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Nº 16 – NOV. 2008 VOL.

6 ISSN 1645-5576

CÁLCULO DE ARMADURAS
LONGITUDINAIS DE VIGAS
RECTANGULARES DE BETÃO
ARMADO SUJEITAS A FLEXÃO
SIMPLES PLANA DE ACORDO COM O
EUROCÓDIGO 2

E. JÚLIO
Professor Auxiliar
DEC FCTUC
Coimbra

SUMÁRIO

Neste artigo apresentam-se expressões de cálculo de vigas de betão armado de secção rectangular sujeitas a
flexão plana, seguindo a metodologia proposta em 1985 por D’Arga e Lima et al. mas introduzindo as
actualizações necessárias para ter em conta as 14 classes de resistência de betão e as diferenças na curva
parábola-rectângulo consideradas no Eurocódigo 2 (Abril 2004) face ao REBAP

ABSTRACT (Sumário em Inglês)

In this paper are presented design expressions for reinforced concrete beams with rectangular cross-section
subjected to pure bending, following the methodology proposed in 1985 by D’Arga e Lima et al. but
introducing the necessary improvements to take into account the 14 strength classes of concrete and the
differences in the parabola-rectangle curve considered in Eurocode 2 (April 2004) relatively to REBAP.

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Cálculo de armaduras longitudinais de vigas rectangulares de betão armado sujeitas a flexão simples plana
de acordo com o Eurocódigo2

1. INTRODUÇÃO

Em 1985 D’Arga e Lima et al. publicaram um documento [1] de extrema importância para os projectistas de
estruturas, no qual são fornecidos, na forma de tabelas/ábacos e de fórmulas simplificadas, meios de
dimensionamento de armaduras para Estado Limite Último (ELU) de elementos de betão armado sujeitos a
flexão, simples e composta, plana e desviada. Os valores e as expressões apresentados são baseados nos
critérios de dimensionamento constantes no Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado
(REBAP) [2] de 1983, ainda em vigor, e para as classes de betões e tipos de aço aí definidos.

Tendo em consideração a iminente substituição dos regulamentos nacionais de dimensionamento de


estruturas pelos eurocódigos, que se prevê ter lugar até 2010, e atendendo às diferenças significativas entre
estes, torna-se necessário proceder a actualizações dos meios de cálculo desenvolvidos com base nos
primeiros. A substituição do REBAP pelo Eurocódigo 2 (EC 2) [3] implica reformulações profundas para
atender a algumas diferenças fundamentais nos pressupostos de cálculo referindo-se, seguidamente, as mais
relevantes relativas aos materiais.

Como resultado do desenvolvimento registado na formulação de betões nos últimos anos, as 9 classes de
resistência consideradas no REBAP deram lugar a 14 no EC 2, passando o máximo valor característico da
resistência à compressão de 50 MPa para 90 MPa. Como os betões de elevada resistência exibem relações
tensão-extensão diferentes das dos betões correntes, no EC 2, embora sendo apresentado um diagrama
parábola-rectângulo semelhante ao do REBAP, é de referir a diferença nos valores da extensão última e da
extensão de transição do troço parabólico para o rectangular. De salientar ainda o facto do EC 2 não afectar
do coeficiente 0,85 o valor de cálculo da tensão de rotura do betão, fcd, ao contrário do REBAP, onde esta
correcção é definida para ter em conta o efeito de diminuição da capacidade resistente sob carga constante.
No que respeita ao aço, em ambos os regulamentos são considerados 3 tipos, embora no caso do REBAP os
valores característicos da tensão de cedência sejam 235, 400 e 500 MPa e, no caso do EC 2, sejam 400, 500 e
600 MPa. De salientar ainda uma diferença fundamental na extensão última que, no primeiro caso, é de 10 ‰
e que, no segundo, admitindo um diagrama de cálculo elástico-perfeitamente plástico, não tem limite, o que
implica que a rotura seja sempre pelo betão.

Com o presente artigo, reconhecendo a utilidade da publicação do LNEC [1], pretende-se dar um contributo
para a sua actualização, nomeadamente definindo os valores limite de α, µ e ω acima dos quais a rotura é
frágil ou a partir dos quais é mais racional armar duplamente uma secção rectangular de betão armado sujeita
a flexão simples plana, de acordo com o EC 2. Apresentam-se ainda expressões de cálculo das armaduras de
tracção e de compressão, em função dos valores limite anteriormente referidos ou de valores limite definidos
pelo projectista, constituindo deste modo um meio de cálculo mais flexível do que as “fórmulas
simplificadas” apresentadas em [1], com a vantagem acrescida dos resultados serem mais rigorosos.

