Você está na página 1de 9

O Bloqueio do Whatsapp à Luz do

Direito Digital
25/07/2019

Yasmin de Farias Ramos

Revista Âmbito Jurídico nº 180 – Ano XXII – Janeiro/2019

04/01/2019

ISSN – 1518-0360

Resumo: O Direito Digital é a fusão entre a Ciência Jurídica e a Ciência da


Computação e visa, através de suas normas, regular as relações entre direito e
tecnologia. Com base na análise das evoluções sociais fica evidente que o Direito
Digital tem sido marginalizado pela comunidade jurídica, pois o direito não
acompanhou os avanços da sociedade. Neste sentido, o presente estudo procura
abordar o bloqueio do WhatsApp em território nacional por via judicial, como forma
de evidenciar a pouca importância dada pelos estudantes e profissionais da área
jurídica ao Direito Digital, o que pode acarretar em decisões equivocadas que
prejudiquem a sociedade.

PALAVRAS-CHAVE:

Bloqueio do WhatsApp. Direito Digital. Direito à privacidade.

Abstract: Digital Law is the fusion between Legal Science and Computer Science and
aims, through its norms, to regulate the relations between law and technology. Based
on the analysis of social evolutions it is evident that the Digital Law has been
marginalized by the legal community, since the law did not follow the advances of the
society. In this sense, the present study tries to address the blocking of WhatsApp in the
national territory by judicial means, as a way to highlight the little importance given by
students and legal professionals to Digital Law, which can lead to mistaken decisions
that harm society.

KEYWORDS:

WhatsApp lock. Digital Right. Right to privacy.

Sumário: Introdução. 1. Marco Civil da Internet. 1.1. Importância de se manter


atualizado. 1.2. As relações entre Direito e informática. 2. Considerações Finais. 3.
Referências
1 INTRODUÇÃO

Para uma melhor compreensão deste trabalho é necessário conceituar Direito Digital e
tornar evidente a sua importância. Segundo Marcelo Camilo de Tavares Alves, “O
Direito Digital é o resultado da relação entre a ciência do Direito e a Ciência da
Computação sempre empregando novas tecnologias. Trata-se do conjunto de normas,
aplicações, conhecimentos e relações jurídicas, oriundas do universo digital. (ALVES,
2009) ”. Com o avanço tecnológico surge a necessidade de regular a relação entre o
homem e a tecnologia, e o Direito Digital nasce com tal intuito. Não é fácil acompanhar
o avanço da sociedade, porém o especialista do Direito precisa manter-se atualizado no
que tange o Direito Digital, uma vez que esse novo ramo está cada vez mais arraigado
na sociedade.

O direito à privacidade, ao sigilo e à intimidade são garantias fundamentais que nascem


do princípio da dignidade humana. Na qualidade de Estado Democrático de Direito, o
Brasil é assim definido no artigo 1° da CF/88, a norma brasileira deve ser respeitada por
todos, desde o mais simples cidadão até o representante do mais elevado cargo público,
pois todos estão submetidos às leis vigentes.

No dia 25 de fevereiro do ano de 2015 o juiz Luiz de Moura Correia, da Central de


Inquéritos da Comarca de Teresina (PI), determinou o bloqueio do aplicativo de
mensagens instantâneas denominado WhatsApp. O motivo seriam crimes envolvendo
crianças e adolescentes. O pedido de bloqueio não foi atendido. Em 17 de dezembro do
mesmo ano o desembargador Xavier de Souza da 1ª Vara Criminal de São Bernardo do
Campo (SP) determinou o primeiro bloqueio real do WhatsApp, pois o aplicativo se
recusou a quebrar o sigilo de dados. Porém, o pedido inicial de 48 horas de bloqueio,
durou apenas 12 horas. No ano seguinte, no dia 02 de maio, o WhatsApp é bloqueado
mais uma vez, pelo juiz Marcel Montalvão, da Comarca de Lagarto (SE) que queria o
apoio do App em uma investigação relativa ao tráfico de drogas. A determinação exigia
o bloqueio por 72 horas, mas durou somente 25. O desembargador Ricardo Múcio
determinou o desbloqueio alegando caos social em todo o território. O programa voltou
a ser suspenso em 19 de julho de 2016 porque uma juíza da 2ª Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias (RJ) desejava que fosse desabilitada a criptografia do
sistema.

