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José Maria Pascoal Júnior – 26/04/20

A Letra Escarlate
Imagine uma mulher casada e que decide morar em um determinado local, inicialmente sem o seu marido, e
depois de dois anos de solidão aparece grávida, sem que o pai assumisse a criança ou, até mesmo, fosse identificado, com
direito a toda possível especulação por parte dos moradores locais? Sob os olhos de nosso mundo contemporâneo, seria
apenas um problema conjugal a resolver, talvez até mesmo tendo certo apoio de sua vizinhança para as necessidades ao
nascer da criança. Entretanto, este fato ocorre nos idos de 1666, em Boston, uma das colônias americanas da Nova
Inglaterra, recém descoberta e ocupada, onde o fator religioso e moral dos novos habitantes era determinante na
organização social.
Esta é a história contada no livro A Letra Escarlate de Nathaniel Hawthorne, um dos maiores romances norte
americanos, que traz a saga de Hester Prynne, em uma comunidade onde o puritanismo impera sobre qualquer ordem,
condenando uma mulher por seu adultério, tendo como pena a imposição de sempre usar em suas vestes, a letra “A”
bordada em ouro em seu peito, uma forma humilhante de permitir à população que a identificasse como adúltera e uma
das piores pecadoras, indigna do convívio social.
Hester dá à luz a uma linda pequena Pearl, que acaba sofrendo por consequência todas as agruras do isolamento
imposto à sua mãe. Outros constantes no núcleo centrar dos personagens são o Pastor Dimmesdale, um clérigo
reconhecido por sua fé extremada e conduta ilibada perante seus seguidores, bem como um médico que aparece
misteriosamente, nomeado como Roger Chillingworth. Essa lenda infame vai se conduzir com uma abordagem bem
maniqueísta, centrada, praticamente, nas intrínsecas ações destes quatro personagens.
Tudo começa com uma turba à porta da prisão municipal, pessoas que religião e lei eram a mesma coisa. As
mulheres criticavam que os juízes haviam sido piedosos demais para com Hester Prynne, que sai da prisão e se dirige ao
cadafalso para ser exibida para toda a população de Boston, como forma de humilhação pública. Durante a dolorosa
expiação, Hester reconhece uma pessoa na multidão. Também é concitada sem êxito, a revelar o nome do pai da criança,
para depois retornar ao encarceramento e receber a visita do médico Chillingworth em sua cela.
Cumprido o período do cárcere, permanece a adúltera naquela cidade, presa pelo pecado e a infâmia com que
lhe tratavam, aceitando sua culpa e penitência. Sobrevive realizando o trabalho de bordados finos, criando a doce filha,
cuja mãe bem a vestia e não lhe tratava com severidade. Tal qual uma fada, porém estigmatizada como a mãe, Pearl era
considerada como cria do demônio, pelos populares.
O tempo da obra se concentra em sete anos e revela um final um tanto quanto feliz, mas que deixou na vida de
Hester um completo estigma, como um emblema que deve denotar o caráter imoral de uma pessoa. Entretanto, de
pecadora, nossa protagonista passa por toda agonia, cumprindo sua sentença, tornando-se uma heroína, por sua postura
determinada em assumir sua culpa, enfrentando a sociedade de cabeça erguida, em que pese toda a solidão moral que a
letra escarlate produzia.
A trama traz ao leitor aspectos como pecar e perdoar, confissão e culpa de pessoas que contribuíram,
diretamente, para o fardo de uma moça jogada à ignomínia e infâmia da vergonha pública, revelando a falsa moral de um
grupo social preconceituoso e desonesto. Aqueles que mais se diziam santos eram sim o piores pecadores, enquanto a
reconhecida publicamente por um grave deslize, segundo o código moral da época, era de fato uma das personalidades
mais bondosas, coerentes, transparentes e honestas. Revela um sistema social de justiça humana totalmente precário e,
por que não dizer, injusto.
A obra foi publicada no ano de 1850, uma ficção em prosa que descreve os personagens em cenas ao longo dos
anos, com capítulos dedicados a cada fato, até chegar ao ápice final. Hawthorne esmera-se em realizar descrições bem
longas, em um estilo retilíneo de escrita, alterando em certos pontos o assunto que está tratando, sempre fazendo um
link com o que escreveu anteriormente, principalmente em uma introdução feita em quarenta páginas.
A história não pode fugir ao olhar moralista que expressa seu autor em outras publicações, bem como a visão do
século XVII, de um mundo puritano de protestantes radicais que emigraram da Inglaterra perseguidos pela religião, indo
colonizar os Estados Unidos, estabelecendo as bases para a ordem religiosa, intelectual e social da Nova Inglaterra, enfim,
um regime social fundamentalista. É sim uma grande crítica das sociedades e seus preconceitos vazios.
Embora possam ser encontradas mais treze edições, esta em que se baseou a resenha é do ano de 2010, da
Editora Companhia das Letras, traduzida por Christian Schwartz, uma leitura bem agradável e rápida, que detém a atenção
do leitor, exceto nas primeira quarenta páginas introdutórias. Pode ser baixada em LeLivros, disponível em:
http://lelivros.love/book/download-a-letra-escarlate-nathaniel-hawthorne-epub-mobi-e-pdf/. Acesso em: 26 abr. 2020.

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José Maria Pascoal Júnior – 26/04/20

É possível encontrar mais de dez adaptações para o cinema, principalmente nas três primeiras décadas do século
passado. As duas mais conhecidas e recentes datam do ano de 1979 e 1995, sendo esta versão não exatamente fiel a obra
e interpretada por Demi Moore e Gary Oldman.
Paz e Bem!

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