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1 Introdução
A Educação Clássica foi responsável pela formação do ensino durante quase 25 séculos,
momento em que pôde-se observar uma grande desenvolvimento na leitura, escrita, e
oratória. Durante esses séculos ela esteve presente entre os gregos, romanos e cristãos, e
foi responsável pela formação de grandes filósofos, teólogos, cientistas, e matemáticos
(ADLER, 2014).
2 Objetivos Gerais
3 Fundamentação Teórica
A educação clássica no sentido mais restrito e histórico tem-se um modelo datado pelos
gregos antigos, porém com raízes hebraicas, esse interesse dos gregos pela aquisição do
conhecimento e da lógica se liga diretamente com a formação de homens virtuosos e
pensadores úteis para sociedade, excelentes oradores, e propagadores de ideias, para
assim formar uma educação que veio a permear por muitos séculos através de bases e
experiências que concedem a educação clássica não só um modelo, mas uma arte que se
prontifica no Trivium e Quadrivium, visto que o trabalho se especifica na estrutura
do Trivium para ordenar a comparação e efetividade no ensino e seus elementos.
Sabemos que todo respaldo educacional do passado não só deixa resquícios no modo de
aprender a ensinar, mas faz parte de todo conteúdo constituído historicamente na
educação, um exemplo é a composição epistemológica das ciências como diz Marshall
McLuhan (2012), sobre a citação exemplar de Arnold (1911);
Essa relação que Arnold apresenta como “forte respaldo nas etimologias” é claramente
fonte de termos científicos como por exemplo as máximas biológicas, conceitos literários,
proposições musicais, geográficas, matemáticas, todas advém de um conhecimento da
Antiguidade que se afixou com o tempo e se aprimorou durante a Idade Média, onde a
mesma foi resgatada, e oscilou nos modelos Renascentistas, onde no decorrer das
aplicações foi tornando-se irrelevante e visto como inútil na Modernidade.
Esse campo amplo e inexplorado, proposto por McLuhan, das origens da gramática e seu
vínculo natural por meio da linguagem como expressão e analogia do Logos é uma clara
análise de que esse campo linguístico não é de modo algum divisível para ser estudado
sem fundamentos multidisciplinares. (IBIDEM, 2012).
3.2 Implicações Científicas e Sociais
Isso implica claramente nas camadas sociais que se apresentam como reflexo do ensino
abordado durante toda a história da humanidade, seja ela um meio de utilização de uma
educação autocrática, ou ela por meio de um ensino “libertador”, Mcluhan (2012) vai dizer
que até o século XII a gramática e as artes da lógica e retórica reinavam como a principal
forma de ciência, mostrando que os estudiosos do período clássico se mostravam
indiferentes ao extraordinário papel desempenhado pela gramática clássica na ciência e
na tecnologia do medievo, mostrando-se confusos, portando, acerca da natureza do
Renascimento. Também ressalta o estudo de Abrey Gwynn (1926) que fala
O tipo de educação que Quintiliano descreve em suas Institutio Oratoria permaneceu por
séculos como a única forma de instrução conhecida no mundo greco-romano. Os
homens pobres continuavam a enviar seus filhos para as escolas primárias do ludi
magister e do calculator; no entanto, as classes mais ricas, prósperas e profissionais
mandavam os meninos para as escolas de literatura e retórica, contentando-se com as
“artes liberais” da egkuklios paideia. (…) Da época de Sócrates à queda do Império
Romano, não havia outra forma de educação conhecida na Europa; assim, quando a
Igreja se tornou a herdeira da civilização greco-romana, ela utilizou as Artes
Liberais como estrutura adequada para nova educação cristã praticada em suas
escolas. (apud MCLUHAN, 2012, p. 44)
Essa questão esclarece o fato de que o ensino medievo não se deu universalmente para
todas as camadas sociais, porém, aquela camada que teve êxito com o ensino das “Artes
Liberais”, foram extremamente necessárias para o crescimento científico, outro
argumento que reforça essa ideia de que tanto a estrutura do Trivium obteve um
desenvolvimento essencial para a formação de grandes cientistas, gênios, polímatas, e
tecnólogos, que se precedem até o Renascimento (onde ainda se tinha a Educação
Clássica) que posteriormente foi se perdendo, quanto a veemência de que as Artes
Liberais são inerentes com o aprendizado complexo das ciências, é a presença dos
Gramáticos em todas as camadas do ensino, McLuhan enfatiza “Os Grandes gramáticos
também são, por razões que esclarecemos, grandes alquimistas” (IBIDEM, 2012, p. 31),
e ainda continua onde aborda que:
Além disso, “a filosofia derivativa e quase todas as histórias filosóficas são elaboradas por
gramáticos.” (IBIDEM, 2012, p. 57) “Dessa forma, a instrução em assuntos gerais era
adquirida nas circunstâncias da exegese literária” (LABRIOLLE, 1925, p. 6), o que
gerava um profundo conhecimento dessas áreas. McLuhan vai explanar a frase de
Quintiliano “O pupilo perceberá a complexidade do tema, uma complexidade que se
destina não apenas à acuição da inteligência dos meninos, mas até mesmo ao exercício
do mais profundo conhecimento e erudição.” (apud MCLUHAN, 2012, p. 45, 46).
