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INTERNACIONALIZAÇÃO E DUMPING SOCIAL: RISCOS E OPORTUNIDADES

DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS EM MOÇAMBIQUE

Áureo Nhaca
Pós-Graduação, Universidade Técnica de Moçambique

Resumo
O presente trabalho apresenta uma análise da globalização como a base da internacionalização,
e dos seus meios, servindo esta de ponto focal para a analise do dumping social em Moçambique
em contrapartida do bloco regional SADC, buscando analisar os riscos e oportunidades
advindas dela e a posterior seus factores de decisão pelos modos de entrada em novos mercados
e os que geram risco e oportunidades mediante o dumping social. Visa de igual modo analisar
o dumping social no contexto do comércio regional e identificar os desafios actuais da
internacionalização com base nos modelos, motivações e factores de decisão que encaram as
PME’s em Moçambique.

Palavras-chave: Internacionalização. Dumping Social. Riscos e Oportunidades.

1. Introdução

A economia mundial nos dias de hoje tem mudado constantemente, e de igual modo os estados,
as políticas que regem as relações entre os mesmos, e, por conseguinte, redefinindo novos meios
de como o ambiente de negócios deve ser regido pelos membros integrantes nos casos de
associações, coligadas estatais, comunidades, zonas, parcerias uni e bilaterais, de modo a que
cada uma das partes possa assim tornar-se competitiva em detrimento de outras no mesmo seio
(NHACA, 2019).

A competição globalizada acaba assim tornando-se num pilar fundamental para as relações
empresariais a nível mundial, tendo as mesmas que tomar uma posição de forma a serem
eficientes face as novas condições do mercado internacional. Foi a partir da década de 1960 que
se iniciou um mais aprofundado relativamente a globalização e internacionalização das
empresas, sendo que as suas bases principais era mais a economia (o pensamento histórico,
onde Adam Smith, John Keynes e David Ricardo denotaram-se mais), sociologia e da
antropologia, de modo a se perceber as demais mudanças no ambiente de negócios de muitos
estados e empresas, não alienando-se o factor do marketing que é estritamente relevante nos


Graduado em Gestão Financeira e Mestrando em Finanças e Comércio Internacional pela Universidade Técnica
de Moçambique (UDM). Analista Económico e Financeiro. anhaca@me.com
2

dias de hoje.

Conquanto dessa aplicação, houve uma necessidade de desenvolver modelos de modo a


acomodar determinadas situações, estas que foram inicialmente desenvolvidas em países
industrializados onde tinham como características principais a competição e dinamismo, tanto
económico e tecnológico. Denotou-se ainda que os modelos não se aplicam em sua integra nos
países em vias de desenvolvimento, pois há evidencias empíricas de que estes necessitariam de
ajustes enormes, e as variáveis são estritamente diferentes de países desenvolvidos para os em
via de desenvolvimento, e tomando em consideração as realidades advindas dos mesmos.

Este, esta subdividido em quatro tópicos, sendo que o primeiro corresponde a esta introdução,
o segundo aos paradigmas da globalização e internacionalização, indo mais a fundo para os
aspectos relativo aos modelos deste último e ao dumping social, o terceiro e quarto
apresentando as considerações finais e referências. Usou-se uma abordagem qualitativa,
buscando levantar os conhecimentos considerados essenciais para poder perceber os diferentes
cenários, quanto a riscos e oportunidades e que os factores de competitividade incidem no
ambiente de negócios nacional e regional.

2. Globalização e Internacionalização

2.1. Globalização

É um processo de interação e integração entre as pessoas, empresas e governos de diferentes


nações. Processo esse impulsionado pelo comércio e investimentos internacionais, com o
auxílio da tecnologia de informação, a rapidez como uma pessoa pode se comunicar com outra,
não importando a distância, é um fenómeno típico da globalização. Este processo tem efeito
sobre o ambiente, cultura, sistemas políticos, desenvolvimento económico e prosperidade
(NHACA e HUGO, 2017, p. 3).

Segundo Campos e Canavezes (2007), uma característica da globalização é a


desterritorialização, ou seja, as relações entre os homens e entre instituições, sejam elas de
natureza económica, política ou cultural, tendem a desvincular-se das contingências do espaço,
podendo assim incorrer a internacionalização, com maior facilidade e sem demasiados custos.

