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E SUAS TECNOLOGIAS
Índice
CONHECIMENTOS BÁSICOS E FUNDAMENTAIS
Noções de ordem de grandeza. Notação Científica. Sistema Internacional de Unidades. Metodologia
de investigação: a procura de regularidades e de sinais na interpretação física do mundo. Observações
e mensurações: representação de grandezas físicas como grandezas mensuráveis. Ferramentas básicas:
gráficos e vetores. Conceituação de grandezas vetoriais e escalares. Operações básicas com vetores........ 01
INDÚSTRIA QUÍMICA
obtenção e utilização do cloro, hidróxido de sódio, ácido sulfúrico, amônia e ácido nítrico. Mineração
e Metalurgia. Poluição e tratamento de água. Poluição atmosférica. Contaminação e proteção do
ambiente................................................................................................................................................................ 202
IDENTIDADE DOS SERES VIVOS - Níveis de organização dos seres vivos. Vírus, procariontese
eucariontes. Autótrofos e heterótrofos. Seres unicelulares e pluricelulares. Sistemática eas grandes linhas da
evolução dos seres vivos. Tipos de ciclo de vida. Evolução e padrõesanatômicos e fisiológicos observados
nos seres vivos. Funções vitais dos seres vivos e suarelação com a adaptação desses organismos a
diferentes ambientes. Embriologia,anatomia e fisiologia humana. Evolução humana. Biotecnologia e
sistemática.............................................................................................................................................................. 305
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Atenciosamente,
CIÊNCIAS DA
NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
Charles Darwin
Ciências da Natureza e suas Tecnologias
N
as ciências exatas, é muito comum a re- 0,0075 = 7,5 x 10-3
presentação de medidas sob a forma de (O expoente é -3 porque a vírgula foi deslocada 3
um número multiplicado por uma potên- posições para a direita)
cia de 10, como, por exemplo, 6 x 1023. Esse modelo
de expressão de medidas é chamado de notação Utilizando o mesmo método, também podemos
científica ou exponencial.A notação científica é um converter um número em notação científica para no-
modo de representação métrica muito útil porque tação fixa, ou seja, sem potência de 10. Por exemplo:
permite escrever números muito extensos ou muito
pequenos de uma maneira mais compacta, tornan- 2,671 x 102 = 267,1
do os cálculos mais simples. Essa vantagem faz com 3, 141 x 10-3 = 0,003141
1
que a notação científica seja muito utilizada nos ra-
mos da Física, Química e Engenharias. Em alguns estudos, é necessário realizar operações
matemáticas com número expressos em notação
Todo número escrito em notação científica obe-
científica. Veja a seguir como esses cálculos são feitos.
dece à regra geral N x 10n. Nessa expressão, o N é
chamado de termo dígito e corresponde a um núme-
Adição e subtração
ro no intervalo de 1 e 9,999..., enquanto 10né o termo
exponencial, representando determinada potência
Para somar ou subtrair dois números em notação
de 10 inteira. Assim, o número 9.456, por exemplo, é
científica, primeiro deve-se convertê-los à mesma po-
expresso em notação científica como 9,46 x 102, isto é,
tência de 10 e depois somar os termos dígitos. Exem-
o número 9,46 multiplicado duas vezes por 10. Sempre plo:
que o número for maior que 1, o expoente será positi-
vo na notação científica. (7,125 x 10-3) + (4,512 x 10-2) =
De forma contrária, os números menores que 1 são (0,7125 x 10-2) + (4,512 x 10-2) =
divididos por 10 sucessivas vezes até se obter o mo- 5,2245 x 10-2
delo N x 10n. Sendo assim, o número 0,036 escrito em
notação científica seria 3,6 x 10-2, ou seja, o número Multiplicação
3,6 foi dividido duas vezes por 10 para chegar a 0,036.
Nos números menores que 1, o expoente na notação Nessa operação, os termos dígitos são multiplica-
científica sempre será negativo.Uma maneira fácil de dos normalmente e os expoentes são somados. O re-
converter qualquer número em notação científica é sultado do cálculo deve sempre ser colocado de vota
contar o número de casas decimais deslocadas até dentro das regras da notação científica. Veja:
obter apenas 1 dígito antes da vírgula e usar esse va-
lor como expoente. Veja alguns exemplos: (6 x 105) . (3 x 10-2) =
54321 = 5,4321 x 104 (6,0).(3,0) x 105+ (-2) =
(O expoente é 4 porque a vírgula foi deslocada 4 18 x 103 =
posições para a esquerda) 1,8 x 104
Potenciação
Módulo: representa o valor numérico ou a intensi-
dade da grandeza;
O termo dígito deve ser elevado à potência nor-
malmente, e o expoente de 10 deve ser multiplicado
Direção: É determinada pela reta suporte que
pela potência da expressão.
sustenta o vetor
(5,26 x 103)2 = Sentido: determinam a orientação da grandeza.
5,262 x 10(3 x 2)= Abaixo temos a representação de uma grandeza
27,6 x 106 = vetorial qualquer e as suas características, veja:
2,76 x 107
Radiciação
Grandezas
Grandezas físicas são aquelas grandezas que po- Existem duas maneiras de representação do mó-
dem ser medidas, ou seja, que descrevem qualitativa- dulo de um vetor. Uma delas consiste em ter apenas
mente e quantitativamente as relações entre as pro- a letra que representa o vetor, sem a seta em cima
priedades observadas no estudo dos fenômenos físicos. dele. A outra forma consiste na letra que representa
Em Física, elas podem ser vetoriais ou escalares, o vetor, juntamente com a seta sobre ele, e entre os
como, por exemplo, o tempo, a massa de um cor- sinais matemáticos que representam o módulo.
po, comprimento, velocidade, aceleração, força, e
muitas outras. Grandeza escalar é aquela que pre-
cisa somente de um valor numérico e uma unidade
para determinar uma grandeza física, um exemplo
é a massa de um corpo. Grandezas como massa, Referências
comprimento e tempo são exemplos de grandeza
escalar. Já as grandezas vetoriais necessitam, para
KOTZ, John, TREICHEL, Paul, WEAVER, Gabriela.
sua perfeita caracterização, de uma representação
Química Geral e Reações Químicas. São Paulo: Cen-
mais precisa. Assim sendo, elas necessitam, além do
gage Learning, 2009.
valor numérico, que mostra a intensidade, de uma
CALÇADA, Sérgio Caio, SAMPAIO, José Luiz. Física
representação espacial que determine a direção e o
volume único. Atual: São Paulo, 2005.
sentido. Aceleração, velocidade e força são exem-
Cardoso, Mayara Lopes
plos de grandezas vetoriais.
Grandezas Escalares e Vetoriais lados, por exemplo). Dizer que um objeto está a 200
metros é necessário, porém não é suficiente. A dis-
A
Física é lida com um amplo conjunto de tância (200 metros) é o que denominamos, em Física,
grandezas. Dentro dessa gama enorme de módulo da grandeza. Para localizar o objeto, é pre-
grandezas existem algumas, cuja caracte- ciso especificar também a direção e o sentido em
rização completa requer tão somente um número que ele se encontra. Isto é, para encontrar alguém a
seguido de uma unidade de medida. Tais grandezas 200 metros, precisamos abrir os dois braços indicando
são chamadas grandezas escalares. Exemplos des- a direção e depois fechar um deles especificando o
sas grandezas são a massa e a temperatura. Uma vez sentido. Na vida cotidiana, fazemos os dois passos ao
especificado que a massa é 1kg ou a temperatura é mesmo tempo, economizando abrir os dois braços.
Resumindo: Uma grandeza vetorial é tal que sua
32ºC, não precisamos de mais nada para caracteri-
caracterização completa requer um conjunto de três
zá-las.
atributos: o módulo, a direção e o sentido.
Existem outras grandezas que requerem três atri-
butos para a sua completa especificação como, por
Direção: é aquilo que existe de comum num feixe
exemplo, a posição de um objeto. Não basta dizer de retas paralelas.
que o objeto está a 200 metros. Se você disser que
está a 200 metros existem muitas possíveis localiza- Sentido: podemos percorrer uma direção em dois
ções desse objeto (para cima, para baixo, para os sentidos.
sentido
modo a que os fios de ligação ficassem paralelos à mente o que ocorreu na adição de um peso de 0,5N
mesa, mas que não a tocassem, evitando assim for- ao conjunto de massa m no experimento acima. Um
ças de atrito indesejáveis. Batendo com o dedo le- vetor força peso de módulo 0,5N, de mesmo sentido
vemente sobre a mesa e sobre a capa de proteção e direção que o vetor peso anterior de 1,154N foi a
do dinamômetro, tensões foram aliviadas enquanto ele somado. Graficamente, isso pode ser representa-
movia-se o conjunto do dinamômetro, mantendo o do conforme observado na Figura 5.
anel centrado no meio da mesa. Ver novamente a
Figura 3.
Criou-se, assim, um sistema de duas forças de
mesma direção, mesmo módulo e sentidos opos-
tos, que equilibraram o conjunto de massa m numa
ponta. Uma das forças é a força peso exercida pelo
conjunto de massa, e a outra força é exercida pelo
dinamômetro. Fazendo a leitura do dinamômetro,
obteve-se o valor: Fe = 1,18 N
Este valor é muito próximo da força F1 anterior-
mente medida do conjunto de massa, que foi de
1,154N. Imprecisões do dinamômetro e influência de
forças de atrito e inércia rotacional da roldana e fio
resultam na diferença encontrada, uma vez que a Figura 5: Soma e subtração de vetores força.
teoria prevê valores idênticos. Entretanto, o fato de
que o sistema não se movimenta indica a existência Em I, os vetores F1 e F2 são somados, posicionan-
do equilíbrio, independente dos valores lidos no di- do-se a origem do vetor F2 coincidente com a extre-
namômetro. Veja Figura 4 para uma ilustração das midade do vetor F1. O vetor resultante então é traça-
do da origem de F1 à extremidade de F2, conforme
forças atuantes.
as regras geométricas da somatória vetorial. Na sub-
tração, em II, F2 é subtraído de F1, posicionando-se
pois a origem de F2 na extremidade de F1 e traçan-
do-se então o vetor resultante da origem de F1 à ex- 5
tremidade de F2. Observar que F2 em II é o mesmo
vetor F2 em I, porém de sentido oposto. A resultante é
portanto menor. Tomando-se F1 e F2 de mesmo mó-
dulo, no segundo exemplo, é óbvio que a resultante
seria zero, conforme demonstrou-se no experimento.
