) e episcopal, vinculado
às Igrejas particulares.
Papa Francisco pronuncia: “Se
a renovação for autêntica, criativa e
eficaz, a reforma das vossas Obras
consistirá numa refundação, numa
requalificação segundo as exigên-
cias do Evangelho. Não se trata
simplesmente de reconsiderar as
motivações para melhorar o que
já fazeis”. Não se pretende passar
um verniz no trabalho que já reali-
zamos, mas fazer a requalificação
do seu primeiro objetivo baseado
na intencionalidade dos fundadores
das quatro Obras.
O caminho da reforma implicará
num tempo de escuta dos 130 países
onde estão presentes as Obras. Em
cada país, as formas de atuação
das Obras são criativas e com dife-
rentes atividades. Exemplo dessa
criatividade está no próprio Brasil
por vincular, à Pontifícia Obra da
Propagação da Fé, atividades junto
às juventudes, famílias, idosos e en-
fermos. Assim também ocorre pela
POM
Pontifícia União Missionária que, além promoção da consciência da missão
da formação missionária, acompanha e Ad Gentes com as diferentes formas
motiva atividades junto aos Conselhos de cooperação missionária por meio
Missionários de Seminaristas. Essa do sacrifício, da oferta e da oração.
diversidade de experiências pode A reforma pode estreitar os laços
impulsionar e ampliar a animação e de comunhão com as conferências
a cooperação missionária. episcopais, com as conferências de
O rosto das POM na América religiosos, organismos eclesiais e
Latina pode contribuir para realizar conselhos missionários.
esse desejo de reforma proposto pelo Seguimos cientes de que a reforma
Papa Francisco, bem como redefinir é um dos principais frutos do Mês
as funções do diretor Nacional e a Missionário Extraordinário, que nos
importância dos secretários nacio- coloca na permanente necessidade
nais das Obras. Também os próprios de conversão missionária. Assim,
Congressos Missionários Americanos na próxima assembleia geral em
são inspiradores para a reforma. Roma, o tema central será a reforma
Sobre pensar novas formas de re- das POM, na qual será estudado um
colher fundos, estamos cientes de que a pequeno documento de propostas de
arrecadação de fundos é consequência renovação das Obras. Que o Espírito
da animação missionária, ou seja, a Santo, protagonista da missão, inspire-
animação missionária gera diferentes nos com ousadia e coragem para um
formas de cooperação missionária. novo tempo de renovação missionária,
tendo como horizonte a Missio Ad
O caminho de conversão missioná-
Gentes, paradigma da missão.
ria, que se propõe a reforma, ajudará
a sonharmos com Obras Pontifícias Pe. Maurício Jardim
mais pastorais e missionárias, na Diretor Nacional das POM
Cardeal Tagle é o novo prefeito da
Congregação para a Evangelização dos Povos
O arcebispo de Manila, cardeal Luís Antônio
Tagle, é o novo prefeito da Congregação para a
Evangelização dos Povos. A nomeação do Papa
Francisco foi anunciada no dia 8 de dezembro. Além
de liderar a diocese da metrópole filipina, Tagle
é também presidente da Caritas Internacional e
da Federação Bíblica Católica. Com esta escolha,
anunciada poucos dias antes do fim da sua viagem
à Tailândia e ao Japão, Francisco volta a mostrar
uma grande atenção ao continente asiático.
2020 janeiro - abril 11
Testemunhos
Na alegria ou na dor,
serviremos ao Senhor
Idosos e Enfermos Missionários exercem
a sua vocação missionária, cooperando
com toda a Igreja.
C
om muita alegria e ardor
missionário, a Paróquia
São Pedro, cidade de
Ipatinga, Diocese de Itabira Coronel
Fabriciano, MG, abraçou em 2019
o grupo de Idosos e Enfermos
Missionários, IEM. Um serviço
missionário que a Igreja, por meio
da Pontifícia Obra da Propagação
da Fé, oferece aos idosos, enfermos
e todas as pessoas com limitações
físicas. A finalidade é animá-los,
despertá-los, formá-los e acom-
panhá-los para que, a partir de
sua situação particular, consigam
exercer sua vocação missionária e
cooperar com toda a Igreja. Essa
atividade missionária compreen-
12 janeiro - abril 2020
de duas dimensões: os idosos e
enfermos, que são os protagonis-
tas, e os animadores, que são os
encarregados por acompanhar e
dar apoio permanente aos idosos
e enfermos dos grupos locais.
O grupo definiu por realizar
reuniões na capela da comunidade
Santa Rita de Cássia, e também
nas casas dos membros que não
podem ou têm dificuldades de
locomoção. O primeiro encontro
reuniu cerca de quinze pessoas.
Sucederam encontros marcan-
tes, a exemplo do que ocorreu
na casa de dois participantes de
alegria incomensurável: Dona
Almira, enferma e cega, e do
senhor Zequinha, cuidador. Para
dona Almira “encontrar com os
irmãos é graça de Deus.”
A Cruz Missionária visitou um
dos encontros, realizado na casa
da Dona Maria e do senhor Dico,
como são conhecidos na Paróquia.
O momento foi de muita graça
e devoção, com a reza do terço
missionário em frente à pequena
gruta da casa, dedicada a Nossa
Senhora: “Como Deus é bom
comigo e com a família, trouxe
vocês aqui e a Cruz Missionária”
– enfatizou dona Maria idosa,
enferma integrante do grupo.
Em cada encontro, uma novida-
de: as brincadeiras, os sorrisos, os
momentos de oração e interação,
a partilha da vida e a presença de
cada um somam à grandeza do
amor de Deus. À medida que se
realizam, é mais gente chegando,

