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Informação sobre medicamentos na imprensa:


uma contribuição para o uso racional?

Information on medicines in the media:


a contribution to rational use?

Eloína Araújo Lage 1


Maria Im aculada de Fátima Freitas 2
Fra n c i s co de Assis Ac u rcio 1

Abstract To identify as the theme “medicines” is Re su m o O artigo tem por objetivo identificar
pre sen ted by the press and to verify the co n tribu- como o tema “med i c a m en to s” é apre sentado pel a
tion of this media for a ra tional use of m ed i ci n e s . i m prensa e verificar a co n tribuição deste meio de
Expl o ra tory study was acco m plished in articles co municação pa ra o uso ra cional de med i c a m en-
pu bl i s h ed in a major Brazilian news pa per. These tos. A pe squisa foi realizada a partir de artigos
journalistic arti cles have been extra cted from the publicados por um jornal de grande ci rc u l a ç ã o
news pa per databa se, ava i l a ble in CD-ROM and nacional disponibilizados em bancos de dados em
on the In tern et . The analysis of co n tent of the se- C D - ROM e In tern et . Os arti gos que fo c a l i z a ra m
lected articles led to the identification of cate- temas relacionados a med i c a m entos fo ram sel e-
gories that em erged in the course of the stu dy. cionados e analisados pelo método de análise de
This wo rk pre sents the re sults of 377 arti cles that co n teúdo, com a iden tificação das catego rias que
focused med i cines in the co n text of the “medicine em ergiram no tra n sco rrer do estudo. Es te tra ba-
and health”, in a random sample of 1,067 articles. lho apre senta os re sultados rel a tivos a 377 texto s
In the eva l u a ted articles, messages aiming at neg- jornalísticos que abord a ram med i c a m en tos no
ative aspe cts rel a ted to the use of medicines were contexto da “medicina e saúde”, em uma amostra
less publ i s h ed than positive ones. This rese a rch aleatória de 1.067 arti go s . Nos textos analisados,
pointed out the nece s s i ty of following-up and mensagens alertando pa ra aspe ctos nega tivos re-
evaluating the quality of the information released lacionados ao uso de med i c a m en tos fo ram menos
by the press, seeking the rational use of medicines. veiculadas do que men s a gens po s i tiva s . De s t a c a -
Key word s Medicines, Rational use of medi- se a necessidade de acompanhamen to e avaliação
cines, Press, Information, Content analysis da qualidade da info rmação veiculada pela im-
prensa visando ao uso racional de medicamentos.
1 Dep a rt a m en to de
Pa l avra s - ch ave Med ic am ento s , Uso ra cional de
Fa rmácia Social, Fac u l d ade
de Fa rmácia da Un ivers i d ade medicamen to s , Im pren s a , In fo rm a ç ã o, Análise de
Federal de Minas Gerais. conteúdo
Av. Antônio Ca rlos 6.627,
sala 1.040 B2, Bairro
Pa m p u l h a , 31270-010,
Belo Horizon te MG.
el oi n a ra u j o @ ya h oo. com . br
2 E s cola de Enfermagem
da Un iversidade Federal
de Minas Gerais.
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In trodução tos é o processo que compreende a prescrição