A globalização tem trazido excelentes oportunidades de ampliação de mercado para as


empresas, entretanto também tem trazido concorrência para o mercado interno, através da
inserção local de várias empresas e produtos estrangeiros. Por isso, com o aumento da
3

concorrência e das instabilidades nas condições de mercado, muitas empresas têm sido levadas
a pensar no mercado como global e não como mercado doméstico ou interno e estrangeiro ou
externo. Estes factores interferem no comportamento e nas decisões tomadas e esse ambiente
altamente competitivo tem impulsionado as empresas a buscarem qualidade e eficiência,
requisitos fundamentais para a sobrevivência no mercado globalizado.

Segundo Martinelli (2002, p. 42), as negociações em nível internacional (olhando para um


mundo globalizado) para se tornarem efectivas as aplicações de internacionalização, devem
considerar como ingredientes básicos os aspectos, económicos, políticos e sócio-culturais de
cada país envolvido, em virtude das inúmeras diferenças existentes e da enorme influência que
esses factores têm sobre as atitudes e o comportamento das pessoas e empresas no seu
quotidiano. Isso ocorre tanto no contexto pessoal e social, como a nível empresarial, onde as
crenças e os valores são fortemente enraizados ao processo de internacionalização das
empresas.

As dinâmicas implicadas na globalização compreendem novas e importantes condições e


problemas para o mundo do trabalho, aquando da internacionalização das empresas,
constituindo um conjunto de continuidades, mas também de novos desafios para a acção laboral
e sindical. Em certos casos, trata-se de novas configurações na regulação de velhos problemas
existentes na relação entre os trabalhadores, as empresas e as sociedades, concretamente falando
do dumping social. Noutros casos, trata-se verdadeiramente de novos problemas com os quais
importa aprender a lidar em detrimento desses novos mercados, blocos regionais, grupos,
associações internacionais, estados e ou países. Dizer não às falsas inevitabilidades da
globalização e internacionalização e procurar construir alternativas credíveis constitui um forte
desafio à actuação laboral e sindical quer seja do órgão regulador mundial, nesse caso a OIT1
de igual modo para as empresas que desejam internacionalizar-se. Este desafio exige maior
estudo e aprofundamento das realidades laborais e socioeconómicas do mundo contemporâneo,
especificamente do mercado no qual deseja-se penetrar, mas também uma actuação que, sem
falsos optimismos, não embarque em derrotismos (CAMPOS e CANAVEZES, 2007, p. 136).

2.2. Internacionalização

Mathews (2002) define internacionalização como a expansão transfronteiriça por entre países
e regiões globais localizados em diferentes regiões geográficas ou mercados. Já Calof e

1
Organização Internacional do Trabalho - https://www.ilo.org/global/lang--en/index.htm
4

Beamish (1995) tomam como o processo de adaptação das operações empresariais, desde
estratégia, estrutura, recursos entre outro, relativos aos ambientes internacionais a um estado.

A actuação em diferentes estados de modo a conduzir movimentos de factores de produção


como transferências de capital, desenvolvendo projectos em cooperação com parceiros ou
simplesmente comercializando os seus produtos noutros estados (ABRANTES, 1999).

Assim, internacionalização é o acto de empresas aumentarem de forma gradual a sua


participação no mundo, em particular da nossa análise no comércio entre existente entre tais
estados diferenciados. E esta definição sugere que as empresas compreendem o ambiente
internacional como uma variável necessária à análise de suas operações, desconsiderando,
assim, seus processos de internacionalização.

Actualmente, e pelas mudanças que os estados vão sofrendo, observamos uma necessidade um
tanto quanto que com tendências ao liberalismo do comércio a uma escala mundial, outrora
defendido pelo Smith (2010), sendo que a ter actividades em mercados internacionais tem sido
a resposta das empresas ao aumento generalizado da concorrência e às ameaças à sua
sobrevivência, isso no quotidiano.

No que se refere a globalização há que olhar para os seus contornos na economia, tendo ela
dimensões que são importantes para a análise aquando da necessidade de internacionalizar uma
empresa, sendo as mesmas:
− Comércio internacional de bens e serviços;
− Mercado financeiro;
− Produção de bens e serviços, e;
− Mercado de emprego.
No que se refere ao comércio internacional de bens e serviços, seria a venda de mercadorias e
serviços entre diferentes estados, expandindo-se assim muito rapidamente a empresa e suas
operações, tirando vantagem do regime de comércio internacional livre, ou seja, sem barreiras
alfandegárias, no caso de Moçambique seria pela SADC2, o principal veículo deste processo
foi Protocolo Comercial da SADC de 1996, o que referenciava o inicio do processo de colocar
fim as barreiras comerciais devendo este protocolo tomar eminência em 2001. Isto quer dizer
que as importações de Moçambique começarão a ser liberalizadas a partir de 2008, devendo o

2
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral – www.sadc.int (acesso em 29.05.2019)
5

processo de completa liberalização ser terminado até 2015.

Estudo levado a cabo em Moçambique pelo autor Castel-Branco (2005) em Chimoio,


demonstrou que não há evidência sistemática para demonstrar seja qual for o impacto do
liberalismo comercial que o protocolo tinha imposto. Denotou que de igual modo havia
evidência não sistemática das restrições fronteiriças ao comércio com o Zimbabwe, o que
mostra impactos positivos e negativos para a zona. Os camponeses perderam acesso a bens e
meios de produção mais baratos, e a mercados para os seus excedentes ao longo da fronteira
(sendo este um impacto negativo). Empresas de meios de produção e serviços técnicos
desenvolveram-se em Manica principalmente por causa do rápido aumento do número de
grandes produtores comerciais agrícolas Zimbabweanos, mas também, embora marginalmente,
por causa da dificuldade de acesso a meios de produção e serviços técnicos no Zimbabwé
(impacto positivo, mas apenas marginalmente associado com as restrições comerciais).
Portanto, restrições comerciais não são necessariamente positivas para as famílias camponesas
a curto e médio prazos, embora possam ajudar a desenvolver algumas novas actividades como
indústrias e serviços, e a gerar emprego (CASTEL-BRANCO, 2005, p. 14).

Por este e mais aspectos, autores como Sousa (1997), incitam que a internacionalização não
pode ser vista como um factor único de solução universal para as demais situações de falta de
crescimento que as empresas locais e ou de qualquer estado possam estar a vivenciar, mas que
sim possam considera-la como uma das demais estratégias de crescimento.

Assim, as decisões estratégicas podem ser consideradas como uma escolha racional e ordenada
das alternativas que melhor satisfazem os objectivos empresariais em um ambiente de
competição. O processo de internacionalização pode ser considerado como parte das decisões
estratégicas da organização, já que é uma acção da empresa de grande importância e amplitude
que se referem ao relacionamento da empresa com seu ambiente (MELO et al., 2013, p. 2).

E ainda tem de ser levado em questão a análise de conglomerados, das empresas com os
melhores desempenhos, estas que preferencialmente encontram-se no mesmo ramo de actuação
e ou até mesmo segmento, considerando as capacidades e recursos destas, por serem a fonte
mais importante de vantagem competitiva e sustentável para a entrada no mercado
internacional.

No quadro da crescente internacionalização das actividades económicas, assiste-se a uma dupla


estratégia por parte do capital: implementação de ganhos de produtividade (através da inovação
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organizacional e tecnológica) e procura de zonas de salários baixos (quer pela flexibilização do


emprego e dos custos sociais que lhe estão associados nos países mais desenvolvidos, quer
através da deslocalização de segmentos do processo produtivo para os países menos
desenvolvidos) (CAMPOS e CANAVEZES, 2007).

2.2.1. Modos de entrada

O modo de entrada no mercado externo para uma empresa, é o canal a mesma deve utilizar para
conseguir entrar para um novo mercado internacional. A escolha do modo depende da
motivação empresarial assim como da decisão de como entrar, fazendo um estudo económico
ou de viabilidade, olhando para as vantagens e desvantagens que tal mercado tenha.

Para Orsi et al. (2015), considera-se de igual modo expansão empresarial para novos mercados,
e que pode ser alcançada através dos seguintes meios:
− Exportação: Venda ou comercialização directa de um país produtor para o outro;
− Licenciamento: É o acordo de negócios entre duas empresas distintas, em que uma
cede direitos de produção e venda a outra;
− Franchising: É o direito de actividades económicas em nome de outra, é na verdade
mais uma forma de licenciamento;
− Parceiras: As parcerias ajudam a fortalecer as empresas, sob o meio como poderão
lidar com o novo mercado onde desejam engrenar;
− Investimento Directo: É aquisição de propriedade directa de capitais, pessoal,
instalações e tecnologias em países diferente ao de origem;
− Aquisições: É a aquisição de uma empresa já existente no mercado onde se pretende
entrar, assim facilitando para os meios ou modos anteriores.

2.2.2. Barreiras

No processo de internacionalização sempre se denotam barreiras que vão desde o


protecionismo, tarifas, incentivos do estado, burocracias, falta de capital, juros elevados, dentre
outros. Portanto, no contexto de Moçambique em virtude de sua participação na SADC tem
mais para quanto a exportação de seus bens e serviços, sendo esta de marketing local.

Existem cinco barreiras que estão relacionadas com a exportação e comercialização de bens e
serviços, na perspectiva da internacionalização e globalização de empresas, tais que se aplicam
para as empresas nacionais, as mesmas que para Moini (1997) são:
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i. Marketing: compreendem a obtenção de informações sobre clientes e mercados


externos, como definir preços e propaganda no exterior;
ii. Procedimentos: estão ligadas aos aspectos burocráticos, documentais e logísticos
envolvidos em uma operação de exportação;
iii. Práticas e Negócios Internacionais: referem-se aos regulamentos impostos por
governos, à comunicação com clientes e às práticas comerciais no exterior;
iv. Financeiras: dizem respeito aos riscos cambiais, ao financiamento de operações de
exportação e à cobrança das vendas do exterior;
v. Técnica e de Adaptação: referem-se à adaptação de produtos para o mercado externo e
aos serviços de pós-venda.

Mas não podemos nos esquecer de realçar uma barreira muito importante no processo de
internacionalização que é a cultura, pois sempre haverá uma necessidade de a empresa que
atravessar o seu limite territorial ter de se ajustar a cultura de outros estados, como é o caso de
estados islâmicos que não consomem determinados produtos e exigem sempre que os mesmos
sejam certificados por uma Comissão Halal Local.

2.2.3. Teorias de Internacionalização

Existem seis teorias de internacionalização a saber: o ciclo da vida do produto; Uppsala; escolha
adaptativa; paradigma eclético; baseado em recursos e o diamante. Sendo que, excepto o último,
são considerados como modelos processuais. Em todas há factores como a localização que traz
demasiados benefícios para as empresas que olham com maior afinco a necessidade de se
estabelecer em locais estratégicos e por via disso tirar uma vantagem competitiva por meio de
diferença de preços nos produtos e matéria-prima, a qualidade dos insumos a obter, os custos
de índole logística, a distância física, o idioma e a cultura a aprender pelos demais pontos de
negócios.

No modelo diamante tem como origem da vantagem competitiva o pais de origem, tal que
fornece maior capital para as empresas que facilmente podem embarcar para a
internacionalização temendo menos riscos e consequências dos mercados estrangeiros.

No ciclo da vida do produto olhamos para os recursos in- e tangíveis, que vão desde a marca,
patente, edifícios, espaços territoriais, entre outros, na medida em que pode se optar pela
diversificação e servindo-se do investimento directo externo, que é provido pelos países em que
preferem em investir em outros países, incorrendo aos custos desse mesmo investimento apenas
8

(DIAS, 2007).

Para as escolhas gerenciais estaríamos a olhar para um processo incremental, onde o benefício
das diversas adversidades e situações por si só são sucessivas em meio a mercados
internacionais, e não tomando como simples exigência de gestão como o processo planificado
e baseado em uma análise racional.

Quanto ao ambiente, a internacionalização se impõe nas empresas, visto que estas tem de
sempre se adaptar ao mesmo, a cada mudança que este sofrer, sendo que a empresa poderá
quase que sempre optar por aqueles que mais acomodam o seu modus vivendi e operandi, desde
suas operações a resultados, para que possam se sentir integrados e menos estrangeiros, tal, por
meio de aplicação do conceito de distância psíquica (KOVACS et al., 2007).

Cabe a aprendizagem servir de garante para mudanças tecnológicas mais emergentes e aumento
da competição corporativa, pois com a informação obtida dessas aprendizagens, seja por via de
experiências ou vivencias em comunidades ou organizações internacionais é considerado um
factor crucial para a forma como os gestores percebem e lidam com a internacionalização, desde
que seus riscos e resultados sejam controlados.

Já para o agente externo independentemente das políticas que o governo insta, podem, porém,
ajudar e facilitar o processo de internacionalização, visto que, aumenta a concorrência e de igual
modo cria ou gera uma maturidade em relação as demais empresas que estejam no mesmo
mercado.

2.3. Dumping Social

Para Oliveira e Pastori (2016), a expressão dumping é um termo que, originalmente, possui
natureza económica e é utilizada para caracterizar acções praticadas por empresas no âmbito
internacional, que se utilizam da prática de redução de seus preços a níveis bem inferiores ao
da concorrência ou de seus preços no mercado interno com o propósito de eliminar a
concorrência.

Assim sendo, dumping de uma forma geral, é a comercialização de produtos a preços abaixo
do custo de produção, buscando basicamente eliminar a concorrência e conquistar uma parcela
enorme do mercado em que se actua, e o social tem as mesmas características, tal redução de
preços é feita com base na redução ou extinção de direitos trabalhistas, considerados de direitos
sociais fundamentais, os quais existem para assegurar minimamente uma vida digna aos
9

trabalhadores enquanto seres humanos (OLIVEIRA e PASTORI, 2016, p. 360).

Para a comissão dos Socialists e Democrats (2014), o dumping social é parte integrante da
concorrência desleal e, por conseguinte, as disposições para combater o dumping social devem
ser incluídas na legislação da concorrência da UE3. Para a sua execução, a comissão deve ter
poderes para investigar o dumping social e para aplicar penas às empresas que violem as regras
europeias para impedir o dumping social.

Portanto, há que frisar a não linearidade dos efeitos da globalização e internacionalização no


emprego, pois dependem das características atípicas de cada um dos países envolvidos nesse
processo, variando em função dos diferentes sectores de actividade económica, e variando ainda
em função das políticas económicas e das políticas relativas ao mercado de trabalho seguidas
por cada país.

A título de exemplo, podemos dizer que uma deslocalização produtiva significará perda de
emprego em determinado país e ganho de emprego noutro, como é o caso dos Estados Unidos
da América e a China, e o caso da CRBC4 (China) para com os trabalhadores locais
(Moçambique), visto que esta traz os seus trabalhadores que pelo seu status não auferem
salários compatíveis com o nosso sistema laboral e sindical, e Moçambique África do Sul no
caso das minas. Mais genericamente, as deslocalizações produtivas significam perda de
emprego para os países mais desenvolvidos, no entanto, a aposta seguida por muitas empresas
europeias exportadoras de bens e serviços nas potencialidades oferecidas por um mercado
global traduz-se frequentemente em novos empregos.

A verdade é que diariamente novos empregos são criados e outros são perdidos, sabendo-se que
as perdas e os ganhos não ocorrem nos mesmos sectores de actividade económica, nem nas
mesmas empresas ou regiões, e que esta troca é também desigual no que respeita às
características dos trabalhadores (sexo, idade, qualificação profissional, etc.), assim como serão
diferentes as respectivas remunerações e sistemas de segurança social que lhes estão associados
(CAMPOS e CANAVEZES, 2007).

De qualquer modo, em virtude da maior pressão pela competitividade internacional que é


sentida pelas empresas, o processo de globalização tem se marcado com importantes
consequências na qualidade e na quantidade do emprego. Perspectivas menos optimistas

3
União Europeia - https://europa.eu/european-union/index_pt
4
China Road and Bridge Corporation - www.crbc.com/site/crbcEN/index.html
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alertam para o perigo de dumping social, o que significa:


− As sociedades ocidentais começarem a nivelar por baixo, quer os salários quer os
regimes de protecção social;
− As sociedades periféricas competirem entre si no sentido de oferecerem condições mais
favoráveis ao investimento estrangeiro incluindo custos salariais mais baixos.
De facto, mesmo relativamente aos países menos desenvolvidos como o caso de Moçambique,
os eventuais benefícios das deslocalizações e da subcontratação não constituem matéria
pacífica. Alguns autores Campos e Canavezes (2007) e Vieira (2013), argumentam que se trata
de processos benéficos que constituem a base do desenvolvimento para esses países, atendendo
que há um investimento directo estrangeiro. Segundo outros como Castel-Branco (2005) e
Miller (2007), as deslocalizações e as subcontratações contêm importantes riscos, na medida
em que os países menos desenvolvidos competem entre si no sentido de oferecerem às empresas
transnacionais as melhores condições (incluindo os mais baixos custos) e acabam por tirar
pouco partido desses investimentos, gerando o dumping social.

Nos países mais desenvolvidos parece existir um contexto político favorável à divulgação e
mesmo à aceitação das propostas neoliberais, designadamente a flexibilização e
desregulamentação do trabalho e a desresponsabilização do Estado em termos de protecção
social.

Moçambique quanto a sua participação na SADC em particular e por via do crescimento


económico que se tem verificado, tem permitido a diminuição da pobreza. A paz e estabilidade
políticas e sociais sentidas presentemente no país são, simultaneamente, uma consequência
desse processo e um factor de reforço destas circunstâncias. Em relação ao mercado de trabalho
continua a persistir um desequilíbrio entre oferta e procura conduzindo a uma elevada taxa de
desemprego (próxima dos 19%, segundo o INE5 de Moçambique). Este desequilíbrio resulta da
incapacidade da economia em gerar postos de trabalho necessários a acomodar:
i. O crescimento populacional;
ii. O elevado abandono escolar, e;
iii. A reduzida oferta educativa.

Assim, cria-se uma tamanha facilidade para ocorrência de dumping social (como temos visto
os nossos antepassados em tempos migravam para a África do Sul e Rodésias, em busca de

5
Instituto Nacional de Estatística - www.ine.gov.mz
11

emprego, onde sofriam as mesmas consequências do dumping social, sendo desprovidos de


seus direitos legais) que é um risco enorme no país, no seio da SADC.

Mas quanto aos objectivos que a SADC tem de acordo com a AIP (2014), tais como:
 Reduzir as tarifas impostas aos produtos originários e comercializados na região;
 Eliminar todas as barreiras tarifárias e não-tarifárias no comércio de bens;
 Liberalizar o comércio de serviços, facilitar o investimento transfronteiriço e a
circulação de empresários;
 Harmonizar os procedimentos aduaneiros e adoptar medidas de facilitação do comércio;
 Reforçar a cooperação no desenvolvimento de infraestruturas, e;
 Estabelecer e promover a cooperação em todas as áreas relacionadas ao comércio entre
os estados-membros da comunidade.

Observa-se que os empresários locais podem internacionalizar-se a esse abrigo, e mesmo assim
não cometer o dumping social, principalmente para os países circunvizinhos. O protocolo
comercial propõe abranger igualmente a harmonização e coordenação de normas industriais e
de saúde, o combate de práticas desleais de comércio e surtos de importação, a liberalização de
certos sectores de serviços prioritários, a promoção da agregação do valor de transformação da
região e a luta contra o dumping social (AIP, 2014, p. 122).

Denotar ainda outras oportunidades no ambiente de negócios em Moçambique, visando


envolver e conectar os programas existentes e redes com agendas de desenvolvimento similares,
que possam ajudar os empreendedores a se internacionalizar facilmente. Tal permitirá que as
partes interessadas encontrem parceiros adequados e alavanquem as competências
complementares e recursos com o mínimo de tempo e custo. Também favorecerá a colaboração
e uma abordagem da sociedade no seu todo para as prioridades chave do desenvolvimento
nacional e regional.

Aumentar a produtividade e o impacto de iniciativas existentes, identificando o que funciona e


fornecendo acesso e formação em ferramentas internacionais, sistemas e fazendo uma gestão
de processos para uma parceria e modelos de negócios inclusivos eficazes e apoio para a
ampliação. A capacitação e confiança das organizações de todos os sectores a participar
efectivamente em parcerias e modelos de negócios inclusivos e redes locais para desempenhar
a função de intermediários nas parcerias, e a alavancagem dos recursos de parcerias
internacionais através da unidade de desenvolvimento de negócios regional e plataformas
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semelhantes (ou seja, ferramentas de parceria e compromisso, metodologia, estudos de caso,


melhores práticas, etc).

3. Considerações Finais

Através a deste trabalho, verificou-se que a internacionalização de igual modo como a que com
a globalização chegaram para ficar, e de maneira um tanto quanto repentina, atendendo e
considerando o desnível entre países. Onde nuns já se era de esperar, pelas necessidades de
trocas comercias já remotas e alguns países não.

A actividade de posicionar a empresa no mercado externo não se separa, completamente, de


suas estratégias empresariais locais, sendo necessário primeiro fazer um estudo e entender
melhor o mercado para, de seguida, avaliar a estratégia de internacionalização em específico,
de modo a entender as suas barreiras, e fragilidades.

Nesta pesquisa, pode-se verificar que, além das forças impulsionadoras da internacionalização
e das teorias, as decisões estratégicas sobre a forma de entrada em mercados exteriores e sobre
a seleção destes mercados possuem um carácter extremamente crítico e importante para a
continuidade de uma empresa em seu processo de internacionalização, e em especial para
Moçambique no bloco regional da SADC, constatou-se também, dos trabalhos sobre o processo
de internacionalização, que o passo de selecionar o país de destino das actividades
internacionais da empresa é uma decisão que a mesma deverá tomar antes de decidir que forma
de entrada utilizar, fazendo uma análise do dumping social, que o mesmo é condenado.

4. Referências

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camponesa de Moçambique. Maputo.


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