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UniSALESIANO LINS

CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO SALESIANO AUXILIUM


CURSO DE DIREITO

GISLAINE APARECIDA DOS SANTOS RODRIGUES

DUPLA PATERNIDADE NO REGISTRO CIVIL

LINS/SP
2018
GISLAINE APARECIDA DOS SANTOS RODRIGUES

DUPLA PATERNIDADE NO REGISTRO CIVIL

Monografia apresentada ao curso de Direito do


UniSALESIANO, Centro Universitário Católico
Salesiano Auxilium, sob a orientação da Professora
Mestra Meire Cristina Queiroz Sato como um dos
requisitos para obtenção do título de bacharel em
Direito.

LINS/SP
2018
Rodrigues, Gislaine Aparecida dos Santos
R613d Dupla paternidade no Registro Civil / Gislaine Aparecida dos
NOME
Santos Rodrigues – – Lins, DO(A) ALUNO(A)
2018.
68p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico


Salesiano Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em
Direito, 2018.
Orientador: Meire Cristina Queiroz Sato
TÍTULO: Subtítulo (se houver)
1. Direito de Família. 2. Multiparentalidade. 3. Paternidade
Socioafetiva. 4. Dupla paternidade. 5. Registro Civil. I Título.
CDU 34
GISLAINE APARECIDA DOS SANTOS RODRIGUES

DUPLA PATERNIDADE NO REGISTRO CIVIL

Monografia apresentada ao curso de Direito do


UniSALESIANO, Centro Universitário Católico
Salesiano Auxilium, sob a orientação sob a
orientação da Professora Mestra Meire Cristina
Queiroz Sato como um dos requisitos para obtenção
do título de bacharel em Direito.

Lins, maio,2018.

Professora Mestra Meire Cristina Queiroz Sato (Orientadora)

Professor Mestre Danilo César Siviero Rípoli

Professora Mestra Thábata Biazzuz Veronese


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que permitiu que tudo isso acontecesse, ao


longo da minha vida, e não somente nestes anos como universitária, mas que em
todos os momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer, por permitir que
eu tivesse saúde e força para enfrentar todos os obstáculos que surgiram por me
sustentar inúmeras vezes que eu senti que estava caindo, Ele foi e sempre será a
minha base.

Em segundo lugar, agradeço à minha família que sempre esteve ao meu lado
me dando forças e incentivando pelo amor e apoio incondicional. Agradeço a minha
mãe (que também exerce a função de pai) Joselaine, minha heroína que nunca me
abandonou sempre me deu apoio, incentivo nas horas difíceis, de desânimo e
cansaço. Agradeço ao meu pai Aguinaldo, que apesar de tudo também me
fortaleceu.

Agradeço a Deus pela vida do meu filho Pedro Henrique, que após o seu
nascimento minha vida mudou completamente, e hoje todas as vitórias e conquistas
são dedicadas a você, e que apesar de tão pequenino sempre compreendeu que a
mamãe precisava estudar para que tivéssemos um futuro melhor.

Obrigada minha irmã Silvia, minha metade, sangue do meu sangue, por tudo,
tudo mesmo, por todas as vezes que esteve do meu lado, que me apoiou que cuidou
do meu filho para que eu pudesse frequentar a faculdade, como se fosse teu próprio
filho, a você e a nossa mãe minha eterna gratidão.

Agradeço ao meu esposo João Vitor pelo companheirismo, por estar sempre
ao meu lado, apesar das dificuldades, me incentivando e apoiando, cuidando do
nosso filho todas as noites que deixo a nossa casa para estudar.

Agradeço também aos meus primos, tias e tios pela contribuição valiosa que
tiveram com a minha formação, não me atreverei a pôr os nomes, pois posso
esquecer-me de alguém, obrigada de coração a todos vocês.
Meus sinceros agradecimentos aos meus amigos Adriana, Cristina e Gentil,
companheiros de trabalho, que sempre me apoiaram e entenderam as minhas crises
e desespero, vocês são maravilhosos.

Agradeço as minhas amigas da faculdade que se tornaram minha segunda


família, que eu escolhi para que dividíssemos os momentos de angustia e alegria,
por sorrirem comigo nos momentos de alegria, mas também chorarem nos
momentos de angústia, tristeza e desespero, vou carregar vocês em meu coração
para sempre.

Por último, mas com certeza não menos importante, quero agradecer
imensamente minha orientadora Meire Cristina Queiroz Sato, que com toda sua
paciência, apoio e ajuda consegui terminar este trabalho com êxito, e adquirindo
novos conhecimentos.

Enfim, talvez nessas poucas palavras eu não tenha conseguido demonstrar a


minha enorme gratidão por aqueles que me ajudaram nesta longa caminhada, mas
tenham certeza que cada um contribuiu da sua maneira e com certeza fazem parte
da minha história.
“Nunca deixe que lhe digam que não vale a
pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!”

Renato Russo
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar o conceito de família, suas


alterações ao longo dos anos e as novas formas de filiação, em especial o
reconhecimento da paternidade/maternidade socioafetiva. Tem como principal
investigação a possibilidade do reconhecimento da dupla paternidade no registro
civil, situação que surge por consequência do vínculo afetivo existente entre pais e
filhos socioafetivos de famílias formadas por casais que trazem para o novo
relacionamento filhos de relacionamentos anteriores, tendo em vista que uma mulher
que já tem filhos se case novamente com um companheiro que também já tenha
filhos, além de levar para a sua família um novo companheiro ela também levará
uma nova família. Com as várias transformações no conceito de família ao longo do
tempo, o critério socioafetivo tem prevalecido cada vez mais com grande importância
no âmbito familiar, assim a paternidade socioafetiva mostra-se mais adequada pela
relevância da relação de afeto e por abranger o princípio do melhor interesse da
criança e do adolescente. Por meio da pesquisa bibliográfica e documental, com
levantamento em livros doutrinários, artigos em revistas científicas e publicadas na
internet, jurisprudência e legislação, buscou-se demonstrar através deste estudo a
importância do reconhecimento da relação entre pais e filhos socioafetivos, não só
pelo valor jurídico, como os possíveis efeitos que dela surgirão, mas principalmente
pelo valor afetivo, pela importância da criança ou adolescente se sentir amado por
esse pai que vai cuidar e criar como se fosse realmente seu filho, pois muitas das
vezes o biológico abandona o menor pelo simples fato deste já ter “um novo pai”
através do novo vínculo conjugal da mãe. Por fim, analisaram-se, ainda, as
formalidades e os requisitos que devem ser seguidos para a configuração jurídica da
paternidade socioafetiva no registro civil do filho socioafetivo. Além disso, busca-se
demonstrar o reconhecimento da multiparentalidade como consequência do
reconhecimento da dupla paternidade/maternidade no registro civil, elencando os
mais variáveis efeitos advindos com este instituto.

Palavras-chave: DIREITO DE FAMÍLIA. MULTIPARENTALIDADE. PATERNIDADE


SOCIOAFETIVA. DUPLA PATERNIDADE. REGISTRO CIVIL.
ABSTRACT

The present work aims to analyze the concept of family, its changes over the years
and the new forms of membership, especially the recognition of paternity / socio-
affective motherhood. Its main research is the possibility of recognition of dual
paternity in the civil registry, a situation that arises as a consequence of the affective
bond between parents and socio-affective children of families formed by couples that
bring to the new relationship children of previous relationships, considering that a a
woman who already has children to marry again with a companion who also already
has children, besides taking to her family a new companion she will also take a new
family. With the various transformations in the family concept over time, the socio-
affective criterion has increasingly prevailed with great importance in the family, so
the socio-affective paternity is more adequate due to the relevance of the relation of
affection and to embrace the principle of the best interest of the child and the
adolescent. By means of bibliographical and documentary research, with a survey of
doctrinal books, articles in scientific journals and published on the internet,
jurisprudence and legislation, we sought to demonstrate through this study the
importance of recognizing the relationship between parents and socio-affective
children, not only for the value legal, as the possible effects that will arise, but mainly
for the affective value, for the importance of the child or adolescent feel loved by this
father who will care and create as if it were really his child, because many times the
biological leaves the smallest simple fact of this already having "a new father"
through the new conjugal bond of the mother. Finally, we analyzed the formalities
and requirements that should be followed for the legal configuration of socio-affective
paternity in the civil registry of the socio-affective child. In addition, it seeks to
demonstrate the recognition of multiparentality as a consequence of the recognition
of dual paternity / maternity in the civil registry, listing the most variable effects
coming from this institute.

Keywords: FAMILY RIGHT. MULTIPARENTALITY. SOCIOAFETIVE PATERNITY.


DOUBLE PATERNITY. CIVIL REGISTRY.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 O DIREITO À FILIAÇÃO SOB A PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL DO


DEIREITO DE FAMÍLIA ............................................................................................ 12
2.1 Os princípios constitucionais no Direito de Família e na filiação ................. 15
2.2 As novas formas de filiação no atual cenário das famílias ........................... 24
2.2.1 O valor do afeto no reconhecimento da filiação socioafetiva .................... 25
2.2.2 O reconhecimento de outras modalidades de filiação sob a perspectiva
afetiva ....................................................................................................................... 28
2.2.3 Os modelos tradicionais de filiação ............................................................. 30

3 O RECONHECIMENTO JURÍDICO DA FILIAÇÃO NA MULTIPARENTALIDADE


.................................................................................................................................. 34
3.1 Configuração da multiparentalidade sob o enfoque dos fundamentos
constitucionais ........................................................................................................ 35
3.1.1 Princípios consagradores da multiparentalidade ....................................... 37
3.2 O Regramento do Conselho Nacional de Justiça – CNJ: as formalidades no
procedimento registral de reconhecimento da filiação .............................................. 42
3.3 Requisitos exigidos para o reconhecimento extrajudicial da filiação
socioafetiva.............................................................................................................. 44
3.4 A segurança jurídica no reconhecimento da filiação socioafetiva na
multiparentalidade ante a Lei n.° 11.924/2009 e e Provimento n.º 63/2017 do
CNJ ........................................................................................................................... 46

4 EFEITOS JURÍDICOS DA MULTIPARENTALIDADE: a dupla


paternidade/maternidade no registro civil .................................................................. 49
4.1 Direitos civis ...................................................................................................... 50
4.1.1 Direito de inclusão do nome de família do padrasto/madrasta .................. 50
4.1.2 Direito ao exercício do poder familiar .......................................................... 52
4.1.3 A responsabilidade alimentar ...................................................................... 54
4.1.4 Relação de parentesco ................................................................................. 55
4.1.5 Direitos Sucessórios ...................................................................................... 56
4.2 Direitos previdenciários.................................................................................... 57
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 59

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 62
9

1 INTRODUÇÃO

A família, conforme a Constituição Federal, artigo 226, é considerada a base


da sociedade e, na maior parte de sua história, tinha como único objetivo garantir o
patrimônio e a reprodução, independentemente da existência de afeto entre seus
membros. Contudo, atualmente, fundada nos princípios da igualdade, solidariedade,
liberdade, dignidade humana e afetividade, a família deixou para trás o objetivo
econômico e reprodutivo para abrir espaço para a efetivação dos direitos
fundamentais e o bem-estar de seus membros.

Com as mudanças que o Direito de Família vem passando, que são


constantes, cabe ao direito se adaptar a elas para regulamentar todas as possíveis
situações que poderão surgir. Com as novas entidades familiares surgem várias
questões que repercutem no mundo jurídico e devem ser solucionadas pelo próprio
direito, a exemplo são os efeitos advindos das novas formas de filiação existentes,
tais como os direitos civis e sucessórios.

Observam-se, atualmente, várias mudanças e reconstituições nos lares


familiares formando, assim, as famílias recompostas. Como exemplo, nos casos em
que um casal se case e ambos já tenham filhos do relacionamento anterior, podendo
surgir com o tempo uma relação de paternidade/maternidade socioafetiva gerados
por meio da convivência e do afeto. O Código Civil, em seu artigo 1.593 reconhece a
afetividade quando traz que o parentesco pode ser natural ou civil conforme a
consanguinidade ou outra origem, quando trata de outra origem entende-se pela
afetividade e, com isso, permitindo a parentalidade socioafetiva.

Contudo, com a paternidade/maternidade socioafetiva têm-se origem a


multiparentalidade, pois haverá a coexistência com a paternidade/maternidade
biológica tornando uma realidade que necessita de normas que a regulamente.
Neste contexto, o legislador procurando regulamentar as relações entre
padrasto/madrasta e enteado, promulgou a Lei nº 11.924/2009 que trata da inclusão
do nome de família do padrasto/madrasta ao nome do enteado no registro civil sem
prejuízo ao apelido da sua família natural, se assim ambos desejarem. No entanto,
não foi claro quanto às formalidades e possíveis efeitos advindos do novo laço
filiatório, deixando lacunas quanto ao instituto da multiparentalidade.
10

Com o passar dos anos as ações para os casos de reconhecimento de


paternidade/maternidade socioafetiva só aumentou no Judiciário, e ao perceber o
legislador a necessidade de normas próprias para regulamentar esta questão e com
o intuito de facilitar os trâmites para o este reconhecimento, editou recentemente,
em novembro de 2017, o Provimento de nº 63 do Conselho Nacional de Justiça que
cria modelos únicos para a certidão de nascimento, casamento e óbito,
regulamentando o reconhecimento voluntário e extrajudicial da paternidade
socioafetiva e trata também da reprodução assistida.