Figura 4: Forças em equilíbrio.
Composição de Forças Ortogonais
Se o sistema está em equilíbrio e não apresenta
movimento, conclui-se que nenhuma força resul-
Procedimento e Discussão
tante deverá estar agindo sobre ele. Assim, a força
equilibrante Fe anula completamente a força peso F1. Tomou-se dois conjuntos de massa com pesos F1
Acrescentando outra massa de peso 0,5N ao conjun- e F2, medidos com o dinamômetro, conforme abaixo:
to de massa m, novamente movimentou-se o dina- F1 = 0,66N
mômetro de modo a posicionar o anel no centro da F2 = 0,66N
mesa de forças. Fez-se nova leitura então do dina-
mômetro, que representa a força equilibrante Fe. Montou-se esses pesos na mesa de forças confor-
Fe = 1,68 N me a Figura 6.
Conclui-se que esse peso de 0,5N foi somado em
módulo à força Fe, que apresentou um aumento de
precisos 0,5N. É lícito então afirmar que duas forças
colineares de sentidos opostos se subtraem. No ex-
perimento acima, como os módulos eram idênticos,
o resultado foi um vetor zero. Da mesma maneira, é
possível afirmar que o vetor força resultante de duas
ou mais forças colineares de mesmos sentidos é a so- Figura 6: Vista superior.
matória dos módulos de cada vetor força. É precisa-
O dinamômetro foi movimentado até que o anel a mesma origem). Este menor ângulo é o suplemento
ficasse centrado no pino da mesa de forças. Inicial- do maior ângulo formado se se posicionar a origem
mente escolheu-se um ângulo qualquer entre F1 e F2 de um vetor na extremidade de outro. Como cos(180-
e fez-se uma leitura no dinamômetro. À medida em -a ) = -cos(a ), o sinal do termo 2F1F2cosa é positivo,
que o ângulo entre estas forças foi sendo ajustado ao invés do esperado negativo da Lei dos Cossenos.
de modo a aumentar, percebeu-se que o dinamô- Ver Figura 8.
metro tendia a indicar forças menores. Chegou-se a
um ângulo de 180o entre as forças, e o dinamômetro
indicou zero. Isso é consistente com a regra de soma
vetorial. Vejamos a Figura 7.
um vetor, é necessário saber que: o componente de ria de sentido tentar medir uma quantidade de uma
um vetor, segundo uma direção, é a projeção (orto- grandeza com uma unidade de outra grandeza. Nin-
gonal) do vetor naquela direção ao determinarmos guém, mesmo que esteja louco, pretenderá medir a
as componentes retangulares de um vetor v, encon- extensão de um terreno em quilogramas, ou o com-
tramos dois vetores, que em conjunto podem substi- primento de uma rua em litros. A Física não trabalha
tuir o vetor v. com números abstratos. O fundamental é medir e o
resultado da medição é um número e o nome da
Vetor Velocidade e Vetor Aceleração unidade que se empregou. Assim, pois, cada quanti-
dade fica expressa por uma parte numérica e outra
Vetor velocidade – Conforme esclarece o autor, literal. Exemplos: 10 km; 30 km/h; 8h. Opera-se com as
“a direção de v é tangente à trajetória no ponto que unidades como se fossem números; assim:
a partícula ocupa no instante considerado e o seu
ponto que a partícula ocupa no instante considera-
do e o seu sentido é o sentido do movimento da par-
tícula naquele instante”.
Aceleração centrípeta – É necessário que sua A Grandeza Tempo
velocidade permaneça constante, sendo um vetor
perpendicular à velocidade e dirigida para o centro Feche seus olhos por alguns instantes. Abra-os,
da trajetória, também sendo chamada de acelera- então, enquanto conta “um, dois, três”. Feche-os no-
ção normal. vamente. O que você notou enquanto seus olhos es-
Aceleração tangencial – É aquela onde possui tavam abertos ? Se você estiver numa sala comum,
vetores na mesma direção de v (tangente a trajetó- pouca coisa terá acontecido. Nada pareceu sofrer
ria), se caracterizando pela variação do módulo de modificação. Mas se você tivesse estado sentado
v. durante algumas horas, mantendo os olhos abertos,
Podemos concluir que: sempre que variar a dire- veria pessoas indo e vindo, movendo cadeiras, abrin-
ção do vetor velocidade de um corpo, este corpo do janelas. O que aconteceu na sala parece depen-
possuirá aceleração centrípeta. Sempre que variar o der do intervalo de tempo durante o qual você ob-
módulo do vetor velocidade de um corpo possuirá serva. Olhe durante um ano, e a planta em seu vaso
8 uma aceleração tangencial. há de crescer, florir e murchar. As medidas de tempo
As Ciências chamadas Exatas (a Física, a Quími- às quais nos referimos nesses exemplos dizem respei-
ca, a Astronomia, etc.) baseiam-se na “medição”, to à duração de um acontecimento e são indicadas
sendo esta sua característica fundamental. Em outras por um “intervalo de tempo”. Entretanto, também
Ciências, ao contrário, o principal é a descrição e a usamos medidas de tempo para definirmos quando
classificação. Assim, a Zoologia descreve e classifica se deu tal acontecimento e, nesse caso, estamos in-
os animais, estabelecendo categorias de separação dicando um “instante de tempo”.
Para medirmos intervalos de tempo podemos
entre os seres vivos existentes. Todos temos uma certa
usar apenas um cronômetro - ele é destravado, par-
noção do que é medir e o que é uma medida.
te do zero, e mede a extensão de um intervalo de
O dono de uma quitanda não pode realizar seus
tempo. Por outro lado, para medirmos instantes de
negócios se não mede; com uma balança mede a
tempo podem ser medidas com as mesmas unidades
quantidade de farinha ou de feijão pedida. Um lo-
e entre elas as mais comumente usadas são a hora, o
jista, com o metro, mede a quantidade de fazenda
minuto e o segundo. As relações entre estas três uni-
que lhe solicitaram. Em uma fábrica mede-se com o
dades são muito conhecidas, mas vamos mencioná-
relógio o tempo que os operários trabalham. Há di-
-las aqui:
ferentes coisas que podem ser medidas; o dono da
1 h = 60 min
quitanda mede “pesos”, o lojista “comprimentos”, a
1 min = 60 s
fábrica “tempos”. Também podem ser medidos volu-
1 h = 3600 s
mes, áreas, temperaturas, etc. Tudo aquilo que pode
ser medido chama-se “grandeza”, assim, o peso, o As Grandezas Comprimento, Área e Volume
comprimento, o tempo, o volume, a área, a tempe-
ratura, são “grandezas”. Ao contrário, visto que não Comprimento
podem ser medidas, não são grandezas a Verdade
ou a Alegria. A unidade de comprimento é o metro (m), o qual
Medir é comprar uma quantidade de uma gran- pode ser dividido em 100 centímetros (cm) ou 1000
deza qualquer com outra quantidade da mesma milímetros (mm). O múltiplo do metro mais usado é o
grandeza que se escolhe como “unidade”. Carece- quilômetro (km), que vale 1000 m.
a força com que a Terra atrai o quilograma-padrão sobre um corpo, muitas vezes temos necessidade de
(isto é, o seu peso) ao nível do mar e a 45º de latitude. substituí-las por uma força única, capaz de produzir o
O Kgf não é a unidade de força do SI, a unidade mesmo efeito que elas, em conjunto, produzem. Esta
de força nesse sistema é denominada 1newton = 1N, força única é denominada resultante das forças con-
em homenagem a Issac Newton. A relação entre es- sideradas.
sas duas unidades é: 1Kgf = 9,8N
Portanto, a força de 1N é aproximadamente As forças têm a mesma direção e o mesmo sen-
igual a 0,1Kgf (praticamente igual à força que a Terra tido
exerce sobre um pacote de 100g).
Esta é a situação mostrada na figura 1. Neste
Inércia caso, a experiência mostra que a resultante R, do sis-
tema, tem a mesma direção e o mesmo sentido das
Várias experiências do nosso cotidiano compro- componentes (F e S) e seu módulo é dado por R = F +
vam as afirmações de Galileu. Assim, temos: S (soma dos módulo das componentes).
- se um corpo está em repouso, ele tende a conti-
nuar em repouso. Se uma pessoa estiver em repouso
sobre um cavalo, e este partir repentinamente, ela
tende a permanecer onde estava.
- se um corpo está em movimento, ele tende a
continuar em movimento retilíneo uniforme. As forças têm a mesma direção e sentidos con-
trários
O garoto em movimento, junto com o skate,
continua a se mover quando o skate pára repenti- Neste caso, a resultante R tem a mesma direção
namente. Esses exemplos, e vários outros que nós já das componentes (F e S), mas seu sentido é aquele
devemos ter observado, mostram que os corpos têm da força de maior módulo. O módulo de R é dado
a tendência de permanecer como estão: continuar por R = F – S (diferença entre os módulos das compo-
em repouso, quando estão em repouso, e continuar nentes).