a propriada; a dispo n i bilidade opo rtuna e a pre-
Os fatores que influenciam o uso de medica- ços ace s s í veis; a dispensação em condições ade-
m en tos são mu i tos e estão inter-rel ac i onados. quadas; e o co n sumo nas doses indicadas, nos in-
Podemos citar, entre outros aspectos, a forma tervalos definidos e no per í odo de tem po indica-
como a população com preende e con cei tua as do de med i c a m en tos ef i c a zes, seg u ros e de quali-
doenças e os tra t a m en to s , bem como a pre s s ã o dade ( Brasil, 2001). Esta definição ampla reco-
do fabri c a n te sobre os médicos e usuários, ge- n h ece que prom over o uso rac i onal de med i c a-
ra n do uma tensão en tre a nece s s i d ade sanitária men tos é um desafio que depen de de vários fa-
dos med i c a m en tos e a necessidade de expansão tore s , dentre eles, edu c a ç ã o, informação ade-
constante do mercado (Na s c i m en to, 2000). qu ada aos médico s , equ i pes de saúde e con su-
Adem a i s , a informação e a prop a ganda prom o- midore s .
c i onal de med i c a m en tos podem influ enciar em Ne s te con tex to, alguns autores consideram
gra n de medida a forma pela qual eles são utili- a imprensa um meio fértil e propício à educa-
z ados (Lef è vre, 1999; Woloshin et al., 2001). ção sanitária, especialmen te para a implanta-
Reconhecidos como instrumentos indis- ção de hábi tos sad i o s . De acordo com Lopes &
pensáveis às ações de saúde, os med i c a m en tos Nascimen to (1996), os meios de comunicação
ocupam papel cen tral na tera p ê utica da atuali- têm um papel fundamental na disseminação de
dade . Fa tores rel ac i on ados ao modo de utiliza- informações para os cidadãos, a s su m i n do um
ção ref l etem-se no efei to tera p ê utico e por isso p a pel de “educador co l etivo” em caso de en de-
n em sem pre eles exercem plen a m en te o seu pa- mias, cuidado e pre s ervação do funcion a m en to
pel. Muitas ve ze s , os pacientes não receberam do corpo. Kucinski (2000) argumenta que a in-
ou não tom a ram a dose do med i c a m en to de formação jorn a l í s tica po s sui gra n de “va l or pe-
forma correta, ou usaram tratamento inade- dagógico” para a medicina preventiva, desta-
qu ado. Após obter a prescrição médica, o pa- c a n do a importância dos meios de comu n i c a-
c i en te torna-se re s ponsável pelo uso do med i- ção de massa no processo de socialização da in-
c a m en to, s obre como, qu a n do e qu a n to tom a r. formação voltada para a ampliação da cons-
A ori entação recebida no con su l t ó rio médico é ciência sanitária.
confrontada com outras fornecidas por dife- O utros estudos, ao con tr á ri o, apontam qu e
rentes profissionais da área da saúde, com a qu e- as informações sobre med i c a m en tos vei c u l adas
las obtidas por paren te s , vizinhos e, também, na mídia são tendenciosas, predominando as
nos meios de comunicação de massa. A dec i s ã o boas notícias e a superva l orização das propri e-
do pac i en te é fortem ente influ en c i ada por va- dades med i c a m en tosas (Finzen et al., 1999;
lores culturais e fatores psico s s ociais (Arnau & Moynihan et al., 2000). As pesquisas assinalam,
L a porte , 1989), poden do levar ao uso incorreto também, que essas notícias esti mulam o auto-
desses produtos. Além de prejuízo para a saú- con sumo e con tri bu em para o aumen to da de-
de , o uso inadequ ado supõe um de s perdício de manda por con sultas médicas especializadas
