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ANDRÉA TRONCOSO MINIERI

CUIDADOS COM O CUIDADOR: O ESTRESSE E SOFRIMENTO PSÍQUICO NA


ATIVIDADE DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM NA ÁREA ONCOLÓGICA
HOSPITALAR

Palhoça, 2006
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ANDRÉA TRONCOSO MINIERI

CUIDADOS COM O CUIDADOR: O ESTRESSE E SOFRIMENTO PSÍQUICO NA


ATIVIDADE DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM NA ÁREA ONCOLÓGICA
HOSPITALAR

Projeto de Pesquisa apresentado na Disciplina de


Trabalho de conclusão de Curso-II, como
requisito para a obtenção do título de psicólogo.

Universidade do Sul de Santa Catarina


Núcleo Orientado: Psicologia e Trabalho
Humano.

Orientadora: Prof. Maria Esther Souza Baibich

Palhoça, 2006
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Eu me importo pelo fato de você ser você, me


importo até o último momento de sua vida e
faremos tudo o que está ao nosso alcance, não
somente para ajudar você a morrer em paz,
mas também para você viver até o dia da sua
morte.
Cicely Saunders
(SAUNDERS apud ESSLINGER, 2004, pg. 75)
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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho:

Aos meus pais e a minha irmã que são os sustentáculos de minha força,
motivos do meu orgulho e responsáveis pela satisfação com a qual concluo este trabalho.
5

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Lenimar e Regina pelo amor que me dedicam todos os dias de suas
vidas e sem os quais a minha jamais teria sentido.
A minha irmã Alessandra por todo seu amor, confiança e cumplicidade que me dão
forças para lutar por tudo que sonho.
Aos meus avós Mário e Helena exemplos de uma vida bem vivida e de amor.
Aos meus tios Ângelo e Adelina pelo carinho, apoio e orientação.
A minha querida prima Juliana e querida amiga Bertha, pelo carinho e amor que
despenderam durante todo esse período.
As minhas grandes amigas Adriana, Cristiane e Celinha sem as quais teria sido
impossível, mas com as quais custou muito mais tempo.
Aos meus colegas de orientação Gisely, Joana, Monique, Josiane, Paula, Fernanda e
Rodrigo, os quais contribuíram com seus olhares e sugestões para a construção da pesquisa.
A minha orientadora Esther por toda a paciência, consideração, auxílio e incentivo
durante todo o processo.
A banca examinadora por ter dado valorosa atenção a minha pesquisa.
As três técnicas de enfermagem que solidariamente participaram e contribuíram com
as suas experiências.
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RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo principal identificar a existência de fatores e fases de
estresse presentes na rotina de trabalho de técnicas de enfermagem no cuidado do paciente
oncológico. Para o referente estudo se utilizou o método quanti-qualitativo, realizando – se
uma pesquisa do tipo exploratória, com o delineamento de um estudo de caso. Os
instrumentos usados na coleta de dados foram: o inventário de sintomas de stress para adultos
– ISSL e um roteiro de entrevista individual semi-estruturada. Os dois instrumentos foram
aplicados em três técnicas de enfermagem que trabalham na área oncológica há mais de um
ano, em hospitais da grande Florianópolis.
Na análise dos dados utilizou-se a técnica da análise de conteúdo classificados pelo método de
categorias, que foi analisado e fundamentado baseando se no referencial teórico. As temáticas
criadas a partir do roteiro de entrevista semi-estruturado foram: a doença câncer; suporte
organizacional, o perfil profissional desejável, o estresse ocupacional.
Apesar de ter sido identificado um alto nível de estresse, em apenas umas das pesquisadas,
constatou-se que todas estão sujeitas à fatores desencadeadores de estresse ocupacional
advindos principalmente do sofrimento psíquico e da falta de suporte organizacional para
lidar com este tipo de paciente.
Acredita-se que se não houver uma atenção a estes riscos, os mesmos inevitavelmente irão
levar o adoecimento das trabalhadoras que atuam na área oncológica.

Palavras – chaves: Estresse ocupacional; saúde do trabalhador; sofrimento psíquico;


Núcleo Orientado: Psicologia e Trabalho Humano.
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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Dados pessoais.......................................................................................................28


Quadro 2 – Experiência na área................................................................................................28
Quadro 3 – Dados laborativos ..................................................................................................29
Quadro 4- Sintomas psicológicos.............................................................................................43
Quadro 5 - Sintomas físicos......................................................................................................44
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................10
1.1 Problema.............................................................................................................................11
1.2 Justificativa.........................................................................................................................11
1.3 Objetivos.............................................................................................................................12
1.3.1 Objetivo Geral..................................................................................................................12
1.3.2 Objetivos específicos.......................................................................................................12

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO...............................................................................................13
2.1 O estresse ocupacional e o sofrimento psíquico.................................................................13
2.2 A atividade de enfermagem................................................................................................19
2.3 O profissional de enfermagem e o paciente oncológico.....................................................22

3 MÉTODO.............................................................................................................................25
3.1 Caracterização da pesquisa.................................................................................................26
3.2 Participantes........................................................................................................................27
3.3 Técnicas de coleta de dados................................................................................................27
3.4 Plano de análise dos dados..................................................................................................28

4 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS...........................................................................29

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS................................................................31


5.1 A doença câncer..................................................................................................................31
5.1.1 A percepção da doença....................................................................................................32
5.1.2 O preparo do profissional para lidar com a doença.........................................................34
5.1.3 Trabalhar com o paciente oncológico..............................................................................36
5.2 Suporte organizacional........................................................................................................39
5.2.1 Suporte da empresa..........................................................................................................39
5.2.2 Apoio da equipe de trabalho............................................................................................40
5.3 Perfil profissional desejável................................................................................................41
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5.3.1 Rotina de trabalho............................................................................................................41


5.3.2 Competências pessoais.....................................................................................................42
5.4 O estresse ocupacional........................................................................................................43

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................49

REFERÊNCIAS......................................................................................................................52

APÊNDICE..............................................................................................................................54
10

1 INTRODUÇÃO

Quando o trabalho é prazeroso, torna-se uma das razões de grande importância na vida
do trabalhador, fazendo com que este não perca sua motivação para continuar produzindo. A
forma como o indivíduo produz está ligada a sua possibilidade de reconhecimento de que ele
é alguém que existe e tem importância para o outro. Uma das situações que podem
transformar o trabalho em algo penoso e que podem levar ao sofrimento são as condições em
que este trabalho é efetuado. Este sofrimento acontece quando há o confronto da subjetividade
do trabalhador com as restrições das condições socioculturais e ambientais. Logo, o trabalho
pode proporcionar prazer e sofrimento ao mesmo tempo, ou seja, o trabalhador busca o prazer
e evita o sofrimento tentando, assim, manter-se em homeostase.
O modo como o trabalho é organizado exerce uma influência no comportamento e no
funcionamento psíquico do trabalhador, que pode ser tanto positiva quanto negativa.
Para analisar a problemática do estresse e as suas fases, o presente trabalho utilizará a
compreensão da Dra. Marilda Lipp, que desenvolveu diversas pesquisas nesta área desde
1985. A autora é professora titular de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, onde teve uma sólida formação acadêmica norte-americana nas áreas de Psicologia,
Epidemiologia e Ciências Humanas. Segundo a definição da pesquisadora, o estresse seria
uma reação psicofisiológica muito complexa que contém, em sua base, o caráter
imprescindível do organismo humano e as dificuldades desses indivíduos ao lidar com o
prenúncio de algum perigo que ameace seu equilíbrio interno. Atualmente, Lipp é uma das
principais pesquisadoras na área de estresse do cenário nacional. (O´GATTA apud LIPP,
2004).
A análise sobre o conteúdo do trabalho do profissional técnico de enfermagem será de
grande relevância para a contextualização desse processo. A pesquisa bibliográfica buscará
entender a atividade do profissional da saúde segundo a ótica de diversos especialistas, bem
11

como as técnicas utilizadas e recomendadas durante os tratamentos de paciente com câncer.


Ainda, serão realizados estudos no sentido de conhecer aspectos da doença câncer que
contribuem para um adoecimento do trabalhador que atua diretamente com esse paciente,
verificando assim, os reflexos no campo psicológico do profissional.

1.1 Problema

Quais são os fatores e as fases de estresse e sofrimento psíquico presentes na rotina de


trabalho do técnico de enfermagem no cuidado do paciente oncológico?

1.2 Justificativa

Ao se levar em conta as rotinas de trabalho dos profissionais da enfermagem, que


implicam em processos de relação interpessoal, além dos procedimentos técnicos habituais de
cuidados com os pacientes, considera-se relevante a exploração dos fatores estressores que
possam estar envolvidos nestas rotinas. Por conseqüência, serão analisados, ainda, os efeitos
negativos produzidos nos profissionais de enfermagem, que implicam em redução da
qualidade de vida e, concomitantemente, da qualidade dos serviços prestados.
Tal situação motivou a construção do presente estudo científico que poderá fornecer dados
para um aprofundamento das dimensões dessa realidade.
Além disso, o fato de, como acadêmica de psicologia, estar realizando estágio
obrigatório na área da Saúde do Trabalhador, no Centro de Referência Estadual em Saúde do
Trabalhador (CEREST), fez com que se confirmasse, para a pesquisadora, a necessidade de
um estudo acerca deste tema, e se despendessem esforços para a futura concretização dessa
pesquisa com foco nos profissionais da área da Saúde.
Frisa-se que o Centro de Referência tem como função primordial ser o núcleo
irradiador de suporte técnico e científico na área de Saúde do Trabalhador junto aos
profissionais de todos os serviços da rede do Serviço Único de Saúde (SUS).
Todavia, a falta de produções científicas que auxiliem o CEREST a realizar ações
direcionadas à promoção e prevenção da saúde de profissionais da enfermagem que lidam
diretamente com pacientes oncológicos foi também determinante para a escolha deste tema.
12

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Identificar a existência de fatores e fases de estresse e sofrimento psíquico presentes


na rotina de trabalho do profissional técnico de enfermagem no cuidado do paciente
oncológico.

