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BRASIL
contato.grupoprojetobrasil@gmail.com POPULAR
CADERNO DE DEBATES
1
CADERNO DE DEBATES
1
5 APRESENTAÇÃO
9 GT DE CIDADES
19 GT DE REFORMA TRIBUTÁRIA
27 GT DE SEGURANÇA PÚBLICA
51 GT DE SISTEMA DE COMUNICAÇÃO
54 O CAPITAL É A REDE
MARCOS DANTAS
5
APRESENTAÇÃO
QUEM SOMOS?
É importante destacar, no entanto, não ser de hoje que homens e mulheres deba-
tem um projeto de país. Entendemos que este é um debate permanente na vida dos
povos e estratégico para os setores populares, o qual, diante do desmonte da nação,
tornou-se urgente e dispõe de condições mais favoráveis a partir das necessidades
concretas que atualmente se apresentam.
O QUE QUEREMOS?
Não estamos partindo do zero. Diversos setores têm refletido ao longo da história
sobre propostas, estratégias e questões que apontam os problemas estruturais do
6 APRESENTAÇÃO
Brasil e indicado caminhos para a sua superação. O programa que estamos cons-
truindo deve expressar estes acúmulos e reflexões, além de buscar estimular o acú-
mulo de força social em torno desses esforços.
Acreditamos que a melhoria das condições objetivas de vida do povo brasileiro de-
pende do modelo de desenvolvimento econômico, político, cultural e ambiental
implantado, pois ele indicará como serão distribuídas as riquezas e a renda gerada
por toda a sociedade. E que as bases para a construção desse projeto popular para o
Brasil estão alicerçadas na construção de um Estado. Por isso definimos os seguintes
temas como nossos paradigmas que guiarão nossas reflexões:
Vida boa para todos/as: entender que a vida vale a pena ser vivida em
todas as suas dimensões e que por isso devemos orientar as formas de
produção dos bens, a reprodução social e os bens públicos para garantir
a qualidade de vida de todos/as. Nessa perspectiva, é preciso pensar o
ser humano em sua integralidade.
Bens comuns: prezar pela garantia e soberania dos bens compartilhados
pelas comunidades: natureza, ar, água, cultura e os espaços públicos.
Igualdade e diversidade: devemos superar as condições de opressão,
buscando engendrar novas relações sociais entre as pessoas.
Democracia, Participação e autonomia: devemos refletir sobre qual
o sentido público do Estado, retirando-o da condição de simples garan-
tidor de direitos, para estabelecer como prioridade prestar serviços de
qualidade ao povo. Devemos refletir também sobre como será exercido
o poder pelo povo e sobre como será autonomia desse Estado.
Soberania Nacional e Desenvolvimento: apontar um caminho para
o desenvolvimento no qual a apropriação da riqueza seja justa e onde
os compromissos sociais submetam a lógica da economia de merca-
do. Além de formular um projeto nacional que possibilite ao nosso país
crescer com soberania.
Esses paradigmas são referências gerais para o trabalho do grupo, e também para as
discussões temáticas devendo ser considerados mesmo para elaborações mais espe-
cíficas. Em processo cíclico de construção, os Grupos de Trabalhos Temático devem
ao mesmo tempo em que partem deles para construir propostas, enriquecê-los com
novas formulações.
7
APRESENTAÇÃO
Atualmente possuímos 30 grupos de trabalho temáticos (GTs) que possuem a tarefa prio-
ritária de refletir sobre os temas estratégicos para a formulação de um projeto de país. Esses
grupos de trabalho são constituídos por intelectuais comprometidos com o desenvolvi-
mento do país; militantes dos movimentos populares que trazem o acumulo de propostas
de cada movimento; trabalhadores com experiência na política pública com conhecimento
em diversas áreas. Os GTs debatem e formulam propostas para que obtenhamos uma
elaboração programática que possa posteriormente ser discutida pela sociedade, buscando
com isso agregar força social e apontar para as bases de um projeto de país.
Além dos GTs, foram estabelecidos Eixos Temáticos. A discussão em eixos objetiva
potencializar a transversalidade dos temas discutidos nos grupos e garantir que os
documentos produzidos por eles tenham visibilidade e unidade programática.
8 APRESENTAÇÃO
Não devemos ter a pretensão de dar solução para tudo, muito menos em nome de
todos e todas, mas buscaremos agir em torno de um esforço coletivo e intelectual,
para formular um projeto que sirva como referência para as lutas sociais e para o
pensamento crítico brasileiro.
