Você está na página 1de 17

DOI: 10.

5902/2317175820897
41

OS ARTISTAS DE RUA DO RIO GRANDE DO SUL:


MAPEAMENTO DA ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA*

THE STREET ARTISTS OF RIO GRANDE DO SUL:


MAPPING OF CONTEMPORARY URBAN ART

Carlos Alberto Kalinovski Hoffmann1

Recebido em: 25/12/2015


Aprovado em: 01/11/2016

RESUMO ABSTRACT

O objetivo deste artigo é apresentar uma interven- The objective of this paper is to present an inves-
ção investigativa em um centro urbano mapeando tigative intervention in an urban center mapping
a arte de rua e seus atores sociais, a fim de levantar to street art and its stakeholders, collecting data
dados relacionados a questões culturais, sociode- related to cultural, demographic, political and
mográficas, políticas e econômicas. A importân- economic issues . The importance of this issue is
cia desse tema decorre da presença da arte urbana a function of the presence of urban art in the city
na cidade e da inexistência de estudos sobre ma- and the lack of studies that support the acade-
peamentos ou censos de artistas de rua na capital e my’s debate, society and public authorities as re-
no Rio Grande do Sul que subsidiem o seu debate gards the maps or street performers census in the
na academia, na sociedade e no poder público. A capital and in Rio Grande do Sul. From a review
partir de uma revisão de literatura acerca do tema of literature on the subject and data collection by
e coleta de dados por meio da aplicação de ques- applying questionnaire and direct observation, it
tionário e observação direta, foi traçado um perfil was traced a profile of urban state artists. Data
dos artistas urbanos do estado. A análise de dados analysis provides an overview of the presence of
traz um panorama da presença de artistas de rua street performers in the covered area and at the
na área abordada, permitindo a sugestão de novas end, it is suggested new proposals research.
proposições de pesquisa. Keywords: culture; mapping; Street artists; Rio
Palavras-chave: cultura; mapeamento; artistas de Grande do Sul.
rua; Rio Grande do Sul.

* Esta pesquisa foi financiada via Edital da Secretaria de Estado da Cultura (SEDAC) n.º 11/2013 – Concurso “Desenvolvimento da Economia da Cultura
Pró-cultura RS FAC”.
1 Administrador no Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) de Porto Alegre. Graduação em Administração de Empresas com Ênfase em
Analista de Sistemas (PUCRS) e em Programa Especial de Formação Pedagógica (UNISC). Especialização em MBA em Marketing Político e Organização
de Campanha Eleitoral (UNINTER), em Gestão Pública Municipal (UFSM), em Gestão de Projetos Sociais e em Política e Sociedade (CBM) e em História
e Cultura Afro-brasileira (UCAM). E-mail: professor@carloshoffmann.com.br.

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


42 Carlos Alberto Kalinovski Hoffmann

1 Introdução trados apenas um artigo3 e uma disser-


tação de mestrado4 que versavam de
A arte pode surgir em todo lugar, alguma forma sobre a arte de rua por-
e a cidade também é sua atmosfera de to-alegrense: o primeiro trazia informa-
produção e repercussão. O estado do ções dos artistas do Largo Glênio Peres
Rio Grande do Sul tem uma cultura pe- e da Redenção (áreas de Porto Alegre),
culiar e própria, com expressões artís- e o segundo falava da construção artísti-
ticas regionais e multiculturais. Nesse ca dos músicos de rua na capital do Rio
sentido, sua capital estadual é um polo Grande do Sul. Tal situação faz com
irradiador de especial vulto. que não haja dados disponíveis para co-
A cultura na cidade de Porto Ale- nhecer melhor essa realidade e também
gre é expressiva em todos os lugares, para que o poder público crie políticas
inclusive ao ar livre, sendo referência públicas com o objetivo de atender a
nacional do teatro de rua e do artista de esse público específico.
rua (PORTO ALEGRE, 2013). Como ca- Sendo um ofício muito antigo
pital do estado do Rio Grande do Sul, a (GARCIA, 2005), autores como Peter
cidade é um dos maiores polos culturais Burke (1989) e Mikhail Bakhtin (1996)
do país (BRASILEIROS, 2016; PORTO analisaram como era o trabalho desses
IMAGEM, 2016) e, historicamente, tem artistas populares quando realizavam
reconhecida e projetada nacional e inter- apresentações em ruas e feiras. Burke
nacionalmente sua expressão cultural. (1989) cita como exemplo algumas de-
Em 2010, contava com 1.409.351 habi- nominações correntes empregadas para
tantes para uma área total de 496,682 km² designar os artistas de rua na Inglaterra
(IBGE, 2014), dividida em 92 bairros ofi- do século XVI ao século XIV: “bufões”,
ciais, conforme Lei Municipal n.º 12.112, “palhaços”, “comediantes”, “malaba-
de 22 de agosto de 2016.Segundo Knaak ristas”, “acrobatas”, “charlatões”, “sal-
(2011), em Porto Alegre, desde os anos timbancos”, “tocadores”, “curandeiros”
1990, no que se refere, essencialmente, às e “apresentadores de espetáculos”. Já,
artes visuais, o tema arte pública é visto contemporaneamente, segundo o con-
pelo poder público como uma questão ceito apresentado por Garcia (2005, p.
política de encaminhamento cultural, sen- 1), a expressão “artistas de rua” abrange,
do liderado por programas municipais de de modo geral, “aqueles que apresentam
fomento, aquisição e pesquisa, difundidos seus espetáculos pelas ruas da cidade de
por editais, simpósios e encomendas dire- forma autônoma e, na maioria das vezes,
tas. Já Freitas (2005, p. 2), afirma que “as itinerante”. Portanto, para fins desta pes-
relações entre arte e cidade promovem, quisa, conceitua-se artista de rua como o
atualmente, amplas discussões concei- artista ou grupo artístico autônomo que
tuais, principalmente no que diz respeito produz rotineiramente seus espetáculos
à estetização do espaço público, consi- no espaço público, tendo a rua como re-
derando questões que envolvem tanto a ferência para espaço de produção e tra-
concepção da cidade como obra de arte, balho artístico continuado.
quanto da obra de arte na cidade”. Segundo Pallamin (2005, p. 24),
Entretanto, a despeito da tradição “tematizar a arte urbana é pensar sobre a
cultural da cidade, na revisão teórica, vida social aproximando-se de um certo
encontraram-se apenas dois registros de modo pelo qual as pessoas se produzem
pesquisa e mapeamento sobre os seus 3 GARCIA, Neiva Rosa. "Espetáculo de rua": manifestações culturais no
Largo Glênio Peres e no Brique da Redenção na cidade de Porto Alegre
artistas de rua . Em pesquisa realizada -RS. Revista Iluminuras - Publicação Eletrônica do Banco de Imagens e
via Google Acadêmico2, foram encon- Efeitos Visuais. v. 6, n. 12 (2005). Disponível em http://www.seer.ufrgs.
br/index.php/iluminuras/article/view/9200/5294.
4 GOMES, Celson Henrique Sousa. Formação e atuação de músicos
das ruas de Porto Alegre: um estudo a partir dos relatos de vida. Dis-
2 Consulta realizada no site scholar.google.com.br, em 09 de setembro sertação para o Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de
de 2014, a partir das palavras-chave “artista de rua porto alegre”, “artista Artes da UFRGS. 1998. Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/hand-
de rua RS” e derivações. le/10183/12893.

