Você está na página 1de 24

Filosofia

Material Teórico
Aspectos da Filosofia Moderna e Iluminismo

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Prof. Avelar Cezar Imamura

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Aspectos da Filosofia Moderna e
Iluminismo

• Introdução

• Contexto Histórico

• As características do pensamento moderno

• A Revolução Científica

• O racionalismo cartesiano

• O empirismo inglês

• O Iluminismo

• O criticismo Kantiano

· · Nessa unidade, vamos tratar do tema “Filosofia Moderna


e Iluminismo”.
·· O estudo da Filosofia Moderna e do Iluminismo vai propiciar
uma melhor compreensão do nascimento de um novo modo
de pensar e ver o mundo que ainda é em grande parte o nosso,
mas que é muito diferente do modo de pensar da Antiguidade
e da Idade Média. Temos muitos pontos em comum com
os pensadores modernos: o uso da razão; a valorização da
ciência e da técnica; a defesa da liberdade; a luta contra as
injustiças sociais e privilégios etc.

Esta unidade de estudo está organizada de forma a proporcionar o conhecimento sobre


a Filosofia Moderna e Iluminismo, seus principais pensadores, suas características, seus
conceitos, seus métodos e suas teorias.
Para que nossos objetivos possam ser alcançados é muito importante que vocês leiam e
analisem com atenção todo o material disponível e realizem todas as atividades propostas.
Sigam o caminho de nosso Ambiente Virtual de Aprendizagem, o Blackboard, para que
vocês tirem o máximo proveito destes materiais.
Leiam a Contextualização ou Problematização. Espero que ela deixe vocês curiosos e
motivados quanto à nossa disciplina.

5
Agora, leiam o Conteúdo Teórico. Ele é a base para suas reflexões, traz conceitos que
precisam ser aprendidos e questões que devem ser objetos de nossa reflexão.
Para auxiliar a aprendizagem, vejam e ouçam a Apresentação Narrada. É uma apresentação
em PowerPoint comentada pelo professor. Nela, está um resumo dos principais conceitos
trabalhados nesta unidade. Servirá de reforço para a leitura já realizada do texto completo.
Após estarem bem seguros do conteúdo, realizem a Atividade de Sistematização. São
questões de múltipla escolha referentes ao tema, com correção automática pelo sistema.
Vocês podem também participar dos Fóruns de DISCUSSÃO, que permitem um diálogo
com o tutor e com os colegas para sanar dúvidas, estabelecer uma discussão ou mesmo
dar sugestões.
Vocês encontrarão, também, além das Referências utilizadas para elaboração do material
didático, uma sugestão de Material Complementar que vem acrescentar novas informações.
Lembro ainda que é muito importante que vocês realizem todas as atividades propostas
dentro dos prazos estabelecidos, pois além de reforçar a aprendizagem, elas possuem
atribuição de pontos para compor a média final dessa disciplina. Evitem acumular o estudo
dos conteúdos e das atividades para não terem problemas no final do semestre.

6
Contextualização

O estudo da Filosofia Moderna e do Iluminismo vai propiciar uma melhor compreensão do


nascimento de um novo modo de pensar e ver o mundo que ainda é em grande parte o nosso,
mas que é muito diferente do modo de pensar da Antiguidade e da Idade Média.
Temos muitos pontos em comum com os pensadores modernos: o uso da razão; a valorização
da ciência e da técnica; a defesa da liberdade; a luta contra as injustiças sociais e privilégios, etc.

7
Unidade: Aspectos da Filosofia Moderna e Iluminismo

1. Introdução

O estudo da Filosofia Moderna e do Iluminismo vai propiciar uma melhor compreensão do


nascimento de um novo modo de pensar e ver o mundo que ainda é em grande parte o nosso,
mas que é muito diferente do modo de pensar da Antiguidade e da Idade Média. Temos muitos
pontos em comum com os pensadores modernos: o uso da razão; a valorização da ciência e da
técnica; a defesa da liberdade; a luta contra as injustiças sociais e privilégios etc.

2. Contexto Histórico

Com a desintegração do feudalismo na Europa a partir do século XII, começa a surgir um


novo sistema econômico e social: o capitalismo. E, também, uma nova classe social começa a
se desenvolver e a ganhar importância: a burguesia. Esse período histórico chama-se História
Moderna e vai do século XV ao século XVIII.