1.3.2 Objetivos específicos

9 Verificar a existência de estresse ocupacional nos profissionais técnicos de


enfermagem.
9 Identificar as causas desencadeadoras do estresse na rotina de trabalho do técnico
de enfermagem;
9 Identificar as causas desencadeadoras do sofrimento psíquico na rotina de trabalho
do técnico de enfermagem.
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2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 O estresse ocupacional e o sofrimento psíquico

É de suma importância, para a presente pesquisa, a compreensão da síndrome estresse


e do sofrimento psíquico segundo a ótica de alguns especialistas na área. Em outras palavras,
considera-se importante entender como o estresse ocupacional e o sofrimento psíquico estão
presentes no cotidiano dos técnicos de enfermagem que lidam com o paciente oncológico e
quais as estratégias que são normalmente utilizadas para lidar com essa realidade. Para
entender o contexto de trabalho desse profissional da saúde, foi necessário conhecer a sua
atividade e rotina laborativa, para então verificar a existência, o dimensionamento e a
evolução desse processo de adoecimento.
Um dos temas mais atuais no campo da Medicina Preventiva e da Promoção de Saúde
é a discussão sobre a relação existente entre o estresse ocupacional e a saúde dos
trabalhadores.Os motivos do crescente interesse por essa discussão vão desde razões de
natureza política, que se fundamentam na atualização de regulamentação e programas de
atuação em saúde ocupacional, ao crescimento da conscientização de que o estresse
ocupacional produz custos secundários que podem ser evitados se forem tomadas as devidas
providências quanto à adequação dos postos de trabalho. (MARMOT et alli apud
GUIMARÃES e FREIRE).
O estresse ocupacional, na atualidade, é encarado como um problema importantíssimo
de saúde pública que já foi percebido, nas últimas décadas, por empregadores e empregados,
originando custos cada vez mais altos para o seu controle. (GUIMARÃES e FREIRE, 2004)
Segundo os autores Camargo e Oliveira (2004), as marcas que o ambiente do trabalho
deixa na saúde física e mental do trabalhador já são familiares ao homem desde a Antiguidade.
No entanto, apenas nessas últimas décadas é que houve o crescimento da medicina preventiva,
a conscientização de empregados e empregadores, a criação de órgãos específicos para a
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fiscalização e de leis especificas de proteção e saúde do trabalhador. Essas mudanças levaram


à criação e promoção de medidas eficazes que buscam garantir a prevenção e a proteção
desses danos.
Os riscos existentes no ambiente de trabalho, segundo Bulhões (apud GONÇALVEZ,
2002), podem ser classificados de três maneiras, ou seja, como riscos ocultos, latentes ou reais.
Os riscos ocultos seriam aqueles dos quais os trabalhadores não teriam conhecimento, por
incompreensão ou por falta de informação, portanto esses indivíduos estariam sujeitos a
possíveis riscos sem consciência dos mesmos. Já os riscos latentes seriam aqueles dos quais o
indivíduo tem conhecimento, buscando, entretanto, ignorar essa realidade em detrimento das
exigências organizacionais. Isso quer dizer que o sujeito arrisca a sua integridade física e
psicológica para manter o seu trabalho. E os riscos reais seriam aqueles dos quais os
indivíduos teriam conhecimento suficiente para perceber essa realidade, não tendo, porém,
controle desses riscos, seja por motivos de altos custos para prevenção desses riscos, seja por
falta de soluções para lidar com essa realidade ou também por falta de vontade política.
Segundo a autora, os riscos apontados anteriormente podem ser verificados no ambiente de
trabalho dos hospitais.
O profissional da saúde, muitas vezes objetivando auxiliar e beneficiar o paciente,
acaba colocando em situações de risco a sua própria saúde. Esta situação acontece, por
exemplo, quando, ao tentar agilizar os seus serviços, deixa de utilizar equipamentos de
segurança ou carrega pacientes acima da sua capacidade física, como se verifica no texto a
seguir:

[...] Em se tratando de riscos biológicos inerentes às atividades de enfermagem,


contribui para a sua potencialização o fato de os profissionais realizarem a lavagem
das mãos de forma muitas vezes ineficaz, decorrente do excesso de trabalho, não
conhecimento correto da técnica ou por desconhecimento da real periculosidade dos
microorganismos. (BULHÕES apud GONÇALVEZ, 2002)

Como o mundo do trabalho, nos últimos anos, tem sofrido diversas modificações em
seu desenho, tipo e em suas exigências, essas transformações levaram o campo da Saúde
Mental no Trabalho a se interessar e olhar cada vez mais para essa realidade. Esta evolução,
em curto prazo, trouxe benefícios, como o aumento da produtividade, com redução de custos,
e conseqüente aumento econômico. Já em longo prazo, as mudanças poderão gerar
insatisfação, alienação e baixa da qualidade de saúde dos trabalhadores, produzindo
repercussões e possíveis desequilíbrios econômicos. Discorrendo sobre esse aspecto,
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Levy –Leboyer (1994) afirma que as pessoas precisam do trabalho pra entender as
necessidades econômicas, necessidades sociais, e quando o trabalho se transforma
em fonte de mal estar, uma parte do esqueleto social é fragmentada. Ressalta ainda
que no ambiente de trabalho as pessoas querem ser respeitadas, enquanto
indivíduos e valorizados por suas realizações, lealdade e dedicação. (INOCENTE e
GUIMARÃES apud GUIMARÃES e FREIRE, 2004,p.130)

Sendo assim, será de grande importância para a compreensão e construção do


trabalho a contextualização histórica dessa síndrome e a visão de outros autores sobre o tema,
como se verá a seguir.
O termo stress, historicamente, originou-se de estudos científicos realizados no campo
da Ciência Física e foi reconhecido como o fenômeno que buscava determinar o grau de
deformidade que um objeto ou estrutura poderia sofrer quando submetido a um esforço
específico. (FRANÇA et alli, 1999).
O estudioso Hans Selye, professor e diretor do Instituto de Medicina Experimental e
Cirurgia da Universidade de Montreal, utilizou-se do termo stress da Física para denominar
todo o conjunto de reações que um indivíduo pode apresentar, bem como o possível aumento
ou diminuição de suas funções vitais quando submetido a uma situação que requer um esforço
de adaptação ao meio em que se insere. (SELYE apud FRANÇA et alli, 1999).
Segundo Selye, o estresse é considerado uma síndrome geral e de adaptação, pois é
desencadeada por agentes que afetam grandes áreas do corpo humano, acarretando uma
defesa generalizada ou sistêmica, e adaptativa, pois objetiva a manutenção da homeostase do
indivíduo. Considera-se o estresse uma síndrome pelo fato de suas manifestações serem
coordenadas e, em parte, interdependerem. (ARANTES e VIEIRA, 2002).
Existe uma grande dificuldade em encontrar um termo para definir o estresse, pois
nele se sintetizam diversos fatores, e profissionais de áreas distintas, como médicos,
psicólogos, filósofos e sociólogos, se debruçaram, durante anos, sobre o tema, na tentativa
isolada de compreendê-lo em sua complexidade.
A palavra estresse seria a que traduz o sentido mais adequado para o fator ou a junção
de diversos fatores que, unidos ou não entre si, vão gerar e desencadear no organismo humano
uma resposta semelhante. (MASSINI apud ARANTES e VIEIRA, 2002).
Em 1976, autores como Holmes e Rahe delimitaram o conceito de estresse a qualquer
demanda interna ou externa (social), que exija do indivíduo um reajuste de seu
comportamento usual. Segundo os mesmos autores, cada indivíduo teria em si uma
quantidade limitada de energia para se adaptar a possíveis situações adversas do seu cotidiano,
16

e ao se esgotar essa energia o sujeito estaria exposto à vulnerabilidade do aparecimento de


enfermidades. Resumindo, o estresse seria o desequilíbrio que o organismo humano sofre em
resposta a demandas internas ou externas. (GUIMARÃES e GRUBITS, 2003)
Em 1984, os autores Lazarus e Folkman definiram o estresse como uma relação
peculiar entre o homem e o ambiente, e a percepção de riscos e recursos, que vai além da sua
capacidade momentânea de lidar com essa realidade, pode afetar diretamente o seu bem-estar.
Essa resposta a um evento será responsável pela construção de uma emoção e de uma ação
comportamental.
Atualmente, Rodrigues e Gasparini citam que o estresse seria uma reação natural do
organismo humano, sendo saudável e normal a presença do mesmo no dia-a-dia do homem.
Esses autores ainda ressaltam a grande importância da presença do estresse no sujeito para o
seu equilíbrio de homeostase, destacando-se como necessário e benéfico se bem equilibrado,
porém gerando prejuízos ao indivíduo se mal delimitado.
Outra visão sobre a síndrome é apresentada por Moraes, Cooper e Swan, que
resgatam, para a saúde mental do trabalho, uma visão de observação do sujeito a fim de
compreender melhor os seus significados, que podem ser verificados em suas redes e relações
sociais.
Por sua vez, Ladeira (1996) partilha de pontos de vista semelhantes aos dos autores
citados, com algumas variações interessantes. Para ele, apesar de vários sujeitos serem
estimulados com o mesmo estímulo, cada um reagirá de uma forma única, pois cada um teria,
em sua constituição, uma estrutura psíquica, bioquímica, além de valores, hábitos e ambientes
sociais bem distintos, que alteram e se diferenciam em sua resposta comportamental.
Autora de diversos estudos sobre o tema, Lipp (2004) define o estresse como uma
reação psicofisiológica muito complexa, que contém em sua base o caráter imprescindível do
organismo humano e as dificuldades desses indivíduos ao lidar com o prenúncio de algum
perigo que ameace seu equilíbrio interno. Logo, tais circunstâncias podem acontecer quando
um indivíduo se depara constantemente com situações, em seu cotidiano, que lhe provocam
sensações diversas, como: medo, trauma, emoções fortes, entre outras.
Assim, ressalta-se que a reação do estresse pode ocorrer em face de fatores estressores
inerentemente negativos como, por exemplo: fome, dor, frio, calor excessivo, ou em
decorrência da interpretação que o indivíduo dá a este evento desafiador.

Quando se fala na organização das rotinas de trabalho, estas dependem de prescrições


que definam um padrão para a execução das tarefas, dessa forma, a padronização destas
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tarefas e dos limites impostos para a realização das mesmas pode, muitas vezes, ocasionar o
sofrimento durante a execução do trabalho. Assim sendo, pode-se dizer que:

Em todas as atividades do homem, principalmente no trabalho, estão presentes


aspectos de ordem física, metal e psíquica, que representem os esforços
desenvolvidos para atender às exigências das tarefas. Quando eles exercem um
certo número de constrangimentos, resultam em cargas de trabalho, acarretando
custos humanos aos trabalhadores, podendo determinar sobrecarga ou sofrimento.
(GONÇALVES, 2002)

Dejours (1987), afirma que, para analisar as condições de trabalho deve-se prestar a
devida atenção ao ambiente físico, químico, biológico, às condições de higiene, de segurança
e às características antropométricas do posto de trabalho a que este trabalhador está sujeito
diariamente. O autor estuda o comportamento do indivíduo antes e depois de ser incluído na
organização do trabalho. Descreve como o comportamento do trabalhador recém chegado na
organização sofre mudanças e tolhimento de seus desejos, que ele denominou “anulação muda
e invisível”, adquirindo comportamento estereotipado de outros trabalhadores já sujeitados a
essa organização autoritária e padronizadora.
Para que o trabalhador consiga equilibrar os seus desejos ou necessidades pessoais
dentro de uma organização, será necessário que ele busque compreender a realidade
organizacional que o circunda. E, também, que a organização do trabalho possibilite ao
trabalhador espaços para novas aquisições de responsabilidade ou de atividades que
proporcionem e agreguem algum significado ao seu contexto pessoal e profissional. Esses
fatores são requisitos imprescindíveis para a manutenção da saúde mental do trabalhador, que
busca a diminuição do sofrimento psíquico pelo mecanismo da sublimação. (DEJOURS,
1999). Conforme o autor,

(...)a sublimação é um conceito psicanalítico que tem um papel importante para


essa metodologia, entendido como um processo graças ao qual as pulsões de
natureza sexual são redirigidas para uma atividade socialmente autorizada,
resultando em um aumento da eficiência psíquica. O desafio do sujeito, então, é de
encontrar uma via de escape para as suas pulsões, que seja compatível com a sua
inserção social através da qual ele possa construir sua história pessoal. (DEJOURS,
1999, p.134).