Eixos Temáticos
Direitos
Cultura
Educação
Esporte
Cidades
Religião, Valores e Comportamento
Saúde Coletiva
Economia, Desenvolvimento e Distribuição de Renda
Agricultura Biodiversidade e Meio Ambiente
Demografia e Migrantes
Desenvolvimento Regional
Caatinga e Semiárido
Ciência, Tecnologia e Inovação
Economia
Energia e petróleo
Financeirização
Logística e Transporte
Mineração
Reforma tributária
Seguridade Social e Previdência
Trabalho, Emprego e Renda
Estado, Democracia e Soberania Popular
Democratização da Justiça e Direitos Humanos
Estado, Democracia, Participação Popular e Reforma Política
Federalismo e Administração Pública
Sistema de comunicação
Relações Internacionais, Integração Regional e Defesa
Segurança pública
Igualdade, Diversidade e Autonomia
Combate ao Racismo e Igualdade Racial
Juventude
LGBT
Mulheres
Povos Indígenas
GT DE
CIDADES
GT DE
10 CIDADES
Diversos autores concordam que o Brasil vive o fim de um ciclo. O país cresceu eco-
nomicamente a altas taxas (PIB de mais de 7% a.a), entre 1940 e 1980, quando o
país se industrializou e se urbanizou. Esse período foi seguido pelas chamadas déca-
das perdidas (1980 e 1990) marcadas pelo fim da ditadura (1964-85) e depois pelos
anos conhecidos pelo fenômeno do lulismo (Singer, 2012): crescimento econômico
com alguma distribuição de renda seguido de crise.
Faziam parte das lutas pela Reforma Urbana profissionais (arquitetos, engenheiros, as-
sistentes sociais, geógrafos, advogados), ONGs, sindicatos e movimentos sociais urba-
nos. Enquanto a eleição direta para presidente, governador e prefeitos das capitais era
proibida, os movimentos ligados à proposta de Reforma Urbana conquistaram prefei-
turas de municípios menores e passaram a desenvolver experiências de administração
pública inovadoras. Os bairros de moradia dos trabalhadores, antes ignorados pelas
GT DE
12 CIDADES
Outro programa importante que nasce dessas práticas é hoje denominado Assistên-
cia Técnica à Habitação de Interesse Social. Arquitetos e engenheiros projetando
moradias populares com participação social tem permitido a construção de mora-
dias de boa qualidade arquitetônica e construtiva com baixo custo. Esse programa,
que se consolidou na gestão de Luiza Erundina em São Paulo (quando a eleição
direta nas capitais já era admitida), inspirou a Lei federal de Assistência Técnica que,
como muitas outras, espera condições favoráveis a sua aplicação.
Muitos recursos foram dispendidos em mega obras para receber a Copa do Mundo
no Brasil. Depois foi a vez de o Rio de Janeiro ser preparado para as Olimpíadas,
seguindo uma gigantesca operação imobiliária – marcada pelo “urbanismo do espe-
táculo” – que expulsou para as periferias mais de 40.000 pessoas pobres (Faulhaber
e Azevedo, 2015; Vainer et al, 2016).
Sobra uma constatação: no período das vacas magras, quando haviam poucos recur-
sos para as políticas públicas havia espaço para a democracia direta nas definições
da política urbana. Quando os recursos apareceram, como parte de um projeto
GT DE
14 CIDADES
Um novo projeto para as cidades no Brasil deve ser antecedido da reflexão crítica
sobre a experiência recente aqui apenas esboçada.
Quais as causas do declínio do “ciclo virtuoso” da política urbana implementada
por prefeituras municipais a partir dos anos 80? Qual o peso da conjuntura interna-
cional nesse cenário? E da conjuntura nacional?
Porque os “Planos Diretores Participativos”, obrigatório nas cidades com mais de
20.000 habitantes, segundo o Estatuto da Cidade, não garantiu mudança significa-
tiva da desigualdade urbana?
Porque a Plataforma da Reforma Urbana, que tinha a questão fundiária como
central, foi derrotada, em que pese a conquista do arcabouço legal avançado?
Porque a ampliação dos espaços participativos institucionais foi acompanhada do
enfraquecimento da capacidade transformadora dos movimentos sociais?
Porque a “máquina do crescimento” (articulação entre capitais ligados à produ-
ção do espaço construído, mercado imobiliário, capitais financeiros e proprietários
fundiários) tomou o controle das cidades no período do lulismo quando muitas
políticas sociais foram implementadas?
Porque num período de políticas distributivas – aumento do salario mínimo,
bolsa família, luz para todos, Prouni, Fies, PAA, Pronaf, subsídios do PMCMV- as
condições de vida pioraram nas cidades (tempo de viagem/mobilidade, preço da
tarifa do transporte coletivo, epidemias de dengue, zika, chikungunya, aumento
estratosférico do preço dos imóveis, aumento exagerado da dispersão urbana, des-
governo metropolitano)?
