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16 / 2010

Dia 1 é dia de Ilustrar...


• E D I T O R I A L : ................................................................ 2
• P O R T F O L I O : Flavio Fargas ............................................ 4
• C O L U N A I N T E R N A C I O N A L : Brad Holland ............... 12

E
• I N T E R N A C I O N A L : Jason Seiler ................................. 15
• S K E T C H B O O K : Eduardo Bajzek ................................... 24
stamos de volta com mais uma edição da Ilustrar, e como • S T E P B Y S T E P : Paulo Brabo.......................................... 32
sempre abordando vários pontos de vista da ilustração, do desenho e do
design, e mais uma vez de diversas cidades também. • C O L U N A N A C I O N A L : Renato Alarcão ........................ 40
• 1 5 P E R G U N T A S P A R A : Luis Trimano ......................... 42
Dessa vez entramos em uma área que ainda não tínhamos falado desde a • C U R T A S ....................................................................... 54
primeira edição: a arquitetura, através do arquiteto de São Paulo Eduardo
Bajzek, com trabalhos incríveis na seção Sketchbook. • L I N K S D E I M P O R T Â N C I A ....................................... 55

Trazemos também o mineiro Flavio Fargas e seus trabalhos cheios de


influência infantil, no Portfolio; Paulo Brabo, de Curitiba, faz um longo
passo a passo que é uma aula completa, utilizando 3 programas ao
mesmo tempo.

A seção 15 perguntas tem o argentino radicado no Rio de Janeiro, e


um dos mais importantes artistas em atividade, Luis Trimano, com
seus retratos incríveis, e na seção Internacional o jovem americano
Jason Seiler, famoso pelas suas caricaturas com grande humor e técnica
elaborada.
DIREÇÃO, COORDENAÇÃO E ARTE-FINAL: Ricardo Antunes
Além das tradicionais colunas de Brad Holland, contando sobre as ricardoantunesdesign@gmail.com
Foto: arquivo Ricardo Antunes

confusões de uma ida à mansão da Playboy, e de Renato Alarcão, sobre DIREÇÃO DE ARTE: Neno Dutra - nenodutra@netcabo.pt
os rumos atuais das artes plásticas e da ilustração, artigo ilustrado por Ricardo Antunes - ricardoantunesdesign@gmail.com
Tiago Lacerda / ElCerdo.
REDAÇÃO: Ricardo Antunes - ricardoantunesdesign@gmail.com

Espero que gostem... e dia 1 de julho tem mais. REVISÃO: Helena Jansen - donaminucia1@gmail.com

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:


Um abraço,
Angelo Shuman (Divulgação) - shuman@uol.com.br
Montalvo Machado (Brad Holland) - montalvo@terra.com.br
© Revista Ilustrar

ILUSTRAÇÃO DE CAPA: Luis Trimano - http://luis-trimano.blogspot.com

PUBLICIDADE: revista@revistailustrar.com

DIREITOS DE REPRODUÇÃO: Esta revista pode ser copiada, impressa, publicada,


ricardo antunes postada, distribuída e divulgada livremente, desde que seja na íntegra, gratuitamente,
sem qualquer alteração, edição, revisão ou cortes, juntamente com os créditos aos
autores e co-autores.
são paulo / Lisboa

ricardoantunesdesign@gmail.com Os direitos de todas as imagens pertencem aos respectivos ilustradores de cada seção.

www.ricardoantunes.com

2a 2b
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FLAVIO

F A R G A S
FARGAS

F L A V I O
D
Foto: arquivo Flavio Fargas

epois de mais de 20 anos trabalhando


como designer gráfico, Flavio Fargas tomou uma
decisão que adiou por todos esses anos:

P O R T F O L I O :
se dedicar à ilustração.

Uma vez tomada a decisão, o resultado


é claro: em 4 anos já ilustrou 23 livros,
e mais alguns estão a caminho.

Dono de uma técnica graciosa, leve


mas bastante elaborada, Fargas teve
uma influência decisiva em seu estilo:
o nascimento de sua filha.

Através dela Fargas pôde recuperar


o traço e a experimentação
despreocupada da infância, produzindo
um material repleto de misturas,
colagens e sobreposições.

E sobretudo de prazer no trabalho, que


é perceptível nos resultados.
© Flavio Fargas

O COMEÇO
Quando garoto, adorava desenhar, mas E entrei para o mundo do design gráfico.
sempre escutava minha mãe dizer: “meu
filho, arruma uma profissão séria... depois, Foi o mais próximo que consegui ficar
nas horas de folga, você brinca de desenhar”. do desenho e ter uma profissão “séria”
ao mesmo tempo.
flavio fargas Pois é... levei muito a sério estas palavras
de minha mãe e acabei largando o desenho Este desvio na rota durou muito mais
BELO HORIZONTE e a ilustração de lado por muuuuito tempo. do que eu gostaria, quase 20 anos...
fargas@viralata.com.br

www.fauhaus.com.br

4a 4b
O COMEÇO
DE VERDADE

De vez em quando, muito


aleatoriamente, me arriscava fazendo
F A R G A S

F A R G A S
ilustração e charge, quase sempre para
o movimento popular, mas sem muita
regularidade.

Bem depois, no ano 2000, finalmente


comecei minha reentrada no mundo
da arte e da ilustração: entrei para a
Escola de Belas Artes da UFMG, onde
F L A V I O

F L A V I O
me graduei em Pintura e depois em
Desenho.

Mas profissionalmente continuava a


trabalhar com design gráfico. E foi
o que fiz até 4 anos atrás (2006),
quando nasceu minha filha.
P O R T F O L I O :

P O R T F O L I O :
Nesta época, por influência da
paternidade e inspirado por Sofia,
decidi voltar às minhas origens e tentar INFLUÊNCIA DO
ingressar no mundo da ilustração. DESENHO INFANTIL

Assim, ilustrei meu primeiro livro em Sofia, como de resto, boa parte das
2007 (Poemares, Ed. Dimensão) quando crianças, consegue uma síntese e uma
Sofia fez 1 ano. Depois vieram outros espontaneidade nos seus desenhos que
e, até hoje, foram cerca de 20 livros. me fascina.

Sei que estou apenas no começo da Houve um tempo em que me


minha jornada de ilustrador, que tenho agradava mais uma ilustração, aquela
muita coisa para aprender e um longo mais carregada de detalhes, de
caminho pela frente. representações, de elementos.

Hoje me encanta muito mais um trabalho


mais sintético como, por exemplo, o da
Sara Fanelli. Mas eu, particularmente,
acho que chegar a esta síntese é muito
difícil, exige muita dedicação. É muito
difícil ser simples.

Principalmente porque a fronteira entre


o trabalho sintético - mas expressivo - e
o trabalho simplesmente pobre e vazio
(desculpem o chavão) é uma linha muito
tênue.

Toda vez que Sofia vai para o meu atelier


eu fico só observando o seu jeito de
brincar com os materiais e me lembro da
frase do Picasso: “gastei uma vida inteira
para aprender a desenhar como uma
criança”.

5a 5b
MATERIAIS
VA R I A D O S
Foi durante minha segunda graduação foi um exercício muito interessante e
na EBA, quando escolhi fazer meu depois acabei levando isso - pelo menos
F A R G A S

F A R G A S
trabalho de conclusão de curso usando em parte - para o meu trabalho
lixo e rejeitos diversos. de ilustração.

Nesta época fiz uma série de esculturas Na verdade não tive ainda oportunidade
usando todo um arsenal de coisas que de fazer um trabalho de ilustração usando
ia catando na rua, em viagens, em casa, os materiais com a mesma liberdade que
qualquer lugar que fosse, enfim. Descobrir tinha na escola, mas ainda espero ter
a expressividade em coisas tão diversas essa chance.
F L A V I O

F L A V I O
P O R T F O L I O :

P O R T F O L I O :
6a 6b
OS OBJETOS

Meus primeiros objetos surgiram também acontece, por exemplo, de você espetar
na época da Escola de Belas Artes. o dedo numa ponta de arame sobrando
F A R G A S

F A R G A S
ou se cortar numa farpa de madeira.
De tudo que faço, talvez o que me dê
mais prazer de criar são meus objetos Hoje nem xingo mais, pois percebi que
- principalmente os livros-objeto. isso cria uma cumplicidade maior com
Trabalhar a tridimensionalidade é os materiais, uma atenção maior da
um outro prazer. minha parte com o que estou fazendo.

Nem melhor nem pior que o Acho que a palavra certa é


F L A V I O

F L A V I O
bidimensional, apenas diferente. Às “envolvimento”. No final, o resultado
vezes, fazendo um trabalho desses é um trabalho mais forte.
P O R T F O L I O :

P O R T F O L I O :
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F A R G A S

F A R G A S
F L A V I O

F L A V I O
P O R T F O L I O :

P O R T F O L I O :
TRABALHANDO
EM PÉ

Foi um hábito que surgiu da necessidade Então se eu fosse trabalhar sentado,


de manusear várias coisas ao mesmo ia ser muito difícil ficar levantando o
tempo enquanto trabalho. tempo todo para pegar as coisas. Daí
pra começar a desenhar em pé também,
Tenho na minha bancada e na parede foi um pulo.
ao lado, uma série de caixas com um
sem número de quinquilharias que Normalmente faço os primeiros rafes
uso para trabalhar (desde palitos de sentado, mas depois, quando vou refinar
fósforo usados até cabo de guarda- o desenho na mesa de luz, e a parte de
chuva quebrado). tinta, faço tudo em pé mesmo. 

8a 8b
O MERCADO
EDITORIAL

Apesar de ter ilustrado 23 livros, eu me tenho visto (infelizmente cada vez com
F A R G A S

F A R G A S
acho muito novo neste mercado para mais frequência) e os prazos cada vez
falar com profundidade sobre o assunto. menores.

Tenho aprendido com outros ilustradores Para mim, não resta dúvida que a
sobre os meandros e armadilhas deste organização dos ilustradores (em
mercado. entidades como a SIB, por exemplo) e a
troca de informações (como nas listas do
O que mais me espanta, sem dúvida, Ilustragrupo e da SIB) é fundamental
F L A V I O

F L A V I O
é a voracidade de alguns contratos que para aprendermos a nos resguardar.
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P O R T F O L I O :
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P O R T F O L I O : F L A V I O F A R G A S
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11b

P O R T F O L I O : F L A V I O F A R G A S
H O L L A N D
editores e diretores de arte reais, e Shel
admitiu que seria delicado. Mas ele disse
que tinha certeza que se eu segurasse isso

O Jogo de Shel
diretamente para mim? Nós poderíamos
colaborar “como Rodgers & Hammerstein” sem problemas, os engravatados não iriam
(dupla de compositores, entre outras de se descontrolar muito. Eles sabiam que
“A Noviça Rebelde”) disse ele, cortar os podiam confiar em nós. E melhor ainda,
a ansiedade iria torná-los gratos por tudo
por Brad Holland editores e diretores de arte, e eu poderia

B R A D
enviar as guloseimas finalisadas para a o que nós finalmente enviaríamos. 
Playboy depois que estivéssemos satisfeitos. 
“O que estou fazendo?” eu pensei, no dia
A ideia agradou-me. Nenhum chefe, só seguinte, quando telefonei a Kerig Pope em
Shel Silverstein (escritor, poeta, compositor Chicago. Foi Shel Silverstein que festejou
índios - sempre agrada quando você é um
e cartunista americano) e eu nunca com Hefner, Shel que era uma lenda viva
dos índios. Além disso, eu estava convencido
tinhamos nos encontrado. Ele tinha casas