Ideias Chave

As principais características desse período são:

• Predomínio do capitalismo comercial, que vai comercializar especiarias do Oriente e também ser
responsável pela era das grandes “descobertas” marítimas.
• Centralização do poder do Estado nas mãos de um rei.
• Criação de um sistema colonial, principalmente na América.
• Desenvolvimento progressivo do trabalho assalariado.
• Diminuição da importância e poder da Igreja Católica e das ideias religiosas.
• Grande produção artística e intelectual não religiosa (MOTA, 1986).

É nesse contexto histórico que vai surgir e se desenvolver a filosofia moderna e o Iluminismo.

8
3. As características do pensamento moderno

Na Idade Média europeia, a religião Católica era base do pensamento, do conhecimento


e da legitimação do poder e da vida social. A fé e a revelação eram o fundamento do
pensamento religioso.
Com o Renascimento (séculos XV-XVI), o homem é posto no centro do universo, o que
coloca em questão o pensamento teocêntrico religioso anterior. Com o surgimento da Reforma
Protestante (século XVI), há um questionamento dos dogmas da Igreja Católica e também uma
quebra da unidade religiosa. Começa a nascer, então, o pensamento moderno. Ao critério
exclusivo da fé e da revelação, o indivíduo moderno opõe o poder da razão. Ao dogmatismo
religioso, ele opõe a possibilidade da dúvida (ARANHA; MARTINS, 2007). Surge, desse modo,
um pensamento crítico que questiona a autoridade religiosa.
Uma das características do pensamento moderno justamente é o racionalismo, só a razão
é capaz de levar ao conhecimento, e uma das suas principais preocupações é com o método. O
método sempre foi objeto de discussão dentro da filosofia, mas não com tamanha intensidade
como no século XVII (ARANHA; MARTINS, 2007).
O pensamento antigo e medieval partia da realidade inquestionável do objeto e da capacidade
humana de conhecer esse objeto. Na época moderna, o problema não é saber se uma coisa
existe ou não, mas se nós podemos conhecê-la (ARANHA; MARTINS, 2007). O pensador
moderno começa duvidando de tudo. É na descoberta da subjetividade (relativo ao sujeito)
que se move toda a epistemologia moderna (questões relativas ao conhecimento). O filósofo
passa a se preocupar mais com o sujeito que conhece do que com o objeto a ser conhecido.
Outra característica importante do pensamento moderno é o antropocentrismo (ARANHA;
MARTINS, 2007). No pensamento medieval, predomina o teocentrismo (Deus é o centro de
tudo), o homem moderno coloca a si mesmo como medida das coisas e de sua consciência.
Como contraponto à explicação religiosa do mundo, surge a laicização (visão não religiosa)
do pensamento, da moral e da política.

Informação

Observa-se, também, que há uma valorização do saber ativo em oposição ao saber


contemplativo dos pensadores antigos e medievais. O conhecimento não deve partir apenas
das teorias ou filosofias, mas da própria realidade observada e submetida a experimentações
(ARANHA; MARTINS, 2007). Esse conhecimento deve ser utilizado para transformar o mundo.
Dá-se a aliança da ciência com a técnica.

9
Unidade: Aspectos da Filosofia Moderna e Iluminismo

4. A Revolução Científica

Um dos elementos que vai causar um grande impacto e transformações na maneira de pensar
e no modo de ver o mundo foi a Revolução Científica do século XVII.
A Revolução Científica foi um movimento de ideias que compreende, mais ou menos,
o intervalo entre a publicação do livro Das revoluções dos corpos celestes (1543) de Nicolau
Copérnico até a obra de Isaac Newton, Princípios matemáticos de filosofia natural publicada pela
primeira vez em 1687 (REALE; ANTISERI, 2003). As características principais desse movimento
estão na obra de Galileu, no século XVII, e encontra os seus pressupostos filosóficos nas ideias
de Descartes e Bacon.
A Revolução Científica deve ser compreendida como a expressão do nascimento da nova
ordem burguesa. As invenções e as descobertas são inseparáveis da nova ciência, pois para
o desenvolvimento do capitalismo, a burguesia necessita de um conhecimento que investigue
as forças da natureza a fim de usá-las em seu próprio interesse e benefício. A ciência deixa de
ser uma serva da teologia, deixa de ser um saber contemplativo para, em união com a técnica,
poder servir a nova classe social (ARANHA; MARTINS, 2007).

Pense

O que mudou com a Revolução Científica?

