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Introdução ao direito II
Tiago pires 2014/15
Temas:
As lacunas
Aplicação das leis no tempo
Metodologia
As lacunas
A problemática das lacunas começa afirmar-se no século XIX com base no dogma da
plenitude lógica do sistema jurídico,ou seja, afirmava-se que o sistema responderia a
todos os problemas que pudessem aparecer na sociedade,um autentico sistema
constituído
A problemática das lacunas era de certa forma superada até então pelo recurso a
fontes subsidiárias como o direito romano, o direito canónico,uma glosa,ou até mesmo
a um concelho em concreto (monarca ou uma instituição),esta dinâmica viria-se a
alterar com a revolução francesa,mais precisamente com a firmação da lei como fonte
fundamental de direito
Não e correto,contudo,dizermos que temos uma lacuna quando o caso não é previsto
pelo direito, não se trata daquelas situações que a lei não pretende disciplinar,ou seja,
situações pertencentes ao espaço dito extrajurídico,todavia,muitas vezes acontece que
falta uma disposição em leis que tutelam casos jurídicos (lacuna é uma incomplesão do
sistema normativo que contraria o plano deste),remete-nos para o campo dos limites
normativos objetivos da legislação.
Podemos destacar alguns critérios (fluidos) para a superação das lacunas:
i. A problemática da cultura jurídica e do sentido do direito, a formação em cada
um de nós de uma consciência relativamente ao que é correto ou não.
ii. O direito refere-se a relações intersubjetivas, não tem a ver com as
caraterística de A ou com as opções de B, remete-nos para aspetos com
relevância social
iii. As enumerações legais,abertas ou taxativas, contem uma multiplicidade de
casos ao qual a matéria jurídica em questão se aplica
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Tiago pires 2014/15
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Tiago pires 2014/15
Art 8º/1-Quando estas questões nos surgem nos tribunais, nós não podemos rejeita-
las: a impossibilidade de non liquet (não se pode recusar a justiça/um caso tem de ter
julgamento)
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Se as questões sobre direitos e obrigações não poderem ser resolvidos, nem pelo texto
da lei nem pelos casos análogos previstos em outras leis, serão decididos pelos
princípios de direito natural (conceção jusnaturalista/código de inspiração kantiana e
crausista)
Visto este código ser jusnaturalista não havia problema em aceitar a problemática das
lacunas, não havendo uma norma para um caso em particular, devíamos procurar
casos análogos a esse caso( analogia legis)
A questão,contudo, debruçava-se sobre aqueles casos em que a analogia legis não era
possível ou seja, não existiam casos análogos semelhantes a um determinado caso
O Art 16º previa dois critérios:
1. Analogia legis
2. Recurso aos princípios de direito natural (os juristas deviam olhar para o
horizonte mais vasto,uns deles já instituídos no código outros não)
Este artigo foi objeto de três resultados em termos de interpretação, com o decurso do
tempo começa a chegar a Portugal influencias do positivismo jurídico, o que levou a
que os princípio de direito natural começassem a ser entendidos como princípios
gerais de direito (critérios de auto-integração;são princípios extraídos do direito
positivo,não são princípios jusnaturalista, são princípios positivistas), o código fechou-
se
Dr.cabral de montada afirma que estes princípios gerais de direito seriam “princípios e
dogmas latentes no espírito de uma legislação positiva que embora nem sempre
formulados constituem a base e o pressuposto lógico de todas as suas disposições e
institutos”.
Com o passar do tempo e por força do código suíço (Art 1º/1), introduziu-se uma
última interpretação a este artigo: Resolver os casos omissos de acordo com a norma
que o interprete criaria se tivesse de legislar dentro do espírito do sistema, como se
legislador fosse (tese defendida entre nós por Manuel de Andrade e Cabral de
montada)
Entra em vigor em 1967 o atual código civil que,também, tem um artigo que trata do
problema das lacunas, o Art 10º
Art 10º:
Art 10º/1-Analogia legis
Art 10º/2-Não se encontra especificada a analogia iuris, Esta analogia pode ser
legis ou iuris, no entanto, de acordo com a opinião do Curso (Prof. Doutor Reis
Marques) é considerado que a analogia iuris não está consagrada no art.10º
porque não pode ser positivada.
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Nota: Existem dois critérios iguais aos do Art 16º e um novo critério que o legislador
impõe ao jurista
Várias teses:
Freitas do Amaral
Defende a existência de não 2, mas 3 mecanismos possíveis de preenchimento de
lacunas, sendo o último recorrer aos Princípios Gerais de Direito (analogia legis +
princípios de direito natural).
Concorda que em 1º lugar se deve recorrer à analogia legis (10º/1 CC), mas que em 2º
se devem aplicar os princípios gerais de direito, isto é, procurar casos paralelos e um
conjunto de normas que os regulem e, dentro do sistema, extrair das normas um
princípio geral de direito e aplicá-lo ao caso. Se, por fim, não puderem ser aplicados
estes dois mecanismos, aí sim, aplicamos a norma “ad-hoc” que morrerá aquando da
sua aplicação (art. 10º/3 CC).
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Tudo isto considerado demostra que soluções com um cariz tão linear e abstrato não
se demostram pratico-normativamente favoráveis a resolução do problemas
concretos, como afirmado pelo Dr. Pr. Pinto bronze “as soluções logicamente lineares
nem sempre se revelam prático-normativamente aceitáveis”
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Ressaltam-se duas teorias: Teoria dos direitos adquiridos e Teoria do facto passado
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Art 12º
1:Determina que situações jurídicas do mesmo tipo fique com estatutos
diferentes, umas a serem reguladas pela lei antiga outras a serem reguladas
pela lei nova,é ,contudo, ignorado o facto de a lei nova ser mais adequado a
solução do problemas relativamente a lei antiga
2:Imediata e irrestrita aplicação da lei nova,podendo levar a uma situação de
insegurança jurídica e a uma frustração das expectativas dos sujeitos
3:Repartição temporal entre a lei antiga e a lei nova,após o fim de vigência da
lei antiga, inicia a sua vigência a lei nova
Art 13º
Art 13º/1: A emissão de uma lei interpretativa produzirá efeitos a partir da
vigência da lei interpretada,pois a lei interpretativa integra-se na lei
interpretada, a lei interpretativa como é considerada parte da lei antiga tem
valo retroativo, o problema depara-se com o facto de saber se estamos diante
de uma verdadeira lei interpretativa ou se, por outro lado, não estamos
perante uma lei inovadora,apenas será interpretativa se se limitar a aclarar
ponto não explícitos da lei a que se refere,sem lhe fazer uma alteração
substancial ou material
Teoria do facto passado: Se a lei atinge factos a lei respeita os factos passados, se se
abstém dos factos a lei aplica-se para o passado e para o futuro
Nem sempre se aplica o Art 12º:existem situações em que o legislador tomou posição
sobre a lei que se aplica,destaca-se o direito transitório,que pode ser:
Formal (quando o legislador decide qual dos dois regulamentos
deve aplicar)
material (quando não opta nem pela lei antiga nem pela lei nova,
mas formula um quadro específico criado por ele)
Metodologia
Toda e qualquer ciência tem a necessidade de um método, método este que reuna o
consenso geral para uma correta aplicação metodológica.
A metodologia é,assim, uma prática reiterada que visa a racionalização prático-
normativa de um critério necessário a concretização do direito, o controlo da prática
de um discurso que deve conduzir a solução correta.
É,assim, necessário um modelo metódico,nos não nos podemos preocupar apenas
com os nossos interesses,temos de salvaguardar os interesses dos destinatários do
direito.
Com o recurso a história vemos que as preocupações metodológicas sempre existiram:
No mundo romano,já existia uma racionalidade retórico-prodencial,ou
seja, existia um método específico onde tudo partia do caso
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A escola da exegese
Esta escola teve uma enorme importância na ciência jurídica francesa após a
revolução , a lei passa a ser privilegiada , sendo esta geral e abstrata,uma conjuntura
envolta numa constante luta contra o arbítrio dos tribunais.
A escola de exegese surgiu com o código civil francês ( 1804), esta escola defendia que
os códigos em obras definitivas e que esgotavam o direito válido ,o direito era ,assim,
aquele sistema fechado, auto-suficiente, sem contradições ou lacunas,sendo assim o
direito só era conhecido através do código.
Esta escola surge ,assim, através de fatores como: a necessidade de uma metodologia
específica, ao aparecimento de uma multiplicidade de princípios(princípio da
autoridade;princípio da separação dos poderes; princípio da certeza do direito),as
reformas feitas nas universidades por Napoleão (as faculdades de direito são
substituídas por escolas centrais, onde se estudavam códigos), fatores estes fruto de
uma racionalidade proveniente do jusnaturalimo moderno iluminista, a um legalismo
demoliberal onde se reduz todo o direito as leis e a própria codificação pós-
revolucionaria onde o código é eleito como marca final do direito.
No entanto só no século XIX é que se começou a designar por escola da exegese,
expressão que só aparece 100 anos depois, esta escola viria a ser ultrapassada por
François Geny que criticou ferozmente “o método tradicional da interpretação”.
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Em suma:
Temos aqui três postulados: o texto da lei; o afastamento da história e todo o direito
esta no código civil
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