Você está na página 1de 21

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO

ÁREA METROPOLITANA SUL

TÉCNICAS E PRÁTICAS MNEMÔNICAS NO ENSINO DA


LÍNGUA PORTUGUESA

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS

2012
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professor: ILDEMAR JORGE PETERS

Área PDE: Língua Portuguesa

NRE: Área Metropolitana Sul

Professora Orientadora IES: Professora Drª. CLÁUDIA MADRUGA CUNHA

IES Vinculada: UFPR

Escola de Implementação: Colégio Estadual Tiradentes – EFM

Município: São José dos Pinhais

Público objeto da Intervenção: Alunos dos 8ºs e 9ºs anos dos Ensino
Fundamental

Tipo de Produção Didático-Pedagógica: Artigo Científico

Título da Produção Didático-Pedagógica: Técnicas e práticas mnemônicas no


ensino da Língua Portuguesa
TÉCNICAS E PRÁTICAS MNEMÔNICAS NO ENSINO DA
LÍNGUA PORTUGUESA

O educador ao pensar na realização do processo educativo deve dar


ênfase ao aluno. É para o aluno que se dirige o fruto e o produto deste
trabalho. Mas, para que o interesse e a participação do aluno venham a ser
levado a efeito, se faz necessário oportunizar informações que coadunem com
seu interesse. Na tentativa de superar as limitações, que são parte do cotidiano
da sala de aula, foi pensado um projeto que facilitasse o duro caminho do
aprender dos alunos. A proposta é oferecer ao aluno condições para que ele
não utilize seu potencia de memória para apenas aprender por aprender, tal um
exercício que ele faça por obrigação. Pretende-se oportunizar que o aluno
exerça sua capacidade mnemônica para aprender a gostar de aprender e, com
este aprendizado, desenvolver habilidades que se dão quando guarda
informações e conteúdos necessários a sua formação.

Em se tratando de seres humanos, pode-se dizer que a cada minuto


que passa se aprende alguma coisa nova. Alguns teóricos irão dizer que a vida
se alarga e se mantém pela adaptação e pela aprendizagem. Essa lógica se
aplica a cada célula, tecido, órgão, ser humano, grupo social ou cultura.
Pesquisas recentes comprovam que, quando o indivíduo assimila novas
informações, seu cérebro se modifica. Esse processo contínuo mostra que
mesmo na idade adulta, tanto a substância cinzenta quanto a substância
branca aumentam, o que é uma novidade para os neurocientistas segundo,
LEAL. ( 2001, p. 03).

Aprender mais significa na prática docente e discente,


desenvolver um maior numero de habilidades para resolver questões e
problemas. Atualmente, superando todas as dificuldades, o Colégio Tiradentes,
que funciona como instituição educadora desde 1971, está presente na
comunidade da Borda do Campo e vem exercendo sua função social, dando
formação e conhecimento aos alunos que aqui estudam. Possui Ensino
Fundamental do quinto ao oitavo ano e Ensino Médio, do primeiro ao terceiro
ano; oferece, ainda, o Projeto Celem de Ensino de Língua Estrangeira –
Espanhol. A escola funciona nos três turnos.

Logo, ao observar o cotidiano da Escola Tiradentes, pode-se dizer que


é fundamental considerar que nesta intuição onde o aprendizado se dá em
vários níveis se faz uma ação educativa que visa o desenvolvimento social e,
não apenas, intelectual do aluno. Nesse ambiente se entende que o
conhecimento e a boa educação determinam a maneira como o indivíduo
percebe e vive o mundo. Como resolve problemas e aprende as novas
informações de modo critico e seletivo, fazendo deste conjunto, a base para
suas ações.

Possibilidades do uso da memória

No contexto desta escola pode-se dizer que é preciso considerar a


forma como o aluno capta estímulos e apropria-se de informações, associadas
ao seu contexto sociocultural, como características das suas experiências
pessoais, especialmente na disciplina de língua portuguesa. Por essa razão,
talvez uma das mais animadoras conclusões da neurociência, seja a de que
aprender pode e deve ser divertido. Para as crianças ouvir histórias, cantar,
brincar é fundamental, são ações que servem exercitar a criatividade,
experimentar possibilidades e, consequentemente, aprender!

