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Aline Rangel Diniz

Mestrado Profissional | IAG PUC-Rio


Prof.ª Alessandra Costa – Organizações Contemporâneas | RESPOSTAS DA PROVA
RJ, 17/04/2019

QUESTÃO 1:

a) Segundo Nonaka, a criação de conhecimento é composta por um processo em que as organizações: adquirem,
organizam e processam informações, com o objetivo de produzir outros novos conhecimentos a partir dessas
etapas. Quem cria esses novos conhecimentos é o indivíduo e não a organização, mas a partir do momento em
que essa informação não é transmitida à organização, de maneira a manter-se somente dentro da esfera
individual, ela se dissipará.
Na gestão do conhecimento, a teoria de Nonaka está consolidada a partir do momento em que expõe a criação do
conhecimento organizacional de maneira estruturada e em detalhes. Tal teoria baseia-se na existência de dois
tipos de conhecimento: o explícito, representado por um tipo de conhecimento formal e sistemático, que pode ser
registrado em papel, expresso em forma de palavras, explicações palpáveis, teorias, frases ou desenhos e, por
isso, pode ser comunicado e compartilhado facilmente; e o tácito, um tipo de conhecimento mais informal,
associado às experiências únicas do indivíduo, ao repertório de vida (pessoal e profissional) de cada um, aos
sentidos, às percepções, convicções e perspectivas, à capacidade singular de expressão corporal e, por ser tão
íntimo e pessoal, trata-se de um tipo de conhecimento de difícil tradução e compartilhamento para o outro.
Na teoria da criação do conhecimento de Nonaka, não existe uma visão estática em que esse processo seja
dividido em partes e que cada atividade seja realizada individual e separadamente, sem interação com outras
atividades da organização, e onde não há necessidade do entendimento do todo, revelando uma relação de
interdependência entre organização e pessoas. Para ele, a organização é um sistema complexo e dinâmico que
interage com seus membros e com o ambiente. Diferentemente das organizações ocidentais, que têm uma visão
da empresa somente como uma máquina processadora de informações enxergando apenas o conhecimento
explícito, as empresas japonesas, por sua vez, apesar de reconhecerem o conhecimento explícito, o veem mais
como conhecimento tácito, pessoal, enraizado nas experiências singulares do indivíduo (levando em conta suas
emoções, seus valores, princípios e ideais, insights, palpites e intuições).
b) Nessa passagem sobre gestão da ignorância, inclui o que uma pessoa sabe que ela não sabe (ignorância
assumida), o que essa pessoa não sabe que ela sabe (conhecimento tácito) e o que essa pessoa não sabe que ela
não sabe (falsas certezas).
Uma organização que não desassocia a gestão da ignorância da gestão do conhecimento atinge um nível superior
de efetividade. Três benefícios para uma organização provenientes de uma boa gestão da ignorância estão
listados abaixo:

- A incerteza ou ignorância (através da redefinição e reinterpretação de variáveis conhecidas e da descoberta de


variáveis desconhecidas ou de novos aspectos antes não existentes/considerados) inicia o processo de busca por
novos conhecimentos. À medida que é criado o conhecimento sobre determinado assunto, novas perguntas vão
surgindo. A ignorância sobre essas novas interrogações leva a investigações adicionais, produzindo um novo
conhecimento. Ignorância e conhecimento co-evoluem e co-existem. Eles dão vida um ao outro na medida em
que surgem novos processos de definição e solução de problemas.

- Diante do estado de ignorância e incerteza para o estado de conhecimento, o indivíduo inicia o processo pela
necessidade de informação (receptiva) para uma postura (ativa) de resolução de problemas, utilizando
estratégias para escolha e seleção, sendo o critério de escolhas influenciado por fatores ambientais, pela sua

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experiência e repertório, interesses, capacidade de avaliar e validar informação e dados, estratégias de
formulação de problemas, perguntas e respostas.