Sobre a questão ambiental: o ciclo que se encerra não viveu a urgência de fatos
como o aquecimento do planeta, a crise hídrica, a ameaça dos agrotóxicos e trans-
gênicos. Novos paradigmas devem ser introduzidos em um projeto para as cidades
como: a diminuição da viagem dos alimentos; a agricultura urbana; a segurança
alimentar; a proteção das reservas hídricas; proteção efetiva de APPs – Áreas de
Preservação Permanente, APMs – Áreas de Preservação de Mananciais, mangues e
dunas; a proteção efetiva e despoluição de cursos de água; a despoluição do ar com
a priorização do transporte coletivo; a cidade de uso misto e compacta com garantia
de habitação social (esta é atingível apenas com o controle efetivo sobre o uso e a
ocupação do solo).Engajar o ensino fundamental na vida da cidade combatendo o
analfabetismo urbanístico e implementar a política de extensão universitária pode-
ria ser uma contribuição fundamental para combater a alienação e a representação
da classe dominante sobre as cidades.
Muitas das propostas do ciclo virtuoso da política urbana merecem retornar à cena: as-
sistência Técnica à HIS para reformas e novas moradias, urbanização de favelas e áreas
precárias, construção de CEUs e CIEPs, entre outras, mas em especial o controle dos
recursos públicos por meio do Orçamento Participativo merece ser replicado.
O grande tema da política urbana ainda é levar cidade à periferia, ou seja, colocar a
periferia no centro: urbanizá-la, saneá-la, regularizá-la, propiciar mobilidade e quebrar
com a escandalosa desigualdade e segregação que tem no preço do solo sua lógica.
COORDENAÇÃO:
ERMÍNIA
MARICATO E
KARINA LEITÃO
GT DE
16 CIDADES
GLOSSÁRIO
BR CIDADES - UM PROJETO PARA AS CIDADES DO BRASIL
SMART CITIES
ou Cidades Inteligentes se refere à aplicação dos instrumentos de Tecnologia
da Informação, especialmente aplicativos em celulares, na gestão, no funcio-
namento e no uso das cidades. Esses instrumentos podem efetivamente faci-
litar, baratear e desburocratizar a relação do cidadão com a cidade bem como
tornar sua gestão mais transparente mas também podem se prestar à histórica
dominação exercida, na periferia do capitalismo, por empresas que detém a
tecnologia e cobram por seu uso.
BOLHA IMOBILIÁRIA
Aumento rápido na produção e preço de imóveis durante um certo período
seguido de queda também rápida com impacto no preços de ações, imóveis
construídos, terrenos e aluguéis. Nas bolhas americanas e espanhola (2008),
caracterizadas por especulação financeira com papeis lastreados (inicialmente)
em imóveis, houve forte impacto também nas condições de moradia devido
aos despejos motivados pelo não pagamento de dívidas.
BOOM IMOBILIÁRIO
Aumento rápido na produção e preço dos imóveis durante certo período se-
guido de queda brusca. O aumento da produção é sempre, necessariamente,
garantido pela injeção de investimentos públicos ou privados para o financia-
mento. Em mercados imobiliários não regulados, acarreta o aumento do pre-
ço da terra e de imóveis podendo, ao invés de diminuir a carência de moradia,
aumentá-la. Há uma disputa entre capitais – de construção , de incorporação,
financeiro e proprietário da terra – pelos juros, lucros e rendas gerados nessa
produção e comercialização.
INTEGRAÇÃ O MODAL
Integração em rede das diferentes formas ou modos de viagem: a pé, de bi-
cicleta, de transporte coletivo (trilhos ou pneu) , de transporte motorizado
GT DE 17
CIDADES
REFERÊNCIAS
_________. Para entender a crise urbana. São Paulo: Expressão Popular, 2015.
Revista Exame. A maior alta de imóveis do mundo (por Giuliana Napolitano). Re-
vista Exame (online), jun. 2011.
1. QUESTÕES CENTRAIS
NO DEBATE SOBRE
A REFORMA TRIBUTÁRIA
Um dos principais mecanismos para a concentração de renda, riqueza e poder é
transferir o fardo dos impostos para os mais pobres e a classe média, como lembra
Noam Chomsky1. Trata-se de uma referência específica ao capitalismo em sua fase
financeira, pois nos chamados anos de ouro, a tributação exerceu um papel muito
mais amplo nos países desenvolvidos, constituindo o principal instrumento a sus-
tentar o Estado de bem-estar social e, juntamente com uma política de gastos bem
orientada, a realizar a redistribuição de renda, promover investimentos e alcançar o
pleno emprego.
Desde então, o foco da discussão sobre a reforma tributária tem sido, basicamente,
o tamanho da carga e a guerra fiscal: os empresários querem pagar ainda menos e os
entes federados dizem que não podem abrir mão de arrecadação. Contudo, poucos
discutem as verdadeiras deficiências e injustiças do sistema tributário que empur-
ram o ônus de financiamento do Estado para os ombros dos mais pobres, dos traba-
lhadores e da classe média assalariada, reforçando a concentração de renda e riqueza.