Ler, praticar esportes, estudar idiomas, cultivar amizades, jogar


videogame, viajar, coloca o cérebro em estado de prontidão e ajuda-o a
assimilar novos conceitos e conteúdos. Concluindo, as células nervosas, os
músculos e até mesmo os mais sofisticados dos órgãos do corpo humano
possuem habilidades que podem ser fortalecidas e, com o cérebro não é
diferente, quanto mais o exercitarmos mais o fortalecido esse órgão fica.
(LEAL, 2001, p. 03).

Postas tais considerações pode-se dizer que este artigo centra seus
argumentos e discussão na procura incessante de métodos e práticas de
ensino, que se façam alternativas para que o aluno encontre prazer em
“guardar” informações. É prática comum entre os professores de Língua
Portuguesa e profissionais de outras áreas do aprendizado a preocupação em
melhorar a qualidade do ensino oferecido. Esta busca por estratégias
pedagógicas eficazes conduz a leituras e pesquisas que fazem parte do dia-a-
dia escolar, mas não se dão apenas nesse meio.

São vários os fatores que levam o aluno a ter desinteresse pelos livros,
pelo desenvolvimento correto da linguagem e pelo armazenamento de
conteúdos necessários a sua formação humana e critica. Logo, se pensou em
material didático-pedagógico que possa alterar esta situação ou pelo menos
minimizá-la. Para diversificar o processo de aprendizagem de conteúdos
necessárias a formação do estudante, em língua portuguesa, literatura, etc,
recorre-se a especialistas nas áreas cognitivas. Estas teorias dão suporte ao
trabalho realizado no Colégio Tiradentes e aos resultados que se obtém pelo
uso deste material.

No anseio de intervir de modo satisfatório no processo de aprendizagem


da língua materna dos alunos, tenta-se superar alguns obstáculos de origem o
sócio-cultural, barreiras que se impõem e interferem no desempenho do
educando. Estes estão, segundo Anderson: “diretamente relacionados às
alterações no desenvolvimento do aluno, leitura, e escrita em situações
diversas, envolvendo a percepção, atenção, linguagem e outros processos
mentais superiores indispensáveis ao aprendizado escolar” (Anderson, 2005.
p.11).

Mostra este autor que o reconhecimento de que alguns fatores são


obstáculos que intervêm na aprendizagem do educando, leva o professor a
alternar estratégias pedagógicas para melhorar a capacidade de memorização
dos mesmos. Para permitir que de forma gradual, se desenvolvam habilidades
que façam o aluno adquirir, consolidar, evocar, recordar, quando necessário, os
conteúdos e informações apreendidas, expondo-os de forma clara e concisa.
Os alunos matriculados no colégio são, na sua maioria, solitários,
carentes de afeição. Esta região possui a característica de abrigar grande
número de trabalhadores com funções diversas: diaristas, domésticas,
funcionários das montadoras de veículos que se instalaram próximas ao bairro,
e, muitas das vezes, ficam distantes de seus filhos e, consequentemente longe
das obrigações e atividades escolares dos mesmos.

Entretanto, não se pode dizer que estes pais sejam omissos no que
refere a sua participação na vida escolar dos alunos. Nas atividades escolares,
tais como: reuniões, entrega de boletins; e, nas atividades extra-escolares, e
nos eventos realizados pela escola, tais como: palestras, eventos festivos,
mutirão de trabalhos diversos, estes pais ou outros responsáveis como avós,
tios, vizinhos, em grande parte, se fazem presentes.

Este convívio fortalece o desenvolvimento emocional dos alunos e faz


da escola um ambiente que oportuniza o convívio da uma vizinhança. Quando
estimula a sociabilidade desse meio, o desenvolve e o incentiva, facilitando
relações que dão e firmeza ao caráter dos alunos, valores e responsabilidade
as suas atuais e futuras ações.

É comum nesta escola os professores, que trabalham com o oitavo e


nono anos, reclamarem que o aluno chega a este nível educacional sem saber
ler e escrever de modo satisfatório. Quando lêm é de modo precário, muitas
das vezes silabando, não conseguem entender o conteúdo lido; e, menos
ainda, lembrar o que leram, o que dificulta o aprender com a leitura. Os motivos
alegados pelos alunos são os mais variados, mas o mais comum é dizer que os
textos são desinteressantes, difíceis de serem entendidos.