Dessa maneira, por meio da pesquisa bibliográfica e documental, com


levantamento em livros doutrinários, artigos em revistas científicas e publicadas na
internet, jurisprudência e legislação, o estudo em questão visa analisar a cumulação
de paternidade/maternidade socioafetiva concomitante com a
paternidade/maternidade biológica no registro civil, formando assim a dupla
paternidade no registro civil procurando esclarecer as formalidades e todos os
efeitos advindos desse reconhecimento, tais como a guarda do menor, o parentesco
advindo com este reconhecimento entre tantos outros. Para isso, o presente trabalho
foi desenvolvido em três capítulos.

No primeiro capítulo destaca-se o direito à filiação sob a perspectiva


constitucional do Direito de Família, analisando a evolução social da família,
observando a evolução da família patriarcal antes da Constituição Federal de 1988
até chegar à família contemporânea. Serão analisados os princípios que versam
sobre o Direito de Família e filiação, ligados intrinsecamente à afetividade. Analisam-
se também as novas formas de filiação juntamente com valor jurídico do afeto.

No segundo capítulo, após percorrer a evolução da família e as novas formas


de filiação sob o aspecto jurídico da afetividade, foi analisado o reconhecimento
jurídico da filiação na multiparentalidade sob o enfoque constitucional. Neste
compasso, procurou-se interpretar o Provimento nº 63 do Conselho Nacional de
Justiça, com suas formalidades no procedimento registral da
paternidade/maternidade socioafetiva.
11

Por fim, no terceiro capítulo, procurou-se analisar os efeitos jurídicos advindos


dessa nova forma de filiação, como a dupla paternidade no registro civil, os direitos
civis, o direito ao poder familiar, os direitos sucessórios entre outros.
12

2 O DIREITO À FILIAÇÃO SOB A PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL DO


DIREITO DE FAMÍLIA

A família consiste na unidade basilar da sociedade e é considerada como a


primeira manifestação de agrupamento social verificada na História. Contudo, o
conceito de família bem como a própria família, sofreram profundas mudanças ao
longo do tempo, tendo sido alterada a sua natureza, sua composição, sua
concepção e, sobretudo, a sua função, visto que hoje a família é encarada como o
locus da realização pessoal de seus membros.

Na maior parte de sua história, ou em quase toda ela, a família foi regida e
organizada na forma patriarcal. Diferentemente da família contemporânea, no Direito
Romano a família se organizava em torno da figura masculina e quem detinha todo o
poder era o pai, sobre os seus filhos, netos, sua esposa, a esposa de seus filhos, e
também era o responsável pelas finanças, pois não existia o patrimônio da família,
mas sim o patrimônio do pater famílias.

Neste sentido dispõe Gonçalves, (2016, p. 31):

O pater exercia a sua autoridade sobre todos os seus descendentes não


emancipados, sobre a sua esposa e as mulheres casadas com manus com
os seus descendentes. A família era então, simultaneamente, uma unidade
econômica, religiosa, política e jurisdicional. O ascendente comum vivo mais
velho era, ao mesmo tempo, chefe político, sacerdote e juiz. Comandava,
oficiava o culto dos deuses domésticos e distribuía justiça.

Com a ascensão do Cristianismo e a decadência do Império Romano, a


família patriarcal, entrou em crise e a família passou a ter sua estrutura agregada
aos parâmetros da Igreja, e somente eram definidos como família os agrupamentos
familiares que se fundavam no casamento.

Com Código Civil Brasileiro de 1916 se manteve o patriarcalismo, no qual o


homem era o chefe da família. A legislação civil consagrava o casamento como o
13

único instituto jurídico formador da família, dificultando a adoção e permitindo o


reconhecimento de filhos apenas quando não adulterinos. Dessa forma, o
matrimônio era o único laço legítimo e legal de constituir família e somente quem era
ligado por tal vínculo tinha proteção do Estado. Tal concepção é fruto da influência
sócio religiosa, que concebia o casamento com interesse procriativo, visando à
continuidade da família.

Verifica-se que durante décadas a legislação brasileira protegeu a instituição


da família e os laços sanguíneos entre os parentes, impedindo a dissolução do
casamento e vedando a adoção, ignorando a relação de afeto existente entre os
membros da família.

Ademais, o legislador de 1916 ignorou completamente as uniões de


companheirismo e união estável, não assegurando nenhum direito à esses tipo de
uniões, somente assegurava os direitos às uniões advindas da celebração do
matrimônio.

A Constituição de 1988 inaugura o Estado Democrático de Direito,


influenciada pelas constituições europeias, observando em primeiro lugar a
dignidade da pessoa humana. Contudo, a origem da família passou a ser concebida
de forma mais ampla. O casamento deixa de ser a única forma de constituição
familiar, uma vez que a Constituição de 1988 reconheceu, expressamente, outros
tipos de união, tal como a união estável entre homem e mulher e a família
monoparental, constituída por qualquer dos pais e seus descendentes.

O Direito de Família Contemporâneo tem superado individualismo jurídico


com o objetivo de se alcançar uma sociedade livre, justa e solidária, inclusive pelos
vínculos afetivos. No entanto, a família deixa de ser uma entidade política, para ser
reconhecida como uma entidade formada pelo afeto, onde seus membros
estabelecem entre si assistência mútua e responsabilidade social.

A família é uma realidade sociológica e constitui a base do Estado, no plano


constitucional, o Estado, que antes era ausente e não se preocupava com as
relações familiares passou a se interessar de forma clara pelas relações de família,
em suas variáveis manifestações sociais, Gonçalves (2016, p. 17) observa que
14

[...] a família é uma realidade sociológica e constitui a base do Estado, o


núcleo fundamental em que repousa toda a organização social. Em
qualquer aspecto em que é considerada, aparece a ampla proteção do
Estado [...].

No ordenamento jurídico pátrio, a família constitui instituto protegido


constitucionalmente e regulamentado em livro próprio pelo Código Civil de 2002.
Contudo, não há definição legal expressa conferida pela legislação nacional, de
forma que restou à doutrina a tarefa de conceituá-la. Conforme, leciona Venosa
(2015, p. 01)

A conceituação de família oferece de plano, um paradoxo para sua


compreensão. O Código Civil não a define. Por outro lado, não existe
identidade de conceitos para o Direito, para a Sociologia e para a
Antropologia. Não bastasse ainda a flutuação de seu conceito, como todo
fenômeno social, no tempo e no espaço, a extensão dessa compreensão
difere nos diversos ramos do direito.

No ramo do Direito de Família um dos temas que mais sofreu influência dos
valores consagrados pela Constituição Federal de 1988 foi o da filiação, pois o
ordenamento jurídico consagrava tratamento diferente entre os filhos legítimos e
ilegítimos, que hoje não são mais aceitos. O princípio mais importante que traz a
Constituição Federal de 1988 é o princípio da igualdade, e quando se trata de
filiação o referencial norteador será o princípio da igualdade dos filhos, que é
contemplado no artigo 227, § 6.º, da Constituição Federal de 1988, nos seguintes
termos:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

[...]
15

§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,


terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.

Neste sentido, não há mais distinção entre filhos legítimos e ilegítimos, isso
porque a filiação é um fato da vida. Portanto, ser filho de alguém, dentro da família
contemporânea, independe de vínculo conjugal válido, devendo todos os filhos ser
tratados da mesma forma. Nesta linha estabelece o art. 1.596 do Código Civil: “Art.
1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação”.

Portanto, hoje, todos são filhos, havidos fora do casamento ou em sua


constância, mas com iguais direitos e qualificações. Atualmente a filiação tem
conceito único sem adjetivações ou discriminações. Desde a Constituição de 1988
não há mais filiação legítima, filiação ilegítima, filiação natural, filiação adotiva, ou
filiação adulterina. No entanto, atualmente no sistema jurídico a paternidade não
será determinada pelo critério da progenitura, mas sim pela função social de pai em
homenagem ao interesse concreto do filho e em respeito ao seu direito fundamental
de ter uma convivência familiar.

2.1 Os princípios constitucionais no Direito de família e na filiação

O Direito de Família Brasileiro passou por profundas alterações estruturais e


funcionais nos últimos anos. Essas transformações podem ser sentidas pelo
estudo de seus princípios, muitos deles com previsão na Constituição Federal de
1988.

O Direito de Família evoluiu no sentido da harmonização e da igualdade


plena entre os indivíduos, tanto no que diz respeito a aniquilar as desigualdades
entre homens e mulheres, tanto no tratamento dos filhos que não podem sofrer
16

qualquer diferenciação se concebido dentro ou fora da união civil, entre outros


casos.

O Direito de Família deve ser analisado sob o aspecto constitucional,


observando e respeitando todos os princípios constitucionais previstos no
ordenamento jurídico, principalmente os que tratam do direito de família, como o da
dignidade da pessoa humana, da afetividade, da solidariedade familiar, entre
outros inesgotáveis.

Princípio da dignidade da pessoa humana

Observa-se que na organização jurídica contemporânea da família não é mais


permitido o uso de normas que não ensejam a dignidade da pessoa humana.
Fundante do Estado Democrático de Direito, o princípio da dignidade da pessoa
humana é considerado como o princípio máximo, macro princípio ou super princípio
(TARTUCE, 2014, p. 45). Está previsto na Constituição Federal logo em seu artigo
1°, inciso III e deverá servir como base para a interpretação dos demais princípios
constitucionais. Este princípio representa limites à atuação do Estado e também
constitui um norte para a sua ação positiva, como dispõe Dias (2015, p. 45)

O princípio da dignidade humana não representa apenas um limite à


atuação do Estado, mas constitui também um norte para a sua ação
positiva. O Estado não tem apenas o dever de abster-se de praticar atos
que atentem contra a dignidade humana, mas também deve promover essa
dignidade através de condutas ativas, garantindo o mínimo existencial para
cada ser humano em seu território.

O direito de família está diretamente ligado aos direitos humanos, que tem
como base o princípio da dignidade da pessoa humana, que tem como objetivo o
tratamento igualitário para todas as entidades familiares, sendo indigno tratamento
diferenciado às várias formas de filiação ou aos vários tipos de constituição de
família.
17

Princípio da solidariedade familiar

A solidariedade social está prevista na Constituição Federal de 1988, no


artigo 3°, inciso I, e tem como objetivo construir uma sociedade livre, justa e
solidária. Esse princípio traduz afetividade necessária que une os membros da
família de forma a concretizar a responsabilidade social aplicada à relação familiar,
neste sentido solidariedade é o que cada um deve ao outro, é a fraternidade e a
reciprocidade para com os familiares.

Neste sentido leciona Gagliano e Pamplona (2012, p. 82)

A solidariedade, portanto, culmina por determinar o amparo, a assistência


material e moral recíproca, entre todos os familiares, em respeito ao
princípio maior da dignidade da pessoa humana. É ela, por exemplo, que
justifica a obrigação alimentar entre parentes, cônjuges ou companheiros,
ou, na mesma linha, que serve de base ao poder familiar exercido em face
dos filhos menores.

Portanto ser solidário significa responder pelo outro em direito e obrigações.


Responder de forma ampla, tendo caráter afetivo, social, moral, patrimonial,
espiritual e sexual.

Princípio da igualdade

A igualdade e o respeito às diferenças constituem um dos princípios chave


para a organização jurídica e especialmente para o Direito de Família, sem a
igualdade e o respeito não haverá dignidade e consequentemente não haverá
justiça. Este princípio foi o que mais provocou profundas transformações no direito
de família com relação a igualdade entre homem e mulher, entre filhos e entre
entidades familiares. Com relação à filiação afirma Dias (2015, p. 47)

A supremacia do princípio da igualdade alcançou também os vínculos de


filiação, ao ser proibida qualquer designação discriminatória com relação
aos filhos havidos ou não da relação de casamento ou por adoção (CF 227
§ 6.0). Em boa hora o constituinte acabou com a abominável hipocrisia que
rotulava a prole pela condição dos pais.
18

O princípio constitucional da igualdade veda ao legislador que edite normas


que seja contrário aos seus preceitos. A administração pública deverá tê-lo como
fundamento para que programe políticas públicas para superação das
desigualdades reais existentes entre os gêneros. Já a administração da justiça irá se
basear neste princípio para o impedimento das desigualdades e, enfim, as pessoas
o observarão para que vivam seu cotidiano sem desigualdade.

Princípio da igualdade entre os cônjuges e companheiros (art. 226, § 5.º


da CF/1988 e art. 1.511 do CC)

O princípio da igualdade jurídica entre homens e mulheres está previsto no


artigo 5º, I, e no artigo 226, §5º da Constituição Federal que ao dispor que homens e
mulheres são iguais em obrigações e direitos e que os direitos e deveres na
sociedade conjugal são exercidos em igualdade pelo homem e pela mulher, extingue
o modelo de família patriarcal.