2. DIAGRAMAS PARÁBOLA-RECTÂNGULO DO EC 2

Apresentam-se os diagramas parábola-rectângulo definidos no EC 2 para as 14 classes de resistência de


betões de densidade normal. De referir ainda que são considerados, na Secção 11 do EC 2, betões de
densidades reduzidas (desde 1,0 até 2,0), sendo necessário, nestes casos, corrigir os correspondentes
diagramas de cálculo. No presente artigo não são incluídos estes betões, remetendo-se para [4] os leitores
interessados no seu estudo.

O diagrama parábola-rectângulo, apresentado no EC 2 para dimensionamento de secções de betão armado


para ELU, é definido pelas seguintes expressões:

  ε c  
n
σ c = f cd 1 − 1 − 
  ε c 2  
  para 0 ≤ ε c ≤ ε c 2 (1)

σ c = f cd para ε c 2 ≤ ε c ≤ ε cu 2 (2)

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de acordo com o Eurocódigo2

No Quadro 1 indicam-se os valores característico e de dimensionamento da tensão de rotura à compressão do


betão, assim como os valores da extensão de transição do troço parabólico para o rectangular, c2, da
extensão última, cu2, e do expoente, n, necessários à definição do diagrama parábola-rectângulo, para cada
uma das classes de resistência consideradas no EC 2, os quais são representados na Figura 1.

Quadro 1 – Parâmetros da expressão do diagrama parábola-rectângulo do EC 2

Classes 12/15 a 50/60 55/67 60/75 70/85 80/95 90/105


fck(MPa) 12~50 55 60 70 80 90
fcd(MPa) 8,0~33,3 36,7 40,0 46,7 53,3 60,0
εc2(‰) 2,0 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6
εcu2(‰) 3,5 3,1 2,9 2,7 2,6 2,6
n 2 1,75 1,6 1,45 1,4 1,4

A partir da expressão do diagrama parábola-rectângulo do EC 2 podem deduzir-se as correspondentes


expressões da resultante das tensões, Fc, soma das resultantes dos troços rectangular (Fc1) e parabólico (Fc2),
e respectiva posição da sua linha de acção. Para secções rectangulares, de largura b, sujeitas a flexão plana,
assumindo a posição do eixo neutro a uma distância x da fibra mais comprimida, tem-se:

ε cu 2 − ε c 2
Fc1 = f cd ⋅ ⋅b⋅ x
ε cu 2 (3)

n ε
Fc 2 = f cd ⋅ ⋅ c2 ⋅ b ⋅ x
n + 1 ε cu 2
(4)
 1 ε c2 
Fc = Fc1 + Fc 2 = f cd ⋅ 1 − ⋅  ⋅ b ⋅ x
 n + 1 ε cu 2  (5)

C12/15 C50/60
0,35%
ε C55/67
0,30% C60/75
C70/85
C80/95 C90/105
0,25%

0,20%

0,15%

0,10%

0,05%

0,00%
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
σ (MPa
( )

Figura 1 – Diagramas parábola-rectângulo do EC 2

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de acordo com o Eurocódigo2

As extensões ao nível das linhas de acção das resultantes Fc1 e Fc2 são, respectivamente:

ε c 2 + ε cu 2
ε G1 =
2 (6)

n+3
εG2 = ε c2
2n + 4 (7)

Sendo c a distância da linha de acção da resultante à fibra mais comprimida, vem:

x x
Fc1 ⋅ ε G1 ⋅ + Fc 2 ⋅ ε G 2 ⋅
ε cu 2 ε cu 2
x−c =
Fc1 + Fc 2
(8)

Substituindo (3), (4), (6) e (7) em (8) obtém-se:

 1 1  ε c 2  
2
 −  
 2 (n + 1)(n + 2)  ε cu 2  
c = 1 − x
 1  ε c2  
 1− 
 
 
n + 1  ε cu 2 
  (9)

As expressões (5) e (9) podem ser reescritas da seguinte forma:

Fc = f cd ⋅ k1 ⋅ b ⋅ x
(10)

c = k2 ⋅ x
(11)

apresentando-se, no Quadro 2, os valores dos coeficientes k1 e k2, para cada uma das classes de resistência
consideradas no EC 2.