Os pais tentam se redimir e procuram desculpar a falta do hábito da


leitura no ambiente familiar. A ausência de livros na casa, o excesso de horas
em frente a televisão ou dedicados ao computador, a falta de acompanhamento
constante que o oriente a realizar outras atividades, a ausência de projetos
comunitários que incentivem o lúdico e o esporte no bairro, faz que muitos
destes meninos e meninas passem boa parte do tempo livre do seu dia em
grupos, nas ruas ou nas esquinas. Com essa rotina pouco organizada e
orientada, esquecem realizar suas atividades escolares.

Doutra parte a presença da televisão, dos meios de comunicação, a


entrada cada vez maior do computador nos lares brasileiros, leva a todos a
necessidade de reconhecer a quantidade e a diversidade de informações que
atravessa o cotidiano dos alunos. Estas informações em excesso e recebidas
muitas vezes de forma acrítica, faz com que a escola tenha que reconhecer
que já não é por excelência o único lugar no qual os alunos aprendem. Esse
reconhecimento a conduz a reforçar seu papel formador e a realizar um
trabalho educativo que fortaleça a capacidade critica dos alunos.

Para tanto se faz necessária a aquisição da linguagem correta, ela é


peça fundamental para a promoção de uma racionalidade crítica que possibilite
a seleção e construção de si, dos sujeitos, através dos novos conhecimentos.
A formação deve oportunizar um saber que fortaleça a capacidade do diálogo
entre os grupos; permita o discernimento dos interesses do meio para um
acesso eletivo de bens materiais e culturais, aqueles que a sociedade tem
acumulado (Freire, 2001, p.12).

A memória tem uma predileção especial por informações , absurdas,


divertidas, grandiosas, coloridas e emocionantes. As informações lineares,
banais, inexpressivas, bem comportadas e em preto-e-branco, são em geral
rapidamente descartadas pela memória. Para contribuir com a formação crítica
e seletiva do aluno e, se entendendo que a aquisição da linguagem envolve a
ória e que esta precisa de treino e de prática, daí se pensou em atividades
onde os alunos possam exercitá-la.

Aprendizado e memória

O objetivo deste trabalho está centrado na possibilidade de se conseguir


com que o aluno obtenha condições próprias, para poder raciocinar com mais
intensidade. Para que isto aconteça, se fez necessário prepará-lo para o
conhecimento e prática de técnicas mnemônicas que possibilitem a aceleração
do aprendizado, bem como o despertar para a manutenção deste aprendizado,
com os fins de que o aluno consiga obter melhores resultados nos estudos.

O processo ensino-aprendizagem é inegavelmente um fator a ser


aprimorado gradativamente no ambiente escolar. Tem sido exaustivamente
tratado por especialistas em educação que se preocupam, principalmente com
os estudantes que apresentam algum tipo de dificuldade na aprendizagem.

Trabalhar sobre a dificuldade envolve elementos que estão relacionados


entre si e muitas vezes não podem nem devem ser tratados separadamente.
São fatores que fazem parte de um contexto educacional que envolve:
conteúdo, aluno, professor e meio ambiente, aqui entendido não só o ambiente
físico da escola, mas o social, e, também, o meio econômico em que o aluno
está inserido.

Aprender mais significa na prática, maior habilidade para resolver as


diversas questões, sendo fundamental considerar que a aprendizagem se dá
em vários níveis e não apenas no intelectual. O conhecimento determina a
maneira como o aluno percebe o mundo, resolve problemas, aprende novas
informações, que serão bases para outras. E, assim, sucessivamente, pois,
viver foi, é e será um eterno processo de aprender.

