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OS OBSERVADORES

por Carlos Antonio Mota Junior


MOTA JUNIOR, Carlos Antonio. “Os Observadores”. Editora
Amazonsky. 2012.

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I. 2222 d.C.

A humanidade acabou em 2222. Tudo ocorreu devido aos seus


próprios atos, mais precisamente, um só ato. Este ato colocou em
risco o futuro de uma civilização alienígena super avançada que já
havia dominado a tecnologia da viagem no tempo.

Esta civilização descobriu que havia diferentes graus de tempo


ligando cada planeta de um sistema solar. Assim, diferentes
“tempos” ocorriam simultaneamente, podendo haver ingerência por
parte de habitantes de um tempo em outro.

No início do século XXI na Terra, astrônomos e astrofísicos já


desconfiavam da existência de diferentes dimensões da matéria, dada
a disparidade entre a força gravitacional e a matéria observável.

Aquela disparidade afinal representava o tempo entre as matérias,


que no entanto ainda podiam exercer força gravitacional, não
obstante as distâncias temporais de cada uma delas. No entanto em
Marte a tecnologia já avançara enormemente, devido à escala de
tempo em que se encontrava em relação à Terra (Marte estava 1
bilhão de anos na frente da Terra se fôssemos contar o tempo real).

Sendo assim, os humanos na Terra não tinham acesso à dimensão


correta dos marcianos evoluídos e somente conseguiam enxergar um
deserto vermelho e gelado orbitando a estrela Sol.

Em 2045 a nave Mars Explorer XXIX pousou em Marte trazendo


uma tripulação ansiosa por estabelecer o nosso primeiro
assentamento naquele local.

No entanto pousaram no centro da cidade de Tarfy, e apesar de os


humanos observarem uma paisagem estéril, os habitantes daquela
capital marciana ficaram horrorizados com a falta de tato dos
cosmonautas humanos. Desde a década de 1990 os marcianos
começaram a baixar as nossas informações através da internet, e
mais ou menos na mesma época passaram a decodificar os nossos
sinais de rádio.
Assim estavam sempre a par de muito de nossos planos e ambições,
principalmente em relação a Marte.

Com o auxílio de sua avançada tecnologia de observação


intertemporal, as principais agências marcianas descobriam os
planos dos seres humanos simplesmente ao assistir os principais
canais televisivos, que sempre estavam divulgando todo tipo de
decisões governamentais em programas de notícias.

Nossos filmes eram exibidos lá também e a cultura humana era


amplamente divulgada, e capaz de atrair a atenção daqueles
marcianos mais ligados em artes obscuras. Isto se deveu a incentivos
a uma visão negativa da humanidade, posto que nós éramos uma
civilização em demasiado primitiva, na opinião deles.

Naquela manhã de 2222 o congresso dos Estados Unidos da América


iria votar uma polêmica questão ética, que iria colocar em xeque a
própria existência da raça humana de uma forma nunca imaginada.

De um lado, lobistas do setor agrário e imobiliário, que


pressionavam por décadas por uma legislação autorizativa da
exploração comercial de Marte, com a imigração em massa de
humanos para lá. Quadrilhões de dólares iriam ser gerados somente
com a construção de cidades.

Para atingir este objetivo já havia um plano preparado para


desenvolver em Marte um ecossistema semelhante ao nosso.

Do outro lado do ringue cientistas que desaconselhavam seriamente


a medida. Discursando para o Congresso uma semana antes, o prof.
Richard Johnson, atuando em favor dos que apoiavam a exploração
de Marte, insistia na loucura dos que eram contrários :

“ – Os Drs. Oliveira e Sachs estão cometendo um crime contra o


Estado Americano. Evitar que possamos explorar Marte, um planeta
que com milhões e milhões de hectares prontos para serem o nosso
novo pomar! Imaginem mais uma bola azul em nosso sistema solar,
ao lado da nossa querida Terra resplandecendo como a nossa
civilização é poderosa!”
Claro que era desconhecido dos humanos, mas os marcianos
acompanhavam principalmente a conduta do governo americano,
notoriamente o país dominante em todo o planeta, e, àquela altura, o
único com capacidade para destruir todo o planeta Terra ou qualquer
outro do sistema solar com suas poderosas armas nucleares.

Dr. Johnson continuou: “-É absolutamente ridículo que estejamos


aqui debatendo este assunto: Marte É um deserto gelado e somente a
engenharia humana pode transbordar aquele planeta com vida, vida
complexa!”

“-A tese aqui combatida pretende que interrompamos a exploração


deste vasto terreno morto que é Marte. A alegação de que devemos
preservar alguns microrganismos habitando a alguns metros abaixo
da superfície é absolutamente antiética, posto que a Ética visa ao
bem estar dos seres humanos, e não de micróbios marcianos...

-Um dia chegará em que iremos para Marte, andaremos sobre sua
superfície e respiraremos seu ar, livres de qualquer traje espacial.

-Neste dia poderemos chamar outro planeta de casa, e lá poderemos


morar e prosperar! ”

Os defensores de Marte, como os professores James Silva e Rafael J.


Pereira, que atuaram com a mera finalidade de manter Marte intacto,
assemelhando-se bastante a alguns ambientalistas cegos que também
vemos atuando na Terra. No entanto Silva alertou o Congresso com
suas palavras:

“-A ganância vai levar todos nós para o abismo. Um projeto de terra
formação nunca foi tentado nessa escala global. As projeções de
perdas humanas já estão previstas em milhares de trabalhadores, e
não temos porquê investir tanto tempo e dinheiro em Marte, sem ter
resolvido todos os problemas ambientais em nosso próprio planeta!”
– na verdade Silva sentia que devia apoiar a causa da não-
intervenção em Marte, como que uma missão terrena.
Apesar de todas as tentativas dos defensores das bactérias marcianas,
em 29 de abril de 2.222 foi assinada a ordem para o início de um
programa para a transformação de Marte em uma nova Terra através
de engenharia ambiental e trilhões de bilhões de dólares na
empreitada, e um plano de realização de 300 anos.

Mastirinu III, Comandante de Marte, com sua tela ligada na CNN,


colocou as pequenas mãos na cabeça, exasperado.

“-Não acredito que eles vêm pra cá!”

“-Seres estúpidos – respondeu Stragudy – são pequenas crianças


fazendo cocô e jogando na parede. “

“-E no caso, nós somos a parede, Stragudy.”

Desligou a tela, comprada em um mercado na Tailândia.

“-Traga a minha maleta, Stragudy, aqui está meu selo.

Era 29 de abril de 2.222. Os Brodem, habitantes de Marte 1 bilhão


de anos à frente, eram descendentes daquelas bactérias vivendo sob
o gelo.

Elas iriam também evoluir um dia, chegar às estrelas, e além, no


entanto não gostavam muito de viagens. Assim, a civilização da
Terra não era páreo, dada a disparidade temporal entre as duas
espécies. O fim foi rápido, pelo menos. Os Brodem “apenas
varreram a nossa civilização, deixando os sobreviventes em situação
análoga à da idade da pedra.

Com esta atitude, os Brodem puderam seguir sua escala


evolucionária normal, sem a interferência de nossa sociedade, em
seu ecossistema.
A ignorância dos humanos foi divulgada por toda a Galáxia, e na
verdade nos tornamos motivo de riso apesar de nosso trágico destino
pós-apocalíptico.

