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DIREITO PROCESSUAL PENAL II 5ª SÉRIE

AULAS DOS DIAS 23, 28 e 30 DE ABRIL DE 2020

AULA NA UNIPAR DIA 23 DE ABRIL DE 2020

I. RETROSPECTIVA
II. ART. 423 DO CPP AUSÊNCIA DA REFERÊNCIA AO LIBELO
III. LIBELO CRIME ACUSATÓRIO
IV. CONTRARIEDADE DO LIBELO
V. SUPRESSÃO DO LIBELO
VI. RELATÓRIO ESCRITO

I. Retrospectiva

Para tanto, para a retrospectiva basta que os senhores confiram os apontamentos das
aulas anteriores, conforme disponibilizado.

II.

“Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos


de provas a serem produzidas exibidas em plena-
rio do júri e adotadas as providências devidas, o
juiz presidente: I. ordenará as diligências neces-
sárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer
fato que interesse ao julgamento da causa; II. fará
relatório sucinto do processo, determinando sua
inclusão em pauta da reunião do Tribunal do
Júri.” (Cf. Art. 423 do CPP)

Se o Juiz indeferir as diligências (ao invés de


ordená-las conforme disposto no inciso I do Art. 423 do
CPP, atual, conforme acima transcrito) o único recurso contra o indeferimento será a
correição parcial nos moldes previstos no regimento interno do Tribunal de Justiça
do Estado do Paraná. seguindo o procedimento do agravo de instrumento.

Conforme se pode perceber, da transcrição do


Art. 423 acima, não se vê referência ao libelo
(nem da transcrição, anteriormente, apresentada do Art. 422 do CPP) se pode falar, formal-
mente, em libelo

III. O libelo crime acusatório até então existente ANTES de 2008

O Art.416 do antigo texto (anterior à reforma de


2008) do Código de Processo Penal registrava,
dispunha, que “Passada em julgado a sentença de pronúncia... (notório erro do legislador
2

vez que a decisão de pronúncia não transita em julgado, sendo que o termo correto a ser usado deveria
ter sido “preclusa a decisão de pronúncia”) ... o escrivão imediatamente dará vista dos autos
ao órgão do Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, para oferecer o libelo
acusatório. ” (Art. 416 do CPP, anterior à reforma de 2008,grifos e destaques em negrito
inexistentes no original).

Daí, válida a indagação: o que é libelo?

O mini dicionário Aurélio define: “!. Jur. Expo-


sição articulada do que se pretende provar contra
um réu. 2. Escrito de caráter satírico ou difamatório.”

Juridicamente, falando sem que se perca de vista


o conceito de número “2”, escrito de caráter
satírico ou difamatório, realmente, se tratava de uma peça, de uma exposição escrita,
articulada, do que se pretendia provar contra o réu.

Tanto é verdadeiro esse conceito acima aludido,


qual seja: o libelo é uma “exposição articulada
do que se pretende provar contra um réu”, que o legislador, corroborando semelhante
ilação, pontificou no Art. 417 do CPP, anterior à reforma de 2008: “O libelo,
assinado pelo promotor conterá I- o nome do réu; II- a exposição, deduzida por
artigos, do fato criminoso; III- a indicação das circunstâncias agravantes,
expressamente definidas na lei penal e de todos os fatos e circunstâncias que devam
influir na fixação da pena; IV- a indicação da medida de segurança aplicável. § 1º
havendo mais de um réu, haverá um libelo para cada um. § 2º Com o libelo poderá
o promotor apresentar o rol das testemunhas que devam depor em plenário, até o
máximo de 5 (cinco), juntar documentos e requerer diligências. ” (Cf. Art. 417 do CPP,
anterior à reforma de 2008, grifos e destaques em negrito, inexistentes no original ).