Assim como há a igualdade entre filhos, a lei também reconhece a igualdade


entre homens e mulheres no que se refere à sociedade conjugal ou convivencial
formada pelo casamento ou pela união estável. Enuncia o art. 1.511 do código civil
que “o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de
direitos e deveres dos cônjuges”. Por óbvio, essa igualdade deve estar presente na
união estável, também reconhecida como entidade familiar pelo art. 226, § 3.º, da
Constituição Federal. Diante do reconhecimento dessa igualdade, como exemplo
prático, o marido ou companheiro pode pleitear alimentos da mulher ou
companheira, ou mesmo vice-versa. Além disso, um pode utilizar o nome do outro
livremente, conforme convenção das partes.

Outra decorrência do princípio da igualdade entre cônjuges e companheiros,


surge a igualdade na chefia familiar, que pode ser exercida tanto pelo homem
quanto pela mulher em um regime democrático de colaboração. Utiliza-se a
expressão despatriarcalização do Direito de Família, eis que a figura paterna não
exerce o poder de dominação do passado. Portanto, o regime é de companheirismo,
não de hierarquia, desaparecendo a ditatorial figura do pater famílias, não podendo
sequer se utilizar a expressão pátrio poder, substituída por poder familiar
(TARTUCE, 2014, p. 69).
19

Neste sentido a igualdade de chefia enuncia que durante o casamento ou


união estável compete o poder familiar aos pais. Na falta ou impedimento de um
deles, o outro exercerá esse poder com exclusividade. Em caso de eventual
divergência dos pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer
um deles recorrer ao juiz para a solução do desacordo.

Princípio da igualdade entre os filhos (art. 227, § 6.º da CF/1988 e art.


1.596 do CC)

A Constituição Federal de 1988 com a instituição do artigo 227, §6º, extinguiu


por completo qualquer tipo de privilégio e/ou prioridade provenientes da origem da
filiação, aduzindo, para tanto, que até mesmo a filiação decorrente da adoção
deverá ser respeitada.

Determina o art. 227, § 6.º, da Constituição Federal de 1988 que “os filhos,
havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
O art. 1.596 do Código Civil tem a mesma redação, consagrando ambos os
dispositivos o princípio da igualdade entre filhos. Esses comandos legais
regulamentam especificamente na ordem familiar a isonomia constitucional, ou
igualdade em sentido amplo, constante do art. 5.º, caput, da CF/1988, um dos
princípios do Direito Civil Constitucional (TARTUCE, 2014, p. 62).

Em suma, está superada a antiga discriminação de filhos que constava no


código civil de 1916, portanto, juridicamente, todos os filhos são iguais perante a lei,
havidos ou não durante o casamento. Essa igualdade abrange os filhos adotivos e
os havidos por inseminação artificial heteróloga (com material genético de terceiro).
Diante disso, não se pode mais utilizar as expressões filho adulterino, filho ilegítimo
ou filho bastardo. Apenas para fins didáticos utiliza-se o termo filho havido fora do
casamento, eis que, juridicamente, todos são iguais.
20

Princípio da Afetividade

Atualmente, o afeto é apontado como o principal fundamento das relações


familiares, mesmo não previsto explicitamente na Constituição Federal como sendo
um direito fundamental. Entretanto a afetividade, como forma de união entre as
pessoas, adquiriu reconhecimento no sistema jurídico e o afeto foi consagrado como
direito fundamental e a filiação biológica e a socioafetiva ganharam status de
igualdade.

A família passou a ser concebida com base nas realizações existenciais


afetivas e o indivíduo moderno passou a desejar que suas relações íntimas sejam
privatizadas e não mais colocadas sob o poder do Estado.

O afeto hoje é tido como um princípio constitucional, e é a essência de outros


princípios como a dignidade. Mesmo que o afeto não esteja explícito na
Constituição, a prova de sua existência está presente no reconhecimento da união
estável como entidade familiar. Assim, o afeto tem importância igual aos demais
princípios.

O princípio da afetividade encontra-se de forma implícita na Constituição


Federal, neste sentido leciona Lôbo (2011, p.71)

Encontram- -se na Constituição fundamentos essenciais do princípio da


afetividade, constitutivos dessa aguda evolução social da família brasileira,
além dos já referidos: a) todos os filhos são iguais, independentemente de
sua origem (art. 227, § 6º); b) a adoção, como escolha afetiva, alçou-se
integralmente ao plano da igualdade de direitos (art. 227, §§ 5º e 6º); c) a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, incluindo-
se os adotivos, tem a mesma dignidade de família constitucionalmente
protegida (art. 226, § 4º); d) a convivência familiar (e não a origem biológica)
é prioridade absoluta assegurada à criança e ao adolescente (art. 227).

Com o reconhecimento do princípio da afetividade como um princípio


constitucional e norteador da família contemporânea o direito brasileiro tem
empregado a socioafetividade nas relações não biológicas de parentalidade e
filiação, contudo as relações familiares no geral se dão segundo a socioafetividade,
21

ou seja, se estabelecem após a constituição de vínculos de afetividade. Assim, em


razão da prevalência na atualidade da socioafetividade em relação à
consanguinidade, não podem mais haver discriminações entre os filhos biológicos
ou não e oriundos do casamento ou não. Isso também em virtude do melhor
interesse da criança.

Princípio da conivência familiar e do livre planejamento familiar

O princípio da convivência familiar assegura a todos os membros da família


gozarem do direito de viver com seus entes, gerando uma relação de afetividade no
dia a dia, devendo, portanto pais e filhos permanecer juntos, mesmo quando os pais
são divorciados e não mantenham relação alguma. Este princípio respalda
principalmente o direito da criança, considerada incapaz, filhos de casais separados,
o seu direito de conviver tanto com o pai como com a mãe e os seus familiares,
como avós, tios etc. Neste sentido dispõe Gagliano e Pamplona (2012, p. 89)

Pais e filhos, por princípio, devem permanecer juntos. O afastamento


definitivo dos filhos da sua família natural é medida de exceção, apenas
recomendável em situações justificadas por interesse superior, a exemplo
da adoção, do reconhecimento da paternidade socioafetiva ou da
destituição do poder familiar por descumprimento de dever legal.

Uma família que tenha uma boa estrutura familiar é capaz de agregar bons
valores a seus filhos. Os progressos que a criança vai tendo são incentivados pelos
pais, que fornecem um modelo de conduta que a criança possa seguir. Assim, a
convivência familiar entra como um importante vetor para fornecer à criança toda a
base de que necessita para se desenvolver de forma plena. É no meio familiar que é
formada a personalidade e caráter das pessoas.

Paralelo ao princípio da convivência familiar encontra-se o princípio do livre


planejamento familiar previsto no artigo 226, § 7º, da Constituição Federal de 88,
sendo o planejamento familiar de livre decisão do casal, tendo como fundamentos os
princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, que é de
ambos os genitores, cônjuges ou companheiros.
22

O planejamento familiar compreende não só decidir sobre o número de filhos,


mas também quanto a aumentar o intervalo entre as gestações bem como a
escolhas pela filiação por meio da monoparentalidade, dentre outros tipos de
famílias. Portanto, em um país democrático como o Brasil, não se poderia admitir
qualquer restrição impositiva à procriação.

A Lei nº. 9.253/96 regulamentou o assunto, especialmente no tocante à


responsabilidade do Poder Público. O Código Civil de 2002, no art. 1.565, traçou
algumas diretrizes, proclamando que “o planejamento familiar é de livre decisão do
casal” e que é “vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições públicas e
privadas”.

Com base na legislação, fica claro que o livre planejamento não será tão
somente quanto à forma de procriação, mas também quanto à escolha pela forma
de união entre as pessoas, sendo livre constituir o modelo de familiar que desejar,
com quem irá se casar e o regime de bens que irá adotar. Portanto não há que se
discutir a forma da família, seja ela matrimonial, por união estável, homossexual
entre tantas outras, cabendo às instituições públicas somente preservar pela família
existente.

Princípio da proteção integral da criança e do adolescente

O princípio da proteção integral da criança e do adolescente surge com a


revogação do Código de Menores, que apresentava uma visão distante da realidade
atual vivida pelos menores. A partir daí houve a instauração do Estatuto da Criança
e do Adolescente que apresenta uma nova visão sobre os direitos e o tratamento
jurídico a ser dado à criança e ao adolescente. O Estatuto da Criança e do
Adolescente adotou como referencial doutrinário o Princípio da Proteção Integral em
direção oposta ao princípio da situação irregular que vigorava na legislação
revogada.

Esse princípio assegura tanto a criança como ao adolescente, considerados


pessoas em desenvolvimento e dotadas de dignidade, que seus direitos sejam vistos
como prioridade pela sociedade, pelo Estado e pela própria família. Pode-se afirmar
23

que este princípio é decorrente do princípio da isonomia por se tratar da proteção de


indivíduos considerados vulneráveis.

No artigo 227 da Constituição Federal, podem ser percebidas diversas regras


para proteger as crianças e os adolescentes, vistas como direitos fundamentais,
bem como as disposições do artigo 227, §6º, que proíbe discriminação entre os
filhos, e o artigo 229, que assegura aos filhos o direito de serem assistidos, criados e
educados pelos pais, tudo visando o princípio da proteção integral e do melhor
interesse da criança.

Em reforço, o art. 3. º do próprio ECA determina que

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral,
assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Assim, não restam dúvidas quanto a responsabilidade da família, da


sociedade e do Estado com relação a proteção dessas crianças e adolescentes.

Aos pais cabe o exercício do poder familiar com autonomia, respeitando a


legislação e a responsabilidade, exigindo respeito, obediência, colaboração e
educação podendo utilizar-se de medidas corretivas necessárias. Ao Estado, com o
auxílio da sociedade, cabe assegurar os direitos da criança e do adolescente, agindo
da negativa dos pais em respeitar os direitos dos filhos, por meio dos órgãos
judiciais e extrajudiciais.

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente.
24

Assim, a doutrina da Proteção Integral visa assegurar os direitos


fundamentais às crianças, com o intuito de que tais direitos proporcione-lhes o pleno
desenvolvimento, concretizando, desta forma, o princípio da dignidade humana,
gerando crianças mais justas, felizes e humanas, isto os fará se tornarem adultos
integrados na sociedade.

2.2 As novas formas de filiação no atual cenário das famílias

A filiação é a mais relevante relação de parentesco existente na ciência


jurídica, que é estabelecida entre pai, mãe e filho, seja pelo vínculo biológico, afetivo
e por vínculo de afinidade. Para o direito brasileiro a filiação é biológica e não
biológica, pois é construída através da convivência e da afetividade. Segundo dispõe
Lôbo (2011, p. 216)

Filiação é conceito relacional; é a relação de parentesco que se estabelece


entre duas pessoas, uma das quais nascidas da outra, ou adotada, ou
vinculada mediante posse de estado de filiação ou por concepção derivada
de inseminação artificial heteróloga. Quando a relação é considerada em
face do pai, chama-se paternidade, quando em face da mãe, maternidade.
Filiação procede do latim filiatio, que significa procedência, laço de
parentesco dos filhos com os pais, dependência, enlace.

Contudo nem sempre a família formada pelos laços afetivos foi respeitada e
aceita como entidade familiar pelo ordenamento jurídico pátrio, que antes era uma
legislação preconceituosa, com a extrema proteção da união matrimonial, renegando
qualquer formação familiar diferente do casamento. Neste sentido dispõe Dias
(2015, p. 386)

A família constituída pelo casamento era a única a merecer reconhecimento


e proteção estatal, tanto que sempre recebeu o nome de família legítima.
Quando a lei trata da filiação, está a se referir exclusivamente aos filhos
matrimoniais. Despreza o legislador a verdade biológica e gera uma
paternidade jurídica, estabelecida por presunção independente da verdade
25

real. Para a biologia, pai é unicamente quem, em uma relação sexual,


fecunda uma mulher que, levando a gestação a termo, dá à luz um filho.
Para o direito, o conceito sempre foi diverso. Pai é o marido da mãe. A
ciência jurídica conforma-se com a paternidade calcada na moral familiar.

Somente com a Constituição Federal de 1988, foi possível observar grande


mudança no conceito de família e filiação no ordenamento jurídico brasileiro,
alterando as antigas concepções, tais como a exclusividade e primazia da verdade
biológica para fins de constatação de estado de filiação. Na atualidade, o vínculo
familiar se dá pela afetividade e a figura de pai e mãe vem sendo cada vez mais
determinada não pela genética ou por presunção legal, mas pela convivência
afetiva.

A Constituição Federal de 1988 trouxe normatizações e reconheceu as


outras espécies de família, como o caso da união estável, considerando o núcleo
familiar não somente advindo da família tradicional, mas sim aquele formado por
qualquer dos pais e descendentes. Atualmente a visão de família é sob o aspecto
pluralista muito mais voltado para a afetividade, verificando-se as responsabilidades
e compromissos, fundados no amor entre os indivíduos.

Portanto, os elementos do conceito de família na era pós-modernismo, são


pluralizados, democrática, igualitária, hétero ou homoparental, biológica ou
socioafetiva, unidade socioafetiva e de caráter instrumental.