Logo, quando se analisa o cenário escolar se observa que o uso de


técnicas mnemônicas pode auxiliar tanto alunos como professores, na
superação de preconceitos relacionados ao aprendizado da língua portuguesa.
O incentivo ao uso das técnicas visa contribuir para que alunos e professores
instrumentem seu aprendizado de conteúdos curriculares, especialmente na
Língua Portuguesa, oferecendo maiores facilidades, no que refere à
memorização dos mesmos.
Admite-se que em muitos dos problemas encontrados na alfabetização,
ou até em turmas mais avançadas, decorrem do emprego de métodos
ineficazes no ensino da língua. Métodos que não permitem o desenvolvimento
da criatividade e da expressão. Para se proporcionar um ensino-aprendizagem
é necessário dar ênfase à interpretação de texto, leitura e escrita em situações
diversificadas, e próximas do uso concreto do ambiente sociocultural dos
alunos. Porém, os professores tendem a acreditar que a fixação em estruturas
lógicas é essencial para o aprendizado.

Luft (1985, p. 13) corrobora com esta idéia quando cita “que o ensino da
Língua Portuguesa é essencial para a formação do indivíduo, mas precisa ser
revisto, pois ao ensinar regras gramaticais alguns professores ignoram a língua
falada e as variadas maneiras de expressá-la.”

Assim sendo, a aplicação do projeto de intervenção desenvolvido junto


aos alunos, foi um processo que necessitou de informações de extrema
importância para a validação e preparo da fundamentação teórica. Impôs um
aprofundamento e pesquisas sobre o processo de ensino-aprendizagem da
Língua portuguesa; posteriormente, uma busca de métodos alternativos, de
atividades diferenciadas de memorização, tais que possam provocar no aluno o
interesse, a participação, o respeito e maior consideração por esta disciplina.

Voltando ao tema da memória é preciso considerar que a forma como o


indivíduo capta estímulos e se apropria de informações tem a ver com o
contexto sociocultural, características e contexto social. É a razão pela qual é
possível se estimular com o ensino mnemônico. Segundo Posseti (1996, p.16),
saber falar uma língua é reconhecer seus usos e possibilidades, saber dizer
com gramática. Mas não apenas algumas regras que se aprendem na escola,
pois se deve, também, estimular no discurso do aluno o domínio da estrutura
formal. É necessário entender o funcionamento discursivo que situa o texto em
contextos históricos e sociais nos quais ocorre a interação do discurso com as
experiências concretas.
Nesse sentido, ao refletir sobre como a linguagem se incorpora a
experiência, vivida pelos alunos nas aulas de Língua Portuguesa precisam se
direcionar aos alunos que já utilizam uma lógica da linguagem quando falam.
Logo, para se ensinar a gramática se deve partir dos exemplos que vem da fala
sem fazer com que as aulas de português sejam um amontoado de regras, às
quais o aluno não assimila, nem compreende.

O professor deve partir da fala do aluno, conduzindo-o a refletir os


condicionantes linguísticos implicados no próprio ato de falar. Assim irá
contribuir para que o aluno, em sua elaboração escrita, perceba-se mais
consistente e coerente. Sentindo-se mais seguro o aluno pode avaliar com
maior alcance a importância da leitura na sua formação.

A partir do momento em que se consegue organizar sinteticamente uma


frase, passa a refletir e melhorar sua fala e sua escrita. Logo, incentivar o aluno
a memorizar as regras gramaticais serve para que ele explicite melhor seus
pensamentos, embora não garanta que este saber faça com que ele escreva
bem.

Rápida historia sobre a educação da língua

A preocupação com o aprendizado da língua e com a capacidade de a


linguagem multiplicar suas possibilidades pela interpretação das palavras, dos
signos, não é coisa nova. Desde a antiguidade Clássica existe a preocupação
com a maneira pela qual as pessoas a aprendem: Sócrates não deixou obra a
respeito, mas certamente era partidário de um ensino ativo através de diálogo e
questionamento; Platão e, principalmente, Aristóteles criador dos silogismos,
deixaram registrados em seus escritos a preocupação com o ensino.

O Cristianismo que tomou conta de vários países e popularizou a leitura


de textos durante o ritual religioso, ministrado por sacerdotes e leigos. Esta
prática religiosa acabou por incentivar o hábito da leitura. Hábito que anos mais
tarde transferiu-se para as escolas, quando estas foram criadas.