4.1 A transformação da imagem do universo


O elemento que desencadeou esse movimento de ideias foi a revolução astronômica,
que teve como seus representantes Copérnico, Tycho Brahe, Kepler e Galileu e que acabaria
confluindo na física de Newton. Nesse período temos a mudança da imagem do mundo. O
modelo geocêntrico (a terra no centro do universo) de Aristóteles/Ptolomeu é substituído pelo
modelo heliocêntrico (o sol no centro do universo) de Copérnico. Tycho Brahe elimina a
ideia de orbe (esfera) material que, na velha cosmologia, arrastavam os planetas com seu
movimento e a substitui pela moderna ideia de órbita dos planetas. Kepler realiza a passagem
do movimento circular dos planetas, da velha cosmologia, para o movimento elíptico. Galileu
demonstra a falsidade da ideia de uma física terrestre e uma física celeste e mostra que a Lua
é da mesma natureza que a Terra. Newton, com a sua teoria da gravidade, unificou a física de
Galileu com a de Kepler (REALE; ANTISERI, 2003).

10
A nova teoria não apenas retirou a terra do centro do universo, mas também acabou com
uma teoria que hierarquizava os espaços dividindo-os em “mundo superior dos Céus” e o
“mundo inferior da Terra”. Galileu geometrizou o universo igualando todos os espaços. Ao
descobrir a Via Láctea, contrapôs à ideia de um mundo fechado e finito, da antiga cosmologia,
a ideia de um universo infinito (ARANHA; MARTINS, 2007). A questão, no entanto, não era
apenas científica, era também política. Era uma luta entre duas concepções de mundo: a da
Igreja Católica e a da ciência. Galileu foi obrigado a se retratar publicamente, a renunciar sua
teoria e foi recolhido à prisão domiciliar.

4.2 A transformação da imagem do homem


A imagem do homem até esse período é marcada fortemente por uma visão religiosa, bíblica,
que o colocava no topo do universo, como a criação mais perfeita de Deus. Copérnico retirou
a Terra do centro do universo e, com ela, também o homem. A terra não é mais o centro do
universo, mas um corpo celeste como muitos outros (REALE; ANTISERI, 2003). Ela não é mais
o centro do universo criado por Deus e com isso, o homem deixa de ser também o centro
da criação divina.

4.3 O novo tipo de saber


A revolução científica foi uma revolução na ideia de saber e de ciência. A ciência deixou
de ser uma intuição privilegiada de alguém iluminado e passou a ser uma investigação e um
discurso sobre o mundo da natureza. Essa imagem de ciência não surgiu de uma vez, mas
apareceu progressivamente. O seu modelo é o método científico de Galileu, que traz como
consequência a autonomia da ciência em relação às afirmações da fé e das concepções
filosóficas. O discurso científico legitima-se porque surge com base nas experiências e nas
demonstrações. A ciência torna-se ciência experimental. É através das experiências que
os cientistas conseguem obter proposições verdadeiras sobre a realidade (REALE; ANTISERI,
2003). É essa nova imagem da ciência, feita de teorias controladas pela experimentação, que
mostra o nascimento de um novo tipo de saber.

Atenção

Um aspecto importante da nova concepção científica é o mecanicismo. A ciência moderna


compara a natureza e o próprio ser humano a uma máquina, um conjunto de mecanismos cujas leis
precisam ser estudadas e descobertas. As explicações são baseadas em um esquema mecânico cujo
modelo é o relógio (ARANHA; MARTINS, 2007). São excluídos, desse novo modo de ver as coisas,
todo raciocínio a respeito do valor, da perfeição, do sentido e do fim dos objetos que até então
dominavam a filosofia e a religião.

11
Unidade: Aspectos da Filosofia Moderna e Iluminismo

A revolução científica abriu caminho para os conceitos, os métodos, as instituições e os modos


de pensar relacionados com o fenômeno que chamamos de ciência moderna e sua principal
característica é precisamente o método, que exige imaginação e criatividade das hipóteses por
um lado e o controle público dessas imaginações por outro (REALE; ANTISERI, 2003). Em sua
essência, a ciência é pública.

5. O racionalismo cartesiano

René Descartes (1596-1650) foi também conhecido pelo nome latino de Cartesius ou Cartésio,
daí seu pensamento ser conhecido como cartesiano. É considerado o pai da filosofia moderna
e do racionalismo moderno. Nas obras Discurso do método e Meditações metafísicas, trata
do problema do conhecimento.