10 em movimento, quando estão se movendo. Esta pro-
priedade dos corpos de se comportarem dessa ma-
neira é denominada inércia. Então:
- por inércia, um corpo em repouso tende a ficar
em repouso
- por inércia, um corpo em movimento tende a
As forças não têm a mesma direção
ficar em movimento
Suponha que duas forças, F e S, de direções dife-
Vários anos mais tarde, após Galileu ter estabele- rentes, estejam atuando sobre uma pequena esfera,
cido o conceito de inércia, Issac Newton, ao formular formando entre elas um certo ângulo, como mostra
as leis básicas da mecânica, conhecidas como “as a figura 3. Realizando experiências cuidadosas, os fí-
três leis de Newton”, concordou com as conclusões sicos chegaram à conclusão de que a resultante R
de Galileu e usou-as no enuciado de sua primeira lei: destas forças deve ser determinada da seguinte ma-
“Na ausência de forças, um corpo em repouso neira, conhecida como a regra do paralelogramo:
continua em repouso, e um corpo em movimento da extremidade da força F traça-se uma paralela à
continua em movimento em linha reta e com veloci- força S e, da extremidade da força S, traça-se uma
dade constante.” paralela à força F. Assim, estará construindo um para-
Logo, tanto Galileu quanto Newton perceberam lelogramo, que tem F e S como lados. A resultante é
que um corpo pode estar em movimento sem que dada, em módulo, direção e sentido, pela diagonal
nenhuma força atue sobre ele. Observe que, quando do paralelogramo, que tem sua origem no ponto de
isto ocorre, o movimento é retilíneo uniforme. aplicação das duas forças, como mostra a figura.
Resultante de duas Forças
Considere a situação mostrada na figura 1, na
qual duas pessoas exercem sobre um bloco as forças
F e S mostradas. Quando duas ou mais forças atuam
a) 2 = 100
b) 69= 102
c) 0,3= 10-1
d) 0,7= 100
e) 3 x 10-4= 10-4
f) 4 x 103 =104
g) 8 x 105 = 106
h) 9 x 107 = 108
Forças em equilíbrio Exemplo 3 – Qual a ordem de grandeza do núme-
ro de segundos existentes em um século.
Na figura mostramos uma esfera de peso P sendo solução: 1 hora = 60 x 60 = 3600 s
sustentada por uma pessoa que exerce sobre a esfe- 1 dia = 24 x 3600 = 86.400 = 8,64 x 104 s
ra uma força F. Suponha que o módulo de F seja tal 1 ano = 365 x 8,64 x 104 = 3,1436 x 107 s
que F = P. Temos assim, atuando sobre a esfera, duas 1 século = 100 x 3,1536 x 107 = 109 s
forças de mesmo módulo, mesma direção e senti-
Obs: A razão do uso de (10)1/2 para acrescentar
dos contrários. Pelo que vimos anteriormente, é claro
ou não uma unidade ao expoente decorre do fato
que a resultante das forças que atuam na esfera é
de se ter uma operação exponencial. O valor médio,
nula, isto é, R = 0. Esta situação é, então, equivalente
que é diferente da média aritmética ao se passar de
àquela em que nenhuma força atua sobre a esfera.
um expoente 100para outro 101, é 101/2 = 3,16...
Podemos, pois, concluir, pela primeira lei de Newton,
que a esfera estará em repouso ou em movimento Algarismos Significativos e Erros
retilíneo uniforme. Quando isto ocorre, dizemos que a
esfera está em equilíbrio. Quando realizamos uma medida precisamos es-
tabelecer a confiança que o valor encontrado para
a medida representa. Medir é um ato de comparar e
esta comparação envolve erros dos instrumentos, do
operador, do processo de medida e outros. Podemos
ter erros sistemáticos que ocorrem quando há falhas
11
no método empregado, defeito dos instrumentos,
etc... e erros acidentais que ocorrem quando há im-
perícia do operador, erro de leitura em uma escala,
A ordem de grandeza de um número é a potên- erro que se comete na avaliação da menor divisão
cia de dez mais próxima deste número. Ordem de da escala utilizada etc...
grandeza é uma forma de avaliação rápida, do in- Em qualquer situação deve-se adotar um valor
tervalo de valores em que o resultado deverá ser es- que melhor represente a grandeza e uma margem
perado. Para se determinar com facilidade a ordem de erro dentro da qual deve estar compreendido o
de grandeza, deve-se escrever o número em nota- valor real. Vamos aprender como determinar esse
ção científica (isto é, na forma de produto N.10n) e valor e o seu respectivo desvio ou erro.
verificar se N é maior ou menor que (10)1/2.
Valor Médio - Desvio Médio
a) se N > 3,16 , a ordem de grandeza do número
é 10n+1. Quando você realiza uma medida e vai estimar
b) se N < 3,16, a ordem de grandeza do número o valor situado entre as duas menores divisões do seu
aparelho de medida, você pode obter diferentes va-
é 10n.
lores para uma mesma medida. Como exemplo, va-
mos medir o espaço (S) percorrido pelo PUCK utilizan-
onde (10)1/2 = 3,16
do uma régua milimetrada (a menor divisão é 1 mm).
Exemplo 1 - Se formos medir a massa de um ho-
mem, é razoável esperarmos que a massa se encon-
tre mais próximo de 100 (102) kg do que de 10 (101) kg
ou 1000 (103) kg.
Você observa que o valor de S ficou situado en- Erro ou Desvio Relativo
tre 5,80 e 5,90. Vamos supor que mentalmente você
tenha dividido esse intervalo em 10 partes iguais e fez Vamos supor que você tenha medido o espaço
cinco medidas obtendo os valores de S apresenta- compreendido entre dois pontos igual a 49,0 cm, sen-
dos na tabela 1. do que o valor verdadeiro era igual a 50,00 cm. Com
N SN (cm) (S) (cm) a mesma régua você mediu o espaço entre dois
pontos igual a 9,00 cm, sendo que o valor verdadeiro
1 5,82 0,01
era igual a 10,00 cm. Os erros absolutos cometidos
2 5,83 0,00 nas duas medidas foram iguais:
3 5,85 0,02 absoluto 1
S= | 50,00 - 49,00 | = 1,00 cm
4 5,81 0,02 absoluto 2
S = | 10,00 - 9,00 | = 1,00 cm
Vamos provar para dois desvios que por indução fica provado para n desvios.
Considerando as medidas S1 ± S1 e S2 ± S2, fazemos a soma:
S1 ± S1 + S2 ± S2 = (S1 +S2 ) ± ( S1 + S2 )
Multiplicação e Divisão
Algarismos Significativos
Quando você realizou as medidas com a régua milimetrada do espaço S, você colocou duas casas
decimais. é correto o que você fez? Sim, porque você considerou os algarismos significativos. O que são os
algarismos significativos? Quando você mediu o valor de S = 5,81 cm com a régua milimetrada você teve
certeza sobre os algarismos 5 e 8, que são os algarismos corretos (divisões inteiras da régua), sendo o algaris-
mo 1 avaliado denominado duvidoso. Consideramos algarismos significativos de uma medida os algarismos
corretos mais o primeiro duvidoso. 13
5,81 5,8 1
Sempre que apresentamos o resultado de uma medida, este será representado pelos algarismos signifi-
cativos. Veja que as duas medidas 5,81cm e 5,83m não são fundamentalmente diferentes, porque diferem
apenas no algarismo duvidoso.
Observação: Para as medidas de espaço obtidas a partir da trajetória do PUCK serão considerados ape-
nas os algarismos corretos: não há necessidade de considerar o algarismo duvidoso já que não estamos
calculando os desvios. Os zeros à esquerda não são considerados algarismos significativos com no exemplo:
0,000123 contém apenas três algarismos significativos.
Há regras para operar com algarismos significativos. Se estas regras não forem obedecidas você pode
obter resultados que podem conter algarismos que não são significativos.
Adição e Subtração
Vamos supor que você queira fazer a seguinte adição: 250,657 + 0,0648 + 53,6 =
Para tal veja qual parcela apresenta o menor nú- A mecânica clássica é composta pelo conjunto
mero de algarismos significativos. No caso 53,6 que de duas disciplinas, a cinemática, que compreende
apresenta apenas uma casa decimal. Esta parcela ao estudo puramente descritivo do movimento, sem
será mantida e as demais serão aproximadas para consideração das suas causas e a dinâmica, que es-
uma casa decimal. Você tem que observar as regras tuda a conexão do movimento com suas causas. O
de arredondamento que resumidamente são: Ao conjunto de disciplinas que abarca a mecânica con-
abandonarmos algarismos em um número, o último vencional é muito amplo e é possível agrupá-las em
algarismo mantido será acrescido de uma unidade quatro blocos principais:
se o primeiro algarismo abandonado for superior a 5;
quando o primeiro algarismo abandonado for infe-
Mecânica clássica Mecânica quântica
rior a 5, o último algarismo permanece invariável, e
quando o primeiro algarismo abandonado for exa- Mecânica Teoria quântica de
tamente igual a 5, é indiferente acrescentar ou não relativistica campos
uma unidade ao último algarismo mantido.
Veremos a explanação do assunto nos próximos
No nosso exemplo teremos as seguinte aproxima- tópicos.
ções:
250,657 250,6 CINEMÁTICA ESCALAR: CONCEITOS E
0,0648 0,1 PROPRIEDADES DA CINEMÁTICA, MOVIMENTO
E REPOUSO, REFERENCIAIS INERCIAIS E NÃO
Adicionando os números aproximados, teremos: INERCIAIS, PONTO MATERIAL, TRAJETÓRIA,
250,6 + 0,1 + 53,6 = 304,3 cm MOVIMENTOS RETILÍNEOS UNIFORME E
Na subtração, você faz o mesmo procedimento. UNIFORMEMENTE VARIADO, MOVIMENTO
VERTICAL E QUEDA LIVRE DOS CORPOS.
Multiplicação e Divisão
Conceito de Partícula
Vamos multiplicar 6,78 por 3,5 normalmente:
6,78 x 3,5 = 23,73
Em física, o termo partícula é utilizado para de-
14 signar elementos muito pequenos (a própria palavra
Aparece no produto algarismos que não são sig-
nificativos. A seguinte regra é adotada: deriva do latim particula que significa parte muito
Verificar qual o fator que apresenta o menor nú- pequena, corpo muito diminuto ou corpúsculo). Ge-
mero de algarismos significativos e apresentar no re- ralmente quando se fala de partícula está-se a falar
sultado apenas a quantidade de algarismo igual a de partículas subatômicas, isto é, partículas menores
deste fator, observando as regras de arredondamen- do que um átomo. Ao estudo das partículas é dada
to. a designação de física de partículas.
