Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA
DEMONSTRATIVA NA POLÍTICA DO
SÉCULO XVII SEGUNDO JOHN LOCKE
Este projeto visa oferecer uma definição sobre a ética demonstrativa na obra de John
Locke, que contribui ao nosso estudo sobre a Filosofia política desenvolvida na Inglaterra do
século XVII.
INTRODUÇÃO
John Locke foi o "pai" do Empirismo. Ele escreveu sobre vários temas como a
Propriedade Privada e a questão da linguagem. Mas neste trabalho quero me focar em uma
questão importante: a Ética Demonstrativa e sua importância na política do século XVII, na
Inglaterra. Como veremos ao longo do projeto, a Inglaterra passou por uns momentos
conturbados, como a Crise da Exclusão (1679-1681) e a Revolução Gloriosa (1688), mas nos
perguntamos onde se encaixa a ética empirista diante de todos esses episódios da História?
Como deve ser lembrado:
Desse modo, devemos explorar neste trabalho quais foram as origens epistemológicas
da ética demonstrativa, desde a identidade lógica, assim como sua importância na política
inglesa do século XVII. Utilizaremos vários manuais que analisam a filosofia de Locke,
como Nigel Warburton e John Yolton, além dos dois principais livros que tratam do tema que
pretendemos analisar: Dois Tratados sobre o Governo Civil e Ensaio Acerca do
Entendimento Humano.
JUSTIFICATIVA
De 1689 a 1707, em seus livros, nota-se que Locke sempre teve um ideal em que o
poder fosse entregue a burguesia. Para isso, ele não utilizou o princípio de identidade lógica,
em que é improvável que certa coisa seja diferente de si mesma, e até mesmo negou o
Argumento Ontológico que era válido para vários autores como Descartes ou São Tomás de
Aquino. Isso porque Locke era puritano e em muitas de suas obras ele defende que o poder
que é dado ao povo vem de Deus, mas Locke nega a existência de Deus, diferente de
Descartes que aceita sua existência. De acordo com Locke:
Sendo assim, uma das alternativas para provar a existência de Deus está presente na
prova “por contingência do mundo”, que para Locke (Ensaio Acerca do Entendimento
Humano, A Crítica ao Inatismo, p.8-10):
É desse atributo que se gera a Crítica ao Inatismo, feita por Locke. Isso gerou várias
questões que Locke trabalha mais tarde no Empirismo, como a questão da tabula rasa da
mente em que a alma humana é “(...) no momento do nascimento, como uma “tábula rasa”,
uma espécie de papel em branco, no qual inicialmente nada se encontra escrito” (LOCKE,
2012, p.10)
IDENTIDADE
Sendo assim, a Identidade não é considerada como um conceito inato, porém devemos
levar em conta que embora ela não esteja presente em nós ao nascer, elas não são motivos de
uma grande especulação perante os homens, o que faz com que se justifique a questão da
identidade como uma idéia que não é inata.
“Se a união dessas idéias perfaz a idéia de homem, então o mesmo corpo
sucessivo que não muda de repente deve, juntamente com o espírito
imaterial, entrar na composição da idéia de um mesmo homem. ” (LOCKE,
2012, p.352)
Enquanto para os católicos, essa idéia é abismal, devemos entender que Locke não faz
parte desse círculo, e está atacando com a doutrina da reencarnação, o catolicismo. Em
resposta a isso, Locke atacou a questão da Bíblia dizendo que nunca haveria três pessoas em
uma só natureza1. Além disso, Locke discute como os cristãos deveriam acreditar em Deus,
conforme a seguir:
“Para Locke, o que era necessário para ser um cristão era, basicamente, crer
que o Cristo era o Messias. Acreditar nisso acarretava, é claro, a crença em
que ele se ergueria entre os mortos; a sua ressureição era uma prova de ser o
Messias. Essas crenças também envolviam a noção de que o Cristo devolveu
1
Neste trecho, estamos nos referindo a religião de Locke: O Socianismo. Iniciado no início do século XVII, por
seu fundador Fausto Socino (1539-1604), que baseou sua teologia em seu tio: Lélio Socino (1525-1562).