recursos, a princípio pagos pelos pac i en te s . (Th om p s on , 1998; F i n dl ay, 2001).
Diante deste quadro, a Organização Mun- Por reconhecer a enorme influência dos
dial de Saúde (OMS) estabeleceu como seu m eios de comunicação na con formação da so-
gra n de desafio para a próxima década a mel h o- ciedade e da cultura, procurou-se identificar
ria na rac i on a l i d ade do uso de med i c a m en to s , como um jornal diári o, de grande circ u l a ç ã o
h avendo uma nece s s i d ade de prom over a ava- n ac i on a l , a pre s en tou as informações rel ac i on a-
liação desse uso e vigiar o seu con sumo (Orga- das aos med i c a m en tos que poderiam po ten-
n i z ación Mundial de la Sa lu d , 2002). cialmen te con tri buir para o seu uso rac i on a l ,
O de s envo lvi m en to de atividades edu c ac i o- analisando essa dimensão quanto ao tipo e con-
nais de caráter público con s ti tui um dos meios te ú do das informações veiculadas.
de alcançar o uso rac i onal de med i c a m en to s ,
propo s to pela OMS. O doen te e o públ i co em ge-
ral devem ter acesso à informação corret a , obj e- M é todo s
tiva e rel eva n te a respei to dos med i c a m entos, pa-
ra que se obtenha maior adequação em seu uso, Foi re a l i z ada uma pesquisa exploratória, se-
além de evitar a autom edicação de s n ece s s á ri a . guindo os princípios da análise de con te ú do,
O uso rac i onal de med i c a m en tos den tro da en foc a n do a discussão sobre medicamen tos em
proposta da Po l í tica Nac i onal de Med i c a m en- arti gos publ i c ados pelo jornal Folha de S. Pau-
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lo. Foi adotada a definição de análise de con- nados a medicamentos no con tex to da “med i-
te ú do utilizada por Ba rdin (1994), que a con- cina e saúde”. Ne s te con ju n to, as categorias qu e
ceitua com o : um conjunto de técnicas de análise emergi ram da análise das notícias e os critérios
das co municações visando obter, por proced i- estabelecidos para classificar cada uma delas
mentos sistemáti cos e objetivos de descrição do foram as seg u i n te s :
co n teúdo das men s a gen s , i n d i c a d o res (quantita- a) Cuidados no uso e abuso de medicamento s:
tivos ou não) que permitam a inferência de con h e- qu a l qu er informação que alertasse para a po s-
ci m en tos relativos às condições de produ ç ã o / re- sibi l i d ade do su r gi m en to de efei tos inde s ej á vei s
cepção (vari á veis inferidas) destas men s a gen s . decorren te do uso incorreto ou sem orientação
Os tex tos jorn a l í s ti cos foram co l etados no médica, a quisição de produtos cuja publ i c i d a-
b a n co de dados do jornal disponibilizado em de en f a ti z ava re su l t ado rápido, com ercialização
CD-ROM e na In ternet publicados entre no- de produtos sem com provação daef i c á c i a .
vem bro de 1998 e dezem bro de 2000. As pala- b) Med icina co m pl em entar: notícias que infor-
vra s - ch ave uti l i z adas para pesquisa fora m : d ro- mavam o tratamen to de doenças por meio de
garia(s), farmácia(s), fármaco ( s ) , m ed i c a m en- m é todos não-convencionais, tais como: h om eo-
to(s), remédio(s). Entre os tex tos capturados patia, f i to tera p i a , hipnose, s eita rel i giosa, en tre
foram excluídos aqueles em que alguma das o utro s ; e ainda depoi m en tos de usu á rios e pro-
palavra s - ch ave aparecia como met á fora ou nu- f i s s i onais que utilizavam esse ti po de tra t a m en-
ma citação circunstancial. Os tex tos sel ec i on a- to. Esta categoria foi incluída nesta análise por