2.2.1 O valor do afeto no reconhecimento da filiação socioafetiva

Na doutrina contemporânea é evidente o valor jurídico do afeto e sua


condição de verdadeiro princípio geral tornando-se a base das entidades familiares.
A família formada por laços afetivos vem se destacando sobre os outros tipos de
paternidade, até porque esta se forma independentemente de relação jurídica ou
biológica. A família de hoje pode ser compreendida sob a luz da dignidade da
pessoa humana, e a valorização da afetividade na entidade familiar é decorrência da
dignidade da pessoa humana. Neste sentido, dispõe Schimidt (2013, p. 190)
26

Por todo o declinato, pode-se dizer que a dignidade da pessoa humana, é


integrada por um sistema valorado, localizado no foro íntimo de cada ser
humano. Assim, observa-se, nitidamente que o princípio da dignidade
humana possui como um de seus elementos concretizadores, o princípio da
afetividade, a dignidade prescinde da afetividade para ser externada.

A afetividade é o laço que une as pessoas e sua consideração como princípio


jurídico decorre da interpretação sistemática da Constituição Federal, que
recepcionou um modelo de família que possui como característica essencial o afeto,
o carinho, a consideração e o respeito mútuos, independentemente do vínculo
biológico. O direito de família contemporâneo busca um direito de filiação que não
seja somente advindo da relação biológica, retirando o vínculo biológico da posição
central e abrindo espaço para as relações de afeto entre pai e filho, sendo as
relações familiares baseadas na afetividade.

O valor do afeto está cada vez mais em evidência quando se fala na família,
tornando-se base para o estado de filiação. O reconhecimento do valor jurídico do
afeto, como sendo essencial para a determinação da filiação, já está consolidado por
grande parte da jurisprudência. Nessa perspectiva, o afeto passou a fator relevante
nas soluções dos conflitos familiares e em consequência passou a ser a essência da
filiação, já que o amor não exerce valor jurídico. Hoje neste cenário de conflitos
constantes nas famílias, preferem-se os pais sociológicos aos pais biológicos ou
naturais. Conforme leciona Lôbo (2011, p. 27)

As relações de consanguinidade, na prática social, são menos importantes


que as oriundas de laços de afetividade e da convivência familiar,
constituintes do estado de filiação, que deve prevalecer quando houver
conflito com o dado biológico, salvo se o princípio do melhor interesse da
criança ou o princípio da dignidade da pessoa humana indicarem outra
orientação, não devendo ser confundido o direito àquele estado com o
direito à origem genética, como demonstramos alhures.

Diante de tal realidade, torna-se imprescindível o uso de novos referenciais na


identificação dos vínculos de filiação, como o reconhecimento da filiação
27

socioafetiva, através do instituto posse de estado de filho. Entretanto quando se fala


em posse de estado de filho, a afinidade genética é insuficiente para averiguar a
existência ou não de uma relação de paternidade. Desse modo, é relevante
entender a diferença entre genitor e pai, visto que o primeiro seria o doador do
sêmen, aquele que gera, podendo ser obrigado, no máximo, a prestar assistência
material, de caráter obrigacional, enquanto que o pai, na acepção da palavra, é
aquele que cria, dá amor e é responsável por ensinar os valores que a pessoa
passará a ter. O sentido de paternidade estaria no convívio social do filho,
assumindo os deveres inerentes à sua condição, ainda que não fosse o genitor, que
somente seria imprescindível para a fecundação do óvulo.

Nesse âmbito, o princípio da aparência possui grande relevância à posse de


estado de filho, pois a aparência faz com que todos acreditem existir situação não
verdadeira, fato que não pode ser desprezado pelo direito. Neste sentido a
aparência seria a demonstração, perante a sociedade, de relação paterno-filial, com
a exteriorização da convivência familiar afetiva, independentemente de vínculo
biológico.

A posse do estado de filho é uma relação afetiva, íntima e duradoura,


caracterizada pela reputação diante de terceiros como se filho fosse, e pelo
tratamento existente na relação paterno-filial, em que há o chamamento de filho e a
aceitação do chamamento de pai. Mesmo não estando prevista expressamente no
ordenamento jurídico, entende-se que deve ser aplicada como um dos fatos
geradores da parentalidade socioafetiva, em razão do art. 1.605, II, do Código Civil,
que determina

Art. 1.605. Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a


filiação por qualquer modo admissível em direito:

[...]

II – quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos.


28

Para a configuração da posse de estado de filho, ou seja, que se trata de uma


presunção juris tantum do estado de filiação, devem ser levados em conta três
aspectos, o tratamento, o nome e a fama.

O primeiro aspecto, tratamento, respeita à forma como o filho é tratado pela


família e se de tal forma é considerado por ela. O nome, por sua vez, analisa se o
nome da família é utilizado por ele e, por fim, a fama refere-se à opinião pública e ao
reconhecimento da sociedade de que aquele filho, de fato, integra a família de seus
pais. Constatada a existência da posse de estado de filho, está-se diante de uma
paternidade socioafetiva, qual seja aquela oriunda da verdade aparente e que possui
proteção da cláusula geral de tutela da personalidade humana que zela pelo estado
de filiação, sendo este formador da identidade e responsável pela definição de
personalidade.

2.2.2 O reconhecimento de outras modalidades de filiação sob a perspectiva da


afetividade

A Constituição Federal de 1988 começou a desconstruir a ideologia da família


patriarcal, edificada em uma família monogâmica, parental, centralizada na figura
paterna e patrimonial e que reinou absoluta na sociedade brasileira, herdada dos
patriarcas antigos e dos senhores medievais.

Diante das profundas mudanças no retrato jurídico nacional e no direito de


família, a instituição familiar foi modificando a sua estrutura, sua dinâmica e suas
relações entre seus membros e com os outros sistemas, porque se transformaram
assim como a sociedade da qual faz parte.

Observa-se que a família está se organizando da maneira que consegue e


são evidentes as mudanças que aconteceram no âmbito familiar, que podem ser
vistas através de dados históricos. Hoje encontramos uma diversidade de formas
familiares que se diferem do modelo anteriormente considerado como padrão de
família brasileira, tendo em vista que o vínculo existente nas relações de filiação
29

provém do afeto, mas não qualquer afeto, mas um afeto especial, representado pelo
sentimento de duas pessoas que se afeiçoam pelo convívio. Neste sentido várias
são as modalidades de filiação advindas da relação afetiva, e algumas delas serão
analisadas pelo presente trabalho.

Além da adoção legal, embora vedado na legislação, nossa sociedade aceita


a prática de outro tipo de adoção, denominada de adoção à brasileira. Apesar de
esta não ser definida em lei, sua prática é muito utilizada no país. Com ela, alguém
perfilha um recém-nascido, como se seu fosse, sem o devido processo de adoção.
Muito embora, trate-se de um ato ilícito, o Poder Judiciário tem tolerado sua prática,
quando não resultar em nenhum prejuízo às partes, atendo-se ao princípio do
melhor interesse da criança e da afetividade. Portanto uma vez registrado o filho
como se seu fosse, não pode o pai buscar posterior anulação, tendo em vista que
ninguém pode beneficiar-se de sua própria torpeza. Nesse passo, a adoção à
brasileira constitui-se modalidade de paternidade afetiva, visto que movida apenas
pelo afeto, não podendo ser desconstituída por mero arrependimento por parte do
pai registral, ressalvando-se as hipóteses de erro, dolo, simulação ou fraude.

Outro tipo de filiação socioafetiva é a chamada filiação extensa, que é aquela


que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada
por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém
vínculos de afinidade e afetividade, conforme prevê o art. 25, parágrafo único,
do Estatuto da Criança e do Adolescente. A lei exige que já exista um vínculo de
convivência, afinidade e afetividade para se reconhecer algum parente como família
extensa. Os casos mais comuns são quando as crianças ficam sob a guarda dos
avós, já existindo a relação de afetividade e tornando-se cada vez mais intensa.

Observa-se ainda a chamada filiação advinda da família recomposta, que é


quando a família reconstituída é a estrutura familiar originada em um casamento ou
uma união estável de um par afetivo, onde um deles ou ambos os integrantes têm
filhos provenientes de um casamento ou de uma relação precedente. Dessa nova
família, pode-se gerar uma relação afetiva filial entre criança e o padrasto e/ou
madrasta, havendo a possibilidade de adoção unilateral do filho do companheiro,
porém a concordância e o vínculo com o genitor não será ignorado, até porque o
30

novo casamento dos pais não importa em restrições aos direitos e deveres com
relação aos filhos.

Outro tipo filiação existente, ainda pouco conhecido, é a proveniente da


coparentalidade, expressão utilizada para definir a coparticipação no exercício da
parentalidade que é a relação de parentesco que se estabelece entre pessoas da
mesma família, seja em decorrência da consanguinidade, da socioafetividade ou
pela afinidade, isto é, o vínculo decorrente dos parentes do cônjuge ou companheiro.

A filiação por coparentalidade, não será somente formada por parentes, mas
também aquelas advindas das famílias constituídas por pessoas hetero ou
homoafetiva, que não necessariamente estabeleceram um vínculo amoroso conjugal
ou sexual. Elas apenas se encontram movidas pelo desejo e interesse em fazer uma
parceria de paternidade/maternidade, e na maioria das vezes o processo de geração
de filhos é feito por técnicas de reprodução assistida.

2.2.3 Os modelos tradicionais de filiação previstos no Código Civil e no


Estatuto da Criança e do adolescente

A filiação é a relação jurídica que vincula o filho a seus pais, assim


denominada quando visualizada pelo lado do filho, quando pelo lado dos pais em
relação ao filho, o vínculo se denomina paternidade ou maternidade. Neste sentido
filiação é o vínculo existente entre pais e filhos, é a relação de parentesco
consanguíneo em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que lhe
geraram a vida ou a receberam como se a tivessem gerado.

Assim, a filiação possui três espécies, quais sejam: a adotiva, oriunda da


adoção; a presumida, pois se presumem naturais os filhos gerados na constância do
casamento e a natural, que se refere à questão biológica.
31

Filiação natural

Filiação natural ou biológica é a relação existente entre o filho e as pessoas


que o geraram e tem origem na consanguinidade, estabelecendo-se a filiação pelos
laços de sangue entre os pais e filhos.

O reconhecimento dos filhos poderá ser realizado conjunta ou


separadamente, antes ou depois do seu nascimento e até após a sua morte, se
deixar descendentes. Contudo, uma vez reconhecida a filiação, esta será
indisponível e imprescindível.

Filiação presumida ou legítima

O legislador pátrio se referiu à filiação legítima como sendo aquela que surge
do casamento, tornando a filiação existente presumidamente verdadeira Nesse
sentido, o artigo 1.597 do Código Civil dispõe:

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:

I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a


convivência conjugal;

II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade


conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;

III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o


marido;

IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões


excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;

V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia


autorização do marido.

Entretanto vale destacar que a referida presunção de veracidade é relativa, ou


seja, admite prova em contrário. Assim, o marido pode ingressar com uma ação
negatória de paternidade, que é imprescritível, para contestar a filiação que lhe é
imputada.
32

Dentre a filiação presumida, destaca-se a filiação socioafetiva por reprodução


assistida heteróloga, uma vez que nos dias atuais, o avanço da ciência trouxe
algumas conquistas genéticas. A inseminação artificial é um exemplo, que assim
como na adoção, é uma vontade de trazer ao mundo uma criança pelo exclusivo
desejo do casal.

Como já observado, o artigo 1.597, do Código Civil de 2002, trouxe as


hipóteses onde há a presunção de paternidade, sendo que o inciso V do referido
artigo trata da inseminação artificial heteróloga, que é aquela onde o material
genético masculino é doado por outra pessoa. Desde que seja feita com o
consentimento do marido, é presunção absoluta de paternidade socioafetiva, e o
filho gerado será considerado, portanto concebido na constância do casamento. A
reprodução assistida heteróloga, envolve material genético de uma terceira pessoa,
mas nunca haverá uma dualidade sobre a paternidade ser biológica ou socioafetiva,
pois o pai nunca será considerado aquele que cedeu o sêmen, mas sim aquele que
dará afeto, proteção e amor.

Filiação adotiva

Sabe-se que a filiação nem sempre resulta da união sexual, pois o Estatuto
da Criança e do Adolescente e o Código Civil reconhece a filiação sociológica ou
também chamada adoção. A adoção corresponde ao ato jurídico pelo qual uma
pessoa recebe outra como filho, independentemente de existir entre elas qualquer
relação de parentesco consanguíneo ou afim.

Pelo princípio da isonomia o art. 227, §6 da CF estabeleceu que: “Os filhos,


havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
filiação".

A adoção, que está normatizada no Código Civil do artigo 1618 e 1619, bem
como no Estatuto da Criança e do Adolescente do artigo 39 ao 52, não deixa de ser
uma forma de filiação socioafetiva, necessitando de afeto, com o intuito de
integralizar um indivíduo a um lar, cercando-o de cuidados físicos e emocionais.
33

Assim, o art. 41 do ECA dispõe que “A adoção atribui a condição de filho ao


adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de
qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais”. E como
disciplinado pelo mesmo Estatuto, a adoção é medida excepcional e irrevogável e
devem ocorrer depois de esgotadas todas as tentativas de manter a criança e/ou
adolescente em sua família de origem.