O grupo é
direcionado a
todas as pessoas
para que consigam
exercer sua vocação
missionária e
cooperar com toda
a Igreja.
mais reuniões e visitas acontecendo.
Para Dona Conceição e dona Jacira,
o grupo IEM deu-lhes vida nova: “é
bom demais o grupo, a gente reza,
canta, brinca, faz confraternização,
encontra com o irmão e reza para
o mundo todo e para as missões...”
No dia 22 de dezembro acon-
teceu, na Comunidade Santa Rita
de Cássia, a missa de ação de
graças do grupo, com a entrega
dos certificados e do terço missio-
nário. Já no dia de Santos Reis,
Epifania do Senhor, o grupo se
reuniu para rezar junto ao presé-
pio da casa de Maria Fernandes
e família, onde também se fez a
confraternização do grupo.
A data de 11 de fevereiro
foi especial para o grupo, em
que se realizou a missa e Unção
dos Enfermos, marcando o dia
Mundial dos Enfermos e dia de
Nossa Senhora de Lourdes. Em
sintonia com o Papa Francisco,
celebrou-se pela intenção de ir-
mãos e irmãs de todo o mundo
sem possibilidades de acesso aos
cuidados médicos, porque vivem
em pobreza; por intenção às ins-
tituições sanitárias e governos
de todos os países, pedindo-lhes
que não sobreponham o aspecto
econômico ao da justiça social;
pelos voluntários que se colocam
a serviço dos doentes; por todas
as pessoas que carregam o fardo
da doença, juntamente com seus
Testemunhos
familiares e cuidadores; pelos
profissionais da saúde; pelos
missionários que se dedicam ao
anúncio do Evangelho e a ele
servir, na alegria ou na dor. Na
oportunidade foram renovados os
compromissos de viver a dimensão
redentora de sua dor, oferecidos às
necessidades dos irmãos e irmãs.
A semente tem se espalhado e
já chegou à comunidade vizinha e,
em breve, um novo grupo de IEM
será formado. “É verdade que Cristo
não nos deixou receitas, mas, com
a sua paixão, morte e ressurreição,
liberta-nos da opressão do mal.” Papa
Francisco, Mensagem para o 28º
Dia Mundial do Enfermo de 2020.
Cida Alves e Erica Júlia
Animadoras e integrantes do grupo.
O dia mundial dos
enfermos foi cele-
brado com missa es-
pecial para o grupo.
2020 janeiro - abril 13
Propagação da Fé