Para que a escola consiga formar alunos capacitados como bons


leitores, produtores de textos, conhecedores das variantes linguísticas, etc, ela
também precisa incentivá-los a desenvolver a capacidade de observar, de
interpretar, de reconhecer símbolos e outras figuras de linguagem, bem como
sinais que possibilitam a condição de relacionar fatos e situações. Dominando
este contexto os alunos tendem a estar aptos a organizar suas próprias
opiniões e ideias, a resolver problemas que necessitem de raciocínio crítico e
até mesmo raciocínio lógico. Logo, mostra de fundamental importância que
projetos tentem ampliar a capacidade de memorização nas aulas e nas
escolas. Novas ideias e propostas diferenciadas são bem vindas para deslocar
a rotina escolar de seu marasmo repetitório. Estas podem vir a acrescentar ao
processo de ensino aprendizagem e ao desenvolvimento do aluno.

Focando a perspectiva histórica o que se mostra é que nem sempre se


denominou Língua Portuguesa ou Português, a disciplina passa a existir nos
currículos escolares brasileiros. Nas últimas décadas do século XIX, já estava
bem organizado o sistema de ensino. Porém, o processo de formação do
professor para tal disciplina só teve início nos anos 30 do século XX.

Até meados do século XVIII, no sistema de ensino do Brasil, baseado no


modelo de Portugal, o ensino da Língua restringia-se à alfabetização. Com o
avanço deste modelo, alguns alunos tiveram acesso ao latim. E, com a reforma
Pombalina (1759), tornou obrigatório o ensino da Língua Portuguesa em
Portugal e no Brasil, mas o latim manteve-se como o ensino de uma gramática
portuguesa e segue até o fim do século XIX como ensino da retórica poética.

Quando em 1937 foi criado, no Rio de Janeiro, o Colégio Pedro II, que
se tornou durante décadas o modelo e padrão para o ensino secundário no
Brasil, o estudo da língua portuguesa foi incluído no currículo. Esta inclusão se
referia as disciplinas Retórica e Poética, abrangendo também a Literatura.
Curiosamente, só no ano seguinte, o regulamento do Colégio citado passa a
mencionar a Gramática Nacional como objeto de estudo. E assim se fez o
ensino da língua portuguesa até o fim do Império.

Em meados do século XIX o conteúdo gramatical ganha a denominação de Português.


Em 1871, cria-se o cargo de professor de Língua Portuguesa, o que não significou mudança no
objetivo dos estudos da língua. A disciplina de Português se manteve até os anos 40 do século
XX, como ensino de gramática, retórica e poética. A persistência em manter essa tradição por
um lado, se explica por fatores externos às próprias disciplinas. Provavelmente porque,
fundamentalmente, a disciplina servia aos grupos sociais e economicamente privilegiados que
frequentavam as aulas de Português e que já chegavam com um razoável domínio do dialeto e
do prestígio da língua culta, o Latim!

Na medida em que a oratória foi perdendo lugar de destaque que tinha,


a retórica e a poética foram assumindo o caráter de estudos estilísticos, tal
como hoje se configura. Com isso, foi se afastando os preceitos de “falar bem”,
que era uma exigência social nas quatro primeiras décadas deste século.
Conforme dois manuais independentes e diferentes entre si, que tratam de
situações do ensinar de maneira diferenciada: as „gramáticas‟ e as „coletâneas
de textos‟.

Somente na década de 50 é que se começa uma real modificação nas


condições de ensino e de aprendizagem da Língua Portuguesa e que se
processou pelas mudanças sociais e, sobretudo porque o acesso à escola foi
exigindo uma reformulação das funções e dos objetivos desta instituição. A
partir deste momento começa a se modificar o alunado e as camadas
populares passam a reivindicar o direito à escolarização.

Nos anos 60 o número de aluno no ensino médio quase triplicou e


número de matriculados no ensino primário duplicou. Em consequência, teve-
se que aumentar o número de professores que ministravam esta disciplina.
Alguns professores oriundos de Faculdades de Filosofia e outros também
formados em conteúdos de língua e literatura foram chamados. No entanto,
não houve grande alteração no conhecimento sobre esta língua e a mesma
continuou a ser ensinada como um sistema cuja gramática deveria ser
estudada, como um instrumento de expressão para fins retóricos e poéticos.

O Objeto da disciplina de Língua Portuguesa não se alterou. É verdade


que gramática e texto, estudo sobre a língua e estudo da língua, começam a
deixar de ser duas áreas independentes. Passa-se a articular ora na gramática
que vai buscar elementos para a compreensão e a interpretação de texto ora
na interpretação de textos que busca estruturas linguísticas, uma
aprendizagem da gramática. Assim, se estuda a gramática a partir do texto ou
se estuda o texto com os instrumentos que gramática oferece.

Sobre os recursos mnemônicos

Reunindo este rápido estudo da origem da disciplina da Língua


Portuguesa aos exercícios de aprendizagem que desenvolvem e facilitam a
memorização dos conteúdos, desta e de outras disciplinas, pode se dizer que
todas as informações que o ser humano utiliza no dia-a-dia estão relacionadas
à memória.
Logo, a Língua Portuguesa se articula na história do currículo escolar,
podendo revelar para o aluno que aprender sobre as regras da gramática que
não são simples nem são poucas, se faz determinados exercícios. Estes
exercícios querem operar facilitando a organização de dados novos, que
precisam ser armazenados por alguns milésimos de segundos ou por décadas,
reunindo conhecimentos que se mostram necessários para recuperar e dar
sentido a construção de história de si de cada aluno, grupo e indivíduo.

No livro “Aprendizagem e Memória”, Anderson (2005) ensina que “a


aprendizagem é atividade crucial na cultura humana e que a própria existência
de uma cultura depende da capacidade de novos membros aprenderem
conjuntos de habilidades, normas de comportamento, fatores, crenças” (p.6).
Este mesmo autor irá alertar para a flexibilidade comportamental que, vinda do
ato de aprender, garante a sobrevivência da espécie humana ao longo de
milhões de anos até se chegar à atualidade.

Lúria (1973) estudou os recursos mnemônicos utilizados por um dos


seus pacientes que possuía um cérebro fantástico e com habilidade ímpar para
memorizar informações. Este autor notou que seu paciente não anotava
informação nenhuma em suas reuniões e não deixava escapar nenhum
detalhe. Descobriu que ele fazia associações com coisas que o cercavam ou
com seu dia-a-dia, tais como: a rua, a casa, a noite, o clima e criava “história”
montada e, reproduzia-a sem dificuldade, com raras falhas.

Oliveira e Rego (2010) reforçam a combinação de investigações de Lúria


(1973), sobre o enraizamento biológico do funcionamento psicológico e a
constituição histórica do psiquismo humano, quando citam:
O esforço e interesse em compreender o sujeito humano em sua
complexidade,continuam atuais e parecem oferecer um caminho alternativo profícuo
para o enfrentamento de dilemas e problemas que a ciência contemporânea ainda não
conseguiu equacionar (OLIVEIRA e REGO, p. 223. Abril 2010).

Não apenas estes autores, mas Gaspar (1986) irá conceituar e explicar
com clareza a função de cada um dos sentidos, dos quais se utilizam os seres
humanos, porém, a ressalva importante com relação ao cérebro e a memória.
Parafraseando este autor pode-se dizer que memorizar é um processo que
precisa ser feito com emoção; ou seja, tudo o que se deseja ensinar só será
memorizado se for realizado com sentimento, com vontade e com emoção
(Gaspar, 1986).

Sobre os exercícios de memorização

Os exercícios de memorização se realizam com a participação de 02


turmas do oitavo ano e 02 turmas do nono ano do ensino fundamental. Ao todo
abrangem o universo de 120 alunos, e os conteúdos aplicados em ambas as
séries foram basicamente os mesmos. Assim se fez leitura, interpretação de
textos de diversos gêneros discursivos, produção de textos, revisão da
ortografia, da acentuação, e se ter remissão de atividades da sintaxe, o sujeito,
o predicado e predicativo do sujeito, se estudou vozes do verbo, ortoepia e
prosódia, denotação e conotação, análise sintática, figuras de linguagem. No
oitavo ano, se trabalhou a análise sintática, pronomes, adjetivos pátrios,
concordância e regência, colocação pronominal e pronomes demonstrativos,
figuras de construção.

Por fim se tentou realizar o que Gaspar (1986, p. 08-22) procura


desenvolver como técnicas, para que as pessoas possam obter memória
treinada através do aumento do poder da concentração. Este autor escreve
que a “Memória é o conjunto ou soma do que somos em personalidade e em
pessoa e também envolve tudo o que fazemos em nosso dia-a-dia” (1986, p.
08).

Para este teórico os cinco sentidos: olfato, audição, paladar, visão e


tato, dão informações que denominam-se códigos e mostra que, através de
nosso conhecimento arquivado, se analisamos e se traduzimos as
informações e se elas forem novas, entram em uma espécie de seleção ou
julgamento, se forem reconhecidas como novas ou fortalecerão outras já
guardadas em nossos arquivos mentais. Mas, para que isto ocorra, é
necessário um esforço mental chamado de concentração. Sem ela, a
concentração, os pensamentos se dispersam como um bando de pássaros
assustados, ao ouvir um tiro.

A concentração, dirigida a um determinado assunto, faz com que


situações sejam facilmente solucionadas. Ela é uma combatente do amontoado
de idéias desconexas que provocam a dispersão dos pensamentos reúne
dados de tal modo que faz com que se esqueça do mundo exterior,
temporariamente, faz com que alguém fixe-se apenas nessa como ocupação.

Doutra parte, a observação é uma faculdade que contribui para o


desenvolvimento da concentração, uma vez que observar é ver, mas um “ver”
diferente. Observar para Gaspar (1986) é ver todos os pormenores, todos os
detalhes possíveis; observar primeiramente o todo e depois os detalhes,
isoladamente. O segredo pra se observar nitidamente alguma coisa, é
encontrar algum interesse por esta coisa. Quanto maior for seu interesse, mais
aguçada será sua observação.
Escreveu Gaspar (1986) que a informação para ser compreendida na
formação da memória, passa-se por três etapas para depois ser arquivada ou
retirada da memória. São elas:
A primeira etapa é Sensação, o início de um processamento de informação; ou
seja, quando os nossos sentidos são atingidos por impressões de intensidade
variável, causada pela emoção e fixada na memória ( sensação = emoção);
segunda etapa: Percepção. Esta pode ser real, ilusória ou alucinatória (ilusão);
terceira etapa: fixação. Esta terceira guarda de um novo conhecimento ou
aprendizado.

Por fim Gaspar (1986), irá dizer que o processo de memorização se dá


através dos seguintes elementos que ativam maneiras de se reter informações
na memória:
1º - Só ouvindo;
2º - Só vendo;
3º - Vendo e Ouvindo ;
4º - Vendo; Ouvindo e Fazendo;
5º - Vendo, Ouvindo, Fazendo e Falando;
6º - Vendo, Ouvindo, Fazendo, Falando e Ensinando.

Estas maneiras servem ou contribuem para o desenvolvimento de


várias técnicas mnemônicas, que são atualmente as mais utilizadas, pelos
vários institutos e centros de desenvolvimento intelectual. Por fim, são as
seguintes técnicas mais utilizadas para memorização: repetição, associação,
empilhamento, alfabeto fonético, palavras-chave.

Concluindo todas as informações que o ser humano utiliza no dia-a-dia


estão relacionadas à memória. São dados novos que precisam ser
armazenados, por alguns milésimos de segundos ou por décadas, ou
conhecimentos que são recuperados para dar sentido aos acontecimentos que
cercam o indivíduo. Logo, esse processo é feito de forma cruzada e simultânea
e por isso envolve múltiplas memórias.

Ao ler um texto, o leitor utiliza seus aprendizados de leitura já


automatizados, interpreta os grupos de palavras de acordo com conhecimentos
preliminares, aprende coisas novas e armazena significados contidos nos
parágrafos anteriores para dar sentido aos posteriores. Enquanto isso, o corpo
não se esquece de manter a respiração e a circulação ativas enquanto os olhos
decodificam os símbolos ou letras, que formam as palavras escritas.

Para elucidar o que foi produzido e aplicado nas atividades em que


tiveram a participação dos professores e dos alunos, se listam as principais
técnicas de memorização: Técnica da Associação; Técnica da Palavra-Chave;
Técnica da Repetição; Técnica do Alfabeto Fonético; Técnica do
Empilhamento.

Todas as técnicas acima descritas são conceituadas, apresentadas e


exemplificadas no Projeto de Intervenção na Escola, postado no
Sacir/SEED/PR, para consulta a quem interessar.