5.1 O método cartesiano


No livro Discurso do método, Descartes propõe quatro regras simples para separar o
conhecimento verdadeiro do falso.
1) A primeira regra é o da evidência e que pode ser assim exposto: “não se deve acatar
nunca como verdadeiro o que não se reconhece ser tal pela evidência” (Apud REALE;
ANTISERI, 2003, p. 359).
2) A segunda regra é a de “dividir cada problema que se estuda em tantas partes
menores quantas for possível e necessário para melhor resolvê-los (sic)” (Apud REALE;
ANTISERI, 2003, p. 360). Descartes defende o uso da análise (dividir o conjunto em
partes) ou método analítico, que para ele é o único que pode levar à evidência porque
transforma alguma coisa complexa em algo simples e permite ao intelecto compreender
o seu objeto com clareza.
3) A terceira regra é a de “conduzir com ordem meus pensamentos, começando pelos
objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-se, pouco a pouco, como
por degraus, até o conhecimento dos mais complexos” (Apud REALE; ANTISERI, 2003,
p. 360). Para o conhecimento, a divisão do conjunto em seus elementos mais simples
não é suficiente porque teremos, então, como resultado, um conjunto desarticulado e
ininteligível de elementos. É preciso proceder à síntese (ou método sintético), ou seja,
recompor o todo ou o conjunto com ordem e criar uma cadeia de raciocínio que se
desenvolva do simples ao complexo e que também corresponda à realidade.
4) A última regra é “fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais a ponto
de se ficar seguro de não ter omitido nada” (Apud REALE; ANTISERI, 2003, p. 361).
A fim de evitar erros, é preciso proceder à verificação de cada uma das passagens do
método. Assim, verifica-se se a análise é completa e depois se a síntese está correta.

12
Tratam-se de regras simples para se chegar a qualquer tipo de saber científico e por isso
constitui um modelo de conhecimento.

5.2 A dúvida metódica


Podemos observar que boa parte do saber tradicional pretende ter como base a experiência
sensível. Como podemos considerar certo e inquestionável um saber que tem sua base nos
sentidos se eles, muitas vezes, revelam-se enganadores? Descartes afirma no Discurso do
método: “como os sentidos algumas vezes nos enganam, supus que nenhuma coisa é tal
como é representada pelos sentidos” (Apud REALE; ANTISERI, 2003, p. 363). Embora
boa parte do saber tradicional tenha como base os sentidos, outra parte fundamenta-se
aparentemente na razão e no seu poder discursivo. Esse último princípio também não está
imune ao erro e à incerteza.

Diálogo com o Autor

Não há nenhuma área do saber que se mantenha em pé, pois o alicerce em que está baseado
revela-se frágil demais. Nada resiste ao poder corrosivo da dúvida. A dúvida é transformada
em método. Descartes diz nas Meditações metafísicas: “suponho que todas as coisas que vejo
são falsas (...), creio que o corpo, a figura, a extensão, o movimento e o lugar não são nada mais
do que invenções do meu espírito. Então, o que poderá ser reputado verdadeiro?” (Apud REALE;
ANTISERI, 2003, p. 363). A dúvida, nesse caso, quer levar à verdade, por isso é chamada de
dúvida metódica.

5.3 A certeza fundamental


O filósofo tem como ponto de partida a busca de uma verdade primeira que não possa ser
colocada em dúvida e, por isso, converte a dúvida em método (ARANHA; MARTINS, 2007). O
filósofo começa duvidando de tudo. Descartes só interrompe o processo de dúvidas diante da
constatação do próprio eu que duvida. Se duvido, penso, se penso, existo. “Penso, logo existo”
(cogito ergo sum). Esse é o fundamento para a construção de sua filosofia. Não posso duvidar
da existência de meu próprio pensamento. Portanto, o fundamento do novo saber é o sujeito
humano (cogito), a consciência racional.

5.4 O racionalismo
Com Descartes, temos uma valorização da ra¬zão e da racionalidade. Com ele, estabelece-
se o princípio do sujeito pensante (racional) como fundamento de todas as evidências. Acentua-
se o caráter absoluto e universal da razão que, partindo do cogito, e só com suas próprias
forças, descobre todas as verdades possíveis (ARANHA; MARTINS, 2007). Daí a importância
de um método de pensamento como garantia de que as representações e imagens da razão
correspondam de fato aos objetos a que se referem e que são exteriores a ela.