O Artigo 421 do CPP, anterior à reforma de


2008, determinava (no sequenciamento da apresen-
tação do libelo) ao Escrivão que, uma vez recebido o libelo, dentro três dias, entregasse
cópia (do libelo) ao réu, mediante recibo de seu punho ou de alguém a seu rogo (da
aludida cópia do libelo entregue ao réu, deveria acompanhar, também, o rol de testemunhas
apresentado com o libelo). Disso tudo, o Defensor era notificado para, no prazo de 5
(cinco) dias, apresentar contrariedade ao libelo, quando, pelos ditames do seu ( dele
Art. 421) parágrafo único, poderia apresentar rol de testemunhas que deveriam depor
em plenário, até o máximo de 5 (cinco), juntar documentos e requerer diligências.

Daí que sem dúvida poder-se-á afirmar que o


libelo crime acusatório era uma peça que resu-
mia, que sintetizava a denúncia, relatando em artigos ( pontuando), isto é, fatiando (sic)
os fatos em pontuações, como se fossem, tais pontuações fatiadas, artigos de uma
codificação. Daí a expressão “deduzida por artigos”, referida no inciso II do antigo
texto capitulado no então Art. 417 do CPP (anterior à reforma de 2008, acima transcrito). O
libelo acusatório era apresentado, mais ou menos (aqui se usa a expressão “mais ou menos”
porque muitos eram os tipos de apresentações dos libelos, mas, sempre, guardando a dedução por
artigos), da seguinte forma:
3

Libelo Crime Acusatório


Autos nº XXX/XX
Autor: Ministério Público do Estado do Paraná (ou: Autora: Justiça Pública)
Denunciado: Bigordonio Flatunento
Comarca: Salto da Capivara

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Comarca de Salto da Capivara.

O Ministério Público do Estado do Paraná, por intermédio de seu Promotor de


Justiça, no desempenho de suas funções, nesta e na melhor forma de Direito para
que produza os seus devidos e legais efeitos, vem, respeitosamente, por libelo crime
acusatório, expor que, em sendo necessário, provará (ou por libelo crime acusatório diz
a Justiça Pública, como autora, por seu Promotor de Justiça que, em sendo necessário provará, etc.
...)1:

1. Bigordonio Flatunento, brasileiro, convivente, autônomo, residente e domiciliado


no Parque Pirulito do Papagaio, na Rua Vidinha Vidona, 4444, nesta cidade de
Salto da Capivara, praticou o crime de homicídio;

2. Tal prática criminosa vitimou a pessoa de Morino Marfrásio, já qualificado;

3. O homicídio ocorreu no dia 24 de novembro de 2000, configurando o tipo


capitulado no Art. 121 do Código Penal, agravado com a qualificadora do § 2°,
incisos II e III, do mesmo artigo;

4. Pela autoria e materialidade comprovadas na instrução criminal, requer seja o


réu, acima nominado e qualificado, levado a julgamento pelo Tribunal do Júri
quando deverá ser condenado, pelo que, com o rol abaixo das testemunhas que,
legalmente, intimadas por mandado deverão ser inquiridas em plenário em caráter
de indisponibilidade (e ou imprescindibilidade), pede deferimento.

Local, data e assinatura do Promotor de Justiça.

Rol de testemunhas.

Com o libelo, conforme a capacidade de redação


do agente do Parquet, se apresentava toda uma
carga satírica, difamatória ou satânica ou demoníaca sem, contudo, ferir a proposta
e ou a configuração de síntese interligada à matriz técnica.

O Promotor de Justiça, no dia do julgamento


deveria iniciar a sua peroração com a leitura do
libelo, antes mesmo das saudações. Se não o fizesse, a Defesa deveria requerer

1
Vários eram as formas de apresentação (perfil ou modo de exposição) do libelo que, entretanto,
obedeciam a mesma formatação, a mesma matriz.
4

constasse em ata a omissão. Omissão muitas vezes, causadora da nulidade do


julgamento.