Passando assim portanto por diversos aspectos temporais, desde os primeiros séculos até
a Idade Média as Artes Liberais tornaram-se alvo de elogios e análises profundas de
diversos educadores, McLuhan (2012) cita George G. Leckie (1938) do prefácio ao
De Magistro de Santo Agostinho;
As artes naturais dizem respeito a essas mudanças ordenadamente repetitivas da
natureza. Esses são sinais velados ou vestigiais. A tarefa das artes liberais é traduzi-los em
signos simples e em fórmulas desses signos, ou seja, em símbolos estáveis e luminosos do
pensamento. (…) Por meio das artes liberais, as coisas manejadas pelo homem exterior
são formuladas pelo homem interior, com a ajuda da reflexão analítica orientada para
a verdade e regulada pelos caminhos formais da linguagem e da matemática. (apud
MCLUHAN, 2012, p. 49)
As fases do Trivium a gramática, lógica e retórica, é descrita por Sayers (1947) em três
estágios, o primeiro é o estágio do ‘‘Papagaio’’, e segundo é o ‘‘Arrojado’’ e o terceiro o
‘‘Poético’’, o autor destaca que esses estágios estão presentes no processo de
desenvolvimento em cada etapa da vida das criança.
O estágio arrojado, corresponde a segunda fase, conhecida como lógica ou dialética. Aqui,
a criança possui uma maior capacidade de raciocínio. Wilson (2017) descreve que ‘‘o
ensino da lógica é a capacitar os estudante a distinguir a estrutura de um argumento a seu
conteúdo’’, ele ainda relata que nessa fase a criança já consegue identificar a validade de
um argumento. Bluedorn (2016), retrata que ‘‘por meio da lógica, um aluno aprendia a
dominar declarações, definições, argumentos e falácia’’. Nesse estágio é possível
relacionar conteúdos de diversas áreas do conhecimento, pois ela está presente na
matemática, física, química, biologia, geografia, história etc. Aqui também é trabalhada a
interdisciplinaridade entre as disciplinas. Estão nessa fase crianças entre 12–14 anos.
O terceiro estágio é o poético, mais conhecida como a fase da retórica, considerada a fase
mais difícil, para alcançar essa fase é necessário ter um bom domínio das duas primeiras,
pois, nessa fase o indivíduo irá aplicar tudo que ele prendeu nas duas fases anteriores,
esses estágio deve ser posterior aos outros dois, pois nele que os alunos irão expressar o
que eles aprenderam com coesão e coerência. Aqui é trabalhado o discurso criativo e
persuasivo, a fase da retórica ocorre entre os 14–16 anos (BLUEDORN, 2016). Tratando
sobre a interdisciplinaridade, Sayers (1947) descreve:
Neste estágio, a nossa dificuldade será manter as matérias separadas; pois a Dialética terá
mostrado serem todos os ramos do aprendizado interrelacionados, então a Retórica
tenderá a mostrar que todo o conhecimento é um (SAYERS, 1947, p.14. Tradução de
Felipe Sabino).
A fase da retórica é muitas vezes descrita por educadores com termos pejorativos, por
lembrar de sofistas e políticos que utilizam essa metodologia para uma má aplicação.