Quando da adoção cria-se um vínculo de amor pelo o adotando que


transcende os laços de consanguinidade. Portanto, aquele que optar por adotar
deve estar movido única e exclusivamente pela solidariedade em ajudar alguém que
necessita de um lar.

Com a adoção a criança perde o vínculo com a família biológica, mesmo nos
casos em que os pais adotivos vierem a falecer esse vínculo não é
restabelecido,pelo fato de que a adoção é ato irrevogável.
34

3 O RECONHECIMENTO JURÍDICO DA FILIAÇÃO NA MULTIPARENTALIDADE

Observa-se que o Direito, preocupado em ordenar e regulamentar as relações


sociais que está em constante transformação, algumas questões trazidas aos
debates jurídicos não encontram respaldo expresso e direto nos textos normativos,
razão pela qual dependem de uma análise mais atenta do intérprete do Direito,
exemplo disso é a questão do reconhecimento da multiparentalidade.

No decorrer da história das relações de família, de forma praticamente


uniforme, era impossível a existência concomitante de uma parentalidade biológica e
outra afetiva, o reconhecimento de apenas uma era aceita para fins de registro civil e
consequentes efeitos familiares, tais como registral, pessoal, patrimonial e
sucessório.

Entretanto, quando o reconhecimento da paternidade biológica ou a afetiva


era colocada de forma optativa, constatou-se certa preferência dos doutrinadores e
juristas pela paternidade socioafetiva. Porém a sobreposição de uma filiação à outra
não é a medida mais justa e nem a mais adequada diante da realidade social e
constitucional, haja vista que “é direito tanto do filho, como do genitor biológico e/ou
afetivo, de invocar o princípio da dignidade da pessoa humana e da afetividade, para
ter assegurado a manutenção ou o estabelecimento dos vínculos parentais”
(PÓVOAS, 2012, p.79 apud SOUZA, 2016, p. 69-70). Christiano Cassettari (2017, p.
113) enfatiza que a “a parentalidade afetiva prevalece sobre a biológica” e deve ser
aplicada de forma ponderada e que as duas paternidades podem coexistir,
formando, assim, a multiparentalidade.

Diante da realidade da formação dos novos arranjos familiares, seja


matrimonial, homoafetiva, monoparental, formada por irmãos, pela união estável,
entre outras, o sistema disciplinador da filiação também foi alterado. Contudo, surge
a possibilidade jurídica do reconhecimento da filiação na multiparentalidade, a partir
de então o instituto passa a repercutir não só no cotidiano das famílias, mas também
no âmbito jurídico, cabendo ao legislador encontrar meios para regulamentar as
relações familiares da melhor maneira possível, valorizando a filiação socioafetiva
35

que tem como fundamentos, principalmente, os princípios constitucionais da


dignidade da pessoa humana e da afetividade, entre outros.

O reconhecimento da multiparentalidade representa um avanço muito


significativo no direito de família, e isso mostra que o legislador acompanhou a
evolução dos novos arranjos familiares, que hoje é identificado pela presença do
afeto entre as pessoas. Neste sentido dispõe Kirch e Copatti (2013) que “a
multiparentalidade se propõe então a legitimar a maternidade ou paternidade
daquele que ama, educa e cria como se pai fosse, sem desconsiderar a mãe ou pai
biológico”.

3.1 Configuração da multiparentalidade sob o enfoque dos fundamentos


constitucionais

A multiparentalidade é uma nova espécie de parentesco que também recebe


outras nomenclaturas tais como pluriparentalidade, mosaico familiar, famílias
reconstruídas, famílias recompostas, famílias ensambladas, entre outras (DIAS,
2016). De acordo com o estudo até o momento, o instituto da multiparentalidade
surge da necessidade de solucionar o conflito existente entre a paternidade biológica
e a paternidade socioafetiva e é resultado da mudança conceitual que se deu no
conceito de família. Neste sentido, na doutrina e na jurisprudência houve uma vasta
discussão quanto à possibilidade ou não da aplicação concomitante da
parentalidade socioafetiva e biológica, uma das maiores preocupações era quanto
ao fato dos efeitos jurídicos que poderiam surgir após o reconhecimento desse novo
modelo familiar.

Sobre o tema apontam Ana Carolina Brochado Teixeira e Renata de Lima


Rodrigues (2010, p. 204 apud CASSETTARI, 2017, p. 113-114)

Em face de uma realidade social que se compõe de todos os tipos de


famílias possíveis e de um ordenamento jurídico que autoriza a livre (des)
constituição familiar, não há como negar que a existência de famílias
36

reconstituídas representa a possibilidade de uma múltipla vinculação


parental de crianças que convivem nesses novos arranjos familiares, porque
assimilam a figura do pai e da mãe afim como novas figuras parentais, ao
lado de seus pais biológicos. Não reconhecer esses vínculos, construídos
sobre as bases de uma relação socioafetiva, pode igualmente representar
ausência de tutela a esses menores em formação.

Assim, verifica-se que não há como negar a existência da multiparentalidade


diante da realidade social onde a verdade biológica pode não expressar a verdadeira
paternidade, que muitas vezes é expressa pelo vínculo socioafetivo. Para tanto
torna-se permissível a duplicidade de vínculos materno ou paterno-filiais.

Para Gonçalves (2016, p. 303) a multiparentalidade é um instituto que


“consiste no fato de o filho possuir dois pais ou mães reconhecidos pelo direito, o
biológico e o socioafetivo, em função da valorização da filiação socioafetiva”. Nesse
mesmo sentido, aponta Cassettari (2017, p. 139) que a multiparentalidade “consiste
basicamente na possibilidade de uma pessoa possuir mais de um pai e/ou mais de
uma mãe, simultaneamente, e produz efeitos jurídicos em relação a todos eles”.

Para Dias (2016, p. 218) a multiparentalidade

“decorre da peculiar organização do núcleo, reconstruído por casais onde


um ou ambos são egressos de casamentos ou uniões anteriores. Eles
trazem para a nova família seus filhos e, muitas vezes, têm filhos em
comum”.

Para Kirch e Copatti (2013)

A multiparentalidade significa a legitimação da paternidade/maternidade do


padrasto ou madrasta que ama, cria e cuida de seu enteado(a) como se seu
filho fosse, enquanto que ao mesmo tempo o enteado(a) o ama e o(a) tem
como pai/mãe, sem que para isso, se desconsidere o pai ou mãe biológicos.
A proposta é a inclusão no registro de nascimento do pai ou mãe
socioafetivo permanecendo o nome de ambos os pais biológicos.

Dessa forma, a multiparentalidade diverge da adoção unilateral em que o


cônjuge ou companheiro do pai ou mãe do enteado adota este, o que
resulta no total rompimento dos vínculos jurídicos com o outro genitor, salvo
os impeditivos de casamento. Nesta modalidade de adoção unilateral, não
há alteração da paternidade/maternidade do cônjuge ou companheiro do
adotante, bem como do exercício do poder familiar e nos vínculos jurídicos.
37

Analisando os conceitos trazidos pelos autores citados, a multiparentalidade


nada mais é do que um novo vínculo, em que os pais/mães biológicos e
socioafetivos convivem de forma equilibrada em prol do interesse do filho,
prestando-lhes auxílio material e afetivo, sempre com o fim primordial do melhor
interesse da criança e do adolescente. Desta forma, o instituto da
multiparentalidade, conforme dispõe as autoras Kirch e Copatti (2013)

É uma forma de reconhecer no campo jurídico o que ocorre no mundo dos


fatos. Afirma a existência do direito a convivência familiar que a criança e o
adolescente exercem por meio da paternidade biológica em conjunto com a
paternidade socioafetiva.

Sendo assim, não é qualquer relação decorrente de uma nova formação


familiar que será o suficiente para configurar o reconhecimento da
multiparentalidade, sendo necessária a comprovação da relação de afeto existente
entre os membros da família concomitante com a análise de cada caso concreto, até
porque não é só o reconhecimento em si, mas os efeitos jurídicos que surgirão como
consequência do reconhecimento da multiparentalidade, como exemplo da maneira
de sua formação, se a afetividade deve ser recíproca, qual é a ação judicial que
deve ser proposta para discuti-la, se são devidos alimentos nesse modelo, se há
direito sucessório, se o parentesco socioafetivo liga o filho a todos os parentes do
pai ou da mãe, se há direitos previdenciários, entre outros que serão analisados
posteriormente.

3.1.1 Princípios consagradores da multiparentalidade

Ao analisar o instituto da multiparentalidade deve-se analisar o sistema


legislativo como um todo, com atenção especial aos princípios e às disposições da
Constituição Federal, principalmente no que se refere ao direito filiatório. Os
princípios constitucionais devem ser assiduamente observados na interpretação e
38

aplicação do instituto da multiparentalidade, até porque o Direito das Famílias tem


toda a sua base fundada nos princípios da Constituição Federal, pois são nas
relações familiares que o indivíduo se estrutura, forma seu caráter e firma sua
dignidade.

Os princípios constitucionais são considerados espelhos da experiência


jurídica por serem dotados de elevado grau de universalidade, por qual razão devem
ser sempre observados e respeitados, caso contrário enseja uma ofensa não só a
seu caráter de obrigatoriedade, bem como a todo o sistema jurídico.

O reconhecimento da multiparentalidade apresenta uma estreita ligação com


a maioria dos princípios constitucionais que são aplicáveis no Direito das Famílias,
tais como o da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da tutela especial à
família, do pluralismo das entidades familiares, do melhor interesse da criança e do
adolescente e da proteção integral, da solidariedade e da afetividade. A seguir serão
analisados os considerados de maior importância para o instituto da
multiparentalidade.

Princípio da dignidade da pessoa humana.

Como princípio primordial regulador do instituto da multiparentalidade está o


princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1° da Constituição
Federal e é considerado o mais universal de todos os princípios, dele se irradiam
todos os demais. Este princípio assegura ao indivíduo viver de maneira plena sem
que haja intervenção estatal, preservando o respeito à dimensão existencial do ser
humano.

Neste sentido,observa-se que o princípio da dignidade da pessoa humana


visa consagrar o respeito como forma de bem viver, e sendo a multiparentalidade
adoção voluntária de muitas famílias não cabe ao Direito negar-lhes essa condição,
muito pelo contrário, somente convém designar os mecanismos legais adequados a
proteção dos integrantes desta família. Assim, a multiparentalidade encontra
efetivação no princípio da dignidade da pessoa humana, cabendo ao direito tutelá-la
como garantia de uma vida digna.
39

Com a elevação do princípio da dignidade da pessoa humana como


fundamento da ordem jurídica, a pessoa passou a ser priorizada traspassando o
limite do patrimônio, portanto o direito de família e a própria família, deixaram de
estar fundados no patrimônio que tinha a finalidade de fortalecer o Estado e
conservar os bens entre a família, fundando-se então, na personalização das
relações e em uma aproximação substancial entre as pessoas.

Princípio do pluralismo das entidades familiares

Tem-se ainda como princípio regulador do instituto da multiparentalidade o


princípio do pluralismo das entidades familiares. Consagrou-se com a Constituição
Federal de 1988 ampliando o conceito de família, que somente era aceita através
das relações constituídas pelo casamento, a partir de então o reconhecimento das
famílias não matrimoniais foi permitido e consequentemente a mesma proteção
jurídica dedicada às famílias advindas do casamento. Este princípio assegura
proteção a qualquer formação familiar constituída sob o manto do afeto e da
solidariedade.

No momento em que as uniões advindas do matrimônio deixaram de ser


reconhecidas como a única base da sociedade, aumentou o conceito e a forma da
família. Para Dias (2015, p.54) “o princípio do pluralismo das entidades familiares é
encarado como o reconhecimento, pelo Estado, da existência de várias
possibilidades de arranjos familiares”, e consequentemente dos vários tipos de
filiação existentes.

A partir da consagração do princípio do pluralismo das entidades familiares,


os filhos, mesmo os não concebidos na constância do casamento passam a ter
tratamento igualitário em respeito à dignidade de cada um como pessoa. Observa-
se que com este princípio a Constituição, mesmo que implicitamente, consagra o
afeto como valor jurídico tutelável buscando garantir a liberdade que cada indivíduo
tem de afeiçoar-se com quem deseja na busca pela sua felicidade, pela dignidade
e pelo bem-estar. Neste sentido observa Farias e Rosenvald (2015, p.61)
40

Dessa maneira, a família deve ser notada de forma ampla,


independentemente do modelo adotado. Seja qual for a forma, decorrerá
especial proteção do Poder Público. Gozam, assim, de proteção tanto as
entidades constituídas solenemente, quanto as entidades informais, sem
constituição solene.

Ainda nas palavras de Farias e Rosenvald (2015, p.61) “é preciso ressaltar


que o rol da previsão constitucional não é taxativo, estando protegida toda e
qualquer entidade familiar, fundada no afeto, esteja, ou não, contemplada
expressamente na dicção legal”.