Embora ela tenha crescido em grande parte da Europa Oriental (como a Transilvânia, Holanda e Polônia), de
acordo com Hugh T. Pope: “ A seita nunca teve uma grande voga na Inglaterra, era desagradável para os
protestantes que, menos lógico, talvez, mas mais conservador em suas opiniões, não estavam preparados para
ir para os comprimentos dos reformadores continentais. Em 1612, encontramos os nomes de Leggatt e
Wightman mencionados como condenados à morte por negar a divindade de Cristo. Sob a Commonwealth,
John Biddle foi destaque como um defensor dos princípios Socinian; Cromwell baniu para as Ilhas Scilly, mas
ele retornou com um ministro de habeas corpus e tornou-se de uma igreja independente, em Londres. Após a
restauração, no entanto, Biddle foi escalado novamente para a prisão, onde morreu em 1662.” (POPE, 2016)
Ela é considerada anti-trinitarista, em que as crenças, baseadas no Catecismo Racoviano, dizem que eles
recusam os mistérios, que a Bíblia deve ser interpretada pela razão, além de que a razão nos ajuda a entender
Deus, no entanto se exclui a sua imensidão e infinitude. Também se rejeita a doutrina do pecado original, no
entanto, eles creem na sua Unidade, sua eternidade, sua onipotência, sua justiça e sua sabedoria. Além disso,
celebram o batismo e a santa ceia, só que sem a graça divina de Deus.
a vida a todos os homens, a vida que “receberam de novo na ressureição. ”
(YOLTON, 1996, p.247)
Então, diante desse cenário religioso, Stillingfleet fez uma interpretação equívoca da
doutrina de Identidade de Locke. De acordo com Yolton:
Como entende-se aqui, essa questão abre o panorama para outro tipo de identidade: a
Identidade Pessoal. Ela seria a Identidade presente num homem inteligente, racional que é
igual a sua consciência de si mesmo, o que é uma característica essencial para o homem.
Sendo assim, ele não pode mudar quem ele é, pois, a sua consciência, desde o nascimento,
molda o eu mesmo presente no indivíduo, e não pode ser alterado.
Então, se nota que, na sua época, Locke descreve que o homem é um ser racional,
capaz de pensar, mas que possui uma consciência que determina que essa pessoa seja
diferente do outro, fisiologicamente e analogicamente, indo contra o homem racional de
Descartes.
Isso, no entanto, teve um certo preço, pois sua questão da Identidade Pessoal foi
considerada nociva por sacudir os alicerces da religião. Conforme Yolton descreve:
Como pode se ver, a questão da Identidade mostrou que Locke foi considerado como
um homem perigoso diante da religião, pelo fato das acusações, citadas no trecho acima.
COEXISTÊNCIA
Na coexistência, o nosso conhecimento é muito limitado, apesar de ser a maior e mais
importante parte de nosso conhecimento de substâncias. A coexistência, poucas vezes tem a
mente, uma percepção imediata de concordância ou discordância dessa natureza. É escasso,
portanto, nosso conhecimento intuitivo desse tipo; poucas são, aqui, as proposições evidentes
em si mesmas.
Esse conceito, apesar de não conter muitas informações sobre o nosso conhecimento,
é mencionada em quase todo o Ensaio Acerca do Entendimento Humano, nos livros Dois,
Três e Quatro.