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


OS ARTISTAS DE RUA DO RIO GRANDE DO SUL:
MAPEAMENTO DA ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA
43

e são produzidas no âmbito da ordem viada. Quanto ao tratamento dos dados,


simbólica. É pensar sobre cultura urba- foram feitas análises cross section uti-
na”. Nesse sentido, o mapeamento aqui lizando estatística descritiva, conforme
exposto é de ordem cultural, sociode- detalhado na metodologia desse mapea-
mográfica, política e econômica, abar- mento quantitativo. Os resultados estão
cando gêneros culturais diversos que apresentados nas seções de número 4 a
ocorrem na área central da cidade. Sa- 7 por meio de tabelas, gráficos e descri-
ber mais sobre a arte urbana no contexto ções textuais. Dessa forma, esta pesquisa
da rua e dos espaços públicos e quem pretende contribuir para preencher a la-
são os artistas envolvidos significa con- cuna de conhecimento e divulgação so-
tribuir para a cultura popular de forma bre os artistas urbanos do estado do Rio
qualificada e embasada e, também, Grande do Sul.
atuar em prol da contínua construção
e entendimento desse campo dentro da 2 Desenvolvimento
teoria da cultura. Esta pesquisa enfoca,
assim, a arte que é produzida “ao-vivo” 2.1 Territorialidade, arte urbana e o ar-
no e com o espaço público e que é de- tista de rua
pendente da permanência do artista para
que ela ainda subsista, ao contrário da Diversas questões relevantes
produção artística para o espaço públi- acerca da arte urbana ou pública e de
co, que é aderente à sua materialidade sua contextualização no território/cida-
e que se torna existente sem a presença de, bem como a relação com os espec-
do artista (o grafite em uma fachada de tadores, devem ser debatidas. Segundo
uma construção, após a sua aplicação, Freitas (2005, p. 2), “os contextos urba-
é um exemplo). Dessa forma, a questão nos se veem envoltos em uma teia com-
base desta pesquisa é investigar, espe- plexa de relações da qual a arte é parte
cialmente em três regiões da cidade de constitutiva e construtora, podendo ser
Porto Alegre e no estado do Rio Gran- um importante agente estimulador e fa-
de do Sul como um todo, a definição do zedor das mudanças dentro de uma so-
perfil básico do artista de rua local em ciedade”. Nesse sentido, Félix Guattari
distintos aspectos e a ocorrência de ma- define as cidades como “imensas má-
nifestações artísticas nessa região. quinas [...] produtoras de subjetivida-
O objetivo deste artigo consis- de individual e coletiva” (GUATTARI,
te, assim, em expor os dados coletados 1993, p. 172), pois articula todo o seu
acerca do perfil dos produtores da arte aparato estrutural, de comunicação e de
urbana de rua na região central de Por- serviços para conceber a existência hu-
to Alegre e cercanias e no estado do Rio mana em todos os seus sentidos. A “ci-
Grande do Sul. Nesse sentido, busca- dade subjetiva” exige uma “cartografia
se, mais detalhadamente, mapear dados multidimensional”, que trabalhe a sub-
culturais, sociodemográficos, políticos e jetividade coletiva, permitindo, assim, a
econômicos dos artistas que trabalham convivência entre as idiossincrasias.
na rua com base em uma pesquisa des- Diante disso, é importante defi-
critiva. Para alcançar esse intento, a me- nir, portanto, o conceito de espaço pú-
todologia escolhida foi a abordagem dos blico, que se refere à noção de que o
artistas na rua a partir de entrevista com espaço público é o lugar do espaço po-
a aplicação de questionário com pergun- lítico (HABERMAS, 1984), já que, se-
tas fechadas. O instrumento de pesquisa gundo Freitas (2005; 2006), sendo este
foi respondido de forma presencial, via um lugar de comunicação (o espaço
site na internet5, via página no Facebook6 público/a cidade), onde os indivíduos
e via mensagem eletrônica (e-mail) en- dialogam pela intersubjetividade, o es-
5 www.artistasurbanos.com.br
6 www.fb.com/artistasurbanosderua paço público é, ao mesmo tempo, o lo-

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


44 Carlos Alberto Kalinovski Hoffmann

cal onde os problemas sociais e huma- que faz do lugar uma multiplicidade de
nos se mostram, tomam forma, ganham locais” (BARROS, 1998-1999, p. 33).
uma dimensão pública e são resolvidos. Entretanto, segundo Blauth e Possa
Por outro lado, é perceptível que (2012), ao serem apresentadas no espa-
o espectador está distanciado da arte ço público, as obras criam uma relação
contemporânea, provavelmente, con- dialógica a partir do local.
forme Blauth e Possa (2012), por não De acordo com Da Matta (1997, p.
estar engajado nas proposições dos ar- 15), o espaço da “rua” e o da “casa” po-
tistas, por falta de informações ou mes- dem ser compreendidos como categorias
mo por falta de interesse. Em virtude sociológicas, opostas e complementares,
disso, além da peculiar complexidade já que não designam “[...] simplesmen-
das diferentes manifestações artísticas, te espaços geográficos ou coisas físicas
os espaços e as instituições culturais comensuráveis, mas acima de tudo en-
procuram novos instrumentos para que tidades morais, esferas de ação social,
o grande público possa se aproximar províncias éticas dotadas de positivida-
e ampliar sua compreensão acerca das de, domínios culturais institucionaliza-
produções da arte atual (BLAUTH; dos [...]”. Dessa forma, segundo Garcia
POSSA, 2012). Sendo assim, segundo (2005), o uso da categoria “rua” é per-
Blauth e Possa (2012, p. 149): tinente às pessoas que frequentam esse
espaço, com suas especificidades e pre-
No final dos anos 1960 e início dos ferências. Os artistas de rua, ainda con-
anos 1970, o abandono dos espaços forme Garcia (2005, p. 3), “buscam se
fechados das galerias, de museus, dos orientar pelas características do espaço
locais de produção em atelier e a inter- para que seus espetáculos criem o efeito
venção direta na natureza colocaram
de verossimilhança para o público”.
em crise os objetos artísticos, provo-
cando novas interrogações sobre a Dentro desse contexto, a arte ur-
função crítica da arte e sua dimensão bana é vista como um trabalho social,
dentro do contexto público da arte. cujas obras possibilitam a apreensão
de relações e diferentes meios de apro-
A territorialidade, a rua e o es- priação do espaço urbano, um ramo da
paço urbano são o estúdio, o palco e o produção da cidade, expondo e mate-
atelier do artista urbano, o que permi- rializando suas conflitantes relações so-
te que o espectador se aproxime final- ciais, bem como seus modos de temati-
mente da arte. Diante desse cenário, zação cultural e política (PALLAMIN,
como referem Blauth e Possa (2012), 2000). A esse respeito, acrescenta Los-
os conceitos de lugar e local adquirem sau (2009, p. 37) que “a arte no espaço
novos significados e conceituações na público deve contribuir para fortalecer a
arte contemporânea a partir da utiliza- identidade e o reconhecimento das par-
ção de espaços não convencionais pelos ticularidades das cidades”.
artistas. Conforme Barros (1998-99), o Pallamin (2000, p. 19), ao refletir
lugar é algo aberto, pessoal e humano, sobre a produção e recepção da arte ur-
que mantém suas qualidades básicas e bana, afirma que:
tem suas narrativas e histórias próprias.
Sendo assim, é possível compreender Os significados da arte urbana desdo-
bram-se nos múltiplos papéis por ela
que é no local que ocorre a confron-
exercidos, cujos valores são tecidos
tação das experiências resultantes da na sua relação com o público, nos
comunicação entre diferentes lugares e seus modos de apropriação pela co-
culturas, de modo que o local tem ca- letividade. Há uma construção tem-
racterísticas mais amplas do que o lugar poral de seu sentido, afirmando-se ou
(BLAUTH; POSSA, 2012). Ao lugar, infirmando-se. Assim, tais práticas
“soma-se um conteúdo da memória artísticas podem contribuir para a