Quadro 2 – Coeficientes para determinação da resultante do diagrama parábola-rectângulo do EC 2

Classe ≤ 50/60 55/67 60/75 70/85 80/95 90/105


k1 0,810 0,742 0,695 0,637 0,599 0,583
k2 0,416 0,392 0,377 0,362 0,355 0,353

3. VALORES ADIMENSIONAIS DA ÁREA DE ARMADURA E DO MOMENTO RESISTENTE

É habitual utilizar valores adimensionais da área da armadura longitudinal de flexão, As, e do momento
resistente, MRd, de uma secção transversal de betão armado, os quais se designam por, respectivamente,
percentagem mecânica de armadura, ω, e momento resistente reduzido, µ, podendo ser determinados através
das seguintes expressões:

As f yd
ω=
bdf cd
(12)

M Rd
µ=
bd 2 f cd
(13)

Em flexão simples plana, para secções simplesmente armadas, a resultante de tracção na armadura iguala a
resultante de compressão no betão pelo que o numerador de (12) pode ser substituído pela expressão (10).

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de acordo com o Eurocódigo2

Sendo ainda α a relação entre a posição do eixo neutro, x, e a altura útil da secção, d, tem-se:

ω = k1 ⋅ α (14)

O momento resistente pode ser definido, neste caso, como o binário constituído pelas resultantes de tracção
na armadura e de compressão no betão. Substituindo o numerador de (13) pelo produto da resultante de
compressão no betão, dada por (10), pelo braço do binário, dado pela diferença entre a altura útil da secção,
d, e a distância da linha de acção da resultante de compressão no betão à fibra mais comprimida, c, dada por
(11), tem-se:

µ = k1 ⋅ α ⋅ (1 − k 2 ⋅ α ) (15)

4. VALORES LIMITE PARA ARMAR SIMPLESMENTE SECÇÕES RECTANGULARES

Uma das situações limite, consideradas em [1], é a fronteira entre rotura frágil e rotura dúctil, ou seja,
consiste em admitir um diagrama de extensões na secção em que a fibra mais comprimida de betão apresenta
a extensão última e a armadura de tracção assume a extensão de cedência, sendo:

ε cu 2
α lim =
ε cu 2 + ε yd
(16)

Introduzindo (16) em (14) e (15) obtêm-se as correspondentes expressões de cálculo dos valores limite da
percentagem mecânica de armadura e de momento resistente reduzido, respectivamente:

ε cu 2
ωlim = k1 ⋅
ε cu 2 + ε yd
(17)

ε cu 2  ε cu 2 
µlim = k1 ⋅ ⋅ 1 − k 2 ⋅ 
ε cu 2 + ε yd  ε cu 2 + ε yd

  (18)

apresentando-se, no Quadro 3, os valores para cada classe de resistência de betão e tipo de aço.

Quadro 3 – Valores de αlim, ωlim e de µlim entre rotura frágil e dúctil

Classes ≤ 50/60 55/67 60/75 70/85 80/95 90/105


αlim 0,668 0,641 0,625 0,608 0,599 0,599
αlim 0,541 0,475 0,434 0,388 0,359 0,350
S400

αlim 0,391 0,356 0,332 0,302 0,283 0,276


αlim 0,617 0,588 0,572 0,554 0,545 0,545
αlim 0,499 0,436 0,397 0,353 0,326 0,318
S500

αlim 0,371 0,336 0,312 0,282 0,263 0,257


αlim 0,573 0,543 0,526 0,509 0,499 0,499
αlim 0,464 0,403 0,366 0,324 0,299 0,291
S600

αlim 0,353 0,317 0,293 0,264 0,246 0,240

Outra situação limite, igualmente considerada em [1], representa a fronteira a partir da qual é mais racional
armar duplamente a secção. Para uma secção simplesmente armada, tem-se:

M Rd = As ⋅ f yd ⋅ (d − c )
(19)

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Derivando esta expressão em ordem a As, pode determinar-se o incremento de momento resistente com o
aumento de armadura de tracção:

dM Rd d
dAs
=
dAs
[
As ⋅ f yd ⋅ (d − c ) ]
(20)

Substituindo na expressão anterior c pelo valor dado por (11), tem-se:


dM Rd d
dAs
=
dAs
[
As ⋅ f yd ⋅ (d − k 2 x ) ]
(21)

Atendendo a que:

Fs = As ⋅ f yd = f cd ⋅ k1 ⋅ b ⋅ x = Fc
(22)

a expressão (21) pode ser reescrita na seguinte forma:

dM Rd d   As ⋅ f yd 
=  As ⋅ f yd ⋅  d − k 2 ⋅ 
dAs dAs   f cd ⋅ k1 ⋅ b 
(23)

vindo:

dM Rd  As ⋅ f yd 
= f yd ⋅ d − 2 ⋅ k 2 ⋅  = f yd ⋅ [d − 2 ⋅ k 2 ⋅ x ]
dAs  f cd ⋅ k1 ⋅ b 
(24)

Se o aumento de armadura for distribuído igualmente pelas faces traccionada e comprimida da secção, tem-
se que:

∆As
∆M Rd = ⋅ f yd ⋅ (d − a )
2 (25)

sendo a a distância da fibra mais comprimida da secção ao centro de gravidade da armadura de compressão.
A partir de (25) pode definir-se:

dM Rd 1
= ⋅ f yd ⋅ (d − a )
dAs 2
(26)

Para que seja mais racional armar duplamente a secção, terá de se verificar a seguinte inequação, obtida de
(24) e (26):

1
f yd ⋅ [d − 2 ⋅ k 2 ⋅ x ] < ⋅ f yd ⋅ (d − a )
2 (27)
De onde vem que:

1  a
α lim = 1 + 
4 ⋅ k2  d 
(28)

Substituindo (28) em (14) e (15) vem, respectivamente:

k1  a
ωlim = 1 + 
4 ⋅ k2  d 
(29)

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k1  a  1 a 
µlim = 1 +  ⋅ 1 − 1 +  
4 ⋅ k2  d  4 d 
(30)

apresentando-se, no Quadro 4, os valores para cada classe de resistência de betão e três relações a/d:

Quadro 4 – Valores de de αlim, ωlim e de µlim função da eficácia do posicionamento dos varões

a/d Classes ≤ 50/60 55/67 60/75 70/85 80/95 90/105


αlim 0,631 0,670 0,696 0,725 0,740 0,744
0,05 ωlim 0,511 0,497 0,484 0,462 0,443 0,434
µlim 0,377 0,366 0,357 0,341 0,327 0,320
αlim 0,661 0,702 0,729 0,760 0,775 0,779
0,10 ωlim 0,535 0,521 0,507 0,484 0,465 0,455
µlim 0,388 0,377 0,367 0,351 0,337 0,330
αlim 0,691 0,734 0,762 0,794 0,810 0,815
0,15 ωlim 0,560 0,544 0,530 0,506 0,486 0,475
µlim 0,399 0,388 0,377 0,361 0,346 0,339

Comparando os valores do Quadro 3 com os do Quadro 4, verifica-se que: (a) para betões de classe superior
a C50/60, a condicionante é sempre o limite entre rotura frágil e dúctil (Quadro 3); (b) para betões de classe
inferior ou igual a C50/60 e aços S500 ou S600, a condicionante é a mesma (Quadro 3); (c) para betões de
classe inferior a C50/60 e aço S400, a condicionante ainda é a mesma (Quadro 3), para a/d=0,15, passando a
ser a eficácia do posicionamento das armaduras (Quadro 4), para a/d=0,10 e a/d=0,05.

5. EXPRESSÕES DE CÁLCULO DE ARMADURAS PARA SECÇÕES RECTANGULARES

É útil, em várias situações práticas, poder determinar-se de forma expedita, ainda que aproximada, a área de
armadura de tracção e de compressão, sem ter que recorrer a cálculo automático ou a tabelas/ábacos. Por este
motivo, são apresentadas em [1] “fórmulas simplificadas”.

Sendo
µ ≤ µ lim , a secção será simplesmente armada. Substituindo (14) em (15) vem:

 k2 
µ = ω ⋅ 1 − ω
 k1 
(31)

podendo obter-se a expressão de cálculo da percentagem mecânica de armadura:

k1    
12
k
ω= ⋅ 1 − 1 − 4 ⋅ 2 ⋅ µ  
2k 2   k1  
 (32)
Se
µ > µ lim , a secção será duplamente armada. Admitindo que o acréscimo de momento reduzido, µ − µ lim ,
é conseguido através da colocação de uma armadura de compressão e de um acréscimo de igual valor de
armadura de tracção, mantendo-se a posição do eixo neutro inalterada relativamente à situação limite
considerada, da expressão (25) pode obter-se:

As′  a
µ − µ lim = 2
⋅ f yd ⋅ (d − a ) = ω ′ ⋅ 1 − 
b ⋅ d ⋅ f cd  d  (33)

de onde se obtém a expressão de cálculo da percentagem mecânica de armadura de compressão:

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µ − µ lim
ω′ =
a
1−
d (34)

sendo a percentagem mecânica de armadura de tracção dada por:

ω = ωlim + ω ′ (35)

De notar que as expressões de cálculo da percentagem mecânica de armadura propostas, (32), (34) e (35),
além de actualizadas de acordo com o EC 2, apresentam algumas vantagens relativamente às “fórmulas
simplificadas” de [1], nomeadamente: a expressão (32), para o caso de secções simplesmente armadas, é
exacta; e as expressões (34) e (35), para secções duplamente armadas, permitem ao projectista utilizar os
valores limite, dados nos Quadros 3 e 4, ou, em alternativa, utilizar valores limite definidos pelo próprio.
Exemplificando, o projectista pode entender considerar, em lugar do valor dado por (16), o limite:

ε cu 2
α lim =
ε cu 2 + m ⋅ ε yd
(36)

sendo m um real superior ou igual a 1. Neste caso, substituindo (36) em (17) e (18), tem-se:

ε cu 2
ωlim = k1 ⋅
ε cu 2 + m ⋅ ε yd
(37)

ε cu 2  ε cu 2 
µlim = k1 ⋅ ⋅ 1 − k 2 ⋅ 
ε cu 2 + m ⋅ ε yd  ε cu 2 + m ⋅ ε yd 
  (38)

Assim, caso o momento reduzido actuante seja superior ao valor dado por (38), é igualmente possível utilizar
as expressões (34) e (35) para determinar as armaduras de tracção e de compressão, tendo o diagrama de
extensões na rotura sido definido pelo projectista, em função da ductilidade pretendida.

6. CONCLUSÕES

As alterações introduzidas pelo EC 2, relativamente ao REBAP, tornam obsoletos documentos de enorme


importância para os projectistas de estruturas de betão armado, a menos que seja feito um esforço de
actualização e melhoramento destes. Com o presente artigo, pretende-se dar um singelo contributo no que
respeita ao dimensionamento de vigas de secção rectangular sujeitas a flexão plana simples, matéria
abordada em [1].

Com a consideração de 14 classes de resistência de betão, o número de situações a considerar para a


definição de valores limite para armar simples ou duplamente o tipo de vigas anteriormente referido, de
acordo com o EC 2, aumentou substancialmente, relativamente ao REBAP. Além disso, com as diferentes
curvas parábola-rectângulo, os valores fornecidos em [1] deixam de ser aplicáveis. Nos Quadros 3 e 4
apresentam-se os valores actualizados.

Tendo em conta o facto de, actualmente, serem grandes as potencialidades das calculadoras de bolso,
considerou-se justificável apresentar a expressão exacta de cálculo da percentagem mecânica de armadura,
em lugar de uma fórmula simplificada, para o caso de secções simplesmente armadas: expressão (32). Para o
caso de secções duplamente armadas, considerou-se mais interessante apresentar as expressões de cálculo da
percentagem mecânica das armaduras de tracção e de compressão, (34) e (35), em função dos valores limite,
podendo ser usados os valores tabelados nos Quadros 3 e 4 ou utilizados valores limite definidos pelo
projectista.

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7. REFERÊNCIAS

[1] D’ARGA E LIMA, J., MONTEIRO, V., MUN, M., Betão Armado. Esforços Normais e de Flexão
(REBAP – 83), Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, 1985.
[2] REBAP – Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado, Dec.-Lei N.º 349-C/83
de 30 de Julho, 1983.
[3] EN 1992-1-1, Eurocódigo 2: Projecto de Estruturas de Betão. Parte 1-1: Regras gerais e regras para
edifícios, CEN, Abril 2004 (versão Portuguesa).
[4] LOURENÇO, J., JÚLIO, E., MARANHA, P., Betões de Agregados Leves. Guia para a sua
Utilização, APEB, 2004.

EDUARDO NUNO BRITO SANTOS JÚLIO


Professor no DEC FCTUC
Vice-Presidente do Conselho de Departamento
Vice-Presidente da Comissão Científica e Presidente da Coordenação do Mestrado em
“Reabilitação do Espaço Construído”
Coordenador do Grupo “Structural Concrete” do Institute for Sustainability and Innovation in
Structural Engineering (ISISE).
Director da revista “Construção Magazine”.
Especialista em “Estruturas” e vogal do Colégio de Engenharia Civil da Ordem dos
Engenheiros
Consultor em reabilitação e reforço estrutural
Autor de uma patente e de cento e quarenta publicações tecnico-científicas.

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