2. PRINCIPAIS DESAFIOS
À REALIZAÇÃO DA JUSTIÇA TRIBUTÁRIA
PROPOSTAS:
O Brasil é um dos países que menos tributam a herança. O imposto que grava os pa-
trimônios herdados é o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD)
de competência estadual. As maiores alíquotas praticadas no Brasil são de 8% e a
alíquota média cobrada pelos fiscos estaduais é de 3,86% sobre o valor herdado, pra-
ticamente um vigésimo da taxa praticada na França (60%), um décimo da vigente
3. A proporção restante encontra-se na Inglaterra e EUA (40%) e um terço da aplicada no Chile (13%).
em tributos de maior complexidade
com relação à sua classificação por
bases de incidência.
Por sua vez, a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas não saiu do
papel passados quase 30 anos da promulgação da Constituição Cidadã.
GT DE
GT DE
REFORMA
GTREFORMA
DE 23
TRIBUTÁRIA
TRIBUTÁRIA
CIDADES
PROPOSTAS:
No ano de 2015, quase 55% da arrecadação tributária nacional foi extraída da inci-
dência sobre o consumo das famílias. Como os mais pobres consomem tudo o que
ganham, sobre estes recai o maior peso dos tributos. Menos de 5% da arrecadação
nacional incidiu sobre o patrimônio, reflexo da resistência histórica dos grandes pro-
prietários em relação à tributação de seu patrimônio. E aproximadamente 29% do to-
tal arrecadado no país se originou da tributação da renda de pessoas físicas e jurídicas3.
PROPOSTAS:
A tributação do setor extrativo mineral também deve ser revista por conta do seu po-
tencial arrecadatório e devido às suas peculiaridades: são recursos naturais esgotáveis
que não beneficiarão as gerações futuras e geram efeitos ambientais e sociais negativos.
A participação do Estado na renda extrativa deve se dar não apenas pela tributação,
mas também pela cobrança de royalties e compensações financeiras em virtude do es-
gotamento do recurso. Estas últimas devem ser suficientes para a geração de novas
alternativas econômicas sustentáveis sem os recursos minerais. Nem a tributação, nem
as compensações financeiras servem para reparar danos ambientais ou sociais das ati-
vidades. Estes danos devem ser internalizados como custos nos projetos de exploração.
PROPOSTAS:
PROPOSTAS:
1. INTRODUÇÃO
Interessante reconhecer a utilização no campo da segurança pública do mesmo me- 3 BINDER, Alberto. Política de seguridad
y control de la criminalidad. Buenos
canismo já utilizado há séculos: o da ideia de “peste”. Explica Binder que “segundo Aires: Ad-Hoc, 2010, p. 12.
4 BINDER, Alberto. Política de seguridad
esse mecanismo a violência e a insegurança são um mal indeterminado, em sua …, cit., p. 45.
extensão, em suas formas e em suas causas, mas tangível e mortal. A peste gera me- 5 DIETER, Maurício Stegemann. Política
criminal atuarial: a criminologia do fim
canismos de defesa que (...) permitem dividir a sociedade em quatro categorias: os da história. Rio de Janeiro: Revan, 2013.
GT DE
SEGURANÇA
30 PÚBLICA
Registre-se que a fragilidade das políticas de segurança pública começa com a fra-
gilidade da análise do fenômeno da criminalização. Não são poucas as dificuldades,
quando não se verifica a total ausência, da produção de informação e da análise
de informação relacionadas às condutas etiquetadas de criminosas. Diversos são os
fatores que dificultam a formulação de políticas públicas sem a existência de dados
confiáveis, a começar pela aposta politica em substituir a produção de informações
relevantes sobre os conflitos e a violência verificados na sociedade brasileira por
compra de material bélico e medidas de força no combate de inimigos, estes tam-
bém produzidos por opção política.
(autoritário e ilusório) de ordem, razão pela qual deve ser combatida. Essa ideia de “or-
dem” tem fortes raízes históricas que acompanham o desenvolvimento do pensamento
ocidental (basta pensar na “ordem natural” presente no pensamento greco-romano, na
“ordem teológica” da Idade Média, na “ordem racional” da Ilustração ou na “ordem”
positivista que foi ter à nossa bandeira). Não se estranha, portanto, que para muitos a
política de segurança pública deva ser uma política de restabelecimento da ordem.
realização dos chamados direitos primários, tais como a vida, a integridade física, a
intimidade, a honra, a liberdade e, nas sociedades capitalistas, o patrimônio.
Pelo que se viu até agora, deveria resultar evidente que um “direito fundamental à segu-
rança” não pode ser outra coisa que o resultado de uma construção constitucional falsa
ou perversa. De fato, tal construção será supérflua, se significa a legítima demanda de
segurança de todos os direitos para todos os indivíduos (nesse caso, antes que de um direi-
to à segurança seria melhor falar em segurança dos direitos ou do “direito aos direitos”)
ou bem será ideológica, se implica a seleção de alguns direitos de grupos privilegiados e
uma prioridade de ação do aparato administrativo ou judicial em seu favor e, ao mesmo
tempo, limitações a direitos fundamentais reconhecidos na Constituição e nas Convenções
Internacionais.12
Ao lado das condutas criminalizadas em nome da proteção do patrimônio, a políti- 12 BARATTA, Alessandro. Seguridad.
