Você está na página 1de 16

enfrentamento à

violência sexual contra


crianças e adolescentes

Intersetorialidade
e Planejamento
6
POLÍTICAS PÚBLICAS,

Lídia Rodrigues

NOSSA
NO
O S S A VO
VOZ.
O Z . NO
NOSSA
O S S A FO
O RTA L E Z A.
SUMÁRIO

1. Um pouco da história.............................................................83
2. Bases normativas...................................................................85
3. O Plano Nacional....................................................................86
4. A intersetorialidade do PNEVSCA...........................................87
5. A interseccionalidade dos planos..........................................89
6. Os desafios do PNEVSCA........................................................90

Referências........................................................................................... 95

Perfis da autora e do ilustrador......................................................... 96


Nesse período, havia uma efervescên-
cia de mobilizações em nível nacional, #FICAADICA
logo após a aprovação da Constituição
Federal de 1988, várias organizações inci- O II Congresso Mundial aconteceu
diram na elaboração e aprovação do Esta- em Yokohoma, no Japão, no ano de
Um pouco tuto da Criança e do Adolescente, em 1990,
movimento que possibilitou que a violên-
2001. Em 2008, o Brasil sediou o III
Congresso Mundial que aconteceu
da história cia sexual contra crianças e adolescentes
fosse objeto dessa Lei.
no Rio de Janeiro e lançou o
chamado para ação, documento
Toda conquista tem uma história que diz Em 1996, aconteceu o I Congresso que convoca todos os setores da
sobre as escolhas e movimentações feitas Mundial de Combate à Exploração Se- sociedade à responsabilidade
para alcançá-la. Com o Plano Nacional de xual Comercial contra Crianças e Ado- na proteção de crianças e
Enfrentamento à Violência Sexual con- lescentes, realizado em Estocolmo, na adolescentes das diferentes formas
tra Crianças e Adolescentes (PNEVSCA), Suécia. Os países participantes assumi- de exploração sexual.
não é diferente. Essa história não é linear ram que a exploração sexual comercial
e nem tem um ponto final. Narra ativida- infantojuvenil é um crime contra a hu-
des difusas e articuladas que contribuem manidade, potencializado pelas dinâmi-
para o lugar que a política está hoje e para cas de globalização, e se comprometeram
definir os caminhos do futuro. a elaborar e implementar nacionalmente,
Para contá-la,
-la, serão abordados os acon- uma agenda de ação.
tecimentos em Fortaleza, no Ceará, no Bra-
sil e no mundo. Perceba como esses acon-
tecimentos se relacionam entre si.
Em 1991, o tema da exploração sexual
contra crianças e adolescentes passa a ter
espaço na agenda pública no Ceará, quando
foi publicado o Relatório de ação da Polícias
Civil e Militar do Estado, realizado a pedido
da antiga Fundação do Bem-Estar do Menor
do Ceará (Febem-CE), que denunciava uma
rede de exploração e tráfico de crianças e
adolescentes, gerando uma articulação
da sociedade. O Fórum Permanente de
Combate e Prevenção à Prostituição
Infantojuvenil, posteriormente cha-
mado Pacto da Cidade, denunciou
a situação e exigiu providências dos
poderes públicos.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 83


Articulado a esse movimento global,
o PNEVSCA foi aprovado pelo Conselho
Nacional dos Direitos de Crianças e Ado-
lescentes (Conanda), em 12 de julho de
2000, revisado e relançado em 2014. Em
ocasião da elaboração e lançamento do
Plano, foi instituído o Comitê Nacional
de Enfrentamento a Violência Sexual
contra Crianças e Adolescentes como
instância responsável pelo seu mo-
nitoramento. Em 2018 foi realizado,
pela Comissão Intersetorial de En-
frentamento à Violência Sexual con-
tra Crianças e Adolescentes, o primeiro
monitoramento da execução do plano.
No Ceará, o Plano Estadual foi elabo-
rado e aprovado pelo Conselho Estadual
dos Direitos da Criança e do Adolescente
no ano de 2001. O Plano Estadual foi mo-
nitorado, em 2006, pelo Fórum Cearen-
se de Enfrentamento à Violência Sexual
contra Crianças e Adolescentes, revelan-
do que a sua execução não superava 34%
do total de ações previstas. Desde 2007, o
plano encontra-se defasado, não foi revi-
sado nem atualizado.
Em Fortaleza, em 2005, a Secretaria
Municipal de Educação e Assistência Social
(Sedas) protagonizou um processo de mo-
bilização para elaboração do Plano Muni-
cipal de Enfrentamento à Violência Sexual,
que foi aprovado por resolução, em 2006,
no Comdica,
Comdica mas nunca foi homologado.