Este artigo tem por objetivo analisar a inobservância do poder judiciário acerca do
direito digital, levando em consideração a seguinte problemática: Qual medida deve ser
tomada para sanar a ausência de conhecimento sobre direito digital da magistratura
brasileira?Demonstrado através das sentenças incoerentes no que tange ao bloqueio do
aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp, bem como os transtornos e prejuízos
causados por um despacho errôneo e inconsequente.

O ato de bloquear o WhatsApp teve grande repercussão no contexto social, trouxe


prejuízos aos utilizadores do serviço e dividiu opiniões. Atualmente, ainda não existem
muitos estudos e contribuições que versem sobre tal temática, o que torna a tarefa
realizada de grande relevância para a ciência. Portanto, é possível notar a grande
importância desse tema para o corpo social através dos motivos que justificaram a
escolha do assunto abordado e debatido neste projeto de pesquisa.
A metodologia utilizada neste trabalho será a pesquisa bibliográfica, pois será elaborado
mediante material já publicado, como livros, artigos, jurisprudências, internet. Segundo
um tutorial da Biblioteca de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná,
pesquisa bibliográfica é o levantamento de um determinado tema, processado em bases
de dados nacionais e internacionais que contêm artigos de revistas, livros, teses e outros
documentos (BVS, 2003). Pretende-se demonstrar a insciência da justiça brasileira em
relação ao direito eletrônico, fazendo uso de decisões judiciais, com a finalidade de
tornar evidente a importância de tal disciplina jurídica no nosso ordenamento e nas
relações sociais em geral.

A pesquisa terá como método de abordagem o método dedutivo, uma vez que
partirá de uma situação geral para o específico, ou seja, observará primeiramente que
julgamentos incorretos quanto ao direito digital ilustram a falta de conhecimentos do
corpo de magistrados, em seguida mostrará os veredictos dos juízes como exemplo de
insipiência da matéria citada chegando à iminente conclusão de que tais veredictos
exibem a imperícia dos aplicadores da lei.

Para a realização da pesquisa serão adotados como critérios de inclusão estudos que
relatam sobre o bloqueio do WhatsApp e a importância de se estudar o direito digital.
Serão excluídos estudos publicados em idioma diferente do português. Segundo
Marconi e Lakatos (1992), a pesquisa bibliográfica é o levantamento de toda a
bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa
escrita. A sua finalidade é fazer com que o pesquisador entre em contato direto com
todo o material escrito sobre um determinado assunto, auxiliando o cientista na análise
de suas pesquisas ou na manipulação de suas informações. Ela pode ser considerada
como o primeiro passo de toda a pesquisa científica.

2 MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI 12.965/14)

Diante das transformações da sociedade, da constante evolução da tecnologia e para


legitimar o que está disposto na constituição federal, surge a Lei 12.965/14, também
conhecida como Marco Civil da Internet, que estabelece princípios, garantias, direitos e
deveres para o uso da internet no Brasil (CEROY, 2014). Visando nortear os direitos e
deveres dos usuários, provedores de serviços e demais envolvidos com o uso da
Internet no Brasil.

Em seu art.11 o Marco Civil da Internet, regulamentado pela ex-presidente da República


Dilma Rousseff e publicado no Diário Oficial da União no dia 23 de abril de 2014,
estabelece que “Em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento
de registros, de dados pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de
aplicações de internet em que pelo menos um desses atos ocorra em território nacional,
deverão ser obrigatoriamente respeitados a legislação brasileira e os direitos à
privacidade, à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos
registros.” (MARCO CIVIL DA INTERNET, 2014). Nota-se pela leitura do artigo
supracitado a evidente preocupação do legislador em proteger a privacidade do usuário
de aplicativos tecnológicos. O artigo cita ainda o respeito à legislação brasileira onde a
proteção à privacidade dos brasileiros é elucidada no art. 5°, X da Constituição Federal
que alega que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação. (BRASIL. Constituição, 1988).