No Livro Dois, Locke utiliza essa restrição do conhecimento para a mente e espíritos
imateriais, além dos gêneros de substâncias físicas. Ao restringir o conhecimento para o
espírito imaterial, forma-se uma idéia “daquelas operações em nossas próprias mentes, que
processamos diariamente em nós mesmos, como pensar, entender, querer, conhecer e o
poder de iniciar movimento.” (YOLTON, 1996, p.52). Enquanto que, na questão das
substâncias físicas, Locke faz menção a uma força desconhecida que unifica as qualidades
coexistentes. A única maneira de nós entendermos é por uma hipótese presente na Teoria
Corpuscular da Matéria. De acordo com Luciana Zaterka:
Com este exemplo, percebe-se que a sensação adquirida pelo tato é um dos fatores
essenciais para unificar as qualidades coexistentes, que no fundo, são tocar e sentir as coisas
presentes no mundo. Nota-se, então, que uma das funções da coexistência seria nos ensinar as
habilidades presentes no ser humano, como caminhar, sentir e pensar.
No livro Três, Locke aplica a questão da coexistência na essência das coisas. Nesse
caso, devemos levar em conta o significado da palavra “Essência”, que pode ser denominada
como “o ser mesmo de algo, como aquilo que faz de uma coisa o que ela é.” (LOCKE, 2012,
p.450). Sendo assim, outra denotação de essência seria a sua verdadeira imagem interna de
um objeto que nós podemos identificar, dependendo de quais sentidos nós utilizaremos.
Então, deve existir uma constituição real dependendo das idéias coexistentes. Para
isso, denominamos os objetos ao nosso redor como nomes. Mas daí percebemos que a
questão da coexistência, no Livro três, serve para criticar os universais, como Platão,
Aristóteles, Abelardo, Porfírio, São Tomás de Aquino, Duns Escoto e até mesmo o
nominalismo presente em Guilherme de Ockham2. O trecho de Maria do Livramento
Rodrigues Soares Salgado confirma o nosso argumento:
2
Guilherme de Ockham (1288-1347) foi um filósofo e teólogo medieval inglês que escrevia sobre a liberdade e
o livro-arbítrio presente no ser humano. Também foi uma pessoa de suma importância para o nominalismo,
em que se dá nomes para os conceitos universais, e para a epistemologia. Além disso foi fundador da famosa
"Navalha de Ockham" em que ao se explicar certo fenômeno, deve-se haver poucas premissas para explicá-la.
No fim de tudo, nota-se que a coexistência foi fundamental para a crítica dos
universais, além do seu vocabulário.
No Livro Quatro, a coexistência serve para reunir idéias que se entrelaçam com o
conhecimento real. Locke dá um exemplo claro disso nesse trecho a seguir:
No fim das contas, podemos definir que a coexistência segue um processo em que
certas idéias simples são descobertas na natureza pela coexistência, que logo se tornam idéias
complexas, que no fundo, nos ajudam a descrever a essência e o formato de um objeto. Isso
nos faz criar nomes para esse objeto e depois a mente arquiteta sua essência interna, para que
nós pensemos sobre o objeto no mundo.
RELAÇÃO
A relação tem como função considerar qualquer idéia que é comparada com outra.
Nesse caso, devemos entender que não há só ideias complexas e simples originadas dessa
fórmula, podem haver várias como o entendimento que “(...) pode como que distender a ideia
mesma, ou então, para ver além dela, se é conforme uma a outra. (LOCKE, 2012, p.332)
Então, se qualquer idéia nos é comparada, então nós podemos dar certos nomes a
essas idéias que são parecidas uma com a outra. Isso é um erro, pois isso torna-nos difícil
compreender qual idéia estamos relacionando com a derivada.
Desse jeito, muitos nomes têm relação com as idéias, o que faz com que abra uma
categoria, chamada denominações externas. Nela, as palavras que damos a certos objetos tem
que estar presentes no nosso conhecimento real. Caso contrário, ela se torna uma referência,
em que a palavra provém da mente e que pode ser tanto real como fictícia. O trecho a seguir
comprova o meu argumento:
“Se a ideia está na coisa a qual aplica o seu nome, ela é positiva, é
considerada como unida à coisa denominada e como existindo nela; mas, se
surge de uma referência, que a mente encontra nela, a algo distinto dela, que
entra em consideração, então a ideia inclui uma relação. ” (LOCKE, 2012, p.