dos para análise foram obti dos a partir de a m o s- abordar as manei ras com p l em en t a res de man-
tra gem aleatória das notícias captu radas após a ter a saúde e de tratar e explicar as doen ç a s .
pr é - s el e ç ã o. O tamanho da amostra foi calcula- c) Pesquisas ci entíficas e descobertas: notícias
do em 1.067 tex to s , con s i derando-se a prob a- que relatavam as pesquisas desenvolvidas em
bilidade de ocorrência do evento (p) igual a 0 , 5 , todo o mu n do, as de s cobertas apre s en t adas em
um intervalo de confiança de 95% e um erro con gressos e en con tros cien t í f i co s , testes com
máximo perm i ti do de 0,03. novos med i c a m en tos e lançamen to de novos
A análise de con te ú do foi de s envo lvida per- produto s .
corren do as seg u i n tes et a p a s : a) lei tu ra flutu a n- d) S a úd e , diagnósti co e tra t a m en to de doen ç a s:
te do material co l et ado, fase inicial de con t a to e notícias que abord avam um ou mais dados de
assimilação das primeiras impressões dos tex- descrição de uma doen ç a , tais com o, etiologia,
to s ; b) con s ti tuição do co rpu s de análise, re a l i- m odo de transmissão, diagn ó s ti co cl í n i co(sin-
zada pela organização do material e delimita- tomas e sinais), tra t a m en to medicamentoso ou
ção do número de tex tos a serem tra b a l h ados; n ã o, epidemiologia, teste de avaliação clínica,
c) levantamento de núcl eos de sen ti do (temas); formas de preven ç ã o, depoi m en tos de usu á rios
d) agregação dos dados em categori a s ; e) análi- e especialistas sobre a eficácia e eficiência de
se do co rpus. A partir da ex p l oração do mate- um produto usado num tra t a m en to.
rial foram re a l i z ados o levantamento dos tem a s A distri buição de tex tos abord a n do cada te-
a bord ados e a agregação dos mesmos em cate- ma é apre s en t ada na figura 1. A categoria “pes-
gorias que emergiram da análise. A análise do quisas científicas e de s cobertas” foi a mais fre-
co rpus envolveu, na primeira etapa, a análise qüen te (47% dos tex to s ) , seguida por “s a ú de,
qu a n titativa dos dados. Numa segunda etapa, diagn ó s ti coe tra t a m en tode doen ç a s” (36%).
efetuou-se a análise qualitativa das matéri a s . A análise da cobertu ra do jornal sobre as do-
enças en foc adas revelou que a maioria (66,7%)
das notícias não fez menção a um tra t a m en to
Re su l t a do s espec í f i co para a doença em discussão ou abor-
dou o tra t a m ento medicamen toso de uma for-
Foram captu rados 3.601 tex tos que abord ava m ma ampla, por categoria tera p ê utica (Ta bela 1).
o tema, no período estudado. Entre os 1.067 Porém, não se pode descon s i derar que 33,3%
tex tos jornalísticos amostrados e analisados, das notícias inform avam o tra t a m en tomed i c a-
76% foram classificados em três categorias cen- men toso espec í f i copara a doença em qu e s t ã o.
trais de análise iden ti f i c adas: “m edicina e saú- A divulgação do diagnósti co acom p a n h ado do
de” (35%), “regulação do merc ado farm acêuti- tratamento pode con tribuir como fator indu-
co” (31%) e “acesso a med i c a m en tos” (10%). tor de autom ed i c a ç ã o.
E s te trabalho apre s enta os re sultados rel a tivos Dentre os tex tos jornalísti cos analisados,
aos 377 tex tos que focalizaram temas relacio- 286 deles (76%) salien t a ram aspectos po s i tivo s
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Figura 1 As s i m , as informações re s s a l t a n do os cui-