Até que uma nova civilização terráquea se restabelecesse, os Brodem


já seriam uma civilização espiritual, independente da matéria, e por
isso inacessível para os temíveis mamíferos do planeta Terra. Mas
nossa vontade de explorar foi encerrada em 2.222 d.C.
II. Observadores 1

Aqui fala Malautz, reportando a Instar, Instar, você pode me ouvir? –


Afirmativo, Instar confirma recebimento da mensagem.

-Malautz então transmitirá o Relatório Periódico de Monitoramento,


tarefa 1.5 do Subtítulo 4 do Plano de Monitoramento do Sistema
Plantetário de Arnuk, Galáxia de Indicadir, Planeta 03. – Instar
confirma o recebimento do pedido. – Então segue:

RELATÓRIO PERIÓDICO DE MONITORAMENTO,


TAREFA 1.5 DO SUBTÍTULO 4 DO PLANO DE
MONITORAMENTO DO SISTEMA PLANETÁRIO DE
ARNUK,GALÁXIA DE INDICADIR, PLANETA 3 (TRÊS)

1. Contexto geobiológico

Alterações climáticas drásticas castigaram o planeta em estudo no


ínício do Período de Relatório, no entanto a espécie de primatas
superiores descoberto por Asteruno Floyd (ano 12.232) se
desenvolveu rapidamente e estará sendo incluída como uma espécie
de categoria A no Anexo 29 (Listagem De Espécies Potenciais de
Alto Impacto Tecnológico Sobre O Ambiente Espacial).

Como já verificado em diversos outros sistemas, este tipo de vida,


em que seus indivíduos não conseguem se agrupar em um único
Agrupamento Moral, é altamente perigosa para as formas de vida
circunvizinhas em um período indeterminado de tempo.

Isto se deve ao fato de que este tipo de espécie guerreia entre si e


contra os outros. Tal falha de design geralmente ocorre em sistemas
planetários mais simples e afastados do centro do universo.

O Planeta 03 possui outras espécies incluídas no Anexo 29, como as


formigas, que estão catalogadas dentro da Categoria D.
Com base nas informações acima, este relatório apresentará
sugestões quanto a soluções a serem tomadas em relação à espécie
acima mencionada.

2. Justificativa

Os primatas superiores sempre se agrupam em coletividades, o que


causa tensão social e política, e esta característica é também a causa
de muitas de suas desgraças.

É uma pena que uma raça com tanto potencial para atos nobres
também traga o Mal dentro de si. Nossos monitores detectaram
diversos fenômenos desde o genocídio dos neandertais, quando a
espécie se tornou a única com Alta Capacidade de Processamento,
que demonstram essa afirmação.

Por exemplo, a existência de diferentes pigmentações de pele


conforme a incidência da luz em populações criou indivíduos de
segunda classe, mesmo que o seu DNA e sua capacidade sejam
similares ou até comprovadamente superiores ao do gênero
dominante.

Agrupamentos de milhões de indivíduos se organizam em esferas de


poder para coordenar ações em benefício próprio e proteger um
território determinado com a utilização de exércitos de guerreiros,
máquinas de assassínio e políticos engravatados, denominados de
Governos.

Apesar de toda essa belicosidade, existem indivíduos com a


capacidade de prover serviços visando a um bem comum, inclusive
na ciência, no entanto, é muito raro.

Uma interessante observação foi registrada em Doc. 23.300, quando


uma das agrupações conseguiu desenvolver a tecnologia necessária
para colocar um pedaço de metal na órbita do planeta.

A princípio vocês podem imaginar que os primatas seriam muito


inteligentes, mas na verdade foi utilizada apenas força bruta de
combustão para “jogar” o satélite para o alto, tal como fazem nossas
crianças apenas com a força do pensamento.

O que a princípio seria um grande avanço nas comunicações criou


uma onda de paranóia entre as maiores agrupações, o que acabou
criando “uniões de agrupações” se alinhando e ameaçando umas às
outras.

Os seres humanos em geral, são tiranos, pois estão destruindo o seu


próprio ambiente, além de agir com tremenda ignorância para com
as outras espécies.

Por exemplo, têm grande afeição por cães e gatos, no entanto, não
toleram nenhuma classe de insetos, tratando-os como se fossem
inimigos, esmagando suas pequenas estruturas corpóreas sem motivo
aparente; tampouco vivem em igualdade de direitos com nenhum
outro animal, pois julgam-se superiores e no direito de escravizar
(Nota: isso demonstra claramente que os homens não conseguem se
comunicar com outros animais. Vide Capacidades Humanas para
mais informações.)

2. Computadores orgânicos

O Criador deste planeta foi um ótimo arquiteto, devido à variedade


de computadores orgânicos existentes no planeta em comento, senão
vejamos: os seres humanos não são o mais requintado computador
do planeta, no entanto sua capacidade de processamento é
consideravelmente média, pois atualmente pode ser multiplicada,
com o uso dos processadores desenvolvidos por eles próprios.

Enquanto que os gnus são programados em apenas 2 bits para passar


a vida comendo relva verde, consistindo em um processador barato
para um ótimo e resistente hardware.

Relatório 3 – Cotidiano

Conforme análises levadas a campo por nossos pesquisadores, a


espécie em comento integra o mesmo cotidiano de animais como as
formigas, gnus e salmões na época de acasalamento. Alguns dos
analistas indagaram se havia algum erro na informação, dada a
diferença tecnológica e cerebral entre os humanos e estas espécies,
no entanto, a hipótese de erro foi descartada, e foi concluído pelo
erro de design mesmo, conforme veremos a seguir:

a. Detecção de Sistema de Cotidiano Unificado (S.C.U.)

Os seres humanos saem pela manhã cedo, saem para se alimentar ao


meio dia; voltam para casa à noite (com algumas pequenas variações
no horário).

No entanto, esse sistema unificado não se adequa muito bem à


enorme quantidade de indivíduos. Além disso, por razões
econômicas, há a necessidade de se estar sempre empregando este
contingente construindo novos automóveis, ao número de milhões ao
dia, sem que haja necessidade nem espaço para tanto carro. A
indústria convenceu a todos que o ideal para os humanos seria trocar
de carro mais ou menos como nós trocamos de pele: a cada ano, no
entanto, sem necessidade real.

Desse modo, conforme aprendemos na 2ª. série em nosso sistema


escolar, no sistema unificado as vias e o espaço físico serão sempre
inferiores ao número de pessoas querendo utilizá-los ao mesmo
tempo todo dia, no caso de S.C.U. em espécies populosas.

Este aspecto é realmente curioso, pois muitos planetas com espécies


de QI médio inferior ao humanos já perceberam o erro do sistema
unificado há muito tempo, e passam seus dias trabalhando,
estudando e realizando seus afazeres em horários diferentes (o
cotidiano deles se assemelha ao domingo humano, onde estes por
convenção não trabalham).

No próprio Planeta 3 temos os golfinhos, leões, baleias, e etc. que


nunca precisam lidar com engarrafamentos. O sistema de transporte
dos primatas avançados é muito precário, e no entanto as pessoas
parecem não perceber que sempre metade de suas vias estão vazias,
pois não há ninguém indo para aquela determinada direção naquela
hora.
Uma solução seria alterar a direção das vias conforme o horário,
assim liberar-se-iam todas as pistas, e quem quisesse ir à direção
contrária que esperasse ou então se mudasse para algum planeta com
humanos onde não se utiliza o Sistema de Cotidiano Unificado.

