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11/05/2020 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra

Acórdãos TRC Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra


Processo: 1017/15.6T8CBR.C1
Nº Convencional: JTRC
Relator: RAMALHO PINTO
Descritores: ACIDENTE DE TRABALHO
REPARAÇÃO
LEI APLICÁVEL
ATUALIZAÇÃO DAS PENSÕES
Data do Acordão: 06-03-2020
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso: TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE COIMBRA - JUIZO DO TRABALHO DE
COIMBRA – JUIZ 1
Texto Integral: S
Meio Processual: APELAÇÃO
Decisão: ALTERADA
Legislação Nacional: LEI Nº 2127, DE 3/08/1965; LEI Nº 100/97, DE 13/09; LEI 99/2009, DE 4/09.
Sumário: I - Tendo o acidente de trabalho ocorrido na vigência da Lei nº
2127, de 3 de Agosto de1965, regulamentada pelo Decreto n.º
360/71, de 21 Agosto, é este o regime legal aplicável.
II - Com a entrada em vigor da Lei 100/97, de 13/9, as pensões
emergentes de acidente de trabalho continuaram a ser susceptíveis
de atualização apenas para os casos de incapacidade permanente
(fosse ela parcial com coeficiente de desvalorização igual ou
superior a 30%, fosse ela absoluta ou fosse absoluta para o
trabalho habitual), ou por morte – artº 39º, nº 2, mas agora nos
termos em que o fossem as pensões do regime geral de segurança
social, como dispõe o artº 6º do DL 142/99, de 30/04.

III - Depois, a Lei 99/2009, de 4/09 – que regula o atual regime de


reparação de acidentes de trabalho e de doenças profissionais
(NLAT), veio revogar a Lei 100/97 e o respectivo regulamento (DL
143/99), mas não afectou o DL 142/99, de 30/04, que não foi
revogado (expressa ou tacitamente), nem tão pouco alterado para
se adequar ao novo regime de pensões actualizáveis, pelo que é este
diploma que continua a reger as actualizações das pensões devidas
por acidentes de trabalho.
Decisão Texto Integral:

Acordam no Tribunal da Relação de Coimbra:


Nesta acção emergente de acidente de trabalho,
em que é beneficiária M..., patrocinada pelo MºPº, e entidade
responsável A...- COMPANHIA DE SEGUROS, SA, a
seguradora apresentou o seguinte requerimento...
Na sequencia de promoção do MºPº, foi proferido o
seguinte despacho:
www.dgsi.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/8f99be9d4513649c80258529003cf031?OpenDocument 1/11
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“Requerimento refª :
Alegando nos termos melhor expostos no
requerimento em apreço, informa a Seguradora ter procedido
aos acertos devidos, na pensão da beneficiária, M..., dado a
mesma ter atingido os 66 anos em 29/04/2018, indicando o valor
de €2.209,44 para a atualização desde 01/01/2019.
Em Vista que se determinou pronunciou-se o
Ministério Público, nos termos melhor constantes da douta
promoção que antecede, que se dá, por integralmente
reproduzida, indicando o valor de €1.940,38, para a mesma
pensão.
Compulsados os autos constata-se que o
acidente neles em causa e que vitimou o sinistrado, J..., ocorreu
em 01 de maio de 1989, pelo que se regia pela Lei 2127 de 3 de
Agosto de 1965, cuja, no que ora releva e na Base XIX estatuía
” Se do acidente resultar a morte, os familiares da vítima
receberão as seguintes pensões anuais: a) Viúva, se tiver
casado antes do acidente: 30 por cento da retribuição-base da
vítima até perfazer 65 anos, e 40 por cento a partir desta idade
(…)”
Assim e com base no normativo supracitado e
caso não tivesse havido alteração do mesmo, teria sido aos 65
anos de idade, que a pensão da beneficiária - viúva do
sinistrado – se teria de ter alterado.
Porém e conforme resulta da Lei 22/92 de 14/08,
publicada no Diário da Republica n. º 187/1992, Série I-A de
1992-08-14, foi a aludida Base XIX, alterada, no que aqui releva
para:
“1 - Se do acidente de trabalho ou da doença
profissional resultar a morte, os familiares da vítima receberão
as seguintes pensões anuais:
a) Cônjuge - 30% da remuneração base da
vítima até perfazer a idade de reforma por velhice e 40% a partir
daquela idade ou no caso de doença física ou mental que afete
sensivelmente a sua capacidade de trabalho;” (negritos nossos).
Assim, passou a ser de se atender, à idade da
reforma por velhice, para alteração, da pensão da beneficiária,
cuja, em 2018, era de 66 anos e 4 meses conforme Portaria
99/2017, de 7 de março.
Ora, não tendo havido qualquer remição a levar
em conta e tendo presente que a atualização ocorrida em
01/01/2018, fixava a pensão em €1.736,20 – vd. Informação da
Seguradora de folhas 86 com confirmação do Mº. Pº. de folhas
87 e validação judicial a folhas 88 - e tendo a beneficiária
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atingido os 66 anos e 4 meses de idade, em 29/08/2018,