Princípio da afetividade

Além da dignidade da pessoa humana e do pluralismo das entidades


familiares a multiparentalidade recebe, também, aparato jurídico pelo princípio da
afetividade. O princípio da afetividade se manifesta na atualidade como elemento
estruturador e norteador das relações familiares. Em virtude da realidade familiar,
os critérios para o estabelecimento da filiação devem ser estudados sob a nova
ordem de princípios constitucionais para que se possam encontrar soluções justas
aos problemas, que eram solucionados apenas com base na letra da lei.

Tendo em vista o princípio da afetividade, a filiação socioafetiva deverá ser


aceita não existindo distinção alguma entre o filho biológico e o afetivo pelo princípio
da igualdade das filiações. Entretanto, como já observado não poderá haver
prevalência de um critério de determinação da parentalidade sobre o outro, quando
ao mesmo tempo uma pessoa se sinta filho de duas pessoas.

O referido princípio gera uma verdade social, portanto a legislação deve


garantir o respeito às relações estabelecidas livremente pelos indivíduos,
proporcionando a liberdade de amar, conservando a dignidade humana. Por essa
razão, é o afeto que orienta as relações de filiação e forma a família. Neste sentido
dispõe a ilustre Dias (2015, p. 60)

A família transforma-se na medida em que se acentuam as relações de


sentimento entre seus membros: valorizam-se as funções afetivas da
família. A família e o casamento adquiriam novo perfil, voltados muitos mais
41

a realizar os interesses afetivos e existenciais de seus integrantes. Essa é a


concepção eudemonista da família, que progride à medida que regride o
seu aspecto instrumental. A comunhão de afeto é incompatível com o
modelo único, matrimonializado, da família. Por isso, a afetividade entrou
nas cogitações dos juristas, buscando explicar as relações familiares
contemporâneas.

Assim, o princípio da dignidade da pessoa humana, aliado, dentre outros, aos


princípios da pluralidade das entidades familiares e do afeto, deve guiar as soluções
dadas no campo do reconhecimento da multiparentalidade, reconhecendo no campo
jurídico a filiação que já existe no campo fático.

Princípio do livre planejamento familiar

O princípio do livre planejamento familiar está previsto tanto no texto da


legislação civilista, quanto no texto constitucional, como seguem respectivamente

Art. 1.565. [...].

[...].

§2º. O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao


Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse
direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas
ou públicas.

Art. 226. [...].

[...]

§7º. Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da


paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas.

A partir da análise de ambos dispositivos, fica evidente que o princípio do livre


planejamento familiar se refere à liberdade de constituir a entidade familiar na
composição que as partes desejarem e na forma como realizarão a felicidade plena,
organizando a família sem a intervenção do Estado, seja para decidir, impor,
42

interferir no modo de ser, nos hábitos, nas atividades, no trabalho ou na cultura que
decidiu adotar a família. Adquirida esta autonomia, os pais passam a ser dotados do
poder de decisão quanto à prole, não havendo limitação quanto à filiação, mesmo
havendo falta de condições materiais e até mesmo pessoal.

Assim, entende-se que este princípio, ao lado do princípio da afetividade, é a


viga mestra que traz respaldo e segurança jurídica para a formação de diversos
grupos familiares advindos da constante evolução no seio familiar, tais como as
famílias homoafetiva, paralelas, substitutas, anaparental e a família multiparental,
dentre vários outros tipos que não se constituem mais na forma da tradicional família
patriarcal e matrimonial.

3.2 O Regramento do Conselho Nacional de Justiça – CNJ: as formalidades no


procedimento registral de reconhecimento da filiação

Em novembro de 2017, a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça


publicou o Provimento n° 63, que anunciou novas regras voltadas para os Cartórios
de Registro Civil das Pessoas Naturais que regulamenta algumas alterações para
emissão de certidão de nascimento, casamento e óbito. Entre as novas regras
previstas está a possibilidade de reconhecimento voluntário extrajudicial da
maternidade e paternidade socioafetiva pessoas de qualquer idade, ou seja sem
precisar recorrer a uma decisão judicial.

Ao analisar o preâmbulo do Provimento nº 63 observa-se que ele é fruto do


julgamento do RE 898.060/SC pelo Supremo Tribunal Federal

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL


RECONHECIDA. DIREITO CIVIL E CONSTITUCIONAL. CONFLITO ENTRE
PATERNIDADES SOCIOAFETIVA E BIOLÓGICA. Decisão: O Tribunal, por
maioria e nos termos do voto do Relator, fixou tese nos seguintes termos: "A
paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede
o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem
biológica, com os efeitos jurídicos próprios", vencidos, em parte, os
Ministros Dias Toffoli e Marco Aurélio (STF, REx 898.060/SC, RELATOR
43

MIN. LUIZ FUX, 22/09/2016 - PROCESSO DE ORIGEM Nº


20120385259/SC).

Observa-se que o Provimento foi construído com base nos fundamentos e


princípios da dignidade da pessoa humana, direito à busca pela felicidade,
afetividade, pluralismo das entidades familiares, solidariedade familiar, igualdade da
filiação, paternidade responsável e o melhor interesse da criança e do adolescente.

O Provimento nº 63/2017 do CNJ foi criado com o objetivo de sanar as


dúvidas e auxiliar as decisões tomadas em casos de multiparentalidade, e é
considerado pelos juristas um importante avanço em matéria registral. Com este
Provimento foi dado um grande salto em relação ao cenário anterior, por conter em
seu texto a regularização e simplificação de questões que antes somente eram
realizadas por meio de intervenção judicial. Observa-se que este Provimento trouxe
à tona a posse de estado de filho, referindo-se ao filho de criação sem vínculo
sanguíneo e sem formalidades, onde existe uma relação advinda do afeto em que o
filho chama seu padrasto de pai e também é chamado de filho. A partir deste vínculo
afetuoso que surge e solidifica a paternidade socioafetiva, tal como a paternidade
biológica ou adotiva. Conforme dispõe Salomão (2017)

O caminho a ser percorrido possui determinadas fases, iniciando com o


desejo de ser filho e de ser pai um do outro, passando pelo afeto recíproco,
pelo trato, pela fama, pela habitualidade, pela ininterruptabilidade e pela
estabilidade.

Sendo assim, verifica-se que a paternidade socioafetiva assegura a


estabilidade social, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa em razão da
base emocional criada pelo reconhecimento diário e afetuoso do pai pelo seu filho.

A legislação brasileira ainda não possuía normas que abordassem como os


juristas deveriam fundamentar o tema, sendo utilizado como formas de fundamentos
a doutrina e a jurisprudência, e somente encontrava-se amparo legal nos princípios
constitucionais da dignidade, afetividade, paternidade responsável, pluralismo
familiar e melhor interesse da criança e do adolescente.
44

Alguns Estados, como exemplo o Rio Grande do Sul, já realizavam o


reconhecimento extrajudicial da paternidade socioafetiva mediante normativos
próprios, já os demais que não possuíam regulamento próprio deveriam recorrer ao
judiciário para que se realizasse o reconhecimento desta paternidade. Entretanto, o
Provimento nº 63 do CNJ vem justamente para consolidar a possibilidade do
reconhecimento da filiação socioafetiva, bem como o estabelecimento da
multiparentalidade, realizados de forma extrajudicial nos Cartórios de Registro Civil
de qualquer unidade federativa, uniformizando o seu procedimento. Diante disto é
importante analisar o conteúdo e as formalidades do Provimento para que seja
aplicado da melhor maneira possível.

3.3 Requisitos exigidos para o reconhecimento extrajudicial da filiação


socioafetiva

Para que seja realizado o reconhecimento extrajudicial da filiação socioafetiva


o Provimento trouxe em seu texto alguns requisitos que deverão ser observados. No
artigo 10 e seguintes traz que o reconhecimento será realizado de forma voluntária,
de pessoa de qualquer idade e ocorrerá perante o oficial de registro civil das
pessoas naturais, mesmo que diverso daquele em que foi lavrado o assento, a
exibição de documento oficial de identificação com foto de requerente e da certidão
de nascimento do filho é requisito obrigatório. Uma vez reconhecida a paternidade
ou maternidade socioafetiva será ela irrevogável e somente poderá ser
desconstituída pela via judicial quando houver vício na vontade, fraude ou
simulação, ou seja, invalidação pelo juiz.

Para requerer o reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva


é necessário ter no mínimo 18 anos de idade, e no mínimo 16 anos a mais que o
filho que será reconhecido, independentemente do estado civil de qualquer das
partes envolvidas. Não poderão os irmãos reconhecer-se entre si como filhos uns
dos outros, muito menos os ascendentes.
45

O Provimento trata ainda da anuência pessoalmente dos pais biológicos, na


hipótese de o filho ser menor de 18 anos de idade e da anuência pessoalmente do
filho maior de 12 anos de idade. Ou seja, a regra do CNJ determina que quando o
menor tiver mais de 12 anos ele também deverá dar o seu consentimento
juntamente com a anuência dos pais registrais e, nos casos de ser menor de 12
anos, será obrigatória a anuência dos pais registrais, podendo ser de apenas um
deles se no registro não constar ambos. Assim sendo, observa-se que ao tratar da
anuência dos pais o Provimento reforça a tese da multiparentalidade. Entretanto, a
mesma regra valerá se o filho tiver um pai socioafetivo e a mãe biológica em seu
registro, e o pai biológico e o pai biológico quiser fazer o reconhecimento deverá ser
colhida a anuência dos pais constantes no registro.

O Provimento não deixou de tratar da comprovação da posse de estado de


filho, exigindo-se no artigo 12 que nos casos em que houver suspeita de fraude,
falsidade, vício ou dúvida quanto a posse de estado de filho, o registrador deverá se
recusar a praticar o ato e fundamentará sua recusa encaminhando ao juiz
competente nos termos da legislação local. Desse modo, caberá ao Oficial de
Registro observar se realmente configura a posse de estado de filho, que é condição
indispensável à caracterização da filiação socioafetiva.

A natureza do documento mostra-se confusa na redação do Provimento, que


diz ser “escrito particular” (art. 11 § 1º), ou “documento público” (art. 11 § 8º) e
documento “particular de última vontade” (art. 11 § 8º). Contudo para alguns
doutrinadores como Salomão (2017), é evidente que o documento é público,
principalmente por possuir modelo próprio do CNJ e ser preenchido dentro do
Cartório de Registro Civil pelo Oficial que fará a identificação dos presentes e
assinará ao final.

Estabelece, ainda, em seu art. 14 que o reconhecimento deverá ser realizado


de forma unilateral, não sendo possível a existência de mais de dois pais ou duas
mães no campo filiação, devendo um dos pais e uma das mães serem registrais. Se
caso houver a vontade de reconhecimento conjuntivo, ou seja, do pai socioafetivo e
o pai biológico concomitantemente, configurando a multiparentalidade. Neste caso, o
registro civil deverá realizar dois atos, um para o pai biológico e outro para o
46

socioafetivo, e cada reconhecimento será lavrado em termo próprio, sendo o limite


máximo de dois pais e duas mães no registro.

Diante de todo o exposto, o Provimento nº 63/2017 do CNJ permitiu o


reconhecimento extrajudicial da filiação socioafetiva em todo o território nacional o
que antes acontecia somente em alguns Estados da Federação. Contudo, ao
reconhecer a filiação socioafetiva, reconhece também a possibilidade da
multiparentalidade extrajudicial, permitindo às famílias que a verdade real da filiação
esteja presente nos documentos do registro civil, sem precisar recorrer ao judiciário.

Para Salomão (2017) “o Provimento 63 do CNJ colabora com a construção de


uma sociedade brasileira mais justa e fraterna, ratificando a função social do
registrador público brasileiro como promotor da dignidade humana”. Portanto, é
evidente que o Provimento acompanhou a evolução que a família passou
principalmente no que tange a filiação, trazendo normas que facilitem a
regulamentação das relações familiares.

3.4 A segurança jurídica no reconhecimento da filiação socioafetiva e


multiparentalidade ante a Lei n° 11.924/2009 e o Provimento n° 63/2017 do CNJ

O ordenamento jurídico brasileiro ampliou o reconhecimento sobre as famílias


recompostas quando sancionou a Lei nº 11.924/2009, que autorizou a possibilidade
do enteado ou enteada, diante de motivo razoável e comprovação da relação de
afetividade, incluir o nome de família de seu padrasto ou madrasta, desde que haja
concordância de ambas as partes. A referida Lei ficou conhecida como “Lei
Clodovil”, por ter sido de autoria do então deputado federal Clodovil Hernandes,
falecido em 17 de março de 2009, que era filho adotivo de uma família de espanhóis
e nunca conheceu seus pais biológicos. A Lei nº 11.924/2009 acresceu o § 8º ao
artigo 57 da Lei de Registros Públicos de 1973 (Lei nº 6.015/73), de modo a ensejar
a inclusão do nome do padrasto ou madrasta por parte dos enteados, desde que
haja concordância dos mesmos e sem prejuízo dos apelidos de família. Como
dispõe o texto da lei:
47

Art. 1º Esta Lei modifica a Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973 – Lei


de Registros Públicos, para autorizar o enteado ou a enteada a adotar o
nome de família do padrasto ou da madrasta, em todo o território nacional.