Todavia, ao analisar a raiz epistemológica da palavra ‘‘a arte da oratória, ou habilidades
de falar em público’’, observa-se que sua origem está intrinsecamente ligada ao discurso,
e debates que visam a utilização da dialética (BLUEDORN, 2016) e (WILSON, 2017).
Embora existam três fases distintas no Trivium, em que cada uma é desenvolvida em
momentos diferentes, elas não podem ser dissociadas, visto que é impossível estudá-las
separadamente, já que sempre é necessário trabalhar um conteúdo, com teoria, lógica e
argumentação. O que é proposto nas Artes Liberais, é que esses estudos sejam feitos com
maior intensidade em determinados momentos da vida das crianças.
A educação moderna ensina um grande número de matérias, mas não ensina as crianças
a dominar habilidades de compreender, raciocinar, e comunicar-se, ou seja, o trivium. Já
a educação clássica se concentra em sentido primário no aprendizado das três habilidades
do trivium, enquanto praticava as habilidades do trivium em várias matérias. O aluno de
hoje recebe muitas matérias mastigadas, mas nunca é ensinado a aprender. O aluno
antigo aprendia no início a aprender, depois aplicava a habilidade de aprender a muitas
coisas. (…) O trivium é uma forma de autodidatismo que dura a vida toda. A educação
moderna é um aprendizado árduo que dura a vida toda, ou poderíamos dizer, um
aprendizado servil que dura a vida toda. (BLUEDORN, 2016, p.92. Ensinando o
trivium).
A ineficácia do ensino de gramática na educação moderna é muito bem descrito por Buin
(2004). No seu artigo A gramática a serviço do desenvolvimento da escrita, a autora
descreve que boa parte dos alunos saem do ensino médio com dificuldades de escrita e
compreensão da língua portuguesa, sem o domínio das normas gramaticais. A autora
relata que isso é resultado da falta de metodologias consistentes, que contribuem para um
bom desenvolvimento do estudo da gramática e interpretação de texto, a interação entres
as teoria gramaticais e prática, é a solução descrita por Buin (2004).
4 Metodologia
5 Resultados e Discussão
Os índices que permeiam sobre a educação brasileira a tempos já sofrem com diversos
problemas, sejam eles sociais, culturais, políticos ou econômicos. Essa discrepância foi
analisada de modo específico na deficiência do modelo e ensino linguagens, que se baseia
na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que diz na etapa do ensino fundamental,
no item 4.1 que é a Área de Linguagens que:
A base reconhece que esse sistema de linguagens está intimamente relacionado com
diversos fatores (moral, cultura, valores sensitivos), porém o ensino de linguagens (que
tentam imputar todos esses fatores), e o modelo de “habilidade e competências” da base
curricular que demonstra clara deficiência em aliar conceitos “antigos” de lógica e retórica
com o conteúdo a ser transposto nas escolas, tanto por esses conceitos de educação
clássica serem esquecidos ao passar dos anos, quanto por acharem que são “retrógrados”,
visto que as diversas dificuldades enfrentadas na educação de linguagens está ligada ao
desenvolvimento em outras áreas. São numerosos os linguistas que criticam o modelo de
ensino de linguagens em geral, o trabalho de Buin (2004, p.158) onde se reforça a
ineficácia do sistema ensino de português, e insiste que os objetivos da gramática
tradicional estão colocados erroneamente e aponta incoerências, além de citar Perini
(2000) que diz: “deve-se estudar gramática para saber mais sobre o mundo; não para
aplicá-la à solução de problemas práticos como ler ou escrever melhor” (apud BUIN,
2004, p. 158), apesar da autora demonstrar soluções com novas metodologias
contextualizadas, esses contextos poderiam muito bem encaixar nas artes liberais, e não
apenas em mudança da gramática tradicional pois no Trivium essa matéria não é
dissociada da lógica e a retórica, diferente do que é ensinado.
O fracasso escolar não é algo difícil de ser identificado nas literaturas e na vida prática de
uma sociedade, basta observar os parâmetros educacionais que ela está fundamentada.