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


OS ARTISTAS DE RUA DO RIO GRANDE DO SUL:
MAPEAMENTO DA ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA
45

compreensão de alterações que ocor- dinâmica das relações socioculturais


rem no urbano, assim como podem e promove a interação entre as diver-
também rever seus próprios papéis sidades sem, entretanto, anulá-las.
diante de tais transformações: quais
espaços e representações modelam Outro conceito essencial a ser de-
ou ajudam a modelar, quais balizas finido para fins desta pesquisa é o do ar-
utilizam em suas atuações nesse pro- tista de rua ou urbano. Segundo Carta-
cesso de construção social.
xo (2006, p. 73-79), “o artista ‘público’
contemporâneo trabalha in situ, ou seja,
A arte urbana ou arte no espaço analisa meticulosamente as condições
público é conformada por um conjunto do lugar (a escala, o usuário e a comple-
amplo de categorias, conforme explicita xidade do contexto), visto que o sucesso
Lossau (2009, p. 43): da obra depende da recepção do obser-
vador”. Cavalcanti (2010, p. 15), por
[...] a expressão “arte no espaço pú-
blico” engloba uma multiplicidade de sua vez, nomeia os artistas e artesãos
situações com relação à localização populares (contadores de estórias, mú-
(centro versus periferia, lugares cen- sicos, pregadores e curandeiros, artistas
trais versus lugares periféricos), sua de entretenimentos, mascates, pintores,
duração (esculturas permanentes ver- entalhadores e tecelões) como “agentes
sus performances de rápida duração), sociais portadores das expressões popu-
suas formas de “interpretação” e lei- lares” ao abordar, dentre outros temas, a
tura (de leitura fácil versus de leitura unidade e a formação da cultura popu-
complexa), seu status jurídico (legal lar a partir do diálogo entre Peter Burke
versus ilegal), seu contexto institu- e Mikhail Bakhtin. Modernamente, de
cional (obras financiadas por recur-
acordo com Garcia (2005, p. 1), a ex-
sos públicos ou privados versus obras
realizadas com recursos próprios). pressão “artistas de rua” compreende,
de forma sintética, “aqueles que apre-
Freitas (2005, p. 9), ao afirmar sentam seus espetáculos pelas ruas da
que a arte urbana deve ser a mediadora cidade de forma autônoma e, na maio-
de uma relação dialógica íntima e pro- ria das vezes, itinerante”. Destarte, nes-
funda entre cidadão e espaço urbano/ ta pesquisa, artista de rua é o artista ou
obras artísticas, amplia o debate: grupo artístico independente que pro-
duz rotineiramente seus espetáculos no
A arte urbana quando articulada espaço público, ou seja, que tem como
coerentemente é capaz de assimilar referência a rua para espaço de produ-
a diversidade sem encobrir as dife- ção e trabalho artístico continuado.
renças e deste modo possibilita um Ainda, como resultado direto da
redimensionamento do espaço pú- expressão do artista no contexto públi-
blico, transformando-o em espaço de co, estão os espetáculos por eles produ-
interação entre o local e o global, a zidos e apresentados. Garcia (2005, p.
tradição e o novo, refazendo as fron- 21-22) traz uma importante considera-
teiras de identidade nas sociedades ção acerca dessa questão:
contemporâneas. A cidade, palco/
cenário das transformações sociais e As características dos “espetáculos de
culturais da humanidade, exige uma rua” os fazem singulares e estão dire-
articulação do pensamento estético tamente relacionadas ao público, ou
ao pensamento lógico-racional para seja, ao espaço onde são realizados.
permitir ao homem uma vivência [...] Cada espetáculo tem sua forma
consciente, uma atuação participante, de fazer que é própria do “artista de
a fim de que ele possa estar sendo su- rua” que o executa e que é influencia-
jeito ciente de suas escolhas. E é essa da por sua trajetória especifica como
capacidade de escolha que orienta a “artista de rua”; são criações que

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


46 Carlos Alberto Kalinovski Hoffmann

ressaltam particularidades e seme- A partir da revisão bibliográfica


lhanças com as “maneiras de fazer” inicial e utilizando como base a pes-
de colegas de profissão. São manifes- quisa intitulada “Artistas de Rua: le-
tações culturais que se constituem a vantamento e pesquisa de perfil” (SÃO
partir da bricolage de acontecimentos PAULO TURISMO, 2012), foi construí-
da vida cotidiana que, transformados,
adaptados aos espetáculos, fazem do
do o questionário fechado aplicado aos
“artista de rua”, conforme Certeau artistas de rua encontrados na pesquisa
(1994), um “inventor do cotidiano”, de campo durante o período de maio de
aquele que o inventa graças à “arte de 2014 a janeiro de 2015 e também para os
fazer”, às táticas utilizadas. [...] Uma artistas encontrados por meios eletrôni-
dessas características [comuns] é o cos. A pesquisa foi realizada durante dois
fato de os artistas construírem os “es- meses em média em cada bairro (Centro
petáculos de rua” a partir da observa- Histórico, Cidade Baixa e Farroupilha),
ção do espaço em que é executado, ou com o objetivo de realizar a coleta de
seja, das pessoas que o frequentam, dados. Esses locais foram escolhidos em
transformando o ambiente da rua em virtude da tradição histórica da existência
palco e os transeuntes, em plateia ati-
va na construção do evento.
de artistas de rua ali presentes e também
do grande fluxo de pessoas, advindas de
Diante de tais considerações, o todas as localidades e bairros da capital
objetivo desta pesquisa é lançar um olhar e de fora de Porto Alegre, que circulam
para o artista urbano, abarcando a diver- nessas regiões. Em cada área, foi estabe-
sidade cultural da cidade no contexto da lecido um turno de pesquisa específico,
rua e dos espaços públicos. Dessa forma, definido de acordo com o perfil de cada
os segmentos pesquisados e aqui concei- região abarcando dias de semana, final
tuados são gêneros como o teatro, a dan- de semana e feriados. Houve variações
ça, a capoeira, o folclore, a representação de turnos de pesquisa intrabairros, a fim
por mímica, as artes circenses em geral, de coletar dados de artistas não abarca-
as artes plásticas de qualquer natureza, o dos nos turnos regulares. Além disso,
espetáculo ou apresentação de música, a em paralelo com a pesquisa de campo
literatura e a poesia. e por mais três meses, os questionários
foram disponibilizados em formato digi-
2.2 Metodologia da pesquisa tal (Google Forms) em site específico7,
divulgados junto às redes sociais cuja
No que se refere à metodologia da temática dissesse respeito aos artistas de
pesquisa, ela é quantitativa. Do ponto de rua8,9, enviados por e-mail e distribuídos
vista de seus objetivos, é uma a pesquisa impressos em instituições e organismos
exploratória, que, segundo Gil (1991, p. culturais afins, de modo que artistas e
45), “visa proporcionar maior familiari- grupos de artistas de rua que não pude-
7 Formulário de pesquisa disponível, na época, no site http://www.artis-
dade com o problema, com vistas a tor- tasurbanos.com.br.
8 Página Artistas de Rua, disponível em http://www.facebook.com/artis-
ná-lo explícito ou a construir hipóteses, tasurbanosderua.
tendo como objetivo principal o aprimo- 9 Comunidades visitadas para divulgação: https://www.facebook.
com/groups/152632044867743/, https://www.facebook.com/
ramento de ideias ou a descoberta de in- groups/568467846497128/, https://www.facebook.com/groups/
artistasderua/, https://www.facebook.com/groups/677376798952538/,
tuições”. Na prática, esse tipo de pesquisa https://www.facebook.com/groups/178862872268697/, https://
foi selecionado por estar de acordo com a www.facebook.com/groups/536100659778494/, https://
www.facebook.com/groups/334716143289646/, https://
realidade encontrada na cidade de Porto www.facebook.com/groups/451519864883567/, https://
www.facebook.com/groups/685141301541890/, https://
Alegre e no Rio Grande do Sul e com a www.facebook.com/groups/761838387200281/, https://
realidade discutida no referencial teórico, www.facebook.com/groups/121242171359099/, https://
www.facebook.com/groups/198014113684493/, https://www.
já que foi necessário realizar o mapea- facebook.com/groups/592621104119450/, https://www.facebook.
com/groups/249983905149771/, https://www.facebook.com/
mento no local de estudo sem ter qualquer groups/467248199982610/ (frase de pesquisa: “artistas de rua”)
base estatística anterior sobre o tema. e https://www.facebook.com/groups/481494108542133/ (frase
de pesquisa: “artistas urbanos” – selecionadas apenas as páginas
brasileiras, divulgadas em português).