13
Unidade: Aspectos da Filosofia Moderna e Iluminismo

6. O empirismo inglês

A palavra empirismo vem do grego empeiria, que significa “experiência”. O


empirismo, ao contrário do racionalismo, destaca o papel da experiência no
processo do conhecimento.

6.1 Francis Bacon


Francis Bacon (1561-1626) foi o filósofo da época industrial e pai do empirismo moderno,
pois pôs em evidência o significado do papel das descobertas científicas para a vida humana.
Seu lema “saber é poder” valoriza o conhecimento instrumental, aquele que possibilita a
dominação da natureza pelo homem.

6.2 Teoria dos ídolos


O interesse de Bacon pelo método da ciência se revela na obra Novum Organum (Novo
órgão), em que “órgão” é entendido como instrumento do pensamento. Contrapõe ao método
dedutivo (que vai do geral para o particular) a eficácia da indução (do particular ao geral)
como método para novas descobertas científicas e começa seu trabalho pela denúncia dos
preconceitos e falsas noções que dificultam a compreensão da realidade, aos quais chama de
ídolos (ARANHA; MARTINS, 2007). Assim, a primeira função da teoria dos ídolos é a de
tornar os homens conscientes das suas falsas noções que lhes criam obstáculos no caminho para
a verdade. Quais são esses ídolos? Na obra Novum Organum, Bacon enumera quatro tipos de
ídolos que aprisionam a mente humana: ídolos da tribo, ídolos da caverna, ídolos do foro e
ídolos do teatro.
Os ídolos da tribo “se alicerçam na própria natureza humana, na própria família humana
ou tribo. (...) O intelecto humano é como um espelho desigual em relação ao raio das coisas:
ele mistura a sua própria natureza com a das coisas, que deforma e desfigura” (Apud REALE;
ANTISERI, 2003, p. 335). Com isso, o intelecto humano é levado a supor nas coisas uma ordem
bem maior do que aquela que realmente se encontra nelas. O intelecto finge correspondências
e relações que na realidade não existem. Quando encontra alguma ideia que o satisfaz, o
intelecto humano procura validá-la. Isso ocorre porque o homem crê que é verdadeiro o
que ele prefere. Isso significa que muitos dos nossos enganos derivam da nossa tendência ao
antropomorfismo.
Os ídolos da caverna “derivam de cada indivíduo. Além das aberrações comuns ao gênero
humano, cada um de nós tem uma caverna ou uma gruta particular na qual a luz da natureza
se perde e se corrompe, por causa da natureza própria e singular de cada um, por causa da sua
educação ou conversação com os outros, por causa dos livros que lê e da autoridade dos que
admira e honra ou por causa da diversidade de impressões” (Apud REALE; ANTISERI, 2003, p.
336). Isso significa que muitas das nossas ilusões têm sua origem no indivíduo, na sua educação
e nos seus hábitos.

14
Os ídolos do foro. Escreve Bacon: “há também ídolos que, por assim dizer, dependem de
contato ou dos contatos recíprocos do gênero humano, nós os chamamos ídolos do foro” (Apud
REALE; ANTISERI, 2003, p. 336). A relação entre os homens ocorre por meio da linguagem e
das palavras, mas os nomes são colocados nas coisas segundo a compreensão popular e basta
isso para perturbar o intelecto. Por causa das palavras, os homens são assim, muitas vezes,
arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias.
Os ídolos do teatro “penetraram no espírito humano por meio das diversas doutrinas
filosóficas (...). Pois todos os sistemas filosóficos foram acatados ou cogitados como fábulas
preparadas para serem representadas no palco, boas para construir mundos de ficção e de
teatro” (Apud REALE; ANTISERI, 2003, p. 337). Encontramos muitas fábulas teatrais não
somente nas filosofias, mas também em muitos princípios ditos científicos que se afirmaram
pela tradição, fé cega ou desleixo das pessoas.

Diálogo com o Autor

A teoria dos ídolos de Bacon pode ser considerada como antecessora do moderno conceito de
ideologia (falsa consciência), desenvolvido principalmente por Karl Marx (REALE; ANTISERI,
2003). Os ídolos eram aparências ou preconceitos que criavam obstáculos para o verdadeiro
conhecimento e que podiam ter como origem o indivíduo e a sociedade. A ideia da sociedade
como fonte de erros do conhecimento abriu a possibilidade posteriormente para uma abordagem
sociológica do próprio conhecimento.