afigura-se-nos que os valores a considerar serão de:
A partir de 29/08/2018, €2.314,93 -
1.736,20:0,30X0,40.
A partir de 01/01/2019, €2.351,97 – Portaria nº
24/2019, de 17 de janeiro (Pensão de 2018 x 1,016 = Pensão de
2019 ).
Uma vez que os valores apresentados não
correspondem ao cálculo ora efetuado notifique-se a
Seguradora e abra-se Vista ao Ministério Público, para que
informem o que tiverem por conveniente”.
Na sequência da respetiva notificação, veio a
seguradora apresentar o seguinte requerimento:
...
Face ao que foi proferido o seguinte despacho:
“Conforme já referimos no nosso despacho
datado de 08/07/19, que aqui damos por integralmente
reproduzido, a beneficiária, M..., atingiu a idade da reforma em
29/08/2018.
Assim e como também já referimos no despacho
a que supra aludo, não tendo havido qualquer remição a levar
em conta e tendo presente que a atualização ocorrida em
01/01/2018, fixava a pensão em €1.736,20 – vd. informação da
Seguradora de folhas 86 com confirmação do Mº. Pº. de folhas
87 e validação judicial a folhas 88 - e tendo a beneficiária
atingido os 66 anos e 4 meses de idade, em 29/08/2018,
atualizo a sua pensão nos seguintes termos:
A partir de 29/08/2018, para €2.314,93 -
1.736,20:0,30X0,40.
A partir de 01/01/2019, para €2.351,97 – Portaria
nº 24/2019, de 17 de janeiro (Pensão de 2018 x 1,016 = Pensão
de 2019).
Com cópia do despacho de 08/07/2018, notifique,
sendo a Seguradora, para proceder em conformidade, juntando
comprovativo do pagamento aos autos”.
x
Inconformada com o decidido, veio a Ré -
seguradora interpor recurso de apelação, onde formulou as
seguintes conclusões:
1ª- Os presentes autos de acidente de trabalho têm
origem no acidente ocorrido em 1 Maio 1989 e do qual resultou
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a morte do sinistrado J... Atendendo à referida data, o seu