Testemunho
da alegria
Congresso Missionário Nacional e
Experiência Missionária Sem
Fronteiras marcam os 15 anos da JM

14 janeiro - abril 2020


A
Boa Nova de nosso Senhor
Jesus Cristo é impressionante
e desconcertante. Aliás, ele
é a própria Boa Nova que nos deixa
encantados, alegres e motivados a
comunicá-Lo. Há necessidade de
anunciá-Lo quando com Ele nos
encontramos. Envolve-nos um senti-
mento que lembra o que a Evangelii
Gaudium nos fala: “O bem tende
sempre a se comunicar (...) E uma
vez comunicado, o bem se radica
e se desenvolve” (EG9). Assim nos
sentimos por ocasião do 1º Congresso
Missionário Nacional da JM e da 5ª
Experiência Missionária da Missão
sem fronteiras, realizados de 15 a 19
de janeiro na cidade de Planaltina, DF.
Reunidos nas Paróquias de Santa
Rita, Nossa Senhora de Nazaré e de São
Vicente, cerca de 200 jovens oriundos
dos variados estados brasileiros, em
convívio missionário. Jovens que tem
na sua vida a história da Juventude
Missionária, que contribuíram para
constituí-la ao longo de 15 anos de
vivência e convivência, jovens que
apenas começavam seus caminhos,
descobrindo a alegria da vida missio-
nária que “enche o coração e a vida
inteira daqueles que se encontram com
Jesus” (EG1).
O congresso serviu-se do mesmo
tema proposto pelo Papa Francisco
para a celebração do mês extraordi-
nário missionário, que pede para não
deixarmos essa importante celebração
ser apenas mais um evento vivido
nas igrejas locais, mas sim, início de
inúmeros processos de animação, for-
mação, cooperação e revigoramento
da missionariedade da igreja. Assim
foi escolhido o tema “Batizados e
“enche o coração
e a vida inteira
daqueles que se
encontram
com Jesus”
(EG1)
Enviados: As juventudes em missão no
mundo” e, como Palavra iluminadora,
o texto bíblico em que o Ressuscitado
diz a seus apóstolos, e hoje nos diz:
“...e sereis minhas testemunhas até os
confins da terra” (At1,8).
A conferência magna do congres-
so foi proferida pelo padre Antonio
Niemiec, secretário nacional da Pontifícia
União Missionária, e a dinâmica do
evento coordenada pelo grupo de
trabalho da JM, contando com as
assessorias de pessoas preparadas nas
mais diversas áreas do conhecimento
e do cuidado com as juventudes e a
missão, além de ter a presença signi-
ficativa dos Irmão de Taizé.
Por entre aquelas paróquias e
comunidades, vislumbramos o que
significa as juventudes em missão
no mundo, quando os jovens, após
o momento de formação, reflexão e
oração, são enviados a comunidades
e realidades tão diferentes para par-
tilhar o bem que Jesus fez e faz na
vida deles. Entendemos melhor o que
o papa fala quando cita Aparecida
na Evangelii Gaudium: “A vida se
alcança e amadurece à medida que é
entregue para dar vida aos outros. Isto
é, definitivamente, a missão” (EG10).
Foram inúmeras famílias visitadas,
realidades transformadas. Transformações
mútuas, da visita e do visitado, e daque-
les que doaram e continuam doando
suas vidas pelas vidas dos outros, seus
irmãos e irmãs, muitas vezes, com
quem nem se comunga a mesma fé.
Lembro o relato de uma equipe que
visitou um idoso com deficiência visual.
Da situação deplorável ao encontrá-lo