6.3 O empirismo
Para Bacon, em Novum Organum, a observação e a experimentação são elementos
fundamentais no processo de conhecimento. “Ministro e intérprete da natureza, o homem
faz e entende o que observa da ordem da natureza, com a observação das coisas ou com a
obra da mente; ele não sabe nem pode nada mais do que isso” (Apud REALE; ANTISERI,
2003, p. 333).
Bacon na obra Novum Organum também valoriza a experiência como parte importante
no conhecimento. Segundo ele, o procedimento da pesquisa é composto de duas partes: “a
primeira consiste em extrair e fazer surgir os axiomas da experiência, a segunda em deduzir e
derivar novos experimentos dos axiomas” (Apud REALE; ANTISERI, 2003, p. 341). A teoria
deve, então, nascer da experiência e novas experiências nascerem da teoria.

15
Unidade: Aspectos da Filosofia Moderna e Iluminismo

7. O Iluminismo

Escritores europeus do século XVIII provocaram uma verdadeira revolução intelectual na


história do pensamento moderno. Suas ideias eram marcadas pela importância que atribuíam à
razão. Eles rejeitavam a tradição e procuravam uma explicação racional para o mundo. Filósofos
e economistas procuravam novos meios para proporcionar a felicidade aos homens,
atacavam a injustiça, os privilégios e a intolerância religiosa. Essas novas ideias conquistaram
novos discípulos a quem pareciam trazer uma nova luz, a do conhecimento, e por isso esses
pensadores eram chamados de iluministas. (ARRUDA, 1974). O lema dos iluministas é “tenha
coragem de servir-te da tua própria inteligência” (sapere aude!).
Para os iluministas, somente o crescimento de nossa consciência pode libertar nossas mentes
de sua servidão espiritual, servidão aos preconceitos, aos ídolos e aos erros evitáveis (REALE;
ANTISERI, 2003). Os iluministas comportam-se como um exército na luta contra todos os pré-
juízos. Para eles, a única fonte da verdade é a razão humana e fazem da tradição seu objeto
de crítica. Não é a tradição, mas sim a razão, a fonte última da autoridade.
O iluminismo foi filosofia hegemônica da Europa no século XVIII, embora não fosse um
movimento cultural uniforme. Ele é uma filosofia otimista. É a filosofia da burguesia em
ascensão e que luta e trabalha pelo progresso. “Algum dia, tudo será melhor – eis a nossa
esperança”, dizia Voltaire (Apud REALE; ANTISERI, 2003, p 666). E o iluminismo coloca na
base desse progresso espiritual, material e político o uso crítico e construtivo da razão.
O século XVIII é o século das revoluções burguesas (Revolução Industrial e Revolução
Francesa) que sofreram influência do iluminismo. A influência do Iluminismo se estende por
toda a Europa e também nos movimentos de independência na América.

7.1 A razão dos iluministas


A razão dos iluministas é uma defesa do conhecimento científico e da técnica enquanto
instrumentos para a transformação do mundo e da melhoria das condições espirituais e materiais
da humanidade (REALE; ANTISERI, 2003).
A razão dos iluministas é a razão que encontra o seu modelo na física de Newton e que não
procura a essência dos fenômenos. Ela não se pergunta, por exemplo, qual é a causa ou essência
da gravidade, mas partindo da experiência procura as leis do funcionamento do fenômeno e
as submete à prova e por isso a razão iluminista é de uso público (REALE; ANTISERI, 2003).
Trata-se da razão limitada à experiência e controlada pela experiência. A razão dos
iluministas, porém, não fica confinada aos fatos da natureza, como em Newton. A razão dos
iluministas não considera excluído nenhum campo de inves¬tigação, é razão que diz respeito
à natureza e, ao mesmo tempo, também ao homem (REALE; ANTISERI, 2003). Tornando-se
livre de qualquer sujeição e capaz de procurar soluções para seus problemas com base em
princípios racionais, o ser humano estende o uso da razão a todos os domínios humanos, o
político, o econômico, o moral e o religioso.