regime de reparação é o constante da Lei 2127, de 3 Agosto
1965, regulamentada pelo Decreto n.º 360/71, de 21 Agosto.
2ª- De acordo com o disposto na Base XIX da
referida Lei 2127, na redação que a mesma apresentava em
vigor em 29 Novembro 1990 (data da realização da Tentativa de
Conciliação), “Se do acidente resultar a morte, os familiares da
vítima receberão as seguintes pensões anuais: a) Viúva, se tiver
casado antes do acidente: 30 por cento da retribuição-base da
vítima até perfazer 65 anos, e 40 por cento a partir desta idade
(…)”
3ª- Do auto de conciliação, homologado por
sentença, consta que à viúva do sinistrado é fixada “a pensão
anual, no montante de 122.400.00, até perfazer a idade de 65
anos e a pensão anual de 163.200.00, a partir dos 65 anos, a
partir do dia 30 de maio de 1989”.
4ª- A Lei n.º 22/92, de 14 de Agosto alterou a
Base XIX da Lei n.º 2127, de 3 de Agosto de 1965, com efeitos
desde 6 de Outubro de 1988, passando a mesma a determinar,
no seu número 1, que “Se do acidente de trabalho ou da doença
profissional resultar a morte, os familiares da vítima receberão
as seguintes pensões anuais: a) Cônjuge - 30% da
remuneração base da vítima até perfazer a idade de reforma por
velhice e 40% a partir daquela idade ou no caso de doença
física ou mental que afecte sensivelmente a sua capacidade de
trabalho;”
5ª- Face a este quadro legal, a beneficiária M...,
viúva do sinistrado, tem direito a receber uma pensão
actualizada a partir da idade de reforma por velhice,
actualmente, fixada nos 66 anos e 4 meses (Portaria 99/2017,
de 7 de março).
6ª- A referida beneficiária atingiu, em 29 Agosto
2019, a idade de reforma por velhice. Por isso, a partir dessa
data, tem direito a receber, de acordo com a referida Base, uma
pensão de valor diferente daquela que vem recebendo desde a
morte do sinistrado, por aplicação da percentagem de 40%.
7ª- Interpretando a norma legal, de acordo com
as regras hermenêuticas expressas no Art.º 9º do Código Civil, a
percentagem de 40% tem, necessariamente, de se referir à
“remuneração base da vítima”.
8ª- Não tem o mínimo de correspondência no
texto da lei o cálculo da pensão efectuado pelo Tribunal a quo,
com base na tese de que essa percentagem se reporta ao
próprio valor da pensão.

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9ª- Por outro lado, não há fundamento material


bastante para distinguir os cônjuges dos sinistrados que já
tivessem atingido a idade da reforma à data da fixação da
pensão dos demais, com distintas formas de cálculo da pensão.
10ª- De acordo com a perspectiva do Tribunal a
quo, na hipótese de o cônjuge ter já a idade da reforma à data
do acidente, e não se reportando a referida percentagem de
40% ao valor da retribuição mas ao valor da pensão, seria
necessário, num primeiro momento, calcularmos uma pensão
com base em 30% da retribuição e, num segundo momento,
perante a mesma, aplicar a percentagem de 40%.
11ª- A exegese mais consonante com a letra da
lei e com o princípio da unidade do sistema jurídico é no sentido
de que a percentagem de 40% a que alude a Base XIX da Lei
2127, com a redação que lhe foi dada pelo Lei 22/92, se reporta
à retribuição do sinistrado referida na primeira parte do preceito
e, por isso, o legislador não viu necessidade de a repetir
novamente.
12ª- Para determinarmos o valor devido à data
em que a beneficiária atinge a idade da reforma, a nova pensão
deve ser incrementada de modo a fazer face à desvalorização
da moeda e consequente aumento do custo de vida, aplicando-
se ao valor correspondente a 40% da retribuição base auferida
pelo sinistrado todas as actualizações que seriam devidas
desde a data inicial da fixação da pensão nos termos do artigo
6.°, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 142/99, de 30 Abril.
13ª- Em respeito pelas normas legais invocadas,
a ora Recorrente calculou o valor da pensão à data da morte do
sinistrado (€ 814,08) e actualizou-a, de acordo com os
sucessivos coeficientes publicados para o efeito.
14ª- A pensão anual, calculada com base em
40% da retribuição base do sinistrado, sucessivamente
actualizada, em 29 Agosto 2018 (data em que passou a ser
devida por ser a data em que a beneficiária legal atingiu a idade
da reforma por velhice) ascende ao valor de € 2.174,65, e em 1
Janeiro 2019 cifra-se em € 2.209,44, valores que se reputam
correctos.
15ª- O Tribunal a quo, ao decidir como decidiu,
violou o preceituado na Base XIX da Lei 2127, de 3 Agosto
1965, na redação que lhe foi dada pela Lei n.º 22/92, de 14 de
Agosto, e no Art.º 9º do Código Civil.
TERMOS EM QUE
Deve o Despacho recorrido ser revogado e
substituído por outro que actualize a pensão anual da