84 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


d. Convenção Internacional sobre os
Bases Direitos da Criança: tratado inter-
nacional, aprovada em 1989 e visa
normativas à proteção de crianças e adolescen-
tes de todo o mundo, apontando os
A construção de uma política pública se direitos fundamentais a serem ga-
vincula a uma série de normativas que as rantidos pelos Estados-Nação.
dão base e sustentação quanto aos princí-
e. Protocolo Facultativo à Convenção
pios, conceitos e perspectivas. O PNVESCA
sobre os Direitos da Criança sobre a
tem como base legal sustentadora as se-
Venda de Crianças, a Prostituição
guintes normas nacionais e internacionais:
Infantil e a Pornografia Infantil:
a. Constituição da República Fede- Aprovado em janeiro de 2002, apre-
rativa do Brasil: A carta magna senta compromissos que os estados
estabelece o primeiro pilar para signatários deverão cumprir para o
a proteção integral de crianças e enfrentamento a exploração sexual.
adolescentes de todas as formas
de violências e abusos.
b. Estatuto da Criança e do Adoles- TÁ NA Lei
cente: Lei nº 8069 de 13 de julho de
1990 que trata da proteção integral à Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado
criança e ao adolescente e normatiza assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
o Sistema de Garantia de Direitos. com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
c. Plano Decenal de Direitos Huma- alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
nos de Crianças e Adolescentes: à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
Produzido em 2010 possui cinco convivência familiar e comunitária, além de colocá-los
eixos estratégicos e 13 diretrizes de a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
orientação para as políticas volta- exploração, violência, crueldade e opressão.
das à criança e do adolescente

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 85


O Plano
Nacional
O PNVESCA deve ser entendido como
“um conjunto de diretrizes de longo
prazo para organizar, articular e integrar
as ações dos setores governamentais
e não governamentais, com alcance
para cessar a violência, resgatar di-
reitos e dignidade no atendimento as
vítimas, promover a inclusão social e a
cidadania por meio de políticas públicas
não revitimizadoras e reconhecendo a sexu-
alidade das pessoas como direito humano1”.
Para que o PNVESCA seja implemen-
tado, é fundamental considerar o Pacto
Federativo,, pois sua efetivação se dá
através dos Planos Estaduais e é opera-
da pelos Planos Municipais, uma vez que
cabe ao município as ações finalísticas de
atenção direta. Considerando os distintos
níveis de gestão, deliberação e controle
social, e seu alinhamento às competên-
cias atribuídas aos entes federativos
(estados e municípios) e as atribui-
ções institucionais.

1 CASTANHA. Neide. O processo de


revisão do Plano Nacional. Relatório
de Acompanhamento 2007 – 2008..

86 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


A intersetorialidade
DO PNEVSCA
Uma das diretrizes estabelecida no I Con- aos direitos à saúde, educação, moradia, o
gresso Mundial e adotada para o PNEVSCA fomento à educação em autoproteção que
é a intersetorialidade. permita a crianças e adolescentes reco-
A lógica é simples: a violência sexual é nhecerem situações de risco e buscar aju-
resultado de complexas relações de poder da, são exemplos de atividades desse eixo.
construídas ao logo da história, portan- Relaciona-se com pastas como educação,
to, o enfrentamento deve acontecer de saúde, assistência social, habitação e de-
maneira articulada, com ações que, em senvolvimento econômico.
diferentes políticas (saúde, educação, as- Atenção: Na primeira versão do PNEVSCA,
sistência, desenvolvimento econômico, esse eixo era chamado de atendimento; a
etc.), ajam sobre as causas do problema mudança de nome diz sobre a perspectiva
de forma sistêmica. Para que isso seja exi- que foi assumida. No atendimento havia
toso, não basta que as diferentes políticas uma ideia focada no atendimento psicos-
prevejam ações, mas que as ações se ar- social e de saúde aos sobreviventes da vio-
ticulem, relacionem e se complementem. lência sexual. Na perspectiva da atenção
A organização das ações do Plano é prevalece a compreensão de um contexto
feita a partir de eixos estratégicos, sendo multidimensional, da atuação na mitiga-
eles: (a) Prevenção; (b) Atenção; (c) Comu- ção dos impactos da violência, compreen-
nicação e Mobilização Social; (d) Defesa e dendo a criança/o adolescente que sofreu a
Responsabilização; (e) Participação e pro- violação e sua família, agindo em aspectos
tagonismo, e (f) Estudos e Pesquisas. relacionados à cultura, a psicoemocionais,
Prevenção: Nesse eixo, as ações e metas econômicos, de saúde física, entre outros.
são focadas na redução da incidência da
violência sexual, atacando as causas que
têm como consequência essa violação. A
redução das desigualdades econômicas, o
fortalecimento da rede familiar e comuni-
tária da criança e do adolescente, o acesso