- A gestão do conhecimento e da ignorância somente ocorrerá com sucesso em organizações cujos indivíduos
estejam habilitados a obter informações, produzir, externalizar, adquirir, internalizar e socializar conhecimentos,
gerando desse modo uma cultura de criatividade inovadora através da aprendizagem contínua e
capacidade de reinterpretar informações, para a criação de novos produtos, bens, serviços ou tecnologias,
por meio da visão compartilhada.

QUESTÃO 3:

O texto de Philippe Zarifian apresenta o quão difícil é a questão da comunicação na empresa, partindo de duas
pressuposições: diferentes e contraditórias formas de comunicação e instrumentalização da comunicação como
modo coercitivo. O autor faz um percurso histórico e nele trata da ideia de “comunicação zero”, herança do
taylorismo, no qual a comunicação era um empecilho ao cumprimento do papel do operário, que era o de
produzir.
Apresentando uma reflexão moderna, contemporânea, o autor trata da comunicação como algo além da
realização de um direito, mas como uma necessidade. Trata-se do processo de subjetivação do indivíduo que
toma iniciativas, age pela própria consciência, usufrui da fala fazendo com que, através do ato da linguagem, os
conhecimentos se operem.
Chegamos assim à comunicação autêntica definida como “um processo pelo qual se instaura uma compreensão
recíproca e se forma um sentido compartilhado, resultando em um entendimento sobre as ações que os sujeitos
envolvidos são levados a assumir juntos ou de maneira convergente”. A integração, pela empresa, da
comunicação autêntica, deve ser associada, por confrontação à reflexão e definição da política da empresa, e
integrada, pela comunicação gerencial, em suas missões e práticas.
A ação da comunicação autêntica dentro da empresa visa de modo prioritário o estabelecimento da vivência da
subjetividade dos indivíduos que a compõem que, por sua vez, objetiva a emergência da questão do serviço.
Neste sentido, a própria comunicação autêntica, utilizada no gerenciamento da empresa, permite a manutenção
de espaços onde o trabalhador exerce sua maneira de pensar e agir, garantindo também, nesse processo, a
manutenção dos objetivos da empresa.
No artigo de Silva Neto, um outro tipo de comunicação é abordada, mas que muito tem a ver com a comunicação
autêntica de Zarifian: trata-se da comunicação corporativa. Esta tornou-se uma área indispensável dentro das
organizações, principalmente quando se fala em gerenciamento de crise. A ausência de estratégia nesse segmento
pode destruir a reputação e a imagem da empresa. Foi o caso da Vale, retratado em “A Onda”, de Consuelo
Dieguez, em que “apesar dos apelos de sua assessoria de imprensa para que desse alguma satisfação à sociedade
após a tragédia de Mariana (MG), o presidente da Vale, Murilo Ferreira, se manteve em silêncio. Achava que era
hora ‘de trabalhar para ajudar as vítimas, e não de falar’. (...) A Vale em todo o tempo tentou se descolar do
desastre, colocando a culpa na controladora australiana da Samarco. (...) Desde o dia em que tudo aconteceu,
deu-se um jogo de empurra-empurra entre diversos órgãos públicos e empresas, um querendo atribuir ao outro a
responsabilidade pelo ocorrido.”
Não seria mais honesta uma comunicação clara, honesta e limpa com todos os seus stakeholders? Nesse caso, a
comunicação corporativa estratégica ajuda a organização a construir uma reputação favorável. Ações que
reflitam empatia e comprometimento tendem a ser mais bem recebidas pelo público. Uma coletiva de imprensa
através de porta-vozes oficiais da Vale denotaria um mínimo de ética, credibilidade e coerência ao tentar
minimizar os danos causados, ao menos desculpando-se e dando uma explicação à sociedade pela
irresponsabilidade assumida.
Dois desafios da comunicação autêntica nas organizações nos dias de hoje:

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1. Superar a alienação herdada do taylorismo onde havia a privação da palavra legítima, e que ainda se faz
presente hoje, de acordo com o autor, nos centros de chamadas telefônicas (call centers), através dos quais os(as)
atendentes não exprimem sua própria linguagem, mas uma linguagem padronizada, restrita, automatizada.
2. Desmistificar nas empresas a comunicação como um instrumento do exercício de um poder de coerção
sobre os trabalhadores (na medida em que a empresa incorpora relações de subordinação e formas hierárquicas
de tendem, constantemente, a instrumentalizar a comunicação).