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beneficiária M..., à data em que esta completa 66 anos e 4


meses de idade (29 Agosto 2018), para o valor de € 2.174,65 e,
em 1 Janeiro 2019, para € 2.209,44.
O MºPº contra-alegou, pugnando pela manutenção
do decidido.
Foram colhidos os vistos legais.
Definindo-se o âmbito do recurso pelas suas
conclusões, temos, como única questão a apreciar, a de saber
se, aquando da alteração da pensão da viúva de 30% para 40%
por ter perfeito a idade de reforma, a mesma deve ser
actualizada com referência à data desde a qual era devida a
pensão, embora devida apenas a partir da data em que atinge a
idade de reforma.
Como factualidade relevante temos a descrita no
relatório do presente acórdão.
O direito:
O despacho recorrido actualizou a pensão,
aplicando os coeficientes legais ao valor da pensão a que a
beneficiária, viúva do sinistrado, teria direito, tendo em conta a
data em que mesma atingiu a idade legal da reforma em 29 de
Agosto de 2019, ou seja, a partir de 29/08/2018, € 2.314,93
(1.736,20 : 0,30 x 0,40), e, a partir de 01/01/2019, € 2.351,97
(pensão de 2018 x 1,016 = Pensão de 2019 ).
Com este critério não concorda a recorrente-
seguradora, entendendo que se deve aplicar ao valor
correspondente a 40% da retribuição base auferida pelo
sinistrado todas as actualizações que seriam devidas desde a
data inicial da fixação da pensão, nos termos do artigo 6°, nº 1,
do Decreto-Lei nº 142/99, de 30 Abril, a que o despacho
recorrido não atendeu.
Salvo melhor opinião, afigura-se-nos que assiste
razão à apelante.
Tendo o acidente de trabalho ocorrido na vigência
da Lei nº 2127, de 3 de Agosto de1965, regulamentada pelo
Decreto n.º 360/71, de 21 Agosto, é este o regime legal
aplicável.
Como refere o acórdão da Relação de Lisboa de
18/05/2016 (proc. 82/10.7TTSTB.L1.4, in www.dgsi.pt), o regime
da actualização das pensões devidas por acidente de trabalho –
ou por doença profissional – foi introduzido na ordem jurídica
portuguesa por via do DL 668/75, de 24/11, motivado pela
“desvalorização da moeda e consequente aumento do custo de
vida”, como se lê no seu preâmbulo. Essa actualização estava
condicionada a determinados critérios legais – valor anual da
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retribuição que, sendo indexado ao valor da retribuição mínima


mensal legalmente fixada para o sector em que o trabalhador
exercesse a sua actividade e para o território onde a exercesse,
não poderia ser superior àquela remuneração mínima mensal, e
o grau de incapacidade permanente, necessariamente igual ou
superior a 30%.
Depois, com a entrada em vigor da Lei 100/97, de 13/9, as
pensões emergentes de acidente de trabalho continuaram a ser
susceptíveis de actualização apenas para os casos de incapacidade
permanente (fosse ela parcial com coeficiente de desvalorização igual
ou superior a 30%, fosse ela absoluta ou fosse absoluta para o trabalho
habitual), ou por morte – artº 39º, nº 2, mas agora nos termos em que o
fossem as pensões do regime geral de segurança social, como dispõe o
artº 6º do DL 142/99, de 30/04.
Depois, a Lei 99/2009, de 4/09 – que regula o actual regime de
reparação de acidentes de trabalho e de doenças profissionais (NLAT),
veio revogar a Lei 100/97 e o respectivo regulamento (DL 143/99), mas
não afectou o DL 142/99, de 30/04, que não foi revogado (expressa ou
tacitamente), nem tão pouco alterado para se adequar ao novo regime
de pensões actualizáveis, pelo que é este diploma que continua a reger
as actualizações das pensões devidas por acidentes de trabalho.
Os presentes autos de acidente de trabalho tiveram
a sua origem no acidente ocorrido em 1 de Maio de 1989, e do
qual resultou a morte do sinistrado J...
No auto de conciliação datado de 29 de Novembro
de 1990, devidamente homologado, à viúva do sinistrado foi
fixada “a pensão anual, no montante de 122.400$00, até
perfazer a idade de 65 anos e a pensão anual de 163.200$00, a
partir dos 65 anos, a partir do dia 30 de Maio de 1989”.
Convertendo os referidos valores para a nossa
moeda actual, a pensão foi fixada em €610,53 até perfazer 65
anos e em €814,04 após essa idade.
Dispõe a base XIX da Lei nº 2.127, no seu nº 1:
“Pensões por morte
1. Se do acidente resultar a morte, os familiares da
vítima receberão as seguintes pensões anuais:
a) Viúva, se tiver casado antes do acidente: 30 por
cento da retribuição-base da vítima até perfazer 65 anos, e 40
por cento a partir desta idade ou no caso de doença física ou
mental que afete sensivelmente a sua capacidade de trabalho;
(...)”.
A Lei nº 22/92, de 14 de Agosto, veio alterar esta
Base XIX da Lei nº 2.127, com efeitos reportados a 6 de
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Outubro de 1988, passando a mesma a determinar, no seu