In Criminologia y Sistema penal:
ca criminal das drogas etiquetadas de ilícitas (e sempre vale frisar o caráter arbitrá- compilacíon in memoria. Buenos Aires:
B de F, 2013, p. 200/202.
rio da distinção entre drogas lícitas e ilícitas) é um dos principais instrumentos de
13 DENNINGER, Erhard. Security,
controle das populações indesejadas dentro da lógica neoliberal. Impossível pensar diversity, solidarity instead of freedom,
equality, fraternity. In: Constelations.
a “segurança pública” no Brasil sem levar em consideração os danos à democracia Vol.: 7. No.: 4. Oxford: Blackwell, 2000,
p. 509. Segundo o autor, os valores de
produzidos pela política de drogas adotada. liberdade, igualdade e fraternidade
herdados da revolução francesa foram
suplantados pelos ideais de segurança,
diversidade e solidariedade.
Vale lembrar que o ideal de segurança erigiu-se como novo valor, em detrimento 14 ZAFFARONI, Eugenio Raúl.
da liberdade, como elenca Erhard Denninger13. Assim, ampliaram-se as demandas La legislacion de antidrogas
latinoamericana: sus componentes de
por ordem e por projeções ilimitadas do exercício de atividades estatais de viés autori- derecho penal autoritario. In.: Fascículos
de Ciências Penais. Volume: 3. Número:
tário14. Em nome da segurança os discursos repressivos se acirraram na fantasia de um 2. Porto Alegre: S.A. Fabris, 1990.
GT DE
SEGURANÇA
36 PÚBLICA
controle total incidente nas condutas do ser humano, como no uso e venda de
determinadas substâncias psicoativas, entre muitas outras.
nome (...) são pobres com suas obras criminais toscas; suas lambanças. (...)só que-
rendo vender um mato para os garotos ricos. (...) É o único emprego do garoto que
tem 14 anos”.23
A partir dos anos 80, o índice de homicídios por 100 mil habitantes no Brasil au-
mentou significativa e constantemente, de aproximadamente 11 (1980) para 29,1
(2014), conforme os dados apresentados no “Atlas da Violência” pelo IPEA, em
abril de 2016. Embora no período do primeiro governo Lula, entre 2003 e 2007,
a curva de homicídios tenha apresentado um decréscimo importante (de cerca de
28,5 para 25 homicídios por 100 mil habitantes), invertendo a tendência das dé-
cadas anteriores, “a partir de 2008 parece que se alcançou um novo patamar no
número de mortes, que tem evoluído de maneira bastante desigual nas unidades
federativas e microrregiões do país, atingindo crescentemente os moradores de ci-
dades menores no interior do país e no Nordeste, sendo as principais vítimas jovens
e negros” (IPEA, 2016:05). A idade, a cor da pele, a situação econômica, a escola-
ridade e o local de residência são indicadores que permitem mapear quem é morto
no Brasil: jovens, negros, pobres,com até sete anos de escolaridade e, ainda em sua
maioria, moradores das periferias das grandes cidades. O quadro ganha sua real e
preocupante dimensão se considerarmos que o Brasil concentra 10% dos homicí-
dios mundiais. (IPEA, 2016)
Grande parte dos registros oficiais dessas mortes decorrentes de ações da polícia apre-
sentam situações em que os agentes públicos invocam uma atuação lícita, amparada
pela descriminante da legítima defesa (autos de resistência). Inúmeras investigações
empíricas, porém, como a realizada pela Human Rights Watch, têm apontado que
existem “provas confiáveis de que muitas pessoas mortas nos supostos confrontos
com a polícia foram, em realidade, executadas por policiais” (HRW, 2009:03). No
Rio de Janeiro, estudo de 314 autos de resistência, no período compreendido entre
2003 e 2009, todos com pedido de arquivamento pelo Ministério Público, revela
fortes indícios do uso abusivo do instituto da legítima defesa, na maioria dos casos
contra evidentes provas produzidas na investigação preliminar41. É no mínimo
um indicativo de distorção o fato de 99,2% dos inquéritos instaurados por auto de
resistência, a partir de 2005, terem sido arquivados com o reconhecimento da legí-
tima defesa42. Por outro lado, a “desproporção de óbitos de policiais e de suspeitos
civis nesses confrontos tem deixado muitas suspeitas de que execuções sumárias
estejam sendo tratadas como autos de resistência.”43
outro lado, não terem enfrentado de forma direta o avanço gradual e constante do
punitivismo, representado sobretudo pelas altas taxas de letalidade policial e pelo
superlativo encarceramento, situação que projeta um modelo de direito penal má-
ximo. A partir das tipologias propostas por Ferrajoli, nota- se uma espécie de dese-
quilíbrio em relação às expectativas com o modelo de Estado, refletido exatamente
na questão penal.
