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A CULTURA DAS COLEÇÕES DE DISCOS DE VINIL

Pedro Gonçalves Neto

RESUMO

My money's in that office, right? If she start giving me some bullshit about it ain't there, and we got
to go someplace else and get it, I'm gonna shoot you in the head then and there. Then I'm gonna
shoot that bitch in the kneecaps, find out where my goddamn money is. She gonna tell me too. Hey,
look at me when I'm talking to you, motherfucker. You listen: we go in there, and that nigga
Winston or anybody else is in there, you the first motherfucker to get shot. You understand?

Now that we know who you are, I know who I am. I'm not a mistake! It all makes sense! In a
comic, you know how you can tell who the arch-villain's going to be? He's the exact opposite of the
hero. And most times they're friends, like you and me! I should've known way back when... You
know why, David? Because of the kids. They called me Mr Glass.

Palavras-chave: Bullshit, Motherfucker, Bitch.

INTRODUÇÃO

O artigo se propõe a analisar os motivos que levaram a fábrica de discos de vinil Polysom a reabrir
as portas em 2009, tornando-se a única fábrica de LPs de vinil na América Latina. O que essa
"volta" do vinil influencia na indústria musical? Nos últimos anos, a mídia e os próprios artistas tem
dado importância a esse formato antigo de armazenamento de música, alegando qualidade sonora
superior, mais fiel e "aveludado" que formatos como o mp3 e o CD. Também entra em questão a
nostalgia, o saudosismo, os rituais usados para apreciar o som do vinil
1 - A HISTÓRIA DO DISCO DE VINIL

Antes do LP que conhecemos hoje, existiam outras formas de armazenamento sonoro. Começou
com o fonógrafo de Thomas Edison, criado e patenteado em 1877, que permitia gravação e
reprodução de áudio por meio de cilindros. O aparelho era formado por um cone com uma agulha
na extremidade oposta que lia os sulcos do cilindro disposto na vertical, que girava através de um
motor à manivela. Os cilindros eram feitos de materiais extremamente frágeis – inicialmente com
papel estanho (cilindros que vinham fixos no fonógrafo), depois mudando para cera (cilindros
removíveis) – o que prejudicava sua durabilidade por se desgastarem e quebrarem com facilidade.
Diferentemente do disco de vinil, que em sua produção conta com um disco master* usado como
molde para as demais cópias, o cilindro de fonógrafo era único, original:
Ainda que considerados a mais nova “maravilha” da ciência, o fonógrafo e seus cilindros apresentavam limitações
técnicas para a formação de uma indústria em termos massivos. Primeiramente, se o aparelho permitia a gravação e
reprodução sonora, ele deixava escapar a possibilidade de reprodutibilidade técnica do som, pois não havia como fazer
cópias das gravações: uma vez gravado, o conteúdo estava condenado a permanecer no mesmo cilindro, tornando-se
uma peça única.
(MARCHI, 2005, p. 7)

Em 1888 surgia o Gramofone, criado por Emile Berliner, que consistia no mesmo princípio do
fonógrafo porém com uma diferença considerável: o cilindro foi deixado da lado para dar lugar ao
disco, esse agora com possibilidade de duplicação de cópias produzidas em goma-laca (shellac*)
usando como base um master de cobre, com 10 polegadas de diâmetro. “Com o formato de disco
plano, são superadas as dificuldades do formato cilíndrico e os processos de produção passaram de
semi-artesanais para industriais” (PICCINO, 2003, p. 14). Esse novo modelo serviu para a
popularização da música como produto, forjando a indústria fonográfica. O discos já vinham pré-
gravados e rodavam no aparelho em uma velocidade de 78 r.p.m. (rotações por minuto). A partir do
século XX os discos começaram a ser fabricados com gravações dos dois lados, e possuíam em
média 4 minutos de duração em cada face.