6,78 x 3,5 = 23,7
Cinemática Escalar e Vetorial da Partícula
Para a divisão o procedimento é análogo.
Sabemos que o universo e tudo o que ele con-
Observação: As regras para operar com algaris- tém está em movimento. Logo cedo aprendemos
mos significativos não são rígidas. Poderia ser manti- que a Terra está em movimento em torno de seu eixo
do perfeitamente um algarismo a mais no produto. (rotação) e também em movimento ao redor do Sol
Os dois resultados são aceitáveis: 6,78 x 3,5 = 23,73 ou
(translação). O Sol por sua vez está em movimento
6,78 x 3,5 = 23,7.
de translação em relação ao centro da Via-Láctea
e nossa galáxia também se desloca em relação às
Mecânica
outras galáxias. Deixando o macrocosmo à parte, o
É o ramo da física que compreende o estudo e nosso dia-a-dia também é marcado pelos movimen-
análise do movimento e repouso dos corpos, e sua tos e sua observação. Pássaros voando no céu, car-
evolução no tempo, seus deslocamentos, sob a ros trafegando, ventiladores girando, enfim, vivemos
ação de forças, e seus efeitos subsequentes sobre num mundo em movimento. Mas qual a diferença
seu ambiente. A disciplina tem suas raízes em diversas entre potente de um jogador de futebol numa bola
civilizações antigas. Durante a Idade Moderna, e o lançamento de uma bala de canhão? Como po-
cienistas tais como Galileu, Kepler, e especialmente deríamos comparar o corredor jamaicano Usain Bolt
Newton, lançaram as bases para o que é conhecido numa prova de 100m com a velocidade de um carro
como mecânica clássica. de Fórmula 1?
Chamamos de Mecânica o ramo da Física que Perceba que nesse caso citado, a questão de
estuda os movimentos. Dentro da Mecânica, a res- você estar ou não em movimento depende do re-
ponsável pela classificação e comparação dos mo- ferencial adotado. Poderíamos utilizar o exemplo de
vimentos é a Cinemática. A Cinemática é a parte da um carro em movimento na estrada. O motorista nes-
Mecânica que estuda os movimentos sem levar em se caso está em movimento em relação a uma árvo-
consideração as suas causas. Essa parte da Física se re à beira da estrada, mas continua em repouso em
preocupa apenas com a descrição do movimento e relação ao carro já que acompanha o movimento
a determinação da posição, velocidade e acelera- do veículo. Nesse caso, podemos dizer também que
ção de um móvel num determinado instante. a árvore está em movimento em relação ao motoris-
ta e em repouso em relação à estrada. Isso nos leva a
Ponto Material: Um móvel pode ser uma partícu- propriedade simétrica: Se A está em movimento em
la, puntiforme como o elétron, ou um corpo que se relação a B, então B está em movimento em relação
move como uma partícula, isto é, todos os pontos se a A. E Se A está em repouso em relação a B, então B
deslocando na mesma direção e com a mesma velo- está em repouso em relação a A.
cidade. Um bloco deslizando sobre um escorregador Se a distância entre dois corpos for a mesma no
de playground pode ser tratado como uma partícu- decorrer do tempo, você pode dizer que um está pa-
la. Já um cata-vento em rotação não pode ter esse rado em relação ao outro? A resposta é não. Se na
mesmo tratamento na medida em os pontos de sua ponta de um barbante for amarrada uma pedra e
borda seguem em direções diferentes. Durante nosso alguém pegar a outra ponta do barbante e passar
estudo, trabalharemos com um móvel denominado a girar fazendo um movimento circular com a pe-
ponto material. Um ponto material é um corpo cujas dra, as posições sucessivas da pedra no espaço irão
dimensões são desprezíveis em relação às dimensões mudar em relação a outra ponta do barbante, mas
envolvidas no fenômeno em estudo. Por exemplo, o a distância continuará a mesma. Note então que o
tamanho da Terra em relação a sua órbita ao redor conceito de movimento implica em variação de po-
do Sol pode ser desprezado ao estudarmos seu movi- sição e não de distância. Um ponto material está em
mento de translação. Nesse caso, a Terra seria consi- movimento em relação a um certo referencial se a
sua posição no decorrer do tempo variar em relação
derada um ponto material. Um trem em uma ferrovia
a esse referencial.
pode ser considerado um ponto material. No entan- 15
to, o mesmo trem atravessando uma ponte cujo ta-
manho é semelhante ao do trem é considerado um
corpo extenso e não um ponto material. Isso porque
nesse caso o tamanho do trem não é desprezível em
relação ao tamanho da ponte. Porém, é importan-
te ressaltar que, apesar de o tamanho desses corpos
poder ser desprezado, o mesmo não deve ser feito
com suas massas.
Um ponto material está em repouso em relação
a um certo referencial se a sua posição não variar
Referencial: É impossível afirmarmos se um ponto
no decorrer do tempo em relação a esse referencial.
material está em movimento ou em repouso sem an-
tes adotarmos um outro corpo qualquer como refe-
rencial. Dessa forma, um ponto material estará em
movimento em relação a um dado referencial se
sua posição em relação a ele for variável. Da mesma
forma, se o ponto material permanecer com sua po-
sição inalterada em relação a um determinado refe-
rencial, então estará em repouso em relação a ele.
Tomemos como exemplo o caso de um elevador. Se
você entrar em um elevador no andar térreo de um Trajetória:Os rastros na neve deixados por um
edifício e subir até o décimo andar, durante o tempo esquiador mostram o caminho percorrido por ele
em que o elevador se deslocar você estará em movi- durante a descida de uma montanha. Se conside-
mento em relação ao edifício ao mesmo tempo em rarmos o esquiador como sendo um ponto material,
seu corpo estará em repouso em relação ao eleva- podemos dizer que a curva traçada na neve unindo
dor, pois entre o térreo e décimo andar sua posição suas sucessivas posições em relação a um dado refe-
será a mesma em relação a ele. rencial, recebe o nome de trajetória. O trilho de um
trem é um exemplo claro de trajetória. A bola chu- Podemos concluir que, “o movimento de um cor-
tada por um jogador de futebol ao bater uma falta po, visto por um observador, depende do referencial
pode seguir trajetórias diferentes, dependendo da no qual o observador está situado”. Para que o mo-
maneira que é chutada, às vezes indo reta no meio vimento seja relativo, é necessário apenas saber qual
do gol, outras vezes sendo colocadinha no ângulo é o ponto de referência, isto é, se afirmarmos que o
através de uma curva. sol gira em torno da terra, teremos que ter como re-
Repare que a trajetória de um ponto material ferencial a terra, caso contrário, se o referencial for o
também depende de um referencial. Isso quer dizer sol, o correto é afirmar que a terra gira em torno do
que um ponto material pode traçar uma trajetória sol. Tudo depende de onde o observador se localiza.
reta e outra curva ao mesmo tempo? Sim. Veja o
caso de uma caixa com ajuda humanitária sendo Movimento Retilíneo Uniforme
lançada de um avião (geralmente esse exemplo é
dado com bombas, mas somos pacíficos por aqui). Quando a velocidade permanece a mesma, isto
Para quem estiver no chão, olhando de longe, a tra- é, constante ao longo de uma trajetória podemos
jetória da caixa será um arco de parábola. Já para considerá-la como retilíneo uniforme. Podemos repre-
quem estiver dentro do avião, a trajetória será uma sentar a fórmula como sendo:
reta, isso porque o avião segue acompanhando a , onde: d é a distância percorrida
caixa. Na verdade, você irá entender isso melhor v é a velocidade (constante)
quando já tiver em mente o conceito de inércia, mas t é o tempo gasto para percorrer a distância d.
por hora, fique tranquilo com o que foi demonstrado
até o momento. Essa fórmula pode ser aplicada também para
uma trajetória não retilínea, porém só é válida se a ve-
locidade do móvel em questão for constante durante
toda a trajetória. Podemos considerar uma veloci-
dade como sendo negativa quando considerarmos
um automóvel chegando em seu ponto de partida,
pois quando o mesmo se afasta da chegada consi-
deramos como sendo velocidade positiva. Podemos
16 então concluir segundo o autor que, “no movimento
com velocidade constante, a distância percorrida, d,
Movimento Retilineo e Curvilineo Plano, Uniforme é diretamente proporcional ao tempo t. O gráfico d X
e Uniformemente Variado t será uma reta, que passa pela origem, cuja inclina-
ção é igual ao valor da velocidade v”.
Movimentos Retilíneos
Velocidade Instantânea e Média
Quando não nos preocupamos com as causas a
partir do movimentos, podemos chamar este fato de Para se considerar uma velocidade como instan-
Cinemática, como por exemplo um carro em uma tânea, devemos considerar que um corpo esteja em
estrada reta, com velocidade de 100 Km/h, onde em movimento acelerado, isto é, o mesmo não mantém
determinado percurso vai para 120 Km/h, ultrapas- sua velocidade constante. Segundo o autor o melhor
sando um caminhão, onde não nos preocupamos exemplo que se pode ter é o velocímetro de um car-
em saber as causas de tais mudanças. Qualquer que ro, onde o valor indicado é a velocidade instantânea
seja o movimento de um corpo, podemos considerá- do automóvel naquele momento. Para se calcular a
-lo como uma partícula, onde a mesma é denomi- velocidade instantânea deve-se usar a fórmula dada
nada devido as suas dimensões serem menores do por , sendo Δt o menor possível. Para o autor “a incli-
que as outras que participam dos fenômenos. Pode- nação da tangente, no gráfico d X t nos fornece o va-
mos considerar o movimento como sendo relativo, lor da velocidade instantânea”, conforme o gráfico
de acordo com o ângulo com que podemos ver os .
acontecimentos. Como exemplo do autor, conside-
rando um avião voando, onde o mesmo solta uma
bomba. Se observarmos a queda da bomba de den-
tro do avião, você verá que ela cai ao longo de uma
reta vertical. Porém se observarmos a queda da bom-
ba parado sobre a superfície da terra, verificaremos
que ela cai numa trajetória curva.
