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LUCAS PITA
Antes de apresentar meu parecer sobre o tema, cabe um breve resumo sobre os fatos que
serão aqui discutidos.
No dia 21/01/2019 José Roberto foi preso em flagrante dentro de uma boate, pesou sobre
ele acusações de estar vendendo 12 comprimidos de LSD, o flagrante foi feito através de
um policial civil disfarçado que ao desconfiar de José, abordou José passando-se por um
comprador, inquiriu por determinada quantidade de droga e em seguida efetuou o flagrante.
Posteriormente José teve sua prisão convertida em preventiva sob fundamento de que sua
liberdade (ainda que seja réu primário) acarretaria em risco social. Estes são os fatos.
Ora, como advogado da parte aqui previamente qualificada só nos resta apontar os crassos
erros que acompanham este processo. Trata-se de prisão ilegal, e a falta de relaxamento ou
até mesmo da concessão de liberdade provisória comprova que meu cliente vem sendo
tratado de maneira totalmente injusta e parcial por parte do Estado.
Neste entendimento já tivemos a SÚMULA 145 DO STF que prevê esta hipótese de
flagrante preparado por meio de autoridade policial, classificando como crime impossível e
portanto extinguindo a punibilidade.
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e
quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a
presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do
Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
4 § 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para
juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm
Posto que caso ainda restem dúvidas quanto a ilegalidade da prisão, não restam
dúvidas de que JOSÉ não é um traficante por ofício. Ainda que o flagrante esteja carregado
de ilegalidades o'que resulta na ilegalidade do próprio material apreendido e por
consequência na própria impossibilidade de prisão, pela descrição fática podemos
enquadrar José como um usuário ou que ainda decidiu compartilhar seus entorpecentes
naquela ocasião.
O mero pagamento de um valor irrisório por parte dos policiais ( o'que não se
concretizou pois foi um delito de ensaio) não caracteriza lucro ou benefício por parte de
José, sendo portanto incabível o argumento de que ele esteja na traficância.
Todavia, mesmo que seu flagrante fosse legal, não é cabível prisão preventiva. Se o
próprio Direito Penal atua como “ultima ratio” ou última hipótese desejada em meio a um
convívio social6 , este mesmo princípio impera na prisão preventiva. Vejamos,
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo
estado de liberdade do imputado.
Ressaltamos que a mera alegação de preservação por ordem pública, que não seja
devidamente comprovada não é capaz de manter a prisão. Nas palavras do juízo, “ não é
possível manter a prisão cautelar do paciente com fundamento na garantia da ordem
pública, pela simples natureza e gravidade abstrata do delito”7
Ademais, a prisão cautelar deve ser utilizada como exceção e não como regra do
ordenamento jurídico. De forma que nosso código dispõe de diversas medidas cautelares
previstas no art.319 CPP que devem ser preferencialmente utilizadas, e que são totalmente
cabíveis na situação fática como por exemplo
6 https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/990749/direito-penal-como-ultima-ratio
7 https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/117661139/habeas-corpus-hc-10000130470297000-
mg/inteiro-teor-117661185?ref=juris-tabs
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante
desses locais para evitar o risco de novas infrações;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à
ordem judicial
Todas as medidas acima, dentre outras são hipóteses previstas em lei que devem ser
preferencialmente utilizadas e que são de fácil aplicação no caso concreto. Segue a
jurisprudência
Encerramos nosso parecer com pensamento que pedimos aos julgadores para
refletirem nele, e analisar se ele tem algum nexo com o os arbítrios no caso aqui discutido.
8 (TJ-RS - HC: 70054225750 RS, Relator: João Batista Marques Tovo, Data de Julgamento:
09/05/2013, Terceira Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
21/06/2013)
9 BRITO, Alexis Couto de; FABRETTI, Humberto Barrionuevo; LIMA, Marco Antônio Ferreira. Processo penal
brasileiro. São Paulo: Atlas, 2012. p. 176.