sozinho, em sua casinha, e de como ele
Propagação da Fé
se sentiu aquecido com a presença e o
serviço daqueles jovens. E da comu-
nidade em que a equipe se juntou ao
mutirão para limpeza e reparos finais
da construção da capela, no intento de
que a celebração da eucaristia pudesse
acontecer à noite. E ainda sobre a visita
a um jovem senhor que, na busca por
melhoria de vida acabou dependente
de ajuda médica para continuar firme
em sua realidade.
O congresso foi um tempo forte de
renovação da fé, de confiança na vida e
de alimento à esperança. Levou-nos a
compreender com mais profundidade
e convicção de que, quem se encontra
com Jesus Cristo tem realmente sua
vida transformada, porque ali estavam
jovens como quaisquer outros jovens,
com anseios e sonhos, desejos e espe-
ranças, mas que, em pleno mês de férias
e de verão, abriram mão do descanso
da faculdade, escola e trabalho para
vivenciar a alegria de ser missionários
e missionárias na partilha fraterna da
vida, e no testemunho da alegria. Não
que isso os tornem melhores que os
demais, não é isso que se percebe ao
conversar com eles e elas, pois entendem
que “seria um erro considerar a missão
como heroica tarefa pessoal, dado que
ela é, primariamente e acima de tudo,
o que possamos sondar e compreender,
obra de Deus” (EG12). Mas verdadeiros
cooperadores e cooperadoras da obra
maravilhosa a que chamamos missão.
Jovens Missionários, Sempre
Solidários!
Pe. Badacer Neto
Secretário da Pontifícia Obra da
Propagação da Fé
2020 janeiro - abril 15
Missão em Contexto
Nossa querida
Amazônia
“A
Querida Amazônia apresen-
ta-se aos olhos do mundo
com todo o seu esplendor,
o seu drama e o seu mistério” (Querida
Amazônia, n.1). Assim inicia o papa
Francisco a Exortação Pós-Sinodal
“Querida Amazônia”, fruto das reflexões
que nasceram no processo do Sínodo
Amazônico e que, mais do que concluir
a jornada, apresenta um caminho, com
muitos sonhos, a ser trilhado.
Mais uma vez Francisco surpreende
com um documento que não tem o
título em latim. Querida Amazônia,
nas diferentes traduções da Exortação
mantém a língua oficial do Sínodo
16 janeiro - abril 2020
para a Amazônia, o espanhol. Tal
iniciativa sinaliza o afeto e carinho
demonstrado pelo papa para com
a região Pan-Amazônica desde a
convocação do Sínodo.
Querida Amazônia apresenta-
se como uma reflexão pessoal de
Francisco e não pretende substituir o
Documento Final do Sínodo, entregue
a ele pelos padres sinodais no último
dia da assembleia, realizada em outubro
do ano passado. “Quero, de oficial
apresentar o citado Documento, que
nos oferece as conclusões do Sínodo
e no qual colaboraram muitas pessoas
que conhecem melhor do que eu e do
que a Cúria Romana a problemática
da Amazônia, porque são pessoas
que nela vivem, por ela sofrem e que
a amam apaixonadamente”, afirma
o papa no parágrafo de número três
da Exortação.
O texto de Francisco, afetuoso,
próximo e muito coerente com as ex-
periências vividas pelas comunidades
no processo sinodal, testemunhado
e reforçado durante o Sínodo em
Roma, sintetiza a reflexão a partir de
quatro sonhos que o papa tem para
a Amazônia: um sonho social, um
sonho cultural, um sonho ecológico
e um sonho eclesial.