Não se pode negar, contudo, algumas iniciativas que, em tese, poderiam ter impac-
tos positivos na reversão do quadro acima exposto. Nesse sentido, é importante re-
ferir que foi iniciativa do Poder Executivo, através da Secretaria de Assuntos Legisla-
tivos do Ministério da Justiça, a proposição e posterior aprovação da Lei 12.403/11,
que modificou o Código de Processo Penal e ampliou as possibilidades de substi-
tuição da prisão preventiva por medidas cautelares alternativas. Se lembrarmos que
a média nacional de presos provisórios é superior a 40%, a promulgação de uma
lei desta natureza permitiria reduzir os impactos negativos da agência carcerária no
tecido social. No entanto, assim como ocorreu com leis que, na década de 90, em
razão do incipiente mas expressivo aumento da população carcerária, instituíram
novos critérios e ampliaram os substitutivos penais (penas e medidas alternativas à
prisão), notadamente a Lei 9.099/95 e a Lei 9.714/98, o panorama seguiu inalte-
rado. Note-se que no primeiro ano de implementação da Lei 12.403/11 o número
de presos provisórios aumentou em 6,3% (DEPEN, 2013), não obstante, logica-
mente, o uso das medidas cautelares alternativas como fiança e monitoramento
eletrônico. A evidente resistência dos operadores do direito às medidas alternativas
ao encarceramento provisório e definitivo revela, igualmente, a falta de capacidade
do Poder Executivo em coordenar ações conjuntas com o Poder Judiciário e o Mi-
nistério Público, através dos seus órgãos de fiscalização e controle (CNJ e CNMP).
penal. Por este desiderato, necessário pugnar pela redução de sua incidência a um
mínimo necessário, restrita a um núcleo absolutamente essencial de condutas par-
ticularmente danosas.
Nós sabemos que substituir o direito penal por qualquer coisa melhor somente pode-
rá acontecer quando substituirmos a nossa sociedade por uma sociedade melhor, mas
não devemos perder de vista que uma política criminal alternativa e a luta ideológica
e cultural que a acompanha devem desenvolver-se com vistas à transição para uma
sociedade que não tenha necessidade do direito penal burguês, e devem realizar, no
entanto, na fase de transição, todas as conquistas possíveis para a reapropriação, por
parte da sociedade, de um poder alienado, para o desenvolvimento de formas alterna-
tivas de autogestão da sociedade, também no campo do controle do desvio.53
com a maximização dos substitutivos penais, das hipóteses de regime aberto, dos me-
canismos de diversão e de todas as indispensáveis mudanças humanistas do cárcere56.
Descriminalização
Descarcerização
6. ALGUMAS CONCLUSÕES
(a) Uma política pública de garantia dos direitos (segurança dos direitos em detri-
mento do ideológico “direito à segurança”) exige a primazia de instrumentos não-
violentos;
ção problemática que por si só tenha uma “natureza” que exija uma intervenção
violenta do Estado;
d) A seleção de uma situação problemática como uma daquelas que reclamam uma
intervenção violenta não pode ser rígida, ou seja, diante do caso concreto sem-
pre deve ser possível uma outra forma de intervenção que alcance o mesmo
resultado social com o menor uso da violência;
(j) Em termos gerais, uma estratégia racional para o controle do aumento das hi-
póteses de criminalização e de punibilidade seria a aprovação do projeto de Lei
de Responsabilidade Político-Criminal, apresentado à Câmara dos Deputados;
COORDENAÇÃO:
(k) A questão das drogas deve ser deslocada para o âmbito das políticas públicas de VERA MALAGUTI
saúde.
GT DE
SISTEMA DE
COMUNICAÇÃO
GT DE
SISTEMA DE
52 COMUNICAÇÃO
DIAGNÓSTICO GERAL
Essa produção, em geral, é bastante segmentada, e por vezes ganha um caráter téc-
nico, que dificulta uma apreensão pelos movimentos sociais e uma vinculação com
a construção de um Projeto para o Brasil.
Um dos desafios deste grupo de trabalho foi estabelecer seis eixos principais que
devem nos ajudar a aprofundar o debate ao longo dos próximos meses.
A. ECONOMIA
O setor de radiodifusão, o ramo editorial (jornais, revistas, livros), as empresas de te-
lecomunicações, os grupos de tecnologia e as agências de comunicação/publicidade se
constituíram em grandes grupos econômicos, organizando-se como oligopólios trans-
nacionais, com papel central no próprio processo de acumulação capitalista - para além
de sua importância como organizadores do debate político e econômico. As empresas
de Comunicação são parte do núcleo central e mais poderoso do capitalismo no Brasil.
