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Quando Iara foi internada a força na clínica, a mando de seus pais, seu mundo caiu.

Seus pais
desistiram de forçá-la a ir para a igreja, e agora ela era só mais uma paciente na maldita clínica
evangélica no interior do país.
Em uma das muitas noites mal dormidas devido os lamentos da paciente ao lado (até onde ela
sabia, uma lésbica sendo “curada”), Iara sentiu que alguém a estava observando. Quem quer que fosse
porém, teria que estar invisível. Suspeitando que fosse um espírito, a garota disse:
- Ei, eu não posso te ver, mas sei que está ai! - sua voz era corajosa, considerando a situação.
De repente, ocorreu o evento que mudaria para sempre a vida de Iara: Exatamente para o canto
da cela em que ela olhava, surgiu – não, sempre houve, um homem a observando. Ele usava terno e
gravata, mas seu cabelo era bagunçado e comprido. A pele pálida chamava atenção. As presas
pontiagudas chamaram ainda mais.
- Normalmente só um membro da Família consegue me perceber quando não quero – O homem falava
em um tom controlado - Diga-me bela dama, qual o seu nome?
- Iara, Monteiro – disse a garota, enquanto levantava e olhava o homem nos olhos. Não havia muito
para ela perder nessa situação, logo nada a temer.
O Homem levantou uma sobrancelha.
- Você tem alguma ideia do porquê estou aqui? - ele disse com o tom ainda neutro.
- Você vai me matar e beber meu sangue não?
O homem deu uma breve risada.
- Não minha querida, nós bebemos primeiro, a morte é apenas a consequência da sede. Mas você está
certa: Vais morrer esta noite—O vampiro sorria simpaticamente—Porém estou curioso. Por favor, me
diga como descobriu que eu estava aqui?
Iara retribuiu o sorriso.
- Eu te digo, se puder garantir que vou sair daqui com vida.
O sorriso desapareceu do rosto do homem. Ele agora andava pensativo pela cela, de um lado
para o outro. A garota o havia deixado em um impasse e tanto.
Iara não tirou os olhos do vampiro por um instante sequer. Apesar de ousada, queria sair da
situação com vida, e temia que ele a atacasse se desviasse o olhar. Quando ele parou, ela pode perceber
um suspiro.
- Infelizmente, sua vida não é negociável – O homem olhava inexpressivamente para uma parede - Para
proteger a mim mesmo, terei de tomá-la esta noite – sua voz agora assumia um tom bastante sério –
Porém posso lhe oferecer algo a mais. Que você se torne uma criatura da noite como eu. Mas só se
você me falar, imediatamente, a verdade sobre como me percebeu, e eu me interessar o bastante – ele
voltou a olhar nos olhos de Iara – saberei se estiver mentindo.
Iara falou sobre ter sentido a presença do vampiro, de forma que nunca poderia explicar
totalmente. Falou também que sempre teve esse sexto sentido, e desde criança via coisas que os outros
pareciam ignorar, e sobre como ninguém era capaz de surpreendê-la com um susto. Não era exatamente
o que ela queria, mas a ideia de ser uma vampira livre superava a humana prisioneira no manicômio.
- Muito bem, eu gostei o bastante de sua história. Para uma mortal, você demonstra ser capaz de
enxergar bastante – O vampiro voltou a sorrir – Me pergunto o que acontecerá quando você tiver a
verdadeira visão.
A experiência de ter o sangue drenado foi muito mais doce que Iara podia imaginar. A
experiência do abraço em si, porém, muito mais dolorosa.
Seu senho a levou até a cela ao lado, a beira de um frenesi, e a deixou sozinha com a tal lésbica
lamentadora. Ela nunca mais lamentou coisa alguma.
Iara percebeu que se tornou um monstro neste momento.

A visão de Iara se expandiu muito com o abraço. Agora ela vê muitas coisas que nem podia
imaginar. Coisas que até mesmo seu senhor é incapaz de ver. Ela vê os padrões tecidos na grande teia
do destino diante de seus olhos, e descobriu como se mover através deles evitando grandes desastres.
Qualquer um que a conhecer por tempo o bastante diria que ela é obecessiva/compulsiva, mas os tolos
mal sabem que ela salva suas vidas e não-vidas todas as noites que não quebra seus padrões.
Suas habilidades de previsão são assustadoras, mesmo para os poucos membros que sabem dela.

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