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Áureo Nhaca
Pós-Graduação, Universidade Técnica de Moçambique
Resumo
O presente trabalho apresenta uma análise da globalização como a base da internacionalização,
e dos seus meios, servindo esta de ponto focal para a analise do dumping social em Moçambique
em contrapartida do bloco regional SADC, buscando analisar os riscos e oportunidades
advindas dela e a posterior seus factores de decisão pelos modos de entrada em novos mercados
e os que geram risco e oportunidades mediante o dumping social. Visa de igual modo analisar
o dumping social no contexto do comércio regional e identificar os desafios actuais da
internacionalização com base nos modelos, motivações e factores de decisão que encaram as
PME’s em Moçambique.
1. Introdução
A economia mundial nos dias de hoje tem mudado constantemente, e de igual modo os estados,
as políticas que regem as relações entre os mesmos, e, por conseguinte, redefinindo novos meios
de como o ambiente de negócios deve ser regido pelos membros integrantes nos casos de
associações, coligadas estatais, comunidades, zonas, parcerias uni e bilaterais, de modo a que
cada uma das partes possa assim tornar-se competitiva em detrimento de outras no mesmo seio
(NHACA, 2019).
A competição globalizada acaba assim tornando-se num pilar fundamental para as relações
empresariais a nível mundial, tendo as mesmas que tomar uma posição de forma a serem
eficientes face as novas condições do mercado internacional. Foi a partir da década de 1960 que
se iniciou um mais aprofundado relativamente a globalização e internacionalização das
empresas, sendo que as suas bases principais era mais a economia (o pensamento histórico,
onde Adam Smith, John Keynes e David Ricardo denotaram-se mais), sociologia e da
antropologia, de modo a se perceber as demais mudanças no ambiente de negócios de muitos
estados e empresas, não alienando-se o factor do marketing que é estritamente relevante nos
Graduado em Gestão Financeira e Mestrando em Finanças e Comércio Internacional pela Universidade Técnica
de Moçambique (UDM). Analista Económico e Financeiro. anhaca@me.com
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dias de hoje.
Este, esta subdividido em quatro tópicos, sendo que o primeiro corresponde a esta introdução,
o segundo aos paradigmas da globalização e internacionalização, indo mais a fundo para os
aspectos relativo aos modelos deste último e ao dumping social, o terceiro e quarto
apresentando as considerações finais e referências. Usou-se uma abordagem qualitativa,
buscando levantar os conhecimentos considerados essenciais para poder perceber os diferentes
cenários, quanto a riscos e oportunidades e que os factores de competitividade incidem no
ambiente de negócios nacional e regional.
2. Globalização e Internacionalização
2.1. Globalização
concorrência e das instabilidades nas condições de mercado, muitas empresas têm sido levadas
a pensar no mercado como global e não como mercado doméstico ou interno e estrangeiro ou
externo. Estes factores interferem no comportamento e nas decisões tomadas e esse ambiente
altamente competitivo tem impulsionado as empresas a buscarem qualidade e eficiência,
requisitos fundamentais para a sobrevivência no mercado globalizado.
2.2. Internacionalização
Mathews (2002) define internacionalização como a expansão transfronteiriça por entre países
e regiões globais localizados em diferentes regiões geográficas ou mercados. Já Calof e
1
Organização Internacional do Trabalho - https://www.ilo.org/global/lang--en/index.htm
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Beamish (1995) tomam como o processo de adaptação das operações empresariais, desde
estratégia, estrutura, recursos entre outro, relativos aos ambientes internacionais a um estado.
Actualmente, e pelas mudanças que os estados vão sofrendo, observamos uma necessidade um
tanto quanto que com tendências ao liberalismo do comércio a uma escala mundial, outrora
defendido pelo Smith (2010), sendo que a ter actividades em mercados internacionais tem sido
a resposta das empresas ao aumento generalizado da concorrência e às ameaças à sua
sobrevivência, isso no quotidiano.
No que se refere a globalização há que olhar para os seus contornos na economia, tendo ela
dimensões que são importantes para a análise aquando da necessidade de internacionalizar uma
empresa, sendo as mesmas:
− Comércio internacional de bens e serviços;
− Mercado financeiro;
− Produção de bens e serviços, e;
− Mercado de emprego.
No que se refere ao comércio internacional de bens e serviços, seria a venda de mercadorias e
serviços entre diferentes estados, expandindo-se assim muito rapidamente a empresa e suas
operações, tirando vantagem do regime de comércio internacional livre, ou seja, sem barreiras
alfandegárias, no caso de Moçambique seria pela SADC2, o principal veículo deste processo
foi Protocolo Comercial da SADC de 1996, o que referenciava o inicio do processo de colocar
fim as barreiras comerciais devendo este protocolo tomar eminência em 2001. Isto quer dizer
que as importações de Moçambique começarão a ser liberalizadas a partir de 2008, devendo o
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Comunidade de Desenvolvimento da África Austral – www.sadc.int (acesso em 29.05.2019)
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Por este e mais aspectos, autores como Sousa (1997), incitam que a internacionalização não
pode ser vista como um factor único de solução universal para as demais situações de falta de
crescimento que as empresas locais e ou de qualquer estado possam estar a vivenciar, mas que
sim possam considera-la como uma das demais estratégias de crescimento.
Assim, as decisões estratégicas podem ser consideradas como uma escolha racional e ordenada
das alternativas que melhor satisfazem os objectivos empresariais em um ambiente de
competição. O processo de internacionalização pode ser considerado como parte das decisões
estratégicas da organização, já que é uma acção da empresa de grande importância e amplitude
que se referem ao relacionamento da empresa com seu ambiente (MELO et al., 2013, p. 2).
E ainda tem de ser levado em questão a análise de conglomerados, das empresas com os
melhores desempenhos, estas que preferencialmente encontram-se no mesmo ramo de actuação
e ou até mesmo segmento, considerando as capacidades e recursos destas, por serem a fonte
mais importante de vantagem competitiva e sustentável para a entrada no mercado
internacional.
O modo de entrada no mercado externo para uma empresa, é o canal a mesma deve utilizar para
conseguir entrar para um novo mercado internacional. A escolha do modo depende da
motivação empresarial assim como da decisão de como entrar, fazendo um estudo económico
ou de viabilidade, olhando para as vantagens e desvantagens que tal mercado tenha.
Para Orsi et al. (2015), considera-se de igual modo expansão empresarial para novos mercados,
e que pode ser alcançada através dos seguintes meios:
− Exportação: Venda ou comercialização directa de um país produtor para o outro;
− Licenciamento: É o acordo de negócios entre duas empresas distintas, em que uma
cede direitos de produção e venda a outra;
− Franchising: É o direito de actividades económicas em nome de outra, é na verdade
mais uma forma de licenciamento;
− Parceiras: As parcerias ajudam a fortalecer as empresas, sob o meio como poderão
lidar com o novo mercado onde desejam engrenar;
− Investimento Directo: É aquisição de propriedade directa de capitais, pessoal,
instalações e tecnologias em países diferente ao de origem;
− Aquisições: É a aquisição de uma empresa já existente no mercado onde se pretende
entrar, assim facilitando para os meios ou modos anteriores.
2.2.2. Barreiras
Existem cinco barreiras que estão relacionadas com a exportação e comercialização de bens e
serviços, na perspectiva da internacionalização e globalização de empresas, tais que se aplicam
para as empresas nacionais, as mesmas que para Moini (1997) são:
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Mas não podemos nos esquecer de realçar uma barreira muito importante no processo de
internacionalização que é a cultura, pois sempre haverá uma necessidade de a empresa que
atravessar o seu limite territorial ter de se ajustar a cultura de outros estados, como é o caso de
estados islâmicos que não consomem determinados produtos e exigem sempre que os mesmos
sejam certificados por uma Comissão Halal Local.
Existem seis teorias de internacionalização a saber: o ciclo da vida do produto; Uppsala; escolha
adaptativa; paradigma eclético; baseado em recursos e o diamante. Sendo que, excepto o último,
são considerados como modelos processuais. Em todas há factores como a localização que traz
demasiados benefícios para as empresas que olham com maior afinco a necessidade de se
estabelecer em locais estratégicos e por via disso tirar uma vantagem competitiva por meio de
diferença de preços nos produtos e matéria-prima, a qualidade dos insumos a obter, os custos
de índole logística, a distância física, o idioma e a cultura a aprender pelos demais pontos de
negócios.
No modelo diamante tem como origem da vantagem competitiva o pais de origem, tal que
fornece maior capital para as empresas que facilmente podem embarcar para a
internacionalização temendo menos riscos e consequências dos mercados estrangeiros.
No ciclo da vida do produto olhamos para os recursos in- e tangíveis, que vão desde a marca,
patente, edifícios, espaços territoriais, entre outros, na medida em que pode se optar pela
diversificação e servindo-se do investimento directo externo, que é provido pelos países em que
preferem em investir em outros países, incorrendo aos custos desse mesmo investimento apenas
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(DIAS, 2007).
Para as escolhas gerenciais estaríamos a olhar para um processo incremental, onde o benefício
das diversas adversidades e situações por si só são sucessivas em meio a mercados
internacionais, e não tomando como simples exigência de gestão como o processo planificado
e baseado em uma análise racional.
Quanto ao ambiente, a internacionalização se impõe nas empresas, visto que estas tem de
sempre se adaptar ao mesmo, a cada mudança que este sofrer, sendo que a empresa poderá
quase que sempre optar por aqueles que mais acomodam o seu modus vivendi e operandi, desde
suas operações a resultados, para que possam se sentir integrados e menos estrangeiros, tal, por
meio de aplicação do conceito de distância psíquica (KOVACS et al., 2007).
Cabe a aprendizagem servir de garante para mudanças tecnológicas mais emergentes e aumento
da competição corporativa, pois com a informação obtida dessas aprendizagens, seja por via de
experiências ou vivencias em comunidades ou organizações internacionais é considerado um
factor crucial para a forma como os gestores percebem e lidam com a internacionalização, desde
que seus riscos e resultados sejam controlados.
Já para o agente externo independentemente das políticas que o governo insta, podem, porém,
ajudar e facilitar o processo de internacionalização, visto que, aumenta a concorrência e de igual
modo cria ou gera uma maturidade em relação as demais empresas que estejam no mesmo
mercado.
Para Oliveira e Pastori (2016), a expressão dumping é um termo que, originalmente, possui
natureza económica e é utilizada para caracterizar acções praticadas por empresas no âmbito
internacional, que se utilizam da prática de redução de seus preços a níveis bem inferiores ao
da concorrência ou de seus preços no mercado interno com o propósito de eliminar a
concorrência.
Assim sendo, dumping de uma forma geral, é a comercialização de produtos a preços abaixo
do custo de produção, buscando basicamente eliminar a concorrência e conquistar uma parcela
enorme do mercado em que se actua, e o social tem as mesmas características, tal redução de
preços é feita com base na redução ou extinção de direitos trabalhistas, considerados de direitos
sociais fundamentais, os quais existem para assegurar minimamente uma vida digna aos
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Para a comissão dos Socialists e Democrats (2014), o dumping social é parte integrante da
concorrência desleal e, por conseguinte, as disposições para combater o dumping social devem
ser incluídas na legislação da concorrência da UE3. Para a sua execução, a comissão deve ter
poderes para investigar o dumping social e para aplicar penas às empresas que violem as regras
europeias para impedir o dumping social.
A título de exemplo, podemos dizer que uma deslocalização produtiva significará perda de
emprego em determinado país e ganho de emprego noutro, como é o caso dos Estados Unidos
da América e a China, e o caso da CRBC4 (China) para com os trabalhadores locais
(Moçambique), visto que esta traz os seus trabalhadores que pelo seu status não auferem
salários compatíveis com o nosso sistema laboral e sindical, e Moçambique África do Sul no
caso das minas. Mais genericamente, as deslocalizações produtivas significam perda de
emprego para os países mais desenvolvidos, no entanto, a aposta seguida por muitas empresas
europeias exportadoras de bens e serviços nas potencialidades oferecidas por um mercado
global traduz-se frequentemente em novos empregos.
A verdade é que diariamente novos empregos são criados e outros são perdidos, sabendo-se que
as perdas e os ganhos não ocorrem nos mesmos sectores de actividade económica, nem nas
mesmas empresas ou regiões, e que esta troca é também desigual no que respeita às
características dos trabalhadores (sexo, idade, qualificação profissional, etc.), assim como serão
diferentes as respectivas remunerações e sistemas de segurança social que lhes estão associados
(CAMPOS e CANAVEZES, 2007).
3
União Europeia - https://europa.eu/european-union/index_pt
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China Road and Bridge Corporation - www.crbc.com/site/crbcEN/index.html
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Nos países mais desenvolvidos parece existir um contexto político favorável à divulgação e
mesmo à aceitação das propostas neoliberais, designadamente a flexibilização e
desregulamentação do trabalho e a desresponsabilização do Estado em termos de protecção
social.
Assim, cria-se uma tamanha facilidade para ocorrência de dumping social (como temos visto
os nossos antepassados em tempos migravam para a África do Sul e Rodésias, em busca de
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Instituto Nacional de Estatística - www.ine.gov.mz
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Mas quanto aos objectivos que a SADC tem de acordo com a AIP (2014), tais como:
Reduzir as tarifas impostas aos produtos originários e comercializados na região;
Eliminar todas as barreiras tarifárias e não-tarifárias no comércio de bens;
Liberalizar o comércio de serviços, facilitar o investimento transfronteiriço e a
circulação de empresários;
Harmonizar os procedimentos aduaneiros e adoptar medidas de facilitação do comércio;
Reforçar a cooperação no desenvolvimento de infraestruturas, e;
Estabelecer e promover a cooperação em todas as áreas relacionadas ao comércio entre
os estados-membros da comunidade.
Observa-se que os empresários locais podem internacionalizar-se a esse abrigo, e mesmo assim
não cometer o dumping social, principalmente para os países circunvizinhos. O protocolo
comercial propõe abranger igualmente a harmonização e coordenação de normas industriais e
de saúde, o combate de práticas desleais de comércio e surtos de importação, a liberalização de
certos sectores de serviços prioritários, a promoção da agregação do valor de transformação da
região e a luta contra o dumping social (AIP, 2014, p. 122).
3. Considerações Finais
Através a deste trabalho, verificou-se que a internacionalização de igual modo como a que com
a globalização chegaram para ficar, e de maneira um tanto quanto repentina, atendendo e
considerando o desnível entre países. Onde nuns já se era de esperar, pelas necessidades de
trocas comercias já remotas e alguns países não.
Nesta pesquisa, pode-se verificar que, além das forças impulsionadoras da internacionalização
e das teorias, as decisões estratégicas sobre a forma de entrada em mercados exteriores e sobre
a seleção destes mercados possuem um carácter extremamente crítico e importante para a
continuidade de uma empresa em seu processo de internacionalização, e em especial para
Moçambique no bloco regional da SADC, constatou-se também, dos trabalhos sobre o processo
de internacionalização, que o passo de selecionar o país de destino das actividades
internacionais da empresa é uma decisão que a mesma deverá tomar antes de decidir que forma
de entrada utilizar, fazendo uma análise do dumping social, que o mesmo é condenado.
4. Referências