a = aceleração
Δv= variação da velocidade
Δt = intervalo do tempo decorrido
Vetores
Componentes ortogonais de um vetor – A com-
ponente de um vetor, segundo uma dada direção,
Para representar as grandezas vetoriais, são uti-
é a projeção ortogonal (perpendicular) do vetor na-
lizados os vetores: entes matemáticos abstratos ca-
racterizados por um módulo, por uma direção e por quela direção. Decompondo-se um vetor , encon-
um sentido. Representação de um vetor – Grafica- tramos suas componentes retangulares, x e y, que
mente, um vetor é representado por um segmento
conjuntamente podem substituí-lo, ou seja, = + .
orientado de reta: x y
O deslocamento vetorial pode ser representado Quando falamos em módulo de Vm, temos:
por d, esse deslocamento é definido entre dois instan-
tes t1 e t2, sendo o vetor P1 e P2, o vetor de origem P1 e
extremidade P2. Vejamos:
Orientação de Vm
Movimentos Circulares
Na Mecânica clássica, movimento circular é aquele em que o objeto ou ponto material se desloca numa
trajetória circular. Uma força centrípeta muda de direção o vetor velocidade, sendo continuamente apli-
cada para o centro do círculo. Esta força é responsável pela chamada aceleração centrípeta, orientada
para o centro da circunferência-trajetória. Pode haver ainda uma aceleração tangencial, que obviamente
deve ser compensada por um incremento na intensidade da aceleração centrípeta a fim de que não deixe
de ser circular a trajetória. O movimento circular classifica-se, de acordo com a ausência ou a presença de
aceleração tangencial, em movimento circular uniforme (MCU) e movimento circular uniformemente varia-
do (MCUV).
Propriedades e Equações
Movimento da Circunferência
22 Uma vez que é preciso analisarmos propriedades angulares mais do que as lineares, no movimento circu-
lar são introduzidas propriedades angulares como o deslocamento angular, a velocidade angular e a ace-
leração angular e centrípeta. No caso do MCU existe ainda o período, que é propriedade também utilizada
no estudo dos movimentos periódicos. O deslocamento angular (indicado por ) se define de modo similar
ao deslocamento linear. Porém, ao invés de considerarmos um vetor deslocamento, consideramos um ân-
gulo de deslocamento. Há um ângulo de referência, adotado de acordo como problema. O deslocamento
angular não precisa se limitar a uma medida de circunferência ( ); para quantificar as outras proprieda-
des do movimento circular, será preciso muitas vezes um dado sobre o deslocamento completo do móvel,
independentemente de quantas vezes ele deu voltas em uma circunferência. Se for expresso em radianos,
temos a relação , onde R é o raio da circunferência e s é o deslocamento linear.
Pegue-se a velocidade angular (indicada por ), por exemplo, que é a derivada do deslocamento an-
gular pelo intervalo de tempo que dura esse deslocamento:
A unidade é o radiano por segundo. Novamente há uma relação entre propriedades lineares e angula-
res: , onde é a velocidade linear.
Por fim a aceleração angular (indicada por ), somente no MCUV, é definida como a derivada da velo-
cidade angular pelo intervalo tempo em que a velocidade varia:
Lançamento Oblíquo
Lançamento Horizontal
O lançamento balístico é um exemplo típico de composição de dois movimentos. Galileu notou esta par-
ticularidade do movimento balístico. Esta verificação se traduz no princípio da simultaneidade: “Se um corpo
apresenta um movimento composto, cada um dos movimentos componentes se realiza como se os demais
não existissem e no mesmo intervalo de tempo”.
Composição de Movimentos
Um observador no solo, (o que corresponde a nossa posição diante da tela) ao notar a queda do corpo
do helicóptero, verá a trajetória indicada na figura. A trajetória traçada pelo corpo, corresponde a um arco
de parábola, que poderá ser decomposta em dois movimentos:
25
- A projeção horizontal (x) do móvel descreve um O vetor soma em forças concorrentes é represen-
Movimento Uniforme. tado em intensidade, direção e sentido pela diago-
nal do paralelogramo traçado sobre as componen-
O vetor velocidade no eixo x se mantém constan- tes. A intensidade é graficamente representada pelo
te, sem alterar a direção, sentido e o módulo. tamanho da diagonal em uma escala. Vemos na es-
- A projeção vertical (y) do móvel descreve um cala dada que: 1N = 1cm
movimento uniformemente variado.
Como:
O vetor velocidade no eixo y mantém a direção F1= 2,0N, sua representação é um seguimento de
e o sentido porém o módulo aumenta a medida que 2,0cm
se aproxima do solo. F2 = 2,0N, sua representação é um seguimento de
2,0cm
DINÂMICA: CONCEITOS E PRINCÍPIOS DA Portanto a resultante ou o vetor soma tem intensi-
DINÂMICA, FORÇAS PESO, NORMAL, DE ATRITO ES- dade de 2,8N, pois seu tamanho é de 2,8cm
TÁTICO E DINÂMICO, DE RESISTÊNCIA DO AR, DE TRA- Quando as forças concorrentes formam um an-
ÇÃO E ELÁSTICA, DINÂMICA DOS MOVIMENTOS CUR- gulo de 90°, a intensidade do vetor soma pode ser
VILÍNEOS, FORÇAS CENTRÍPETA E TANGENCIAL, FOR- encontrada aplicando-se o Teorema de Pitagoras,
ÇAS EM REFERENCIAIS INERCIAIS E NÃO INERCIAIS, ou seja, pela fórmula:
FORÇAS CONSERVATIVAS E DISSIPATIVAS, TRABALHO,
POTÊNCIA, RENDIMENTO, ENERGIAS MECÂNICA, R2 = F12 + F22
CINÉTICA E POTENCIAL, CONSERVAÇÃO DA ENERGIA R=
MECÂNICA, IMPULSO, CONSERVAÇÃO DA QUANTI-
DADE DE MOVIMENTO, CHOQUES MECÂNICO.
permaneça em repouso, sendo que este equilíbrio Em 1667, retornando a Cambridge, dedicou-se a
(corpo em repouso e superfície) é consequência di- desenvolver as ideias que havia concebido durante
reta do atrito, denominada de força de atrito. Pode- o tempo que permaneceu afastado da Universida-
mos então perceber que existe uma diferença muito de. Aos 50 anos de idade Newton, abandonava a
grande entre atrito e força de atrito. carreira universitária em busca de uma profissão mais
Podemos definir o atrito como: a força de atrito rendosa. Em 1699 foi nomeado diretor da Casa da
estático f, que atua sobre um corpo é variável, estan- Moeda de Londres, recebendo vencimentos bastan-
do sempre a equilibrar as forças que tendem a colo- te elevados, que tornaram um homem rico. Neste
car o corpo em movimento. A força de atrito estático cargo, desempenhou brilhante missão, conseguindo
cresce até um valor máximo. Este valor é dado em reestruturar as finanças inglesas, então bastante aba-
micras, onde a micras é o coeficiente de atrito está- ladas. Foi membro do Parlamento inglês, em 1705, aos
62 anos de idade, sagrando-se cavaleiro pela rainha
tico entre as superfícies. Toda força que atua sobre
da Inglaterra, o que lhe dava condição de nobreza
um corpo em movimento é denominada de força de
e lhe conferia o título de “Sir”, passando a ser tratado
atrito cinético. Pequena biografia de Isaac Newton:
como Sir Issac Newton. Até 1703 até a sua morte em
Após a morte de Galileu, em 1642, nascia uma na 1727, Newton permaneceu na presidência da Real
pequena cidade da Inglaterra, Issac Newton, grande Academia de Ciências de Londres. Com a modéstia
físico e matemático que formulou as leis básicas da própria de muitos sábios, Newton afirmava que ele
Mecânica. Foi criado por sua avó sendo abandona- conseguiu enxergar mais longe do que os outros co-
do quando ainda criança, pela mãe, marcando a legas porque se apoiou em “ombros de gigantes”.
vida de Newton pelo seu temperamento tímido, in-
trospectivo, intolerante que o caracterizou quando Aplicações Envolvendo Forças de Atrito
adulto. Com a morte de seu padrasto, é solicitado a
assumir a fazenda da família, demonstrando pouco Podemos perceber a existência da força de atri-
interesse, tornando-se num verdadeiro fracasso. to e entender as suas características através de uma
Aos 18 anos, em 1661, Newton é enviado ao Trini- experiência muito simples. Tomemos uma caixa bem
ty College da Universidade de Cambridge (próximo grande, colocada no solo, contendo madeira. Pode-
a Londres), para prosseguir seus estudos. Dedicou- mos até imaginar que, à menor força aplicada, ela
-se primeiramente ao estudo da Matemática e em se deslocará. Isso, no entanto, não ocorre. Quando a
caixa ficar mais leve, à medida que formos retirando
29
1664, escrevia seu primeiro trabalho (não publicado)
com apenas 21 anos de idade, sob a forma de ano- a madeira, atingiremos um ponto no qual consegui-
remos movimentá-la. A dificuldade de mover a caixa
tações, denominado “Algumas Questões Filosóficas”.
é devida ao surgimento da força de atrito Fat entre
Em 1665, com o avanço da peste negra (peste bubô-
o solo e a caixa.
nica), newtom retornou a sua cidade natal, refugian-
do-se na tranquila fazenda de sua família, onde per-
maneceu por 18 meses, até que os males da peste
fossem afastados, permitindo o seu retorno a Cam-
bridge. Alguns trabalhos executados por Newton du-
rante seu refúgio:
- Desenvolvimento em série da potência de um
binômio ensinado atualmente nas escolas com o Várias experiências como essa levam-nos às se-
nome de “binômio de Newton”. guintes propriedades da força de atrito (direção,
- Criação e desenvolvimento das bases do Cál- sentido e módulo):
culo Diferencial e do Cálculo Integral, uma poderosa
ferramenta para o estudo dos fenômenos físicos, que Direção: As forças de atrito resultantes do conta-
ele próprio utilizou pela primeira vez. to entre os dois corpos sólidos são forças tangenciais
- Estudo de alguns fenômenos óticos, que culmi- à superfície de contato. No exemplo acima, a dire-
naram com a elaboração de uma teoria sobre as co- ção da força de atrito é dada pela direção horizon-
res dos corpos. tal. Por exemplo, ela não aparecerá se você levantar
- Concepção da 1º e da 2º leis do movimento (1º a caixa.
e 2º leis de Newton), lançando, assim, as bases da
Mecânica. Sentido:A força de atrito tende sempre a se opor
- Desenvolvimento das primeiras idéias relativas à ao movimento relativo das superfícies em contato.