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


OS ARTISTAS DE RUA DO RIO GRANDE DO SUL:
MAPEAMENTO DA ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA
47

ram responder à pesquisa durante o pe- respondidos. Pelo menos uma dezena
ríodo do trabalho de campo, que atuam de artistas não quis responder, mesmo
em outras cidades para além da região após sensibilização quanto ao objetivo
metropolitana de Porto Alegre ou que desta pesquisa. Nas subseções a seguir,
não foram encontrados pelo pesquisador, são apresentados os resultados obtidos.
pudessem ter uma forma de fazê-la.
A investigação acerca dos artis- 2.3.1 Dados e análise dos resultados:
tas de rua está calcada sobre cinco eixos eixo sociodemográfico
base, definidos como sociodemográfico
(nome completo e artístico, sexo, gêne- Nesta seção, são listados e anali-
ro, orientação afetivo-sexual, etnia, fai- sados os dados referentes ao eixo socio-
xa etária, grau de escolaridade, estado demográfico. Quanto à nacionalidade, é
civil, local de moradia, nacionalidade e interessante destacar que 63% dos en-
naturalidade), econômico (faixa de ren- trevistados são brasileiros. Destes, sete
da total, percentual de renda extraída da são de Porto Alegre, sete são de outras
atividade cultural, recebimento de bolsa cidades do Rio Grande do Sul e um é
família, se tem registro no Cadastro Na- do Paraná. Mesmo não sendo maioria, o
cional da Pessoa Jurídica – CNPJ – e contingente de estrangeiros indica a im-
se tem registro de trabalho na Delegacia permanência desses artistas em termos
Regional do Trabalho – DRT –, na Car- territoriais: dos nove que são originários
teira da Ordem dos Músicos – OMB –, de países latino-americanos, quatro pro-
etc., se possui outra ocupação profissio- veem da Argentina, e um veio do Chile.
nal e qual a atividade principal), cultural Quanto à cidade de moradia,
(tipo de apresentação, tempo de ativida- 54% moram em Porto Alegre, e 46%
de na rua, motivação para se apresentar em outras cidades da região metropoli-
na rua, horários de apresentação, tem- tana de Porto Alegre ou do Brasil ou em
po de duração da apresentação, dias de outros países. Esse dado é natural tendo
apresentação do artista, frequência de em vista que a pesquisa foi realizada de
apresentação, local(is) de trabalho(s), forma presencial na capital gaúcha.
infraestrutura empregada, se tem site de Em relação ao sexo, 88% são do
divulgação, se utiliza redes sociais para sexo masculino, e 12% são do sexo fe-
divulgação e se pertence a algum gru- minino, dado que mostra uma dispari-
po de artistas de rua), político (se tem dade grande entre os gêneros, devendo
conhecimento sobre a Lei n.º 200/13 ser motivo de estudos específicos. Ou-
– “Lei dos Artistas de Rua” de Porto tro achado interessante é que todas as
Alegre ou à lei correspondente em sua mulheres entrevistadas são jovens (de
cidade, se é sindicalizado em sua área, 18 a 25 anos), o que pode denotar tam-
se tem cadastro na Secretaria Municipal bém variáveis relativas à faixa etária
da Cultura de Porto Alegre, na Secreta- cruzada com o gênero.
ria Estadual da Cultura do Rio Grande No que concerne à faixa etária,
do Sul ou no Ministério da Cultura, se 21% dos entrevistados têm entre 18 e
conhece o Sistema Nacional de Cultu- 25 anos e entre 26 e 30 anos de idade;
ra – SNC – e se tem apoio financeiro 25% têm entre 31 e 35 anos; 8% têm de
ou subvenção do poder público) e livre 36 a 40 anos; 4% têm de 41 a 50 anos;
(qual a satisfação geral como artista de 17% têm de 51 a 60 anos; e 4% têm en-
rua e observações livres). tre 61 e 70. Esses dados mostram que
a grande maioria é jovem-adulta (entre
2.3 Dados e análise dos resultados 18 e 35 anos) e que há um pico situado
na faixa dos 51 a 60 anos, que pode ser
Tendo por base a metodologia considerada uma faixa de transição para
explicitada, 24 questionários foram a terceira idade. A necessidade de liber-

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


48 Carlos Alberto Kalinovski Hoffmann

dade e a possibilidade concreta de exer- tural. Preliminarmente, faz-se o debate


cê-la podem fazer com que essas idades sobre a construção entre o “público” e o
sejam preponderantes, pois é nas idades “privado” no acesso à cultura. Segundo
mais jovens que ocorre o momento de Alves (2004), na perspectiva da dialéti-
maior vigor energético, maior despren- ca entre o espaço público e o privado,
dimento das questões materiais e menor produzir a cidade é produzir espaços
preocupação com a formação de uma públicos e privados como base de um
família fixa e tradicional. Nesse sentido, contorno cultural, valorizando-a de for-
aparenta ser mais fácil ter uma profissão ma qualitativa em função de sua vida.
cultural de livre trânsito e de menor ri- Sob esse ponto de vista, a arte produzi-
gidez financeira e “jornada de trabalho” da na rua, conforme conceituada neste
que possibilite menos amarras pessoais, trabalho, consiste em uma produção in-
fatos que tradicionalmente são mais fa- dividual, advinda do artista e externali-
cilmente perfectibilizados na juventude. zada para o público expectador em um
Em relação ao nível de instrução, espaço público da cidade. Ainda, con-
4% dos entrevistados possuem ensino forme Peruzzolo e Maggioni (2016), a
fundamental incompleto, 4% possuem complexidade é estabelecida no cerne
ensino fundamental completo, 25% têm das formas culturais essenciais da hu-
ensino médio completo, 13% possuem manidade, de forma que tanto público
ensino técnico completo, 33% apresen- quanto privado se organizam na cultu-
tam ensino superior incompleto, e 21% ra como atos sociais que se entrelaçam.
têm ensino superior completo. Ressalta- Dessa forma, a fruição cultural por parte
se, diante disso, o nível educacional dos do cidadão-expectador é livre e gratui-
artistas, já que a imensa maioria tem do ta, bem como coletiva e não exclusiva,
ensino médio completo em diante. no que se refere ao contexto da exibição
Quanto à categoria racial/cor, 54% artística, face às relações, atmosferas e
são autodeclarados brancos, 4% são pre- produções existentes apenas para aque-
tos, 13% são pardos, 13% são indígenas, le momento singular de simbiose do lo-
e 17% não souberam ou não quiseram cus, do artista e do expectador.
responder. Fica evidente a supremacia No que se refere à interferência
branca entre os artistas, o que pode ser a governamental no trabalho cultural de
realidade, mas também pode esconder a rua, para fins desta pesquisa, não fo-
invisibilidade do negro enquanto artista ram encontradas limitações claras en-
de rua, estando ele nas áreas periféricas tre o que a institucionalidade declarava
da cidade, ou a própria ineficácia de uma como público ou privativo, em especial
política cultural que abarque as culturas no sentido de regulação do ente público
afrocentradas ou periféricas. sobre alguma utilização privada/artísti-
Por fim, quanto ao estado civil, ca da cidade. Mesmo com a legislação
pode-se dizer que 50% são solteiros, recente, esses limites não são claros no
13% são casados, 8% são divorciados, cotidiano da cidade de Porto Alegre. A
21% têm união estável, e 8% não sa- esse respeito, ressalta-se, ainda, a possi-
bem ou não quiseram responder. Tais bilidade de utilização do espaço público
resultados podem ilustrar a dificuldade não institucional pelos artistas, como,
de o artista ter relacionamentos estáveis por exemplo, do teatro (MOREIRA,
diante da forma itinerante de trabalho. 2011), como forma de trazer à tona uma
conduta de contestação e subversiva à
2.3.2. Dados e análise dos resultados: ordem social ou política vigente.
eixo cultural Após esse debate preliminar, é pos-
sível adentrar no escopo desta pesquisa.
Nesta seção, são listados os da- Quanto ao tipo de apresentação feita pelos
dos e as análises referentes ao eixo cul- entrevistados, o Gráfico 1, a seguir, ilustra

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


OS ARTISTAS DE RUA DO RIO GRANDE DO SUL:
MAPEAMENTO DA ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA
49

a supremacia da música frente às outras lher mais de uma opção para melhor des-
áreas, seguida pelo teatro, pelo atuação crever a sua arte de rua. Tal informação
como palhaço, pelas artes circenses em pode auxiliar os pesquisadores e o poder
geral e pela representação por mímica. público a entenderem a oferta cultural,
Esses ocupações, contudo, não totalizam podendo contribuir na melhoria das polí-
100%, já que o respondente podia esco- ticas públicas específicas.

Gráfico 1. Tipo de apresentações feitas


Quanto ao tempo de atividade na Nesse caso, as respostas também não
rua, 25% atuam há menos de um ano, totalizam 100%, pois o respondente
29% atuam entre um e cinco anos, 25% podia escolher mais de uma opção de
atuam entre seis e dez anos, 4% atuam forma livre.
entre 11 e 15 anos, 8% atuam entre 16
e 20 anos, e 8% atuam há mais de 20
anos. Essas informações também au-
xiliam os legisladores e promotores de
políticas públicas e sociais para definir
ações específicas, em especial para pro-
mover melhores condições de trabalho
e renda aos artistas.
Já quanto à motivação do artis-
ta para se apresentar na rua (Gráfico
2), destaca-se a “liberdade” (79,2%)
como item preponderante neste quesi-
to, seguido do “contato com o público”
(70,8%). Tal situação evidencia a bus-
ca dos artistas de rua pela experiência
de estar livre, sem regras ou patrão, em
um estado de libertação e contato dire-
to com o público, sem intermediários.

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


50 Carlos Alberto Kalinovski Hoffmann

Gráfico 2. Motivação para apresentar-se na rua

Sobre a duração média da apre- ponderam que têm, e 4,2% não soube-
sentação, 50% utilizam entre uma e três ram ou não quiseram responder. Esses
horas para cada espetáculo, 25% dos dados corroboram com os da motiva-
entrevistados utilizam entre três e cinco ção para a arte na rua, já que ilustram
horas por apresentação, 12,5% utilizam claramente a liberdade de ação e inde-
menos de uma hora, 4,2% utilizam en- finição de regras presente nessa prática
tre cinco e sete horas, 4,2% empregam artística. Como locais específicos para
entre sete e nove horas, e outros 4,2% as apresentações, foram citados a Es-
utilizam mais de nove horas. Esse dado quina Democrática (Rua dos Andradas
indica que a maior frequência é justa- com Borges de Medeiros), o Parque da
mente a que costumeiramente se en- Redenção, a Praça Parobé, a Rua dos
contra na duração de espetáculos em Andradas e a Praça XV de Novembro,
teatros, casas de shows e outros locais todos no centro de Porto Alegre; a Rua
tradicionais, informação relevante no José Bonifácio, na Cidade Baixa de
sentido de auxiliar uma possível orga- Porto Alegre; e o Trensurb (trem me-
nização em uma grade de apresentações tropolitano), que perpassa as cidades de
artísticas em um espaço público coleti- Porto Alegre, Canoas, Esteio, Sapucaia
vo ou público. do Sul, São Leopoldo e Novo Hambur-
Quanto à frequência de apresen- go (todos os locais citados situam-se na
tação, a maior parte informou que é diá- região metropolitana de Porto Alegre).
ria (29,2%), 25% disseram ser três vezes Quanto à infraestrutura neces-
por semana, 16,7% afirmaram ser sema- sária normalmente utilizada, 62,5%
nal, 12,5% afirmaram ser seis vezes por responderam “Outros”, 50% indica-
semana ou variada, e 4,2% disseram ser ram “Figurino”, 45,8% mencionaram
mensal. Essa questão ilustra a habitua- “Caixa de Som/Amplificador”, 41,7%
lidade das apresentações, demonstrando responderam “Microfone” e “Maquia-
que elas acontecem de forma contínua e gem”, 33,3% disseram “Bateria ou
frequente na cidade, e também auxilia gerador”, 29,2% indicaram “Banco
no entendimento e na organização de ou pedestal”, 8,3% citaram “Teclado/
uma grade de espetáculos. Piano” e “Triângulo”, e 4,2% disseram
Quanto ao hábito de ter uma agen- “Instrumentos andinos/indígenas”. Os
da ou rotina de apresentações ou local itens “Violino” e “Zabumba” não foram
fixo definido, 62,5% dos respondentes mencionados pelos entrevistados. Esses
informaram que não a têm, 29,2% res- dados se relacionam diretamente às mo-