IV. Contrariedade do libelo

Em seguida, a Defesa, logo ao ser notificada,


conforme disposições do supra citado artigo 421
do CPP (texto anterior à reforma de 2008), apresentava a contrariedade de forma
simplificada e genérica:

Contrariedade ao Libelo Crime Acusatório


Autos nº XXX/XX
Autor: Ministério Público do Estado do Paraná (ou: Autora: Justiça Pública)
Acusado: Bigordonio Flatunento
Comarca: Salto da Capivara

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Comarca de Salto da Capivara:

1. Bigordonio Flatunento, já qualificado, em contrariedade ao libelo crime


acusatório, no prazo legal, vem, respeitosamente, por intermédio do seu Advogado
[que esta (contrariedade) subscreve], alegar que não são verdadeiras as assertivas
contidas no libelo acusatório;

2. Reserva-se no Direito de, oportunamente, por ocasião do Julgamento pelo


Tribunal do Júri, abordar o meritum causae, quando provará inocência do
denunciado. Apresenta com a contrariedade ao libelo, o rol de testemunhas. Tais
testemunhas deverão ser intimidas por mandado ficando claro que a Defesa não
poderá abrir mão das respectivas oitivas dado o seu caráter de imprescindibilidade.

Local, data e assinatura do Advogado.

Rol de testemunhas.

V. Supressão do libelo acusatório

—»-» Considerações próprias do Professor José Bolívar Bretas, inexistentes na Doutrina

A Doutrina tradicional, a Doutrina clássica, con-


sidera ter ocorrido supressão do libelo dada a
falta de referência ao mesmo (libelo) na redação atual imposta pela lei 11.689 de
09.06.2008; todavia, em que pese a falta de referência ao libelo crime, pelas
disposições contidas nas redações dos atuais Artigos 422 e 423 do CPP (principalmente
as do Art. 422 do CPP), bem se pode ver que os assentamentos todos da oportunização
5

anterior ao libelo, continuam. Ora, ora, é claro que não se faz menção explícita à
palavra libelo, nem se exige que tal peça seja, formalmente, elaborada e apresentada.

Entretanto, não há se negar a presença do DNA


do libelo, pois ao se realizar a disposição contida
no Art. 422 do texto atual do CPP, o órgão do Ministério Público não deixará de
colocar uma certa conotação maquiavélica, com silhueta de libelo, ao apresentar o
rol de testemunhas, requerer diligências, justificações e perícias, mais ou menos, nos
seguintes termos: apresenta-se o rol de testemunhas em caráter de imprescindibi-
lidade e se requer as diligências, considerando-se o fato de que o crime de autoria
do réu pronunciado foi praticado de forma cruel por motivo torpe (etc., etc.,). Da
mesma forma a Defesa procederá, minimizando, meio que à guisa (sic), de
contrariedade.

Contudo, mesmo que assim não se proceda e,


tanto acusação quanto defesa, se atenham na
apresentação mais técnica possível, inegável a presença do tal DNA do libelo, pois,
a simples apresentação de rol das testemunhas em cujos depoimentos se embasará a
tese acusatória, já demonstra a intenção de se acusar na busca da realização da
condenação na satisfação do Ius Puniendi. Isso nada mais é do que a síntese, então
contida, naquela época, no libelo.

O mesmo acontece com a atuação da Defesa que


não irá de forma alguma agir (se manifestar) de
maneira a se prejudicar, requerendo atuações cujo tiro possa lhe sair pela culatra. Por
óbvio, a Defesa apresentará rol de testemunhas que lhe corroborem a tese defensiva,
bem como, requererá diligências, justificações e perícias que possam lhe beneficiar,
em manifesto contraponto, em manifesta apresentação de contraprovas diante das
pontuações do Ministério Público. Isso nada mais é do que a antítese, contida,
naqueles tempos, na contrariedade ao libelo.