333-334)
Nota-se, então, que se pode dar nomes para várias coisas específicas, não importa se
forem geradas de idéias simples ou complexas, é possível dar nomes a qualquer objeto
presente à sua frente, mas caso não haja uma referência do nome a um objeto, a relação e a
denominação do objeto não acontece.
Para que haja a relação, deve-se apresentar duas idéias que sejam diferentes uma da
outra. Depois, considere os seguintes pontos:
1. “Não há ideia, substância, modo, relação e nome que não seja capaz de uma
consideração quase infinita por referência a outras coisas, consideração que
responde por uma parte nada desprezível dos pensamentos e das palavras dos
homens. ” (LOCKE, 2012, p. 335)
2. A relação, que pode não ser derivada da existência real das coisas, ocorre do
fato de que a representação das ideias pelas palavras ser bem clara e distinta
que daquela da coexistência.
3. Apesar de possuir infinitas considerações, grande parte das relações jazem de
idéias simples, que, por si só, são a grande fábrica de nosso conhecimento.
4. Como a relação é “a consideração de uma coisa com outra extrínseca a ela, é
evidente que são relativas todas as palavras que impelem a mente a qualquer
ideia que não se supõe necessária para a existência da coisa à qual se aplica
a palavra. ” (LOCKE, 2012, p. 337)
Diante dessas premissas, percebe-se que Locke, neste tema, utiliza novamente o
nominalismo, presente em vários autores da filosofia, como Guilherme de Ockham e Pedro
Abelardo, mas para refutar a querela dos universais. Isso envolve várias temáticas como as
ideias e a essência, além de Locke utilizar a lógica aristotélica, que foi fundamental para a
formação do Empirismo, como ferramenta de refutação. O trecho, de Maria Salgado
exemplifica o meu argumento:
“A esta proposição ele remete como exemplo uma criança e um idiota para
mostrar que não são todas as pessoas que conhecem esta afirmação, dirá
aceitá-la. No exemplo demonstra que até estes indivíduos absorverem a
veracidade ou falsidade passarão por processos que pra se chegarem a eles
necessitam de algumas demonstrações, ou seja, precisam experimentar. ”
(SALGADO, 2013)
É claro que os Idealistas vão rebater esse argumento, dizendo que eles podem
processar na memória, mesmo tendo razão, mas Locke diria que é impossível que isso
aconteça.
Como as palavras, para Locke, são abstratas, podemos dizer que o abstrato é o
intocável, que não pode ser analisado nem ser concreto.
Dito isso, é considerável dizer que Locke, na questão da relação, ao ir contra os
universais, está indo contra o Inatismo, ao tratar da origem da essência e o que o ser humano
pode conhecer.
EXISTÊNCIA REAL
Até esse ponto devemos considerar a essência das coisas, que está bem longe de ter
uma existência particular e que, consequentemente, não nos concede um conhecimento de
existência real. Neste caso, consiste a definição de abstração: “considerar a ideia existindo
apenas no entendimento. ” (LOCKE, 2012, p.679)
Outro exemplo de elemento que não concede existência são as proposições universais.
Sendo assim, percebe-se que Locke possui uma querela com os universais. O trecho a seguir,
evidencia a minha questão:
Esse argumento nos leva a entender que o Empirismo de Locke possuía certas raízes
no racionalismo, embora ele tenha usado a questão da tabula rasa para mascarar essa
segunda doutrina. Embora muitos autores, como George Berkeley e David Hume, tenham
sido influenciados por Locke, alguns parecem ter criticado parte de seu racionalismo. De
acordo com José Maia Neto:
Então, com esse trecho, percebe-se que o princípio empirista, de Locke, de Relação,
não leva a um contexto racional, similar ao de Empiristas Médicos, mas ao do Empirismo
Britânico, que mais tarde David Hume usará essa inspiração para escrever seu livro
Investigação sobre o Entendimento Humano (1748).