3. Parecer Parcial

Os humanos ainda são muito ingênuos em relação ao destino de sua


espécie. Seus cientistas, ignorantes no tocante a tempo de
observação, não conseguem enxergar que cada espécie dominante
não pode existir para sempre: o planeta acaba por eliminá-los, seja
por uma era glacial, seja por um meteoro devastador. Seus sonhos de
exploração econômica quase ilimitada em relação aos outros
planetas do Cosmos igualmente não podem prosperar.

Como é sabido, são os planetas que devem consentir com a presença


do invasor. Com esta configuração atual, concordamos com o
parecer do Relatório Periódico De Monitoramento, Tarefa 1.5 Do
Subtítulo 4 Do Plano De Monitoramento Do Sistema Planetário De
Arnuk,Galáxia De Indicadir, Planeta 3 (Três).

No entanto devemos salientar uma qualidade única da espécie: a sua


dualidade entre o bem e o mal.

Cada criança humana carrega em seus genes o potencial para mudar


o mundo, mas nem sempre acaba preenchendo este potencial. 90%
dos indivíduos passam a vida produzindo pouco de relevante em
frente a uma televisão.

Aí é que mora o perigo, pois um possível plano de exploração neste


planeta pode correr o risco de insurgências, dada às características
únicas desta espécie.

Rodando o programa Oráculo, podemos verificar que os humanos


destruirão definitivamente o Planeta 03 no período provável de 4 a 4
mil anos. No entanto, poderão ter se espalhado pelo Arnuk todo,
como parasitas de plantas.
Marte será colonizado lentamente, enquanto que alguma corporação
da Terra se declarará proprietária de Júpiter (!), e o que é pior,
descobrir a existência do Elixir Jupiteriano, que elimina a
necessidade de reciclamento corporal em uma escala infinita (não
gostamos deste cenário de forma alguma, com humanos imortais
vagando pelo universo).

Esse péssimo hábito de se declarar descobridor de um lugar, para


depois explorá-lo criminosamente, é uma característica básica das
sociedades do Planeta 3.

No período atual já é possível a implosão inteira do planeta com


dispositivos limpos, o que na verdade não seria uma má idéia,
levando em conta o potencial de impacto negativo da espécie em
uma escala futura conforme explicado.

O envio de raios evolucionais se faz uma medida alternativa, de


modo a estimular a evolução de outra espécie no Planeta 3, pois
assim, os homens talvez vejam a sua existência com outros olhos, no
sentido de um maior respeito aos demais e a si mesmos.

Atualmente está fora de cogitação o envio de novos representantes


para este Mundo, devido a possíveis guerras e assassinatos que
possam ser gerados.

O último enviado, além de não conseguir terminar a sua missão,


acabou torturado e morto, depois tendo a sua imagem utilizada
inescrupulosamente para a criação de Agrupamentos Ideológicos
Hipnótico-Viciantes, que são Sociedades que geram problemas
psicológicos, causadores de inúmeras injustiças no presente, passado
e futuro.

O risco de mais uma religião majoritária não deve ser suportado pela
Administração, se assim decidirem.

É o parecer parcial.
III. A Relatividade Material

A princípio a tão chamada “matéria escura” foi considerada um


grande mistério da ciência. A pergunta que não queria calar era “O
que é que preenche 90 a 99% de nosso Universo, mas não pode ser
visto ou tocado?”.

Equações matemáticas demonstravam que ela havia de estar lá, caso


contrário a disposição do próprio Universo não faria sentido, com
estrelas caindo ao vazio e se desgarrando da parca força
gravitacional.

Einstein demonstrou a sua teoria da relatividade, mas não conseguiu


elaborar os corolários de uma Teoria Unificada, que já sabia existir,
por meio de intuição e lógica.

Foi quando seu descendente, Isaac Einstein, em 2450 d.C.,


apresentou seu trabalho na Universidade da Califórnia, que a
humanidade foi mais uma vez pega de surpresa, devido à grande
bizarrice de suas descobertas.

Com a ajuda de um subnanomicroscópio por ele desenvolvido, Isaac


conseguiu observar objetos cada vez menores, chegando a uma
escala tão inferior que um átomo pareceria um universo. Observou
cidades, aviões e florestas como se o próprio Deus estivesse nos
observando do espaço.

Mais cinco anos de estudos aprofundados levaram o jovem Isaac a


concluir a elaboração da Relatividade Material, segundo a qual
nossos planetas e galáxias estão para as subnanopartículas assim
como estas estão para os nossos planetas e galáxias.

Ponderou que o plano infinitesimalmente menor que o nosso fosse


chamado de Dimensão Inferior, não obstante um habitante daquela
dimensão que pudesse nos observar teria a impressão de que nós
fôssemos as subnanopartículas, devido ao “efeito de zoom”.
A relatividade material explicava os números de 90 a 90% da
antigamente denominada matéria escura, detectáveis em nossos
aparelhos. Dessa forma, Isaac Einstein concluiu que os 99% de
nosso Universo que consistia na matéria contida na Dimensão
Inferior era uma Dimensão em separado, conectada ao nosso por
meio de matéria relativa (matéria escura), e um viajante dimensional
poderia penetrar diferentes graus de dimensões, pelo menos
teoricamente.

Suas equações previram que, se manipulados dados químicos


poderíamos interferir na Dimensão Inferior, apesar de que por seus
cálculos, seria impossível qualquer contato com as civilizações
inferiores, devido à imensa distância entre uma Dimensão e outra.

A diferença de distância entres Dimensões Isaac Einstein denominou


de anos-matéria-adentro. O renomado cientista também inferiu que
deveria haver uma dimensão superior conectada à nossa própria por
meio de matéria relativa, e se observados por eles nós pareceríamos
menores e eles, maiores, em um eterno efeito de lupa espelhada.

A grande estranheza que o trabalho de Isaac Einstein causou a todos


foi a revelação de que a matéria relativa e a nossa diferença de anos-
matéria-adentro acabavam por anular-se, e as Dimensões vizinhas
seriam cópias exatas da nossa em tamanho, se observados
por fora dos Universos observados.

As diferenças sociológicas notadas na Dimensão Inferior foram


atribuídas à teoria do caos que regiam processos complexos como a
sociedade humana.
IV. Manganês, um país bastante peculiar

Depois do oceano de Catatoria, existe um país bastante peculiar, o


Manganês (o nome fora dado pelos primeiros colonizadores malates,
da poderosa potência, o Império Malate – em homenagem ao
produto mais exportado daquele país, a preciosa matéria prima).

Apesar da grande riqueza do malates, conseguida pela exploração


proveniente de suas colônias, estes não possuíam muito interesse em
conhecimento, cultura e ciência; portanto falhavam na administração
de seus recursos constantemente.

Durante a sua “Fase de Ouro” destruíram culturas milenares,


impuseram lamentáveis monoculturas econômicas totalmente
debilitantes para o futuro das colônias, importaram escravos para
estas de forma sistematizada, enfim, fizeram uma promoção geral,
histórica e sem precedentes de grandes exemplos de péssima
administração.

O que deve ser notado com grande atenção é que o inicial País
Malate era na verdade um mínimo condado de 700 km2 localizado
em uma das regiões mais abastadas da Terra. A partir de lá os
Malates conquistaram o mundo com um projeto de canhão resistente
e veloz “retirado” de Salynin, Suberina do Norte, por emissários do
Rei Martrande em 92.

No entanto, mesmo com todo esse crescimento o Império Malate


ainda era governado por 3 ou 4 famílias mesquinhas e iletradas e
assim continuaram durante todo a sua ascensão, apogeu e queda.

O Império era governado como um quintal particular de forma


egoística, e assim também eram as gigantescas colônias, habitadas
por milhões e milhões de famílias; e esta foi a cultura política
transmitida a Manganês, a sua maior colônia.

A contribuição malatesa na constituição na sociedade Manganesa, de


grande parte de sua administração, urbanização, sistema político, etc.
foi determinante. A burocracia, na concepção malatesa, consistia na
“abnegação de interesse particular, o qual deve ser dificultado face
ao interesse geral e do rei, através de uma avalanche de papel”.

Com este princípio em mente o Reis do Império conseguiam evitar


ouvir reclamações de seus súditos, pois a avalanche de papel – termo
cunhado por Hidelfonso de Aragão, o Secretário – consistia em
esdrúxulas requisições documentais e formulários muito difíceis de
serem obtidos, principalmente quando se precisa preenchê-lo e se era
analfabeto (76% da população).

Mas estamos aqui para falar de Manganês, uma República cuja etnia,
cultura e sociedade fora altamente influenciada, senão forjada, pelos
burros malates, que se extinguiram como potência mundial depois de
200 anos, quando explorar seres humanos passou a ser proibido e
inaceitável por todas as outras potências.

A VIDA EM MANGANÊS

Do alto de seus 300 milhões de habitantes, Manganês era governado


por 5 ou 6 famílias. As 5 ou 6 famílias controlavam o salário
mínimo, bancos, presidentes e as novelas da NHN-TV, a principal
emissora.

O excesso de habitantes causava um fenômeno estranho na vida


daquelas pessoas, já que o Estado não dispunha de tanto capital para
suportar as benesses das 5 ou 6 famílias mesquinhas, e ainda ter de
cumprir todas as promessas da Constituição.

Então a informalidade não era só permitida, mas como encorajada.

A avalanche de papel era adotada frequentemente em Manganês e


para se abrir uma empresa era preciso dar entrada na papelada,
esperar 390 dias, rastejar 10 km e dormir no mato por 5 dias. Às
vezes era preciso repetir o procedimento mesmo que por erro da
Administração.

Era corriqueiro ver comerciantes ilegais nas ruas das principais


cidades, com toda sorte de produtos proibidos como dvds piratas,
eletrônicos importados, frutas, etc, tudo sem pagamento de impostos.
Nos semáforos havia toda sorte de ilegalidade, de venda de drogas a
frutas e verduras da estação (sem direitos trabalhistas), sem
mencionar o serviço de lavagem de para-brisas por crianças que
deveriam estar em casa de acordo com a lista de promessas chamada
Constituição.

Se a polícia aparecesse talvez parasse para umas comprinhas, pois o


precinhos eram irrecusáveis (os Manganeses também possuem uma
regra moral que diz que o certo é sempre levar vantagem).

A CONSTITUIÇÃO

A Constituição Manganesa fora criada por aquelas 5 ou 6 famílias


mesquinhas para comprar tempo em relação a alguns novos direitos
que estavam sendo concedidos em todos os outros países civilizados,
menos lá.

Então contrataram os melhores juristas e políticos para redigir um


“documento conciso, com forte apelo social, mas que em nenhum
momento nos obrigue a nada” nas palavras do próprio José Carlos
Manadt, velha raposa de uma daquelas famílias.

Assim surgiu a Constituição Manganesa de 1978, que, juridicamente


falando, possuía normas aplicáveis, semi-aplicáveis e aplicáveis-
após-edição-de-lei-específica. As normas constitucionais aplicáveis
eram as que poderiam ser realisticamente cumpridas.

Já outras como a criação do Imposto sobre a Fortuna das 5 ou 6


Famílias Mais Ricas do País dependiam de uma regulamentação
específica que estranhamente nunca chegava (o povo parecia não
perceber, mas na verdade não percebia bulhufas mesmo, pois a
Constituição era escrita em uma forma diferente de Manganês, o
Manganês Formal).

Assim como o referido imposto, a Constituição tinha outras pérolas


mais pertencentes ao ramo da comédia do que ao da política, como
“O Estado irá garantir a saúde, cultura, educação, vida e segurança
de todos os seus cidadãos”. Mas na verdade, processos contra o
Estado nunca duravam menos do que 2 ou 3 gerações, já que a
Fazenda tinha prazos sete vezes maiores para responder ou cumprir
qualquer intimação do processo, prazos cujo descumprimento não
acarretavam nenhuma sanção para a Fazenda e aposentadorias bem-
remuneradas como punição para servidores criminosos.

O LEGISLATIVO

Em Manganês o sistema de se fazer leis era bastante peculiar. A


começar pelo meio de ingresso, as eleições. Para se candidatar não
bastava ser cidadão honesto: era preciso estar filiado a um grupo de
raposas políticas velhas que atuam em benefício particular, chamada
de partidos. Para fazer parte deste grupo o candidato deve prometer
favores em caso de vitória, então o próprio processo em si já era
bastante peculiar!

A população Manganesa estava dentre as mais felizes do mundo e


parecia não se preocupar com muita coisa que acontece
politicamente, sabe. Em alguns lugares da galáxia já existiam
eleições reais, onde qualquer pessoa, não tendo ficha suja na polícia,
poderia se inscrever, apresentar uma proposta de governo e receber a
mesma quantidade de tempo para expor suas idéias para a
população, sem distinção entre as campanhas, a não ser nas idéias
dos candidatos.

No entanto eleições reais ainda não existiam em Manganês nem em


qualquer outro ponto do planeta Chão.

Continuando, nas estranhas eleições Manganesas, herança da


ancestral Malatesa, venciam sempre aquele que dispunha de mais
dinheiro.

Principalmente porque mais dinheiro significa melhor produção e


tempo de aparição na tv: sim, é verdade, era assim que os
legisladores e presidentes eram escolhidos, através de uma disputa
onde uns tinham programas de 45 minutos com atores de novela e
outros 15 segundos de discurso em um programa mal feito.

E de onde se conseguia o dinheiro? Bancos, é claro, quem mais tem


o dinheiro de um país?
O SISTEMA JUDICIÁRIO

Em Manganês o cargo de juiz passava de pai para filho (geralmente


quando o filho se casava).

O SISTEMA TRIBUTÁRIO

O sistema de tributos em Manganês era considerado um dos mais


altos do mundo em termos de percentagem sobre o cidadão,
chegando a quase 70% de tudo o que o País produzia em um ano.

Em Manganês era sabido que os mais pobres pagavam mais, mas no


entanto ninguém com a autoridade fazia nada sobre isso. Para se
adquirir um carro, por exemplo, se pagava 60% de seu valor em
impostos, 39% para os donos das empresas e 1% para as pessoas que
os construíram.

A Constituição assegurava uma maldição chamada Salário Mínimo,


que era realmente mínimo, como avisa o nome.

Como o valor gerado pelos impostos de automóveis não era


obrigatoriamente destinado para a melhoria do tráfego, as ruas de
Manganês eram um verdadeiro “inferno” e a venda de carros neste
esquema, incentivada pelo estúpido presidente do país, não parava
de crescer.

Além da ajuda governamental para a venda inescrupulosa de carros,


foi vedada a entrada de carros importados no país, mais baratos e de
melhor qualidade do que os fabricados pelas 5 ou 6 família
mesquinhas de Manganólia, capital de Manganês. Esse crescimento
na produção de carros de baixa qualidade e baixa segurança somado
a um descaso no setor de infra estrutura de tráfego causou milhões
de mortes como seria de se
esperar.

No sistema tributário manganês era prevista a bi e a tri-tributação, o


imposto composto, a tributação “embutida” e o tributo com efeito de
confisco (superior a 100% do valor do produto também podia),
instituições estas abolidas em todos os outros Estados modernos.

Estas medidas garantiam uma alta receita tributária, utilizada pelo


governo diligentemente na compra de carros importados, jóias, casas
e viagens a paraísos fiscais.

ECONOMIA

Como herança da fase colonial exploratória, a elite de Manganês


estava acostumada com a produção de bens primários, que não
precisassem de investimento em conhecimento para os empregados.

Assim, a economia era sustentada por produtos “sofisticados” como


manganês, banana, madeira, soja e leite. Apesar de muitos apelos
dos poucos cientistas Manganeses, o governo nunca quis incentivar a
modernização de nada, pois, para eles tudo já estava bem como
estava.

A população adorava os produtos modernos importados, produzidos


com matéria prima manganesa em países industrializados, e trazidos
com imposto de importação de 130%.

O governo reclamava constantemente da classe média manganesa,


que gostava de viajar ao exterior e trazia os mais variados produtos
estrangeiros, pois estes estavam levando seu dinheiro para gastar no
exterior com produtos superiores aos do mercado manganês.

A elite manganesa parecia não se importar com o baixo preço


oferecido pelas matérias primas (estritamente necessárias para a
produção dos produtos modernos importados), pois as bilhões de
toneladas exportadas garantiam uma zona de conforto para as 5 ou 6
famílias donas do país.

A Maldição do salário-mínimo era soberba, pois garantia 90% do


lucro para as 5 ou 6 famílias, e 10% para os 294 milhões de
trabalhadores que, efetivamente, produziram as
riquezas. E assim a vida continua!
V. O Agricultor

O Agricultor acordou de manhã, como sempre bem cedo, e foi


trabalhar. Seus pensamentos estavam questionadores naqueles dias.
Por que a realidade dele tinha que ser esta? Seu espírito era de
aventureiro, desbravador.

Às vezes tinha vontade de largar tudo e partir em uma jornada onde


se sentiria livre. Mas, como que guiado por uma mão invisível,
estava sempre cumprindo tarefas, como capinar, cortar madeira,
trabalhar na construção de estruturas...

Morava em uma vila medieval. O castelo no centro, imponente


comparado com sua vida simples, descansando no topo de um
penhasco.

Às vezes tinha vontade de aprender a tocar um instrumento, mas


simplesmente não havia tempo livre em seu dia para tal coisa.

Já Cavaleiro, morador da mesma localidade, tinha uma vida cheia de


aventuras. Ao comando de seu Mestre, poderia explorar regiões
desconhecidas, proteger os cidadãos, partir em missões de alta
importância e muito mais.

Fazia parte dos Cavaleiros de Elite do Rei, e fora treinado por


professores criteriosos.

Mas, ao contrário do Agricultor, nunca questionara a sua realidade.


Lançava-se em batalhas insanas ao comando de um destino que
parecia lhe bastar.

Uma coincidência fez com que Agricultor e Cavaleiro estivessem


próximos um do outro, cruzando a Serra de Fiolun pela Estrada do
Rei, quando uma estranha aparição surgiu próximo a um
cruzamento.

Parecia com um ser mitológico, mas se comunicava em bom idioma:


-Bom dia, senhores, meu nome é Myst Maze, os senhores aceitam
chá? Temos aqui as melhores qualidades, basta que vocês bebam
uma xícara como amostra grátis, que nunca mais irão deixar de
contatar o prezado Myst Maze, já que temos os melhores preços a
oeste de Trip Mountain.

No entanto, Cavaleiro havia recentemente realizado uma


especialização em seres de Outros Mundos, e sua espada estava
equipada com a Resina de Malu, o que a tornava imune a qualquer
tipo de magia conhecida.

Em poucos minutos Myst Maze estava aprisionado com uma corda


especial, com a espada de Cavaleiro apontada para sua garganta.

Agricultor havia partido, a mando de Cavaleiro, para buscar um pano


molhado em uma cabana próxima, a fim de matar o fantasma,
segundo Cavaleiro.

-Besta, revela a tua real natureza! Ou afogar-te-ei com o pano


molhado que o meu servo está trazendo!

-Tudo bem, posso explicar, se você me libertar. Sou um Vírus que


veio para o seu mundo para corromper o seu Sistema.

-Vírus? Vendo Agricultor chegar com o pano molhado, o Cavaleiro


gritou:

-Rápido Agricultor, este é um fantasma chamado Vírus que veio


corromper o nosso Mundo!

O pano molhado foi enfiado na boca do estranho ser, que


permaneceu olhando para os dois, sem no entanto desaparecer, como
previsto nos aperfeiçoamentos realizados pelo Cavaleiro.

Não entendendo o que fizera de errado, o Cavaleiro desistiu do pano


molhado, mas sua espada igualmente não funcionou.

-Vou deixar esse fantasma preso para que não consiga fazer mal ao
nosso mundo.
O Agricultor pensou “-Esses Cavaleiros são como crianças mesmo,
claro que este é um mendigo deformado, e não um ser de Outro
Mundo.”

Então à noite o Agricultor voltou e desatou o nó de Myst Maze, que


em agradecimento ofereceu para o Agricultor uma estranha poção,
segundo ele que o “faria ver o que havia por detrás do véu da
realidade”.

Primeiro o Agricultor viu números por detrás de imagens, depois


imagens de sua vida, onde viu a si mesmo morrendo repetidamente,
ora por algum ataque de invasores, ora acometido por morte súbita.

Mas no outro instante estava novamente trabalhando em sua fazenda,


como um círculo infinito. Memórias que nunca havia tido ficaram
visíveis também.

À medida que o efeito do chá evoluía, Agricultor passava a entender


mais e mais a natureza da sua realidade.

Em uma delas ele era o Cavaleiro, em outra um padre, em outra um


importante prefeito.

Em algumas delas morria precocemente, sem obter sucesso.

-Mas Myst, quem está controlado essas histórias? De quem é esta


mão invisível que controla nosso Universo?

-“Calma Agricultor. Experimente este fumo, e você vai poder


adentrar no âmago do seu Mundo”, estendendo um cachimbo de
madeira em sua direção. O agricultor deu algumas baforadas no
cachimbo e as cores em sua mente se alteraram.

Começou a ver instruções escritas em alguma dimensão superior.


Enxergou uma mão sobre a sua vila dando ordens para todas as
pessoas.
“Eu sabia! O homem livre simplesmente não existe mesmo!” Às
vezes a mão abria opções como “salvar jogo”. “Estranho”, pensou o
Agricultor. “Salvar jogo?”.

Então notou um exército invasor se aproximando para atacar a


cidade. Os reforços do Rei não foram suficientes e o castelo já estava
sendo bombardeado.