Após a Segunda Guerra Mundial finalmente surge o disco feito de vinil, um plástico térmico feito
de Policloreto de Vinila (PVC), que apresenta maior qualidade sonora e durabilidade. “Além disso,
a descoberta do processo de gravação em microssulco (microgroove) possibilitaria diminuir o
tamanho dos entalhes na superfície dos discos ao mesmo tempo em que aumentava a frequência
sonora registrada.” (MARCHI, 2005, p. 9-10). Os discos em microssulco geraram uma nova
geração de mídias: um novo modelo de disco em 78 r.p.m.; o Long-Play (LP) de 12 polegadas que
rodava em 33¹/³ r.p.m.; e o disco 7 polegadas de 45 r.p.m., que mais tarde foi batizado de Compacto
ou Single.

Apesar de, no início, o vinil ter pouco impacto mercadológico pela concorrência com o 78 r.p.m. já
estabilizado no mercado, o formato acaba conquistando seu espaço no final dos anos 50. O LP, que
consegue armazenar em média 20 minutos de música – cinco ou seis vezes mais canções que o 78
r.p.m. - torna-se então a mídia preferida no público. “O disco de longa duração, apresentando entre
4 e 6 canções por face, simula uma apresentação artística completa e diversificada, dispensando o
ouvinte de frequentar casas de espetáculos ou sequer trocar os discos (quando muito era preciso
apenas virar o LP)” (COUGO, 2011). Os compactos de 45 r.p.m. foram importantíssimos para a
nova cena musical que se formava, o rock'n'roll. Eles substituíram os discos de 78 r.p.m. que tinham
a função de “singles”*[alternativa barata para uma ou duas músicas] e “seu sulco é considerado por
muitos audiófilos como a melhor alternativa em áudio analógico” (PICCINO, 2003). Muda também
a relação entre artista e ouvinte. Na época do 78 r.p.m., as capas dos discos não continham nenhuma
imagem ou informação. Constavam de uma embalagem de papelão com um furo no centro, para
mostar a label* da gravadora, com o nome do cantor e da canção, e as vezes com algum impresso
publicitário da loja. “A chegada do Long-Playing exige mudanças em tais estratégias comerciais.
Agora, é necessário que um disco alcance o sucesso pelo conjunto artístico (e não apenas por uma
ou duas canções)” (COUGO, 2011), a indústria musical começa a pensar em novas formas de
venda, novas formas de atrair o público que vão além da música do artista. Novas manobras de
marketing faz com que esses cantores agora ganhem rostos impressos na capa dos discos; pintores,
artistas plásticos e fotógrafos são contratados para dar o acabamento artístico à embalagem. O disco
se torna um conjunto artístico, um produto derivado da indústria cultural formado de diferentes
artes. Discos mais voltados para os jovens, como Elvis Presley, The Beatles ou a Velha Guarda,
mostravam na capa o rosto de seus ídolos para eu agrado. Discos mais voltado para o público
adulto, como o erudito e o jazz, vinham com capas duplas dobráveis repletas de informações sobre
o artista e o gênero musical.

[…] o LP passa a ser consumido como livros, ou seja, um suporte fechado passível de coleção em discotecas privadas –
com status de objeto cultural, afinal, julga-se a cultura musical de uma pessoa pela discoteca que possui.
(DE MARCHI, 2005, p. 13)

2 – O LP, O CD, O MP3 E O STREAMING

Ao entrar oficialmente no mercado fonográfico, no início da década de 80 pelas empresas SONY


e PHILIPS, o Compact Disc (CD) mudou completamente a indústria, juntando a qualidade sonora
do vinil com a praticidade da fita k7. Possui menor tamanho que um disco de 45 r.p.m., é mais leve,
comporta até 70 minutos de música sem precisar trocar de lado e, graças a sua natureza digital, é
isento dos característicos chiados do vinil. Com o tempo, o CD praticamente obliterou todas as
outras mídias e dominou o mercado até a popularização da mídia virtual, como o MP3:

Com os formatos virtuais – que não se restringem ao MP3 – o próprio padrão de consumo se altera. Ao invés de se
restringir a um objeto em si, surge um consumo diretamente on-line, transformando a gravação sonora numa
informação transferível de suportes (do CD para um HD, para o I Pod, para CD, por exemplo). Isso significa que o
formato fonográfico físico tornou-se uma tecnologia para armazenamento da informação, não mais um símbolo cultural
em si, como o LP. (De Marchi, 2005, p.15)

Nos dias atuais, o MP3 divide espaço na internet com a música via streaming através de sites ou
apps (aplicativos) como o Youtube, Spotify, SoundCloud e Last.fm. Interessante acompanhar como
a música cada vez vai perdendo mais seu caráter como objeto, tornando sua mídia imaterial. Nesse
caso, o senso de propriedade deixa de existir (QUINES, 2012) pois coloca de lado o elemento
colecionável.

Na lógica capitalista, um formato torna-se hegemônico enquanto os anteriores caem na


obsolecência (QUINES, 2012), porém sabemos que os formatos não são substituídos mas passam a
existir simultaneamente, assim como a televisão não engoliu o rádio e a internet não invalidou o
impresso. Apesar das baixas nas vendas do CD, eles ainda enchem prateleiras e a venda de LP nos
EUA subiram de US$181.6 milhões em 2013 para US$346.8 milhões em 2014, um aumento de
54,7%*[http://www.ifpi.org/news/IFPI-publishes-global-vinyl-market-details]. Os artistas ainda
lançam seus álbuns em CDs, serviços de MP3 – como o iTunes e Spotify- e também em LP, que
geralmente vem acompanhado de um cupom contendo um código para download do álbum em
MP3. A chegada das mídias virtuais não significa uma crise na indústria fonográfica, mas sim um
período em que ela, novamente, tenta adaptar-se à nova realidade econômica e tecnológica (De
Marchi, 2005).

O que podemos então dizer do público que ainda consume uma mídia sonora considerada
“ultrapassada”? Se a cada novo formato tecnológico a mídia parece ser melhor e mais prática, o que
causa o aumento das vendas de mídias como o disco de vinil? Será que conveniência é sinônimo de
qualidade sonora? Aficionados por vinil e engenheiros de som alegam sua superioridade sonora em
relação ao MP3 e inclusive ao CD devido à sua natureza analógica:

A digital recording takes snapshots of the analog signal at a certain rate [...] and measures each snapshot with a certain
accuracy[…]. This means that, by definition, a digital recording is not capturing the complete sound wave. It is
approximating it with a series of steps. Some sounds that have very quick transitions, such as a drum beat or a trumpet's
tone, will be distorted because they change too quickly for the sample rate.*

Uma gravação digital interpreta o sinal analógico até uma determinada taxa […] e mede cada sinapse com uma certa
precisão […]. Isso significa que, por definição, uma gravação digital não captura a onda sonora completamente. É uma
aproximação feita por uma série de etapas. Alguns sons que possuem transições muito rápidas, como uma batida de
bateria ou um tom do trompete, ficarão destorcidos pois é uma mudança muito rápida para a taxa de amostragem.*

Fonte: http://electronics.howstuffworks.com/question487.htm

A revista AudioHolics realizou um pequeno teste*[http://www.audioholics.com/editorials/analog-


vinyl-vs-digital-audio] comparando 3 álbuns (Phil Collins - Hello I Must Be Going , Spyro Gyra –
Breakout, Miles Davis - Kind of Blue) com suas versões em vinil e CD*[Exceto pelo álbum Miles
Davis - Kind of Blue que foi comparado sua versão em vinil com uma cópia em FLAC, um formato
digital com qualidade superior ao MP3]. Ligados no mesmo equipamento, os dois álbuns eram
ouvidos primeiramente em CD e depois em LP; os três participantes do experimento então davam
notas de 0 a 10 sobre aspectos específicos do som, como baixo, vocal, detalhe, realismo, ruído,
dinâmica e experiência no geral. Ao final do teste, o vinil obteve duas vitórias (Phil Collins e Miles
Davis) e o CD uma (Spyro Gyra), com poucos décimos de diferença entre todas as notas. Apesar da
aparente vitória do LP, a matéria conclui que o CD, tecnicamente, é superior ao vinil tem todos os
aspectos, mas isso levanta a dúvida: então porque é que as vezes o vinil soa melhor? O problema
que acontece com o CD, e com todos os outros formatos digitais, é a compressão excessiva da
música, que diminui sua qualidade. Ao mixar o disco para o formado digital muitas produtoras
comprimem o alcance dinâmico* do áudio, diminuindo os tons altos e aumentando os tons baixos
para deixá-lo uniforme e, assim, conseguir aumentar a amplitude da onda para deixar a música mais
alta. A música porém perde “profundidade”, pois diminui a diferença entre os altos e baixos,
gerando uma música “estourada”.
Exemplo de compressão dinâmica

Mas por que as gravadoras produziriam um álbum com músicas que não soam tão boas como
deveriam? Na lógica da indústria musical, quanto mais alta a música, maior a chance de ela chamar
a atenção do ouvinte na rádio, por exemplo. Na tentativa de competir, outras gravadoras também
precisam produzir as músicas o mais alto possível. Esse fenômeno é chamado de Loudness War* e
começou a partir do início da década de 90. No documentário “Loudness Wars for our Living in a
Media World Class ” o engenheiro de masterização Michael Romanowksi comenta:

Primeiro de tudo, é uma competição, então um está tentando ser mais alto que o outro, e é só o que importa para eles.
Por um tempo eu recebi pessoas aqui enquanto eu estava masterizando um álbum, e de vez em quando eu recebia alguns
que diziam “Sabe o que mais, primeiramente preciso que esse álbum fique alto, depois nos preocupamos em como ele
vai ficar”. E é por isso que, para mim, isso é totalmente errado, você passa por todas essas etapas para finalizar um
álbum [...] e depois vai colocar tudo isso em um moedor de carne?* [https://www.youtube.com/watch?v=w9xXzTjBt5c]

No caso do MP3 acontece ainda mais outro tipo de compressão: a compressão de dados. Isso faz
com que o arquivo da música fique mais leve, em troca da qualidade sonora. Ou seja, a música além
de comprimida dinamicamente, ainda pode ter seu arquivo comprimido para ocupar menos espaço
no disco rígido. Isso não significa que todo o arquivo de música digital tem baixa qualidade, tudo
depende de como a música original foi mixada e da taxa de compressão em que essa música será
renderizada. “Assim, consumir música digital no formato MP3 não significa colocar os bolachões
na lixeira. Os formatos podem coexitir e serem utilizados paradiferentes fins – alguém que vai andar
de ônibus vai ouvir música em MP3 no seu iPod, enquanto o DJ vai tocar na festa com seus Lps.”
(QUINES, 2012)

Nesse cenário, o disco de vinil mantém sua “pureza” sonora, com o alcance dinâmico intacto e sem
risco de compressão por ser uma mídia analógica. Porém, o som do LP por ser mecânico e prover
do atrito da agulha contra os sulcos gera uma distorção, dependendo da qualidade e do estado dos
materiais. Tal distorção eletromagnética gera os graves envolventes do vinil*, tão elogiado pelos
puristas e saudosistas do formato. Também há o famoso chiado, que incomoda alguns e é visto com
charme por outros.

Além dos aspectos técnicos, existe também o lado nostálgico, artístico, fetichista, curioso e,
principalmente, colecionável do vinil. “Na cultura popular dos anos 80, o avanço do CD e
desvalorização do LP contribuiu para a formação de uma nova subcultura: a dos colecionadores de
vinil” (QUINES, 2012).
3 – O ATO DE COLECIONAR DISCOS DE VINIL

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