Quando a pessoa sente o seu próprio corpo, ela está ciente que está presente no
mundo, mas ainda duvida de tudo ao seu redor, daí que vem a questão da tabula rasa de
Locke, que diz que sua mente é como uma folha em branco. Esse aspecto nos leva a
entender que a experiência que a pessoa testemunhou por toda a sua vida é o que forma o
seu conhecimento do mundo.
Uma curiosidade é que essa experiência nos mostra o nosso conhecimento intuitivo de
nossa existência, o que nos responde pergunta clássica da filosofia “quem nós somos? ”.
Locke escreve isso para combater outra corrente filosófica, o Ceticismo, que possui
nomes importantes como Pirro e Michel de Montaigne, e que apoia que a verdade é
inatingível, levando a um estado eterno de dúvida de si mesmo e do mundo ao seu redor.
Essa doutrina possui um teor inato, pois se tem dúvida que abrange a metafísica, a
religião e o real. O trecho a seguir robustece o meu argumento:
“Se há céticos tão contumazes que negam sua própria existência (pois
duvidar realmente dela é manifestamente impossível), que eles desfrutem por
mim a felicidade de ser um nada até que a fome ou outro incômodo
convença-os do contrário. ” (LOCKE, 2012, p. 680-681)
“Se, portanto, sabemos que existe um ser real, e que a não-entidade não
pode produzir nenhum ser real, isso demonstra com evidência que algo existe
eternamente, pois o que não é eterno tem um início, e o que tem início é
produzido por algo. ” (LOCKE, 2012, p.681)
Então, notamos que Deus é quem cria esses seres, que é o mais poderoso, inteligente e
sábio que já existiu eternamente. Como a religião sempre deu nomes a Deus, como Jesus
Cristo, Javé, Alá ou Yeshua, nós descobrimos que o Deus de Locke, apesar de ser
puritano, é o Deus criado pela razão, similar ao Deus de Descartes. O extrato a seguir
avigora o argumento:
Sendo assim, nós definimos que Deus existe porque nossa razão a cria, não importa
qual a sua religião, ele sempre será alguém superior a nós.
Com esse argumento, dá para perceber que Locke foi criticado por muitos grupos
religiosos, como os ateus, aumentando a sua infâmia entre a religião. O fragmento de
Yolton fortifica o assunto a seguir:
Diante disso, nota-se que somente faz parte da existência de todas as coisas, as Idéias
simples e abstratas. Enquanto que as idéias complexas tenham certos arquétipos, que seria de
onde a mente supõe que as idéias teriam sido extraídas, elas são um reflexo de sua idéia real.
Conforme Yolton descreve na sua definição:
Então, nota-se que Idéias complexas, embora sejam cópias de idéias simples e
abstratas, elas não fazem parte da existência real, o que as exclui da existência de todas as
coisas presente no mundo.
CONHECIMENTO
Como podemos perceber, o Empirismo é uma linha filosófica que teve seus
primórdios na Grécia Antiga, com Aristóteles, e influenciou vários filósofos como
Guilherme de Ockham, Francis Bacon e Thomas Hobbes. Mas um dos autores que vou
destacar é considerado o pai do Empirismo que se chama John Locke. Pudemos notar que
o Empirismo de Locke, embora tenha tido sido criticado mais tarde por seus
contemporâneos que diziam que possuía certos conceitos do Racionalismo, acoimou
diversos campos da religião, como o Ateísmo, além de admoestar o Inatismo, proveniente
de Descartes, que também foi uma justificativa de tentar fazer um debate aos universais, e
exprobrou os céticos, que mais tarde o Bispo Stillingfleet diria que sua filosofia levaria a
um Ceticismo, assim como Berkeley falou que o Ceticismo poderia voltar-se contra o
Empirismo. Ainda diante dessa chuva de críticas, percebemos que Locke é um filósofo
importante que merece ser estudado, pois de acordo com Edgard José Jorge Filho, em seu
livro, Moral e História em John Locke (1992):
Nós tentamos aqui abordar brevemente a função das idéias no conhecimento humano.