B. TECNOLOGIA/INFRAESTRUTURA
A articulação das empresas de telecomunicação, com a generalização da internet e das
redes sociais, por meio do desenvolvimento de aparelhos cada vez menores e mais fun-
cionais, é o aspecto mais perceptível do monumental desenvolvimento tecnológico da
humanidade nos últimos 30 anos. O debate envolve ainda o alcance da TV digital e da
TV a cabo.
C. REGULAÇÃO DA RADIODIFUSÃO
O sistema de rádio e televisão no Brasil é marcado pela concentração em cinco redes
que têm mais de 80% da audiência. Essas concessões são públicas, mas se transforma-
ram na prática em propriedade privada, porque o processo de renovação é automático.
A revisão completa dessa concessões deve estar no cerne de um novo Projeto para o
Brasil.
D. PLURALISMO MIDIÁTICO
O problema mais visível do modelo de comunicação do Brasil é o que os movimen-
tos populares chamam de manipulação das informações por emissoras de TVs, rádios,
jornais e revistas, o que retrata a falta de pluralidade. A visão de mundo dos donos das
grandes empresas capitalistas monopoliza o debate na sociedade.
GT DE
SISTEMA DE 53
COMUNICAÇÃO
Nenhuma proposta para incidir nessa área conseguiu prosperar, sofrendo forte reação
dos proprietários e até mesmo da categoria dos jornalistas, que acusam qualquer medi-
da como censura. É preciso enfrentar esse debate
No Brasil, o sistema público engatinha e é bombardeado pelas mídia privada, que age
em parceria com parlamentares que são - muitas vezes - donos de retransmissoras dos
principais canais particulares de rádio e TV.
A última década foi marcada pela emergência de canais de comunicação não tradicio-
nais, ou seja, fora do controle de grandes empresas.
No começo dos anos 2000, houve um boom das rádios comunitários - atacadas pelo
aparato de Estado, mesmo sob governos considerados progressistas.
Além de estabelecer esses seis eixos básicos, que ainda demandam mais aprofunda-
mento, o GT de Comunicação acolheu as reflexões que se seguem. Trata-se de um im-
portante diagnóstico sobre o papel da Comunicação, no Brasil e no Mundo - fruto de
elaboração do professor Marcos Dantas, Professor Titular da Escola de Comunicação
da UFRJ.
GT DE
SISTEMA DE
54 COMUNICAÇÃO
O CAPITAL É A REDE
25 TESES SOBRE MEIOS DE COMUNICAÇÃO E CAPITALISMO
MARCOS DANTAS1
1 Professor Titular da Escola de A produção de conteúdos pode ser efetuada por um número infinito de produtores,
Comunicação da UFRJ. Autor de
A lógica do capital-informação: a ainda mais depois da expansão da internet, mas o grosso dessa produção, logo do
fragmentação dos monopólios e
a monopolização dos fragmentos consumo de conteúdos, está concentrado nas mãos de um punhado de produtores:
num mundo de comunicações
globais (Ed. Contraponto); estúdios de Hollywood; organizações que controlam os principais esportes como a
Trabalho com informação: valor,
acumulação, apropriação nas FIFA, a UEFA, o COI; produtoras de televisão generalista ou segmentada, como a
redes do capital (CFCH-UFRJ);
Comunicações, desenvolvimento, Globo, no Brasil, a BBC no Reino Unido, a Fox ou a Turner, nos Estados Unidos;
democracia: desafios brasileiros
num mundo de comunicações
plataformas “colaborativas” na internet, a exemplo do YouTube e Facebook; etc.
globais (Fundação Perseu
Abramo). URL: http://www.
marcosdantas.pro.br A programação, ou edição, é uma atividade concentrada em mãos de grandes orga-
nizações que, assim, decidem qual produção “merecerá”, ou não, cair no “gosto” do
público ou ser levada a ele. As instituições programadoras podem ser verticalizadas
(exemplo: emissoras de TV, como a Globo) ou não (exemplo: editoras de livro,
GT DE
SISTEMA DE 55
COMUNICAÇÃO
são segmentada nas últimas três décadas (canais exclusivos de filmes, de esportes,
de notícias, de variedades, infantis, femininos etc.) e avançou uma nova fase nesse
processo através do desenvolvimento da internet que quase individua a produção
e consumo de material audiovisual. Mas mesmo na internet, conforme já se pode
perceber claramente, apesar de uma oferta infinitamente diversificada de conteúdos,
os “sucessos” (medidos em milhões de visualizações e “curtidas”) acabam se concen-
trando naqueles que reproduzem as mesmas expectativas medíocres da vida prática
cotidiana (“Kéfera”, “Whinderson Nunes” etc.). O grande público quer isso.