Em primeiro tempo se desenvolve a fluência e a pronúncia de forma


cadenciada ou num ritmo constante e gradual, pode-se oportunizar atividades
com as letras de música dos grupos de hip-hop, rap, entre outros. A intenção é
trazer um vocabulário com palavras simples e comuns ao grupo, facilitando a
rima fácil de ser assimilada num trabalho com vocabulário próximo ao mundo
dos alunos. Num segundo momento oportuniza-se também um profundo
trabalho com poesias, como algumas dos poetas Marina Colassanti e Mário
Quintana entre outros, que surgirão no decorrer do processo.

Já numa terceira etapa se aplica jogos lúdicos, jogos de memorização,


de figuras, de palavras, jogos de raciocínio, palavras cruzadas, enigmas,
charadas, de solução por exclusão, etc. Através dos jogos de memória visual
tais como: dominó de sinônimos, complementação de espaços vazios em letras
de músicas ou poemas para a formação de rimas, entre outras, os alunos são
desafiados a reter modelos viso-motores sequenciais, que os possibilita
desenvolver a capacidade de memorização através da repetição, aumentando
seu potencial de gravar imagens gradativamente.

Num quarto momento se praticou a leitura para incentivo do


desenvolvimento da criatividade na produção e na reprodução de textos, e na
reescrita do material selecionado: Notícias de assuntos variados, tais como:
política, religião, esportes, sociedade, mundo entre outros adentram a sala de
aula para que se possa explorar a sinonímia facilitando a transformação dos
vários tipos de gênero. Assim um texto no formato de reportagem policial, pode
se transformar em crônica, conto ou até poema!

CONCLUSÃO

Por fim, o trabalho foi realizado com o auxílio de professores que


participaram das oficinas; assim como alunos adquirissem hábitos de leitura, de
interesse e participação nas aulas e conseguissem com o mínimo de esforço,
solucionar problemas que, anteriormente, nenhum esforço fariam para resolvê-
los.

Para se chegar até este ponto, um longo caminho foi percorrido. As


atividades propostas no material da Unidade Didática, postado no Sacir, tem
surtido efeito. Os alunos que participaram deste projeto, na sua maioria
melhoraram substancialmente sua participação e interesse, não apenas nas
aulas de língua portuguesa, mas em outras áreas do conhecimento, conforme
comentam os professores que lecionam nas turmas e séries envolvidas no
Projeto.

Na verdade, este documento busca ser dinâmico e evolutivo na medida


em que tenta atualizar os meios que resolvam as situações que surjam na sala
de aula de quem ensina a língua portuguesa. Nesses cinco passos propostos
como exercícios para facilitar a aprendizagem da nossa linguagem, se quis
seguir o aprimoramento de um trabalho, que sem deixar de ser árduo, não
deve se tornar meramente repetitivo. Daí dizer junto a Galeano (1989) ...
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta
dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por
mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

Fontes consultadas:

ANDERSON, John R. Aprendizagem e memória: uma abordagem integrada.


2. ed., Rio de Janeiro: LTC, 2005.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 26. ed. São Paulo: Cortez/
Autores Associados, 1991.
GALEANO, Eduardo. Textos e Pensamentos do Autor. Disponível em:
http://pensador.uol.com.br/textos_de_eduardo_galeano/ Acesso em 20 de junho de
2012.
GASPAR, Norberto A. Sua majestade o cérebro: técnicas de memorização.
São Paulo: Hemus,1986.
LEAL, Gláucia. Revista Mente & Cérebro. São Paulo, Edição Especial, n. 26,
jan. 2001, p. 03.
LUFT, Celso P. Língua e liberdade. São Paulo: Ática, 1985.
LURIA, A. R. A mente e a memória – um pequeno livro sobre uma vasta
memória. São Paulo: Martins Fontes, 1973.
Magda >>>>
OLIVEIRA, Marta Kohl de; REGO, Teresa Cristina. A vida e a obra de
Alexander Luria. Revista Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 36, nº especial,
p.223-230. Abril 2010.
POSSETI, S. Por que (não) ensinar gramática nas escolas. Campinas:
Mercado das Letras, 1996.

Você também pode gostar