A visão de Locke sobre o homem é que ele é racional, com uma consciência diferente das
outras pessoas. Sendo um homem racional, ele consegue criar idéias simples, presentes na
natureza, para descrever os objetos que estão a nossa volta, o que nos possibilita criar nomes
a tudo que existe. Sendo isso, ele pode pensar nas idéias simples e complexas, mas ele não
pode pensar em idéias abstratas, pois elas são vazias e invisíveis ao ser humano. Ele defende
que ao conhecer a si mesmo e os objetos presentes ao nosso redor, o ser humano, no final,
tem consciência de que um Deus o criou, e tudo ao seu redor. Então, ao conhecer a si mesmo,
o homem conheceria o mundo todo, e com isso iniciaria uma defesa de um modelo de
autobiografia. O livro de Massaud Moisés reforça o meu argumento:
Sendo assim, Locke presume que o ser humano é livre para escolher o que quer
conhecer, através da sua vontade, para se sentir esclarecido de grande parte das dúvidas inatas
ou céticas. Mas visto que grande parte do conhecimento limitado que o ser humano quer
procurar com base no futuro, a pessoa pode se sentir enganada pelo fato da perspectiva do
outro ser diferente da dele. Dessa forma, Locke decide a questão da vontade do ser humano
de conhecer como o mal-estar como o conhecimento finito e insuficiente. É daí que surge
uma solução, como Rovighi descreve a seguir :
Então, conforme o trecho descreve, a solução para a questão da vontade como mal-
estar, seria que esse conhecimento fosse catalogado como algo universal e que signifique algo
que não mude a visão dos outros.
ÉTICA DEMONSTRATIVA
Dessa forma, Locke começa a construir uma ética demonstrativa, pela vontade divina
e pela questão da moral. No entanto, Locke argumenta que o homem pode descobrir sua lei
natural através de sua própria visão do mundo, definindo o que é certo e o que é errado. O
trecho de C.A.Viano comprova o meu argumento :
“Para fazer uma ética demonstrativa bastava admitir que "os homens
podem construir regras para alcançar o bem, e que as tradições não contêm
só elementos positivos ou elementos negativos". Assim, "a lei da natureza
perdia o aspecto de um plano providencial sobreposto às tradições e às
instituições (...) e se configurava como a máxima generalização das
condições de possibilidade das relações livremente estipuladas entre os
indivíduos...” (VIANO, 1961, p.174; apud ROVIGHI, 2015, p.245)
De acordo com este trecho, nota-se que a ética demonstrativa está voltada a teologia,
e como resultado ele começa a discutir sobre o Evangelho. Então se nota que a ética
demonstrativa e a moral possuem preceitos que vão ser utilizados na sua obra política mais
importante: Dois Tratados sobre o Governo Civil.
QUESTÕES POLÍTICAS
Neste caso, o homem quando está no Estado de Natureza, ele é livre para agir, porém
devemos enfatizar que a liberdade do homem é limitada pelas leis divinas, pois Deus fez o
homem a sua semelhança, o que faz com que suas leis proíbam de ele não ferir os seus
semelhantes, nem roubar da propriedade dos outros, senão o outro indivíduo pode retribuir
justamente.
Então, como se vê, para que os homens não abusem dos seus interesses é que o
homem deve fazer uma transição do estado de natureza para a sociedade organizada, através
de um acordo mútuo em que o indivíduo renuncie do direito de imposição de castigos a um
indivíduo que transgrida as leis naturais e deposite seu poder de fazer as leis para outro
indivíduo que aja em prol da humanidade. Porém, levemos em conta que isso não quer dizer
que o indivíduo a quem o outro deposita seus poderes e direitos seja um indivíduo mais cruel
e maligno, pois ele pode estar propenso a alterar as leis naturais, fazendo com que o outro
tenha que derrubá-lo para que seja evitado um novo estado de guerra. Diante disso, percebe-
se que os Dois Tratados sobre o Governo Civil se torna uma desculpa para derrubar os
tiranos que governam nas cidades e menosprezam o povo. O excerto de Warburton
fundamenta o meu argumento:
Eis a visão política de Locke, os indivíduos são livres para fazer o que quiser, porém
quando nós buscamos um governo pacífico, devemos tomar cuidado em escolher a quem nós
entregamos os nossos direitos, pois senão eles estarão nos condenando a um eterno Estado de
Guerra.