número 1, que:
“1. Se do acidente de trabalho ou da doença
profissional resultar a morte, os familiares da vítima receberão
as seguintes pensões anuais:
a) Cônjuge - 30% da remuneração base da vítima
até perfazer a idade de reforma por velhice e 40% a partir
daquela idade ou no caso de doença física ou mental que afecte
sensivelmente a sua capacidade de trabalho;(...)”.
Ou seja, no caso presente, a beneficiária tem direito
a receber uma pensão actualizada – 40% da retribuição base do
sinistrado - a partir da idade de reforma por velhice,
actualmente fixada nos 66 anos e 4 meses, conforme disposto
na Portaria nº 99/2017, de 7 de Março, ou seja, a partir de 29 de
Agosto de 2018.
Como se refere no Ac. da Relação de Guimarães
de 17/05/2018, proc. 4077/16.9T8VCT.12.G1, que merece a
nossa inteira concordância, “Não se trata de uma nova pensão,
o facto constitutivo do direito é o mesmo e a data a que se
reporta o direito à pensão, a pensão por óbito de cônjuge em
sinistro laboral, é o que a lei refere, o dia seguinte ao do
falecimento (artigo 56º do D.L. 360/71).
Do que se trata não é de fixar uma nova pensão,
mas antes de fixar a pensão devida para o mesmo “direito”, com
base em critério diverso, em função de circunstância relevada
pela lei como motivo bastante para justificar um montante
indemnizatório mais elevado. A al. a) da base refere como se
calcula a “pensão” da viúva, não aludindo a direito a “pensões”.
A pensão é a mesma, o seu valor é que diverge a partir da idade
de reforma.
A pensão fixada agora com base em 40% não é
uma atualização da anterior pensão, mas sim a mesma
pensão calculada de forma diversa (pelas razões já
expendidas), ocorre uma alteração do valor indemnizatório. Tal
pensão deve ser atualizada, tendo em conta a data do
vencimento do direito, até data a partir da qual a beneficiária
passará a recebê-la, sob pena de o valor nominal a entregar não
corresponder ao valor real, em virtude da desvalorização da
moeda.
Note-se que se á data do óbito a viúva já tiver
atingido a idade de reforma, a pensão será desde logo fixada
com base em 40% da retribuição base da vítima, o mesmo
acontecendo se sofrer de doença física ou mental que afete
sensivelmente a sua capacidade de trabalho.