Distri buição dos temas que em er giram da análise. dados no uso e abuso de med i c a m en tos foram
po u co freq ü en te s , no per í odo analisado. As no-
tícias sobre as con s eqüências do uso incorreto
do med i c a m en to abord a ram o efei to da su b do-
se ou sobredose num tra t a m en totera p ê uti co e
os modos de evitar a intoxicação por medica-
m en tos. Re s s a l t a ram também os ri s cos da au-
tomedicação por uso de antiácidos, analgési-
co s , antiinflamatórios e por medicamentos de
venda livre , assim como o ri s co de medicar be-
bês sem orientação médica. Denunciaram a
propaganda en ga n o s a , principalmente de em a-
grecedores e anabo l i z a n te s , além de de s t acarem
a nece s s i d ade de com b a ter o anúncio de pro-
dutos com efei tos terapêuti cos não com prova-
do s . A veiculação de men s a gens recon h ecen do
os limites dos med i c a m en tos dentro da aten-
ção à saúde é fundamental para promover
maior rac i onalidade na utilização desses pro-
duto s . E esta é uma ativi d ade que pode ser rea-
l i z adapelos meios de comunicação de massa.

Ta bela 1 Discussão
Ti po de tratamen to medicamen toso apre s en t ado
nas notícias classificadas na categoria “Sa ú de, diagn ó s ti co
O tema que apareceu como o mais freqüen te
e tratamen to de doen ç a s”.
na cobertura da imprensa – Pesquisas científi-
Ti po de tra t a m en to citado N % cas e de s cobertas – confirma o pon to de vista
In e s pecífico ou nen hum 56 41,5 defen d i do por autores como Helman (1994) e
E s pec í f i co 45 33,3 Ca m a r go Júnior (1995), que apontam o fascí-
E s pec í f i co, por categoria tera p ê utica 34 25,2 nio públ i co pelas novas de s cobertas no campo
Total 135 100,0 da saúde, vi s to que elas dão esperanças de cura,
de prolongamento da vida e da juventude. O
d i s c u rso cien t í f i co confere verossimilhança e
c redibi l i d ade à matéria. As concepções médi-
co - c i entíficas acerca da saúde e da doença exer-
ou negativos rel ac i onados à utilização de me- cem importante papel cultural em nossa soc i e-
d i c a m en tos (Ta bela 2). Ne s te estu do, foram re- d ade , o que faz privilegiar a ciência para va l er a
gistrados como “ben ef í c i o s”ou aspectos “po s i- i n formação vei c u l ad a . Ca m a r go Júnior (1995)
tivos” as informações de: indicação de uso, chama a atenção para o papel da ciência em
va n t a gem de uso, eficiência ou eficácia do tra- nossa cultu ra , con s ti tuindo um “gra n de eixo de
t a m en to e men or ri s co de aparec i m en to de re a- sustentação da produção de sentido em nossa
ções advers a s . As informações classificadas co- s oc i edade”. Na visão deste autor, “dizer-se que
mo “ri s cos” ou aspectos “n egativos” foram a qu e- a l go é cien t í f i co equ ivale dizê-lo verd adei ro,
las sobre : re s trição de uso, efei tos co l a terais ou f u n d a m en t ado, m erecedor de crédito”. A divul-
reações advers a s , redução do efei to tera p ê uti co gação científica pelos meios de comunicação
pelo uso incorreto e de s va n t a gem de uso. de massa repre s enta um modo import a n te pa-
Cerca de 28% das notícias abordaram, simul- ra o estabel ecimen to e difusão de verdade s.
taneamen te , ben efícios e ri s cos, mas esses aspec- A baixa freqüência de tex tos tratando dos
tos não foram apre s en t ados na mesma propor- riscos de utilização de medicamentos tende a
ção. E n tre os tex tos analisado s , as men s a gens reforçar o mito da saúde prom ovido pelo uso
alert a n do para aspectos nega tivos (25%) rel ac i o- de medicamen to s , o caráter simbólico do seu
nados ao uso de med i c a m en tos foram men o s poder de cura . As notícias sobre med i c a m en to s
vei c u l adas do que men s a gens po s i tivas (38%). são categorias import a n tes no campo da ciên-
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Ta bela 2
As pectos po s i tivos e nega tivos relac i on ados à utilização de medicamentos, i den tificados nas notícias analisad a s .
As pectos informados Pesquisas S a ú de , Med i c i n a Cuidados no Total %
c i entíficas e diagnósti co com p l em en t a r uso e abu s o
de s cobertas
Não inform ado(a) 74 2 15 – 91 24,1
Ben efícios (B) 45 59 – – 1 0 4( e ) 27,6
Ri s cos (R) 19 24 – 32 75(f) 19,9
B > R (b) 24 14 – – 38(e) 10,1
B = R (c) 14 27 – 10 51 13,5
R > B (d) 2 9 – 7 18(f) 4,8
Total 178 135 15 49 377 100,0
(a) Não inform ado: notícias que não abordam aspectos con s i derados po s i tivos ou nega tivos na utilização de med i c a m en to s .
(b) B > R: m a i or número de informações sobre ben efícios do que ri s co s .
(c) B = R: igual número de informações sobre ben efícios e ri s co s .
(d) R > B: m a i or número de informações sobre ri s cos do que ben ef í c i o s .
(e) In formações que salien t a ram os benefícios: 104 (B) + 38 (B>R) = 142 (38%).
(f) In formações que salien t a ram os ri s co s : 75 (R) + 18 (R>B) = 93 (25%).

