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Desvendando produtos - O que

seu creme contém? Como age?

02.
Capítulo 03
Cosméticos e cosmecêuticos são compostos
por duas partes principais. A estrutural, que
é o veículo de transporte da substância
ativa; e a funcional, que são os ativos em si.
Por exemplo: um bioativo como o retinol
pode ser transportado em gel, creme, sérum
ou loção.

Embora cada creme possua uma formulação única, com um determinado


número de componentes em diferentes proporções, a parte estrutural de
todos tem ingredientes comuns e de baixo custo, independentemente da
Capítulo 03

marca ou do preço.

O principal componente é a água, que deve ser pura e livre de


microorganismos.

Mas a lista inclui outros itens:

Álcool etílico: dissolve e mistura as diversas matérias-primas do produto.

Umectantes: substâncias que retêm a água da formulação, mantendo a


estabilidade do creme. 

Matéria graxa (óleos, cera): usada como emoliente e espessante. A mais


comum é a vaselina.

Espessante: matéria prima de origem vegetal que garante a viscosidade do


produto.

Tensoativo: com característica espessante, ajuda a produzir espuma.

Este grupo contém ainda conservantes, com funções antimicrobianas e


antioxidantes; corantes, que garantem a coloração do produto; e
fragrâncias, que camuflam possíveis odores desagradáveis de
determinadas substâncias.

Como o cosmético age na sua pele?


Vamos imaginar que você, inspirado pela lindíssima propaganda na
revista ou no site do fabricante, comprou um creme que promete
estimular a produção de colágeno e elastina.

Como vimos neste capítulo, essas duas substâncias são produzidas na


camada mais interna da pele, a derme. Acima da derme,temos a epiderme
com suas cinco camadas, lembrando uma parede de tijolos e cimento.

Com tantos obstáculos, como o seu produto pode chegar à derme?

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Ao espalhar seu creme, ele estará precisamente sobre a mais externadas
camadas, o estrato córneo, formado por células mortas. A partir daí,temos
três rotas transepidérmicas possíveis.

A primeira delas é através das células intactas do estrato córneo, que


formam uma espécie de parede de tijolos e cimento, ou dos espaços
intercelulares. O segundo caminho é via óstios foliculares ou poros, por
onde as substâncias conseguem se infiltrar um pouco mais abaixo, rumo à
derme.

Essas aberturas, de onde saem os pêlos (muitos quase invisíveis), têm suas
paredes internas pavimentadas por células, formando uma segunda
barreira que limita ainda mais a entrada de agentes externos. Já a terceira
rota se dá por difusão do produto pelas aberturas das glândulas de suor.

Para que um cosmético complete a sua jornada, são necessários ainda


outros pré-requisitos. O tamanho das moléculas das substâncias deve ser
bem pequeno. Um bom exemplo disso são os produtos micronizados ou
ativos embalados por nanotecnologia.
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Em outras palavras: quanto menor a partícula, maior seu poder de


permeação. A fórmula ainda precisa ter as seguintes características: ser
hidrofílica (afinidade com a água) ou lipofílica (afinidade com o
componente lipídico da pele), com o intuito de conferir à formulação
maior capacidade de deslizar rumo à derme.

A questão da estabilidade do produto também é importante. Algumas


substâncias alteram suas propriedades quando submetidas à luz e ao
oxigênio do meio ambiente. A vitamina C, por exemplo, perde muito de
sua eficácia no uso tópico quando exposta ao ar. Por essa razão, esse ativo
deve presentar-se protegido nas formulações, como as talaspheres de
vitamina C ou como glicosferas, para que mantenha seu efeito
antioxidante.

Outro fator decisivo: o produto precisa “ter química” com a pele. Como o
pH da pele é ligeiramente ácido (em torno de 5,7), o creme deve ser
compatível com essa característica.E, acredite, a carga elétrica ou a
bioeletricidade também influenciará no poder de permeação de seu
creme.

É preciso, porém, atentar-se para o alvo que se quer atingir. Hidratante se


protetores solares têm sua ação limitada à superfície da pele e não
precisam ir além. Outros produtos, chamados queratolíticos, devem
interagir com o estrato córneo. É o caso do ácido glicólico, que remove a
camada de células mais superficial, melhorando a textura da pele. Já os
retinoides (ácido retinoico, retinol, retinaldeído), esses, sim, precisam
chegar à derme para promover o efeito desejado.

Há situações ainda em que você usa um produto cujo objetivo é atingir os


apêndices cutâneos, como os pelos e as glândulas que produzem suor. O
famoso minoxidil, aplicado no couro cabeludo, atua no folículo
piloso,tratando, dessa forma, a calvície (alopecia androgenética). E os sais
de alumínio, componente dos desodorantes antitranspirantes, agem nas
glândulas sudoríparas, diminuindo a transpiração.

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Como você pode ver, não é o preço ou a marca de um produto que
garante a sua eficácia. Afinal, a pele é muito eficiente na sua função de
barreira contra agentes externos. Para ultrapassá-la, somente combinando
todas as propriedades que listei neste capítulo, o que não é simples. A
mistura perfeita é um trabalho de alquimia.
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