Devido às más condições de trabalho e ao constante risco a que o trabalhador é


submetido por exercer atividades que podem afetar sua integridade física, se estabelece a
suposição de que este indivíduo buscará, diariamente, estratégicas de enfrentamento dessa
realidade amedrontadora e desenvolverá mecanismos defensivos para defrontar esta realidade.
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Estas estratégias são tão eficazes para o trabalhador que, quando questionado sobre os riscos
da atividade, em seu discurso não se verifica nenhum traço de medo ou insegurança quanto
aos mesmos. Esta estratégia de defesa psíquica e emocional, requer um intenso desgaste
somático do sujeito, que poderá se evidenciar por disfunções de sono, do humor, além de
lesões musculares, dores crônicas e manifestações de ansiedade. Em outras palavras,

(...) a insatisfação em relação com o conteúdo significativo da tarefa engendra um


sofrimento cujo ponto de impacto, é antes de tudo, mental, em oposição ao
sofrimento resultante do conteúdo ergonômico da tarefa.. Todavia, sofrimento
mental pode, igualmente, levar as doenças somáticas.. (DEJOURS, 2000, p. 51)

Tal sofrimento também está ligado a diversos fatores, como a diversificação e a


padronização de tarefas, a hierarquia inflexível, a falta de participação nas decisões e de
reconhecimento profissional, o individualismo entre os colegas de trabalho, assim como
também a impossibilidade de crescimento profissional.
Já as experiências prazerosas estão relacionadas à identificação com a atividade
quando lhe é permitido utilizar estratégias diferentes, quando as formas de organização do
trabalho são flexíveis e quando o trabalhador se sente reconhecido e valorizado, entre outras
situações.
A importância de compreender cada vez mais o fenômeno do estresse organizacional
se dá pelo reconhecimento dos riscos mais sérios ao bem-estar psicossocial da população
mundial. Diversos artigos e pesquisas sobre o tema enfatizam a complexidade e a necessidade
do aprofundamento em pesquisas etiológicas do problema, a fim de aprimorar as condições de
trabalho e inibir os males gerados à saúde de quem labora. (BATEMAN e STRASSER, 2005).
Entre os pesquisadores sobre o assunto, Lipp (2004), citada anteriormente,
desenvolveu um modelo teórico para classificar as fases de estresse em um indivíduo adulto e
dividiu essa classificação em quatro fases: alerta, resistência, quase exaustão e exaustão.
A fase de alerta seria aquela em que o indivíduo necessita gastar mais energia e
esforço físico para dar conta de uma exigência externa (desafio ou ameaça percebida),
despendendo, assim, um esforço maior de seu organismo.
A fase de resistência se evidencia pela busca da homeostase do corpo, o qual perderá
muita energia tentando se reequilíbrar. Quanto maior o esforço do sujeito em se adaptar e se
equilibrar interiormente, maior será o desgaste de seu organismo. Para cessar essa fase, o fator
estressor deve ser eliminado ou o processo de adaptação do organismo deve ser completo.
19

A fase de quase-exaustão se refere ao momento em que as defesas do indivíduo já


estão cedendo às tensões e a homeostase do organismo não consegue se restabelecer.
Algumas doenças começam a surgir nesta fase, sendo comum os indivíduos oscilarem entre
momentos de bem estar e outros de cansaço e ansiedade.
Alguns sintomas que podem aparecer na fase de quase-exaustão são: cansaço mental,
dificuldade de concentração, perda de memória imediata, apatia, indiferença emocional,
impotência sexual ou perda da vontade de fazer sexo, herpes simplex, corrimentos, infecções
ginecológicas, aumento de prolactina, tumores, problemas de pele, queda de cabelo, gastrite
ou úlcera, perda ou ganho de peso, desânimo, dúvidas, ansiedade, crises de pânico, pressão
alta, alteração dos níveis de colesterol e triglicérides, distúrbios de menstruação, queda na
qualidade de vida.
A última fase, a de exaustão, é a mais perigosa, pois se entende que há a quebra total
das defesas do organismo do sujeito e ele fica, então, exposto às mais variadas doenças.
Percebe-se, nesta fase, a exaustão psicológica do sujeito, situação em que desenvolve formas
de depressão e exaustão física, o que pode gerar diversas doenças e, inclusive, desencadear até
a sua morte. Algumas doenças graves podem surgir nessa fase, como úlceras, pressão alta,
psoríase, vitiligo.
Ressalta-se que esses sintomas, para serem realmente confirmados como pertencentes
a um quadro de estresse, precisam ter uma freqüência alta, porque, como a própria autora
afirma, todo indivíduo está sujeito a não se sentir bem um dia ou outro de sua vida e nem por
isso estará apresentando a síndrome. Daí ser necessário ter muito cuidado e atenção ao
diagnosticar a freqüência da manifestação do quadro em cada sujeito.
O modelo quadrifásico elaborado por Lipp é muito importante, haja vista a
importância em distinguir com propriedade toda a trajetória do processo de instalação do
estresse no sujeito, evitando, assim, que ele atinja a fase mais perigosa para o seu bem estar
físico e psicológico, que é a fase de exaustão.

2.2 A atividade de enfermagem

Considera-se de suma importância para a presente pesquisa a análise da atividade do


profissional de enfermagem e de sua rotina laborativa, além do estudo a respeito dos sintomas
de estresse mencionados. Ainda será verificado o dimensionamento do processo de evolução
20

do estresse nos referidos profissionais, principalmente naqueles que atuam com pacientes
oncológicos.
O tipo de relação que o individuo estabelece com o seu trabalho passa a ser decisiva
para o estabelecimento ou não de conflitos, que influenciarão diretamente no equilíbrio da
manutenção de sua saúde mental. (VIEIRA et alli in GUIMARÃRES e GRUBITS, 2003).
Os autores Rodrigues e Gasparini ( apud GUIMARAES, 1992) destacam que, dentre
as diversas patologias que a Medicina do Trabalho procura compreender, na grande maioria,
há uma correlação com o desgaste a que os trabalhadores estão sujeitos nos ambientes e nas
suas relações de trabalho. E destacam igualmente que, se essas condições forem inadequadas,
desencadearão cada vez mais o aprisionamento desse sujeito e uma desatenção aos programas
de prevenção e promoção a sua saúde.
Diversos estudiosos na área de saúde do trabalhador concordam com a afirmação de
que o trabalho está intimamente ligado ao adoecer do sujeito. Isso ocorre por entenderem que
as profissões da área da saúde, em particular, a atividade de enfermagem, são algumas das
profissões mais estressantes para a saúde dos trabalhadores. A carga emocional intensa a que
estes sujeitos estão expostos é decorrente das relações interpessoais (enfermeiro-paciente),
exigências físicas, equipes de trabalho deficitárias, jornadas de trabalho noturnas e extensas,
horas extras, outros vínculos empregatícios. (VIEIRA et alli apud GUIMARÃRES e
GRUBITS, 2003).
A função singular do profissional de enfermagem é dar assistência ao indivíduo
saudável ou adoecido, utilizando, para isso, instrumentos técnicos com a finalidade de zelar
pelo bem-estar do paciente. (HENDERSON apud SILVA in D´ASSUMPÇÃO, 1984).
A assistência do profissional da enfermagem é muito abrangente e se norteia por um
conjunto de técnicas alicerçadas em princípios científicos, sendo desempenhadas e
desenvolvidas por uma equipe composta por diversas categorias de profissionais: enfermeiro,
técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem e atendente.
Entretanto, a qualidade para o desempenho dessas técnicas ultrapassa a simples
execução de suas funções, alcançando principalmente a atenção e o amparo do atendimento
fornecido ao paciente, com o intuito de auxiliar a conservação de suas necessidades humanas
básicas. Para o efetivo desempenho desse atendimento é necessário que a equipe de
profissionais perceba e identifique este sujeito em sua individualidade e subjetividade,
estabelecendo comunicação eficiente, interagindo e acolhendo os seus anseios e sofrimentos.
“Desse modo se estabelece um relacionamento efetivo entre enfermeiro e o paciente,
21

resultando uma interação entre duas pessoas e favorecendo a atuação da enfermagem.”


( SILVA in D´ASSUMPÇÃO, 1984, p.143)
Para a realização dessa interação entre as partes envolvidas, verifica-se a necessidade
de entender como se processa tal comunicação, haja vista que pode ocorrer de três maneiras
distintas: a verbal, a não verbal e a paraverbal.
A primeira, comunicação verbal, refere-se à linguagem oral e escrita, instrumento
utilizado para transmitir e compartilhar conhecimentos e experiências de um sujeito a outro. A
segunda é a linguagem não verbal, em que a comunicação se manifesta por comportamento e
não por linguagem oral e escrita. A comunicação não verbal tem um caráter de ampliação,
quando comparada à primeira, pois pode reforçar, rematar, preencher e contradizer a
linguagem verbal utilizada. (STEFANELLI, 1993). Ainda segundo o mesmo autor,

(...)o toque, outro aspecto da comunicação não verbal, é, talvez, uma das mais
importantes facetas da comunicação não verbal, pois, através deste podemos, por
exemplo, indicar para a pessoa que fique onde está, que se aproxime, que “estamos
com ela” em uma dada situação. É um dos meios mais concretos de transmitir
nossos sentimentos de empatia e confiança. (STEFANELLI, 1993, p.38).

A última classificação da comunicação, a paraverbal, permeia os outros dois tipos de


linguagem já expressos anteriormente. Este tipo de linguagem é indispensável à comunicação
do profissional da enfermagem, pois é a instrução necessária para que o referido profissional
compreenda a mensagem emitida pelo sujeito como, por exemplo, o ritmo com que o sujeito
pronuncia as palavras, o tom de voz e da pele, emoções, pausa durante o desenrolar do
discurso. (STEFANELLI, 1993).
Resumindo, pode-se dizer, no que se refere à comunicação, que:

(...) somente 35% do significado da mensagem é transmitido verbalmente e 65% é


comunicado não verbalmente. Em face destes resultados impõe-se a consideração de
que os indícios não verbais facilitam a compreensão do que está sendo dito; daí a
importância da enfermeira aprofundar seus estudos nas formas verbal e não verbal da
comunicação para que possa prestar assistência holística ao paciente com base nos
problemas e sentimentos deste de acordo com sua visão de mundo. (GAMBLE e
GAMBLE in STEFANELLI, 1993, p.40).

Para que essa interação seja exitosa, o profissional de enfermagem não poderá valer-se
da linguagem diária ou de seu cotidiano pessoal quando se relacionar com o paciente,
necessitando recorrer aos seus instrumentos técnicos de comunicação denominados pela
22

autora Stefanelli (1993) de comunicação terapêutica. O meio terapêutico de interagir


socialmente visa entender a vivência que o outro atravessa, respeitando, confortando,
encorajando e estimulando a reflexão do paciente, por meio da transmissão das emoções que
percebe nele quando se relacionam, a fim de clarificar e estimular o paciente durante este
processo interpessoal.
Segundo a classificação brasileira de ocupações – CBO (2002), as competências pessoais que
um profissional técnico de enfermagem deve ter para desempenhar a sua função são:

(...)trabalhar com ética; respeitar paciente; zelar pelo conforto de paciente;


preservar integridade física de paciente; ouvir atentamente (saber ouvir); observar
condições gerais de paciente; demonstrar compreensão; manter ambiente
terapêutico; levar paciente à auto-suficiência; manipular equipamentos; apoiar
psicologicamente o paciente; calcular dosagem de medicamentos ; participar em
campanhas de saúde pública; incentivar continuidade de tratamento. (MTE, 2002).

Segundo Silva e Zago (2001), o profissional da enfermagem, apesar de possuir esses


instrumentos para a sua intervenção, ao se deparar com pacientes com dor crônica, como os
oncológicos, muitas vezes, não se sente completamente capacitado para realizar o
atendimento. Dessa forma, apontam a necessidade de amparo de outros profissionais, tais
como psicólogos, para auxiliarem na relação com o paciente. A incerteza e falta de
conhecimento sobre o tratamento aplicado colaboram para a insegurança e tensão do
profissional, como será analisado a seguir.