16
7.2 A crítica às superstições religiosas
O Iluminismo é um movimento laico em relação aos mitos e às superstições religiosas. A
atitude cética e até irreverente é traço característico do iluminismo, filosofia que pode ser
vista como parte do processo de secularização do pensamento (REALE; ANTISERI,
2003). Embora se tenha desenvolvido um viés materialista e ateu no interior do iluminismo
francês, a filosofia iluminista é filosofia do deísmo, que é a religião racional e natural que
admite a existência de Deus.
Como diria Voltaire, “para mim é evidente que existe um Ser necessário, eterno, supremo e
inteligente – e isso (...) não é verdade de fé, mas sim de razão” (Apud REALE; ANTISERI, 2003,
p. 671). E, é claro, que se são somente essas as verdades religiosas que a razão pode aceitar,
então, as doutrinas, os ritos, as histórias sagradas e as instituições das religiões são frutos das
superstições, do medo e da ignorância dos homens.

7.3 Como os iluministas divulgaram as “luzes”


As ideias iluministas não penetraram nas massas populares da Europa no século XVIII. Em
linhas gerais, as classes populares permaneceram indiferentes ao movimento enquanto os
iluministas conseguiam difundir as novas ideias nas camadas intelectuais e entre a burguesia
avançada de toda a Europa.
A capacidade de divulgação dos iluministas foi um acontecimento surpreendente e exemplar
na história cultural europeia. Na verdade, os philosophes (como eram chamados os iluministas)
não tiveram ideias filosóficas muito originais nem criaram grandes sistemas teóricos. Entretanto,
eles se consideravam mestres de sabedoria para todos. É compreensível que tenham enfatizado a
divulgação de suas opiniões para torná-las eficazes. E os meios usados para acelerar a circulação
das ideias iluministas foram academias, a maçonaria, os salões, a Enciclopédia, as
cartas e os ensaios (REALE; ANTISERI, 2003).

7.4 A enciclopédia
O empreendimento mais representativo do iluminismo francês é a obra coletiva chamada
Enciclopédia. Os colaboradores mais destacados foram Diderot e D’Alembert e também Voltaire,
Condillac, D’Holbach, Montesquieu, Rousseau e outros.
A Enciclopédia foi uma grande obra política e social, um instrumento de difusão da
cultura crítica, que pretendia romper com o saber tradicional anterior e que se abriu para a
história, para a sociedade e para o saber técnico-científico (REALE; ANTISERI, 2003).
Vejamos os objetivos que inspiravam essa grande obra. No verbete “Enciclopédia” da
própria obra, podemos ler: “O objetivo de uma enciclopédia é unificar os conhecimentos
espalhados sobre a face da terra e expor o sistema e transmiti-lo aos que virão depois de
nós, para que as obras dos séculos passados não fiquem inúteis para os séculos posteriores (...).
Percebemos que a Enciclopédia só podia ser tentada em um século filosófico e que esse século
havia chegado” (Apud REALE; ANTISERI, 2003, p. 695).

17
Unidade: Aspectos da Filosofia Moderna e Iluminismo

8. O criticismo Kantiano

Immanuel Kant (1724-1804) nasceu na Alemanha. Foi o pensador mais significativo da


época moderna. Realizou na filosofia uma revolução que ele equiparou, em virtude de sua
radicalidade, à revolução realizada por Copérnico na astronomia (REALE; ANTISERI, 2003).
O período entre 1770 e 1781 constituiu o momento decisivo na formação do sistema kantiano.
De sua reflexão surgiu a primeira crítica (Crítica da razão pura, 1781), à qual se seguiram as
outras obras da maturidade, particularmente a Crítica da razão prática (1788) e a Crítica do
juízo (1790).
Na obra Critica da razão pura, Kant questiona se é possível uma “razão pura” independente
da experiência, por isso seu método é conhecido como criticismo (ARANHA; MARTINS, 2007).
Kant, diferentemente dos filósofos anteriores, questiona a existência da realidade e duvida que
as ideias da razão correspondam a essa realidade.
Kant coloca a razão em um tribunal para julgar o que pode ser conhecido legitimamente por
ela e que tipo de conhecimento não tem fundamento. Com isso, pretende superar a dualidade
racionalismo/empirismo. Condena os empiristas (tudo que conhecemos vem da experiência dos
sentidos) e, da mesma forma, não concorda com os racionalistas (tudo quanto pensamos vem
do nosso intelecto) (ARANHA; MARTINS, 2007). O conhecimento deve ser composto de juízos
universais racionais, da mesma maneira que derivar da experiência sensível.
Para superar essa contradição, Kant explica que o conhecimento é constituído de matéria
e forma. A matéria dos nossos conhecimentos são as próprias coisas e a forma somos nós
mesmos, os sujeitos. Para conhecer as coisas, precisamos da experiência sensível, mas essa
experiência não terá validade se não for organizada pelas formas da nossa sensibilidade, que são
a priori (anteriores a qualquer experiência) e condição da própria experiência. Para conhecer
as coisas, temos de organizá-las a partir da forma a priori do tempo e do espaço. Para Kant, o
tempo e o espaço não existem como realidades externas, não estão no objeto, são antes formas
que o sujeito põe nas coisas (ARANHA; MARTINS, 2007).
Quando observamos a natureza e afirmamos que uma coisa “é isto”, ou “aquela coisa é
causa de outra”, ou “isto existe”, temos, de um lado, coisas que percebemos pelos sentidos,
mas, de outro, algo que lhes escapa, isto é, as categorias de substância, de causalidade,
de existência. Essas três categorias (e outras) não vêm da experiência, mas são colocadas no
objeto pelo próprio sujeito que conhece (ARANHA; MARTINS, 2007).
Kant também conclui não ser possível conhecer as coisas tais como são em si mesmas, ou
seja, o noumenon (a coisa-em-si) é inacessível ao conhecimento. Somente podemos conhecer
os fenômenos, palavra que, etimologicamente, significa “o que aparece”. Kant inova a filosofia
ao afirmar que a realidade não é um dado exterior ao qual o intelecto deve se conformar,
mas, ao contrário, o mundo dos fenômenos só existe na medida em que “aparece” para nós
sujeitos (ARANHA; MARTINS, 2007). Portanto, de certa forma, o sujeito é parte integrante
do processo de construção do conhecimento.