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


OS ARTISTAS DE RUA DO RIO GRANDE DO SUL:
MAPEAMENTO DA ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA
51

dalidades artísticas dos respondentes e mais o seu trabalho. Propiciar formas


podem servir de base para uma política autônomas ou auxiliadas pelo poder pú-
pública de valorização da arte urbana, blico de cooperação ou agrupamento de
por meio do investimento em equipa- artistas pode ser um modo de estimular
mentos públicos culturais de livre uso. a permanência digna na rua, a melhoria
Além disto, podem subsidiar melho- da renda e a criação de mercados e es-
rias governamentais no que se refere à paços artísticos alternativos.
disponibilização de espaços equipados
em locais públicos para utilização livre 2.3.3. Dados e análise dos resultados:
pelos artistas de rua das cidades. Uma eixo político
política cultural nesse sentido auxiliaria
na criação de espaços públicos para a Nesta seção, são listados e ana-
cultura de rua, propiciando a melhoria lisados os dados referentes ao eixo po-
da visibilidade, da renda e da qualidade lítico. Sobre se os artistas têm conheci-
de vida dos artistas. mento da Lei do Artista de Rua de Porto
Sobre a forma de divulgação Alegre (Lei n.º 200/13) ou de alguma
do trabalho artístico, o “Boca-a-Bo- lei correspondente em seu município,
ca” teve 50% das citações, as “Mídias 54,2% responderam positivamente, e
Sociais (Facebook, Google+, Twitter 45,8% responderam negativamente.
etc.)” ficaram com 41,7%, “Não Divul- Essa situação é relativamente positiva,
go” e “Site/Blog” tiveram 29,2% das já que a ligeira maioria conhece a legis-
respostas, “Instagram/Flickr/YouTube lação de apoio e regulamentação à ativi-
e Similares”, “Folhetos”, “E-mail” e dade artística de rua, principalmente se
“Outros” foram citados por 12,5% dos for considerado que, no caso de Porto
sujeitos. Os artistas podiam escolher Alegre, não houve qualquer divulgação
mais de uma opção, motivo pelo qual institucional acerca desse tema e que a
o somatório das respostas é maior que lei ainda é recente em termos de apro-
100%. Esses dados mostram que a gran- vação na Câmara Municipal da cidade.
de maioria divulga o seu trabalho de al- Entretanto, é importante considerar que
guma forma, principalmente por meio grande parcela, embora não a maio-
de mídias gratuitas e de grande alcan- ria, desconhece a legislação específica
ce, como as baseadas na internet ou no para os artistas de rua da cidade. Essa
capital social. Demonstram, também, a situação precisa ser devidamente pro-
importância do acesso à internet para blematizada, pois o desconhecimento
os artistas, já que grande parte das for- precariza as relações político-sociais
mas de divulgação é dependente desse -institucionais, fragilizando a garantia
recurso, o que indica a necessidade de de direitos aos trabalhadores culturais e
criar um ponto de acesso sem fio (hots- mantendo o centro de poder nas mãos
pot wifi) nos locais públicos costumei- de quem detém o conhecimento, neste
ramente utilizados pelos artistas. caso, do poder executivo municipal.
Em relação aos coletivos, 62,5% Quanto a ser sindicalizado ou as-
dos entrevistados responderam que não sociado a entidades de classe, a ampla
pertencem a algum grupo de artistas de maioria (75%) afirma que não pertence
rua, sendo citados os seguintes grupos: a alguma instituição, 16,7% afirmam que
Som Central, Gracias Música, Eco, Ici pertencem, e 8,3% não souberam ou não
Ça Va, Grupo Viandantes de Teatro de quiseram responder. Esses fatos ilustram
Rua, Kombi Nación, Ankana Wikichu- a baixa participação coletiva em órgãos
na e Povo da Rua - Teatro de Grupo. classistas, possivelmente enfraquecendo
Esses achados indicam o individualis- a luta dos artistas por melhores condições.
mo ou a unicidade da ação do artista de Em relação ao cadastro na Se-
rua, possivelmente dificultando ainda cretaria Municipal de Cultura de Por-

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


52 Carlos Alberto Kalinovski Hoffmann

to Alegre ou de outra cidade, 83,3% traída pela maioria dos artistas é pequena
dos artistas afirmaram que não tem, e e não atende aos requisitos mínimos de
16,7% responderam que sim. Já quanto sobrevivência digna, o que indica uma
à Secretaria Estadual da Cultura do Rio situação preocupante que pode ser a cau-
Grande do Sul, 91,7% afirmaram não sa de uma eventual impermanência dos
ter cadastro, e 8,3% afirmaram ter. Por artistas nessa atividade.
fim, ao serem questionados sobre ca- Sobre o fato de os artistas te-
dastro no Ministério da Cultura, 91,7% rem algum tipo de registro empresarial
afirmaram não ter cadastro, 4,2% afir- (CNPJ), 66,7% responderam que não
maram ter, e outros 4,2% afirmaram têm, e 33,3% afirmaram que têm. Esse
não saber ou não querer responder. Os dado novamente corrobora o fato de que
números ilustram, primeiramente, a há baixa profissionalização da atividade
não aderência dos artistas a essas ins- e, consequentemente, uma renda menor.
tituições governamentais, que deveriam Em relação à presença de registro
dialogar profundamente com seu públi- de trabalho, 66,7% afirmaram não ter
co, e a menor aderência dos artistas à qualquer registro, 16,7% disseram ter
medida que a distância geográfica ou registro na Ordem dos Músicos do Bra-
hierárquica, em termos de poderes (mu- sil, e 12,5% afirmaram ter registro na
nicipal, estadual e federal), aumenta. Delegacia Regional do Trabalho. Essa
Como um óbvio reflexo dessa situação reflete, em conjunto com as an-
falta de relação com o poder público, teriores, a não vinculação profissional
100% dos entrevistados afirmaram não dos artistas, gerando uma situação de
ter apoio financeiro ou subvenção do desproteção e redução das possibilida-
poder público municipal, estadual ou des de associação e obtenção de renda.
federal. Tal situação escancara a distân- Sobre a existência de outra ocupa-
cia dos governos em relação aos artistas ção além da artística na rua, 58,3% afir-
de rua, já que não há qualquer política maram ter, 37,5% afirmaram não ter, e
de subvenção ou apoio financeiro para 4,2% não souberam ou não quiseram res-
fomento da arte urbana no estado. Dian- ponder. Esses dados se relacionam à ren-
te isso, torna-se essencial a aproxima- da obtida, que, sendo baixa, faz com que
ção do governo com os artistas, a fim de os artistas tenham de buscar outra fonte
possibilitar a melhoria da arte produzi- de recursos para a própria sobrevivência.
da e das condições sociolaborais. Dentre os que responderam que
tinham ocupação adicional, 41,7% se
2.3.4. Dados e análise dos resultados: declararam autônomos, 8,3% se decla-
eixo econômico raram estudantes e não souberam ou não
quiseram responder, e 4,2% disseram
Nesta seção, são listados e analisa- ser aposentados. Ninguém assinalou
dos os dados referentes ao eixo econômi- as opções “assalariado”, “empresário”
co. Quanto à faixa de renda mensal obti- ou “voluntário”. Novamente, a liberda-
da com a atividade cultural de rua, 50% de de ação e gestão do tempo aparece
recebem até R$ 1.085,00, 29,2% não quando a maioria dos artistas que tem
souberam ou quiseram responder, 12,5% outra ocupação atua como autônoma.
afirmaram receber entre R$ 1.085,01 e Por fim, quando questionados
R$ 1.734,00, e 4,2% mencionaram re- sobre qual seria sua atividade principal,
ceber de R$ 3.737,01 a R$ 7.475,00 e 62,5% referiram ser a de artista de rua,
acima de R$ 9.745,00. As faixas de R$ 20,8% afirmaram ser outra (apresentada
1.734,01 a R$ 3.737,00 e de R$ 7.475,01 na questão anterior), e 16,7% disseram
a R$ 9.745,00 não foram citadas pelos não saber ou não querer responder. Es-
entrevistados. A partir dos dados coleta- ses dados demonstram que os artistas
dos, é possível afirmar que a renda ex- realmente dependem mais do seu traba-

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


OS ARTISTAS DE RUA DO RIO GRANDE DO SUL:
MAPEAMENTO DA ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA
53

lho na rua do que de outras atividades, Em relação à satisfação geral dos artis-
sendo patente que atuar para qualificar e tas de rua quanto ao seu trabalho (Grá-
dignificar o trabalho dos artistas irá im- fico 3), fica claro que a grande maioria
pactar de forma positiva a sua arte e as dos entrevistados (83,3%) se sente sa-
suas vidas. tisfeita ou muito satisfeita. Isto mostra
que, apesar de todas as dificuldades, os
2.3.5. Dados e análise dos resultados: artistas gostam do que fazem e se com-
eixo livre prazem com a atividade artística de rua.

Nesta seção, são listados e anali-


sados os dados referentes ao eixo livre.

Gráfico 3. Satisfação geral como artista de rua

Ainda, 58,3% dos artistas afirma- sável pela autorização de trabalho vin-
ram não sofrer preconceito por causa culada ao território, também foi citada
da atividade cultural na rua. Como um algumas vezes, seguida de “vizinhos/
alerta, 33,3% responderam terem sofri- moradores”, “comerciantes” e “segu-
do preconceito, e 8,3% não quiseram ou ranças do Trensurb”. Essa grave situa-
souberam responder. Dentre os precon- ção escancara o despreparo do poder
ceitos sofridos, encontram-se questões público para lidar com a classe artística
de xenofobia, machismo e de as pessoas e revela questões para um importante
não entenderem a arte na rua como um debate social. A centralidade da Lei do
trabalho adequado ou digno. Essa si- Artista de Rua (ainda existente no esta-
tuação revela que ainda é preciso uma do apenas em Porto Alegre) é enorme
especial atenção pública para a elimina- e deve servir de garantia legal e salva-
ção do preconceito contra os artistas e guarda para os artistas populares na rua,
ilustra outra face dessa luta social pelo pelo menos na capital do estado.
respeito e pela dignidade individual. Em uma pergunta de resposta li-
Quanto a sofrer algum tipo de vre sobre qual seria a maior dificuldade
repressão por conta da atividade cul- como artista de rua, os entrevistados
tural, pergunta focada principalmente mencionaram questões diversas, tais
na relação com o poder público, 70,8% como, a repressão, a demora em conse-
dos artistas responderam positivamen- guir a liberação legal para o trabalho, a
te, 20,8% responderam negativamente, burocracia, a falta de um olhar especí-
e 8,3% não souberam ou não quiseram fico/projeto dos governos e de políticas
responder. Dentre as repressões sofri- públicas e do reconhecimento cultural e
das, a polícia foi mencionada diversas político da arte na rua, a falta de linhas
vezes. A prefeitura, vista como respon- de crédito específicas para o artista de

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


54 Carlos Alberto Kalinovski Hoffmann

rua, os problemas de não ter um local trabalho via internet ou contato pessoal
adequado e de infraestrutura, principal- e não pertencendo a qualquer grupo de
mente em termos de equipamentos ne- artistas de rua. Além disso, sob o viés
cessários, a falta de disciplina pessoal político, há o relativo desconhecimento
do próprio artista, o clima e as intem- legal e a baixa participação ou inter-re-
péries, a falta de parceiros para compor lação com a esfera pública governamen-
projetos na rua, a impossibilidade de ter tal. Já quanto ao eixo econômico, fica
acesso a outros espaços, como feiras e patente a informalidade nas relações de
exposições, a falta de cultura do público trabalho ou empresariais, a baixa renda
e uma espécie de aversão à arte e segre- auferida (até R$ 1.085,00) e presença
gação do artista, as dificuldades de rela- de outra ocupação paralela, mas com
cionamento com outros artistas de rua, a preferência pela artística. Ademais, os
polícia e os comerciantes, a dificuldade entrevistados consideraram-se, em sua
de deslocamento até os locais de traba- maioria, satisfeitos com a atividade na
lho e os problemas de convivência entre rua, embora sofrendo algum tipo de re-
os artistas, já que cada um se apresenta pressão por conta da atividade cultural e
em espaços geográficos próximos, ha- enfrentando diversos problemas ineren-
vendo concorrência entre as caixas de tes à classe artística.
som e os aparelhos de reprodução de Importante salientar, ainda, que
áudio de cada um. Tais dados eviden- esse “censo exploratório” é inédito em
ciam a existência de muitos problemas sua forma, em seu conteúdo e em sua
a serem enfrentados pela classe artísti- metodologia, não havendo qualquer
ca, que devem ser resolvidos por eles, outra pesquisa que verse sobre as prin-
pelo governo e pelo conjunto da socie- cipais questões referentes aos artistas
dade, tendo em vista sua complexidade urbanos do estado do Rio Grande do
e especificidade. De qualquer forma, é Sul ou nos outros estados, com exceção
essencial haver um interesse maior dos de São Paulo (SÃO PAULO TURIS-
atores políticos e sociais, objetivando a MO, 2012). Acerca da execução desta
resolução ou pacificação dessas impor- pesquisa, ressalta-se a dificuldade em
tantes questões. encontrar os artistas de rua, devido à
inconstância de locais, dias e horários.
3 Conclusão Com certeza, todos os artistas da cida-
de não puderam ser mapeados por con-
Nesta pesquisa, mostraram-se as- ta dessa variabilidade. Também houve
pectos culturais, sociodemográficos, po- uma dificuldade de acesso aos artistas,
líticos e econômicos dos artistas de rua. em virtude de não haver qualquer ca-
É relevante destacar, ainda, que, no ge- dastro sistematizado com o contato dos
ral, os artistas são brasileiros, gaúchos, artistas de Porto Alegre ou de qualquer
homens, brancos e solteiros, moram na outra cidade do Rio Grande do Sul.
região metropolitana de Porto Alegre ou Além disso, alguns artistas não quise-
na capital, possuem entre 18 e 35 anos ram ou não se interessaram em respon-
e têm, no mínimo, ensino médio com- der este estudo, impossibilitando a co-
pleto. Eles trabalham como artistas de leta de dados.
rua há até dez anos, sendo motivados É interessante ressaltar, ainda, a
pela “liberdade” e pelo “contato com o não ocorrência de artistas de grafite nes-
público”, se apresentando até três vezes te estudo. Isso se deve ao fato de que
por semana com sessões que duram en- estes não “se apresentam” ao público,
tre uma e três horas, não tendo rotina mas expõem sua obra em prédios, ca-
de apresentações definida ou local fixo, sas, fachadas e equipamentos urbanos
utilizando diversos equipamentos para em momentos de invisibilidade ou re-
a consecução artística, divulgando seu duzida circulação de pessoas. Também

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


OS ARTISTAS DE RUA DO RIO GRANDE DO SUL:
MAPEAMENTO DA ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA
55

é possível que não haja uma produção refere ao seu apelo visual e à sua inter-
cotidiana de grafites, já que esses ar- venção simbólica, já que ampliaria so-
tistas, quando permitidos por donos de bremaneira o escopo da pesquisa, além
imóveis ou pelo governo, atuam em de necessitar de requisitos conceituais
momentos específicos e temporários. na área das artes plásticas, para análises
Com o que foi traçado até aqui, de aspectos visuais, tópico que também
algumas limitações metodológicas pre- pode ser abordado em pesquisas poste-
cisam ser evidenciadas. Primeiramente, riores. Por fim, muitos outros temas a
conforme salientam Soto Torres e Fer- partir de diversas metodologias podem
nandez Lechón (2006), há a limitação ser trabalhados em decorrência deste
da variável histórica a partir de mode- estudo pioneiro e preliminar, tais como
los estatísticos e econométricos tradi- a antropologia etnográfica e visual, os
cionais como os aqui utilizados. Nesse problemas sociológicos e as questões
sentido, porém, o intuito desta pesquisa jurídicas, assistenciais, de gestão pú-
foi justamente o de mapear preliminar- blica e de fomento e patrocínio à arte
mente esse campo de pesquisa e abrir urbana.
espaço para estudos posteriores que in-
cluam análises longitudinais ou quali- Referências
tativas acerca do tema. Ressalta-se que
esta investigação é pioneira e que nunca
foi feito qualquer levantamento estru- ALVES, Manoel Rodrigues. O Domí-
turado sobre o tema no estado do Rio nio Público e Privado na Construção da
Grande do Sul. Ademais, há o limite da Cidade Contemporânea. In: Anais do
impossibilidade da presença física (para Seminário de História da Cidade e do
além da virtual) em todas as cidades do Urbanismo - Sessão temática 5 “Temas
estado, fato que, se viável, iria aumentar Emergentes”, v. 8, n. 5, 2004.
o número de entrevistados muito prova- BAKHTIN, M. A Cultura Popular na
velmente. Idade Média e no renascimento. São
Ainda, importa salientar que Paulo. HUCITEC, 1996.
esta pesquisa não se propôs a avaliar
a apropriação dos espetáculos e das BARDIN, L. Análise de conteúdo.
intervenções artísticas pelo público, já Lisboa: Edições 70, 2002.
que, segundo Lassau (2009, p. 43), “a BARROS, A. Espaço, lugar e local. Re-
avaliação dos efeitos e significados de vista da USP, n.40. São Paulo:dez/fev,
uma obra de arte no espaço público 1998-99.
exige métodos que considerem a espe-
cificidade/complexidade dos diferentes BLAUTH, L; POSSA, A. Arte, grafite
contextos [...]”, ficando essa questão e o espaço urbano. PALÍNDROMO –
como uma proposição de pesquisa fu- Programa de Pós-Graduação em Artes
tura. Nesse sentido, o consumo cultural Visuais – CEART/UDESC, nº 8, 2012.
pode ser abordado em estudos que fa- BRASILEIROS. São Paulo e Rio per-
çam um debate sobre o que é mostrado dem primazia como polo cultural do
no espaço público. Ainda, poderá ser Brasil, 2013. Disponível em: <http://
feita em estudos futuros, a partir de au- brasileiros.com.br/2013/11/sao-paulo-e
tores como Goffman e Bateson, dentre -rio-perdem-primazia-como-polo-cul-
outros, uma análise das performances tural-do-brasil/> . Acesso em: 19 out.
dos artistas de rua da cidade, a fim de 2016.
revelar questões do cotidiano urbano
das cidades. Ademais, não se buscou BURKE, P. A Cultura Popular na
refletir sobre o grafite e outras interven- Idade Moderna. São Paulo: Compa-
ções urbanas das artes visuais no que se nhia das Letras, 1989.

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


56 Carlos Alberto Kalinovski Hoffmann

CARTAXO, Z. Pintura em distensão. IBGE. Porto Alegre. Disponível em:


Rio de Janeiro: Oi Futuro/Secretaria do <http://cod.ibge.gov.br/232N8> . Aces-
Estado de Cultura do Rio de Janeiro, so em: 31/03/2014.
2006.
IBGE. Rio Grande do Sul. Disponível
CAVALCANTI, M. Em torno do carna- em: <http://www.ibge.gov.br/estado-
val e da cultura popular. Textos escolhi- sat/perfil.php?sigla=rs>. Acesso em:
dos de cultura e arte populares, Rio 21/03/2015.
de Janeiro, v.7, n.2, p. 7-25, nov. 2010.
KNAAK, B. Arte pública e espaço urba-
CERTEAU, M. A Invenção do Coti- no: marcas da Bienal do Mercosul na ci-
diano: 1. Artes de fazer. Petrópolis, RJ: dade de Porto Alegre. II Seminario sobre
Vozes, 1994. el arte publico en Latinoamerica. Dispo-
nível em: <http://www.ufrgs.br/napead/
DA MATTA, R. “Espaço, casa, rua e
repositorio/objetos/abarca/textos/POk-
outro mundo: O caso do Brasil”. In: A
naakb_arte-publica-e-espaco-urbano.
Casa & Rua. Espaço, Cidadania, mu-
pdf>. Acesso em: 02/03/2014. 2011.
lher e morte no Brasil. São Paulo: Bra-
siliense, 1997. LOSSAU, J. Arte no Espaço Público:
sobre as relações entre as perspectivas
FERRO, L. Da Rua Para o Mundo:
artísticas e as expectativas das políticas
configurações do graffiti e do parkour e
de desenvolvimento urbano. GeoTex-
campos de possibilidades urbanas. Tese
tos, vol. 5, n. 1, p. 37-57, jul 2009.
de Doutorado, Lisboa: ISCTE/IUL,
2011. MOREIRA, Carina Maria Guimarães.
Espaço Público, Espaço Político: um
FREITAS, S. Arte, Cidade e Espaço Pú-
olhar histórico sobre as relações entre o
blico: perspectivas estéticas e sociais.
teatro e seu espaço na contemporanei-
In: ENECULT 2005, I Encontro de Es-
dade. Anais do XXVI Simpósio Nacio-
tudos Multidisciplinares em Cultura da
nal de História – ANPUH • São Paulo,
Universidade Federal da Bahia, 2005.
julho 2011.
FREITAS, S. Os mosaicos de Bel Borba
PALLAMIN, V. Arte Urbana – São
na cidade do Salvador. Março de 2006.
Paulo: região central (1945-1998). São
Dissertação (Mestrado em Artes Vi-
Paulo: Annablume/Fapesp, 2000.
suais). Programa de Pós-Graduação em
Artes Visuais, Universidade Federal da PERUZZOLLO Adair C.; MAGGIONI,
Bahia, Salvador. 2006. Fabiano. Em Busca de Sentido para Pú-
blico e Privado. Disponível em: <http://
GARCIA, N. “Espetáculo de rua”: ma-
www.ciseco.org.br/index.php/artigos/
nifestações culturais no Largo Glênio
241-peruzzolo-maggioni>. Acesso em:
Peres e no Brique da Redenção na ci-
21/10/2016.
dade de Porto Alegre-RS. ILUMINU-
RAS, v. 6, n. 12, 2005. PORTO ALEGRE. Lei 200/13. Lei
Municipal. Porto Alegre, RS: Câmara
GIL, A. Como elaborar projetos de
Municipal de Porto Alegre, 2013.
pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991.
PORTO ALEGRE. Lei 12.112/16. Lei
GUATTARI, F. Caosmose: um novo
Municipal. Porto Alegre, RS: Câmara
paradigma estético. Tradução de Ana
Municipal de Porto Alegre, 2016.
Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão.
Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. PORTO IMAGEM. Turismo. Dispo-
nível em: <https://portoimagem.wor-
HABERMAS, Jurgen. Mudança es-
dpress.com/turismo/>. Acesso em: 19
trutural na esfera pública. Rio de Ja-
out. 2016.
neiro: Tempo Brasileiro, 1984.

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57


OS ARTISTAS DE RUA DO RIO GRANDE DO SUL:
MAPEAMENTO DA ARTE URBANA CONTEMPORÂNEA
57

SÃO PAULO TURISMO. Artistas de


Rua: levantamento e pesquisa de perfil.
Disponível em: <http://www.observato-
riodoturismo.com.br/?p=1411> . Aces-
so em: 31/03/2014. 2012.
SOTO TORRES, M.; FERNÁNDEZ
LECHÓN, R. Feedback Process in
Economic Growth: relations between
hours worked and labour productivity.
Proceeding... Conference System Dina-
mics, p. 1-20. Disponível em: <http://
www.systemdynamics.org/conferen-
ces/2006/proceed/papers/SOTO-170.
pdf> . Acesso em: 31/03/2014.

SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 29, n. 02, mai/ago 2016, p. 41 - 57

Você também pode gostar