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A reforma estava associada ao termo do período


ativo da pessoa, podendo ocorrer uma quebra nos rendimentos
próprios, e acréscimo de necessidades designadamente ao
nível da saúde, o que justifica a majoração da pensão da viúva.
Veja-se ainda a segunda hipótese prevista na lei para a fixação
da pensão desde logo em 40%, relacionada com uma
diminuição de capacidade de por si angariar meios de
subsistência.
A atualização da pensão visa ajustar o valor tendo
em consideração a desvalorização do valor da moeda, de forma
a que a pensão a atribuir em cada ano corresponda ao seu valor
real e efetivo, em termos de “bens” a que a quantia
correspondia, tendo em conta a data a considerar para a sua
fixação, pois só assim o direito não se degrada. Visa-se pois a
manutenção do valor real inicial.
Tendo em vista tal finalidade a lei estabelece a
atualização, fixando com a periodicidade adequada o valor de
atualização, valor que vale para o período a que se destina, não
podendo falar-se em revogação.
A lei refere 40% da retribuição base. Deve ser esse
o valor a atribuir. Mas em termos reais, ou seja o valor que a
esta data corresponde àqueles 40%. A não ser assim estaremos
a cortar na pensão que a lei refere.
À pensão alterada, devem aplicar-se todas as
atualizações que teria sofrido se fosse devida desde início,
embora apenas seja devida apenas a partir do momento em
que a beneficiária atinge a idade de reforma.
Quanto à atualização refere o artº 6.º do D.L.
142/99:
Atualização anual
1 - O valor das pensões de acidentes de trabalho é
atualizado anualmente com efeitos a 1 de janeiro de cada ano,
tendo em conta os seguintes indicadores de referência:

4 - A atualização anual das pensões consta de
portaria conjunta dos membros do Governo responsáveis pelas
áreas das finanças e do trabalho e da solidariedade social.
5 - A taxa de atualização é arredondada até à
primeira casa decimal.
(Anteriormente o D.L. 39/81 e despacho normativo
nº 180/81).

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O objetivo sempre foi o da manutenção do valor


real inicial.
Para se encontrar o valor final correspondente em termos reais
a 40% retribuição-base da vítima à data do decesso, a pensão
alterada deve ser atualizada por forma a fazer face à
desvalorização da moeda.
Adicionar ao valor calculado com base em 40%
o valor correspondente à atualização ou atualizações que
foi sofrendo a pensão calculada com base em 30% carece
de sentido, autonomizando a atualização em relação ao valor
de referência, e por outro daria origem a desigualdades entre
beneficiários já “reformados”, em idêntica condição,
variando apenas a idade em que haviam atingido aquela idade
de reforma” (negritos nossos).
Neste sentido, embora com a referencia à pensão objecto
de revisão, mas tendo em conta que o raciocínio, a razão de ser e os
fundamentos legais são os mesmos, vejam-se o acórdão desta Relação
de Coimbra proferido no processo 700/10.7TTVIS.1.C1, o acórdão da
Relação do Porto de 11/10/2018, processo 596/14.0T8VFR.10.P1, bem
como o acórdão do STJ de 3/3/2010 (proc. 14/05.4TTVIS.C2.S1, in
www.dgsi.pt), que indicou que, se a pensão revista deve ser calculada
do mesmo modo que o foi a pensão inicial, então os coeficientes de
actualização devem sobre a mesma incidir como se estivesse a ser
fixada desde o início, não obstante apenas ser devida desde a data de
entrada do requerimento que deu início ao incidente de revisão.
Assim, há que dar razão à seguradora-apelante
quando afirma que à pensão a que a viúva tem direito, em
virtude de sinistro laboral, aquando da alteração de 30% para
40%, por ter atingido a idade legal de reforma, devem aplicar-se
todas as actualizações que teria sofrido se fosse devida desde o
início, embora apenas seja devida a partir do momento em que
a beneficiária atinge a idade de reforma.
Posto isto, e dado que os cálculos para as
sucessivas actualizações da pensão, vertidos no corpo da
alegação de recuso, se mostram correctamente efectuados,
procede integralmente a apelação.
Decisão:
Nos termos expostos, acorda-se em julgar
procedente a apelação, alterando-se a decisão recorrida, no
sentido de que os montantes actualizados da pensão
deverão ser de €2.174,65, a partir de 29/08/2018, e de
€2.209,44, a partir de 01/01/2019, devendo ter-se em conta
as futuras actualizações legais, de harmonia com os
critérios enunciados.
Sem custas o recurso.
www.dgsi.pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/8f99be9d4513649c80258529003cf031?OpenDocument 10/11
11/05/2020 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra

Coimbra, 06/03/2020

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