Art. 2º O art 57 da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973, passa a


vigorar acrescido do seguinte § 8º:

Art. 57. (...)

§ 8º O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos


§§ 2o e 7o deste artigo, poderá requerer ao juiz competente que, no registro
de nascimento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua
madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de
seus apelidos de família.(NR)

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Contudo, esse dispositivo apresentou um grande avanço na regulamentação


da pluriparentalidade, porém deixou de tratar dos efeitos jurídicos advindos desta
nova relação, mesmo assim não deixou de ser um grande marco no direito das
famílias. Diante disto, essa possibilidade trazida pela Lei nº 11.924/2009, de
acrescentar o sobrenome do padrasto ou madrasta, se difere do instituto da
multiparentalidade, pois neste é acrescido não só o sobrenome como também o
nome da mãe ou do pai socioafetivo e de seus avós.

Observa-se que em relação a simples adoção do nome não se constitui a


posse de estado de filho, tornando-se apenas uma forma de identificação. Contudo,
o nome que é consagrado como direito personalíssimo garantido a todos os
cidadãos, representando sua identificação, não só com base na origem biológica
mas também a afetiva, transparecendo a realidade familiar na certidão de
nascimento como garantia da publicidade da posse de estado de filho e segurança
em relação à sociedade.

Apesar do advento da Lei nº 11.924/2009, o sistema jurídico reconheceu a


necessidade de evoluir para garantir o adequado cumprimento das funções
familiares diante da realidade atual. No entanto, o CNJ editou o Provimento nº
63/2017 com o intuito de desburocratizar o reconhecimento da filiação socioafetiva,
autorizando que seja feita de forma extrajudicial diretamente no Cartório de Registro
Civil das Pessoas Naturais, desde que preenchidos os requisitos previstos no
Provimento já analisados anteriormente.
48

No entanto, analisando-se o referido Provimento e o disposto na Lei nº


11.924/09, observa-se que os padrastos ou madrastas poderão registrar os
enteados sem recorrer à Justiça, autorizado pelo art. 10 do Provimento nº 63/2017,
quando trata do reconhecimento voluntário da paternidade socioafetiva extrajudicial.
A referida Lei somente trata da relação de padrasto e madrasta e autoriza a inclusão
do nome de família mediante autorização judicial, já o Provimento veio para facilitar
os trâmites das relações socioafetiva quando autoriza o reconhecimento por via
extrajudicial. Entretanto, com base no que foi abordado até o presente momento,
verifica-se que o Provimento poderá ser aplicado nas relações de enteado e
padrasto sem prejuízo algum à Lei, facilitando o procedimento de reconhecimento da
entidade multiparental, preservando-se, assim, os princípios da afetividade e do
melhor interesse da criança ou adolescente.
49

4 EFEITOS JURÍDICOS DA MULTIPARENTALIDADE: a dupla


paternidade/maternidade no registro civil

Com o reconhecimento jurídico da multiparentalidade tem-se como principal


objetivo a alteração no registro de nascimento para que de fato conste a
multiparentalidade, contudo, é oportuno falar das consequências e dos efeitos
advindos deste reconhecimento registral, até porque uma das consequências
imediatas deste reconhecimento é a criação do vínculo parental em todas as linhas e
graus, conforme leciona Cassettari (2017, p. 80)

Quando uma paternidade ou maternidade socioafetiva se constitui, essas


pessoas estarão unidas pelos laços parentais, que dará ao filho não apenas
um pai e/ou uma mãe, mas também avós, bisavós, triavós, tataravós,
irmãos, tios, primos, sobrinhos etc. Já os pais também receberão, por
exemplo, netos, bisnetos, trinetos e tataranetos socioafetivos.

Portanto, pelo princípio da isonomia não haverá hierarquia entre os tipos de


parentesco e fica evidente que os efeitos da multiparentalidade irão se operar da
mesma forma como ocorre nas famílias tradicionais, aplicando-se todos os efeitos da
filiação o do parentesco com a família estendida, ou seja, com os demais parentes.
Entretanto, para que isso ocorra é necessário e de extrema importância que o
reconhecimento da multiparentalidade seja averbado no registro civil para que os
efeitos possam atingir todos os indivíduos deste novo vínculo.

Entretanto, a Lei nº 6.015/73, que dispõe sobre os registros públicos, não


tratava da possibilidade acerca da mudança de nome da criança no registro em caso
de cumulação de maternidade ou paternidade, porém ao tratar dos requisitos de
nascimento no artigo 54 também não dispunha de qualquer impedimento quanto a
esta possibilidade, portanto, referidas alterações decorrente da multiparentalidade
não estará em desacordo com o referido dispositivo legal específico.

No entanto, com a evolução da família e na forma de filiação, o legislador


observou a necessidade de mudança na referida lei e corroborou com os novos
50

paradigmas quando sancionou a Lei nº 11.924 de 2009, alterando o § 8º do artigo


57, da Lei nº 6.015/73, autorizando ao enteado ou à enteada a adotar o nome de
família do padrasto ou madrasta, se assim ambos desejarem. Desta forma, a lei
admitiu que fosse refletido exatamente o estado familiar da criança ou adolescente,
ou seja, que o nome exteriorize seus diversos estados de filiação correspondendo à
sua realidade familiar.

4.1 Direitos civis

A partir do momento em se reconhece a multiparentalidade cabe ao


ordenamento jurídico regulamentar as consequências legais e possíveis problemas
que poderão surgir, tais como, nos casos em que os pais socioafetivos não tiverem
condições de pagar pensão alimentícia ao filho, haverá a possibilidade de chamar os
avós? É no sentido de esclarecer dúvidas como esta e várias outras que serão
analisados os efeitos civis advindos com o reconhecimento da multiparentalidade
após a inclusão do nome dos pais socioafetivos no registro civil, como a inclusão do
nome de família, o exercício da guarda, o direito de visita, a responsabilidade
alimentar entre outros.

4.1.1 Direito de inclusão do nome de família do padrasto/madrasta

O nome é a representação do direito da personalidade e está previsto


expressamente nos artigos 16 e 19 do Código Civil, que garante a toda pessoa o
direito ao nome, compreendendo o prenome e o sobrenome. A identificação do ser
humano é característica fundamental, seja no meio familiar ou na sociedade em que
vive, discriminando-o da pessoa do outro. Com toda alteração que passou a família
brasileira, o nome passa a ocupar representatividade também no aspecto afetivo e
não somente no biológico.
51

Acerca das relações familiares na contemporaneidade, destacam Fróes e


Toledo (2013, p. 203)

Num passado muito próximo identificavam-se membros de famílias o pai,


mãe e filhos, na atualidade a doutrina e jurisprudência pátrias enfrentam
situações bastante originais: onde essas mesmas famílias podem-se
compor de dois pais e um filho, duas mães e um filho, tios que moram com
sobrinhos, casais que, ao se unirem, trazem consigo para a nova relação o
próprio filho, enfim, famílias cuja identificação está longe de se traduzir
como convencional.

Observa-se que, independentemente da forma que a família for constituída,


sempre irá surgir alguns direitos como o nome, que segundo o entendimento de
Fróes e Toledo (2013, p. 204)

O nome é atributo de cunho personalíssimo, que concerne a situações


existenciais da pessoa humana e incide sobre seus bens intrínsecos, suas
qualidades essenciais, a ponto de lhe conferir identidade, discriminando-a
da pessoa do outro.

Deste modo, a Lei nº 11.924/09 autorizou que o enteado ou a enteada


adotasse o nome de família do padrasto ou da madrasta, havendo então a
possibilidade de cumulação de patronímicos fazendo com que seja refletida a
realidade do estado familiar pelo nome.

Com o intuito de facilitar as questões multiparentais, em novembro de 2017 o


CNJ publicou o Provimento de nº 63 já analisado anteriormente no tópico 3.2, que
autoriza a possibilidade do reconhecimento da paternidade socioafetiva de modo
extrajudicial, autorizando também a inclusão de nome do pai socioafetivo e do
biológico, concomitantemente.

Assim observa-se que não deve haver nenhum tipo de impedimento na


cumulação dos nomes de ambos os pais ou mães nos casos da multiparentalidade,
já que o direito ao nome é um direito fundamental e personalíssimo, autorizado tanto
pela Lei nº 11.924, como pelo Provimento nº 63/2017 do CNJ.
52

4.1.2 Direito ao exercício do poder familiar

Considerando que as responsabilidades parentais contribuem para a


formação da criança, seja no âmbito educacional, religioso e afetivo, muito
influenciará as questões cotidianas com quem a criança reside. Portanto, com
relação ao exercício do poder familiar o princípio do melhor interesse da criança será
o mais observado para que sejam tomadas decisões quanto ao exercício da guarda
e o direito de visitas.

Com relação a guarda da criança que se encontra em uma família


multiparental, o princípio do melhor interesse da criança deverá ser assiduamente
observado, visto que se deve buscar sempre o melhor para a criança, como quem
possui uma maior afinidade com o menor e melhores condições para criá-lo.

Segundo o Código Civil, a partir do artigo 1583, a guarda pode ser


compartilhada ou unilateral. Será unilateral quando atribuída a um só dois genitores
e compartilhada quando há a responsabilização conjunta dos direitos e deveres de
ambos os pais, embora separados. Contudo, há quem entenda que a guarda
compartilhada é a melhor opção para o menor, como é o entendimento da Juíza da
1ª Vara de Família de Sobradinho/DF, decisão essa citada pelo autor Cassettari
(2017, p. 128-129), que ao tratar da ação declaratória de paternidade, proferiu o
seguinte

Direito de convivência e guarda: havendo vários pais/mães, necessária será


a definição de convivência e guarda, a fim de assegurar o melhor interesse
da criança. Assim, caso essa família não conviva sob o mesmo teto,
importante que todos os que façam parte dessa multiparentalidade tenham
dias de convivência definidos, judicialmente ou não. Quanto à guarda, o
ideal é que ela seja compartilhada, podendo todos os envolvidos dialogar
sobre os destinos desse filho. Não sendo isso possível, a guarda poderá ser
determinada a favor da dupla com quem resida o infante. Ainda não
havendo acordo, caberá ao Judiciário decidir no caso concreto.

No entanto, a guarda somente será concedida de forma compartilhada se


houver harmonia no relacionamento dois pais para que a criança tenha a garantia de
53

um crescimento saudável e harmonioso com os respectivos pais, caso contrário a


guarda unilateral será determinada para aquele que apresentar mais afinidade e
maior afetividade pelo menor, havendo a possibilidade de, nos casos em que a
criança for considerada suficientemente madura, levar em consideração a
preferência desta, como ocorre quando tratar-se de adolescente com mais de 12
(doze) anos, conforme exigência do art. 28, §2º do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Outro efeito decorrente do poder familiar é o direito de visita, em que


preceitua o artigo 1.589 do Código Civil “o pai ou a mãe, em cuja guarda não
estejam os filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que
acordar com o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua
manutenção e educação”. Portanto, a guarda do menor não impede o direito de
visita àqueles que não a têm, desde que comprovado os benefícios que este contato
pode trazer à criança.

Observa-se que o direito de visitas se estenderá a qualquer dos avós, sempre


observando os interesses da criança ou do adolescente, conforme leciona Cassettari
(2017, p. 87)

Verifica-se que tanto o pai quanto a mãe e os avós socioafetivos terão


direito de conviver com o filho, podendo visitá-lo regularmente, enquanto
houver o exercício do poder familiar. Isso se aplica se a pessoa tiver pai ou
mãe socioafetivos e, também, se ambos assim o forem. Não há preferência
para o exercício do direito de visita de uma criança ou adolescente em
decorrência da parentalidade ser biológica ou afetiva, pois o que deve ser
atendido é o melhor interesse da criança, lembrando que tal direito é
extensivo, também, aos avós, não apenas biológicos, mas também,
socioafetivos.

Ante o exposto, torna-se evidente que os laços constituídos entre a criança e


os pais socioafetivos, como também com os avós socioafetivos, não devem ser
cortados nos casos de separação do casal, uma vez que essa ruptura pode gerar
um grande efeito negativo na formação da personalidade do menor, também porque,
em regra, o vínculo de parentesco na linha reta (ascendentes/ descendentes) é
indissolúvel.
54

4.1.3 Relação de parentesco

Com a multiparentalidade a árvore genealógica será alterada, dando ao filho


novos ascendentes e colaterais, surgindo vínculo parental do filho afetivo com toda a
família do pai ou da mãe socioafetivos, tanto em relação aos colaterais quanto aos
de linha reta. Contudo, no momento em que todos passam a ser parentes todos os
direitos, deveres e impedimentos passam a vigorar, aplicando-se as mesmas regras
do parentesco natural ao parentesco socioafetivo. Neste sentido leciona Cassettari
(2017, p. 81)

Assim, temos que, quando um pai ou mãe reconhece uma paternidade ou


maternidade socioafetiva, esse filho passará a ter vínculo de parentesco
com seus outros parentes. Com isso surgirão os conceitos: avós, bisavós,
triavós, tataravós, irmãos, tios, primos, tios-avós socioafetivos, que irão
acarretar todos os direitos decorrentes dessa parentalidade. Por exemplo,
se o pai ou mãe socioafetivos não tiver condição de pagar pensão
alimentícia ao filho, poderão ser chamados os avós. Se a pessoa morre e só
deixa um tio socioafetivo vivo, terá esse tio o direito sucessório; e se deixar
apenas um irmão socioafetivo vivo, e esse for menor, ele terá direito
previdenciário. Isso se faz necessário para que seja atendido o princípio da
igualdade e que a declaração de filiação socioafetiva não se torne uma
fábrica de pedidos de pensão alimentícia, em que a pessoa busca apenas o
bônus, sem querer assumir o ônus.