Gravidade Universal. Assim, o sentido da força de atrito é sempre o sentido
contrário ao movimento relativo das superfícies
ou seja,
Quando dois ou mais corpos interagem, o mo- onde e é o coeficiente de restituição e tem um
mento linear desse sistema (conjunto dos corpos) valor entre 0 e 1, relação foi proposta por Newton . O
permanece constante: valor de um é para um choque perfeitamente elásti-
co e o valor de zero para um choque perfeitamente
Colisões entre partículas, elásticas e inelásticas, inelástico.
uni e bidimensionais O coeficiente de restituição é a razão entre a ve-
locidade relativa de afastamento depois do choque,
Empregamos o termo de colisão para representar e a velocidade relativa de aproximação antes do
a situação na qual duas ou mais partículas interagem choque das partículas.
durante um tempo muito curto. Supomos que as for-
ças impulsivas devidas a colisão são muito maiores Colisão Elástica
que qualquer outra força externa presente.
O momento linear total é conservado nas coli- Para dois corpos A e B em colisão elástica, não há
32 sões. No entanto, a energia cinética não se conserva perda de energia cinética (conservação da energia)
devido a que parte da energia cinética se transfor- entre os instantes antes e depois do choque. As ener-
ma em energia térmica e em energia potencial elás- gias cinéticas são escritas como
tica interna quando os corpos se deformam durante
a colisão.
Definimos colisão inelástica como a colisão na
qual não se conserva a energia cinética. Quando
dois objetos que chocam e ficam juntos depois do A quantidade de movimento é conservada por
choque dizemos que a colisão é perfeitamente ine- ser nulo o somatório das forças externas e para os
lástica. Por exemplo, um meteorito que se choca dois corpos A e B os seus momentos lineares antes e
com a Terra. depois da colisão são dados por:
Em uma colisão elástica a energia cinética se
conserva. Por exemplo, as colisões entre bolas de bi-
lhar são aproximadamente elásticas. A nível atômico
as colisões podem ser perfeitamente elásticas. Colocando-se as massas mA e mB em evidência,
temos
Dividindo-se a segunda equação pela terceira Entretanto, pode ocorrer que os corpos se movi-
equação encontramos mentem em direções diferentes, antes ou depois da
colisão. Nesse caso, a colisão é denominada de coli-
são bidimensional.
em termos das velocidades relativas antes e de- Para uma colisão unidimensional entre duas par-
pois do choque, a quarta equação terá a forma tículas, temos que:
No numerador figura o momento linear total e no tem um peso maior do que se estivesse próximo ao
denominador a massa total do sistema de partículas. equador, devendo esse fato simplesmente ao valor
Da dinâmica de um sistema de partículas temos da força da gravidade, sendo que há lugares onde
que a força gravitacional, embora com o mesmo valor,
exerce maior pressão nos indivíduos, sendo que na
lua a gravidade é cerca de 6 vezes menor que na
terra, consequentemente o indivíduo pesará 6 vezes
menos que na terra.
do. Quando a vertical que passa pelo centro de gra- O momento de uma força em relação a um eixo
vidade do conjunto intersecta a superfície de apoio é uma grandeza escalar que consiste na projeção,
da bainha sobre a mesa, este fica em equilíbrio, ape- sobre o eixo de rotação, do momento de uma força
sar de o vértice de ligação entre a parte reta e a em relação a um ponto. A figura seguinte representa
parte encurvada da peça estar consideravelmente a porta citada no exemplo e, ao lado, o esquema
afastado da base de apoio. geométrico da força e da distância ao eixo:
Caso a peça seja puxada quase totalmente
para o exterior da bainha, de forma a que o cen-
tro de gravidade do conjunto fique localizado sobre
uma vertical que não intersecte o tampo da mesa, a
bainha inclina-se e o peso suspenso move-se, apro-
ximando-se da vertical que passa pela periferia da
mesa. Nestas condições, o conjunto ficará apoiado
sobre a mesa apenas por uma linha de apoio que é
transversal ao eixo longitudinal da bainha. A configu-
ração de equilíbrio exige que esta linha se encontre, Define-se o momento de uma força , M, em
necessariamente, acima do centro de gravidade do relação a um eixo de rotação, como o produto do
conjunto. Se o conjunto for largado duma posição tal módulo da força pela distância entre o seu ponto de
que a vertical que passa pelo seu centro de gravida- aplicação e o eixo e pelo seno do ângulo (que não
de não intersecte a linha de apoio, então iniciará um tem unidade) formado entre a direção da força e a
movimento pendular amortecido, até atingir a posi- distância referida:
ção de equilíbrio.
Um equilibrista segura uma vara dobrada, nas
extremidades da qual existem duas esferas de latão.
Era utilizado nas lições de Física Experimental, para
As unidades em jogo são:
mostrar a importância da posição do centro de gra-
• ou M em N.m;
vidade de um corpo relativamente à sua base de
• F em N;
sustentação, quando em equilíbrio estável.
• d em m. 35
O equilibrista tem a particularidade de se encon-
trar apoiado sobre um pequeno disco de latão, atra-
MOMENTO RESULTANTE
vés de um espigão de ferro existente sob o seu pé es-
querdo. O disco encontra-se no topo de uma coluna
A resultante livre de um sistema de forças é igual
de madeira ricamente trabalhada.
à soma das forças componentes do sistema. RL = F1 +
F2 + ...... >>> RL = S Fi
Momento de uma Força
A resultante livre de um sistema de forças mede o
efeito de translação produzido pelo sistema.
O momento de uma força , em relação a um
ponto de um eixo, exercida num ponto (por exem-
plo, o momento da força exercida por uma mão num
ponto de uma porta em relação ao eixo de rotação
da porta), cuja posição é descrita por um vector po-
sição , é uma grandeza vectorial que se obtém atra-
vés do produto vectorial entre o vector posição e o
vector força:
A direção e o sentido da resultante livre corres-
pondem à direção e o sentido do efeito de transla-
ção. O módulo da resultante livre nos informa sobre a
intensidade do efeito de translação
Momento resultante de um sistema de forças em
relação a um ponto P é igual à soma dos momentos
das forças componentes do sistema em relação à
este mesmo ponto P.
Na sua forma mais simples o sistema se reduz à A massa específica (m) de uma substância é a
uma única força nula. razão entre a massa (m) de uma quantidade da
O sistema admite resultante sendo esta igual à substância e o volume (V) correspondente, ou seja,
uma força nula. é representado pelo mesmo cálculo da densidade.
Este sistema que não produz efeito é chamado Obviamente, é comum o termo densidade (d)
de sistema de forças em equilíbrio. em lugar de massa específica (m )... Uma explica-
ção que encontrei seria que se usaria “densidade”
HIDROSTÁTICA: Massa Específica e Densidade para representar a razão entre a massa e o volu-
me de objetos sólidos (ocos ou maciços), e “massa
A massa específica (m ) de uma substância é específica”para líquidos e soluções. Mas se assim fos-
a razão entre a massa (m) de uma quantidade da se, não poderíamos falar densidade da água, mas
substância e o volume (V) correspondente: somente massa específica. Curiosamente já encon-
trei também massa específica se referindo a solo, que
não é líquido.Em termos gerais, a principal diferença
observada que densidade é um conceito mais usa-
do na química e massa específica na física (hidros-
tática).
Uma unidade muito usual para a massa especí-
fica é o g/cm3 , mas no SI a unidade é o kg/m3 . A CONCEITO DE PRESSÃO, PRESSÃO EM UM FLUIDO
relação entre elas é a seguinte: UNIFORME EM EQUILÍBRIO
Observação: É comum encontrarmos o termo (A) O peso do bloco (4 kg), distribuído em 1 dm2,
densidade (d) em lugar de massa específica (m ). exerce uma pressão de 4 kg por dm2.
Usa-se “densidade” para representar a razão entre a (B) Qual é a pressão? (A) representa um ho-
massa e o volume de objetos sólidos (ocos ou maci- mem de 80kg tentando andar em areia movediça.
ços), e “massa específica” para líquidos e soluções. Seu peso produz grande pressão porque a área dos
A densidade absoluta de uma substância é defi- seus sapatos é pequena e ele afunda na areia. Se
nida como a relação entre a sua massa e o seu vo- ele se deitar de costas seu peso atuará sobre uma
lume. área maior causando pressão muito menor e ele não
A densidade relativa é a relação entre a densida- afundará.
de absoluta de um material e a densidade absoluta Pressão e Área. (A) Quando o homem tenta ficar
de uma substância estabelecida como padrão. No de pé na areia movediça, ele afunda porque seu
cálculo da densidade relativa de sólidos e líquidos, o peso causa uma grande pressão na pequena área
padrão usualmente escolhido é a densidade absolu- de seus sapatos. (B) Quando se deita na areia ele
ta da água, que é igual a 1,000 kg/dm³ (equivalente não afunda porquê seu peso atua numa área maior
a 1,000 g/cm³) a 4°C. e a pressão que ele exerce é menor.
Princípio de Pascal
Determinar a pressão.
Aplicação
Solução:
40
S
e denomina trabalho infinitesimal, ao produ- força é calculado mediante a integral
to escalar do vetor força pelo vetor desloca-
mento.