I N T E R N A C I O N A L :
de que a amizade próxima de Shel com da Playboy, Shel que eu tinha visto se
Foto: arquivo Brad Holland

em todo lado e vivia onde os agitos eram divertindo com as coelhinhas da revista
Hefner, sua longa associação com a revista
os melhores. Mas ele estava em Chicago quando eu ainda estava na escola em Ohio e
e sua genialidade beatnik iria deixá-lo fugir
por um tempo, fazendo alguns negócios surrupiando as Playboys do meu pai para o
com o que quisesse. “OK, Hammerstein”,
com a Playboy. Kerig Pope, o assistente celeiro. Por que eu estava de repente sendo
eu disse a ele, “encontremos o Sr. Rodgers”.
de diretor de arte da revista, me chamou supostamente seu porta-voz? 
e apresentou-nos pelo telefone. 
Shel teve um palpite que iríamos trabalhar
bem juntos, mas havia um problema: ele Ninguém na Playboy nunca me contou o
Naquele verão de 1978, Kerig me incumbiu Sketch para a pintura: “The Devil and Billy Markham” -
teve um período difícil na comunicação com que eles pensavam dessa cena boba, que
© Brad Holland
de ilustrar “The Devil & Billy Markham”, a estava mais para Gilbert & Sullivan (dupla
os engravatados da revista. Ele pensou
primeira de várias histórias infantis para de compositores de ópera cômica) do que
que tinha deixado todos nervosos. Então
adultos que Shel estava escrevendo em Rodgers & Hammerstein. Mas não demorou “Onde está você?” Eu perguntei. 
pediu-me para telefonar aos diretores de
versos cômicos e que a Playboy publicou muito para Kerig me dar uma sacudida, me
arte para retransmitir aos editores a notícia
ao longo de uns anos.  delegar tarefas, e me dar as contra-ordens. “Eu vou ficar no Hef”, disse ele, referindo-se
de que ele e eu éramos agora um time.
Eu fui dizer que eu não sabia de onde Shel à Mansão Playboy na Califórnia. 
Começamos a trabalhar como se costuma Eu estava para entrar em contato com Shel
estava telefonando (isso era verdade) e fui
fazer com uma revista. Shel enviava suas (se eu pudesse encontrá-lo) e conhecê-lo “O pessoal da Playboy está procurando
dizer que não sabia como encontrá-lo (que
rimas para a Playboy, Playboy enviava as (se possível), e então entretê-lo para pegar por você em toda parte”, eu disse.
também era verdade). Então fui explicar

C O L U N A
rimas para mim, e eu enviava as imagens os manuscritos dele. Kerig garantiu-me que
o acordo. Shel mandaria seus versos para
para a Playboy. Era bastante simples. Mas Shel seria um gatinho manso. Então eu “Eles nunca vão me encontrar aqui.” 
mim. Eu escolheria o que eu gostava.
como as séries cresceram e Shel evocou estaria enviando os versos para a sede em
Então, quando estivesse pronto, eu enviaria
aventuras de ficção similares a “The Devil & Chicago, e todos nós poderíamos dispensar Shel estava escrevendo versos, ele tinha
as palavras e as imagens para a Playboy.
Billy Markham” e “Gimmesome Roy,” então a travessura.  um monte de coisas. Era importante que
ele conseguiu simplificar a máquina criativa nos encontrássemos em breve. Eu deveria
Na verdade, era suposto deixar os editores
do nosso relacionamento.  Eu achei Shel um homem verdadeiramente ir para Los Angeles. Ele precisaria que
saberem que agora eu era o editor de Shel
e ele era o meu diretor de arte (!). Eu sabia doce. Mas me enviar para subtraí-lo de seus eu ficasse por uma semana. Poderíamos
Um dia, Shel telefonou de algum lugar manuscritos era como o envio de um policial trabalhar na mansão. Haveria muitas festas.
que isso não seria uma boa notícia para os
dentro dos EUA. “Estava pensando”, novato para entregar um prisioneiro astuto Então ele iria deixar os manuscritos comigo.
© Brad Holland

disse ele. A revista tinha muitos chefes a uma penitenciária. Quão rápido eu poderia ir para o litoral? 
naqueles dias. Não era como nos velhos
tempos com Hefner (Hugh Hefner, criador Tentei telefonar a Shel para os números “Quando você pode me enviar os bilhetes?”
da Playboy) na Ohio Street. Ele sugeriu que ele tinha me dado. Ele tinha um eu perguntei.
que simplificássemos as coisas. E se ele apartamento na Hudson Street, em
começasse a enviar seus manuscritos Manhattan, um covil em Chicago, uma Eu não podia acreditar no que estava
casa em Key West, e uma casa-barco em acontecendo. O que começou como um dia
Sausalito. Ele não estava em nenhum desses normal para mim de repente foi a promessa
lugares e não havia secretária eletrônica. Aí de fantasia de um jovem se tornar realidade.
Brad holland eu esperei e fui tratar dos meus negócios. Eu me vi voando a caminho para o Xanadu-no-
Então um dia eu atendi o telefone e ouvi o Pacifico. Beber margaritas na jacuzzi com as
coaxar familiar, bem-humorado.  Playmates. Jogando Donkey Kong com Hefner.
estados unidos

brad-holland@rcn.com

www.bradholland.net

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H O L L A N D

H O L L A N D
Pintura para “The Perfect High:or the Ballad of Gimmesome Roy”,
Mas depois me lembrei que eu tinha acabado dos meus avós costumava ser quando
de conhecer a garota dos meus sonhos. meu avô trabalhava à noite na Fábrica
da Whirlpool e dormia pela manhã. 
E disse a Shel que eu queria trazê-la. 
Nós bebericamos suco de laranja na sala
Ele fez uma pausa. “Deixe-me ver se de estar de Hefner enquanto empregados
entendi”, disse ele. “Você quer levar a aspiravam o chão e esvaziavam os cinzeiros
sua própria garota na Playboy Mansion? da noite anterior. Shel tinha uma pilha de
B R A D

B R A D
Você já ouviu falar em ‘Vender gelo para manuscritos ordenadamente datilografados
esquimó’?” Shel levou alguns minutos com entrelinhas: “The Perfect High”,
para me certificar de que eu entendia “California C’s”, “Rosalie’s Good Eats Cafe”.
a diferença entre sexo e amor. Mas eu Nós passamos por eles. Pareciam letras

Playboy, 1979 - ©Brad Holland


estava irredutível e Shel, sem dúvida de baladas country à procura de uma linha
coçando a cabeça reluzente, fez os musical.
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
arranjos de viagem. 
Enquanto a minha namorada desenhava
Em uma semana, minha namorada e eu garças com cristas em seu sketchbook e
estávamos instalados no Beverly Hilton se bronzeava no gramado da mansão, Shel
Hotel e dirigindo em direção à Mansão e eu líamos os seus versos, linha por linha.
Playboy de forma tão natural como se
estivéssemos indo para a casa da vovó Surpreendeu-me descobrir que o
no Natal.  desprezo por seu budismo mascarou
uma preocupação para que as pessoas
Era final da manhã quando chegamos “alcançassem” o conteúdo de suas histórias.
a Hefnerlândia, mas a mansão estava Durante os dois anos seguintes eu iria ver
tão quieta como um velório. Shel nos essa preocupação para a acessibilidade
encontrou à porta vestido com um robe dos seus versos humorísticos repetidos tal
listrado até o chão e sandálias. A casa como encontramos para os editoriais nas
estava cheia de atividade, como a casa lavanderias em Greenwich Village, na Dante
Caffe em Macdougal Street, em Washington Shel não precisava ter se preocupado. comprado a minha lealdade. Não seria mais
Square Park ao meio-dia ou em vários “The Light in the Attic” veio a se tornar um artista contratado da revista, eu era
cantos de rua à meia-noite, na companhia um dos best-sellers surpresa de todos agora seu companheiro, seu amigo. E ele
C O L U N A

C O L U N A
de mulheres que eu não conhecia e que os tempos.  sabia que isso significava que, em algum
sem dúvida Shel conhecia muito melhor.  nível, eu não estaria trabalhando para a
Nossa semana de reuniões e festas em Playboy, para os editores, para a diretores
Logo de cara me agradou muito essa Los Angeles foi rápida. Quando Judy e de arte, ou para Hugh Hefner. De agora em
ansiedade sobre o efeito “inspetora escolar” eu saímos, Shel deixou seus manuscritos diante, quando a Playboy enviava rimas
de seus versos. Aqueles dias prenunciavam comigo, como prometido. Então, de Shel para mim, Shel sabia que eu estaria
o mês seguinte em Nova York, quando Shel silenciosamente, quase sem pestanejar, trabalhando para ele. 
telefonou e me pediu para ir para uma ele sugeriu que depois que eu tivesse lido,
sessão de emergência com seus editores. •
deveria mandá-los para os editores, em
Ele estava editando seu próximo livro Chicago.  Shel Silverstein morreu inesperadamente
infantil, “The Light in the Attic”, e a editora em Key West, em 1999. Eu não o via fazia
Harper & Row tinha reunido um minúsculo Era isso. O motim de sarcasmo tinha um tempo, mas lembrar dele traz de volta
grupo de foco em uma sala de conferência acabado. Mas até então eu deduzi que o momentos felizes. Isto foi escrito para um
para fazer um teste de mercado dos versos. motim não tinha sido realmente o ponto. livro publicado em privado, produzido por
Shel estava lendo para as criancinhas, disse Shel e eu nunca iríamos ser Rodgers & muitos dos amigos de Shel.
ele, e elas não pareciam estar entendendo o Hammerstein. Nós éramos Huck e Tom
ponto de nada. Deveria eu chegar e dar-lhe (Huckleberry Finn e Tom Sawyer), fumando Para saber mais sobre Shel Silverstein:  
a minha opinião?  cigarros, escondidos da Tia Polly numa ilha http://tinyurl.com/36z2n39
de bad boys no Mississippi.
“Eu não sou criança, Shel”, eu disse.  Texto e todas as imagens © Brad Holland
Por ter me convidado a participar no segredo e / ou a Revista Playboy. 
“Você é mais moleque do que esses dessa intriga e por uma semana na mansão Qualquer reprodução por qualquer meio, sem permissão
anões do cacete.”  Playboy com a minha garota, Shel tinha por escrito, é estritamente proibida.
Sketch para a pintura: “California C’s” - ©Brad Holland

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C O L U N A I N T E R N A C I O N A L : B R A D H O L L A N D

14a
Desenho à tinta para “The Devil and Billy Markham”, Playboy 1978 - ©Brad Holland

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C O L U N A I N T E R N A C I O N A L : B R A D H O L L A N D
S E I L E R
JASON
SEILER

J A S O N
A
Foto: arquivo Jason Seiler

I N T E R N A C I O N A L :
partir da cidade de Chicago,
onde reside, Jason Seiler, de 32 anos, tem
se destacado no mercado de ilustração
internacional como um dos grandes nomes
da caricatura, apesar de se considerar
um retratista.

Através de uma técnica bastante elaborada,


mas muito rápida, Jason tem trabalhado
para vários clientes, em especial para
o mercado editorial americano.

No entanto, recentemente fez algo que


buscava há um bom tempo: ilustrar um
poster de cinema, e coincidentemente,
com um dos seus “personagens”
preferidos, George Lucas.

Jason Seiler conta aqui um pouco de sua vida,


da influência de seu pai, da paixão pelo humor QUAIS FORAM AS SUAS INFLUÊNCIAS
ARTÍSTICAS, QUANDO ERA CRIANÇA
e pelos retratos, do stress com os prazos E A G O R A C O M O A D U LT O ?
apertados e muito mais.
Bem, quando eu era criança, minha obcecado em desenhar as Tartarugas
principal influência artística foi meu Ninja! Após esses anos eu comecei a
pai. Meu pai é um pintor incrível, eu desenhar da revista MAD, copiando
© Jason Seiler

cresci vendo-o desenhar e pintar toda artistas como Mort Drucker, Don Martin
a minha vida. Não houve realmente e Drew Friedman.
qualquer outra influência artística.
Como adulto, o meu pai ainda continua
Eu gostava de desenhar tudo, desde a inspirar-me, mas eu também sou
vida selvagem até desenhos animados. muito influenciado por Norman Rockwell
e J.C. Leyendecker.
Passei por fases de desenhar o
JASON SEILER Pernalonga, Patolino e, em seguida, eu Também adoro o trabalho de John
estava numas de desenhar quadrinhos, Singer Sargent, Peter de Sève,
ESTADOS UNIDOS como Batman, Superman e Homem- Hermann Mejia, Nico Marlet, Sean
JSEILER@JPUSA.ORG Aranha. Também passei por uma Cheetham, Phil Hale, James Jean,
fase de Tartaruga Ninja... eu estava Jeremy Geddes e Jenny Saville.
www.JASONSEILER.com

15a 15b
V O C Ê T R A B A L H A TA N T O C O M MAS VOCÊ TEM PREFERÊNCIA POR
M AT E R I A I S T R A D I C I O N A I S C O M O ALGO ESPECÍFICO?
D I G I TA I S . PA R A V O C Ê , Q U A I S
S E I L E R

S E I L E R
SÃO OS PRÓS E CONTRAS EM
C A D A M AT E R I A L ? Se fosse para escolher um meio para
trabalhar com tudo, acho que eu
Os prós, trabalhando com material escolheria tinta a óleo porque há muita
tradicional, é que é muito divertido coisa que pode fazer com ela... e não
para mim. Eu gosto muito mais do que há nada como olhar para uma pintura
a pintura digital. Eu amo a experiência, a óleo original.
as frustrações, tudo isso. Adoro ter
J A S O N

J A S O N
uma peça de arte original que eu possa
vender ou emoldurar.

As desvantagens são que levo muito


mais tempo para pintar tradicionalmente.
Gosto tanto do processo que realmente
tiro meu tempo para isso; não gosto de
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
apressá-lo.

Pintar tradicionalmente, para mim,


é mais como uma terapia, é algo que
eu devo fazer, ou vou enlouquecer.

Gosto de trabalhar digitalmente também,


mas não tanto como quando trabalho em
óleos ou aquarelas. Eu acho que a minha
coisa favorita para fazer é fazer sketches,
eu amo fazer sketches.

Prefiro trabalhar digitalmente em


todos os meus trabalhos de ilustração
ou editorial. Ainda consigo ter uma
sensação de pintura realista e posso
trabalhar muito mais rápido. Não
tenho que esperar que a pintura seque
ou criar camadas e camadas de tinta
para produzir certos efeitos; é rápido.

Se houver mudanças que precisam


ser feitas, posso mudá-las sem
nenhum problema.

Com uma pintura tradicional, tenho de


digitalizá-la ou tirar fotos dela, depois
disso precisa ser corrigida a cor...
é muito tempo, que eu não tenho.

Assim, para mim a pintura digital é o


que faz sentido para o mundo editorial,
onde se tem prazos apertados.

Os contras de trabalhar digitalmente


seriam que não há uma peça original de
arte. Além disso, eu diria que não é tão
divertido como pintar tradicionalmente.

16a 16b
S E I L E R

S E I L E R
J A S O N

J A S O N
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
RECENTEMENTE FOI PUBLICADO Mas o que faço é juntar referências
O LIVRO “NORMAN ROCKWELL
- BEHIND THE CAMERA”, QUE
como ponto de partida. Não estou
MOSTRA AS REFERÊNCIAS copiando uma foto, mas sim uso várias
FOTOGRÁFICAS QUE ROCKWELL fotos e poses para influenciar uma peça
U T I L I Z AVA . PA R A V O C Ê , Q U E T E M
U M T R A B A L H O M U I T O R E A L I S TA , de arte. E o resultado no final da pintura
TEM O HÁBITO DE PRODUZIR SUAS é geralmente algo bastante diferente.
REFERÊNCIAS FOTOGRÁFICAS?

Uso as minhas referências como base,


Eu ainda não tenho esse livro, mas o para desconstruir. Quero ver como as
vi há um tempo, em uma livraria. Mas dobras funcionam no vestuário e os
devo pegar esse livro. Eu tenho pelo efeitos que a luz causa nelas. Também
menos 10 livros de Norman Rockwell, ele quero conseguir uma anatomia e
é meu ilustrador/pintor favorito... adoro estrutura precisas para trabalhar.
o seu trabalho.
E, muitas vezes, eu componho
Respondendo à sua pergunta, sim, eu a expressão que você vê no meu
trabalho muito como Norman Rockwell. trabalho, mesmo que seja de uma
famosa celebridade. Vou tirar fotos
Crio minhas referências próprias. de mim mesmo fazendo a cara que
Tenho amigos que posam para mim, eu eu preciso e a partir daí desenhar
configuro as poses, coloco a luz do jeito as celebridades usando as minhas
que eu quero e assim por diante. expressões.

17a 17b
E M M É D I A , Q U A N T O T E M P O L E VA
PA R A FA Z E R U M A I L U S T R A Ç Ã O ?

Ela toma o tanto que a publicação me simples; não era assim difícil de terminar
S E I L E R

S E I L E R
dá. Se tenho dois dias, eu uso cada no prazo de dois dias que me foi dado.
minuto que tenho; se eu tiver quatro Passei a primeiro dia desenhando e
dias, a mesma coisa. quando meu esboço foi aprovado, passei o
resto do meu dia pintando suas cabeças.
Você tem que conhecer a si próprio e
aquilo de que é capaz de realizar dentro No dia seguinte, eu passei pintando suas
do prazo que lhe é dado. Às vezes eu mãos e simplificado de seus corpos. Eu
J A S O N

J A S O N
preciso simplificar e manter as coisas fiz o prazo com muito tempo de sobra.
um pouco mais pinceladas.
Na semana passada pintei uma capa para
Outras vezes posso atrasar um pouco o The Miami New Times; eu tinha apenas
e planejar minha obra, gastando mais quatro dias para pintar isso, então passei
tempo desenhando e desenvolvendo. dois dias ou mais no rosto e figura,
Tudo depende do trabalho. e o resto do tempo pintando o fundo.
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
Fiz recentemente uma capa para o Daí voltei com o trabalho e juntei o
New York Observer. Tinha duas pessoas fundo e personagem principal colocando
na capa, sem fundo e com poses tudo junto.

MESMO SENDO RÁPIDO, OS PRAZOS


COM OS CLIENTES TENDEM A SER
INSANOS. COMO VOCÊ CONCILIA
O STRESS DOS PRAZOS COM UM
TRABALHO TÃO ELABORADO?

Como eu disse, me conheço e sei o que


posso e não posso fazer com o tempo
que me foi dado. Tenho que separar
o que precisa ser pintado em seções.

Rostos e mãos são os mais


importantes... depois que são pintadas,
eu posso simplificar outras áreas, mas
é importante que essas outras áreas
pareçam igualmente fortes, que elas
ainda exigem cuidado e atenção...

É difícil conseguir um equilíbrio, mas


depois de fazê-lo por um tempo, você
começa a entender esse tipo de coisa.

18a 18b
O S P R A Z O S G E R A L M E N T E A F E TA M O
SEU TRABALHO DE ALGUMA FORMA?
S E I L E R

S E I L E R
Sim, claro. Eu tenho que me perguntar Se tivessem dado dois dias ou mesmo
“na quantidade de tempo que eu tenho, uma semana para fazer esta obra, não
o que posso fazer?” Algumas semanas teria tido a mesma sensação.
atrás eu pintei uma ilustração de uma
página para o Weekly Standard. Eu a teria trabalhado de uma forma
mais realista, menos pincelada e com
Meu tema era Nancy Pelosi, e foi um dia mais atmosfera.
virado. Eu terminei toda a peça no prazo
J A S O N

J A S O N
de nove horas. Para este trabalho, decidi Poderia ter sido uma obra mais vigorosa?
que iria manter toda a obra mais solta Às vezes ter muito tempo em uma obra
e pincelada. pode matar a vida contida nela... muitas
vezes adoro como os meus sketches
Ela ficou boa, e por causa da soltura, tem ficam, e o desejo é que só publiquem
uma vida que eu realmente gosto. o sketch! Quem sabe, talvez um dia?
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
COMO VOCÊ CONSIDERA O SEU ESTILO DE PINTURA?
S E R I A U M R E A L I S M O C Ô M I C O O U U M H U M O R R E A L I S TA ?

Sinto que meu trabalho está se tornando caricaturas... e estou trabalhando em


cada vez mais e mais como uma espécie um projeto agora que é muito dark, mas
de versão moderna de Rockwell, mas ilustrado no meu estilo de exagero e
com mais exagero. caracterização.

Alguns dos meus trabalhos não são Eu pinto como eu vejo coisas, pinto a
inteiramente humorados; na verdade, impressão que tenho; as coisas são mais
eu vejo um monte de trevas no interessantes desta forma. Para mim, de
meu trabalho, mesmo nas minhas qualquer forma.

19a 19b
VOCÊ JÁ DISSE QUE NÃO SE
ACHA QUE O HUMOR PODE C O N S I D E R A C A R I C AT U R I S TA , Há muito mais do que isso. Estou
S E R M A I S E V I D E N T E AT R AV É S M A S U M A R T I S TA C O M PA I X Ã O
D A T É C N I C A R E A L I S TA ? P E L O S R E T R AT O S . E N T Ã O C O M O mais interessado em captar a essência
S E I L E R

S E I L E R
D E S E N V O LV E U A AT R A Ç Ã O e as características da pessoa.
Não. Olhe para o trabalho de Jack PELO HUMOR?
Davis. Ele foi e é um gênio. Eu acho que
Eu sou um caricaturista, mas eu O humor entra em jogo porque nós,
pintando realisticamente, uma espécie
não gosto do título... isso faz algum como humanos, temos um aspecto
de conexão é feita entre o espectador
sentido? engraçado.
e a arte. Eles veem algo que eles
reconhecem e acreditam.
Quando eu penso em caricaturas, O que eu faço é exagerar e empurrar
penso nelas como os desenhos de a verdade, e faço isso pintando a
J A S O N

J A S O N
COMO OS ESTUDOS DE parque ou desenhos de carnaval. impressão que tenho disso. Concentro-
A N AT O M I A R E A L I S TA P O D E M
AJUDAR NA CONSTRUÇÃO
me sobre o meu tema e olho para
D E U M A C A R I C AT U R A ? E eu não quero dizer com isso diversas fotos, recolhendo o máximo
nenhum desrespeito a esse tipo de de informação possível.
Isso é tão importante! Eu adoro o crânio
e a anatomia e os estudo todo o tempo. arte, eu costumava fazê-las, e eu
tenho muitos amigos talentosos que Também não estou interessado em
Tenho vários livros sobre o crânio, e
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
ainda as fazem. desenhar alguém da mesma forma
tenho vários crânios no meu estúdio.
que eu já tenha visto antes. Tem que
Vejo o que eu e outros ilustradores ser original e fresco para eu estar
É muito importante para um artista que
fazem, como C.F. Payne, Daniel Adel, interessado.
desenha e pinta as pessoas, de forma
realista ou exagerada, compreender e Roberto Parada, James Bennett,
e Philip Burke, como ilustração. Eu me defino como um artista retratista.
conhecer o crânio.
Penso que um retrato exagerado, se
Eu não me concentro apenas na bem-feito, pode parecer mais com a
Se você não conhece o crânio, isso irá
face, ou o quanto posso exagerar pessoa do que se você fosse pintá-lo
aparecer em seu trabalho. Isso é algo
as características de uma pessoa. de forma realista.
que eu ensino aos meus alunos na
Schoolism.com

20a 20b
O G R A N D E C A R T U N I S TA B R A S I L E I R O ,
ROBERTO NEGREIROS, DISSE QUE Porque nós não temos visto essas
PREFERE DESENHAR PESSOAS
S E I L E R

S E I L E R
COMUNS, PORQUE O HOMEM pessoas na tela do cinema não
COMUM É MAIS ENGRAÇADO POR significa que elas não são tão ou mais
G E R A R E M PAT I A E M N Ó S . E PA R A
VOCÊ, QUAL A SUA PREFERÊNCIA?
interessante de se olhar ou desenhar.

Concordo com Roberto Negreiros. Terminei recentemente uma ilustração de


alguns homens em um café-restaurante.
Eu também prefiro desenhar a pessoa Apenas pessoas normais, mas para
comum. Muito mais divertido e mais
J A S O N

J A S O N
mim muito mais interessantes do que
tocante também. Há algo que podemos uma pintura de Tom Cruise ou Morgan
relacionar e compreender. Freeman.
I N T E R N A C I O N A L :

I N T E R N A C I O N A L :
21a 21b
I N T E R N A C I O N A L : J A S O N S E I L E R

22a
22b

I N T E R N A C I O N A L : J A S O N S E I L E R
I N T E R N A C I O N A L : J A S O N S E I L E R

23a
23b

I N T E R N A C I O N A L : J A S O N S E I L E R
B A J Z E K
EDUARDO

E D U A R D O
BAJZEK
Foto: arquivo Eduardo Bajzek

S K E T C H B O O K :
“Eu comecei a desenhar em com os recursos e tempo disponíveis
ireto de seu estúdio no centro sketchbooks em 2008, por influência em determinado momento, e também
da cidade de São Paulo, Eduardo Bajzek de um grande ilustrador australiano para evitar que eu fosse muito
abre um novo campo de abordagem na chamado John Haycraft. Até então, eu detalhista e caísse na armadilha
Revista Ilustrar: o da arquitetura. havia feito poucos trabalhos pessoais, do overwork.
e sempre com base em fotografias.
Formado pela Faculdade de Arquitetura Nos outros sketchbooks passei a
e Urbanismo da Universidade Mackenzie, Minha ideia inicial era aprimorar meu ser um pouco mais flexível comigo
Bajzek já produziu mais de 950 ilustrações desenho através da observação e mesmo... mas ainda luto para não
artísticas de projetos de arquitetura de explorar novas técnicas e maneiras ser (extremamente)
diversos arquitetos, permitindo assim se de desenhar. Também pensei que seria detalhista.”
aprimorar numa técnica toda própria. uma ótima maneira de desenhar
por diversão, sem compromisso com
Além disso, tem se dedicado muito ao prazos e com clientes.
sketchbook, em especial ao ar livre,
procurando aprimorar cada vez mais seu Mesmo assim, no meu primeiro
traço e seu senso de observação. sketchbook eu criei uma regra:
não mexer nos desenhos depois
Com isso acabou por se tornar também de fechado o caderno. Assim,
© Eduardo Bajzek

em correspondente do Urban Sketchers, eu preservaria os desenhos


famoso blog de sketches urbanos.

EDUARDO BAJZEK

São Paulo

edu.barboza@terra.com.br

www.ebbilustracoes.blogspot.com

24a 24b
B A J Z E K

B A J Z E K
“Há alguns meses passei a ser
correspondente do site Urban
Sketchers.

Apesar de ser muito legal dividir


os desenhos com gente do mundo
E D U A R D O

E D U A R D O
todo, passei a ser um pouco
exigente demais comigo mesmo.

Acho que todo ilustrador tem um


nível de autocrítica altíssimo.

E é por conta da autocrítica que


às vezes eu sofro, quando deveria
estar me divertindo.
S K E T C H B O O K :

S K E T C H B O O K :
Essa é outra meta: deixar de ser
tão exigente e parar de buscar
o resultado apenas, focando no
processo.”

“Descobri que desenhar na rua,


sozinho ou em grupo, é uma
atividade fantástica e muito
enriquecedora.

Te força a interagir mais com o


entorno, com a cidade e com as
pessoas. Passei, por exemplo, a
gostar muito mais de São Paulo,
depois que comecei a desenhar
por aí.

Quando faço desenhos de locação,


meu objetivo principal é conseguir
colocar no papel aquilo que eu
estou vendo.

Não pretendo mudar ou distorcer


a realidade deliberadamente, pelo
menos por enquanto.

Acho que a expressividade


vem carregada pela técnica e
aparecerá mais concretamente
com o tempo.”

25a 25b
“Meu trabalho tem sido
B A J Z E K

B A J Z E K
influenciado pelo desenho
de locação e vice-versa.

Como sempre trabalhei com


ilustrações de arquitetura tenho
facilidade com a perspectiva.

Por outro lado, minha figura


E D U A R D O

E D U A R D O
humana era péssima e agora
estou correndo atrás desse lado.

Acho que devemos desenhar


de tudo: pessoas, edifícios,
paisagens, animais, objetos e até
retratos, embora cada ilustrador
tende a desenhar aquilo que
mais tem a ver com a sua área,
com o seu mercado.
S K E T C H B O O K :

S K E T C H B O O K :
Agora busco ampliar meus
horizontes, como ilustrador,
para qualquer campo, e acredito
que os sketchbooks estão me
ajudando a dar “corpo” a essa
busca. Alguns desenhos feitos
em cadernos podem ir para o
portfólio, inclusive.

Acredito que as consequências


da produção incessante vêm
com o tempo, e quanto maior o
repertório, maiores as chances
de crescer.”

26a 26b
S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K

27a
27b

S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K
S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K

28a
28b

S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K
S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K

29a
29b

S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K
S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K

30a
30b

S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K
S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K

31a
31b

S K E T C H B O O K : E D U A R D O B A J Z E K
Quando convidado para contribuir com um meu estilo, fazer algo numa linha romântica
passo a passo para esta revista, rezei para desmesurada — algo a meio caminho entre

B R A B O
PAULO
poder ter tempo de usar os meus truques o terreno das princesas Disney e os musicais
usuais e ao mesmo tempo fazer algo que de Hollywood da década de 1940.
não havia feito antes.
Ignoro se consegui fazer uma coisa ou outra,
Assim que sentei para esboçar, ocorreu-me mas me diverti um bocado no processo.

...
o desafio que seria, mantendo-me fiel ao Espero que dê para notar.

BRABO 1- Esboço

P A U L O
Tudo começa, naturalmente, com um bom
esboço. A maior parte dos meus trabalhos é
feita diretamente no computador, usando algum
software de desenho ou de pintura e uma mesa

N
digitalizadora Wacom, mas os esboços – talvez
Foto: arquivo Paulo Brabo

a parte mais crucial de qualquer criação – esses

S T E P :
avegando entre a ilustração prefiro ainda fazer a lápis.
tradicional e a digital, o ilustrador Paulo
Brabo tem experiência acumulada há Neste caso, no entanto, resolvi manter-me 100%
digital e comecei fazendo o esboço diretamente
mais de duas décadas.
no Corel Painter 11. A desvantagem de não se
fazer esboços no papel, visualizando o todo em
Já foi arte-finalista, operador de gráfica, um relance, fica evidente no resultado desajeitado

B Y
diretor de arte, estagiário de almoxarifado desta primeira versão, em que as proporções estão
e formando de Administração de Empresas, tão constrangedoramente erradas.
e soma todas essas experiências para

S T E P
serem usadas como ilustrador. Usei este primeiro esboço como referência para fazer
uma segunda versão, que ainda assim não me satisfez,
Além de atuar na área publicitária e especialmente porque não encontrei uma boa solução
editorial no Brasil, ilustrações suas para a posição do pé esquerdo do cara depois que coloquei
um vestido na mulher.
apareceram recentemente no Guia
do Usuário do Corel Painter 11 e na Finalmente, mudei o eixo
publicação The World’s Finest Painter do movimento, alterei
Art, da editora Ballistic. a posição das pernas
do sujeito e resolvi
O passo a passo a seguir mostra uma começar por aí.
imagem toda digital, saltando de forma
inteligente e explorando todos os recursos
entre os programas Painter 11, CorelDraw
e Photoshop.
© Paulo Brabo

Paulo Brabo

Curitiba Neste ponto o esboço pode ser finalizado de Para este trabalho resolvi fazer um trajeto misto,
qualquer forma. Os três programas que mais começando pelo CorelDraw e depois finalizar
paulo@e-brabo.com uso para ilustrar são o Painter, o CorelDraw e navegando entre o Painter e o Photoshop. Você
www.e-brabo.com o Microsoft Expression. E, não importa como pode naturalmente partir dos mesmos princípios
comece, costumo finalizar no Adobe Photoshop. e usar os programas de sua preferência.

32a 32b
2- Ilustração Vetorial
Nesse tipo de ilustração, a fim de dar Isso mudou quando a Corel introduziu a
3- As Linhas
B R A B O

B R A B O
forma a um esboço inicial, uso basicamente ferramenta de Preenchimento Inteligente A primeira coisa a fazer é importar
a ferramenta de curva à Mão Livre e a [Smart Fill], que é uma versão vetorial do [MENU > Arquivo > Importar]
ferramenta de Preenchimento Inteligente do velho baldinho de tinta do Photoshop ou do o esboço que fiz no Painter para
CorelDraw. Uso o CorelDraw desde a versão 5, Paint: preenche com um caminho fechado a página de um novo documento
mas como gosto de pensar que meu diferencial qualquer área que esteja fechada, definida do CorelDraw.
está na liberdade do traço, nunca curti muito por uma ou mais curvas sobrepostas.
as limitações inerentes à ilustração vetorial. Posiciono a imagem onde acho
P A U L O

P A U L O
que deve estar e crio uma linha-
guia horizontal alinhada ao chão
do desenho. Uso em seguida
a ferramenta de Transparência
Interativa para diminuir
a opacidade do esboço.

Sobre essa imagem começo a


S T E P :

S T E P :
desenhar usando a ferramenta de
desenho à Mão Livre em traços soltos
e espontâneos que correspondam ao
esboço. A única coisa que tenho de
me preocupar nesse estágio é que
as linhas se sobreponham de modo
a modelar as formas presentes no
B Y

B Y
esboço. É necessário que as linhas
se cruzem nas extremidades; se eu
deixar alguma “abertura” em algum
S T E P

S T E P
momento, o preenchimento irá mais
tarde “vazar” para alguma área onde
não planejei, às vezes para toda a
A vantagem é que posso desenhar à mão da ilustração vetorial (o que garante a
área de trabalho. Se alguma curva
livre linhas que se sobrepõem (o que garante flexibilidade e a agilidade dos resultados).
não sai como o planejado posso
a rapidez do desenho e a leveza do traço), Numa palavra, posso desenhar em vetor
ajustá-la em seguida com a
ao mesmo tempo em que obtenho como sem ser obrigado a modelar figuras ou
ferramenta de ajuste de nós.
resultado os caminhos fechados e editáveis manipular nós.
Quando as linhas que definem os
OBSERVAÇÃO: O contornos do casal estão concluídas,
Adobe Illustrator tem posso apagar o esboço do fundo,
uma ferramenta de porque só voltarei a ele mais tarde,
preenchimento com no Painter. Restam só as linhas limpas.
comportamento semelhante
(Preenchimento em tempo Seleciono em seguida todas as
real, ou Live Paint), mas curvas que fiz, arrastando com a
crucialmente diferente. ferramenta de seleção, e no menu
escolho [Organizar > Combinar]
No CorelDraw o objeto para transformar todas as linhas
criado pela ferramenta num único objeto.
torna-se imediatamente
independente das linhas a Esse passo não é estritamente
partir das quais foi criado. necessário, mas como planejo me
livrar das linhas assim que não
No Illustrator, basta precisar mais delas, é conveniente
movimentar alguma que estejam combinadas num objeto
das linhas para modificar que eu possa apagar num passo só.
interativamente o formato
do objeto criado pela
ferramenta.

33a 33b
4- Criando Objetos com a Ferramenta 5- Limpezas e Ajustes
de Preenchimento Inteligente
B R A B O

B R A B O
Uma vez que o casal está concluído
A partir daí o trabalho é usar a posso arrastar para o lado e apagar
ferramenta de Preenchimento o objeto que contém as linhas
Inteligente para preencher os azuis de referência, porque já criei
intervalos definidos pelas linhas as formas de que precisava e não
que acabei de fazer. Nada poderia preciso mais delas.
ser mais fácil: basta clicar com
P A U L O

P A U L O
a ferramenta dentro de qualquer Daqui a pouco vou querer exportar
uma das áreas delimitadas. É este conjunto de curvas como
precisamente como usar o baldinho imagem bitmap para poder pintá-
de preenchimento no Photoshop. la no Painter, mas devo aproveitar
enquanto estou no mundo vetorial,
onde tudo é mais fácil de mudar,
para fazer alguns ajustes.
Para facilitar ainda mais a minha
S T E P :

S T E P :
vida, antes de começar escolho na
Barra de propriedades as opções
“Sem preenchimento” e “Nenhum
contorno”. Assim, cada novo objeto A primeira coisa que quero fazer
criado pela ferramenta é no primeiro é ajustar o pé esquerdo do
momento invisível; porém, como dançarino, trazendo-o um pouco
mais para a esquerda, de modo
B Y

B Y
cada novo objeto é pré-selecionado
no momento da criação, para a deixar o seu “passo de dança”
colori-lo basta clicar a cor desejada mais extremo e apaixonado. Para
na paleta de cores, que deixo isso basta selecionar apenas os
S T E P

S T E P
convenientemente aberta sobre objetos que formam o pé e arrastá-
o documento. los até onde acho que devo.
Em seguida uso a ferramenta
de seleção de nós para selecionar
apenas os dois nós que compõem a
Neste ponto estou escolhendo barra da calça, e arrasto os nós até
as cores por intuição; como nada se alinharem à nova posição do pé.
é definitivo, posso a qualquer
momento (ou mesmo muito mais
tarde) selecionar cada um dos Uso a mesma ferramenta para
objetos criados e ajustar-lhe as fazer ajuste semelhante na
propriedades e as cores. Uma coisa perna direita. Agora sim, a
importante é não deixar nenhuma posição do dançarino me parece
área da figura, por menor que seja, suficientemente dramática e
sem preenchimento. Dependendo estilizada.
da disposição das linhas que
desenhei à mão livre, algumas
áreas a serem preenchidas podem
querer passar despercebidas,
de tão pequenas que são. Mas não estou satisfeito com a cor
da sua roupa. Seleciono um a um
os objetos que compõem a roupa
do dançarino e substituo os tons
de preto por um vinho escuro no
Concluir as figuras é paletó e um verde-oliva na calça.
trabalho meramente braçal.

34a 34b
Até agora, vale lembrar, estamos
lidando com um conjunto de
6- Texturizando as Formas
B R A B O

B R A B O
formas independentes que
podem ser movidas para qualquer
No Corel Painter, abro o arquivo
lado e editadas em conjunto
PSD que acabei de exportar.
ou individualmente.
O casal está numa camada à parte
com fundo transparente, o que vai
facilitar a minha vida mais tarde
quando eu for fazer o fundo.
P A U L O

P A U L O
O último ajuste que quero fazer
nesta fase diz respeito à cabeça do
dançarino, que prefiro que esteja
Por enquanto o que quero fazer
um pouco mais alta do que está em
é deixar o casal com menos “cara
relação ao corpo, para realçá-la na
de vetor”. Para isso vou usar um
composição.Quando mudo a cabeça
único pincel, o Coarse Spray,
de posição preciso ajustar também
S T E P :

S T E P :
encontrado na categoria
o pescoço. Uso a ferramenta de
Airbrushes (Aerógrafos).
seleção de nós para selecionar
apenas os nós pertinentes dos *dois*
Na janela de camadas travo a
objetos que formam o pescoço; uma
transparência da camada em que
vez selecionados, arrasto os nós até
estou trabalhando, para impedir
que o pescoço esteja novamente
que minhas pinceladas “vazem”
B Y

B Y
alinhado à cabeça.
para onde não quero, e começo
a usar o Coarse Spray para
acrescentar texturas, luzes
S T E P

S T E P
e sombras.

Em alguns casos, para facilitar


o meu trabalho, uso a ferramenta
“Varinha de Condão” para selecionar
uma única tonalidade das cores
que formam o desenho.

Continuo acrescentando texturas,


fazendo seleções quando
necessário, até dar
essa parte por concluída.
Agora que considero a composição
concluída, devo apenas exportar todo
o conjunto em formato raster (bitmap),
a fim de poder continuar a edição no
Painter e no Photoshop.

Vou ao menu [Arquivo > Exportar]


e escolho o tipo de arquivo PSD -
Adobe Photoshop. Clico “Exportar”
e, nas opções avançadas da tela
seguinte, certifico-me de
selecionar a caixa de opção
“Fundo Transparente”.

35a 35b
7- Trabalhando o Fundo 8- Detalhes, Detalhes, Detalhes
B R A B O

B R A B O
Quero agora fazer o fundo. Começo Assim que abro a imagem
aumentando o tamanho da tela no Photoshop e vou
[MENU > Canvas > Canvas size], ocultando e acionando
de modo a deixar mais espaço ao as camadas uma a uma,
redor do casal. Em seguida pinto a percebo duas coisas:
camada de fundo de azul, depois crio primeiro, que odeio as
uma nova camada onde coloco um nuvens e decido livrar-
P A U L O

P A U L O
quadrado branco que me servirá de me delas; segundo, que
chão. Finalmente, importo o esboço as folhagens ficam muito
original numa camada própria e deixo mais interessantes sem o
essa camada no modo Multiply, para caramanchão que desenhei
que me sirva de referência. para elas. Decido apagar a
camada com o camaranchão
e voltar mais tarde ao
Painter para desenhar
S T E P :

S T E P :
Hora de pintar. A partir de outro. Apagadas as nuvens
agora só usarei (em diversos e o caramanchão, aplico
tamanhos) um pincel que eu um gradiente de branco
mesmo criei, o Coker Textured - na camada do fundo,
você pode baixá-lo para o Painter que representa o céu,
11 neste endereço: para acrescentar alguma
B Y

B Y
atmosfera.
http://tinyurl.com/385reof

Crio uma nova camada acima Hora de aplicar algumas


S T E P

S T E P
do fundo mas abaixo do casal texturas. Importo uma
e começo a pintar a partir da textura de tecido e coloco
referência do esboço. Para numa camada acima da
deixar a coisa mais orgânica dançarina.
e menos chapada, antes de
começar faço deslizar algumas
porcentagens (3%) de Hue e
Value na janela Color Variability.

Uma vez concluída a base Mudo o modo da camada


do fundo, crio outras duas para Overlay e crio em
camadas abaixo do casal, uma seguida uma máscara na
para as folhagens, outra para camada, preenchendo a
o caramanchão, e uso o mesmo máscara de preto para
pincel Coker Textured para ocultar a camada por
pintar tanto um quanto o outro. completo.

No caso das folhagens, antes de


começar a pintar aumento até
4,00 (o máximo) o item “Jitter”
da opção Random, de modo a Depois pinto suavemente
fazer com que as bolinhas que com a cor branca sobre a
compõem cada traço fiquem máscara, de modo a revelar
separadas umas das outras. Hora somente parte da textura
de salvar a imagem aqui para no vestido da dançarina.
ver o que podemos fazer com
ela no Photoshop.

36a 36b
Faço a mesma coisa, com
outra camada e outro padrão
B R A B O

B R A B O
de tecido, para acrescentar
alguma textura ao paletó
do sujeito.
Crio uma nova camada
abaixo do casal, em modo
Screen, e pinto uma
“névoa” de branco suave
ao redor dos dois para
P A U L O

P A U L O
destacá-los do fundo.

Neste momento volto ao


S T E P :

S T E P :
Painter só por um instante,
para usar o mesmo pincel
Coker Textured e pintar
um novo caramanchão,
mais estilizado, em forma Se necessário, deixo
de coração. Você percebe essa camada mais
B Y

B Y
que com isso entramos
indistinta com vários
definitivamente em
passes de Gaussian Blur.
território Disney.
S T E P

S T E P
Faço em seguida duas
De volta ao Photoshop, faço coisas: primeiro, numa
uma cópia do documento
camada abaixo do casal
sem as camadas e numa
mas acima de todas as
camada à parte, sobre as
outras – uso essa imagem outras, coloco uma textura
invertida horizontalmente de aço escovado em modo
e rotacionada 180 graus Soft Light; segundo, volto
para servir de piso. ao Painter por mais um
instante para adicionar
luzes ao redor do coração
acima do casal, usando
Aciono CTRL + T para o pincel Fairy Dust da
transformar essa camada e,
categoria F/X.
usando a tecla CTRL antes
de selecionar os nós nas
extremidades do retângulo, Diminuo a opacidade da
distorço o “piso” de modo a textura de aço escovado
sugerir alguma perspectiva. e sinto que estou perto do
Transformada a camada, final, mas me incomodam
diminuo por fim a sua ainda as listras na perna
saturação, ao mesmo tempo do dançarino; aproveito
em que aumento a saturação para eliminá-las com o
da camada que contém pincel do Photoshop.
o casal.

37a 37b
B R A B O

B R A B O
Sinto, finalmente, que falta
contraste na área ao redor do
rosto dos personagens, que é
para onde o olhar deveria estar
direcionado. Para corrigir isso
começo apagando a camada de
“névoa resplandecente” nessa
P A U L O

P A U L O
região, de modo a deixar mais
evidente o azul do fundo.
S T E P :

S T E P :
B Y

B Y
Em seguida, crio uma camada
S T E P

S T E P
no modo Overlay e pinto
suavemente com branco sobre
o rosto dos personagens, de
modo a acentuar o contraste
com o fundo.

Ei, a imagem está pronta!

38a 38b
S T E P B Y S T E P : P A U L O B R A B O

39a
39b

S T E P B Y S T E P : P A U L O B R A B O
© Tiago Lacerda / Elcerdo

A L A R C Ã O
Rockwell Nunca Andou Na época da Segunda Grande Guerra,
Rockwell já estava um tanto velhinho
para alistar-se e, embora quisesse muito
na Bicicleta de Duchamp ajudar o Tio Sam, estava fora de cogitação
para ele pegar em armas. Resolveu então
colaborar com o esforço patriótico fazendo
por Renato Alarcão o que sabia de melhor: ilustrar. Assim, sua
série “The Four Freedoms” surgiu inspirada

R E N A T O
em um discurso que o presidente Roosevelt
havia proferido no congresso em 1941,
Na biografia “My Adventures as an destacando os 4 pilares da sociedade comunicação com a massa. Já desde aquela fosso que nos separa daquele universo. As
Foto: arquivo Renato Alarcão

Illustrator”, o artista Norman Rockwell americana, todos apoiados na ideia de época pretendia-se adjetivar a ilustração obras, em sua quase totalidade, parecem
nos conta, dentre muitos causos, sobre liberdade. As 4 ilustrações de Rockwell como o “primo pobre nas artes visuais”. ignorar tudo o que busca um ilustrador com
um devaneio seu: poder encontrar-se foram então impressas em posters e seus seu trabalho: comunicar-se, estabelecer
com Rembrandt, Dürer, Vermeer e outros originais viajaram o país de ponta a ponta Durante um bom tempo, o pior dos mundos empatia, atrair o olhar, suscitar reflexões,
mestres, para com eles confabular de igual em diversas exposições, numa empreitada para um artista plástico era ter seu trabalho manifestar ideias, registrar o caldo cultural

N A C I O N A L :
para igual e dizer “vejam, companheiros, que levantou mais de 130 milhões de rotulado de ilustração. O termo era visto em que estamos imersos etc. (notem que
este é o meu trabalho, o que acham?”. dólares em vendas de “bônus de guerra” como altamente pejorativo e, no caso dos não listei “busca pelo belo”, ideal que,
para o governo (os chamados “war bonds” artistas que optassem pela veia figurativa, particularmente, acho uma besteira).
Alguns diriam, “como se atreve um mero eram papéis vendidos à população para ser chamado de ilustrador era ter cocô
ilustrador colocar-se lado a lado como financiar os gastos com a missão bélica dos de cachorro na sola dos sapatos da sua E pensar que, lá atrás no tempo,
colega de ofício de figuras tão lapidares na EUA na Europa). reputação. Um exemplo marcante disso é caminhávamos lado a lado e fraternalmente
história da arte?” o que ocorreu com o artista Andrew Wyeth a mesma estrada e podíamos até ser
Rockwell dizia que, desde o princípio, (filho do legendário ilustrador N. C. Wyeth), igualmente chamados de “artistas”.
Todo mundo sabe quem foi Norman sempre desejou ser um contador de quando veio à tona sua belíssima série
Rockwell. Além de ter retratado o lado histórias por imagens, um artista popular “Helga”, um verdadeiro tesouro da arte O que estou fazendo aqui? Grito não
idílico e açucarado do American Way, ele cujo trabalho atingisse um grande realista americana. Levado à capa de uma somente que o rei está nu, mas também
foi também um dos mais bem-sucedidos número de pessoas através dos meios de grande revista de arte, o rosto do artista que está a rolar escadas abaixo (em clara

C O L U N A
ilustradores da história. Não falo do reprodução gráfica. Não se importava com tinha ao redor de si a manchete “Andrew referência ao quadro que Marcel Duchamp
dinheiro que ganhou, mas sim do poder o fato de que alguns artistas tentassem Wyeth: gênio ou ilustrador?”. pintou em 1912 “Nu descendant un
de comunicação e da empatia que seu diminuir a importância do seu ofício. O Escalier nº2”). Há aqui também uma certa
trabalho conquistou com o público. Para argumento dos detratores depreciava Mas por que tamanha aversão a nós? As ousadia de minha parte ao querer costurar
se ter uma ideia, toda vez que a revista a ilustração por obrigar seus artistas a respostas podem ser muitas, e variam Duchamp e Rockwell num mesmo artigo.
Saturday Evening Post encomendava uma trabalharem dentro de limitações como da mera suposição à mais clara certeza. Vejamos como isso evolui…
capa dele, o diretor de arte tinha que ligar prazos, temas encomendados, a premissa E é natural que junto com nossas mais
para a gráfica para alertá-los: “tratem de de satisfação do cliente e, finalmente, profundas reflexões sobre estes porquês Marcel Duchamp foi um exímio jogador de
encomendar mais papel pois vem aí uma por ser uma arte com o objetivo de surjam borbulhações de ironia, humor e xadrez e, talvez poucos se lembrem que no
© Renato Alarcão

edição com capa do Rockwell!”. E assim, até indignação (creio que você também início de sua carreira foi também cartunista.
a tiragem que normalmente já era colossal já deve ter vivenciado este fenômeno). Notem que interessante, trago aqui alguns
– em torno de 1 milhão de exemplares – ingredientes importantes que compuseram
precisava ser ampliada em mais 250 mil Afinal, por que hoje somos, criamos e essa figura emblemática na história das
cópias. pensamos de modo tão diferente dos artes plásticas: o talento para o blefe e
chamados artistas plásticos? a inclinação para o humor e a paródia!
Há mais histórias na biografia do sujeito.
Uma ida às galerias, museus e bienais Para encurtar uma longa história (e
para conferir o que se apresenta como também refrescar nossas memórias), foi
manifestação da pós-modernidade, da Marcel Duchamp um dos precursores da
renato alarcão contemporaneidade e seus mil “novo- arte conceitual, quando criou os chamados
novismos” (sempre endossados por “ready made”. A ideia consistia basicamente
Rio de janeiro tratados escritos em linguagem hermética), em “adotar” inocentes objetos do cotidiano,
é uma curiosa experiência. Fica nítido o acrescentar a eles novos elementos, e
renatoalarcao@terra.com.br

www.renatoalarcao.com.br

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finalmente inseri-los em um novo contexto, mais recente Salão de Artes de Natal (RN),
desta vez imbuídos de uma aura de “obra um artista colocou-se nu na galeria e, de
artística”. Foi assim com a roda de bicicleta quatro, retirou um crucifixo de dentro de
A L A R C Ã O

A L A R C Ã O
sobre o banco, de 1913, seu primeiro seu ânus. Em depoimento disse que estava
ready-made. Outros vieram depois: “descolonizando” seu corpo. Senhores,
em 1914 uma escultura era composta francamente… parem de fazer mau uso da
basicamente de um escorredor metálico de palavra “artista”. Não quero ser confundido
copos, e em 1915, uma simples pá tornou- com um de vocês!
se arte ao ganhar a assinatura de Duchamp
e o título “In advance of the broken arm”. Nós, ilustradores, temos muito do que
nos orgulhar. Não estamos buscando
Duchamp foi também o artista que primeiro novidades vãs que venham a nos colocar
fez uma intervenção (palavra em moda hoje em situações ridículas. Somos herdeiros
R E N A T O

R E N A T O
em dia), ao colocar um bigode na Monalisa não somente de uma tradição que nos
(obra entitulada “LHOOQ”). Mas talvez a legou o conhecimento do desenho da figura
mais célebre obra desta série tenha sido humana, da perspectiva, do chiaroscuro,
“Fountain”, um urinol de louça apresentado das teorias da cor e das técnicas clássicas
em 1917 na exposição dos independentes, de pintura, mas também da experiência das
em Nova York. Como conhecido membro vanguardas (impressionismo, art nouveau,
do juri daquele evento, Duchamp preferiu expressionismo, dadaísmo, modernismo,
inscrever sua “escultura” sob o pseudônimo fauvismo, construtivismo, pop art etc.), dos
N A C I O N A L :

N A C I O N A L :
R. Mutt. A obra foi aceita e o resto é experimentos da colagem, da fotografia,
história. Uma história que aliás vem se do cinema, da música, do teatro e de
repetindo exaustivamente na arte dita absolutamente tudo o mais que veio antes
contemporânea, tal qual uma piada que, ao e depois. Não somos guiados pela ideia de
ser contada repetidamente, já não provoca que para construir o presente e o futuro
mais qualquer reação: se tudo pode ser precisamos destruir o passado, pois tudo
arte, o nada também pode ser arte. pode nos servir de inspiração e influência.

• A prova disso está em qualquer bom


“Joguei o urinol na cara deles como um catálogo de ilustração: o DNA de todos os
desafio e agora eles o admiram como um períodos da história da arte parece estar
C O L U N A

C O L U N A
objeto de arte por sua beleza estética”, representado ali de uma forma ou de outra.
disse Marcel Duchamp em carta ao
Dadaísta Hans Richter. Acredito que todo este caldo de influências
– o que é bom e até o que é ruim – pode
• e deve incorporar-se à nossa bagagem
Duchamp escancarou as portas para cultural para assim fazer do conteúdo
um monte de novidades que vieram na do nosso trabalho algo mais rico, um
sequência de suas invenções, algumas forte alicerce para nossa missão de criar
tão entediantes quanto uma fila de imagens que comuniquem, informem,
banheiro. Cabe aqui dizer que muitas eduquem, emocionem, instiguem, enfim,
eram literalmente uma merda. Falo de que toquem as cordas da percepção
obras como“Merda d’artista” a célebre do nosso semelhante.
latinha produzida por Piero Manzoni e © Tiago Lacerda / Elcerdo
adquirida pela Tate Gallery por 22.300 Convido a todos, portanto, estudantes
libras (façam as contas: cada grama de e profissionais da ilustração, a manter
seu conteúdo custou 745 libras!). Décadas olhos abertos, filtros ativos e cérebro
à frente surgiu outra delas, “Cloaca”, obra de esponja, pois sempre há muito o que
do artista belga Win Delvoye, que investiu aprender, tanto nas cavernas de Lascaux,
200 mil dólares para criar uma máquina quanto nos bezerros fatiados de Damien
de 11 metros de comprimento por 2 de Hirst. Sejamos respeitosos, críticos ou
altura cuja façanha é somente produzir satíricos, mas sobretudo preparados
merda industrialmente (e cada saquinho técnica e intelectualmente para defender A Revista Ilustrar agradece a participação especial de Tiago Lacerda / Elcerdo nas
de cocô que dela sai é vendido por 1.000 nossos pontos de vista e, se preciso for, ilustrações desta seção:
dólares – segundo dados de 2003). O defender nossa arte de quem quer que
http://el-cerdo.blogspot.com e http://revistabeleleu.wordpress.com
rastro fedido espalhou-se até o Brasil: no ouse chamá-la de “menor”.

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T R I M A N O
LUIS
TRIMANO

L U I S
P A R A :
Foto: arquivo Luis Trimano

U m dos mais respeitados


artistas em atividade no mercado, perfeita, que eu poderia manejar (e depois de

P E R G U N T A S
VOCÊ COMEÇOU A DESENHAR DESDE MUITO
argentino radicado no Brasil há mais árduos trabalhos...) conseguir um domínio.
PEQUENO E SE PROFISSIONALIZOU BEM
de 40 anos, Luis Trimano tem um
CEDO. COMO FOI ESSE COMEÇO?
vasto material produzido, navegando Paralelo a este processo, ingressei na Escola
de forma natural e sutil entre a A certeza de que o desenho seria a minha Panamericana de Arte, fundada por 12 mestres
ilustração, o retrato, a caricatura forma de expressão aconteceu por volta dos da ilustração e do quadrinho, entre eles
e as artes plásticas. 14 ou 15 anos. Nesse período ingressei na Hugo Pratt e Enrique Breccia. Isto consolidou
Escola Nacional de Belas Artes. O ambiente algumas certezas, sobre questões que vinham
era mais de escola de “labores” práticos que me dando voltas, a respeito da abordagem
De tudo o que tem produzido, de ateliê de artistas, como Lino Spilimbergo gráfica da narrativa, e também me abriu um
chama a atenção os retratos e ou Antonio Berni, que me influenciaram muito, panorama mais amplo sobre os quadrinhos,
caricaturas que produz, com uma principalmente nos primeiros tempos, quando já que vários dos artistas da escola eram
força e expressividade únicas. a gente lutava para dominar os materiais. quadrinistas, como Hugo Pratt.

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Por ter vivido intensamente os Nesse período começou uma greve contra Essa vivência em que se misturam as artes
duros anos de ditadura militar reformas de ensino, pela implantação do plásticas e as artes gráficas me levou, depois
tanto no Brasil quanto na modelo vivo, e os alunos começaram a jogar de organizar 4 exposições individuais de
Argentina, seus trabalhos pelas janelas da escola os gessos que serviam desenho em galeria, à ilustração para imprensa,
para copiar formas acadêmicas. Essa greve onde fiz uma tentativa de “fundir” a qualidade
acabam por transparecer muito
nunca iria acabar e me afastei. visual que pode ser alcançada na prática das
do seu pensamento político,
artes plásticas com o dinamismo que adquire
que Trimano explica a seguir. Eu devia procurar a vivência da pintura por o desenho impresso na página do jornal.
outros caminhos. Sempre desenhando de forma
© Luis Trimano

obsessiva, lutando por expressar os temas que A ilustração em preto e branco, quando
me interessavam, e andando pela cidade, para a impressão era feita com clichês, sistema
cima e para baixo, buscando e visitando os semelhante à xilografia, era uma gravura.
ateliês dos pintores, à procura de um clima de Inclusive às vezes era notório o cunho
diálogo com gente que me interessasse, num provocado pela pressão da matriz sobre
clima que não senti na Escola. o papel.

Eu era muito influenciado por Carlos


Castagnino, pintor e desenhista virtuoso,
luis trimano muralista e ilustrador literário que tinha E A PROFISSIONALIZAÇÃO?
montado em Buenos Aires, um “atelier libre”
que foi muito importante naquele momento A profissionalização veio em 1967,
Rio de janeiro
e formou muita gente. Empregava o método de quando publiquei a primeira ilustração
luis.trimano@gmail.com ensino de um pintor cubista francês chamado no semanário portenho “Análisis”. Foi
André Lhote. Eu precisava de alguma coisa mais um curto período de estréia na imprensa.
http://luis-trimano.blogspot.com
“instantânea”, e o desenho era a “ferramenta” Em 1968 emigrei para o Brasil.

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T R I M A N O

T R I M A N O
E QUAIS FORAM AS SUAS TANTAS INFLUÊNCIAS PERMITIRAM QUE
INFLUÊNCIAS ARTÍSTICAS? VOCÊ TRABALHASSE COM QUASE TODOS
OS MATERIAIS. HÁ ALGO EM ESPECIAL
Os primeiros contatos que tive com a arte autoral eram bem maiores do que hoje. QUE TENHA PREFERÊNCIA?
foram, quando menino, o cinema, os comics Eu gosto muito do resultado preto e branco na
e os quadrinhos locais, que na Argentina se Sobre as influências: em Buenos Aires ilustração para jornal. Não gosto da cor tal como
chamam “historietas”. e Montevidéu existe um espírito de humor é utilizada na imprensa atual, virou um caos. O
negro, legado dos espanhóis. bico-de-pena, uma das técnicas que destacou
Nos anos 60 surgiram, em Buenos Aires, o meu desenho na imprensa, semelhante, no
muitos bons desenhistas de quadrinhos, Um antecedente desse espírito “negro” é desenho, à gravura em metal, é uma técnica que
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L U I S
artistas plásticos/ilustradores e gravadores. Francisco de Goya, uma das minhas influências uso desde que comecei a desenhar.
Existia uma espécie de “culto” das revistas junto com uma gravadora expressionista
de quadrinhos e dos desenhistas que se alemã chamada Kathe Kollwitz. E os mestres Esta referência à gravura é muito interessante porque
confundiam com seus personagens, como argentinos já citados, Spilimbergo, Berni me levou a visitar o trabalho de gravadores e a gravura
acontece com Hugo Pratt e o seu personagem e Castagnino. O desenho de Carlos Alonso. de um modo geral, no caso a xilografia, primeira técnica
autobiográfico, Colto Maltese. de ilustração a ser utilizada na imprensa. Nos anos 80 fiz
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Os muralistas mexicanos Orozco, Rivera, uma série de trabalhos sobre MPB. Foram capas de disco
Naquele momento algumas pessoas investiram Siqueiros e Tamayo. Os desenhos de Candido de vinil e uma série de guaches de tamanho um pouco
em ideias novas, correndo riscos de falência Portinari. O Expressionismo alemão. “Las maior que o habitual: 1,20 x 90 m, levou por título
– e essa falência aconteceu diversas vezes... Calaveras” e as gravuras de cordel de José Músicos de Rua, e foi exposta em 1985 no Museu de
Foram os lendários “alternativos” da imprensa Guadalupe Posadas. A pintura de Emiliano Di Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Também foi
dos anos da ditadura militar. Foi um momento Cavalcanti. O pincel de Hugo Pratt e o pincel capa da revista Gráfica.
excepcional, foram feitas coisas excepcionais, dos desenhistas de quadrinhos. O desenho
P E R G U N T A S

P E R G U N T A S
e as posibilidades de se publicar ilustração de Hokusai e as estampas japonesas. Essa série não era desenho colorido, era pintura
sobre papel. Um pouco como se trabalhavam
os cartões preparatórios das pinturas no século
XIX. Esta técnica está relacionada também à
tinta acrílica, utilizada por mim em diversas
oportunidades, sobre tela, parede ou compensado,
na pintura de painéis murais. Existem duas
técnicas que nos afastam das colorações do guache
e da tinta acrílica: são as canetas descartáveis
esferográficas e hidrográficas, cujas cores estão
mais próximas das cores de fabricação industrial,
que das tintas empregadas na pintura artística.
1 5

1 5
Para as composições eu uso, como sistema de
trabalho, a colagem de imagens retiradas de diversas
fontes, que depois de feitas as montagens, serão
projetadas e desenhadas artesanalmente a lápis,
nanquim ou caneta, no papel. Tenho utilizado
também a câmera digital para registros do real,
que depois servirão de modelo nos desenhos e
nas ilustrações.

A serigrafia é uma técnica difícil que tem me dado


bons resultados também. A coloração da tinta
serigráfica, utilizada também para fins industriais,
é diferente do óleo, o acrílico e o guache. Sendo de
difícil execução, os custos da tiragem serigráfica são
altos, e o seu preço aumenta de acordo com o número
de cores empregadas. É muito difícil para o artista arcar
com os custos de uma tiragem serigráfica sem patrocínio.

Em 2006 fui contratado pela firma serigráfica Arte &


Naturaleza de Madrid, a realizar tiragens de 8 imagens da
série “Estigmas”, conjunto de guaches que produzi, por volta
de 1984/85, sobre textos do poeta peruano César Vallejo,
que na época foram expostos na galeria Carlos Oswald
do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

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BOA PARTE DO SEU TRABALHO SÃO
T R I M A N O

T R I M A N O
produzidos. Bacon me provocou forte
RETRATOS E CARICATURAS. influência durante um bom tempo. Data
O QUE BUSCA AO RETRATAR desse período uma série de pequenos
AS PESSOAS? desenhos a nanquim, muito trabalhados e
O retrato sempre procurou “capturar a alma” muito escuros que fiz nesses primeiros meses
da pessoa. No retrato tenho procurado de São Paulo. Eram “sombras”, “fantasmas
dignificar ou exaltar as qualidades humanas que se arrastavam pela Gotan-City que me
do retratado sem abandonar um longo pareceu São Paulo à noite. O título de um
trabalho que venho fazendo há anos sobre dos desenhos dessa série é “O Fantasma do
a face humana, sobre a transformação da Viaduto”. Eu estava fazendo caricatura, com
face humana, que me levou, durante algum os grafismos de Pollock me dando voltas. E
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tempo, a me afastar do retrato, e trabalhar dessa química meio maluca, me lembro que
um caricato próximo das máscaras teatrais, ou saíram desenhos bem-feitos, imaginativos.
dos “anti-retratos” do Expressionismo Alemão. Entre 1968 e 1974 trabalhei intensamente
como caricaturista na imprensa comercial e
Eram caricaturas grotescas e simiescas, na imprensa alternativa, chamada de “nanica”.
P A R A :

P A R A :
um teatro de títeres aleijados e maléficos
a passearem pelas páginas vigiadas pela Nesses anos se operou uma mudança
censura. “Grafismos sombrios e bestiais significativa na visualidade dos meios de
para tempos sombrios e bestiais” e tentando comunicação impressos no Brasil, e o meu
também incorporar as variantes e mudanças desenho (que trazia um dado visual diferente),
do grafismo atual, incluindo a participação acabou se integrando e fazendo parte daquele
do computador. processo. Como influências no gênero do
retrato posso citar alguns artistas de várias
P E R G U N T A S

P E R G U N T A S
Quando cheguei a São Paulo, em 1968, épocas, que me impressionaram e a quem
conheci os retratos pintados a óleo por Flavio segui, numa “influência consciente”.
de Carvalho, entre 1920 e 1950, e também os
desenhos a carvão retratando a mãe no leito Os retratos de Rembrandt, os autorretratos de
de morte. Expressionismo selvagem. Van Gogh, os apontamentos rápidos e retratos
de Toulouse Lautrec, os retratos de Oskar
Me impressionou a valentia com que encarava Kokoschka, as litografias produzidas para a
o retrato. Eu estava estudando os desenhos imprensa francesa e as caricaturas modeladas
e as pinturas do período figurativo de Jackson de Honoré Daumier, os retratos de populares
Pollock, cujo trabalho, nesse momento, esteve e personagens da corte de Francisco de
influenciado pela arte ritual dos índios Navajos Goya. Os retratos pintados de Francis Bacon.
do México, e pelo muralista José Clemente Os retratos que Picasso fez de Dora Maar
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Orozco. e outras mulheres. Entre os contemporâneos
posso citar Ralph Steadman que utiliza um
Também estava olhando os retratos pintados grafismo muito violento e pesado para falar
por Francis Bacon, os mais violentos já de temas violentos.

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UMA DAS CARACTERÍSTICAS DO
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T R I M A N O
SEU TRABALHO, EM ESPECIAL OS dizer, mas ao mesmo tempo seja um trabalho
RETRATOS, É O GRAFISMO UTILIZADO, onde o plástico esteja em primeiro lugar, já
SE TORNANDO QUASE UM ELEMENTO que se trata de um trabalho visual.
À PARTE NA ILUSTRAÇÃO. ESSA BUSCA
QUASE OBSESSIVA PELO GRAFISMO Desta forma o conteúdo estará sendo
E PELA TEXTURA REFLETE UMA BUSCA transmitido com maior ou menor intensidade
MAIOR PELA ESTÉTICA? de acordo com a intensidade, espressa nas
imagens que ilustram.
Eu acho que a figuração e a não-figuração
fazem parte de um mesmo contexto, mas se No meu caso, o interesse pelas disciplinas das
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L U I S
remetem a interesses diferentes. Eu sempre artes plásticas como a pintura e a gravura, faz
me interessei pela figuração, por representar com que utilize elementos do desenho erudito
a figura humana protagonizando suas histórias, proveniente das artes, e não das redações
daí o posterior interesse pela ilustração. de jornal ou das agências de publicidade,
onde muita gente tem se formado, mas cujo
Dentro da figuração existe abstração: quando esquema acaba sendo um esquema de linha
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P A R A :
ampliamos um detalhe qualquer de uma de montagem.
pintura figurativa, conseguiremos vizualizar
quadros abstratos ou não-figurativos, e tento É difícil fugir ao automatismo trabalhando
trabalhar o elemento figurativo de maneira dentro de uma redação ou numa agência
que não deixe de representar o que quero de publicidade.
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E GRANDE PARTE DOS SEUS TRABALHOS A cor dispensa os volumes e o desenho
SÃO APENAS EM PRETO E BRANCO. demasiadamente construído. A cor é
ACHA QUE UMA ARTE EM PRETO E essencialmente luz. Os temas muitas vezes
BRANCO POSSA SER MAIS EXPRESSIVA? nos determinam a coloração das composições.

O preto e branco e a cor são dois caminhos Nos trabalhos que fiz para MPB e capas de
diferentes. O desenho em preto e branco está disco, a cor era muito importante porque
sujeito, na maior parte dos casos, quase que a temática se referia à música do carnaval
exclusivamente à forma. e aos compositores do samba. Outros temas,
ligados à problemática social urbana, guerras
O desenho em preto e branco se presta ao etc. creio que exigem o preto e branco.
claro-escuro e ao modelado de volumes. A
luz, a sombra e a penumbra, os cinzas. Os Tanto a cor como o preto e branco são
climas provocados são dramáticos, austeros, altamente expressivos, se estiverem de
lacônicos. acordo com o tema ilustrado. Exemplos:
um fuzilamento de Goya só pode ser em preto
Essa me parece ser a expressividade do preto e branco. Um campo florido e uma moça com
e branco. E o realce na descrição da forma. sombrinha, de Monet, só pode ser de cor plena.

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MUITOS ILUSTRADORES CONSIDERAM ou é um burocrata que bate cartão e faz
A ILUSTRAÇÃO UM TRABALHO o que mandam fazer, à espera da hora da
APENAS COMERCIAL, MAS VOCÊ saída. Então o cara que acha que a ilustração
JÁ AFIRMOU QUE A ILUSTRAÇÃO é apenas um ganha-pão não é um artista,
CUMPRE UMA FUNÇÃO SOCIAL. é um comerciário que trata de serviços
COMO SE DARIA ISSO? onde se utiliza a ilustração.
Poderíamos comparar o ilustrador free-lancer
ao ator não contratado. Muitas vezes me Mesmo sendo um pequeno profissional
perguntei de que vivem os atores quando autônomo, ele faz parte do ramo da
não estão trabalhando para telenovelas, publicidade comercial e não da arte
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que são as únicas que pagam, porque da ilustração.
ninguém vive de fazer teatro. Os atores vão
fazer publicidade, vão vender apartamentos. Eu acho que, quando um artista tem
uma preocupação social com respeito ao
Quem ontem interpretava um clássico, hoje seu trabalho, deve evitar ao máximo a
está vendendo três quartos e varandão. A aproximação da ilustração comercial e colocar
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P A R A :
pessoa precisa viver, e vai se malograr por a sua ilustração a serviço de temas políticos,
uns trocados, que tampouco vão resolver culturais ou educacionais, que possam ser
a sua situação, fazendo gingle ou anúncio úteis às pessoas, e não vender um quadro
de supermercado. para quem tem dinheiro, para a
contemplação privada.
O teatro que estudou, os sonhos de
interpretar, de “ser” ator, vão pro lixo, vi Democratizar a imagem ilustrando temas
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atores e artistas plásticos passarem por que tragam cultura, e não vender objetos.
esta ignóbil situação de acabar na indigência
ou na pobreza total. O ilustrador cumpre uma função social,
quando o seu trabalho chega nas pessoas e
A mesma coisa podemos falar do ilustrador: provoca uma reflexão; o oposto de toda essa
ou se considera artista, porque a ilustração orgia de impactos e negócios em que
(é uma vergonha ter que lembrar) é uma arte, se transformaram os meios.
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PORTANTO, DEPENDENDO DE COMO
FOR USADA, A ILUSTRAÇÃO PODE TER, Nesse momento o ilustrador começa a ser
DE UMA CERTA FORMA, UM PAPEL visto como “artista plástico”. Eu acho que esta
TAMBÉM POLÍTICO? “confusão” vem do fato de o ilustrador não ser
nem chargista nem caricaturista, dois gêneros
Eu creio que a intenção da editora e do próprio tradicionais da imprensa escrita.
veículo onde é publicada determina a eficácia
da ilustração de intenção política, não somente Fora do desenho humorístico, é difícil
pela sua qualidade como desenho. conseguir espaço fixo de ilustração na
imprensa comercial, por sinal a única que tem.
L U I S

L U I S
Se está integrado ou não no conjunto, numa
publicação dedicada a crítica da temática Os nanicos não existem mais. A tendência é
social. Se repete os vícios da imprensa a de associar a ilustração à literatura, ao livro
comercial ou reivindica uma linguagem ou à revista ilustrada. Objetos de manuseio
não regida por regras do mercado. da classe média alta (um livro custa quase
100 reais), uma revista ilustrada, mais de
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P A R A :
A ilustração de comentário político não 10 reais. As pessoas olham jornal na banca,
precisa necessariamente estar publicada num contam moedas para viajar no ônibus, ou
veículo político partidário para ser notada deixam parte da compra do supermercado
ou apreciada pelo leitor. A ilustração política em cima do balcão etc.
é uma ilustração opinativa, e é também um
gênero - hoje um pouco fora de contexto, E esta é outra contradição que se apresenta
de acordo com os nihilismos da moda... quando reivindico uma qualidade quase
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P E R G U N T A S
luxuosa (se comparando) para o trabalho
Um exemplo da prática deste gênero é o publicado... Opinião, Versus e Pasquim
ilustrador norte-americano Brad Holland, foram jornais da imprensa alternativa que
publicado regularmente durante anos pelo utilizaram principalmente desenhos em lugar
jornal New York Time, que caracterizou o de fotografias. A fotografia era publicada
seu desenho como ilustração de comentário esporadicamente.
político com espaço fixo na página. Espaço
fixo de ilustração, não de retrato ou charge. Ou seja, existia uma proposta que sempre
foi muito alimentada pelo mestre Jaguar, de
Este hábito de criar um espaço fixo para uma imprensa muito grafitada e desenhada,
o ilustrador é incomum nas publicações politizadíssima e divertida. Publiquei muitas
brasileiras de notícias e variedades, ficando ilustrações políticas em parceria com textos
um ínfimo espaço para a ilustração autoral de Newton Carlos e Luis Carlos Maciel no
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de comentário político, nas raras páginas período final do Pasquim. O panorama hoje
ilustradas sobre estes temas. é bem pobre nesse sentido.

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E VOCÊ TEM UM FORTE INTERESSE

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PELA POLÍTICA E PELOS E COMO TENTOU EXPRESSAR ESSA
MOVIMENTOS SOCIAIS, NÃO? FASE NOS SEUS TRABALHOS?

A política está em tudo que fazemos. O Existe uma frase de um poema de Bertolt
momento que eu vivi, na Argentina e, Brecht que diz:
posteriormente, no Brasil, foi bastante - “... se cantará nos tempos difíceis?
determinado pela atuação política, “fazer Sempre se cantará nos tempos difíceis!”
política”. Atuar politicamente. Participar.

Todo o mal acometido contra os povos


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dos países da América do Sul nos anos 70 foi CHEGOU A SOFRER ALGUM TIPO DE
demasiado traumático para todo o mundo. VOCÊ TRABALHOU COMO ILUSTRADOR CENSURA OU PRESSÃO POR ISSO?
E ARTISTA DURANTE O PERÍODO DOS
A única atitude que nós, artistas, podemos “ANOS DE CHUMBO”, ÉPOCA MAIS A partir do AI-5, a censura se instalou
assumir perante toda essa monstruosidade, DURA DAS DITADURAS MILITARES NA em todos os meios de comunicação,
que aconteceu e continua acontecendo na principalmente na imprensa escrita e na
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ARGENTINA E NO BRASIL. COMO O
frente dos nossos olhos, é a solidariedade CONTEXTO POLÍTICO DESSE PERÍODO televisão, dois importantes formadores
à “não-cumplicidade perante a violência INFLUENCIOU O SEU TRABALHO? de opinião. Qualquer pessoa que estivesse
dos fatos”. trabalhando nos veículos da imprensa
Quando saí da Argentina, em 68, o governo comercial, recebendo ou transmitindo qualquer
Neste ponto, eu formulo a ilustração política era manejado por militares. Depois de uns tipo de informação, podia ser alvo da censura.
como um exercício de opinião, reflexão e meses trabalhando em São Paulo, contratado
resistência... Isto vai junto com a gente pela revista Veja, voltei para a Argentina No caso da imprensa alternativa era mais
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sem o percebermos. e fiquei todo o ano de 69 desenhando para duro por causa da “natureza” das publicações,
“7 Dias Ilustrados” e “Panorama”, dois principalmente o tablóide “Opinião”, jornal
semanários ilustrados, publicados pela de crítica política e firme opositor ao governo
editora Abril de Buenos Aires. militar, um dos alvos mais visados da censura.

Dois editores de destaque da revista


“Panorama” naquele momento foram: o poeta
Juan Gelman, Militante Montonero, que teve
seu filho e a nora “desaparecidos”, a quem
ilustrei recentemente numa extensa série
intitulada “Diário” – desenhos de Luis Trimano
/ e 5 poemas de Juan Gelman”, exposta
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em 2006 e 2009, em duas galerias do Rio;
e o escritor Tomás Eloy Martínez, falecido
recentemente, que ficou conhecido no Brasil
por um livro seu, que leva por título “Santa
Evita”, um relato das peripécias necrófilas
que envolveram o cadáver empalhado
de Eva Perón, durante os anos da ditadura
militar denominados “El processo”.

Ambos escreveram no exílio, contando as


histórias dos “tempos terríveis”, semelhantes
em ideologia e métodos ao nazi-fascismo,
vividos na Argentina no período.

Eu tive conhecimento durante todos esses


anos, em São Paulo e posteriormente no Rio
de Janeiro, dos horrores que aconteceram.
Todo esse contexto determinou o “estado
de espírito” em que as pessoas viveriam por
muitos anos, com o pensamento fixo: “neste
momento pode estar acontecendo...”.

A violência máxima que procurei no grafismo


desses anos foram, sem dúvida, uma resposta
às vivências “de chumbo” que as pessoas
tiveram que sofrer.

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VOCÊ SE CONSIDERA UM Eu penso que quase toda a arte figurativa
ILUSTRADOR QUE CIRCULA PELAS anterior ao Abstracionismo, vista de hoje,
ARTES PLÁSTICAS OU UM ARTISTA é ilustração.
PLÁSTICO QUE TAMBÉM ILUSTRA?
O Renascimento é ilustração, a “Capela
Um artista plástico que ilustra. O ilustrador Sistina” é uma extraordinária ilustração
que trabalha com figuração deve ser artista pintada numa superfície mural gigantesca,
plástico, do contrário não pode ser ilustrador. mas publicada em livro junto a um texto,
é uma ilustração. Da mesma forma que
Não terá a prática com as técnicas, nem o “Guernica” de Picasso, editado em livro junto
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conhecimento do corpo humano, nem saberá a um texto alusivo, é uma ilustração.
como se desenham roupas e objetos. Não
saberá relatar uma história com desenhos. Eu acho que a ilustração é o que em outras
profissões se denominaria de “especialização”,
Eu acho que o computador “aleijou” o homem mas, para se especializar, precisa estudar
nesse sentido. Hoje me parece muito difícil as matérias da profissão. Depois de um
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que as pessoas se sentem para desenhar certo tempo ilustrando, as duas disciplinas
como no tempo anterior à era eletrônica, se misturam de tal forma dentro da gente,
e tampouco vão prescindir dela. que passamos a não senti-las mais.
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E COMO VÊ O ATUAL MERCADO plástico que transita pela ilustração. Neste
DE TRABALHO? momento estou acabando de ilustrar um livro
grande de Pablo Neruda: “Canto Geral”, uma
A imprensa alternativa, politizada, culta, história da conquista espanhola das Índias,
participativa e completamente livre de vínculos em versos.
com o lucro, na qual trabalhei muito no início
dos anos 70, não existe mais. Este trabalho deve ser exposto ainda este
ano no MNBA do Rio de Janeiro e logo estarei
Mas a ideia dos projetos alternativos, que começando as ilustrações do “Diário Íntimo”
me acompanha desde que era adolescente, subtitulado “Retalhos”, de Lima Barreto, com
principalmente nos poemas ilustrados, é cíclica edição programada para 2011, que será
e se renova com as mudanças dos tempos. acompanhada de exposição alusiva ao
Não enxergo, neste momento, possibilidade escritor, e na qual serão mostrados os originais
de mercado para o meu trabalho na imprensa das ilustrações realizadas para os “Retalhos”
comercial. Eu radicalizei a minha proposta e para o romance “Recordações do Escrivão
sobre o que quero fazer da ilustração. Isaías Caminha”, do mesmo autor.

Quem sabe, como você formulou numa Ambos os projetos autônomos, aparentados
pergunta anterior, eu volte a ser, como foram com a literatura crítica e a poesia. Resistindo
os artistas que me influenciaram, um artista de costas ao mercado.

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ENVIO DE ARQUIVOS PESADOS

P O R Q U E A B E L E Z A I M P O R TA ?
O canal de TV BBC de Londres
produziu um documentário muito Com o rápido desenvolvimento da
interessante com o título “Why internet e a melhoria da banda larga,
Beauty Matters” (Por que a Beleza cada vez mais aparecem serviços que
Importa?), onde o filósofo Roger antes eram inimagináveis.
Scruton questiona vários aspectos
da arte moderna, através de Recentemente foi lançado mais um

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um ponto de vista que nos faz desses serviços: o Wetransfer, serviço
repensar o que tem sido produzido de envio de arquivos de até 2Gb
atualmente nas artes plásticas. (sim, dois gigabytes) de graça
(sim, de graça).
São seis episódios que estão no
YouTube (no canto superior à É como se fosse um super e-mail com
direita da janela), e vale a pena ver capacidade descomunal para anexar
todos eles, para depois tirar suas documentos, e extremamente simples
conclusões:
de se utilizar: basta colocar seu e-mail,
o e-mail do destinatário, anexar o
http://tinyurl.com/3763oab
arquivo e... PLIM! A mágica está feita.

E de tabela ainda vai curtindo umas


imagens de fundo que são show!

www.wetransfer.com

HARD DISK VIRTUAL

Precisa de espaço extra para armazenar dados?


ESCULTURAS COM PLÁSTICO USADO Precisa transportar dados de um lado para
outro e não quer ficar carregando um monte
de equipamento? Quer fazer um backup seguro
Sabe aquelas esculturas e ter acesso em qualquer ponto do planeta?
feitas com lixo e restos E tudo isso de graça?
de objetos?
Não se aflija, companheiro, agora tem Dropbox,
Pois bem, Sayaka Kajita um sistema simples de armazenamento de
Ganz, artista japonesa dados on line, que pode ser acessado por
que mora nos EUA, tem qualquer aparelho com conexão à internet.
um trabalho sensacional
utilizando na sua maioria A versão mais básica é de graça, são 2Gb
plástico e metal velho, disponíveis, e os dois níveis seguintes (50Gb
com um resultado incrível, e 100Gb) são pagos, mas uma ninharia, e
em especial nos plásticos: roda na maioria dos sistemas operacionais:

www.sayakaganz.com www.dropbox.com

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• GUIA DO ILUSTRADOR - Guia de Orientação Profissional
www.guiadoilustrador.com.br

• ILUSTRAGRUPO - Fórum de Ilustradores do Brasil


http://br.groups.yahoo.com/group/ilustragrupo

• SIB - Sociedade dos Ilustradores do Brasil


www.sib.org.br

• ACB / HQMIX - Associação dos Cartunistas do Brasil / Troféu HQMIX


www.hqmix.com.br

• UNIC - União Nacional dos Ilustradores Científicos


http://ilustracaocientifica.multiply.com

• ABIPRO - Associação Brasileira dos Ilustradores Profissionais


http://abipro.org

• AEILIJ - Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil


www.aeilij.org.br

• ADG / Brasil - Associação dos Designers Gráficos / Brasil


www.adg.org.br

• ABRAWEB - Associação Brasileira de Web Designers


www.abraweb.com.br

• CCSP - Clube de Criação de São Paulo


Aqui encontrará o contato da maior parte das agências de publicidade
de São Paulo, além de muita notícia sobre publicidade:
www.ccsp.com.br

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