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Swansea (no cartão postal reproduzido acima) inspirou-lhe alguns dos mais
célebres poemas, como “The hunchback in the park” e “Return journey”, em
que descreve seu passeio pela cidade destruída por um bombardeio em 1941.
Poemas de
Dylan Thomas
Tra d u zi d o s po r I v an Ju n qu e ir a
No sono campestre
Nunca, nunca, minha menina cujos passos se afastam e se aproximam
Na terra das lendas ao pé da lareira, e dos que dormem enfeitiçados,
Temas ou creias que o lobo com uma branca touca de ovelha
Há de saltar brusca e alegremente, balindo e galopando,
Minha querida, minha querida,
De uma toca forrada de folhas no ano salpicado de orvalho
Para devorar teu coração na casa do bosque cor-de-rosa.
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Tra duzi do s po r Ivan Ju nqu ei ra
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Po emas de D yl a n Th o m a s
Quando a chuva cai, granizo sobre o velocino, quando a névoa flutua no vale
Através dos estábulos dourados de feno, quando cai o orvalho
Sobre o pó macerado das macieiras e as ilhas açoitadas
Das folhas matinais, quando cai a estrela, quando as aladas
Sementes da maçã deslizam,
E caem, e florescem na chaga que boceja junto à nossa ilharga,
Quando cai o mundo, silencioso como o ciclone do silêncio.
II
A noite e a rena sobre as nuvens acima dos montes de feno
E as asas do pássaro fabuloso que se enfeitou para a bela!
A saga saltitante da oração! E lá no alto, sobre os ventos
Com pés de lebre, as gralhas
Que crocitam em suas negras capelas, grasnando as bíblias
Dos pássaros! Entre os galos, a raposa vermelha que arde como fogo!
A noite e a veia dos pássaros no pulso alado e negro
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Po emas de D yl a n Th o m a s
Oh, ele vem destinado ao meu amor, não para furtar-me a sua chaga
De maré rasante, nem seu alto andar, nem seus olhos, nem seus cabelos
incandescentes,
Mas sua fé em cada vasta noite e na saga da oração
Ele vem para usurpar
Sua fé, pois nessa última noite, em nome de seu amor profano,
Ele vem para abandoná-la quando despertar o sol proscrito,
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Lá
Onde o elegíaco Martim-pescador apunhala e espadana
Nos baixios pedregosos
Cheios de juncos e borrifos, e “bobo, bobo”, diz o falcão alcandorado,
“Vem e deixa-te matar”,
Abro nas folhas da água uma passagem
De salmos e sombras entre as balouçantes pinças dos caranguejos
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Lamento
Quando eu era um rapaz presunçoso, um fedelho,
Semelhante à cusparada dos paroquianos
(Suspirava o velho relho de carneiro, agonizante de mulheres),
Andava tímido na ponta dos pés pelo bosque de groselhas,
Onde a áspera coruja gritava qual lendária teta,
Saltava em meu rubor, enquanto as meninas mais velhas
Jogavam boliche nos terrenos baldios dos asnos
E na gangorra das noites dominicais, cortejava
Quem quer que fosse com meus olhos maliciosos,
Tanto quanto toda a lua, podia eu amar e abandonar,
Junto ao arbusto negro como carvão, todas as esposas
Das pequenas núpcias de folhas verdes e deixá-las a sofrer.
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Elas, que certa vez no inverno de penas de ganso amaram todo o gelo
abandonado
Nas veredas dos cortesãos, ou se enroscaram sob o touro abrasador do sol
Nas carroças com cargas tão altas que os feixes de feno
Se grudavam às nuvens pendentes, ou que alegres se deitavam com alguém
Tão jovem quanto elas à luz recém-ordenhada da lua
Sob todas as formas iluminadas da fé, e suas anáguas enluaradas se erguiam
Com a ventania, ou se assustavam com os jovens e ásperos ginetes,
Agora me oprimem contra os seus grãos na gigantesca clareira do bosque,
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Tra duzi do s po r Ivan Ju nqu ei ra
Elas, que certa vez, para além dos verdes campos, floresciam qual sebes
de alegrias.
Há tempos, seu pó foi carne que o astuto porqueiro farejava,
Incendiada no mau cheiro da pocilga nupcial pela impetuosa
Luz de suas coxas, distendidas sob o céu da esterqueira,
Ou por seu pomareiro, nas entranhas do arbusto solar,
Suas madeixas gordurosas eram ásperas como línguas de vaca e cortadas
como sarças,
Sob seu verão implacável, como farpas de ouro enfiadas até os ossos,
Ou ondulavam macias como seda no arvoredo lunar
E atiravam pedrinhas no alvo lago que ecoava qual harpa de granizo.
Por seu peito, e escutavam o rumor das corças saltitantes, os cervos a subir
Velozes pelo bosque, ante o apelo do amor, lá, onde fumega uma tocha
de raposas.
A todos os pássaros e bestas da noite encadeada elas ouviam repicar em alvoroço
E a toupeira de focinho obtuso a peregrinar sob as cúpulas.
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Po emas de D yl a n Th o m a s
Agora o maçarico implora que eu me incline para beijar os lábios de seu pó.
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Alusão ao Dia de Guy Fawkes – 5 de novembro –, quando se comemora na Inglaterra, com
fogueiras e rojões, a malograda insurreição dita Conspiração da Pólvora (1605), cujo objetivo era
fazer explodir o Parlamento. Como se recorda, Fawkes (1570-1606), depois de convertido ao
catolicismo, foi arrastado aos subterrâneos do Parlamento de Londres no dia de abertura das sessões
ordinárias daquele ano, quando se preparava para explodir ali um barril de pólvora. (N. do T.)
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Sinos para
Marcantonio
M ar c u s A c c io l y
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M a rcu s A c c i o ly
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