Esse problema vem sendo verificado e debatido por educadores ao longo dos séculos. As
metodologias sugeridas pelos mesmos, também não são raras, todavia, observa-se a
presença de um vácuo ao tentar solucionar o problema do fracasso escolar, ou propor algo
que contribua para o progresso educacional; métodos alternativos que trabalhem a
contextualização e a interdisciplinaridade são facilmente sugeridos por esses educadores,
contudo, a aplicação desses métodos educacionais é totalmente falha, e acaba retornando
para aos problemas iniciais, esse retrocesso é consequência de uma falta de
fundamentação no ensino, traçando uma analogia , é como a construção de um edifício
sem nenhum alicerce. O ensino clássico descreve que não haverá um progresso no ensino,
enquanto a educação não estiver alicerçada sobre os fundamentos gramática ‘‘fase do
conhecimento’’, lógica ‘‘fase do entendimento’’ e retórica ‘‘fase da sabedoria’’.
Dentro desse espectro de discussão acerca da formação dos alunos ainda existe resquícios
da educação clássica em nossos dias, por mais que elas tenham sido dilaceradas e taxadas
como “tradicionais” demais para a modernidade, e isso fica bem explanado no escrito
de As ferramentas perdidas da educação em uma versão comentada:
Por mais sólidas que sejam as raízes de uma tradição, se ela não for nunca regada com
água fresca, ela morre, e morre mesmo. Hoje em dia um grande número — talvez a
maioria — dos homens e mulheres, formadores de opinião, que escrevem nossos livros e
nossos jornais, que conduzem nossas pesquisas, que atuam em nossas peças teatrais e
nossos filmes, que nos falam das plataformas e dos púlpitos — sim, e que educam nossos
jovens — têm uma lembrança, ainda que vaga, de ter experimentado a disciplina no
sentido escolástico [original]. É cada vez mais raro ver as crianças trazerem qualquer traço
daquela tradição para a sua formação. Dispensamos as ferramentas de estudo da
educação — o machado e a cunha, o martelo e a serra, o cinzel e a plaina — que eram tão
aplicáveis a todo o tipo de tarefa. Em seu lugar, não nos restou nada mais do que um
conjunto de gabaritos complicados, cada qual servindo para uma única prova e nada mais;
nem o olho nem a mão recebem qualquer preparação para o uso [dessas ferramentas], de
modo que ninguém consegue mais enxergar o trabalho como um todo ou ter a visão da
“obra acabada”.
6 Conclusão
Visando o reflexo do ensino com bases nos artigos, livros, e um espectro histórico-
filosófico acerca das artes liberais e do modelo atual, percebemos o grande
desenvolvimento da ciência permeada por esse contexto clássico e que a mesma se
relaciona com a gramática, lógica e retórica, sendo ressaltado os problemas da forma de
ensino e base, que são fundamentais para o prosseguimento intelectual do ser, e que são
essenciais para o desenvolvimento nas ciências naturais e andamento para o ensino
superior (ou outra forma de aplicar seus conhecimentos), e que esse tipo de ensino
moderno de linguagens não está alcançando as metas de desenvolvimento de capacidade
expressivas e discursiva, como também de interpretação, que acarreta problemas nas
séries posteriores, existe uma fragmentação das respectivas matérias, pela ideia de
separação das disciplinas, mas também uma ruptura na formação dos estudantes, onde
as ferramentas apresentadas (gramática, lógica e retórica) não incorporam de maneira
eficaz na tradicional “gramática” ensinada nos modelos atuais, e que essa ruptura causa
índices alarmantes de alunos com analfabetismo funcional, dificuldades nas matérias com
cálculos, com a escrita má desenvolvida, evasões escolares e consequências para a vida
toda. Mas também como contraponto, que as artes liberais possuem aparatos para
desenvolver tais habilidades para melhor aprimoramento do aluno, capacidades que
exigem multi funções cognitivas, e trabalham melhor o ensino de linguagens devido seu
escopo equilibrado de fundir gramática e a rede complexa de competências discursivas e
expressivas do ser humano, que o período de formatação do ensino clássico se permeou
durante quase 25 séculos e tem grandes contribuições no ocidente, tanto científico quanto
tecnológico, e que não pode ser simplesmente ignorado como artifício para o ensino
moderno.
Referências
ADLER, M. J. Como falar, como ouvir. ed. São Paulo: É Realizações, 2014.