A proteção dos dados pessoais e a privacidade dos usuários são garantias estabelecidas
por essa Lei. Afinal, o Marco Civil da Internet estabelece que os dados são seus, não de
terceiros. O Marco Civil garante também a privacidade de comunicações. O conteúdo
das comunicações privadas em meios eletrônicos passou a ter a mesma proteção de
privacidade que já estava garantida nos meios de comunicação tradicionais, como
cartas, conversas telefônicas, etc.

2.1 Explicar a importância do legislador, dos advogados, promotores, juízes e


outros profissionais jurídicos se manterem atualizados no que diz respeito ao
direito de informática e em inovar seus conhecimentos, avançando no mesmo
ritmo que a tecnologia

Direito e desenvolvimento podem e devem andar lado a lado, e os cientistas


jurídicos devem também se inovar. Neste momento, torna-se inevitável retomar ao
conceito do Direito Digital. Em concisa definição o Professor Losano o conceitua como
“um estudo das aplicações dos computadores eletrônicos ao direito, unida aos
pressupostos e consequências desta aplicação. ” (LOSANO,1995). O que nos importa é
justamente as consequências desta aplicação, pois os operadores do Direito devem estar
preparados para lidar com as repercussões jurídicas dos avanços tecnológicos.

Compete ao legislador, acompanhar a nova era informacional, e cabe aos advogados,


promotores, juízes e demais operadores do direito progredir juntamente com a
tecnologia, adquirir o conhecimento e compreender as especificidades do direito digital,
que mesmo não sendo ramo autônomo do Direito, não é menos importante que o
próprio Direito Civil ou Penal. Dessa forma, o Direito não perderá sua credibilidade, irá
acompanhar o desenvolvimento progressivo mundial e proporcionará, com o auxílio do
Estado e da sociedade acadêmica, a preservação da justiça e ordem social.

A constante atualização desses profissionais é crucial para a aplicação da lei, pois o seu
despreparo pode trazer inúmeras consequências negativas, como o acúmulo de conflitos
sem solução ou com resolução inadequada (relembremos os casos de bloqueio do
WhatsApp), haja vista a ausência de normatização desses assuntos por parte do Estado
que, por sua vez gera insegurança jurídica; desprestígio do judiciário e o sentimento de
injustiça na sociedade.

O surpreendente crescimento da Web e a sua propagação em todo o mundo já não pode,


apesar de sua recente eclosão, ser ignorada.É impossível ficar alheio ao Direito Digital,
principalmente no atual momento em que acompanhamos o advento da globalização, e
o acesso aos informes sobre o que está acontecendo é fundamental. O uso da internet se
faz imprescindível em todos os setores econômicos e sociais, portanto, o Direito não
poderia ficar de fora desta nova realidade.

O mundo moderno exige agilidade, eficiência e, principalmente, progresso. Na mesma


medida em que a sociedade está em constante evolução, o Direito deve (assim como os
profissionais e os acadêmicos da área) acompanhar essas tendências. Não obstante,
doutrinadores clássicos negam de imediato a existência do Direito Digital como ramo
autônomo do Direito, devido tão somente a estaticidade e a resistência ao
desenvolvimento. A internet é uma tecnologia revolucionária de complexo controle e
por sua velocidade de desenvolvimento é de difícil reajuste por parte do Direito.

“O Direito Digital já se tornou uma disciplina essencial para qualquer gestor, seja
público ou privado. É inovador e estratégico. Sua dimensão é multidisciplinar e
transversal, com muitas fontes de Direito Comparado, o que exige estudo e atualização
contínua. Por isso, todo profissional, seja de área jurídica, técnica ou administrativa,
deve acompanhar sua evolução. ” (FONTES, 2016).

Quando os profissionais da área não estão aptos a lidar com o Direito Digital acontece o
que vimos ocorrer em relação ao WhatsApp. Reconhecendo-se a supremacia da Carta
Magna e a importância das cláusulas pétreas no nosso ordenamento jurídico, fica
explícito através das quatro decisões judiciais vistas anteriormente que o magistrado não
dá a devida atenção ao Direito Digital, afrontando o sistema jurídico, quando
desrespeita o art. 5°, X da Constituição Federal, que garante a inviolabilidade à vida
privada. (BRASIL, 1988).

Essa negligência com o Direito Digital pode causar transtornos para a população. É
desproporcional o fato de uma investigação policial sobre tráfico de drogas em uma
pequena cidade de 100 mil habitantes afetar diretamente a vida de 100 milhões de
brasileiros. “A decisão (de bloquear o WhatsApp) foi um pouco desproporcional do
ponto de vista jurídico, porque prejudicou pessoas que nada tinham a ver com a questão
– no caso, os usuários do aplicativo no Brasil”, afirma o desembargador Raimundo
Nonato da Costa Alencar, do Tribunal de Justiça do Piauí (ALENCAR, 2015). É claro
que os motivos que levaram os juízes a essas decisões são compreensíveis, mas o art. 12
do Marco Civil prevê sanções menos danosas e mais coerentes, como advertências,
multa e em último caso a suspensão do aplicativo. “O Marco Civil prevê mecanismos
menos graves, como elevar a multa ou entrar com uma ação por obstrução da Justiça,
que afetem menos a coletividade”, afirma Carlos Affonso Souza, diretor do Instituto de
Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) e professor de Direito da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (SOUZA, 2015). A advogada especialista em
Direito Digital, Patrícia Peck Pinheiro, sobre as decisões judiciais afirma que “O
entendimento do Ministério Público é de que a punição deve ser proporcional, ou seja,
deve proteger uma pessoa em um determinado caso, mas não pode gerar um dano
coletivo.”(PINHEIRO, 2015).

2.2 Evidenciar a necessidade de se elevar as relações entre Direito e Informática a


um patamar de disciplina fundamental

Se houver dúvidas quanto às funções do Direito Digital, deve-se ter em conta as


difamações feitas via internet, a forma de tributação em relação ao comércio eletrônico,
crimes de calúnia, injúria, a preocupação com os direitos autorais e com a privacidade
dos usuários e questões com o bloqueio do WhatsApp, que está sendo tratado nesse
estudo, entre outros assuntos importantíssimos e regulamentados pelo Direito Digital.
Devido ao caráter interdisciplinário do Direito Digital, verificou-se por parte de alguns
juristas o intuito de não o aceitar como disciplina autônoma. Para esta corrente o Direito
Digital seria um aglomerado de normas dispersas pertencentes aos diversos ramos do
Direito. É verdade que essa disciplina ainda não é considerada um ramo específico do
Direito, porém é impossível deixar de notar a sua importância. Resistir ao avanço da
tecnologia e negar sua relevância no mundo forense é pôr em risco a validade e
segurança jurídicas das relações sociais.

Para melhor compreender a necessidade de inserir o Direito Digital como disciplina


obrigatória nas grades curriculares dos cursos de Direito brasileiros, é preciso,
demonstrar a sua indispensabilidade para o cotidiano das pessoas.

O jurista deve sempre se manter atualizado, pois não se pode aplicar leis, conceitos e
princípios tradicionais em todas as situações do Direito, é válido ressaltar a estreita
ligação entre o Direito Digital e o Direito do Consumidor. Aplicar a Lei 8.078/90
(Código de Defesa do Consumidor) nos casos de comércio eletrônico seria um
retrocesso na história das ciências jurídicas. Em seu art. 49, parágrafo único, o CDC
declara que “O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua
assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial,
especialmente por telefone ou a domicílio. ” (Código de Defesa do Consumidor, 1990).
Nota-se o enfoque na compra de produtos por meio do telefone e nenhuma referência a
aquisição por meio da internet, a prova disso está no artigo 1°, I, da Lei n° 7.962/13 que
procura garantir o respeito ao direito de arrependimento do consumidor.

Outro acontecimento de grande notoriedade é o crime virtual. O poder judiciário


brasileiro aplica os crimes já tipificados em nosso ordenamento para adaptar os crimes
virtuais. Ocorre que nem sempre a legislação atual é capaz de regular todos os casos da
sociedade. O nosso país carece com urgência de criar uma legislação específica para
essa modalidade de crimes, dado que, a internet hoje tornou-se vital para a sociedade,
não lhe cabendo mais apenas o caráter de passatempo, mas sim de informação. A
advogada especialista em Direito Digital, Patrícia Peck, faz uma breve avaliação a
respeito do ocorrido com a atriz Carolina Dieckmann que teve fotos íntimas vazadas na
internet, “No caso da Carolina Dieckmann, o crime foi tipificado como extorsão, que já
é um crime presente no Código Penal e não foi classificado especificamente como um
crime de internet. Até porque nosso Projeto de Lei (PL) de crimes cibernéticos ainda
está em andamento no nosso legislativo desde 1999 discutimos esse assunto, mas não
aprovamos nenhuma redação final. ” A prova do descaso com o Direito Digital é que
estamos aguardando há 18 anos a aprovação de um projeto de suma importância.

O Direito Digital também é muito significativo e primordial nas relações entre internet e
tributação, para regular impostos sobre transações online; internet e Constituição, a fim
de analisar a questão da privacidade quanto ao monitoramento de e-mails; no âmbito
Civil, em razão da usual ação de danos morais contra difamações na web; e em muitos
outros assuntos regulados pelo Direito. Tais situações comprovam a substancialidade do
Direito Digital como disciplina obrigatória no ensino superior brasileiro.

“A grade de ensino da graduação em direito não mais atende às exigências atuais do


mercado de trabalho. Como passar cinco anos sem ser instruído sobre Privacidade
Online, Crimes Eletrônicos, Territorialidade em Fronteiras da Informação, Coleta de
Provas Eletrônicas, Processo Eletrônico, Fisco Eletrônico, Uso Social dos Direitos
Autorais, Consumidor Online, Legítima Defesa na Internet, Perícia Digital, Distinção de
Dolo e Culpa em Equipamentos computacionais, e tantos outros temas que desafiam o
pensamento jurídico vigente no Brasil e também no mundo? ” (PINHEIRO, 2010, p.
67).

Perante o exposto até aqui, é evidente a compreensão de que as instituições de ensino


que no futuro formarão advogados,especialistas nas Ciências Jurídicas, estes, que sem
dúvida alguma lidarão com dilemas relacionados ao Direito Digital,têmum papel
importante em se tratando da introdução e implementação da disciplina nas suas
graduações em Direito.Sem dúvidas, é sabido que não é tarefa fácil,entretanto, é de
extrema importância para o próprio avanço da sociedade, tendo em vista a crescente e
contínua expansão das relações pessoais no meio eletrônico.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O direito digital surge na gama jurídica com o intuito de solucionar os dilemas advindos
do contínuo avanço tecnológico viabilizado pela globalização, daí a importância de
fazer com que esse ramo ganhe cada vez mais destaque nos cursos de direito. Sua
valorização é de fundamental importância se quisermos nos ater ao meio tecnológico
que não cessa de se inovar e consequentemente gerar questões que carecem de respaldo
jurídico.

Ele se faz presente em todos as áreas jurídicas: no Processo Civil e Penal, com o
Processo Judicial Eletrônico, Direito Penal, com crimes digitais próprios e impróprios;
no Direito do Consumidor, regulamentando compras online, as famosas propagandas
enganosas, entre outros. Também está nos direitos autorais, tratando da pirataria por
exemplo, tributário (como tributar serviços prestados pela Internet e trabalhista (horas
extras, entre outros). Menosprezar e reduzir o Direito Digital à submisso de outros
ramos das Ciências Jurídicas é um retrocesso em contrapartida ao avanço.