2.3 O profissional de enfermagem e o paciente oncológico

O profissional da enfermagem está exposto diariamente a diversas possibilidades de


contato com o sofrimento humano, haja vista que esta proximidade vai desde um auxílio à dor
que o paciente esteja sentindo até ao acompanhamento e desenrolar do processo de morte.
Tamanha proximidade evidencia o grau de envolvimento pessoal e profissional a que está
sujeito constantemente, confirmando a necessidade do auxílio de um processo
psicoterapêutico constante. (CARVALHO e MERIGHI, 2005).
Para o desempenho eficiente da assistência do profissional da enfermagem, é de suma
relevância o entendimento e conhecimento da doença do câncer, tanto as suas repercussões
fisiológicas quanto psicológicas. Na verdade, compreender como essa doença afeta a vida
23

daquele paciente e quais instrumentos técnicos poderão ajudá-lo a melhorar a qualidade da


assistência é o extrato do trabalho prestado por este profissional. É preciso destacar que

Os profissionais de enfermagem são os que mais tempo permanecem junto do


cliente e também dos familiares, constituindo-se em verdadeiros elos, com
potencial para promover a interação de todos os envolvidos e buscar por recursos
que possibilitem à pessoa enferma melhor qualidade de vida. (CARVALHO e
MERIGHI, 2005, p.03).

Diante dos apontamentos feitos sobre o trabalho do profissional de enfermagem frente


aos pacientes oncológicos, cabe analisar ainda, com brevidade, a doença câncer e suas
repercussões.
Atualmente, o câncer apresenta-se como um dos grandes “vilões” da saúde pública no
Brasil e no mundo, principalmente pela sua incidência e pelos índices de mortalidade.
(LOPES, 2005).
A simples manifestação da palavra “câncer” assusta as pessoas com prenúncios de dor,
sofrimento e pensamentos mórbidos, fazendo com que deixem propositalmente de encarar tal
tema. Frisa-se que algumas dessas pessoas enfermas, muitas vezes, tentam driblar esta
realidade como forma de reação.
Historicamente, a palavra câncer teve origem na Grécia antiga e foi inserida por
Hipócrates. Grego, considerado o “pai da medicina”, Hipócrates viveu entre 460 e 370 a.C e
usou os termos "carcinos" e "carcinoma" para descrever certos tipos de tumores. Essas
palavras em grego significam “caranguejo” e com base na apresentação do aspecto do tumor e
das suas projeções e vasos sanguíneos ao seu redor, é que foi feita essa associação com as
patas desse crustáceo.
Alguns séculos depois, entre 130 e 200 d.C., viveu Galeno, médico romano,
considerado a maior autoridade na área e referência no tratamento dessa doença durante pelo
menos um milênio. Foi Galeno quem determinou que a doença câncer era incurável e que,
uma vez diagnosticada, havia pouca coisa a fazer a não ser aguardar a morte do indivíduo.
Somente no século XVIII o tabu da doença começou a mudar, com John Hunter,
cirurgião escocês que sugeriu que alguns tipos de câncer poderiam ser curados por cirurgia.
Apesar das mudanças e dos avanços tecnológicos que a doença sofreu durante todos esses
séculos até a atualidade, as distorções negativas sobre o câncer ainda permeiam o cotidiano
das pessoas.
A distorção popular negativa sobre a doença pode prejudicar muito o tratamento,
levando a um sofrimento psíquico maior do que a real vivência do mesmo, pois, como se sabe,
24

o câncer, por ser doença crônico-degenerativa, apresenta evolução prolongada e


progressiva, exceto se for interrompido em alguma de suas fases. Em geral,
caracteriza-se por longo período de latência, fase assintomática prolongada e
envolvimento de múltiplos fatores de risco, com destaque para os
ambientais.(TEIXEIRA e NOGUEIRA apud LOPES, 2005, p. 03).

Um fato que potencializa ainda mais as dificuldades de lidar com a doença, é que o
câncer, na maioria das vezes, provoca a diminuição severa da qualidade de vida do paciente
em razão da forte dor provocada. (LOPES, 2005). Em conformidade com Silva e Zago (2001,
p.6),

a gente percebe a dor crônica no olhar do paciente. É um paciente apático. Só pela


fisionomia dele você já percebe que ele está com dor. Parece que ele transmite com
o olhar, pedindo socorro: por favor, faça alguma coisa para aliviar a minha dor!

Segundo os autores citados, os profissionais de enfermagem relatam que suas ações


são limitadas pela falta de conhecimento de como intervir na dimensão afetiva do paciente. A
maneira como esses profissionais valorizam e requerem o auxílio de uma equipe
multidisciplinar não está simplesmente ligada à troca de conhecimentos específicos de outras
áreas, mas sim à necessidade de se assegurar, pela carência de conhecimentos, de que são
capazes de lidar com esse paciente: “Eu tenho muitas dificuldades para cuidar desse paciente
por não estar preparado.”(SILVA e ZAGO, 2001, p.07).
Os conhecimentos adquiridos no decorrer da trajetória profissional e pessoal do
profissional da enfermagem no cuidado com o paciente oncológico evidenciam a importância
que o mesmo dispensa ao entendimento de respostas comportamentais, atitudes e do
sofrimento dos pacientes, da crença sobre a não-eficácia de tratamentos e das amplas
possibilidades de dependência das drogas prescritas. As habilidades afetivas e cognitivas
desses profissionais para lidar com o paciente oncológico estão baseadas em características
simbólicas. (SILVA e ZAGO, 2001)
Da mesma forma que a doença câncer traz uma representação social de dor e
sofrimento, é mais do que compreensível que, para esses profissionais, o atendimento a esses
pacientes seja um desafio não só profissional como também pessoal.
25

3 MÉTODO

Para a ciência, o método seria o instrumento fundamental para iniciar ordenadamente


um pensamento sistêmico, dirigindo, assim, a procedência do pensamento crítico e reflexivo
do pesquisador para a obtenção dos objetivos iniciais almejados. Definindo de outra forma,

(...) método é o caminho ou a maneira para chegar a determinado fim ou objetivo,


distinguindo-se assim, do conceito de metodologia, que deriva do grego méthodos
(caminho para chegar a um objetivo) + logos (conhecimento). Assim, a
metodologia são procedimentos e regras utilizadas por um determinado método. (...)
(RICHARDSON, 1999, pg. 22)

A presente pesquisa utilizou-se do método quanti-qualitativo, que é considerado,


segundo autores como Goode e Hatt (apud RICHARDSON, 1999). um método impossível de ser
dissociado ou diferenciado um do outro. Fundamentando-se na concepção de que a pesquisa
quantitativa objetiva a busca de dados estatísticos sobre um determinado fenômeno ou
realidade, a qualitativa seria o método de pesquisa que busca entender a natureza de um
fenômeno social para, assim, criar categorias ou critérios de análise dessa realidade. Para os
autores citados, seria considerada uma falsa dicotomia, pois até mesmo a pesquisa
quantitativa buscará entender a qualidade daquele fenômeno e não apenas os dados
estatísticos. É possível notar, atualmente, que

o desejo de quantificar a todo custo tem levado as Ciências Sociais a investigarem


algo que se quantifica mais facilmente, aumentando o número de pesquisas que, ao
desprezarem elementos qualitativos, apresentam pobreza de resultados. Isto,
necessariamente, não quer dizer que a pesquisa quantitativa seja inútil. Significa,
simplesmente, que há domínios quantificáveis e outros qualificáveis. (...)
(RICHARDSON, 1999, pg. 80)
26

A escolha do método quanti-qualitativo se fez por buscar a compreensão de dados


tanto estatísticos, por meio de um Inventário de Sintomas de Stress da Lipp (ISSL), quanto
qualitativos, como os obtidos pelas falas dos sujeitos entrevistados por meio de um roteiro
semi-estruturado. Considera-se assertiva a escolha do método, pois enriqueceu a análise da
pesquisa.

3.1 Caracterização da pesquisa

Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, pois busca tornar mais
familiar o problema proposto, objetivando uma melhor compreensão ou construção de
hipóteses sobre o fenômeno estudado. A pretensão principal é o aperfeiçoamento de idéias e
intuições, visto que sua construção é muito flexível e proporciona uma abertura maior para a
visualização de vários aspectos a serem estudados (GIL, 2002). Esse modelo de pesquisa
utiliza, para a sua realização, levantamentos bibliográficos, entrevistas individuais que trazem
fatos baseados nas experiências práticas vivenciadas e análises de exemplos sobre o problema
que estimulem uma melhor percepção sobre o mesmo (SELLTIZ et alli apud GIL, 2002).
Com base nessa breve explicação é que se justifica a proposta escolhida de buscar
explorar a possibilidade da existência de fatores estressores no processo de relação
interpessoal mantido entre o profissional da enfermagem e o paciente oncológico durante a
rotina de trabalho destes profissionais da saúde.
O delineamento da pesquisa consiste em um estudo de caso, que visa buscar um
aprofundamento de um grupo específico de profissionais de enfermagem. Destaca-se que,

nas ciências, durante muito tempo, o estudo de caso foi encarado como pouco
rigoroso que serviria apenas para estudos de natureza exploratória. Hoje, porém, é
encarado como o delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno
contemporâneo dentro de seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o
contexto não são claramente percebidos. (YIN apud Gil, 2002, pg.54)

Este estudo de caso deseja clarificar e abranger os mínimos detalhes deste problema de
pesquisa proposto, com a pretensão de trazer à tona resultados abertos e uma visão mais
ampla sobre a realidade do profissional técnico de enfermagem, ou seja, elucidar hipóteses e
não conclusões fechadas sobre a mesma.
27

3.2 Participantes

A amostra de participantes envolvidos nesta pesquisa foi composta de três técnicas de


enfermagem, que atuam em um Hospital Especializado no Tratamento Oncológico.
Todos os participantes tinham vínculo institucional e faziam parte da equipe de
enfermagem, no mínimo, há um ano.

3.3 Técnicas de coleta de dados

A coleta de dados foi realizada por intermédio de uma entrevista individual em


profundidade, com um roteiro semi-estruturado (vide Apêndice A), sendo aplicado ainda o
Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL). O roteiro semi-estruturado foi
elaborado especificamente pela acadêmica autora da pesquisa, objetivando a coleta de dados
qualitativos, que enriquecerão muito os resultados dessa pesquisa.
O Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL), quando aplicado,
levou entre 15 a 20 minutos para a sua realização.. Ele é composto de três quadros que se
referem às quatro fases do estresse. Vale destacar que o quadro número 2 é o que identifica e
avalia as fases de estresse resistência e quase-exaustão. No primeiro quadro do inventário,
estão descritos 12 sintomas físicos e 3 psicológicos, e o sujeito tem que assinalar quais os
sintomas que apresentou nas “últimas 24 horas”. No segundo quadro, há uma modificação no
número de sintomas, e o sujeito deve assinalar no campo se apresentou, na “última semana”,
alguns dos 10 sintomas físicos ou dos 5 sintomas psicológicos. E no último, o quadro três, o
sujeito deve assinalar todos os sintomas que apresentou no último mês, mas o número de
sintomas físicos é 12 e dos psicológicos é 11. Ressalta-se que alguns sintomas são muito
semelhantes de um quadro para o outro, o que muda, na verdade, é a intensidade do sintoma.
(LIPP, 2000)
No total, estão pontuados 37 sintomas de natureza somática e 19 de caráter psicológico
distribuídos pelos três quadros do inventário. Os resultados são conferidos pelas tabelas de
avaliação que definirão se há ou não existência de estresse. Caso seja apresentado estresse, no
manual que acompanha o inventário há uma tabela que, dependendo do número de sintomas
assinalados, irá apontar a fase de estresse em que se encontra o indivíduo.
28

3.4 Plano de análise dos dados

Os resultados obtidos pelo inventário foram conferidos pelas tabelas de avaliação


contidas no manual de aplicação do mesmo, que definiram as fases de estresse em que se
encontram os indivíduos entrevistados.
A proposta de análise dos dados incluiu também a elaboração e representação em
quadros gráficos, que permitiram melhor visualização dos resultados da pesquisa.
O roteiro semi-estruturado foi analisado qualitativamente e, a partir da mensagem
transmitida pelo sujeito, foi concluída uma análise do conteúdo exposto durante a entrevista.
Foram criadas quatro temáticas de análise e a partir delas foram estabelecidas categorias e
subcategorias de análise do conteúdo obtido pelo discurso dos sujeitos.
29

4 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS

O objetivo geral desta pesquisa foi identificar a existência de fatores e fases de estresse
presentes na rotina de trabalho dos técnicos de enfermagem no cuidado com do paciente
oncológico. Para a realização da mesma, foram entrevistados três técnicos de enfermagem,
todos do sexo feminino, residentes na Grande Florianópolis. Toda a amostra trabalha há mais
de um ano na área oncológica, em hospitais da Região da Grande Florianópolis, sendo duas
no atendimento com crianças e uma com adultos.
Para melhor visualização das características e dados pessoais de cada participante da pesquisa,
utilizou-se um quadro com os dados de cada sujeito, um segundo que mostra a experiência
dos participantes da pesquisa e um terceiro que contém dados laborais dos técnicos, como se
verá logo a seguir.