Uma opção abriu no ar “carregar jogo” e todos estavam vivos


novamente e trabalhando. Pôde perceber a mão trabalhando
freneticamente para criar melhores defesas, que realmente evitaram a
destruição da vila que teria ocorrido novamente, pois a invasão se
repetiu!

Com aquelas revelações, o Agricultor pensou “Nosso Deus é


poderoso. Pode criar novas versões da História para que possamos
estar sempre bem.

Com certeza o Deus de nossos invasores não pode fazer isso, senão
eles já deveriam ter nos destruído a uma hora dessa”. E então voltou
ao seu trabalho de camponês em um jogo de computador, e nunca
mais temeu a Morte.
VI. Os Morgrons

Já fazia tempo que os Estados Unidos tinham obtido a tecnologia do


teletransporte, mas sua aplicação na exploração de novos planetas
ainda era parca, pois era necessária a habilitação prévia de uma
instalação para servir de Receptáculo para os materiais e pessoas a
serem teletransportadas.

A viagem para a instalação de Receptáculos nos planetas de nosso


Sistema Solar levara poucas dezenas de anos, o que consumiu muito
em bilhões de dólares, entretanto praticamente nada de lucros.

Vênus é um inferno. Marte, um deserto desolado. Em Plutão a


internet é realmente muito lenta.

Assim sendo, até o governo dos Estados Unidos não viu muita
diversão ali. Não haviam quaisquer recursos úteis que pudessem ser
explorados com algum lucro. Nada de petróleo, ouro, ferro de
qualidade.

Todas as sondas esperançosas haviam falhado. Os Receptáculos,


antes locais de grande visitação e espanto, passaram a ficar meio que
abandonados, sem a corriqueira movimentação de comerciantes,
trabalhadores e turistas.

Com o tempo, os E.U.A. passaram o governo de cada planeta do


Sistema Solar para países menores como Suécia, Argentina, Paraguai
e Irlanda, os quais também não sabiam o que fazer com aquelas
terras desoladas e seus Receptáculos velhos e semiabandonados.

Outro fator decisivo para a pouca utilização da referida tecnologia


em 5.895 d.C. eram os Morgrons, uma antiga raça de humanos
alienígenas que surgiram a partir da galáxia de Dardros, descoberta
em 3.987.

Alguns integrantes daquele povo, apesar de bastante avançado,


tinham um senso de humor ridículo, pois sempre que viam um
Receptáculo, destruíam-no imediatamente e aparentemente por pura
diversão.
O Globo Central era sempre levado como troféu, em suas
espaçonaves. Os morgrons não atacavam nas redondezas de nossos
planetas, mas somente em postos mais avançados como Nazareth,
Nova Nova York e Santa Maria.

O governo do E.U.A., por mais que tentasse evitar novas destruições


por parte dos Morgrons, simplesmente não possuía recursos
disponíveis para patrulhar todo o Universo, principalmente porque
havia gasto muito dinheiro desenvolvendo a tecnologia do
teletransporte (o estúpido erro estratégico havia sido creditado ao
presidente Major, que em 5.891 d.C. assumira o cargo de
Comandante-em-Chefe, mas na realidade quem teve a ideia havia
sido a sua esposa, Martha).

Inclusive toda a ideia de se utilizar o teletransporte seria para


economizar com a construção de espaçonaves, que havia
anteriormente sido terceirizada para os chineses, os quais as
revendiam de volta pros E.U.A. com vantagem de preços.

Naquele ponto no futuro longínquo tal vantagem se devia à diferença


entre o salário do funcionário americano e do chinês.

Os morgrons, por seu lado, habitavam todo um sistema solar super


opulento, o Sistema Doplen. A razão pela qual eles surgiram lá e
nós, aqui, nem Deus sabe.

Mas é injusto, explicarei o porquê:

Em Doplen os oceanos tem água doce, chove ouro de quando em


quando, e não existe qualquer tipo de imposto.

E tudo funciona muito bem, devido à grande opulência do local. O


problema é que um dia um meteorito caiu próximo à Doplen City, e
com ele material congelado de Nova York, mais precisamente
guardanapos e uma cópia de Ratattouille, que os cientistas morgrons
inseriram em seus DVDs e perceberam o quanto os serem humanos
na Terra eram maus.
Inclusive Tenarion Ingesto, grande pesquisador Morgron, deduziu
que aquela mídia trazida dos confins do Universo poderia ser um
pedido de ajuda, pois supôs a mensagem ali contida era de extrema
importância, pois o material para produzir aquele disco, um
combustível fóssil chamado petróleo, era extremamente raro e finito
naquelas bandas.

Foi quando Pasteurius Cassos, presidente dos Estados Unidos


Morgrons, decidiu solicitar a Manerius Xistamus, seu Ministro
Geral, para que se correspondesse com Unityu Imnia, uma
especialista sulista conhecida por suas pesquisas na área de viagens
no tempo, para que esta contatasse seu primo Gremulim, um velho
feiticeiro que morava nos arredores de Satatoçag, com o intuito de
que este procurasse Mongaden Falázium Umbariate, sócio de John, o
Mago. Ninguém sabe o porquê.

Apenas a título de curiosidade, os morgrons não se denominavam


assim, mas de Humanos, e assim como nós em relação a eles,
denominavam-nos de Morgrons.

Este é um mistério até hoje desconhecido da ciência linguística (N.E.


em 6.455 foi descoberto por Tristão Vargas Neto que tal
coincidência estelar era somente um erro de tradução de Valetino
Castro, argentino autor do Primeiro Dicionário Inglês-Morgron).

Valentino inadvertidamente colocou a sua criação na internet sem


corrigí-la adequadamente, a qual foi inadvertidamente aceita em um
site de dicionários, e, dada a grande falta de interesse por parte de
outros pesquisadores em estudar o terríveis Morgrons, aquela fonte
foi dada como fidedigna até meados de 6.478, quando Tristão
Vargas Neto fora perdoado de sua acusação de heresia, e das suas
cinzas seu corpo foi recuperado, muito mais rabugento do que antes).

Voltando ao assunto anterior, e para resumi-lo, a caça a tudo que era


humano começou devido a uma série de reportagens realizadas pela
AIH International, uma rede de televisão Morgron, sobre a Maldade
Humana.
Mas a destruição de nossos Receptáculos não era uma medida
governamental Morgron, e sim obra de Rafrat, o adolescente rebelde
filho do prefeito de Doplen City que se empolgara assistindo o
seriado da AIH. Ele e seus amigos tinham espaçonaves tão potentes
e bonitas que faziam as WE fabricadas na China parecerem fuscas
caindo aos pedaços.

Com sua avançada tecnologia, e munidos de ovos, partiam todo dia


para as profundezas da galáxia procurando Receptáculos vazios
(procuravam não matar ninguém) para jogar seus ovos nas delicadas
películas de proteção.

Os cientistas chineses não sabiam, mas em exposição aos ovos, tais


películas atingiam altos estágios de instabilidade, causando uma
oxidação a nível molecular, comprometendo todo o sistema como
um todo, devido à sobrecarga.

Se uma transmissão já havia sido iniciada, a pessoa ou material tele


transportado seria enviada de volta, no entanto com um agonizante
efeito colateral: o ovo naquela altura já estava estragado, e sua
mistura aos gases de transmissão (ou gases In) provocavam na
vítima um infernizante odor, que o acompanharia por toda a vida (o
seguro para viajantes espaciais passou a ser mais um fator proibitivo
para a utilização da tecnologia).

