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NOTAS EXPLICATIVAS SOBRE A BS8800

Francesco De Cicco
Diretor-Executivo do QSP

1) O Volume II do Manual sobre Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no


Trabalho traz, fundamentalmente, a íntegra da nova norma britânica BS 8800, a qual foi
traduzida para o português pela enga Ana Maria Iten, e por nós adaptada e ajustada à
terminologia utilizada no Brasil, na área de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Esta
publicação é, portanto, continuação da introdução ao tema, desenvolvida no Volume I do
Manual.

Pretende-se, na seqüência, editar outros volumes do Manual, a fim de fornecer aos


profissionais da área e às empresas em geral novas orientações sobre a implementação
eficaz de Sistemas de Gestão da SST que, certamente, muito contribuirá para a redução de
acidentes e doenças ocupacionais em nosso País.

2) Conforme a nós explicado pelo Sr. Allan Cawkwell, secretário do comitê que elaborou a
norma britânica, foi alterada, de forma proposital, a numeração inicialmente prevista para essa
norma, de BS 8750 para BS 8800, para evitar eventuais confusões entre um guia de diretrizes
(como é o caso da BS 8800) e uma norma certificável (como as BS 5750 e 7750).

O quadro a seguir resume a situação atual das normas certificáveis e não-


certificáveis para os Sistemas de Gestão da Qualidade, Gestão Ambiental e da Segurança e
Saúde no Trabalho.

NORMAS VOLUNTÁRIAS SOBRE SISTEMAS DE GESTÃO


Características:
 Não definem padrões de desempenho.
 Requisito mínimo: as organizações devem atender a legislação pertinente.
 
NORMAS CERTIFICÁVEIS NORMAS NÃO-CERTIFICÁVEIS
| |
\/ \/
ESPECIFICAÇÃO DIRETRIZES
| |
\/ \/
ISO 9004-1 e 2 etc
ISO 9001/9002/9003
ISO 14004
ISO 14001
BS 8800 (ex-BS 8750)

3) A nova norma britânica BS 8800, sobre Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no


Trabalho, levou cerca de 15 meses para ser discutida e aprovada oficialmente; ela entrou em
vigor no dia 15 de maio de 1996.
Todo esse tempo foi necessário para que o produto final fosse, de fato, um compromisso que
satisfizesse as aspirações dos empresários, trabalhadores, profissionais de Segurança e
Saúde, órgãos regulamentadores, seguradores, entre outros.

A BS 8800 é uma guia de diretrizes bastante genérico que se aplica tanto a indústrias
complexas, de grande porte e altos riscos, como a organizações de pequeno porte e baixos
riscos. Os pontos-chave que atendem as necessidades de todas as partes interessadas são
que a BS 8800 auxilia a:

 minimizar os riscos para os trabalhadores e outros;


 melhorar o desempenho dos negócios;
 estabelecer uma imagem responsável das organizações perante o mercado.

Além disso, a BS 8800 é:

 simples, de fácil leitura e sem jargões;


 aplicável a qualquer organização, independentemente de seu tamanho ou natureza do
negócio;
 compatível com as Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho;
 complementar a outros Sistemas de Gestão existentes e, idealmente, integrável às ISO
9001 e ISO 14001.

4) No desenvolvimento da BS 8800, não havia modelos pré-estabelecidos para o Sistema de


Gestão da SST. Entretanto, o comitê britânico responsável pela elaboração da norma, a fim
de obter o consenso das partes envolvidas, desenvolveu duas abordagens para a utilização
do guia: uma, baseada no HSE guidance - Successful Health and Safety Management -
HS(G)65 (já adotada amplamente por várias indústrias do Reino Unido), e outra, baseada na
ISO 14001 sobre Sistemas de Gestão Ambiental. A orientação apresentada em cada
abordagem é essencialmente a mesma, sendo a única diferença significativa a ordem de
apresentação.

A abordagem que escolhemos para ser apresentada neste Manual está baseada na ISO
14001, por ser ela uma norma internacional.

5) Como a BS 8800 pode ser melhor utilizada?

A resposta a essa pergunta depende da organização, de seu tamanho, da natureza de seu


negócio, de sua complexidade e sofisticação em relação ao seu atual Sistema de Gestão da
SST.