Quadro1: Dados pessoais


Sujeito Idade Sexo Estado Civil Filhos Escolaridade Cursos de
Qualificação
1 35 F Casada 2 2º G.Comp. Não

2 30 F Casada 2 2º G.Comp. Sim

3 42 F Casada Não 2º G. Comp. Sim


30

Quadro 2: Experiência na área


Sujeito Tempo na Tempo na área Vinculo Outros vínculos de
atividade de oncológica Empregatício trabalho
enfermagem
1 04 anos 02 anos Sim Não

2 10 anos 06 anos Sim Não

3 18 anos 10 anos Sim Não

Quadro 3: Dados laborativos


Sujeito Turno de trabalho Carga Horária Foi um escolha sua
Semanal trabalhar na área
oncológica
1 Matutino e vespertino 48 horas Não

2 Noturno 60 horas Não

3 Noturno 42 horas Não


31

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Neste capitulo serão abordados os resultados obtidos por meio das entrevistas e da
aplicação do inventário de sintomas.
Para isso, foram criadas quatro temáticas a partir das perguntas elaboradas no roteiro de
entrevista, conforme o Apêndice A.
As temáticas criadas foram: a doença câncer; suporte organizacional; perfil
profissional desejável; o estresse ocupacional. A partir das temáticas apresentadas
anteriormente, foram construídas categorias. E essas categorias, foram desmembradas em
subcategorias que foram estabelecidas a partir das falas das participantes.

5.1 A doença câncer

Esta primeira temática utilizou como base de análise as perguntas número 04, 05 e 06
do roteiro de entrevista. As categorias construídas para esta temática foram: a percepção da
doença; trabalhar com o paciente oncológico; o preparo do profissional para lidar com a
doença;
A partir das categorias apresentadas acima serão descritas as subcategorias originadas dessa
construção.

Categoria 1: A percepção da doença

ƒ A doença câncer atrelado à morte e a degeneração física;


ƒ A doença câncer atrelado ao sentimento de impotência;
ƒ A doença câncer atrelado ao conhecimento científico.

Categoria 2: O preparo do profissional para lidar com a doença


32

ƒ Preparada para lidar com dor e morte;


ƒ Não se sente preparada para lidar com dor e morte.

Categoria 3: Trabalhar com o paciente oncológico

ƒ Não foi iniciativa própria;


ƒ Sofrimento psíquico;
ƒ Realizada em poder ajudar.

5.1.1 A percepção da doença

Para essa categoria foram determinadas as três subcategorias descritas anteriormente.


Para a subcategoria “a doença câncer atrelada à morte e a degeneração física”, os três
participantes trouxeram como falas representativas a percepção exemplificada a seguir pelo
sujeito 1:

“O câncer pra mim é um terror, algo horrível. Que vai te comendo, te fazendo
sentir muita dor, desfigurando o paciente. É como um demônio, é tudo de
ruim.(...)”. Sujeito1

A doença câncer, segundo Lopes (2005), traz um estigma social de dor, sofrimento e
morte que permeia a sociedade há anos. Esse estigma contribui para um agravamento do
sofrimento psíquico do paciente e, conseqüentemente, do cuidador que está implicado nesse
processo diariamente. Quando os sujeitos entrevistados trazem, nas suas falas, a visão da
doença como sendo algo terrível, horrível, uma doença extremamente ruim, percebe-se o
sofrimento implícito no discurso de cada entrevistado ao lidar com esse contexto diário. O
câncer é uma doença que traz consigo muita dor, com características negativas que
ultrapassam a visão meramente científica do sujeito. A construção dessa percepção da doença
vem se estabelecendo muito anteriormente à entrada desse profissional da enfermagem na
área oncológica, na verdade, ela vem sendo estabelecida nas trajetórias do cotidiano pessoal
de cada sujeito (relações intrapessoal e interpessoais) e edificando-se com os outros
conhecimentos científicos apresentados no seu contexto de trabalho.
As fortes dores, as degenerações físicas e até o desenrolar do processo de morte são
características que acompanham o cotidiano do profissional da enfermagem que lida com essa
33

doença, evidenciando a dificuldade em lidar com as limitações de alguns quadros clínicos que
se apresentam e com a sensação de incapacidade para aliviar as dores e para poder realmente
levar o paciente à cura.
Segundo Silva e Zago (2001), algumas profissionais trazem, em seus discursos, essa
sensação de que as suas ações terapêuticas são limitadas pela falta de conhecimento em lidar
com as esferas afetivas do paciente oncológico, gerando uma sensação de incapacidade e
desconfiança no tratamento aplicado.
Essa visão que as autoras citadas anteriormente trazem sobre o sentimento de incapacidade
que o profissional tem foi descrita em uma outra subcategoria denominada “a doença câncer
atrelada ao sentimento de impotência”, e se evidencia na fala do sujeito 1 a seguir:

(...) “ Eu me sinto uma inútil, de mãos e pés amarrados. Você sabe que não tem
volta e se voltar você sabe que é só para prolongar o sofrimento do paciente.”(...).
Sujeito 1

Durante a entrevista, percebeu-se que esse profissional tem uma noção de limitação
das suas ações dentro de determinados quadros clínicos, tendo em vista que diversas vezes
simplesmente aguardou o desenrolar da doença e só lhe restou acolher o máximo possível o
paciente e reduzir as suas dores até ele chegar ao falecimento. Havia um sofrimento claro nas
expressões comportamentais do profissional enquanto relatava o fato de que se deparou
diversas vezes com pacientes que tinham possibilidades de melhora, mas que, por questões
psicológicas, acabaram desistindo de lutar pela própria vida e chegando ao óbito. O sujeito 1
demonstra essa sensação de incapacidade para ajudar o paciente nessa esfera psicológica, se
frustrando e sofrendo com essa limitação, e também o sujeito 2, cuja fala é transcrita a seguir:

(...)“É um sentimento de incapacidade, muitas vezes aquela criança luta tanto pela
vida durante dias e meses após iniciar tratamento e acaba morrendo.” (...)Sujeito 2:

Já a última subcategoria percebida na fala dos sujeitos foi a da “doença câncer atrelado
ao conhecimento científico.” Apesar de apenas um sujeito trazer esta subcategoria em seu
discurso, considerou-se relevante a sua análise. Apesar de os sujeitos terem que utilizar
diariamente diversos conhecimentos técnicos e científicos para cuidar do paciente oncológico,
evidenciou-se mais uma visão relacionada aos estigmas sociais e ao sofrimento por lidar com
a doença câncer do que a percepção da doença câncer atrelada aos conhecimentos técnicos. A
seguir, apresenta-se a única fala relativa a essa subcategoria:
34

(...)“A doença câncer é o nome dado a mais de 100 doenças que tem em comum o
crescimento de células que envolve tecidos e órgãos. È uma doença genética e não
hereditária, podendo também existir câncer hereditário.”(..)Sujeito 3

Dentro da categoria “a percepção da doença câncer”, nota-se, no conteúdo do discurso


das três técnicas, que elas compartilham da visão que a doença câncer está atrelada à morte e
à degeneração física. Quando questionadas sobre a doença câncer, as técnicas de enfermagem
relataram que a simples pronúncia da palavra doença remetia à percepção de sofrimento e dor,
morte e degeneração física, e que essa visão não se apresentou depois da sua entrada na área,
ela estabeleceu-se muito antes, nas suas próprias experiências pessoais e histórias de vida. A
visão que as técnicas trazem sobre a doença contribui significativamente para o entendimento
da segunda subcategoria, em que a percepção da doença está atrelada ao sentimento de
impotência dessas trabalhadoras frente à doença. Percebeu-se que as profissionais, apesar de
terem conhecimento da doença e de sua evolução, muitas vezes, por não conseguirem
dominar a esfera emotiva e psicológica do paciente, sentem-se impotentes para ajudar em sua
recuperação. A última subcategoria, a percepção da doença atrelada ao conhecimento
científico, foi apresentada por apenas uma técnica de enfermagem, o que chamou atenção,
pois os relatos eram mais ligados a esferas afetivas do que propriamente ao discurso técnico
habitual da área.

5.1.2 O preparo do profissional para lidar com a doença

Para essa categoria, foram determinadas as duas subcategorias descritas anteriormente.


Para a subcategoria “preparada para lidar com dor e morte”, foi observado apenas um sujeito
que se percebe preparado para lidar com essas situações. Apesar da resposta afirmativa,
durante a entrevista o sujeito enfatizou que atualmente se sente seguro para lidar com essa
realidade, pois está na área há 02 anos, mas quando iniciou na área oncológica, encontrou
muita dificuldade e sofrimento até conseguir se adaptar. A fala que evidencia esta percepção
será exposta a seguir:

: (...)“Hoje sim, mas quando entrei você não imagina como a realidade a coisa é
muito mais feia. Teu lado emocional nem pensar, tu cai preparada pra tudo, e o que
você vai ver é muita dor e sofrimento.” Sujeito 1
35

Apesar de se colocar como alguém preparado para lidar com essa realidade, durante a
entrevista o sujeito se percebe como alguém que tem de adotar uma postura de força e pouca
emotividade. Nota-se também que o preparo do técnico de enfermagem vem da experiência
prática e não porque é preparado pela instituição antes de assumir o cargo em questão.
Segundo os autores Carvalho e Merighi (2005), o profissional da enfermagem está exposto
diariamente ao contato com o sofrimento humano, que vai da manutenção das dores até o
falecimento do indivíduo. Tal proximidade evidencia o quanto o técnico está sujeito ao
envolvimento pessoal e profissional, pois fala desse mesmo sujeito que se percebe preparado
para lidar com essa realidade, trazendo uma reflexão sobre esse envolvimento, que está tão
intrínseco na sua atividade, que nem mesmo é percebido como sofrimento:

(...)“Você sente vontade de chorar, mas sabe que não pode se expor. Você tem que
se manter firme e forte.” (...)“Uma vez aconteceu um episódio de uma paciente
bem carente, ingerir detergente de cozinha de tanto sentir dor. Ela veio para o
tratamento se dizendo aliviada. Fiquei chocada! Nunca tinha imaginado ouvir isso
de alguém, imagina quanto desespero ela estava para fazer iss!. Fiquei muito triste
nesse dia.”(...) Sujeito 1

Continuando a análise dessa categoria, a outra subcategoria adotada foi “não se sente
preparada para lidar com dor e morte”, que obteve o maior número de respostas.
Segundo as autoras Silva e Zago (2001), apesar dos profissionais da enfermagem
serem instrumentalizados para lidar com o paciente oncológico, eles encontram bastante
dificuldade quando se deparam com situações de dor e sofrimento muito graves. Mostrando
que esses profissionais normalmente apresentam a necessidade e solicitam o auxílio de outros
profissionais, como por exemplo, o psicólogo, para ajudar na relação cuidador e paciente, a
fala a seguir exemplifica esta categoria:

A fala do sujeito 3: (...)“Não, eu considero que poucas pessoas conseguem lidar


com isso. Cada um tem um pensamento é muito delicado lidar com dor e morte.
Acho que ninguém é preparado para lidar com alguém com dor, temos que
procurar amenizá-las”. (...)