O desprezo dos Morgrons perante nós era muito grande,


impossibilitando qualquer tentativa de convivência diplomática.

Nossos líderes, por diversas vezes tomaram a iniciativa de tentar um


contato amigável, mas os morgrons somente riam de nossas
vestimentas e veículos simples para os seus padrões.

A impressão de que não nos levavam a sério ficava mais latente


porque os Morgrons não envelheciam como nós: aos 55 ainda
aparentavam 16 anos de idade (cientistas russos detectaram
diferenças nos níveis de oxigênio no ar em Doplen, o que acaba
ocasionando uma melhor qualidade no funcionamento dos corpos
dos seres vivos).
Foi então que Pitifarino Pitarco, um Morgron policial atuando como
professor em Buenos Aires teve uma epifania.

O que importa para nós agora é a estranha teoria que Pitifarino, que
em um momento de maldade etílica, havia deixado anotada em um
quarto de hotel em Búzios em 1994.

A tal teoria, ensinada nas escolas para as crianças Morgrons, ainda


não fora descoberta pelos Humanos até aquela data, e previa
simplesmente tudo.

TUDO mesmo, inclusive seu nome era a Teoria de Tudo. Espaço-


tempo e muito mais. De cafeteiras a nano computadores quânticos de
lavagem veicular, passando pelas várias dimensões de possibilidades
e a natureza da consciência.

Na realidade Morgrons eram fisicamente humanos, no entanto,


surgiram a partir do Sistema Doplen, conforme já mencionado
anteriormente. O motivo de estarmos cá e eles, lá, é ainda ignorado
pelos nossos cientistas.

Mas Maria Isabel, doutora em física e astronáutica, mestra em


Filosofia do Direito e Ciências pela Universidade da Califórnia,
descobriu o porquê naquela tarde nublada em 1994, Búzios.

Ela estava temporariamente trabalhando naquela cidade (cientistas


no Brasil não tinham muito onde trabalhar em 1994, e por isso ela
estava trabalhando como gerente de um hotel).

Dona Meire, a faxineira, encontrou um papel onde estava escrito a


seguinte equação:

A=C-e

A elegância da teoria, na verdade até obscurecia o fato de que seria o


Santo Graal da ciência humana do final do século XX até o século
XXIX.
Mas agora, tudo estava explicado. Poderíamos viajar para uma outra
história, onde nós, os Humanos, seríamos todos originários de
Doplen, chuvas de ouro, mulheres gostosas, e, claro, a poderosa
tecnologia da viagem no tempo Morgron, somente para garantir que
qualquer necessidade fosse sanada.

Tudo isso em uma simples equação. Só tinha um problema. A


questão de nossa escassez relativa de recursos naturais, tão
humilhante, impedia a colocação em prática do antigo conhecimento
rabiscado por Pitifarino.

Um simples pára-brisas para a Máquina do Tempo iria consumir


todo o diamante no Sistema Solar.

O sistema de marchas da nave, intertemporal, necessitava de um


recurso inexistente para nós, a minaurita, somente encontrada nas
planícies de Helminadelga, a 3.049 Km de Doplen City.

Tal recurso era uma espécie de ar consciente, que se podia criar um


campo necessário para a Máquina do Tempo buzinar.

A necessidade de uma buzina especial como esta servia para evitar


acidentes imprevisíveis (e processos de indenizações com
atualização monetária de milhões de anos) nos tempos de destino.
Essas buzinas não sofriam o atraso comum como nossos carros,
quando estes estão em movimento.

De qualquer forma, a lista de materiais impossíveis se estendia, e


Maria Isabel foi deitar, com vontade de amassar aquele guardanapo
usado e jogá-lo no lixo.
VII. Reality Shows

Eram 11 da noite quando o programa começou. O reality show


“Você foi Examinado” vinha fazendo bastante sucesso no canal 59,
nas noites de quarta-feira.

O voz do narrador irrompe na tevê, juntamente com imagens do


último episódio, e diz:

-Boa noite a todos, aqui é Hank Sherman Jr. e hoje apresentaremos


mais uma edição do “Você foi Examinado” onde pegamos Stella
Donington, uma inglesa de classe média cuja reação foi
surpreendente – a tela mostrando Stella levando um susto
aparentemente com a luz e equipe do programa invadindo o seu
banheiro na hora em que estava realizando sua necessidades mais
fisiológicas.

A trilha sonora e a claque de risos completando o clima de comédia.

Stella está em sua casa estudando um pouco, e sentindo-se sonolenta,


vai ao banheiro escovar os dentes e realizar outros asseios antes de ir
para a cama.

No momento em que pensou em sair da privada ela viu seres


transparentes flutuando no ar vindo em sua direção e quase desmaiou
de susto e medo.

Os seres a levaram para um tipo de nave onde sofreu todo tipo de


tortura física e psicológica, no entanto a equipe do programa apagou
artificialmente a memória da mente de Stella, que no entanto passou
a sofrer de alguns problemas colaterais.

No planeta Terra do Universo Paralelo 13 a civilização humana


evoluíra tão rapidamente que provou a existência de Universos
Paralelos já no século XIX, passando a ser capaz de transitar entre
eles a partir de 1970.
Nos anos 90 surgiram programas de televisão como o “Você foi
examinado” que conquistaram audiência aproveitando-se de uma
brecha na lei, que não previa qualquer direito ao cidadão de outras
dimensões.

Claro que a correspondente Stella Donington do Universo Paralelo


13 já havia autorizado o uso de sua imagem em troca de um
caminhão de presentes, cuja entrega também era televisionada.

Stella Donington: -Antes de mais nada, gostaria de agradecer aos


meus pais, meu marido George, filhos John e Mary por todo o
suporte, eu sempre sonhei em participar do “Você foi Examinado” .

Gostaria de agradecer também a Roberta Johnson (design do “Você


foi Examinado) pela belíssima escolha dos invasores, amei os seres
transparentes utilizados. Gostei também da parte em que vocês
passam a sonda por dentro da cabeça sem derramar uma gota de
sangue! Aquele é um truque maravilhoso, ainda bem que não há dor!
Eu não senti nada, gente. N-A-D-I-N-H-A!
VIII. O português

1648. Joaquim Leal, 34 anos. Português, viera para o Lugar da Barra


a Serviço do Império para ser capitão do mato. Estava se dando bem,
pois desde os tempos de Lisboa sua melhor perícia era explorar as
pessoas.

Ainda na caravela, durante a viagem de travessia do Atlântico, nas


noites tranquilas passava acordado, apenas observando o reflexo da
lua no oceano. A existência de um Mundo Novo sempre lhe
despertou interesse, pois sempre sonhara com antigas civilizações.
Alguma coisa o chamava em direção ao gigante novo continente.

A chegada fora conturbada pois houveram tempestades tropicais nas


últimas 2 semanas. Chegando no Lugar da Barra, Joaquim verificou
que o local era rústico e subdesenvolvido: possuía uma fortificação
lusitana, poucas construções e muitos barracos em volta do Forte. No
entanto, o rio Negro e a Floresta sobrepujavam tudo: para Joaquim
estar ali era como uma viagem para trás no tempo.

No entanto, o comércio local possuía muita especiarias e drogas do


sertão.

Foi quando empreendeu sua primeira viagem ao interior da floresta


que sua história começou a mudar. O objetivo da incursão era a
captura de alguns índios para o trabalho na lavoura em fazendas.