Para organizações sem nenhum sistema implantado (ou pouco implantado), recomenda-se a
realização de uma análise crítica inicial da situação. Com isso, pretende-se que elas saibam o
que deveriam estar fazendo, onde se encontram atualmente, e o que precisam fazer
imediatamente para identificar perigos e para avaliar, priorizar e controlar riscos. Se não
houver um Sistema de Gestão da SST adequado, é essencial que a organização comece a
controlar, no curto prazo, seus riscos maiores, e a utilizar a parte central da BS 8800 para
refinar seus controles e melhorar continuamente, no longo prazo, o desempenho da
Segurança e Saúde, baseando-se no monitoramento pró-ativo sugerido no guia.

A parte central da BS 8800 dá o contorno de todos os elementos-chave de um Sistema de


Gestão da SST. Os detalhes, nessa parte do guia, são insuficientes por si sós para permitir a
uma empresa principiante implementar seu Sistema de Gestão. Ela fornece a estrutura - diz o
que fazer, ao passo que os anexos da norma fornecem os detalhes sobre como implementar
os vários elementos do sistema - diz como fazer.

O enfoque da BS 8800 é simples e não está carregado de jargões ou conceitos complexos


sobre Segurança e Saúde. É reconhecido, entretanto, que os especialistas dessa área podem
ter um papel de apoio importante para direcionar certas questões.

Para organizações mais sofisticadas ou que já tenham um sistema implantado, a parte central
da BS 8800 deve ser-lhes mais útil, podendo então o guia ser utilizado como um checklist,
para apontar eventuais deficiências existentes em seu Sistema de Gestão da SST.

Os modelos que a BS 8800 fornece permite às empresas estruturar seu sistema de SST de
tal forma que ele possa ser convenientemente "acoplado" aos Sistemas de Gestão da
Qualidade e de Gestão Ambiental.

6) A introdução do guia reconhece o custo para as organizações das práticas deficientes de


Segurança e Saúde, e reforça a necessidade de que sejam devidamente consideradas as
diversas partes interessadas no desempenho da empresa, incluindo:

 funcionários;
 contratantes;
 consumidores/clientes/fornecedores;
 órgãos regulamentadores e fiscalizadores;
 a comunidade;
 acionistas;
 seguradores.

As primeiras quatro seções da norma cobrem: escopo, referências informativas, definições e


os elementos essenciais do sistema. São seções curtas e simples.

Os elementos essenciais do Sistema de Gestão da SST compreendem:

Análise Crítica Inicial da Situação

Como já mencionamos, essa etapa-chave é, via de regra, para organizações que ainda não
tenham estruturado adequadamente seu sistema. O objetivo aqui é analisar criticamente as
ações que a empresa desenvolve e a adequação das mesmas em relação a:

 requisitos da legislação de SST pertinente;


 orientações já existentes na organização;
 melhores práticas e desempenho do setor da empresa;
 eficiência e eficácia dos recursos existentes.

Política de SST

O comitê de elaboração da BS 8800 dispendeu muito tempo nessa seção, para identificar as
características-chave e as palavras mais apropriadas, e obter o consenso entre os
participantes. O resultado foi a produção de 9 características que devem estar evidentes em
uma política consistente de SST:

 reconhecimento de que a SST é parte integrante do desempenho dos negócios;


 comprometimento com um alto nível de desempenho e melhoria do custo-eficácia;
 fornecimento de recursos adequados e apropriados;
 estabelecimento e publicação dos objetivos;
 colocação clara da gestão da SST como responsabilidade dos gerentes de linha;
 comprometimento para que a política seja entendida e implementada;
 envolvimento e consulta aos funcionários;
 comprometimento com análises críticas periódicas (pela administração);
 compromisso de que todos os funcionários recebem treinamento apropriado.

Organização

A maior parte do conteúdo da BS 8800 está em seus anexos. Diretrizes são dadas sobre as
responsabilidades individuais e sobre a necessidade de:

 ter acesso ou ter competência suficiente em relação à SST;


 definir a alocação de responsabilidades, inclusive financeira;
 assegurar que as pessoas tenham a autoridade necessária para cumprir suas
responsabilidades;
 alocar recursos adequados;
 identificar as competências necessárias e organizar os treinamentos pertinentes;
 tomar providências para uma comunicação eficaz;
 adotar medidas para obter o aconselhamento de especialistas em SST;
 tomar providências eficazes para o envolvimento dos funcionários.

Planejamento e Implementação

O guia indica a necessidade de planejar e mensurar os elementos mostrados na figura da


página 19. As atividades previstas incluem:

 plano global e objetivos que atendam a política de SST;


 identificação de perigos e avaliação de riscos;
 plano operacional;
 plano de contingência;
 planejamento das atividades organizacionais;
 planejamento da mensuração do desempenho, auditorias etc;
 implementação de ações corretivas.

Mensuração do Desempenho

As principais recomendações desse item da BS 8800 são:

 estabelecer meios para a medição quantitativa e qualitativa do desempenho da SST;


 implementar medidas pró-ativas;
 implementar medidas reativas.

Auditoria e Análise Crítica

As seções finais do guia abordam os processos de auditoria e de análise crítica. A auditoria é


um exame sistemático para determinar se o sistema existente está em conformidade com
padrões e normas definidos. A análise crítica (pela administração) tem por objetivo avaliar se
o sistema está funcionando adequadamente, de acordo com as expectativas da organização
em relação ao desempenho da SST. Sua importância está em facilitar a adoção de medidas
pró-ativas e em assegurar que sejam convenientemente considerados e planejados os efeitos
de mudanças tecnológicas, da legislação, de métodos de trabalho etc.

7) Teremos uma "ISO 18000"?

Diversos países têm manifestado interesse para que a ISO - Organização Internacional para a
Normalização - desenvolva normas internacionais voluntárias sobre Sistemas de Gestão da
Segurança e Saúde no Trabalho (possível série "ISO 18000", ou qualquer outro número que
lhe for atribuído).

A fim de avaliar a necessidade de se elaborar tais normas, a ISO programou


um workshop internacional, em Genebra, Suíça. Diversos países, o Brasil inclusive, estão
realizando eventos preparatórios, com o objetivo de esclarecer e consolidar suas posições
sobre o assunto.

Em alguns países (como a Grã-Bretanha, que recentemente aprovou a BS 8800), as normas


sobre Sistemas de Gestão da SST já estão bem encaminhadas, o que, por outro lado, poderá
contribuir para a proliferação de normas mutuamente incompatíveis, refletindo uma possível
necessidade de normas internacionais globais.

Normas ISO sobre SST permitiriam encontrar soluções harmonizadas para a gestão da
prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, evitando assim que requisitos divergentes
possam emergir ao nível de países ou regiões. Algumas importantes economias
industrializadas estão aguardando o resultado desses workshops, antes de tomarem uma
decisão sobre a direção a seguir em relação à normalização nessa área.

As principais vantagens que têm sido apontadas para justificar a existência de normas
internacionais sobre SST são as seguintes:
 Uma norma que encoraje uma abordagem sistêmica sobre o tema pode melhorar o
desempenho na área de Segurança e Saúde no Trabalho;
 Uma norma internacional pode proporcionar uma base e uma linguagem comum para
os Sistemas de Gestão da SST, auxiliando as empresas a estabelecer uma plataforma
universal para tratar e comunicar as questões sobre o tema;
 Uma norma pode auxiliar as empresas a administrar os riscos e as responsabilidades
associadas às questões de SST;
 Uma norma pode se tornar um veículo de redução de custos na área de Segurança e
Saúde no Trabalho, evitando, por exemplo, danos, perdas e doenças, reduzindo assim
os custos de produção;
 Uma norma pode propiciar oportunidades para a implementação de abordagens
reguladoras (legais) mais flexíveis para as questões de Segurança e Saúde no
Trabalho, em todo o mundo;
 Uma norma sobre gerenciamento da SST consistente com as ISO 9000 e ISO 14000
pode promover uma abordagem integrada para as questões de qualidade, meio
ambiente, segurança e saúde.

É esperar para ver.

8) Perigo e Risco

Há quase 20 anos, temos traduzido os termos hazard e risk como risco,


e danger como perigo. Obviamente, cada um com seu respectivo significado, o qual, aliás,
coincide com as definições da BS 8800.

Entretanto, a fim de possibilitar aos leitores de nosso Manual um entendimento mais claro
desses termos, optamos por adotar a seguinte tradução:

hazard = perigo
    risk = risco

sem alterar, é claro, o significado e a conceituação que sempre defendemos (mesmo porque
na BS 8800 não é feita nenhuma referência ao termo danger).

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