Para Dejours (2000), quando o conteúdo significativo da atividade laborativa do


trabalhador gera insatisfação neste, primeiramente, ocasionará o adoecimento mental em
oposição ao sofrimento resultante do provocado pelo conteúdo ergonômico, que são as
condições de trabalho. Ambos podem gerar problemas somáticos no trabalhador.
As falas dos sujeitos confirmam as visões dos autores referenciados no transcorrer da
pesquisa e trazem a dificuldade desses profissionais em lidar com essa situação diariamente,
36

além do sofrimento psíquico que a dor do paciente ou a sua perda podem desencadear no
trabalhador.

5.1.3 Trabalhar com o paciente oncológico

Para essa categoria foram determinadas as três subcategorias descritas anteriormente. Para
a subcategoria “não foi iniciativa própria”, observou-se que todos os sujeitos entrevistados
não escolheram ir para a área oncológica. Em sua totalidade, migraram de outros setores por
apresentarem habilidades e atitudes, consideradas adequadas pelas organizações em que
trabalham, para desempenhar a atividade ou por necessidade da organização de repor pessoal
diante da abertura de vaga por motivo de demissão de outros funcionários. Todos
apresentaram muito medo em ir trabalhar na área oncológica, sendo que alguns foram até
insistentemente coagidos a não desistir. Descreveram o sofrimento que passaram ao entrarem
na organização e comentaram que, atualmente, conseguem perceber, nas técnicas de
enfermagem recém contratadas, o quanto estas sofrem quando iniciam o trabalho na área
oncológica. Algumas recém contratadas já exercem outra atividade dentro do hospital, mas
quando são remanejadas de área ou setor, costumam mudar muito o seu desempenho laboral.
Segundo uma das entrevistadas, muitas vezes, as técnicas mais antigas na área oncológica são
responsáveis por encorajar os novos integrantes da equipe, relembrando-os de que já sabem
realizar aquela tarefa, mas que, na verdade, estão bloqueados pelo medo de lidar com aquele
paciente.
Os sujeitos relataram que encontram muito sofrimento humano e que encaram o fato de
trabalhar nesta área como um desafio profissional e também como uma atitude humanitária,
tentando, assim, ajudar ao menos um pouco a melhorar o sofrimento daqueles indivíduos
enfermos. A fala de um dos sujeitos exemplifica bem essa categoria, como se pode verificar a
seguir:

“Não foi uma escolha minha. Fui convidada, mas não queria. Tive muito medo e
relutei muito em aceitar, com o passar dos anos aprendi a trabalhar na
oncologia.” (...) Sujeito 3

O desafio implícito na aceitação dessa atividade laboral é um fator importante para


análise, pois, segundo a autora Lipp (2004), a constante exposição do indivíduo a fatores que
37

o desafiem ou afetem o seu equilíbrio interno ou homeostático, será decisiva para o


desenvolvimento do estresse ocupacional nesse trabalhador. Durante as entrevistas, as
técnicas trouxeram que essa situação de desconforto e medo perdurou durante anos e que, no
transcorrer da atividade de cuidadora, ainda percebem que não têm o completo domínio dos
desafios que esse tipo de atividade apresenta. Esse desconforto pode ser sentido na fala que se
segue:

(...): “Imagina um adolescente perdendo a perna, você imagina como se fosse


alguém da sua família, sou profissional, mas não dá pra não pensar nisso.”
(...).Sujeito 3

(...) Tem algumas mães que cobram da gente chorar junto com elas, é uma situação
muito delicada e complicada de lidar.”(...) Eu costumo dormir muito. Será que isso
pode ser considerado uma fuga?Acho que é uma fuga.(...).Sujeito 3

Para uma boa análise do comportamento do trabalhador recém admitido em uma


organização, deve-se entender o antes e o depois dessa inclusão. Para Dejours (2000), se essa
organização for padronizadora e autoritária, marcará psicologicamente este trabalhador,
provocando possíveis mudanças e tolhimento de seus desejos, causando sofrimento psíquico.
A segunda subcategoria criada foi “sofrimento psíquico”, podendo-se constatar que as
três técnicas de enfermagem apresentaram falas com conteúdo de sofrimento psíquico na
atividade de cuidadora. A seguir, apresenta-se uma fala representativa dessa subcategoria:

(...) me piquei com uma seringa duas vezes no último mês, uma por descuido meu e
outra por acidente provocado por outra funcionária que eu auxiliava. Quando
comentei com as outras técnicas que ia contar para o meu marido, elas insistiram
muito para que eu não contar, dizendo que não ia dar em nada e não deveria
contar porque ele ia ficar preocupado a toa.(...) As meninas (técnicas de
enfermagem), dizem que as crianças são sadias, não tem porque se
preocupar(...)Sempre tive uma ótima relação de confiança e diálogo com o meu
marido, contei a primeira vez que me piquei, mas agora a segunda acabei ficando
com medo e seguindo o conselho das outras técnicas. (...) Estou me sentindo muito
mal em mentir para ele”.(...).Sujeito3

Como se pode perceber, as condições inadequadas de trabalho e o constante risco que


essas profissionais sofrem podem afetar a sua integridade física e psicológica. Verificou-se,
durante a pesquisa, que esses profissionais buscaram estratégias de enfrentamento dessa
realidade amedrontadora e desenvolveram mecanismos de defesa, como a negação do risco
que sofrem quando cometem algum acidente de trabalho. Criaram um pacto grupal de apoio e
negação do perigo, sendo que, dentro desse apoio, está implícito o sigilo dos acidentes no que
se refere ao conhecimento de outras pessoas fora da organização do trabalho.
38

Conforme Dejours, essas estratégias são tão eficazes que, mesmo quando o
trabalhador é questionado a respeito do risco a que está sujeito, em seu discurso não se
percebe nenhum traço de medo ou insegurança, como se constata em uma das falas das
técnicas para o sujeito 3: “As meninas (técnicas de enfermagem), dizem que as crianças são
sadias, não tem porque se preocupar”. Porém, essa estratégia de defesa psíquica e emocional
pode custar muito caro para o sujeito, promovendo um grande desgaste somático como, por
exemplo, no caso desses sujeitos, disfunções do sono, desgastes musculares e problemas de
ordem sexual no relacionamento com cônjuge.
Esse comportamento estereotipado ou, como o próprio autor denomina, essa “anulação
muda e invisível” ficou visível no comportamento da equipe de trabalho diante dos acidentes
e do sofrimento psíquico da técnica.
Segundo Bulhões ((apud GONÇALVEZ, 2002), os riscos encontrados nessa realidade
hospitalar em que ocorreu o acidente descrito anteriormente, seriam entendidos como riscos
latentes, pois, apesar das técnicas de enfermagem estarem munidas de conhecimento e dos
equipamentos de segurança, em decorrência das exigências organizacionais, elas ignoram os
riscos que sofrem, deixando de lado a preservação da sua integridade física e mental para
manter o seu emprego. Muitas vezes, o objetivo da técnica é auxiliar o paciente da melhor
maneira possível, com rapidez e conforto, mas para isso abrem mão da sua segurança pessoal.
Autores como Rodrigues e Gasparini (1992) alertam a respeito das diversas patologias
que a Medicina do Trabalho vem buscando compreender nos últimos anos. E fazem
igualmente uma relação entre os desgastes físicos e psicológicos e as relações de trabalho,
uma vez que se essas esferas vieram apresentando um funcionamento inadequado e
desencadearam cada vez mais o aprisionamento desses profissionais e a desatenção aos
programas de prevenção e promoção da sua saúde.
A terceira e última subcategoria foi “realizada em poder ajudar” e apenas uma técnica
apresentou fala representativa, como se verá a seguir:

A fala do sujeito 1: “Sinto- me realizada porque sei que estou dando de mim para
diminuir o sofrimento e a dor do paciente.(...). Apesar de outras pessoas verem
como um trabalho”sujo”, eu vejo como uma chance de melhorar aquele pouco de
vida, numa hora tão difícil da vida de alguém, que é a doença terminal.”

De acordo com a autora D´Assumpção (1984), o profissional de enfermagem tem


como objetivo desempenhar as suas atividades, porém, indo além do amparo e da execução de
funções técnicas. Ele também deve compreender esse paciente em toda a sua subjetividade e
39

individualidade, buscando a interação efetiva e acolhendo-o em seus anseios e sofrimentos.


No discurso apresentado na entrevista, pelo sujeito 1, percebe-se que é de grande importância
entender cada paciente diferentemente, ou melhor, compreender a sua individualidade, a sua
subjetividade, o seu contexto familiar, o seu histórico de vida e outros. Sendo assim, tal
atitude do cuidador é fator fundamental para auxiliar o restabelecimento do doente e também
para o alívio da dor e de seu sofrimento físico e emocional.

5.2 Suporte organizacional

Esta segunda temática utilizou como base de análise as perguntas número 07 e 08 do


roteiro de entrevista. As categorias construídas para esta temática foram: suporte da empresa;
apoio da equipe de trabalho.
A partir das categorias apresentadas acima, serão descritas as subcategorias originadas dessa
construção.

Categoria 1: Suporte da empresa

ƒ Não há suporte organizacional.

Categoria 2: Apoio da equipe de trabalho

ƒ Há apoio da equipe de trabalho.


ƒ Não há apoio da equipe de trabalho.

5.2.1 Suporte da empresa

Para essa categoria foi determinada a subcategoria descrita anteriormente. Para a


subcategoria “não há suporte organizacional”, todas as participantes responderam
afirmativamente, como se verificará em algumas falas a seguir:

A fala do sujeito 2: “Não, não temos suporte da instituição. (...) Somente agora
estamos realizando ginástica laboral, nem sempre podemos realizar, pois a
unidade é agitada. Temos muito serviço e uma grande sobrecarga de trabalho e
poucos funcionários para realizar.”(...).
40

A fala do sujeito 3: “Não, não temos nenhum apoio da instituição. Já tivemos


algumas palestras, mas que não tinham nenhum cunho prático e de pouco
relevância para o nosso dia-a-dia, por isso nem considero como algo relevante. E
suporte psicológico também não temos, apesar de necessitarmos.”(...).

Os autores Carvalho e Merighi (2005) explicam que os profissionais de enfermagem


apresentam um grau elevado de envolvimento pessoal e profissional e, por esses motivos,
necessitam de um acompanhamento psicológico. Confirmando as perspectivas dos autores, as
técnicas trouxeram a necessidade de um acompanhamento psicológico como algo realmente
necessário para a manutenção da saúde psíquica e para a boa compreensão das necessidades
dos pacientes oncológicos.
No discurso das entrevistadas fica evidente a necessidade de um auxílio e amparo
psicoterapêutico para os trabalhadores, pois, dentro do hospital o profissional responsável por
essa área está sobrecarregado, atendendo os pacientes, e não tem a possibilidade de amparar
os funcionários.
Os sujeitos percebem algumas ações por parte de colegas, realizadas de forma limitada,
pois estes não se sentem preparados para intervir na esfera emocional do paciente. E apesar de
não saberem como intervir, conseguem perceber o grande sofrimento não só dos pacientes
oncológicos, mas também dos outros companheiros de trabalho. Por isso, as técnicas
solicitam a ajuda de uma equipe multidisciplinar como uma tentativa para amparar os
funcionários e melhorar a saúde dos pacientes oncológicos.
Segundo Silva e Zago (2001), os profissionais da enfermagem valorizam a troca de
conhecimentos com outras áreas de conhecimento, suprindo, assim, os seus déficits.