cia como um todo, e cada vez mais aspectos da que as notícias su perva l orizavam os benefícios
vida diária são classificados como probl emas e subestimavam as reações adversas. In form a-
m é d i cos podendo ser tratados com esses pro- ções como essas podem esti mular o con su m o,
dutos. As men s a gens re s s a l t a n do os cuidados e leva n do ao uso indiscri m i n ado de med i c a m en-
advertências sobre o uso de med i c a m en tos po- tos. A informação que acompanha um produto
deriam “po ten c i a l m en te” i n terferir no processo é um parâmetro importante para o uso rac i o-
de con sumo de medicamen to s , na demanda nal de med i c a m en to.
por consultas e nos procedimentos de saúde, A análise dos tex tos evi denciou um predo-
além de fomentar o nível de consciência sani- mínio de con teúdos informativos com pouca
tária social que funcion a ria como uma barrei ra preocupação de educação para consu m o. O
p a ra uso inadequ ado. jornal levantou, d ivu l gou e deb a teu pon tos im-
A análise do rel a to jornalístico em torno port a n tes rel ac i onados à questão dos med i c a-
das doenças e seus tra t a m en tos revelou qu e , ao m en to s , exercen do bem seu papel inform a tivo,
i n formar o tra t a m en tomed i c a m en toso espec í- mas mu i tos outros aspectos poderiam ter si-
f i co para a doença em qu e s t ã o, o jornal atrai a do explorados. Como assinalado por Ep s tein
a tenção do lei tor, e ao mesmo tempo esti mu l a (2002), muitas informações que poderiam ser
o con sumo do medicamen to. Lefèvre (1999) mais import a n tes e de maior utilidade públ i c a
a r g u m enta que no con tex to da situação social e sobre saúde, em geral, “raramente se tornam
comu n i c a tiva, o jornal, ao ori en t a r, i n formar e notícia no seu sen ti do jorn a l í s ti co”.
educar, promove a venda num ato “de s i n teres- Apesar de ser recon h ecida como nece s s á ri a
s ado”, torn a n do eficaz o processo de ven d a . Es- e indispen s á vel, a educação vo l t ada para o uso
se processo induz também à automedicação correto de medicamen tos encontra barreiras
por pessoas que não têm uma atitude crítica para o seu desenvo lvi m en to. Sevalho (2003), ao
d i a n te da propaganda de medicamen to para d i s c utir a rac i on a l i d ade do uso do med i c a m en-
recon h ecer o limite de seu uso den tro da aten- to, apre s enta-o como um objeto híbrido, qu e
ção à saúde . deve ser considerado nas suas pers pectivas de
Os re su l t ados encontrados neste estudo instru m en to tera p ê uti co e de bem de con su m o.
qu a n to ao número de informações sobre ben e- Em nosso meio, o med i c a m en toé uma merc a-
fícios e ri s cos foram semelhantes àqueles ob- doria como qu a l qu er outra, a prop a ganda esti-
s ervados por Moynihan et al. (2000) ao anali- mula o autoconsumo, a legislação é frágil e con-
s a rem a cobertu ra jorn a l í s tica dos medicamen- flitos comerciais refletem de forma nega tiva o
tos prava s t a tina, a l en d ron a to e ácido acetil sali- s eu uso. Por isso, prom over a educação públ i c a
c í l i co por 36 jornais dos Estados Un i dos en tre sobre med i c a m en tos por meio da mídia é cer-
1994 e 1998. E s tes autores também detect a ra m t a m en te um desafio. O impacto de tal inform a-
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ção depen de, en tre outros fatore s , da cred i bi l i- ram seus com portamen tos por causa da infor-
dade da fonte informadora, das atitudes pes- m a ç ã o. Conforme avalia Thompson (1998), é
s oais sobre saúde, doen ç a , prevenção e cura , e, i m previsível o sentido que o indivíduo dá à
acima de tu do, de vi sualização dos limites e das men s a gem recebi d a . O ambi en te e as ex peri ê n-
po ten c i a l i d ades de interferência desses produ- cias pe s s oais influ enciam na recepção da men-
tos no processo saúde - doen ç a . sagem que pode ser en tendida de várias manei-
A dispon i bi l i d ade de informação sobre me- ra s , em diferen tes con tex to s . Por isso é impor-
dicamentos é uma condição nece s s á ri a , mas in- tante o desenvolvimen to de estudos comple-
su f i c i en te para promover o uso rac i onal. Notí- mentares que ava l i emo processo de comu n i c a-
cias ch a m a n do a atenção para os cuidados no ção, mais espec i f i c a m en te , a recepção da infor-
uso de medicamen tos e para as con s eqüências mação pelos lei tore s .
de sua utilização incorreta podem contribuir No con tex to da saúde pública torna-se rel e-
para incrementar a rac i onalidade deste uso. va n te o con h ec i m en to da qu a l i d ade das infor-
Entret a n to, a pesquisa revelou que men s a gens mações sobre med i c a m en tos veiculadas nos
alertando para os riscos da utilização foram meios de comunicação de massa. As informa-
m enos freq ü en tes que aquelas que deram des- ções são instrumen tos impre s c i n d í veis para
t a que aos ben efícios. A denúncia de prop a ga n- ampliação da consciência sanitária. Além disso,
da en ganosa e exce s s iva de med i c a m en tos tam- é desej á vel a formação de um corpo de con h e-
bém con s ti tui informação import a n te para uma cimentos que permita avançar na discussão de
atitude crítica do usuário no consumo destes como fazer ch egar efetiva m en te, via mídia, in-
produtos. Mas nada disso implica, nece s s a ria- formações perti n en tes aos usu á rios de med i c a-
men te , que os med i c a m en tos serão usados cor- mentos e à população em geral, vi s a n do ao
ret a m en te. Principalmen te , porque não se po- aprimoramento da qu a l i d ade da informação
de afirmar, por exemplo, se os leitores com- vei c u l ada e de sua assimilação.
preen deram as men s a gens, n em se eles muda-

Colabora dore s

EA Lage trabalhou na coleta, processamento, análise e in-


terpretação dos dado s , el a boração e redação final do tex-
to ; MIF Freitas e FA Ac u rcio parti c i p a ram na análise e in-
terpretação dos dados e revisão final do tex to.
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Referências bibl i ográficas

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