Nesse contexto, após o reconhecimento da multiparentalidade e a alteração


do registro civil, ficam assegurados aos parentes tantos os direitos relativos à filiação
como os impedimentos previstos no Código Civil, tais como contrair matrimônio e
compelir práticas vinculadas ao nepotismo, pois a partir deste reconhecimento as
regras previstas para regulamentação da família será aplicada à todos sem distinção
alguma.

4.1.4 A responsabilidade alimentar


55

Partindo do pressuposto de que a multiparentalidade se estende de uma


forma a dar novos ascendentes, descendentes e colaterais ao filho, fica evidente
que isso aumentará o quadro de pessoas que possam prestar alimentos, conforme o
artigo 1.694 do Código Civil, quando trata de forma genérica que os parentes podem
pleitear alimentos uns aos outros. Portanto, no caso da multiparentalidade poderão
ser exigidos alimentos de toda a família socioafetiva, da mesma forma que o filho
afetivo também poderá pagar alimentos para sua família socioafetiva. Trata-se da
responsabilidade familiar recíproca que tem o dever de cooperação entre os
parentes conforme salienta Cassettari (2017, p. 83)

[...] o filho socioafetivo poderá pleitear alimentos dos seus avós, bisavós,
irmãos, tios, sobrinhos, primos, e assim por diante, como também poderá
ser demandado por isso, haja vista que a parentalidade não traz apenas
bônus, mas também o ônus da responsabilidade alimentar.

Neste sentido, com fundamento na assistência e na solidariedade familiar, os


parentes devem prestar alimentos uns aos outros, desde que seja observado o
binômio necessidade/possibilidade, analisando a necessidade de quem pleiteia e a
possibilidade de quem irá pagar. Com a leitura do artigo 1696 do Código Civil
verifica-se a reciprocidade da obrigação alimentar, pois dispõe que “a prestação de
alimentos é recíproca entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes,
recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros”. Assim,
tanto os filhos como os pais socioafetivos podem pedir alimentos um ao outro, uma
vez que se trata de um direito recíproco.

Partindo da premissa de que na situação de sustento de uma criança, as


despesas deverão ser divididas entre os pais há a possibilidade de pleitear
alimentos de todos os pais concomitantemente, tanto do biológico como do
socioafetivo, sempre observando o binômio necessidade/possibilidade. Assim,
Cassettari (2017, p. 83) assevera que
56

No que tange aos alimentos prestados pelo pai ou mãe socioafetivos, se o


valor pago pelo pai biológico for insuficiente para as necessidades do
alimentado, poder-se-ia propor uma ação de alimentos contra o pai ou mãe
socioafetivos para que esses complementem a pensão de que aquele
necessita, como ocorre, por exemplo, no caso dos avós terem que
complementar a pensão paga pelos seus filhos, se a mesma não satisfizer
as necessidades de quem os pleiteia.

Diante deste entendimento, e de que os alimentos são prestações periódicas


que servem para atender as necessidades vitais de quem as recebem e não possui
meios de provê-las por conta própria, todos serão considerados responsáveis na
obrigação de alimentar de maneira que, se houver necessidade de complementação
desta obrigação, todos poderão ser responsabilizados de forma solidária.

4.1.5 Direitos sucessórios

Os direitos sucessórios são reconhecidos conforme a ordem de vocação


hereditária, que está prevista nos artigos 1.829 a 1.847 do Código Civil. Após o
reconhecimento da multiparentalidade o filho socioafetivo adquire a qualidade de
herdeiro e igualando-se aos parentes biológicos, tendo assegurado o direito de
pleitear a herança e também podendo ser deserdado, se for o caso. Assim, as linhas
sucessórias devem estabelecer em conformidade com o número de genitores
existentes, sucedendo o filho com todos os genitores que tiver, biológico e
socioafetivo, não havendo prevalência entre filhos biológicos e afetivos.

Portanto, as regras estabelecidas no Código Civil devem ser aplicadas de


forma igualitária nos casos do filho socioafetivo concorrer na sucessão de cada um
de seus ascendentes, da mesma forma que todos os pais concorrerão na sucessão
do filho.

4.2 Direitos previdenciários


57

No que tange aos reflexos jurídicos no direito previdenciário, a pensão morte


é o assunto que mais se discute e que mais apresenta problemas, devido aos
dependentes nos casos da multiparentalidade. Contudo, Neves (2013) conceitua a
pensão por morte como “um benefício exclusivo do dependente do segurado que
sofre desfalque econômico por ocasião do óbito deste. Visa a manutenção da
família, no caso de morte do responsável pelo seu sustento”. Portanto, observa-se
que a finalidade é assegurar aos familiares do segurado condições mínimas de
subsistência.

Regulam a concessão da pensão por morte a Lei nº 8.213/1991, e em seu


artigo 16 encontra-se o rol taxativo de dependentes, como segue

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na


condição de dependentes do segurado:

I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não


emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou
inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência
grave; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

II - os pais;

III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21


(vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental
ou deficiência grave; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)

§ 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo


exclui do direito às prestações os das classes seguintes.

§ 2º .O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante


declaração do segurado e desde que comprovada a dependência
econômica na forma estabelecida no Regulamento. (Redação
dada pela Lei nº 9.528, de 1997)

Observa-se que a lei é clara e não deixa dúvidas quanto quem são os
dependentes do segurado. Porém, haverá casos em que o contribuinte deixará mais
de um dependente, devendo então a pensão ser dividida igualmente entre todos,
conforme o art. 77 da Lei nº 8.213/1991 que destaca “A pensão por morte, havendo
mais de um pensionista, será rateada entre todos em parte iguais”. Tem-se, ainda,
58

os casos em que um dos dependentes perdem o direito ao benefício e, nestes


casos, a sua parte será dividida entre os demais.

Ao reconhecer de forma equiparada os enteados aos filhos no § 2º, do art. 16


da Lei n.º 8.213/1991, para enquadrá-los como beneficiários do segurado falecido, o
Direito Previdenciário mostrou um grande avanço ao interpretar suas leis com base
na construção doutrinária do Direito Civil. No sentido de esclarecer os direito
beneficiários dos filhos socioafetivos, Cassettari (2017, p. 97) dispõe que

Verifica-se que, havendo parentalidade socioafetiva, haverá, também, a


necessidade de se reconhecer direitos previdenciários. Isso porque os filhos
socioafetivos, menores de 21 anos ou inválidos, desde que não tenham se
emancipado entre 16 e 18 anos de idade, terão direito a pensão por morte.
Igual direito será conferido aos pais e irmãos socioafetivos, estes últimos
não emancipados, menores de 21 anos ou inválidos. Isso em nome do
princípio da igualdade.

Diante exposto, entende-se pela perfeita harmonização do instituto da


multiparentalidade com as regras do Direito Previdenciário no que diz respeito à
sucessão dos direitos previdenciários, uma forma nada mais justa para a garantia de
subsistência tanto dos pais como dos filhos socioafetivos, sem que haja a exclusão
destes do rol de dependentes do beneficiário.
59

5 CONCLUSÃO

No presente trabalho monográfico, defendeu-se o valor jurídico do afeto na


esfera do reconhecimento da multiparentalidade, advinda do relacionamento
existente entre pai e filho socioafetivo, analisando a possibilidade da existência da
dupla paternidade no registro civil do filho socioafetivo, com a inclusão do nome de
família do pai socioafetivo sem a exclusão do nome do pai biológico.

A família é considerada a base da sociedade e o seu único objetivo de


garantir o patrimônio e a reprodução, independentemente da existência de afeto
entre seus membros, atualmente não existe mais. Hoje a família é fundada nos
princípios da igualdade, solidariedade, liberdade, dignidade humana e afetividade,
deixando para trás o objetivo econômico e reprodutivo para abrir espaço para a
efetivação dos direitos fundamentais e o bem-estar de seus membros.

Por meio do texto da Constituição Federal no artigo 226, fica evidente que
independentemente do formato familiar que seus membros escolhem, seja
homoafetiva, adotiva, parental, monoparental, recomposta, é do Estado a obrigação
de amparar e colaborar com toda a proteção que lhe couber.

Atualmente, o afeto é um fator marcante e é apontado como o principal


fundamento das relações familiares, mesmo que não previsto explicitamente na
Constituição Federal como direito fundamental. Entretanto a afetividade, como forma
de união entre as pessoas, adquiriu reconhecimento no sistema jurídico e o afeto foi
consagrado como direito fundamental e a filiação biológica e a socioafetiva
ganharam status de igualdade. Contudo, somente com a valorização do afeto como
elemento fundamental para as relações familiares o sistema jurídico passou a
reconhecer outras formas de família e a socioafetividade como elemento
caracterizador da filiação.

No decorrer da história das relações de família, de forma praticamente


uniforme, era impossível a existência concomitante de uma parentalidade biológica e
outra afetiva, o reconhecimento de apenas uma era aceita para fins de registro civil e
consequentes efeitos familiares, tais como registral, pessoal, patrimonial e
60

sucessório. Entretanto, quando o reconhecimento da paternidade biológica ou a


afetiva era colocada de forma optativa, constatou-se certa preferência dos
doutrinadores e juristas pela paternidade socioafetiva. Porém a sobreposição de
uma filiação à outra não é a medida mais justa e nem a mais adequada diante da
realidade social e constitucional, visto que o que prevalece é o princípio da
afetividade para regulamentar questões como esta.

Diante da realidade da formação dos novos arranjos familiares, o sistema


disciplinador da filiação também foi alterado. Contudo, surge a possibilidade jurídica
do reconhecimento da filiação na multiparentalidade, a partir de então o instituto
passa a repercutir não só no cotidiano das famílias, mas também no âmbito jurídico,
cabendo ao legislador encontrar meios para regulamentar as relações familiares da
melhor maneira possível, valorizando a filiação socioafetiva que tem como
fundamentos, principalmente, os princípios constitucionais da dignidade da pessoa
humana e da afetividade, entre outros. O reconhecimento da multiparentalidade
representa um avanço muito significativo no direito de família, e isso mostra que o
legislador acompanhou a evolução dos novos arranjos familiares, que hoje é
identificado pela presença do afeto entre as pessoas.

O instituto da multiparentalidade surge da necessidade de solucionar o


conflito existente entre a paternidade biológica e a paternidade socioafetiva e é
resultado da mudança conceitual que se deu no conceito de família. Neste sentido,
na doutrina e na jurisprudência houve uma vasta discussão quanto à possibilidade
ou não da aplicação concomitante da parentalidade socioafetiva e biológica, uma
das maiores preocupações era quanto ao fato dos efeitos jurídicos que poderiam
surgir após o reconhecimento desse novo modelo familiar.

Contudo, não é qualquer relação decorrente de uma nova formação familiar


que será o suficiente para configurar o reconhecimento da multiparentalidade, sendo
necessária a comprovação da relação de afeto existente entre os membros da
família concomitante com a análise de cada caso concreto, até porque não é só o
reconhecimento em si, mas os efeitos jurídicos que surgirão como consequência do
reconhecimento da multiparentalidade, como exemplo da maneira de sua formação,
se a afetividade deve ser recíproca, qual é a ação judicial que deve ser proposta
para discuti-la, se são devidos alimentos nesse modelo, se há direito sucessório, se
61

o parentesco socioafetivo liga o filho a todos os parentes do pai ou da mãe, se há


direitos previdenciários, entre outros que serão analisados posteriormente.

Através desta monografia, faz-se necessário esclarecer e conscientizar a


importância do reconhecimento da multiparentalidade na vida da criança, e também
que não é qualquer relação dita como afetiva que será reconhecida no âmbito
judicial, até porque cada caso é um caso e deve ser observado a relação de fato
existente entre os membros familiares, procurando esclarecer todos os efeitos e as
responsabilidades que surgirão após este reconhecimento, sendo que uma vez
reconhecida a paternidade ou maternidade socioafetiva será ela irrevogável e
somente poderá ser desconstituída pela via judicial quando houver vício na vontade,
fraude ou simulação, ou seja invalidação pelo juiz.

Diante do exposto, conclui-se que a família apresenta-se, na pós-


modernidade como uma realidade complexa modelada pelos costumes vigentes e
em constante mudanças, em que os estudos não se esgotam por aqui pois sempre
terá algo novo necessitando de regulamentação e o legislador deve estar sempre
preparado para acompanhar as importantes modificações no Direito de Família.
62

REFERÊNCIAS

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