5.2.2 Apoio da equipe de trabalho

Nesta categoria, foram determinadas duas subcategorias: há apoio da equipe de


trabalho; não há apoio da equipe de trabalho. Apenas o sujeito 1 se sente apoiado pela sua
equipe de trabalho, como se percebe na sua fala a seguir:

(...) “ Me sinto bastante apoiada. Há muito companheirismo e todos são muito


participativos. Nem parecem colegas de trabalho, e sim uma família. (...) O
trabalho aqui é muito tranqüilo, tanto em relação a minha chefe como dos demais
colegas da higienização.”(...). Sujeito 1

Nota-se, pela fala do sujeito 1, que ele se percebe amparado por sua equipe de trabalho,
pois destacou, inclusive, que tem um ótimo relacionamento com os seus superiores, que lhe
41

dão liberdade de ação e propiciam trocas de folgas quando é necessário. Com base no
referencial teórico e nas análises anteriores realizadas durante a pesquisa, percebe-se que essa
possibilidade de compreender e agir, dentro desse contexto laboral, é fator importante para os
bons relacionamentos e para a redução do estresse ocupacional.
Já os outros sujeitos relatam a sua sensação de desamparo e de desmotivação
relacionada com a equipe de trabalho. Cabe ressaltar que os dois sujeitos, 2 e 3, trabalham no
mesmo hospital, e que ambos compartilham de visões semelhantes a respeito dessa categoria:

A fala do sujeito 2 “Não, não me sinto apoiada. Poderíamos ter acompanhamento


psicológico e um treinamento específico. (...).

A fala do sujeito 3: “Não, não tenho apoio dos médicos, chefias ou responsáveis.
“(...).

A falta de amparo e de auxílio multidisciplinar para esses sujeitos produz uma


sensação de desmotivação e de tolhimento das suas necessidades pessoais e profissionais.
Apesar da união do grupo em relação ao corporativismo dos acidentes de trabalho que foi
identificado nessa última organização, os sujeitos não se percebem como uma equipe coesa de
trabalho. Nas suas falas, as técnicas expressam a boa relação com algumas outras técnicas,
mas no que se refere aos médicos e enfermeiras, sentem-se desvalorizadas e ignoradas.
Para autores como Bateman e Strasser (2005), o sofrimento do trabalhador está
intimamente ligado à diversificação e padronização das atividades laborais, à falta de
participação e de reconhecimento profissional, ao individualismo dos colegas de trabalho,
fatores estes que podem promover o estresse ocupacional nesses indivíduos.

5.3 Perfil profissional desejável

Esta terceira temática utilizou como base de análise as perguntas número 03 e 09 do


roteiro de entrevista. E as duas categorias criadas foram: rotina de trabalho; competências
pessoais. Para essas categorias não foram criadas subcategorias.

5.3.1 Rotina de trabalho


42

Para exemplificar essa categoria, foi ressaltada a seguinte fala significativa de um dos
sujeitos entrevistados;

A fala do sujeito 1: (...)“ Medicação, curativos, porque eles sentem muita


dor, né? Banho, alimentação, troca de roupas de cama e dos pacientes,
manter tudo organizadinho para o paciente. Sempre pensando no bem
estar e no conforto do paciente. Porque a maioria esta em fase terminal,
então quanto mais confortável e quanto menos dor eles estiverem sentido é
o ideal, acima de tudo sem dor. “(...) E em alguns casos a família nem vem
visitar e ai temos que trabalhar todo o lado emocional da pessoa. Na
verdade você não pode se envolver com o paciente, mas você é humana,
né? Isso é impossível. (...).

Como se pode notar, as atividades do técnico vão além da simples execução de


procedimentos técnicos. Na verdade, como o autor Silva (apud D´ASSUMPÇÃO, 1984)
afirma, o desempenho das atividades técnicas ultrapassa a esfera da simples execução de
procedimentos técnicos para a manutenção do bem-estar físico do paciente oncológico. É
preciso também compreender e enxergar este paciente em sua individualidade e subjetividade,
estabelecendo uma comunicação eficiente e confortando-o em suas angústias e sofrimentos
durante o enfrentamento da doença.
A fala do sujeito 1 e das outras técnicas entrevistadas traz um conteúdo de
envolvimento emocional bem significativo, demonstrando a necessidade de apoio psicológico
e de melhores investimentos dos hospitais. Pode-se apresentar, neste momento, algumas
sugestões para a melhoria do desempenho da atividade de trabalhado das técnicas de
enfermagem, entre elas: cursos de cunho prático para lidar com esfera emocional do paciente
oncológico, grupos terapêuticos de promoção e prevenção à saúde das trabalhadoras e outras
mais.

5.3.2 Competências pessoais

A partir dessa categoria foram evidenciadas, nos discursos das entrevistadas, as


habilidades e atitudes exigidas como necessárias para o bom desempenho das atividades do
técnico de enfermagem. As falas mais representativas dessa categoria serão apresentadas a
seguir:
43

(...)“ Deve ser forte. Em termos de tudo: emocional, estômago, calma, paciência,
tranqüilidade, ser humana, empática, habilidosa, rapidez , agilidade, bem
motivada e atenção a tudo.”(...) Sujeito 1

: (...) “Ser bem capacitado, ter ética e bom equilíbrio emocional. E acima de tudo
realmente querer trabalhar com oncologia, ser uma escolha do profissional da
enfermagem e não uma imposição da instituição como normalmente acontece.”(...)
Sujeito 3

Para a classificação brasileira de ocupações – CBO (2002), são fatores imprescindíveis


para o desempenho adequado da função de técnico de enfermagem, habilidades e atitudes
como: ética profissional, manutenção do ambiente terapêutico, preservação da integridade
física do paciente e, além destas, o técnico deve respeitar e demonstrar compreensão ao
paciente, saber ouvir atentamente o paciente, levar o paciente à auto-suficiência, incentivar a
continuidade de tratamento e outras.
Percebeu–se que as duas últimas competências, “levar paciente à auto-suficiência e
incentivar continuidade de tratamento” são difíceis de serem articuladas no cotidiano de
trabalho do técnico, pois, às vezes, o paciente não tem muita chance de melhoria e o
profissional tem que lidar com a frustração e sofrimento por não poder realizar os seus
objetivos e obrigações profissionais. Conforme Dejours (2000), essa insatisfação, significativa
na execução das atividades, pode ser um fator chave para gerar, neste trabalhador, o
sofrimento psíquico que, se não for bem reequilíbrado, desencadeará doenças somáticas.
E quando o sujeito não escolhe estar naquela função, como o sujeito 3 descreve em sua
fala, fica perceptível que, ao incluir, nessa atividade, trabalhadores que não se identificam ou
não buscam estar em contato com aquela realidade, deixa-se de realizar suas reais
necessidades individuais e subjetivas. Ainda de acordo com Dejours (1999), esses
trabalhadores não estariam realizando as suas pulsões, conseqüentemente, estariam
estabelecendo contato com essa realidade de uma forma nada sadia para as suas necessidades
psíquicas, podendo levar ao seu adoecimento psíquico.

5.4 O estresse ocupacional

Essa última temática traz os resultados do Inventário de Sintomas de Stress para


Adultos de LIPP (ISSL), o qual foi aplicado nas três técnicas. Para auxiliar na compreensão
da análise, descreve-se brevemente o propósito do inventário e suas fases. O Inventário é
composto de três quadros que se referem às quatro fases de estresse (alerta, resistência, quase
44

–exaustão e exaustão), cada quadro distribuído em uma folha, favorecendo a divisão e


compreensão para a análise posterior dos dados assinalados. O primeiro quadro irá identificar
os sintomas que o sujeito apresentou nas últimas 24 horas e apresenta 12 sintomas físicos e 3
psicológicos. O segundo quadro é referente aos sintomas apresentados na última semana,
sendo 10 sintomas físicos e 5 sintomas psicológicos. Este segundo quadro buscará apontar os
sintomas mais presentes nas fases de resistência e quase exaustão. E o último quadro, o
terceiro, aponta os sintomas referentes à fase de exaustão. Neste, estariam contidos os
sintomas apresentados no último mês, sendo 12 sintomas físicos e 11 psicológicos. Apesar de
alguns sintomas serem muito parecidos entre si, como a própria autora alerta, o que vai variar
é a intensidade da sintomatologia, que determinará a fase em que o técnico se encontra. (LIPP,
2000)
Apesar de apenas um sujeito apresentar estresse alto, quando se compararam os
números de sintomas físicos e psicológicos, todos apresentaram uma predominância
expressiva de sintomas psicológicos.
A seguir, descreve-se, em dois quadros, a apresentação da maior incidência de
sintomas assinalados pelas técnicas no inventário. Para identificar a freqüência do surgimento
dos sintomas e o tempo que ele estão presentes na vida dessas técnicas, foi determinada uma
legenda explicativa que utilizou três letras: V, S e M. Para determinar os sintomas
apresentados nas últimas 24 horas utilizou-se a letra V; na última semana, a letra S; e no
último mês, a letra M.

Quadro 4- Sintomas psicológicos

SINTOMAS SUJEITO SUJEITO SUJEITO


PSICOLÓGICOS 1 2 3
Pensar e falar constantemente no mesmo assunto S/M S/M S/M

Diminuição da libido S - S
Sensação de incompetência em todas as áreas M - -
Vontade de fugir de tudo M M M
Sensibilidade emotiva excessiva - S -
Dúvida quanto a si própria - S -
Irritabilidade excessiva - S -
45

Pesadelos - M -
Apatia - M -
Depressão ou raiva prolongada - M -
Cansaço excessivo - M M
Irritabilidade sem causa aparente - M -
Angústia ou ansiedade diária - M M
Hipersensibilidade emotiva - M -
Perda do senso de humor - M -

LEGENDA
V: para sintomas psicológicos apresentados nas últimas 24 horas; S: para sintomas
psicológicos apresentados na última semana; M: para sintomas psicológicos apresentados
no último mês.

Quadro 5 - Sintomas físicos

SINTOMAS SUJEITO SUJEITO SUJEITO


FÍSICOS 1 2 3
Boca seca - V -

Tensão muscular - V V
Hipertensão arterial - V/S/M -
Mudanças de apetite - V -
Problemas com memória - S -
Mal-estar generalizado sem causa específica - S -
Sensação de desgaste físico constante - S S
Cansaço constante - S S
Aparecimento de úlcera - S -
Tontura e sensação de estar flutuando freqüente - S/M -
Dificuldades sexuais - M S
Insônia - M -
46

Tiques - -
Mudança extrema de apetite - M -

LEGENDA
V: para sintomas físicos apresentados nas últimas 24 horas; S: para sintomas físicos
apresentados na última semana; M: para sintomas físicos apresentados no último mês.