Nenhum produto terá valor de troca se não tiver valor de uso (ou utilidade). Toda
cadeia de valor, assim, exprime uma sequência de valores de uso redutíveis a valores
de troca. Sendo didático: o algodão contém valor de uso para o industrial têxtil (que
o consumirá fabricando tecidos) e, daí, valor de troca para o fazendeiro de algodão
(que o produziu para venda). O tecido possui valor de uso para o fabricante de rou-
pas e valor de troca para o industrial têxtil. A roupa possui valor de uso para o seu
consumidor final e valor de troca para o fabricante de roupas. Do mesmo modo, os
conteúdos audiovisuais, formas materiais do espetáculo, contêm valor de uso para
seus diversos segmentos de audiência (na forma de emoções, desejos, sentimentos,
identidades etc.) e só por isso podem conter valor de troca para seus produtores
mediáticos. Este valor de troca é pago i) diretamente, caso o acesso ao produto
exija contrato de assinatura ou outra forma de venda; ii) indiretamente através de
trabalho gratuito, isto é, tempo de atenção dedicado ao consumo de algum conteúdo,
tempo este remunerado ao produtor, mas não ao espectador, na forma de veiculação
publicitária.
Os demais grupos de “mídia” brasileiros já o são e tendem a se tornar cada vez mais
marginais, não apenas economicamente, mas na própria construção de algum ideá-
rio subjetivo nacional ou regional, entendido como parte integrante do capitalismo
mundializado do espetáculo. Ou seja, o mercado brasileiro tende a ser ocupado pela
Time-Warner, News Corp./Fox, Disney, processo aliás que já pode ser claramente
identificado na produção e transmissão de competições futebolísticas brasileiras. O
jornalismo impresso, reduto dos grupos Abril, Estado, Folhas e de empresas menores
provinciais, pode seguir se sustentando num público leitor de classe média, mas
explorando cada vez mais as plataformas digitais de divulgação, em dura concor-
rência com as novas “tendências” de busca de informação através das “redes sociais”
e “bolhas” construídas no interior dos “jardins murados” do Facebook, Google,
YouTube etc. Grupos de televisão como SBT e Bandeirantes, que não souberam se
consolidar como produtores e programadores de “qualidade” internacional, talvez
sobrevivam dirigindo-se a audiências popularescas, nas franjas do principal mercado
anunciante espetacularizado. O Grupo Record estaria na mesma situação mas conta
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COMUNICAÇÃO
grupos identitários (culturais, étnicos, lingüísticos, religiosos etc.), grupos estes sem
poder (e, muito provavelmente, também sem interesse) de comunicação para além
deles mesmos. Reforçam a fragmentação social diante do poder totalizante do ca-
pital. Todos, aliás, utilizam-se das mesmas redes de infra-estrutura controladas pelo
oligopólio de corporações mediático-financeiras.
No Brasil essa construção está bastante atrasada, embora a agenda do debate seja
também basicamente liberal. O capital periférico vem forçando mudanças regulató-
rias na medida da disputa e poder de pressão dos diversos blocos capitalistas. Assim,
foram privatizadas as telecomunicações com a entrega dos mercados mais rentáveis
para o capital estrangeiro e buscando não afetar o ainda politicamente poderoso
campo da radiodifusão aberta. Também veio sendo regulamentada a televisão por
assinatura (Lei do Cabo em 1995 e Lei do SeAC em 2011), à margem da radiodi-
fusão aberta (ao contrário do que aconteceu na Europa), atendendo em parte aos
interesses do Grupo Globo e servindo à entrada, no mercado brasileiro, das maiores
corporações mediáticas estadunidenses (Time-Warner, Disney, News Corp./Fox).
Na internet, o Brasil dotou-se de uma lei de proteção dos direitos civis (liberdade de
expressão, privacidade etc.), denominada “Marco Civil da Internet” (MCI). Esta lei
rejeita o princípio do “notice and take down” mas não é respeitada pelas plataformas
estadunidenses (Facebook, YouTube) que alegam não estarem obrigadas a respeitar
outra legislação que não seja a dos Estados Unidos. O MCI reflete, no Brasil, a
disputa capitalista entre o “novo capital” informacional-digital (Google, Facebook
etc.) e o “velho capital” das operadoras de rede que controlam a infra-estrutura de
telecomunicações, disputa esta expressa no debate sobre a “neutralidade de rede”.
Essa disputa será resolvida, tanto no Brasil quanto nos principais centros capita-
listas, na medida em que se definam repactuações no interior do próprio capital
mediático-financeiro.
Não estando posto, na atual conjuntura política e cultural, algum projeto sério de
crítica radical ao capital, poder-se-ia buscar construir, ao menos, um programa de
regulação das comunicações que forçasse em seus próprios limites o programa libe-
ral. Este programa poderia girar em torno de alguns tópicos:
CADERNO DE DEBATES
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