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A PSICOGÊNESE DOS
CONHECIMENTOS E A SUA
SIGNIFICAÇÃO EPISTEMOLÓGICA

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Fonte: PIATELLI-PALMARINI, Massimo (org.). Teorias da linguagem, teorias da


aprendizagem: o debate entre Jean Piaget e Noan Chomsky. São Paulo: Cultrix,
1983. pág. 39-49.

Fragmento de:

A PSICOGÊNESE DOS CONHECIMENTOS E A SUA SIGNIFICAÇÃO


EPISTEMOLÓGICA

Jean Piaget

Cinqüenta anos de experiências ensinaram-nos que não existem conhecimentos


resultantes de um simples registro de observações, sem uma estruturação devida
às atividades do indivíduo. Mas tampouco existem (no homem) estruturas
cognitivas a priori ou inatas: só o funcionamento da inteligência é hereditário e
só gera estruturas mediante uma organização de ações sucessivas,
exercidas sobre os objetos. Daí resulta que uma epistemologia em
conformidade com os dados da psicogênese não poderia ser empirista nem pré-
formista, mas não pode deixar de ser um construtivismo, com a elaboração
contínua de operações e de novas estruturas. 0 problema central consiste, pois,
em compreender como se efetuam tais criações e porque, ainda que resultem em
construções não pré-determinadas, elas podem, não obstante, acabar por
tornarem-se logicamente necessárias.

1. O Empirismo
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A crítica ao empirismo não consiste em negar o papel da experimentação, mas o


estudo "empírico" da gênese dos conhecimentos mostra de imediato a
insuficiência da interpretação "empirista" da experiência. Com efeito, nenhum
conhecimento se deve somente às percepções, pois estas são sempre dirigidas
e enquadradas por esquemas de ações.

0 conhecimento procede, pois, da ação e toda a ação que se repete ou se


generaliza por aplicação a novos objetos gera, por isso mesmo, um
"esquema", ou seja, uma espécie de conceito práxico.

A ligação fundamental constitutiva de todo o conhecimento não é, portanto,


uma simples "associação" entre objetos, já que esta noção negligencia a parte de
atividade devida ao indivíduo, mas é a "assimilação" dos objetos a esquemas
deste indivíduo.

Este processo prolonga, aliás, as diversas formas de assimilações biológicas, das


quais a assimilação cognitiva é um caso particular, enquanto processo funcional
de integração.

Em contrapartida, quando os objetos são assimilados aos esquemas de ação, há


a obrigação de uma "acomodação" às particularidades destes objetos (cf. os
"accommodats" fenotípicos em biologia), e esta acomodação resulta de dados
exteriores, logo, da experiência. É este mecanismo exógeno, portanto, que
converge com o que há de valioso na tese empirista, mas (e esta reserva é
essencial) a acomodação não existe no estado "puro" ou isolado, porquanto é
sempre a acomodação de um esquema de assimilação; logo, é esta que
permanece como motor do ato cognitivo.

(...)

soll: o conhecimento, o saber vem do atuar, do agir, do reconstruir, da releitura


das coisas, objetos, situações etc.

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