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 87


Defesa e Responsabilização: Dispõe so- opiniões respeitadas, avançado no
bre ações que tenham como objetivo a direito à expressão e participação
defesa da vítima e a responsabilização do na vida política. A escola é uma
autor da violência sexual. das principais organizações que
A fiscalização, os órgãos de recepção de podem colaborar com esse eixo,
denúncia-crime, os procedimentos de apu- mas a perspectiva é mais ampla: é
ração, o julgamento e aplicação de pena que crianças e adolescentes sejam
quando o suspeito é considerado culpado ouvidos em todos os espaços que
são exemplos do que é tratado nesse eixo. são atendidos e possam participar
O objetivo é reduzir a impunidade, mitigar em conformidade a sua condição
o sofrimento das pessoas vitimizadas e peculiar de desenvolvimento.
protegê-las, evidenciando quais compor- Estudos e Pesquisas: A violência se-
tamentos não são tolerados socialmente. xual é muito complexa. Compreen-
dê-la é fundamental para estabelecer
Comunicação e Mobilização Social: O
ações assertivas para o seu enfrenta-
problema da violência sexual, durante
mento. Esse eixo atua na direção de
muito tempo tem sido tabu. A falta de in-
ampliar o conhecimento que temos
formações e invisibilidade do problema
acerca do problema, produzir e anali-
são fatores que fazem com que alguns ca-
sar os dados da violação e da rede de
sos as pessoas não denunciem. Ampliar
enfrentamento para melhor monito-
o diálogo e visibilidade sobre o tema e
rar, avaliar e planejar as políticas. As
comprometer os diferentes setores da
universidades, centro de pesquisa,
sociedade a se engajar no seu enfrenta-
observatórios são instituições
mento são objetivos desse eixo, que en-
que tem centralidade nesse eixo,
volve os meios de comunicação, poderes
porém a proposta é de colabora-
públicos, organizações da sociedade civil
ção entre as instituições, melho-
e iniciativa privada.
rando o registro e compilação
Participação e Protagonismo: Esse eixo de informações dos serviços de
prevê ações que fomentam a participa- saúde, educação, conselho tute-
ção e o protagonismo de crianças e ado- lar, delegacias etc., a fim de sub-
lescentes para que esses tenham suas sidiar as análises do problema.

88 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


A interseccionalidade
DOS PLANOS
Para pensar o planejamento e implemen- haja convergência de ações e que as insti-
tação das políticas públicas de enfrenta- tuições estejam alinhadas para lidar com
mento à exploração sexual, é importante essas questões.
considerar a interseção do PNEVSCA O PNEVSCA relaciona-se com os eixos e
correlatos.
com outros Planos correlatos diretrizes do Plano Decenal dos Direitos
Uma estratégia para implementar o de Crianças e Adolescentes, com uma in-
Estatuto da Criança e do Adolescente foi terface direta com essa política, e tem ações
elaborar planos que tratassem de viola- que convergem com os seguintes planos:
ções de direitos específicas, como a situ-
• Plano Nacional de Promoção Prote-
ação de rua, o trabalho infantil, a explora-
ção e Defesa do Direito de Crianças
ção sexual etc. Essas questões específicas
e Adolescentes à Convivência Fami-
se cruzam, nas raízes em comum e na vida
liar e Comunitária;
das crianças. Por exemplo, uma criança
pode ter vínculos familiares fragilizados • III Plano Nacional de Prevenção e Er-
devido um abuso sexual intrafamiliar, o radicação do Trabalho Infantil e Pro-
que a leva a uma situação de moradia teção ao Adolescente Trabalhador;
de rua, e nas ruas ser envolvida numa • Sistema Nacional de Atendimento
rede de exploração sexual, uma das Socioeducativo – Sinase
piores formas de trabalho infantil.
Do modo que se as problemáti-
cas estão articuladas, é imprescindí-
vel que as políticas se conectem, que