41
A área do triângulo da figura é (0.05·50)/2=1.25 J
Onde Ft é a componente da força ao longo do Quando a força é constante, o trabalho é obtido
deslocamento, ds é o módulo do vetor deslocamen- multiplicando a componente da força ao longo do
to dr, e q o ângulo que forma o vetor força com o deslocamento pelo deslocamento.
vetor deslocamento. W=Ft·s
O trabalho total ao longo da trajetória entre os
pontos A e B é a soma de todos os trabalhos infinite- Exemplo:
simais Calcular o trabalho de uma força constante de
12 N, cujo ponto de aplicação se translada 7 m, se o
ângulo entre as direções da força e do deslocamen-
to são 0º, 60º, 90º, 135º, 180º.
Vamos calcular o trabalho em cada um dos ra- Onde c é uma constante aditiva que nos permite
mos e o trabalho total no caminho fechado. estabelecer o nível zero da energia potencial.
- Ramo BC
A trajetória é a reta que passa pelos pontos (0,1)
e (3,3). Se trata de uma reta de inclinação 2/3 e cuja
ordenada na origem é 1.
y=(2/3)x+1, dy=(2/3)·dx Para x>0, F=-kx
Para x<0, F=kx
- Ramo CA
A trajetória é a reta x=0, dx=0, A força F=0 e por
tanto, o trabalho WCA=0 A função energia potencial Ep correspondente a
• O trabalho total força conservativa F vale
WABCA=WAB+WBC+WCA=27+(-27)+0=0 43
- Quando x=1 m
WAB=-Fr x
WBA=-Fr x
O trabalho total ao longo do caminho fechado
Ep=2·10·1=20 J, Ek=40, EB=Ek+Ep=60 J A-B-A, WABA é diferente de zero
WABA=-2Fr x
- Quando x=0 m
De um modo geral, a energia pode ser definida
como capacidade de realizar trabalho ou como o
resultado da realização de um trabalho. Na prática,
a energia pode ser melhor entendida do que defini-
da. Quando se olha para o Sol, tem-se a sensação
de que ele é dotado de muita energia, devido à luz
Ep=2·10·0=0 J, Ek=60, EC=Ek+Ep=60 J e ao calor que emite constantemente.
A humanidade tem procurado usar a energia Quando um objeto está a uma altura h, como já
que a cerca e a energia do próprio corpo, para foi visto, ele possui energia potencial; à medida que
obter maior conforto, melhores condições de vida, está caindo, desprezando a resistência do ar, a ener-
maior facilidade de trabalho, etc. gia potencial gravitacional do objeto que ele possui
Para a fabricação de um carro, de um cami- no topo da trajetória vai se transformando em ener-
nhão, de uma geladeira ou de uma bicicleta, é pre- gia cinética e quando atinge o nível de referência
ciso Ter disponível muita energia elétrica, térmica e a energia potencial é totalmente transformada em
mecânica. energia cinética (fig.6). Este é um exemplo de con-
A energia elétrica é muito importante para as in- servação de energia mecânica.
dústrias, porque torna possível a iluminação dos lo- Na ausência de forças disssipativas, a energia
cais de trabalho, o acionamento de motores, equi- mecânica total do sistema se conserva, ocorrendo
pamentos e instrumentos de medição. transformação de energia potencial em cinética e
Para todas as pessoas, entre outras aplicações, vice-versa.
serve para iluminar as ruas e as casas, para fazer fun-
cionar os aparelhos de televisão, os eletrodomésticos Energia Mecânica
e os elevadores. Por todos esses motivos, é interes-
sante converter outras formas de energia em energia Chamamos de Energia Mecânica a todas as for-
mas de energia relacionadas com o movimento de
elétrica.
corpos ou com a capacidade de colocá-los em mo-
vimento ou deformá-los.
Energia Cinética
Armazenamento de Energia
A energia que um corpo adquire quando está
em movimento chama-se energia cinética. A ener-
Note-se que o princípio de conservação é facil-
gia cinética depende de dois fatores: da massa e da
mente confundido com a ideia de ‘armazenamento’
velocidade do corpo em movimento. de energia no interior de um sistema material.
No século dezessete formou-se a idéia de que o
Potencial trabalho que um sistema podia realizar era ‘armaze-
nado’ de alguma maneira no interior do próprio siste- 45
É um tipo de energia que o corpo armazena, ma e que o ‘trabalho armazenado’ era sempre igual
quando está a uma certa distância de um referencial ao ‘trabalho realizado’.
de atração gravitacional ou associado a uma mola. Não sabemos o que a energia é. Todavia, se fala-
mos que a energia pode ser armazenada, está-se as-
Energia Cinética sumir que sabemos o que é – “como queijo armaze-
Qualquer corpo que possuir velocidade terá nado no frigorífico, talvez”, na pitoresca imagem de
energia cinética. A equação matemática que a ex- Benyon. Benyon pergunta, então, ‘como a energia é
pressa é: armazenada no objeto e onde?’. A ‘energia’ é uma
quantidade abstrata, um conceito inventado por
conveniência do estudo da Natureza. Como se pode
então, armazenar uma abstração? E, comparando
energia com os números, outra abstração, como
se pode armazenar um número? Pode-se evidente-
Teorema da energia cinética mente armazenar objetos em forma de números ou
quantidades de objetos correspondentes a números,
O trabalho realizado pela resultante de todas as mas não os números em si. Benyon sugere, então,
forças aplicadas a uma partícula durante certo in- que a idéia do armazenamento de energia decorre
tervalo de tempo é igual à variação de sua energia da energia ser tratada não como um conceito físico
cinética, nesse intervalo de tempo. abstrato mas como algo real, como um fluido ou um
combustível que possa ser armazenado ou transferi-
do de um corpo a outro.
tR,AB = m.v2B/2 - m.v2A/2 = [DEcin.]A==>B
Frequentemente o conceito de armazenamento
de energia refere-se a combustíveis, como se hou-
Conservação da Energia Mecânica
vesse energia, geralmente referida como energia
química, armazenada no combustível. Um exemplo
A energia mecânica (Emec) de um sistema é a
é ilustrativo: Um pedaço de carvão, não possui ener-
soma da energia cinética e da energia potencial.
gia química neste sentido, pois não pode, por si só, Se apenas forças conservativas efetuam traba-
ser transformado em gás carbônico e libertar ener- lho, a equação D K+D U= D (K+U)=0, afirma que a
gia. O que ocorre é que a mistura inicial do carvão e variação da energia mecânica total é nula. Então a
oxigênio está num estado energético mais alto que o energia mecânica total permanece constante du-
produto da combustão, gás carbônico, tal como a rante o movimento da partícula.
pedra antes de cair estava numa posição mais alta. E= K+U= constante
Durante sua queima, os átomos de carbono reagem Esta é a lei da conservação da energia mecânica
quimicamente com as moléculas de oxigênio do ar e é a origem da denominação “força conservativa”.
num processo exotérmico, o que significa que a di-
ferença positiva no valor da energia química do sis- Símbolos
tema é transferida para o meio ambiente em forma W: Trabalho;
de calor, neste caso, aquecendo o ar circundante, K: Energia cinética;
por exemplo. Note-se, todavia, para que essa rea- U: Energia Potencial ;
ção de combustão aconteça, é necessário que a E: Energia Mecânica;
ò : Integral.
mistura seja aquecida a 750 ºC, isto é, é necessária
D : variação (D K: variação de energia cinética, D
a transferência energia em forma de calor à mistura
U: variação de energia potencial, ...)
de carvão e oxigênio antes que a reação aconteça,
mais um motivo para não fazer sentido dizer-se que
ENERGIA POTENCIAL ELÁSTICA
‘o carvão tem energia’.
DE UMA MOLA IDEAL
Outra analogia fornecida por McClelland é inte-
ressante: Se algo será armazenado em sentido me- Define-se ‘energia potencial elástica’ a energia
tafórico, deverá estar associado a algo material que potencial de uma corda ou mola que possui elasti-
possa ser armazenado fisicamente. Assim, podemos cidade.
armazenar combustíveis e podemos armazenar livros; Se considerarmos que uma mola apresenta com-
mas há tanto sentido falar em armazenar energia portamento ideal, ou seja, que toda energia que ela
quanto armazenar informação. recebe para se deformar ela realmente armazena,
Um livro não contém informação, mas apenas podemos escrever que a energia potencial acumu-
46 manchas de tinta sobre folhas de papel – cabe a um lada nessa mola vale:
leitor, que aprendeu a reconhecer aquelas manchas
de tinta como letras e palavras e a associar palavras
a conceitos, ‘extrair’ informação do livro.
A soma da Energia cinética com a energia po- Quando alguém puxa a corda de um arco e
tencial do sistema é a energia mecânica total E: flecha, quando estica ou comprime uma mola ou
E= K+U quando salta em um Bungee jumping, em todos es-
ses casos, energia está sendo utilizada para deformar Uma massa presa a uma mola. Com uma boa
um corpo. Para poder acertar o alvo, um arqueiro aproximação podemos considerar que quando a
tem que usar energia de seus músculos para puxar massa é deslocada de sua posição de equilíbrio, a
a flecha para trás e o arco para frente. Dessa forma, mola exerce uma força proporcional a distância até
a corda desse instrumento fica esticada e com cer- a posição de equilíbrio. Essa relação é conhecida
ta quantidade de energia armazenada. Quando o como Lei de Hooke, e pode ser expressa como
arqueiro solta a corda, a flecha recebe parte dessa
energia e, com isso, adquire movimento.