O sujeito 1 apresentou o resultado “não tem estresse”. Entretanto, quando avaliados


os sintomas apresentados, esse sujeito apresentou um número de sintomas psicológicos maior
do que os físicos.
Segundo o sujeito 1, na última semana, ele apresentou sintomas psicológicos como
diminuição da libido e pensamento constante sobre o mesmo assunto. E no último mês, teve
sensação de incompetência em todas as áreas, vontade de fugir de tudo, pensar e falar
constantemente em um só assunto.
Esse sujeito está em tratamento psicoterapêutico fora da instituição de trabalho, e
durante a entrevista afirmou que, se não estivesse passando por este tratamento
psicoterapêutico há meses, com certeza, apresentaria vários sintomas do inventário. Durante o
preenchimento do inventário, a técnica assinalou os sintomas atuais e também achou
importante assinalar de outra maneira os antigos sintomas, assim, a pesquisadora poderia
mapear qual a fase em que ela se encontra agora e qual a fase em que se encontrava antes do
trabalho psicoterápico. Pelos sintomas assinalados anteriormente ao tratamento, a técnica de
enfermagem estaria na fase de “quase-exaustão”. Esse dado foi muito relevante para a
comprovação da importância do trabalho do psicólogo na manutenção da promoção e
prevenção da saúde do individuo.
O sujeito 2 apresentou estresse ocupacional e se encontra na fase de “quase exaustão”.
Os sintomas físicos apresentados nas últimas 24 horas são boca seca, tensão muscular,
hipertensão arterial súbita e passageira e mudança de apetite.
Na última semana, este sujeito apresentou os seguintes sintomas físicos: problemas com a
memória, mal-estar generalizado e sem causa específica, sensação de desgaste físico constante,
mudança de apetite, hipertensão arterial, cansaço constante, aparecimento de úlcera, tontura/
sensação de estar flutuando. E os sintomas psicológicos foram: sensibilidade emotiva,
47

excessiva dúvida quanto a si próprio, pensamento constante sobre um só assunto,


irritabilidade excessiva.
Os sintomas físicos experimentados no último mês foram: dificuldades sexuais, insônia,
tiques, hipertensão arterial, mudança extrema de apetite, tontura freqüente.
Quanto aos sintomas psicológicos, foram citados: pesadelos, vontade de fugir de tudo, apatia,
depressão ou raiva prolongada, cansaço excessivo, pensar/falar constantemente em um só
assunto, irritabilidade sem causa aparente, angústia ou ansiedade diária, hipersensibilidade
emotiva, perda do senso de humor.
Segundo a autora Lipp, esse sujeito está apresentando a fase de quase-exautão, que se
caracteriza pela baixa das defesas de organismo. Percebe-se que o sujeito já está cedendo às
tensões e que o seu organismo já não consegue se restabelecer com tanta facilidade. Vale
ressaltar que é muito comum se ter oscilação de humor nessa fase. Observa-se ainda o
aparecimento de sintomas e doenças como: úlcera, depressão e problemas ligados à vida
sexual do individuo entre outros.
O sujeito 2 necessita buscar tratamento especializado urgente, objetivando restabelecer
o equilíbrio da sua saúde integral. Caso não tome as devidas precauções e continue levando o
mesmo ritmo de vida, poderá atingir a última fase de estresse, a de exaustão. Essa última fase
seria considerada a mais perigosa, pois nela estão implícitas algumas doenças graves que
podem não somente reduzir significativamente a qualidade de vida do sujeito mas também
levá-lo à morte.

O sujeito 3 não apresentou estresse ocupacional, mas os sintomas que foram


apresentados tiveram, em sua grande maioria, a predominância de aspectos psicológicos.
O sintoma físico apresentado nas últimas 24 horas foi tensão muscular; na última semana,
foram sensação de desgaste físico e cansaço constante e no último mês, o sintoma físico foi
dificuldade sexual.
Pode-se constatar que, apesar de não estar com estresse ocupacional, o sujeito 3 está
desenvolvendo um desgaste físico significativo, que aparece não somente no inventário mas
também no relato das entrevistas.
Os sintomas psicológicos experimentados na última semana foram: pensar constantemente em
um só assunto e diminuição da libido. No último mês, os sintomas foram: vontade de fugir de
tudo, cansaço excessivo, pensar/falar constantemente em um só assunto, angústia e ansiedade
diária.
48

Apesar de não apresentar o nível de estresse avançado, o sujeito 3 tem evidenciado um


sofrimento psíquico significativo. Segundo a autora Gonçalves (2002), em todas as
atividades diárias, principalmente o trabalho, o sujeito utiliza-se de aspectos de ordem física,
mental e psíquica para realizar uma atividade ou rotina de trabalho específica. Quando essa
rotina excede a sua capacidade física, mental ou psíquica, a autora entende que há uma
sobrecarga de trabalho. Essa sobrecarga de trabalho, se não for bem assistida e trabalhada
com auxílio de psicoterapias ou grupos terapêuticos, poderá chegar ao adoecimento.
49

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa objetivou ressaltar a problemática “estresse ocupacional e


sofrimento psíquico” nos trabalhadores da área da saúde, especificamente, em técnicas de
enfermagem da área de oncologia hospitalar. O problema de pesquisa foi identificar em quais
fatores e fases de estresse os profissionais técnicos de enfermagem se encontravam e se a
rotina laboral influenciava, ou não o desenvolvimento da síndrome de estresse. Apesar de
apenas uma das técnicas de enfermagem ter apresentado um alto grau de estresse (quase-
exaustão), as demais também apresentaram, no transcorrer da entrevista, um significativo
indicador de sofrimento psíquico nas relações e atividades contidas na rotina de trabalho.
Com esses resultados se percebeu a obtenção dos objetivos propostos inicialmente para a
construção dessa pesquisa.
Os fatores possíveis de promoção de estresse ocupacional e sofrimento psíquico foram:
a percepção do trabalhador sobre a doença câncer, que traz em si um estigma social de dor,
sofrimento, degenerações físicas e morte. As profissionais técnicas de enfermagem embora
possuam formação técnica, somente compreenderam de fato a lidar com essa realidade depois
da sua inserção nos hospitais oncológicos. Essa inserção não é rápida e nem fácil, pelo
contrário, ela vem agregada à significativa dose de estresse ocupacional e de sofrimento
psíquico, que em nenhum momento é monitorado ou amparado por uma equipe
multidisciplinar.
Apesar da realidade cotidiana desse profissional, que consiste em lidar com o
sofrimento e a dor dos pacientes oncológicos, nota-se um despreparo para interagir com a
esfera emocional do paciente oncológico e seus familiares. Como consideram que não existe
um apoio da equipe de trabalho, em primeiro lugar, esses técnicos da saúde desconfiam da
eficácia do tratamento efetuado pelos demais profissionais da equipe multidisciplinar. Em
segundo plano, sentem-se despreparados tecnicamente, por considerarem sua formação nos
50

cursos profissionalizantes de enfermagem deficiente, principalmente no que tange às relações


interpessoais junto aos pacientes.
Diante disto, observa-se a necessidade da criação de grupos terapêuticos e de
promoção, prevenção e conscientização da saúde desses trabalhadores, os quais vivenciam e
são expostos diariamente a uma gama de potencialidades de contaminação física, acidentes de
trabalho, somados aos desgastes emocionais, provocados pela falta de reflexões e
compartilhamento de técnicas para lidar com o sofrimento e a dor do paciente.
Conscientizar esses profissionais de que, apesar de objetivarem aliviar as dores e o
sofrimento do paciente, eles não devem ignorar as normas de prevenção e preservação de sua
própria saúde, uma vez que todos devem primar não somente pela sua integridade física, mas
também pela de seus colegas de trabalho e de seus pacientes, é um dos pontos relevantes
dessa pesquisa. Essa recomendação é de suma importância, justamente porque, ao longo prazo,
esses profissionais não terão mais saúde e equilíbrio físico e psíquico para efetuar a rotina
laboral com eficiência e qualidade nos serviços ou em atividades de qualquer natureza, não
somente a de enfermagem.
Frisa-se, portanto, a importância de recomendar aos hospitais e aos próprios técnicos
de enfermagem que percebam e compreendam os riscos a que estão sujeitos diariamente, para
que assim, com a conscientização e prevenção, evitem o seu próprio adoecimento.
As instituições hospitalares são empresas prestadoras de serviços, dessa forma,
partilham de uma visão capitalista de funcionamento e estruturação. Isso quer dizer que, como
uma empresa capitalista, todo investimento feito pela organização sempre estará visando
lucratividade e crescimento organizacional e, seguindo essa ótica, não há lucro expressivo
sem a prestação de serviços com qualidade e eficiência, embora muitas empresas desvirtuem
esse princípio para explorarem ao máximo os recursos humanos.
Como se constata durante toda a pesquisa, vários autores e os próprios entrevistados
trouxeram dados significativos para contribuir com a visão de que não há qualidade de
serviços se o indivíduo responsável em realizá-lo, nesse caso, o técnico de enfermagem, não
estiver com a sua saúde física e mental protegidas. Há uma nítida contradição quando se
percebe que os hospitais exigem de seus trabalhadores, qualidade e eficiência nos seus
serviços, mas em contraposição, deixam de levar em consideração a necessidade de prevenir e
promover a saúde de sua equipe. Entender que prevenir e promover a saúde dos seus
trabalhadores não é um ganho unilateral, porque ambos, organização e trabalhador, estarão
atingindo seus objetivos, cada um em sua esfera, sem que, com isso, uma das partes saia
lesada, é o ponto de equilíbrio que deve ser promovido pelas instituições e seus colaboradores.
51

Logo, aconselha-se um trabalho multidisciplinar com profissionais que atuem na área


de saúde do trabalhador, como psicólogos, fisioterapeutas, médicos do trabalho, e outros, para
dar amparo aos técnicos de enfermagem, uma vez que compreendem o sofrimento causado
pelos riscos ocultos, latentes e reais que os trabalhadores estão sujeitos.
É importante que haja uma conscientização das instituições hospitalares a respeito da
responsabilidade de promover a prevenção da saúde de seus colaboradores. Essa
conscientização não deve ser apenas por parte das organizações, mas também por parte dos
trabalhadores, pois não é negando essa realidade que estarão se isentando desses problemas,
pelo contrário, cada dia mais, haverá o adoecimento em massa desses trabalhadores. Nesse
contexto, conseqüentemente, encontrar-se-ão nos hospitais, não somente os pacientes
oncológicos, mas também os próprios colaboradores, transformados em potenciais enfermos.
Entende-se, portanto, que é fundamental que os cuidadores da saúde estejam bem
física e mentalmente, para poderem realizar as suas rotinas de trabalho com qualidade e
realmente fornecer o amparo necessário ao restabelecimento da saúde do paciente oncológico,
sem colocar a sua própria saúde em risco.
52

REFERÊNCIAS

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Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
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STEFANELLI, M. C. Comunicação com o paciente: teoria e ensino. 2. ed. São Paulo: Robe,
1993.
54

APÊNDICE
55

Apêndice A
Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada

Dados de Identificação

Idade:_____________ Sexo: M ( ) F( )
Estado Civil: Casado ( ) Solteiro ( ) Divorciado ( ) Viúvo ( )
Tem filhos: Não ( ) Sim ( ) Quantos?______________________________________
Escolaridade: 1º grau ( ) 2º grau ( ) 3º grau ( ) Pós Graduação ( )
Função:_____________________________________________________________
Tempo de exercício da função:____________Data de admissão:________________
Vínculo com a empresa:________________________________________________
Outros vínculos empregatícios, turnos de trabalho e a área de
atuação:_____________________________________________________________
Curso de qualificação: _________________________________________________
Qual o turno de trabalho? Manhã ( ) Vespertino ( ) Noturno ( ) Alternado ( )
Carga horária semanal:_________________________________________________

Roteiro de entrevista
1. Há quanto tempo trabalha neste setor ou área?
2. Foi uma escolha sua?
3. Como é a sua rotina de trabalho?
4. O que é a doença câncer para você?
5. Como você se sente trabalhando com este tipo de paciente?
6. Você se acha preparada para lidar com situações de dor e morte?
7. Você se sente apoiada pela sua equipe de trabalho?
8. De que forma a instituição lhe dá suporte técnico e psicológico para enfrentar a sua rotina
de trabalho?
9. Quais são as características que um profissional de enfermagem deve ter para trabalhar no
cuidado do paciente oncológico?
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