Dois benefícios da comunicação autêntica nas organizações nos dias de hoje:


1. Através da comunicação autêntica, o cliente, a quem se destina a produção e a atividade-fim de toda
empresa, é compreendido, sendo consideradas as singularidades de cada um e as influências culturais que regem
o plano social;
2. Com uma comunicação autêntica, os desafios da empresa são refletidos pelos profissionais onde o
envolvimento subjetivo garante uma eficiência produtiva. A subjetividade, constituída a partir desse processo de
comunicação revela, de fato, a importância de sua aplicação, de sua garantia, de sua ação que contribuirá com o
crescimento pessoal de empregados e coletivo de empresas que veem nessa prática o caminho para a solução de
seus problemas, superação de seus desafios e projeção de suas expectativas.

QUESTÃO 5:
A importância dos empreendedores internos faz diferença no fomento à inovação e contribui para a
competitividade da empresa. Para uma organização se manter no auge no mercado, é necessário que haja
diferenciação contínua, por meio de produtos ou serviços inovadores.
O empreendedor é a figura detentora da missão de inovar, que chega a novos caminhos, resultando em um novo
produto, em um novo mercado ou em um novo modelo de gestão.
No entanto, sabe-se que a realidade da maioria das empresas não estimula e não incentiva esse comportamento
(pautado em uma relação horizontal de empregador-empregado), quando, na verdade, o modelo mais
disseminado de relação é vertical, sempre de cima para baixo (do topo da pirâmide para a base operacional, nível
que normalmente melhor conhece os problemas da empresa, podendo sugerir excelentes soluções).
Os funcionários de todos os níveis têm de sentir, por meio de exemplos de seus gestores, que todas as ideias são
bem-vindas, comsideradas e, de fato, levadas adiante. O clima de abertura a novas ideias, com proteção para o
caso de fracasso ou mesmo inviabilidade, é fundamental para a construção de confiança entre o empreendedor e
a empresa.
Se a empresa quiser ser competitiva nos tempos de hoje, ela terá de descobrir formas de reconhecimento
legítimas para seus empreendedores. Seria uma maneira eficiente de estimular o surgimento de ideias inovadoras.
Mas até que a mentalidade das organizações mude para uma cultura de inovação, os proponentes de novas ideias
precisarão vencer muitos desafios, dois deles são:
- A existência de uma postura empreendedora na empresa interfere na estrutura de poder, no status quo, na zona
de conforto das pessoas e da organização e, por isso, é alvo de intensa resistência, principalmente quando a
cultura organizacional não apóia o surgimento de novas ideias;
- Em uma cultura organizacional com alto nível de distância de poder, membros do topo da hierarquia de
comando apresentam dificuldade em aceitar que boas/novas ideias sejam originadas na base (preconceito).
Uma das vantagens do empreendedorismo corporativo é fomentar a competitividade e uma cultura de inovação
nas empresas. Dois benefícios principais quando há esse estímulo são:
- Empreender internamente traz vantagens tanto para o empreendedor quanto para a empresa. A intensificação da
concorrência aliada ao aumento da exigência dos consumidores e os cada vez menores ciclos de vida dos
produtos, têm tornado bastante difícil a introdução de novos produtos no mercado. Nesse contexto, empreender
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internamente é uma opção valiosa, na medida em que a empresa tem condições de oferecer ao empreendedor
toda sua variedade de recursos – humanos, financeiros e técnicos, além de uma marca conhecida – e, dessa
forma, criar um ambiente altamente propício à elaboração de novas ideias, seja em forma de novos produtos ou
novas soluções para problemas internos ou de seus clientes;
- Outro benefício é que a inovação acaba se espalhando para as diversas áreas da organização. Se antes a
inovação ficava restrita à área de P&D, hoje a tendência é que ela se mescle com outras áreas – marketing,
produção e engenharia –, aumentando sua eficácia e, muito importante, reduzindo o tempo de introdução de
novos produtos no mercado.

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