Notadamente, situações como o bloqueio do aplicativo de mensagens


instantâneas WhatsApp são frutos advindos da desimportância dada ao Direito da
Informática, em como ao próprio Marco Civil da Internet. Se fosse dada mais atenção a
este importante ramo do Direito, sem dúvida alguma, transtornos como as quatro vezes
que o aplicativo foi bloqueado no nosso país não teriam acontecido. Temos em nosso
ordenamento sanções mais proporcionais e mais adequadas aos casos, levando em
consideração a proporção de usuários do aplicativo no Brasil, queo usam para os mais
determinados fins como também a total inutilidade do bloqueio, que serviu apenas,
como já mencionado, para dificultar a comunicação dos usuários. O bloqueio do
aplicativo nada mais foi do que um ato que expôs a insegurança jurídica nacional no que
concerne aos direitos individuais.

No tocante à questão da autonomia e independência do direito digital, retoma-nos mais


uma vez a necessidade de salientar e reafirmar a importância de seu ensino como
disciplina indispensável nas instituições de ensino. Como responsável pela socialização
do ensino e comprometida com a formação de excelentes profissionais. É preciso sair da
zona de conforto, desconstruir velhos paradigmas, se permitir ao novo, e acima de tudo
se adequar a ele.Ademais,fazer do Direito Digital disciplina essencial do leque de
ramificações do Direito é fundamental para a construção de futuros especialistas que
solucionarão conflitos e demandas do nosso futuro.

REFERÊNCIAS

ALVES, Marcelo de Camilo Tavares. Direito digital. Goiânia, 2009.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 8 p.

BRASIL. Lei 12.965 de 23 de abril de 2014. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm> acesso em:
26 mar. 2017.

CEROY, Frederico. Os conceitos de provedores no Marco Civil da Internet: A lei


12.965/14, também conhecida como marco civil da internet, estabelece princípios,
garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil, 2014. Disponível em:
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI211753,51045Os+conceitos+de+provedore
s+no+Marco+Civil+da+Internet>. Acessado em: 05/04/2017.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. O bloqueio do WhatsApp e suas consequências.


Disponível em:
<http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/politica/2016/05/03/interna_politi
ca,642332/editorial-o-bloqueio-do-whatsapp-e-suas-consequencias.shtml>. Acessado
em: 11/05/2017.

LOSANO, Mário. A Informática Jurídica 20 anos depois. Revista dos Tribunais, n. 715,
maio de 1995, pp. 350-367.

MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São


Paulo: Atlas, 2007. 1926p.

MONTEIRO, Jhonny Garcia Trindade. A importância do direito eletrônico no ensino


superior jurídico do Brasil. Disponível em:
<http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/import%C3%A2ncia-do-
direitoeletr%C3%B4nico-no-ensino-superior-jur%C3%ADdico-do-brasil-0>. Acessado
em: 15/05/2017

NEVES, L. M. B.; JANKOSKI, D. A.; SCHNAIDER, M. J. Tutorial de pesquisa


bibliográfica da BVS. Disponível em:
<http://www.portal.ufpr.br/pesquisa_bibliogr_bvs_sd.pdf>. Acessado em: 11/05/2017.

OLIVEIRA, L. G. C.; DANI, M. G. S. Os crimes virtuais e a impunidade real.


Disponível
em:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&
artigo_id=9963>. Acessado em: 15/05/2017.
PINHEIRO, Patricia Peck. Direito digital. 6° Edição. São Paulo: Saraiva, 2016. 784 p.

PINHEIRO, Patricia Peck. Direito Digital. São Paulo. Saraiva, 2010.

PINTO, Marcio Morena. O Direito da internet:o nascimento de um novo ramo jurídico.


Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/2245/o-direito-da-internet-o-nascimento-de-
um-novo-ramo-juridico>. Acessado em: 15/05/2017

SEVERIANO, Adneison. ‘Dificilmente a prova do crime digital desaparece’, diz


especialista, no AM. Disponível em:
<http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/06/dificilmente-prova-do-crime-
digital-desaparece-diz-especialista-no-am.html>. Acessado em: 11/05/2017.

SILVESTRINI, Mariana. A importância do Direito Digital: Sustentabilidade do próprio


Direito. Disponível em:
<https://marianasilvestrini.jusbrasil.com.br/artigos/417075559/a-importancia-do-direito-
digital>. Acessado em: 15/05/2017.

Você também pode gostar