18
Kant se depara com dificuldades insolúveis ao questionar as realidades da metafísica,
como a existência de Deus, a imortalidade da alma, a liberdade, a infinitude do universo. Para
Kant, todo conhecimento é constituído pela forma a priori do intelecto e pela matéria fornecida
pela experiência sensível. Os objetos da metafísica não podem preencher essa segunda
exigência; não temos experiência sensível de Deus, por exemplo. Decorre dessa constatação a
impossibilidade do conhecimento metafísico, portanto, devemos nos abster de afirmar ou negar
qualquer coisa a respeito dessas realidades. Trata-se de um agnosticismo (etimologicamente,
a, “não”, e gnosis, “conhecimento”). Somos agnósticos quando consideramos a razão incapaz
de afirmar ou negar a existência de Deus. O agnosticismo não se confunde com o ateísmo, pelo
qual negamos afirmativamente que Deus exista (ARANHA; MARTINS, 2007).
Tal como Copérnico, que disse que não é o Sol que gira em torno da Terra, mas é o contrário,
a terra que gira em torno do sol, também Kant afirmou que o conhecimento não reflete o
objeto exterior, mas é o próprio intelecto que constrói o objeto do seu saber. Nesse sentido,
Kant realizou uma revolução copernicana no campo da teoria do conhecimento (ARANHA;
MARTINS, 2007).

19
Unidade: Aspectos da Filosofia Moderna e Iluminismo

Material Complementar

Revolução Científica do século XVII


Para conhecer a biografia de Newton acesse o site:
http://www.ifi.unicamp.br/~ghtc/Biografias/Newton/Newton3.htm
Para conhecer a biografia de Galileu acesse o site:
http://www.ifi.unicamp.br/~accosta/galileu.html
Assista ao vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=kSAgWci0XrY

Descartes
Para conhecer um pouco mais sobre o filósofo acesse o site:
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/discurso.pdf
http://www.unicamp.br/~chibeni/public/descreal.pdf
Assista ao vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=Hg15BZfgVgo

Bacon
Para conhecer um pouco mais sobre o filósofo acesse o site:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000047.pdf

Iluminismo do século XVIII


Para conhecer um pouco mais sobre o filósofo Voltaire acesse o site:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000022.pdf
Assista ao vídeo;
http://www.youtube.com/watch?v=QQUYI-QlSEk

Kant
Para conhecer um pouco mais sobre o filósofo acesse o site:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000016.pdf
ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/kant-e-prints/vol.2,n.5,2003.pdf

20
Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à
Filosofia, 3. ed. revista. São Paulo: Moderna, 2007.

ARRUDA, José Jobson de A. História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Ática, 1974.

MOTA, Carlos Guilherme. História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Moderna, 1986.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a Kant, 6. ed. São
Paulo: Paulus, 2003, vol. 2.

21
Unidade: Aspectos da Filosofia Moderna e Iluminismo

Anotações

22
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil
Tel: (55 11) 3385-3000

Você também pode gostar