A tida supressão do libelo foi sob “...o funda-


mento de ser fonte inesgotável de nulidades. ...”2,
mas, situações de caracterização de nulidades, à parte, considerando o que foi por
mim pautado em razão de meu entendimento, sem embargo das possíveis interpreta-
ções em contrário, é de se concluir, realmente, que o DNA e o ESPÍRITO (sic) do li-
belo continuam presentes, mormente, na atual apresentação do texto contido no Art.
422 do CPP em estreita combinação com o Art. 423 do CPP. Esse DNA, esse
ESPÍRITO do libelo, continuaram presentes, apesar da ausência, após a reforma de
2008, da palavra libelo, na consideração da estrutura inquisitiva do processo penal
da qual (estrutura inquisitiva do processo penal), nos fala Jacinto Nelson de Miranda
Coutinho.

Apesar dessas minhas considerações à respeito


do antigo libelo, ora tido como suprimido, urge
que se volte (urge que voltemos) ao Código de Processo Penal atual, posterior à reforma

2
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2011,
p. 752
6

de 2008, em continuação do nosso estudo sobre o Processo Crime Especial de


Competência do Tribunal do Júri, na abordagem, repita-se, em continuação do Art.
423 do CPP (atual) no que tange ao relatório (Art. 423, II, CPP).

VI. Relatório

Ao cabo (depois de proceder conforme a disposição


contida no inciso I, do Art. 423 do CPP), o Juiz deverá
fazer sucinto relatório (Art. 423, II do CPP atual), que deverá ser escrito, para determinar
a sua (do processo – dos autos do processo) inclusão em pauta de reunião do Tribunal do
Júri. Esse relatório, apesar de sucinto, deverá conter tudo de relevante, não bastando
a simples referência superficial a esta ou àquela ocorrência.

A – Propósito, a respeito do relatório, vem a


talho, trazer à colação (dos senhores alunos e das
senhoras e senhoritas alunas), as seguintes considerações de Adriano Bretas:

“Ao decidir sobre as provas que serão produzidas


no plenário do júri, o juízo também deve confec-
cionar um relatório sucinto do processo, no qual deve ser inventariado o histórico de
atos processuais do caso a ser julgado. Tal peça deve ser confeccionada em língua-
gem sóbria e moderada, sem que o magistrado deixe transparecer qual sua íntima
convicção a respeito da causa, sob pena de invadir a desautorizada seara do mérito,
reservada exclusivamente ao conselho de sentença. Não pode o juízo carregar nas
tintas nem para um lado, nem para o outro. Isso porque, mais tarde, já no plenário, o
relatório é, junto com a pronúncia, uma das peças com as quais o jurado tem contato
para se inteirar do caso a ser julgado. Daí a importância do comedimento do
magistrado em redigir essa peça. Se, porventura, o juiz deixar escapar uma ou outra
expressão tendenciosa, que possa exercer uma ‘influência indébita’ ( para usar uma
expressão cunhada pelo Professor DOTTI) na convicção do jurado, é perfeitamente possível
que a parte que se julgar prejudicada atravesse petição de impugnação ao relatório,
pleiteando digne-se o magistrado a retificar tal ou qual palavra que eventualmente
tenha sido mal posta e possa gerar ambiguidade. Nesse caso, não é nenhum demérito
que o juízo tenha a humildade de reconhecer que talvez uma expressão ambígua
possa influenciar indevidamente o conselho de sentença e, assim, por via das
dúvidas, ad cautelam, substitua tal ou qual palavra ou assertiva que, porventura,
destoem da recomendável neutralidade com que deve ser redigido o relatório.”3

A seguir apresento-lhes os apontamentos da aula


do dia 28 de abril de 2020, nestes tempos de
isolamento causado pelo flagelo da pandemia do Covid-19.

Essa peste assombra a humanidade, tal qual, a


dama da morte, toda vestida de negro, a empu-
nhar um enorme alfanje ou gadanha, assombra os leitores dos contos macabros de

3
BRETAS, Adriano. Apontamentos de processo penal. Curitiba: Sala de Aula Criminal, 2017, p.
296 e p. 297.
7

Edgar Allan Poe ou de Stephen King. Todavia, como na canção, Juízo Final, de
Nelson Cavaquinho: “... O sol há de brilhar mais uma vez, a luz há de chegar aos
corações, do mal será queimada a semente e o AMOR será eterno novamente...”.
VIVA!

AULA NA UNIPAR DIA 28 DE ABRIL DE 2020

I. RETROSPECTIVA
II. ART. 424 DO CPP – PREPARO PARA JULGAMENTO
III. ART. 425 DO CPP – ALISTAMENTO DOS JURADOS
IV. ART. 426 DO CPP – PUBLICAÇÃO DA LISTA DE JURADOS
V. ART. 427 DO CPP – DESAFORAMENTO
VI. ART. 428 DO CPP – DESAFORAMENTO POR EXCESSO DE
SERVIÇO

I. Retrospectiva

Para tanto, para a retrospectiva basta que os se-


nhores confiram os apontamentos das aulas ante-
riores, conforme disponibilizado.

II. Preparo do processo para julgamento

Na releitura do Art. 424 do CPP pode se aquilatar


o fato de que a regra é (a) de que o Juiz Presidente
do Tribunal do Júri realize o preparo do processo para o julgamento, contudo, pode
acontecer de o Código de Organização Judiciária do Estado estabelecer de forma de
forma diferente, quando, então, o juiz competente fará a remessa do processo, já
preparado para julgamento, ao Juiz Presidente do Tribunal do Júri. Essa remessa
deverá ser realizada até 5 (cinco) dias antes do sorteio dos 25 (vinte e cinco) jurados
(Art. 433 do CPP). Todos os demais processos, igualmente, preparados, deverão ser,
também, remetidos até o encerramento da reunião para a realização do julgamento
(Parágrafo único do Art. 424 do CPP)

Que preparo é esse? O preparo é, justamente, a


atuação do Juiz na tomada de providências para
a realização dos atos procedimentais necessários, objetivando que as diligências
requeridas pelas partes (Art. 422 c/c 423 do CPP) sejam realizadas. Irá, ele, o Juiz, “...
determinar a intimação do ofendido (se for o caso) e das testemunhas que devam depor
em plenário, procurará sanar eventual nulidade, podendo, inclusive, se ele próprio
entender indispensável para o julgamento, ordenar a realização de alguma diligência.
Se por acaso as partes extrapolarem o número de testemunhas, deverá o Juiz notifica-
las para que façam a devida restrição, sob pena de ele mesmo fazê-la. ...”4

4
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 80.
8

Conforme se asseverou acima, a regra é de que o


Juiz Presidente do Tribunal do Júri realize o
preparo, mas pode ser de que a Lei de Organização e Divisão Judiciária do Estado
não atribua o preparo ao Juiz Presidente do Tribunal do Júri, quando, então, tal
incumbência caberá ao Juiz que proferiu a decisão de pronúncia.

No Estado do Paraná, as disposições pertinentes


se encontram no Código de Organização e Divi-
são Judiciária do Estado do Paraná, a partir do Artigo 50 ( e seguintes).5

III. Do alistamento dos jurados

Reza o Art. 425 do CPP que, anualmente, será


realizado pelo Juiz Presidente do Tribunal do
Júri, de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas Comarcas com mais
de 1.000.000 (um milhão de habitantes); de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) jurados nas
Comarcas com mais de 100.000 (cem mil habitantes) e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos)
jurados nas Comarcas de menor população ( com menos de cem mil habitantes).