Como se nota, a visão de Locke parece ser um pouco radical, pelo fato de que o povo
pode derrubar o governo ou seguir as regras dele. Mas levemos em conta que o contexto da
Inglaterra do século XVII, em que há a divisão entre os Whigs e os Tories. O excerto de John
Rawls complementa mais sobre a questão histórica:
“O problema de Locke é completamente diferente, bem como as
suas suposições, como seria de esperar: o seu objetivo é fornecer uma
justificação para resistir à Coroa dentro do contexto de uma constituição
mista. Trata-se de uma constituição em que a Coroa participa na autoridade
legislativa, e portanto, a legislatura (isto é, o Parlamento) não pode exercer
sozinho a soberania total. Locke preocupa-se com este problema porque está
envolvido na Crise da Exclusão de 1679-1681, assim designada porque os
primeiros Whigs, conduzidos pelo conde de Shaftesbury, tentaram excluir o
irmão mais novo de Carlos II, James, então duque de York, da sucessão ao
trono.” (RAWLS, 2007, p.136)
Então, como se nota, a razão pela qual ele escreve os Dois Tratados sobre o Governo
Civil se deve a sua participação na Crise da Exclusão (1679-1681). Esse episódio se trata de
uma tentativa de exclusão da sucessão no trono inglês de Carlos II, pelo fato de seu irmão o
Rei Jaime II ter-se convertido ao Catolicismo. Os Tories iam contra a sua conversão,
enquanto que os Whigs eram a favor dela. No caso de Locke, ele escreveu os Dois Tratados
sobre o Governo Civil como panfleto político do lado dos Whigs não só para defender a
causa do catolicismo, mas para defender o projeto de exclusão de Jaime II no trono. Por isso
se explica porque Locke escreve sobre o povo tentar derrubar o governo e pelo fato de sua
ética demonstrativa ter tido uma pegada teológica, ele escreve para refletir o seu contexto do
século XVII, em que apoiou fervorosamente os whigs. Dois anos depois, o conde de
Shaftesbury, Lorde Anthony Ashley Cooper, falece e Carlos II retoma o poder, ainda que vá
morrer em 1685 e assume Jaime II, porém logo se percebe que seu reinado não é o que
aparenta ser, e conforme descrevemos acima, o poder de um indivíduo foi dado a um outro
que possuía tendências equívocas comparadas ao outro irmão. O fragmento de Leroy (1985)
corrobora o meu argumento:
É assim que nós notamos a verdadeira intenção de Locke para escrever os Dois
Tratados sobre o Governo Civil, ele escreve para que o povo siga as regras do governo, mas
mesmo que eles se sintam sobrepujados, eles têm o direito de derrubar esse rei que governa
com más intenções com o seu país de origem.
Como pudemos ver, John Locke fez várias contribuições as várias áreas específicas,
desde a Teologia, a Ética e até mesmo a Política. Alguns podem dizer que ele foi um pouco
complexo, devido ao radicalismo das suas teorias, mas ele teve uma tamanha influência em
vários autores importantes como Voltaire, Condillac. Um trecho de Hans Aarsleff
complementa este parágrafo:
“Sua influência na história do pensamento, sobre a maneira de
pensarmos sobre nós mesmos e sobre nossas relações para com o mundo em
que vivemos, para com Deus, a natureza e a sociedade, tem sido imensa. Sua
principal mensagem era para que nos situássemos livres do peso da tradição
e da autoridade, tanto na teologia como no conhecimento, ao mostrar que
todos os fundamentos de nossa conduta correta no mundo podem ser
assegurados pela experiência que podemos obter por meio das faculdades e
poderes inatos com que nascemos.” (AARSLEFF, 2011, apud CHAPPELL,
2011, p.307)
No fim de tudo, Locke formou um panorama que mudou a Inglaterra do século XVII
com suas teorias políticas e religiosas, voltadas para os whigs, que também influenciou na
formação do século XVIII na França.