“E, nos dias de hoje, a Igreja não pode
estar menos comprometida, chamada
como está a escutar os clamores dos
povos amazônicos”
(Querida Amazônia, n.19)
Sonho social
“O nosso é o sonho de uma
Amazônia que integre e promova
todos os seus habitantes, para poderem
consolidar o ‘bem viver’” (Querida
Amazônia, n.8). Francisco nesse
sonho retoma as dores dos povos da
Amazônia, muitas vezes oprimidos
e massacrados pelos interesses de
colonizadores que exploram a ma-
deira, o minério, a terra, a água, a
floresta e tantos bens do território em
detrimento da vida e da cultura dos
que ali vivem. O papa afirma que é
preciso indignar-se, como fez Moisés,
Jesus e o próprio Deus diante das in-
justiças, colocar-se ao lado dos povos
e comprometer-se com eles. “E, nos
dias de hoje, a Igreja não pode estar
menos comprometida, chamada como
está a escutar os clamores dos povos
amazônicos” (Querida Amazônia,
n.19), afirma Francisco.
Sonho cultural
Nesse sonho o papa afirma que
o “objetivo é promover a Amazônia;
isso, porém, não implica colonizá-la
Fotos: Guilherme Cavalli
culturalmente, mas sim contribuir
de modo que ela própria revele o
melhor de si” (Querida Amazônia,
n.28). Reconhecer as diferenças,
cultivá-las sem desenraizar, pro-
mover o crescimento sem deixar
enfraquecer as identidades próprias
de cada cultura. Isso não diminui
ninguém, pelo contrário fortalece
a beleza da diversidade da criação.
Para Francisco é preciso cuidar
das raízes, as histórias, a sabedoria
popular, inclusive as experiências
de fé. Há que se promover um di-
álogo intercultural que promova a
vida e as culturas. De acordo com
o texto do papa, “é a partir das
nossas raízes que nos sentamos
à mesa comum, lugar de diálogo
e de esperanças compartilhadas”
(Querida Amazônia, n.37)
Sonho ecológico
Entre poesias, reflexões e cha-
madas de atenção, Francisco lembra
nesse sonho de que também somos
água. Naquela grande imensidão de
águas na Amazônia ouve-se gritos,
Missão em Contexto
“nas condições atuais, com esse modo
de tratar a Amazônia, tanta riqueza
de vida e de tão grande beleza estão
‘tomando o rumo do fim’, embora
muitos pretendam continuar a crer
que tudo vai bem, como se nada
acontecesse” (Querida Amazônia,
n.47). O papa recorda que é preciso
aprender a contemplar a Amazônia,
educar para o cuidado com a Casa
Comum e rever os hábitos das pes-
soas e grupos. “Não haverá uma
ecologia sã e sustentável, capaz de
transformar seja o que for, se não
mudarem as pessoas, se não forem
incentivadas a adotar outro estilo de
vida, menos voraz, mas sereno, mais
respeitador, menos ansioso, mais
fraterno” (Querida Amazônia, n.58).
Sonho eclesial
O papa neste sonho recorda a
caminhada da Igreja na América
Latina como também uma caminha
da junto aos povos da Amazônia e
afirma que para se “desenvolver uma
Igreja com rosto amazônico, precisa
crescer em uma cultura do encontro
rumo a uma ‘harmonia pluriforme’”
(Querida Amazônia, n.61). Uma das
grandes expectativas do Sínodo estava
sobre o que Francisco diz nesse sonho
para a Igreja na Amazônia. Nele o
papa recupera a importância da incul-
turação, de se garantir que o anuncio
chegue a todos os povos e culturas e
aponta caminhos de inculturação na
Amazônia, seja da liturgia, seja dos
ministérios, sem deixar de destacar
a importância, o valor e o dom que
são as mulheres nas comunidades.
O Sínodo para a Amazônia, ainda
que regional, tem implicações para
a Igreja universal. Na apresentação
da Exortação Francisco pede que os
pastores, consagrados e fiéis e leigos
da Amazônia se empenhem na sua
aplicação, e não somente eles, mas
todas as pessoas de boa vontade. O
documento está em nossas mãos!
Bem-vindos à “Querida Amazônia”.
Paulo Martins
Assessor de Imprensa da
REPAM-Brasil
2020 janeiro - abril 17
IAM

“Testemunhando
a vida em missão”
Infância e Adolescência Missionária de todo o Brasil celebra a 8ª
Jornada Nacional no mês de setembro.

A
celebração da Jornada faz parte da agenda anual permanente da IAM no Brasil, com
definição de tema e roteiro pelas POM. É programada, normalmente, para o último
domingo de maio, exceto se for domingo de Pentecostes. Neste ano em que se vive uma
pandemia devido ao coronavírus, a secretaria nacional decidiu realizar a Jornada Nacional no
dia 20 de setembro, com o tema: “IAM testemunhando a vida em missão”.

Preparação
Para a festa ser bonita e agradável, é preciso ter uma boa organização e preparação. Assim também
devemos pensar a jornada nacional, para esta ser significativa e especial na vida das crianças e
adolescentes. Nesse sentido, temos:

Cartaz
Produzido todos os anos, o cartaz traz o tema
da jornada com uma imagem para ilustrar e
contribuir com a compreensão da mensagem.

Sugestão de roteiros de encontros

Anualmente, a secretaria nacional oferece um
roteiro de encontros para a preparação da jorna-
da, com sugestões que visam aprofundar o tema
escolhido e podem ser aproveitadas e/ou adap-
tadas, conforme a realidade local. É importante
que os grupos possam viver bem esse momento.

Momentos de oração
Para que a Consagração possa ser cada vez mais
aprofundada, sugerimos realizar momentos de
oração, tais como: adoração, vigília e oração
nas famílias. Cada grupo pode organizar seus
momentos conforme a sua realidade.

18 janeiro - abril 2020

 IAM

Como pode acontecer a jornada

A jornada pode acontecer em diferentes âmbitos: comunitário, paroquial, diocesano, conforme
a programação e organização local. É importante que nela aconteçam:

Testemunhar
A Consagração à Obra da IAM
a vida em missão é: A consagração é um entregar-se, decidir-se
protagonismo livremente, dizer sim. Na Infância e Adolescência
Missionária a consagração é uma forma de as crianças
e adolescentes assumirem pública e solenemente
a decisão de ser missionário/a. É a disposição de
colaborar para que todas as crianças e adolescentes
do mundo conheçam Jesus, O amem e se amem.
As crianças e adolescentes que se consagra-
rem devem ter participação comprometida de,
pelo menos, um ano de caminhada na Infância e
Adolescência Missionária. A partir da consagração
à Obra, renova-se anualmente.
Os símbolos oficiais da consagração das crianças
e adolescentes é o lenço com o boton.

A Oferta do Cofrinho
A dimensão do sacrifício deve ser trabalhada
principalmente no encontro do compromisso mis-
sionário de todos os Temas Geradores. Durante
a celebração da Jornada Nacional, acontece a
apresentação do Cofrinho na procissão das ofe-
rendas. Posteriormente o valor do cofrinho será
contado e enviado às POM, via depósito bancário. Testemunhar
o é:
Desejamos que todas as crianças, adolescen- a vida em missã
tes e assessores/as da IAM possam vivenciar sacrifício
esse momento com alegria. Que a 8ª Jornada
Nacional da IAM favoreça a experiência do
encontro pessoal com Jesus Salvador e que,
esteja onde estiver, cada criança, adolescente
e assessor/a possa testemunhar, em seu modo
de ser e de agir, a presença de Jesus Salvador.
“De todas as crianças e adolescentes do
mundo? Sempre amigos!”

Ir. Patricia Souza

Secretária da Pontifícia Obra da
Infância e Adolescência Missionária
2020 janeiro - abril 19
Pontifícia União Misionária
Missão como eixo
fundamental
A missionariedade está no coração das novas
Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no
Brasil e do Programa Missionário Nacional.
E
m sintonia com as Diretrizes
Gerais da Ação Evangelizadora
da Igreja no Brasil 2019-2023, a
CNBB ofereceu às comunidades cristãs,
na segunda metade do ano passado,
o Programa Missionário Nacional 2019-
2023 (PMN). O Programa é resultado
do processo de escuta, reflexão, estudo
e elaboração realizado pelo Conselho
Missionário Nacional (COMINA),
e assumido pela Igreja durante a
Assembleia Geral dos Bispos, em
maio de 2019.
Vale destacar a profunda sintonia
entre os dois documentos, notada-
mente, no que se refere ao período
gerado, à metodologia empregada,
à compreensão dos desafios e da
realidade social, cultural e religiosa,
às temáticas principais e, finalmente,
às opções assumidas.
Essa sintonia tem relação ao fato
de a proposta do Programa ter sido
apresentada na 57ª Assembleia Geral
da CNBB, a qual dedicou uma sessão
de trabalho em grupos de leitura,
reflexão e sugestões ao Programa.
Isso facilitou para que os Bispos
assumissem o Programa Missionário
Nacional nas atuais Diretrizes da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil, e
recomendem sua efetivação. “Acolher
e concretizar as prioridades e projetos
do Programa Missionário Nacional:
formação, animação missionária,
missão ad gentes e compromisso so-
20 janeiro - abril 2020
cial-profético” (DGAE 2019-2023,
n. 200).
A intenção do Programa é ser
“uma ponte de integração, com o
objetivo de contribuir para que a
missão seja, de fato, parte integrante
da vida do cristão católico e dos or-
ganismos e comunidades eclesiais”
(Apresentação). As Diretrizes, por sua
vez, “estão estruturadas a partir da
comunidade eclesial missionária” (n.
40) e lembram que “a comunidade
eclesial autêntica é, necessariamente,
missionária, e toda missão se alicerça
na vida de comunidade e tende a gerar
novas comunidades” (n. 7).
O que melhor enfatiza a profunda
relação e sintonia existentes entre
esses documentos são abordagens
que podemos considerar essenciais,
a saber: 1) A missão como eixo fun-
damental que deve perpassar toda a
ação eclesial e ser seu horizonte (cf.
DGAE, 83); 2) A missão enquanto
identidade da Igreja, não é apenas uma
tarefa ou um acessório (cf. DGAE,
21); 3) A vivência da fé em pequenas
comunidades eclesiais missionárias
(cf. DGAE, 36; 89; 145).
Trata-se de um marco histórico
dentro da caminhada missionária
da Igreja no Brasil, de considerável
importância em sua elaboração e
aprovação do Programa. Assim, apre-
sentamos sua síntese:
Este Programa, fruto da graça de
Deus por meio do processo de refle-
xão, iniciou-se pela equipe executiva
do Conselho Missionário Nacional
(COMINA), em 2017. Os membros
do COMINA, reunidos em assem-
bleia realizada em março de 2018,
reconheceram a necessidade de que
a ação missionária, na Igreja do
Brasil, tenha diretrizes fundamentais.
Aprovaram, também, a proposta da
construção coletiva desse Programa.
Foi elaborado a partir da realidade
dos 18 Regionais e enriquecido com
a reflexão sobre a missão, levando
em consideração os documentos da
Igreja que tratam, mais diretamente,
da missão e missionariedade, colhen-
do inspirações e luzes advindas do
Documento de Aparecida e do magistério
do Papa Francisco, o qual nos exorta
a sermos Igreja em saída.
O Programa deseja colaborar para
que a missão seja o eixo norteador de
todas as atividades da ação evangeli-
zadora da Igreja no Brasil. A missão
não pode ser concebida como algo
restrito a algumas pessoas ou grupos
“especializados”, nem que sejam muito
capacitados e experientes e cultivem
carismas específicos.
O Programa é pequena semente,
uma “luz de vagalume” que aponta
para uma maior comunhão missio-
nária da Igreja no Brasil. Sendo uma
pequena semente, não é algo acabado,
mas deverá acompanhar e assumir a
novidade que o Espírito Santo suscita
na vida das pessoas e das comunidades
eclesiais, a exemplo do que acontece
com as Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil.
 Pontifícia União Misionária

Objetivo geral do PMN

Evangelizar, a partir de Jesus Cristo, o Missionário do
Pai, guiados pelo Espírito Santo, como Igreja em saída
sinodal que traz no coração a opção preferencial pelos
pobres, considerando os diferentes povos e culturas; irra-
diando o amor de Deus que é a fonte da missão, por meio
da animação e formação missionárias, do compromisso
profético social e da missão ad gentes, peregrinando com
Maria rumo ao Reino definitivo.

Estrutura do PMN
Indicativos metodológicos. Essa parte introdutória
contextualiza os principais indicativos metodológicos que
conduziram todo o processo de construção do PMN, e
de sistematização das informações; apresenta caminhos
trilhados e sonhos de um Programa a serviço da missão.

1. Ver
1.1. Escutas das realidades regionais
A escuta realizada possibilitou perceber a ação de Deus
no meio do seu povo e, ao mesmo tempo, ouvir aquilo
que está no coração do povo de Deus. Como resultado,
destacaram-se motivações, forças e fraquezas no ambiente
eclesial, além de oportunidades e desafios no ambiente
social. O texto foi enriquecido com novos contextos que
nos interpelam em vista da dinamização missionária.

1.2. Contextos que nos interpelam

O “ver” é ampliado pela abordagem de novos contextos que
nos interpelam e exigem o olhar do discípulo missionário,
na busca por compreender o que o Espírito diz às culturas
e Igrejas hoje (cf. Ap 2,7) e o que espera de nós, discípulos
missionários, na ação evangelizadora da Igreja no Brasil.

2. Iluminar
Essa parte apresenta os fundamentos que motivam, alimen-
tam e sustentam o ser e viver missionário. São, também,
bases para a compreensão da missão. Pretendem ajudar
a colocar em prática, as prioridades e projetos aprovados
pela assembleia do COMINA e da CNBB. Encontramos,
nessa parte, uma reflexão sobre a Trindade que é a
origem da missão, sobre a natureza missionária
da Igreja e sobre a espiritualidade do segui-
mento a Jesus Cristo.

2020 janeiro - abril 21

Pontifícia União Misionária

3. Agir: prioridades e projetos nacionais.

Como resultado da escuta dos dezoito Regionais da CNBB, da
reflexão, da oração e do discernimento, foram aprovadas quatro
prioridades nacionais: formação, animação missionária, missão
ad gentes e compromisso profético-social. Para concretização
de cada prioridade, foram aprovados diversos projetos e res-
pectivas ações, como segue:

3.1. Formação
• Formação dos sujeitos das comunidades eclesiais missionárias.
• Criação e articulação de equipe de assessores.
• Formação missiológica.
3.2. Animação missionária
• Conselhos Missionários em todos os âmbitos.
• Rede de comunicação missionária – RECOMIS.
• Pontifícias Obras Missionárias.
3.3. Missão ad gentes
• Cada Igreja Particular (Diocese), uma Igreja Irmã.
• Cada Regional, um projeto ad gentes para além-fronteiras.
• Preparação e recepção dos missionários que partem e
regressam.
3.4. Compromisso profético-social
• Diálogo e comunhão com as pastorais sociais.
• Igreja em saída.
• Ecologia integral.

Na parte final do PMN se encon-
tra o Plano de Ação, uma ferramenta
propícia para colocar em prática as
prioridades e projetos. O Plano es-
pecifica quais ações são propostas,
como serão realizadas, para quem se
destinam, quem é responsável pela
sua realização, quando e onde devem
ser executadas.
O Programa Missionário Nacional,
iluminado pelo Espírito Santo e constru-
ído pelas forças missionárias, é sinal de
esperança para toda a Igreja no Brasil.
22 janeiro - abril 2020
Espera-se que este Programa, em seu
conjunto (Ver, Iluminar e Agir), seja
acolhido e concretizado e que reper-
cuta nas realidades e ações nas Igrejas
particulares, nos regionais, nas dioce-
ses, nas paróquias, nas comunidades,
nas pastorais, nos movimentos, nos
serviços, nas congregações religiosas,
nas novas comunidades, nos institutos
missionários e nos organismos de
comunhão e participação.
É importante que o conteúdo do
Programa seja conhecido, estudado e
divulgado e que sirva de referência
também no planejamento de atividades
anuais e quadrienais dos Conselhos
Missionários e Pontifícias Obras
Missionárias.
A publicação saiu pelas Edições
CNBB e está disponível também nas
Pontifícias Obras Missionárias (POM).
Pe. Antônio Niemiec, CSsR
Secretário nacional da
Pontifícia União Missionária
 Venha fazer
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