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 89


Os desafios
DO PNEVSCA
Nos cinco anos que se passaram desde a
aprovação da 2ª versão do PNVESCA, fo-
ram identificados desafios para sua imple-
mentação. Olhar para esses desafios é um
exercício interessante de aprendizado e
aperfeiçoamento do enfrentamento à vio-
lência sexual. Veja alguns desses desafios:
a. Compreensão e qualificação téc-
nica para lidar com os novos ce-
nários de violência sexual: o avan-
ço do uso das tecnologias e redes
sociais em dinâmicas de abuso e
exploração sexual exige das institui-
ções, profissionais e sociedade de
maneira geral qualificação do deba-
te e ação. O compartilhamento de b. O atendimento ao autor da vio-
imagens sexuais envolvendo crian- lência sexual: estudos apontam
ças e adolescentes, o aliciamento que a violência é reproduzida cicli- formação de padrões de comporta-
para exploração sexual, as exposi- camente, ou seja, muitas pessoas mento, para que quando cumprida
ções e ameaças de publicizar nudes que sofrem violência tendem a co- a pena, possa ser reinserido na so-
(fotos de pessoas nuas), utilizando metê-la em outro período da vida ciedade sem reincidir.
as redes sociais, traz desafios para se não passarem por processos te- Essa concepção, no entanto, ainda
a identificação, prevenção e res- rapêuticos que possibilitem a res- não foi incorporada nas políticas de
ponsabilização. Muitos relatos de significação desse sofrimento. responsabilização penal e se confi-
automutilação e tentativas de sui- O autor da violência sexual, além gura como um grande desafio para
cídio vinculados à exposição inde- da responsabilização penal prevista a ruptura de ciclos de violência e er-
vida de imagens pessoais de con- em lei, precisa passar por atendi- radicação desse problema.
teúdo sexual têm chegado à Rede mento psicossocial que possibilite c. Monitoramento: embora na se-
de Proteção que, muitas vezes, não o confronto com a responsabilida- gunda versão do PNEVSCA tenha
sabe lidar com essas demandas. de ante o crime cometido e a trans- se avançado na elaboração de

90 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


indicadores de monitoramento, e. Planejamento: a fase de elabora-
uma questão colocada é a pouca ção do Plano é chave para que seja TÁ NA Lei
cultura de registro e sistemati- possível tirá-lo do papel. O plano
zação de dados que possibilitem tem que ser exequível e condizen- Você pode estar se perguntando:
o levantamento de informações te com a realidade, por isso essa “Sim, mas pra que isso me serve
correspondentes a esses indica- é uma fase a ser executada com na prática? Por exemplo, se sou um
dores. Por exemplo, se um indi- muito cuidado. gestor público, ou um conselheiro
cador do eixo de participação e e.1. Levantar informações so- de direitos, ou de uma organização
protagonismo é o número de grê- bre o problema no territó- da sociedade civil ou um cidadão
mios estudantis envolvidos no en- rio: levantar as informações comprometido, como tudo isso pode
frentamento à exploração sexual, preexistentes é fundamental me ajudar a implementar o PNVESCA
é necessário que haja um registro para pensar a intervenção. em meu município ou estado?”
do número de grêmios existentes Esse passo é desafiador por- Como falado anteriormente, o
e um levantamento de quais pau- que muitas vezes há subnoti- PNEVESCA é operado através dos
taram a questão da exploração ficação da violência, portanto, Planos Estaduais e municipais,
sexual para saber se o objetivo / uma investigação baseada em portanto, abaixo teremos
meta foi atingido total ou parcial- algumas questões é funda- pontos importantes para as
mente, e se não foi atingido quais mental para conhecer o pro- diferentes fases do planejamento,
motivos e ações serão necessárias blema antes do planejamento implementação e monitoramento
para superar esse obstáculo. das ações. Perguntas chaves: do Plano. É importante saber
d. Orçamento Público: um dos princi- Qual a modalidade de vio- que o Conselho de Direitos
pais desafios para implementação lência com maior incidência da Criança e do Adolescente
do Plano é a alocação orçamentária de denúncias? Há indícios de é o órgão com competência na
que viabilize suas ações. É neces- formas de violência sexual formulação, deliberação e controle
sário previsão orçamentaria dis- não notificadas oficialmente? social das políticas públicas, e
tribuída nos órgãos responsáveis Quais? Existem pontos de ex- todo o processo deve ser feito no
pela execução do plano, e que esse ploração sexual? Onde? Quem âmbito do Conselho.
orçamento seja visível na peça or- são os exploradores? Qual o
çamentária para que seja possível contexto social, econômico e
o monitoramento de sua execução. familiar das vítimas?

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 91


e.1.1. Mapeamento das políticas e no seja efetivo, a sociedade de for-
ações existentes: para a elabora- ma geral precisa estar apropriada
ção do plano em um território é im- dele, desde os órgãos públicos do
portante conhecer quais as ações e executivo, legislativo e judiciário,
políticas já existem e que se rela- às organizações da sociedade ci-
cionam com o tema. Isso vai ajudar vil, aos movimentos sociais e à ini-
a não prever a criação de algo que ciativa privada.
já existe, e também vai ajudar na e.1.3. Promover debates participativos
construção de ações intersetoriais. e análise técnica dos resultados: a
É importante mapear não só pro- elaboração do plano propriamente
gramas e projetos específicos, mas dita deve ser elaborada mixando a
todos os projetos que possam for- participação popular e a produção
talecer uma ação estratégica. Por técnica em torno dos temas.
exemplo, o diagnóstico inicial pode Uma possibilidade é partir de um
apontar que os professores não fa- levantamento das necessidades
zem a notificação por que não têm apontadas pela população para
informações suficientes, e a Secre- uma produção técnica de propos-
taria de Educação pode ter um pro- ta por um grupo especializado que
grama de qualificação de profes- avalie se as demandas têm base
sores. Nesse caso, o plano poderia legal e concordância com os prin-
prever um módulo de enfrentamen- cípios dos direitos humanos, se há
to às violências no programa de possibilidade de criar normativas
qualificação dos professores. que as subsidiem, se são exequíveis
e.1.2. articular organizações que atuam considerando o porte do estado mu-
no tema: é importante articular as nicípio e a temporalidade do plane-
organizações que já atuam direta jamento ou se serão necessárias
ou indiretamente no tema desde o propostas meios para que avancem
início, para se envolverem em to- progressivamente às propostas fins.
das as etapas, desde o diagnóstico Outra possibilidade são realiza-
à proposição de ações. ções de debates com especialistas
Isso vai possibilitar que o planeja- por eixos ou áreas temáticas, com
mento seja participativo e que na grupos de trabalho para elabora-
implementação haja um engaja- ção de propostas que passem por
mento ampliado. Para que o pla- uma análise técnica de viabilidade.

92 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


f. Prever indicadores de monitora-
mento: prever indicadores de mo-
nitoramento é importante para que
a avaliação e o monitoramento do
Plano sejam mensuráveis, para que
seja possível identificar e aperfeiçoar
os pontos de melhoria e para que a
revisão e elaboração de um novo pla-
no seja um processo de aprendizado
contínuo. Na elaboração dos indica-
dores é importante listar e associá-
-los às fontes de dados disponíveis.
g. Um orçamento vinculado: para
viabilizar a implementação do Pla-
no é importante garantir previsão
orçamentária para sua execução.
Uma política necessita além de quali-
ficação técnica e priorização por par-
te dos gestores públicos, de recursos
que viabilizem a sua execução.
O poder executivo pode elaborar
o seu planejamento orçamentário
plurianual (PPA), já prevendo os re-
cursos necessários para a execução
do Plano e o legislativo pode propor
emendas caso essa previsão não te-
nha sido feita. A sociedade civil orga-
nizada pode incidir para que haja or-
çamento previsto, e, posteriormente,
acompanhar sua execução para as-
segurar a implementação da política.
h. Implementação: A implementação
corresponde à fase onde as ações
previstas serão operacionalizadas.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 93


Essa operacionalização se efetiva cução que o possa fazer de forma mento e avaliação como um pro-
nas diversas áreas envolvidas no sistemática e especializada, como cesso continuado, que vai pos-
PNEVSCA, como a educação, a saú- Grupos de Trabalho, comissões, Fó- sibilitando ajustes de passos e
de, assistência, segurança pública, runs ou Comitês. vai acumulando insumos para,
habitação, o desenvolvimento eco- As diferentes secretarias de estado no final do processo, os cami-
nômico etc. No processo de imple- também precisam organizar a ges- nhos de um novo planejamento
mentação é importante que hajam tão interna para a implementação estarem desenhados. Para isso,
espaços de diálogo e troca, afim de do Plano. Isso pode ser feito através é necessário que haja durante o
produzir aprendizado coletivo e re- da articulação de projetos e progra- percurso estabelecimentos ins-
solução de problemas práticos que mas existentes e inserção das ações trumentais de coleta e sistemati-
possam surgir. previstas nesses, ou na criação de zação de informações dos diver-
i. Acompanhamento da execução: novos programas. É recomendável sos eixos, indicadores precisos que
o Conselho de Direitos da Criança e a criação de planos operativos que meçam a efetividade e eficácia das
do Adolescente é o órgão responsá- desdobrem as ações do Plano em ações, e, reflexões sistemáticas so-
vel pelo monitoramento do Plano. passos de execução que sejam coti- bre os pontos de melhoria.
No entanto, como seu escopo de dianos, e que todos os servidores pú-

SEGUE O Fio
trabalho é muito amplo, pois deli- blicos sejam informados do processo
bera sobre todas as políticas para de execução com nitidez de suas atri-
a infância, o mesmo pode instituir buições específicas nesse processo.
Para que tudo isso funcione,
ou legitimar instâncias específicas As organizações da sociedade civil é necessário que o Plano seja
pelo acompanhamento da exe- têm a atribuição de fazer o controle uma ferramenta de política de
social das políticas públicas, então Estado! É comum que, com
a sua atuação no monitoramento
SEGUE O Fio
mudanças de gestores públicos,
contínuo da execução, proposição o novo gestor queira imprimir a
de estratégias e soluções são fun- “sua marca” e acabe com projetos
A carta de Natal, que apresenta o 1º damentais para um equilíbrio da anteriores criando outros. Quando
PNEVSCA, indica o Comitê Nacional política. Uma forma de fazer isso é falamos de enfrentamento à
de Enfrentamento à Violência Sexu- estabelecer relações estreitas com violência sexual, precisamos
al contra Crianças e Adolescentes o Ministério Público. estar atentos que a continuidade
como instância de monitoramento j. Monitoramento e Avaliação: Mui- da política é o que vai possibilitar
do Plano. tas vezes você já deve ter ouvido o seu enfrentamento.
falar de monitoramento e avaliação
como processo finalístico, ou seja,
que acontece após o encerramento
das atividades. A perspectiva que se
afirma é diferente! É de monitora-

94 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Referências
http://ecpatbrasil.org.br/
https://www.ecpat.org/
https://www.facabonito.org.br/
https://www.childhood.org.br
Plano Nacional de Enfrentamento
à Violência Sexual contra Crianças
e Adolescentes
Plano Nacional de Convivência
Familiar e Comunitária
Relatório de acompanhamento
2007-2008: O processo de revisão
2007-2008
do Plano Nacional. CNEVSCA.
Relatório de Monitoramento de País sobre
Exploração Sexual Comercial de Crianças e
Adolescentes. 2017. ECPAT Brasil
Monitoramento da Política
Pol Pública
de atendimento às vítimas de violência
sexual 2014. CEDECA Ceará
sexual.

enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 95


Lídia Rodrigues (autora)
Educadora social. Sua atuação no enfrentamento à violência Sexual contra Crianças
e Adolescentes teve início em 2004. Compôs a coordenação colegiada da rede ECPAT
Brasil no período de 2008 a 2019, e coordenou a Campanha ANA (Aliança Nacional
de Adolescentes) de educação em autoproteção às violências sexuais entre 2013
e 2019. Atualmente compõe a Comissão de Enfrentamento à Violência Sexual do
Fórum Permanente de ONGs pela defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes –
Fórum DCA/CE, a Associação Barraca da Amizade e a Rede ECPAT Brasil.

RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador)


É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista.
Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia
do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e
em editoras paulistas.

Este fascículo é parte integrante do Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação
Demócrito Rocha e a Câmara Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2019.

Todos os direitos desta edição reservados à: EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo
Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Emanuela Fernandes e
Fundação Demócrito Rocha Aurelino Freitas Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Instrucional CURSO ENFRENTAMENTO
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Valéria Xavier Concepção e Coordenadora Geral Leila Paiva
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 Coordenadora de Conteúdo Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico Miqueias Mesquita
fdr.org.br Designer/Diagramador Rafael Limaverde Ilustrador Mayara Magalhães Revisora Beth Lopes Produtora
fundacao@fdr.org.br ISBN: 978-85-7529-936-4 (Coleção)
ISBN: 978-85-7529-942-5 (Fascículo 6)

Apoio Realização

NOSSA VOZ . NOSSA FO RTA L E Z A .

Você também pode gostar