“O Júri é um Tribunal constituído de um Juiz


togado, que o preside e de vinte e cinco jurados
(Art. 433 c/c Art. 447, ambos do CPP), dos quais se sorteiam sete para a integração do
Conselho de Sentença ou Conselho de Julgamento. Mas como se faz o alistamento?
Que providências devem ser tomadas pelo Juiz? Anualmente, cabe ao Juiz Presidente
do Tribunal do Júri proceder ao alistamento dos cidadãos que poderão integrar, no
ano seguinte, o Conselho de Sentença. Já vimos que devem ser brasileiros natos ou
naturalizados, maiores de 18 anos e de notória idoneidade. Cabe, então, ao Juiz,
baseado em seu próprio conhecimento e em informação segura, escolher as pessoas
que poderão constituir o Tribunal do Júri no ano seguinte. Além do seu conhecimento
pessoal, e de informações fidedignas, normalmente prestadas pelo Escrivão, o Juiz
solicita às autoridades locais, às associações de classe e de bairro, entidades
associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos,
repartições públicas e outros núcleos comunitários, a indicação de pessoas que
reúnam os requisitos supracitados. (...) Jurados suplentes. Onde houver necessida-
de, será também organizada a lista de jurados suplentes, cuja formação obedecerá às
mesmas regras estabelecidas na confecção da urna geral. Os jurados suplentes serão
escolhidos pelo Juiz dentre os cidadãos residentes na sede do juízo ou nas suas
proximidades, segundo dispunha o § 1º do art. 445, e seus nomes lançados, também,
em pequenos cartões iguais, que, verificados pelo Ministério Público, serão guarda-
dos em urna especial, fechada a chave, sob a responsabilidade do Juiz. A lista de
suplentes, à maneira do que se dá com os efetivos, é publicada, provisoriamente, no
mês de outubro de cada ano e, em definitivo, até o dia 10 de novembro. Também
pode haver exclusão ou inclusão, tal como previsto no art. 426, 1º do CPP. Não
obstante o Código tenha sido elaborado no início da década de 40, o legislador, ao
cuidar dessa urna especial contendo as cédulas alusivas aos jurados suplentes, já

5
Vejam o Código de Organização e Divisão Judiciária do Estado do Paraná e a respectiva Consti-
tuição do Estado. Estudem e reflitam sobre o que se falou em aula.
9

acentuava: ‘nas comarcas ou termos onde for necessário...’. E se não fosse, e, quando
da instalação da sessão periódica, não comparecesse o número legal de jurados?
Nesse caso, cumpria (e cumpre) ao próprio Juiz proceder ao sorteio de tantos jurados
quantos bastassem para a complementação do número legal. Hoje essa urna especial
contendo as cédulas atinentes aos jurados suplentes deve existir em pouquíssimas
Comarcas, quais sejam, as de território extenso, onde são deficientes os meios de
comunicação.”6

Essa disposição do alistamento dos jurados ser


realizada anualmente, contida no caput do Art.
425 do atual CPP (com algumas alterações quanto ao número de pessoas a ser preenchido no
alistamento), também, era observada na redação anterior à reforma de 2008, no, à
época, Art. 439 do “antigo” (como se tivéssemos um novo) CPP. Embora se exigisse,
desde sempre, que, anualmente, se fizesse o alistamento de jurados, com a finalidade
de oxigenar, o Conselho Geral Comarcano de Jurados, essa exigência, não era lá tão
obedecida, a ponto de chegar a existirem Associações de Jurados. Mesmo, atualmen-
te, com todo o progresso e aperfeiçoamento na estruturação das Instituições (Judiciá-
rio, Ministério Público, OAB), aqui e ali, é possível pontuar a permanência (por variados
motivos) dos jurados alistados em anos anteriores, o que é de se lastimar.

IV. Da publicação da lista de jurados

O Art. 426 do CPP trata da publicação da lista


geral dos jurados, pela imprensa até o dia 10 de
outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal do Júri, com
indicação das respectivas profissões.