OBJETIVOS
METODOLOGIA
Para este trabalho, utilizarei os intérpretes de Locke, como além de outros autores de
Filosofia Política e abordarei as obras de Locke, Dois Tratados sobre o Governo Civil e
Ensaio acerca do Entendimento Humano à luz da corrente empirista inglesa.
Para demonstrar essa resistência ao poder tirânico do rei, ele demonstra nos Dois
Tratados sobre o Governo Civil que já existiu essa tirania na Inglaterra no final dos anos
1600. Primeiramente, ele denomina a tirania como "ultrapassar a lei, violar a vontade
pública, empregar a força sem autoridade, e assim por diante" (ASHCRAFT, 2011, apud
CHAPPELL, 2011, p.284). Depois Locke exemplifica a tirania através do caso em que o
poder executivo impeça qualquer ação e decisão do legislativo, resultando num estado de
guerra com o seu próprio povo, que pode ser evitado ao restaurar os poderes legislativos.
Caso o Executivo recuse invocar a legislatura, o povo é privado de seu direito de ter uma
legislação eleita, dando ao povo "uma liberdade de apelar aos céus" para justificar a sua
resistência em concordância com a " lei antecedente e superior a todas as leis positivas", ou
seja, com a lei de natureza" (ASHCRAFT, 2011, apud CHAPPELL, 2011, p.285-286). Essa
liberdade é um dos componentes principais da Ética Demonstrativa, em que Locke
fundamenta-se com base na lei divina. Sendo assim, Locke sugere depois um dissolvimento
do governo político, em que o poder volta as mãos do povo, fazendo um paralelo a Crise da
Exclusão (1679-1681) e aos episódios da Revolução Gloriosa (1688).
Levando isso em conta, percebemos que diante desse contexto histórico, o lugar do
Empirismo e das discussões com Descartes. Embora se embase no conhecimento humano,
nos foquemos num fundamento intrigante da disputa entre os dois: a questão do bem e do
mal. Para Descartes, o bem é aquilo que define o ser humano como humano, enquanto que o
mal é o nosso cogito, ou seja, maneira de pensar. Como Descartes é racionalista, ele apoia o
inatismo, em que o ser humano tem imbutido nele grande parte do conhecimento humano e
nesse caso, o bem e o mal seriam as definições de quem é o homem e como ele pensa. No
caso de Locke, o bem é aquilo que o indivíduo interpreta com base na sua vontade, enquanto
que o mal estaria fundamentado nos prazeres. Como se vê, essas questões, para Locke, têm
como fundamento as sensações, que são idéias de mundo exterior. Assim, ele rejeita o
inatismo, mas essa questão se torna inaceitável e alguns comentadores até dizem que "A
filosofia aristotélico-tomista já havia oferecido um meio-termo para essa questão filosófica,
como demonstra Thonnard. Para a escolástica medieval, as nossas ideias abstratas
exprimem realmente às essências das coisas, mas em modesta medida" (PIMENTA, 2013).
Como consequência, ele não tem escolha, senão apelar para esse inatismo.
No fim de tudo, ele não consegue definir quem é o ser humano, ele apenas consegue
mostrar o papel dele na sociedade política.
CRONOGRAMA
Levantamento x x x x
Bibliográfico
Coleta de Fontes x x x
Disciplinas x x x
Análise de x x x x x
Fontes
Apresentação em x x x
evento científico
Redação do x x x
trabalho
Revisão/Entrega x
Defesa x
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fontes:
Bibliografia: