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I Encontro de Secretários Municipais de Agricultura do Estado de Rondônia

Porto Velho – Rondônia – 01.08.2003

OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA O AGRONEGÓCIO DE RONDÔNIA

Newton de Lucena Costa


Chefe Geral Embrapa Rondônia

A grande quantidade de recursos e produtos ainda pouco conhecidos ou de baixo valor


econômico agregado, além do vácuo científico e tecnológico prevalecente, por
insuficiência de recursos físicos, humanos e financeiros nas instituições de pesquisa &
desenvolvimento da região amazônica, têm se constituído em grande dificuldade para o
estabelecimento de prioridades de pesquisa. Ampliar o conhecimento científico sobre os
recursos naturais da Amazônia, visando objetivos definidos para as principais atividades
econômicas do agronegócio regional é uma aspiração da sociedade brasileira. Ademais, o
processo desordenado de ocupação do espaço regional tem se refletido em cenários
sócio-econômicos que se caracterizam por baixa eficiência produtiva e severos impactos
agroambientais. Logo, tornam-se da maior importância que se desenvolvam ações
voltadas para a gestão do uso da terra. Torna-se estratégico fortalecer e priorizar o
desenvolvimento de tecnologias de caráter produtivo para aumentar a eficiência das
atividades do setor primário, visando reduzir a pressão sobre os recursos naturais
existentes. Neste sentido, devem ser considerados, pela sua natureza, dois segmentos
importantes: a agricultura familiar pela sua relevância social e de segurança alimentar e a
agricultura empresarial pela sua maior capacidade de investimento e geração de divisas.

As mudanças em curso no panorama econômico mundial vêm provocando


transformações no agronegócio nacional e mundial. A procura pela diferenciação e
diversificação de produtos, acarretando uma segmentação mais fina de mercados, tem
como pano de fundo e exigência crescente dos consumidores quanto à qualidade de
produtos e serviços e a busca do estabelecimento de vantagens competitivas mais
duradouras. As mudanças tecnológicas e as novas pressões competitivas vêm induzindo
mudanças significativas nos conceitos de produção. No processo de globalização podem
ser distinguidos três aspectos: a) velocidade de integração econômica mundial decorrente
de uma economia de mercado e de livre comércio, aliada ao fenômeno da liberdade
crescente de movimentação de capital; b) globalização das comunicações e da
informação e, c) globalização política. Deste modo, as macrotendências podem ser
vislumbradas para o agronegócio nacional:

1. Redução ainda maior da presença do Estado nas relações econômicas e a


consolidação de um modelo econômico orientado para o mercado;
2. Maior integração com os mercados mundiais; e,
3. Ênfase nos programas sociais e ambientais.

A política nacional de desenvolvimento da Amazônia, coordenada pelo atual governo,


está delineada para resolver as questões da integração nacional e da promoção do
crescimento econômico e social, associado à conservação dos recursos naturais. O
Macro-objetivo 5 do Plano Plurianual (PPA-2000/2003) está direcionado para o Aumento
da Competitividade do Agronegócio e delineia entre as suas diretrizes apoiar a
modernização tecnológica da agropecuária, em articulação com o setor produtivo e a
agroindústria, visando a competitividade das cadeias produtivas e o fortalecimento dos
clusters. Os outros Macro-objetivos que também fazem parte da opção estratégica são: 2.
Promoção e desenvolvimento sustentável voltado para a geração de empregos e renda;
9. Promover a reestruturação produtiva com vistas a estimular a competição no mercado

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interno e externo; 11. Melhorar a gestão ambiental e, 12. Ampliar a capacidade de


inovação, os quais estão relacionados com a temática da produção de grãos na
Amazônia.

A sociedade brasileira está passando por um profundo processo de transformação, o qual


redireciona as ações governamentais que devem primordialmente assegurar a inserção
competitiva do país no cenário internacional, diminuir as desigualdades espaciais e
sociais, tornando o Estado moderno e eficiente. Nos próximos anos, as ações que
contribuírem para a geração de emprego e para aumentar o saldo positivo na balança
comercial receberão tratamento preferencial pelos poderes públicos. Os cenários futuros
para o agronegócio nacional convergem para uma agropecuária consciente das
demandas potenciais dos três tipos de atividades agrícolas (subsistência, transição e de
mercado), com crescente sensibilidade ambiental, comprometida com a preservação dos
recursos naturais, da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida. Ademais, deve ser
competitiva, com qualidade e produtividade, tecnologicamente avançada, demandante de
informações técnico-gerenciais, promotora de emprego e renda e, atento às
oportunidades de ocupação de espaços negociais estratégicos.

A conservação do meio ambiente e o paradigma da sustentabilidade são considerações


que devem direcionar a geração de tecnologias ambientalmente corretas. A preocupação
com os efeitos negativos dos impactos ambientais não assimiláveis das atividades
agropecuárias e que implicam no esgotamento de recursos naturais ou na degradação
ambiental deverá ser crescente e cada vez mais importante na formulaçao de políticas
públicas relacionadas com o agronegócio. As florestas tropicais poderão assumir novas
funções, com destaque para o reconhecimento sócio-econômico de seus serviiços
ambientais (biodiversidade, sequestro de carbono, purificação de água e ar, controle
climático e reserva de fármacos naturais).

As oportunidades e as ameaças, advindas principalmente dos ambientes internacional e


nacional, ainda são marcados por indefinições e incertezas. Entretanto, dois fatores
deverão ter importância estratégica quanto ao futuro da ocupação da região: a revolução
científica e tecnológica e o desenvolvimento da consciência sobre o meio ambiente.
Esses fatores de dinamização e transformação estarão referenciados por parâmetros que
lhes conferem missões específicas:

- As reservas de recursos naturais, apesar de abundantes e ricas, estão


inseridas num ecossistema complexo.
- A necessidade urgente de se diminuir o uso predatório do fogo sobre a
vegetação nativa e secundária.
- A importância de serem estabelecidos e implementados mecanismos que
permitam o monitoramento agroambiental das atividades produtivas em
andamento na região.
- A velocidade de mobilização dos recursos naturais existentes, dependerá, em
linhas gerais, de como o Brasil e a Amazônia especificamente, irão utilizá-la
como fronteira de desenvolvimento.
- A população amazônica tenderá a crescer de forma moderada, o que
decorrerá, principalmente, da atratividade migratória e da velocidade da
urbanização/modernização social e familiar.

No curto e médio prazo, considerando-se a ação governamental para as mudanças da


base produtiva e a infra-estrutura de apoio disponível, em processo crescente de
melhorias, há um forte indício no sentido do crescimento relativo das atividades agrícola,

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pecuária, florestal e agroindustrial, graças a uma “diversificação estrutural” caracterizada


pelos seguintes fatores econômicos: estabilização do extrativismo tradicional;
Implementação do manejo das florestas públicas; domesticação de espécies nativas com
a ascensão dos recursos bióticos; intensificação do uso de cerrados; consolidação da
“fronteira aberta”, com o aproveitamento de áreas alteradas e de pastagens degradadas
e, intensificação das atividades agroindustriais e da bioindústria.

As possibilidades futuras de investimento no agronegócio regional poderão ser


consolidadas com um forte estímulo às parcerias intra e extra-regionais, em pontos
estratégicos, com ênfase para a informação, cooperação técnica, tecnológica e financeira.
Instrumentos de políticas públicas, ajustados a essa nova percepção, deverão ser criados
e implementados de imediato pelos atores regionais.

A globalização da produção e de capitais traz como consequência a intensificação da


concorrência, provocando a dissolução de segmentos do agronegócio com pouca
vantagem competitiva e com menor capacidade de adaptação e acesso aos novos
mecanismos de inserção no mercado. A tendência de queda ou de oscilações bruscas
nos preços internacionais de commodities deverá continuar por um longo período. No
entanto, pode ocorrer um incremento da demanda mundial por produtos do agronegócio,
concentrada nos países em desenvolvimento, especialmente proteína de origem animal.
Nos próximos dez anos o horizonte do agronegócio poderá ser ampliado com a abertura
de novos mercados para produtos, tais como: plantas ornamentais, produtos da
aqüicultura, alimentos funcionais (nutracêuticos), biofármacos e novos derivados de
produtos para substituição daqueles oriundos de fontes não-renováveis e poluentes.

A qualidade dos alimentos será um requesito essencial para a competitividade do setor


agropecuário, pois a tendência é de crescente preocupação dos consumidores com a
segurança alimentar. Haverá, portanto, a exigência de rastreabilidade do produto em todo
o seu ciclo de vida e ao longo da cadeia, a fim de transpor as barreiras técnicas ao
comércio internacional. A alteração nos padrões de consumo de alimentos, notadamente
das classes média e alta, tanto no nível nacional quanto internacional, podem ser
previsíveis. As tendências de maior expectativa de vida e a busca por uma alimentação
mais saudável, o aumento da participação das mulheres na força de trabalho e a
reestruturação do tamanho das famílias, além da homogeinização da globalização e da
difusão de produtos regionais modificam os hábitos de consumo com reflexos na
demanda. Poderá ocorrer um crescente interesse por alimentos funcionais, produtos
diferenciados, naturais e orgânicos, frutas e hortaliças, carne magra e branca, bem como
por alimentos minimamente processados e semiprontos.

A inserção de Rondônia na economia globalizada estimulará direta ou indiretamente o


desenvolvimento das atividades agropecuárias, florestais e agroindustriais. As seguintes
cadeias produtivas demandarão conhecimentos, tecnologias, produtos e serviços que se
inserem no âmbito da missão e do mandato da Embrapa na região amazônica:

- Planejamento e gestão de uso da terra


- Produtos não-madeireiros, principalmente aqueles com grande estoque disponível
- Produtos da biodiversidade para agroindústria e bioindústria
- Madeiras de florestas nativas ou de plantações para uso nobre (celulose e carvão
vegetal)
- Produtos industriais de mercado consolidado (café, leite, coco, café, cacau,
pimenta-do-reino, algodão, pupunha)
- Fruteiras nativas e exóticas para aproveitamento de nichos de mercado

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- Produtos graníferos e fibras


- Agricultura e pecuária orgânicas
- Piscicultura artesanal e empresarial

A importância dos sistemas agroflorestais e a demanda por indicação de espécies para


usos múltiplos tem aumentado, visando a oferta de alternativas técnológicas para o
manejo sustentável da terra. É importante disponibilizar produtos diversificados como
estratégia de segurança às oscilações de mercado. Neste contexto, a introdução e a
adaptação de novos protótipos de sistemas agroflorestais na região torna-se essencial.
Quanto às culturas perenes (industriais e fruteiras) há a necessidade da resolução de
muitos problemas tecnológicos, como a busca de material genético adaptado às
condições ecológocas regionais, de sistemas mais adequados de manejo, controle de
pragas e doenças que afetam a quase totalidade das culturas perenes e dos sistemas
consorciados. A pressão do desmatamento e de queimadas de novas áreas pode ser
reduzida com a intensificação do uso da terra. Ao mesmo tempo em que há uma forte
demanda tecnológica para intensificação do uso de pastagens, por outro há a
necessidade de aumentar a produtividade dos cultivos, de perenizar o uso da terra e da
recuperação mais rápida da fertilidade dos solos em áreas ocupadas por cultivos de ciclo
curto (arroz, milho, feijão e mandioca).

As pesquisas sobre a adaptação de modernos sistemas intensivos de produção de grãos,


como o plantio direto, em áreas onde a floresta foi substituída por pastagens e o
monitoramento dos possíveis impactos agroambientais são da maior importância no novo
momento do desenvolvimento regional. Além de buscar alternativas que contribuam para
solucionar os problemas da sociedade, por meio do planejamento e do uso sustentável
dos recursos naturais, é essencial a interação entre as diferentes esferas dos poderes
executivo e legislativo municipal, estadual e federal, a fim de promover as mudanças nas
políticas atuais, bem como a proposição de novas políticas que viabilizem a efetiva
incorporação destas tecnologias aos processos produtivos.

A Agenda Úmidas, dentre os cenários e tendências apontadas para o desenvolvimento


sustentável de Rondônia, destaca as seguintes ações estratégicas:

· Integração com os eixos dinâmicos de transformação nacional e internacionais


· Valorização da hidrovia do Madeira e saída terrestre para o Pacífico
· Agroindustrialização como vetor da integração vertical da cadeia produtiva
· Reconfiguração do padrão de ocupação territorial focado nos eixos desenvolvimentalista
e conservacionista (Zoneamento Sócio-Econômico e Ecológico)

O momento é de oportunidade para as instituições regionais geradoras de conhecimentos


científicos e tecnológicos, devido aos seguintes fatores conjunturais indutivos:

- Apelo amazônico cada vez mais relevante


- Demanda por conhecimentos para a conservação, recuperação e manejo dos
recursos naturais
- Novos cenários de desenvolvimento do agronegócio regional e a necessidade de
mudança da base tecnológica
- Aumento da oferta de parcerias institucionais nacionais e internacionais
- Crescente oferta de fundos financeiros competitivos para as atividades de
pesquisa & desenvolvimento
- Possibilidade de ampliar os negócios tecnológicos como uma nova atividade no
agronegócio regional

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Para a consecução de melhores níveis de sustentabilidade do desenvolvimento


agropecuário e florestal da Amazônia, o cenário desejável deve contemplar:

- Desenvolvimento agropecuário e florestal com o máximo possível de conservação de


recursos naturais;
- Redução dos desmatamentos com utilização das áreas já alteradas
- Agregação de valor ambiental nas atividades agropecuárias e florestais
- Aumento da intensificação do uso da terra
- Aumento da agrodiversidade para o aproveitamento da biodiversidade e das vantagens
comparativas ecológicas, sócio-econômicas e culturais
- Aumento da eficiência do uso da terra e da mão-de-obra
- Desenvolvimento da agroindústria e da bioindústria
- Verticalização do desenvolvimento agropecuário e florestal
- Melhor distribuição de renda

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