“Divulgação dos nomes dos jurados. Concluí-


do o alistamento, o Juiz, até o dia 10 de outubro
de cada ano, diligencia sua publicação na imprensa, onde houver, ou determina a
afixação da lista, subscrita pelo Escrivão e assinada pelo Magistrado, no átrio do
Fórum. A publicação tem por finalidade informar a todos quais as pessoas que pode-
rão integrar o Tribunal do Júri no ano seguinte. Nada impede que a lista sofra
alterações, seja pelo próprio Juiz, de ofício, seja em face de reclamação de qualquer
do povo, mas somente serão possíveis até a publicação definitiva, no dia 10 de no-
vembro. Feita a escolha, já em caráter definitivo, o Juiz providencia a publicação dos
nomes e profissões de todos os integrantes da lista geral na imprensa, onde houver,
ou em editais, subscritos pelo Escrivão e assinados pelo Juiz, afixados no átrio do
Fórum. O nome de cada jurado, com indicação de seu endereço, será lançado em
pequeno cartão der aproximadamente 5cm x 8cm, que será dobrado ou enrolado e
colocado numa urna, denominada urna geral, uma vez que nela devem estar todos os
alistados para exercerem as funções no ano seguinte. O Ministério Público, como
fiscal da lei, deve estar presente. Presentes devem estar também o representante da
Subseção da OAB e Defensores Públicos. Depois de lançado o último cartão na urna,
esta será fechada a chave, sob a responsabilidade do Juiz. Ressalte-se que qualquer

6
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 82 e p. 83, respectivamente.
10

pessoa poderá assistir ao sorteio. Da inclusão ou exclusão de jurado da lista geral


cabe recurso em sentido estrito (Art. 581, XIV) para o Presidente do Tribunal de Justiça
ou, em se tratando de Júri Federal, para o Presidente do Tribunal Regional Federal
respectivo (art. 582, parágrafo único), no prazo de vinte dias (art. 586, parágrafo único). Tem
legitimidade para recorrer quanto à exclusão o excluído, e, quanto à inclusão,
qualquer cidadão residente na Comarca. Cumpre adiantar que só as pessoas residen-
tes na Comarca podem ser alistadas.” 7

V. Do desaforamento

O que é o desaforamento?

O desaforamento nada mais é do que o desloca-


mento do julgamento para outra comarca da
mesma região, onde não existam mais os motivos que o ensejaram, preferindo-se as
comarcas mais próximas. Segundo o que se pode depreender do Art. 427 do CPP,
torna-se o desaforamento possível, no interesse da ordem pública, no resguardo da
imparcialidade do Júri e na segurança pessoal do acusado, a requerimento do Minis-
tério Público, do Assistente, do Querelante, do Acusado e em razão de representação
do Juiz competente.

Foram como ilustração da aula, a bem da verda-


de, relembrados casos reais, os quais, foram vi-
venciados pelo Professor ou por outros colegas advogados.

É, o desaforamento, figura jurídica própria dos


processos de competência do Júri e que só po-
derá ocorrer quando a sentença de pronúncia não mais for passível de recurso, isto é,
quando a sentença de pronúncia já estiver preclusa.

Ensina Tourinho Filho, sobre o pedido de desa-


foramento: : “... O pedido formulado em petição
circunstanciada, instruída com documentos, justificações, depoimentos, será dirigido
ao Tribunal de Justiça ou, em se cuidando de Júri Federal, ao Tribunal Regional
Federal, respectivo. (...) Nada impede possa o Tribunal indicar Comarca distante,
mas, sendo assim, tal como acertadamente proclama o § 1º do Art. 727 do Regimento
Interno do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a decisão exige fundamenta-
ção. A lei fala ‘preferindo-se as mais próximas’.”8

O desaforamento poderá ainda se realizar no


caso previsto no Art. 428 do CPP.

7
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal comentado. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 84
8
Aut. e ob. cit. (conforme se vê acima), p. 86
11

OBSERVAÇÕES

A aula do dia 30/04/2020 foi de revisão da


matéria dada deste o primeiro dia, até o dia
20/02. Nas aulas dos dias 04 e 06 de maio do corrente ano de 2020, serão rea-
lizadas as revisões das aulas até o dia atual.

PARA A PROVA OU ATIVIDADE AVALIA-


TIVA REMOTA EXTRAORDINÁRIA DO
DIA 12/05 DEVERÁ CAIR TODA A MATÉRIA MINISTRADA.

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