Com o preço do escravo negro nas alturas na Província do Grão-


Pará, a captura de índios era um ótimo negócio, ainda mais quando
se era capitão do mato (toda a burocracia necessária para legalizar
um escravo índio estava à mão, tão fácil quanto um estalar de
dedos).

A tribo encontrada pelo agrupamento português de 25 homens


surpreendeu na batalha, pois possuíam armamento de fogo (de uso
exclusivo do exército imperial), e em 4 horas de tiroteio, sobraram
somente Joaquim e Roberto Durval, no entanto somente Joaquim
conseguiu escapar embrenhando-se no mato.
O destino de Roberto fora brutal: apesar da tribo nunca ter sido
adepta do canibalismo, havia uns 10 anos que o cacique ordenara a
degustação lenta de todo homem branco capturado, como forma de
evitar as invasões.

Joaquim, ainda intoxicado pelo veneno dos índios, refugiara-se em


uma canoa encontrada na beira do Rio Amazonas, adormecendo em
letargia, devido aos seus ferimentos. Por alguma coincidência divina,
fora salvo por um indiozinho travesso, que, sem perceber a presença
de Joaquim por baixo dos trapos, soltou a canoa na correnteza, um
ato de retaliação contra o dono da mesma, que havia caçoado das
suas orelhas 2 horas antes.

Com a chegada dos guerreiros no local, não havia mais sinal da


canoa, que naquele momento já estava a alguns quilômetros de
distância dali, devido à forte correnteza do Amazonas.

Joaquim desceu o rio tranquilamente, durante mais de um dia


desacordado, para então se dar conta de sua precária situação, longe
de tudo e de todos e afastado quilômetros das margens.

Com o cair na noite o clima ficou assustador, pois as águas ficaram


mais bravias, e o negrume em volta o deixou sem noção de onde
estava a terra. Boiando correnteza abaixo, Joaquim observou árvores
inteiras arrancadas do solo pelo rio, descendo ameaçadoramente
como pequenos barcos assombrados na escuridão. As estórias que
ecoavam até em Lisboa falavam de tribos canibais, mulheres
guerreiras e animais hediondos, no entanto, Joaquim era um
aventureiro, e o que não lhe faltava era coragem, mas agora havia
medo em sua mente.

Ao observar luzes ao longe já estava perdendo a consciência,


enquanto Midsgar mirava a canoa à deriva no horizonte, à 56 km de
distância. Enviou um falcão em direção à canoa com um aceno de
mão. A ave voou em direção à canoa de Joaquim e, com as garras
presas na quilha começou a puxar a pequena embarcação em direção
a Midsgar.
Quando acordou, Joaquim já estava bem melhor dos ferimentos.
Abriu os olhos e viu uma garota e um rapaz. Comunicou-se com eles
através de pensamentos:

-Oi, onde estou? Quem são vocês?

Em resposta, o rapaz se antecipou: -Eu sou Midsgar. Esta é minha


irmã, Yna. Você está na cidade de Entorin.

Á primeira vista, Joaquim nunca consideraria Entorin uma cidade,


pois na verdade parecia mais uma aldeia de índios como tantas
outras.

À noite, Yna e Midsgar levaram Joaquim para uma festa, onde ele
viu os habitantes felizes e dançando.

Nunca ouvira aquele tipo de música, não lhe parecia com nada que
conhecia. A música era ótima, às vezes empolgante e às vezes calma
e relaxante; os participantes acompanhavam os climas com suas
danças.

No centro da festa estava um senhor com cabelos grisalhos e longos:


dançando, mas parecia concentrado, e com as mão se movendo no
ar, promovia alterações no andamento e nas nuances da música.

Por falar em música, Joaquim percebeu de que não havia nenhum


instrumento, no entanto a música estava em alto e bom tom.

Aqueles não eram índios normais, Joaquim conjecturou, pois aquela


forma de execução musical lhe pareceu extremamente bizarra: o
velho xamã parecia retirar a música de sua cabeça ao mesmo tempo
emanando-a.

O velho convidou Midsgar para perto de si e então os dois


trabalharam juntos na música, promovendo uma injeção de ânimo e
alegria para os dançantes.

Joaquim, envolvido pela música e pelas ervas que lhes foram


ministradas sob a forma de caldo horas antes, sentiu-se muitíssimo
bem, e então percebeu que podia entender a todos apenas com a
força do pensamento.

No dia seguinte, Midsgar lhe disse que não poderia deixá-lo voltar,
pois ninguém sabia da existência da aldeia.

VIAGEM NO TEMPO

A tribo decidiu remover Joaquim para outro lugar, pois o


assentamento não poderia ser descoberto pelos portugueses.
Decidiram levá-lo para o futuro, talvez como uma forma de mostrá-
lo no que as atividades de seu povo culminaram.

Assim, Joaquim acordou um dia e estava deitado em uma calçada de


uma movimentada avenida, em uma cidade impecavelmente linda
(em nada parecia com a desolada Vila da Barra).

Em menos de 2 minutos dois policiais o abordaram, e, devido a ter


sido encontrado na calçada chamaram um juiz através de um
aparelho eletrônico, o qual, observando a cena, fez surgir imagens de
duas outras pessoas.

Mais 15 minutos e Joaquim já estava sentenciado à remoção para o


Sistema. Os policiais então dominaram o seu corpo, levando-o ao
Instituto de Identificação.

Chegando lá teve suas digitais auferidas, seu nome registrado, sua


fotografia batida e sua tatuagem realizada. Entrou através de um
largo e pesado portão no território do Sistema.

Àquela altura, 80% da população mundial estava no sistema


carcerário, o que resolveu completamente o problema do
desemprego, já que todos os internos trabalhavam e recebiam um
salário mínimo.

Os 20% restantes eram pessoas que nunca haviam cometido


qualquer infração por mais leve que seja. Estas pessoas governavam
o mundo e usufruíam do trabalho dos internos.
Deve-se levar em consideração que o sistema carcerário evoluíra
bastante e abrangia vastos espaços, muito diferente dos presídios de
antigamente.

Na verdade eram cidades desconectadas umas das outras por


ausência de estradas, altamente vigiadas por câmeras de alta
resolução e qualquer desvio era punido severamente, através de
choques aéreos, comandados remotamente por computadores.

Nestes locais o governo mundial não se obrigava a prover todos os


direitos de cidadãos, posto que o Sistema era voltado para os
marginais, que conforme os valores da época, não eram dignos de
direitos, mas somente obrigações, devido aos seus delitos.

No entanto, alguns direitos mais básicos eram providos, e a vida


dentro do Sistema não era muito diferente da vida em uma metrópole
terceiro-mundista do século XX.

A diferença aqui era a classe superior de humanos, os 20%


abastados, 100% livres da convivência com pessoas desviantes,
concentrando 99% das riquezas geradas no planeta.

Salvo em cargos de administração pública, estas pessoas não


precisavam trabalhar, mas tão somente usufruir da riqueza que lhe
cabia, gerada pelos internos, condenados às mais diversas rotinas de
trabalho. Em meio a este mundo injusto, Misgar achou melhor
transferir Joaquim de volta, pois não havia lugar no futuro para
aquele homem.

Se precaveu para que Joaquim acordasse na Vila, e caso ficasse


calado sobre a sua experiência, poderia viver a sua vida
normalmente. Caso tentasse abrir a boca, iria se dar mal.

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