Assim como nos exemplos citados, sempre que
um corpo é deformado e mantém a capacidade
de diminuir essa deformação (voltando ao formato
original ou não), dizemos que esse corpo armazenou
uma modalidade de energia chamada de energia
potencial elástica. Agora, o nome potencial é origi-
nado do fato de o corpo esticado ou comprimido F=-kx
pode adquirir movimento espontaneamente após
ser liberado. A denominação elástica vem do fato onde x é a distância até a posição de equilíbrio
de a capacidade de deformar e voltar ao normal ser e k é a constante da mola. Essa força também é
chamada de elasticidade. chamada de força restauradora, pois tende a fazer
Nosso organismo, por exemplo, possui uma pro- com que a massa volte até a posição de equilíbrio.
teína chamada elastina - responsável por dar elas- A energia potencial elástica U(x) associada a força
ticidade à nossa pele. Quando pressionamos ou pu- restauradora tem a forma de uma parábola U(x) = k
xamos a pele de alguém, energia potencial elástica x2/2
fica armazenada permitindo que a pele retorne ao
formato natural. Se não fosse assim, caso apertásse- Ponto de equilíbrio: O ponto de equilíbrio é aque-
mos o braço de alguém, ele ficaria deformado para le onde a força exercida pela mola sobre a massa é
sempre. nula. E esse ponto representa o menor valor da ener-
A energia potencial gravitacional depende da gia potencial elástica.
aceleração da gravidade, então em que situações Condições iniciais: As condições iniciais determi- 47
essa energia é positiva, nula ou negativa? nam as especificidades do movimento do sistema
A força elástica depende da massa da mola? Por massa-mola. Podemos ter uma situação inicial onde
quê? a mola está distendida e em repouso. Podemos tam-
Se uma mola é comprimida por um objeto de bém ter a condição inicial onde a distensão é nula (a
massa grande, quando solto a mola não consegue massa está no ponto de equilíbrio) mas a velocidade
se mover, o que acontece com a energia potencial é não nula. Ou podemos ter uma combinação das
elástica? condições anteriores.
Sistema Massa-Mola Amplitude de oscilação e constante de fase
x(t) = A sen(wt+j)
Esse modelo é extremamente importante para a v(t) = -wA cos(wt+j)
o estudo de fenômenos naturais, pois é usado como
uma boa aproximação para oscilações de peque- onde
nas amplitudes, de sistemas que originalmente se en- A = amplitude de oscilação
contram em equilíbrio estável. wt+ j = fase
Uma mola com uma extremidade presa a um su- w = frequência angular
porte fixo e a outra extremidade presa a uma mola. j = constante de fase
Nesta situação a mola se encontra numa posição
horizontal, e a massa pode mover-se horizontalmente As condições iniciais são dadas através dos valo-
em um plano com um coeficiente de atrito despre- res da amplitude de oscilação e constante de fase.
zível. Consideremos um sistema massa-mola onde a fre-
quência angular vale w = 5rad/s. Se a constante de
fase for j = 0 e a amplitude de oscilação for A=3m
, teremos
x(0) = 0
v(0) = -15m/s
onde
A = amplitude de oscilação
wt+j = fase
w = frequência angular
j = constante de fase
Características do sistema: O sistema massa mola
é definido pelos valores da massa m e da constante
Podemos inverter as relações de dependência e
encontrar que elástica da mola k , e considerando esses parâme-
tros, encontramos que a frequência angular w tem
a forma:
e o período T
Velocidade nula e posição diferente da posição
de equilíbrio: Considerando a solução x(t) da equa-
ção de movimento do sistema massa-mola que nos
informa como a posição da mola varia com o tempo
é dada por:
x(t) = A sen(wt+j) Sistema conservativo (Ausência de atrito): O sis-
v(t) = -wA cos(wt+j) tema será considerado conservativo, quando forem
48 conservativas as forças que nele atuam. Uma força
encontramos
é dita conservativa quando o trabalho que ela pro-
v(0) = 0
duz em um percurso fechado é nulo. Chamamos de
x(0) = x0 ≠ 0
percurso fechado a trajetória que retorna até a sua
ou seja: posição original. Consideremos um sistema compos-
A = x0 to pela Terra e uma bola que está localizada próximo
j = p/2 a sua superfície. A força gravitacional entre a Terra e
a bola é uma força conservativa, pois o trabalho que
Posição de equilíbrio e velocidade não nula: a força da Terra exerce sobre a bola em um percurso
Considerando a solução x(t) da equação de movi- fechado é nulo. Por exemplo, se a bola for lançada
mento do sistema massa-mola que nos informa como verticalmente para cima ela retornará até a posição
a posição da mola varia com o tempo é dada por: original com a mesma energia. Ou seja: o trabalho
x(t) = A sen(wt+j) que a força gravitacional exerceu na subida da bola
v(t) = -wA cos(wt+j) é exatamente igual e de sinal contrário ao trabalho
que ela exerceu na descida.
encontramos Conservação da Energia Mecânica: Quando
v(0) = v0 = - wA ≠ 0 em um sistema só existirem forças conservativas, esse
x(0) = 0 sistema será conservativo, e portanto a sua energia
será uma constante.
ou seja:
Pequenas oscilações de sistemas reais em equilí-
A = v0 /w
brio estável: A energia potencial de um sistema ideal
j=0
tal como o sistema massa-mola, é simétrica em tor-
no da sua posição de mínimo. No entanto a ener-
Posição diferente da posição de equilíbrio e ve-
locidade não nula: Considerando a solução x(t) da gia potencial de sistemas reais não têm uma forma
equação de movimento do sistema massa-mola que tão idealizada, mas apresenta-se como o exemplo
nos informa como a posição da mola varia com o adiante:
tempo é dada por:
Impulso
Ou ainda
Dado o mesmo impulso, quanto menor o inter-
valo de tempo necessário à sua aplicação, maior a
força necessária à situação, e vice versa. No caso do
O impulso sofrido por um objeto (massa constan- ovo colidindo com o chão a intensa força aplicada
te) depende apenas das quantidades de movimen- no ponto de colisão leva à tensões na estrutura do
to associadas ao instante antes da colisão e após a ovo além dos limites mecânicos desta, e por tal o ovo
colisão, e não de quão rápido se processam as co- se quebra.
Assim as forças de interação em colisões depen-
lisões que levam o mesmo estado incial ao mesmo
dem não apenas das condições iniciais e finais em
estado final.
questão como também das propriedades físicas dos
À exemplo considere um ovo abandonado em
objetos que colidem: quanto mais elásticos são os
queda livre de uma determinada altura, primeiro so- objetos em colisão maiores são os tempos de colisão
bre uma almofada, posteriormente sobre o chão. A e menores são as forças envolvidas na colisão, e vice-
massa do ovo é a mesma em ambos os casos, e pro- -versa. Materiais inelásticos são geralmente frágeis.
vido que as alturas de queda - entre o ponto de soltu-
Se antes da leitura deste artigo não de forma consciente, intuitivamente parece que os seres humanos - e
os animais - conhecem tal princípio: ao pularem de locais altos, estes flexionam os joelhos de forma a promo-
verem o aumento do tempo de interação no processo de colisão com chão, e assim o fazendo reduzem as
forças que atuam sobre os seus corpos no processo que os leva ao estado estático. Se as pernas fossem man-
tidas totalmente esticadas, estas certamente se quebrariam com maior facilidade.
52
O
astrônomo Tycho Brahe (1546-1601) rea-
lizou medições de notável precisão. Jo-
hannes Kepler (1571-1630), discípulo de
Tycho Brahe, utilizando os dados colhidos por seu
mestre, descreveu, de modo singelo e preciso, os mo-
vimentos planetários.
53
O tamanho da elipse irá depender do valor de e, ou seja, quanto maior for o valor de e maior será a elip-
se. Já quando e = 1, irá se degenerar em um único segmento de reta.
É importante sabermos que todas as órbitas que são expostas por todos os planetas em volta do Sol,
estarão localizadas em um dos focos. Vejamos agora uma tabela que apenas Mercúrio e Plutão apresentam
uma elipse maior, ou seja, uma elipse que contenha maior excentricidade, já os outros planetas apresentam
as elipses mais perto das circunferências, ou seja, as que possuem uma excentricidade menor.
Vejamos essa tabela:
54
Porém é importante sabermos que a órbita de um planeta em volta de uma estrela, teoricamente pode
ser circular.
Essa lei é referente à parte de um planeta que foi “varrida” pelo raio vetor, durante um intervalo de tem-
po.
– O segmento de reta traçada do centro de massa do Sol ao centro de massa de um planeta do Sistema
Solar varre áreas iguais em tempos iguais.
A) Quando falamos dos raios vetores que ligam Com base na conclusão acima, podemos dizer
os planetas com o Sol, devemos saber que esses raios que o planeta vai chegando próximo do Sol, e a sua
varrem as áreas iguais nos intervalos de tempos iguais. órbita elíptica, e com isso sua velocidade de trans-
lação vai aumentando. Com isso podemos ver que
Com isso temos que: conforme o Sol vai chegando perto o raio vetor vai
diminuindo e para que ele consiga “varrer” a mesma
área, o planeta deverá se movimentar mais rápido.
No ponto mais próximo do Sol, a velocidade de
translação irá ser a maior. Isso recebe o nome de pe-
riélio. Já quando o ponto estiver bem longe do Sol, a
velocidade de translação irá ser a menor. Isso recebe
B) Se tratando da área que foi varrida pelo raio o nome de afélio.
vetor de um dos planetas, podemos dizer que ela é
proporcional ao intervalo de tempo que foi gasto. Vejamos a ilustração: 55
Considerando as órbitas como circulares, podemos afirmar que a velocidade média possui um valor to-
talmente inversamente proporcional à raiz quadrada do raio de cada órbita.
Vejamos:
O raio de órbita de Plutão é considerado mais ou menos 100 vezes maior que o raio de órbita de Mercúrio,
com isso a velocidade média de Mercúrio chega a ser 10 vezes maior que a de Plutão.
Vejamos:
56
T é o período de revolução do planeta em torno do Sol (intervalo de tempo também chamado de ano
do planeta).
58
A
eletricidade é um termo geral que abran- - Campo elétrico: efeito produzido por uma car-
ge uma variedade de fenômenos resul- ga no espaço que a contém, o qual pode exercer
tantes da presença e do fluxo de carga força sobre outras partículas carregadas. Unidade SI:
elétrica. Esses incluem muitos fenômenos facilmente volt por metro (V/m); ou newton por coulomb (N/C), 59
reconhecíveis, tais como relâmpagos, eletricidade ambas equivalentes.
estática, e correntes elétricas em fios elétricos. Além - Potencial elétrico: capacidade de uma carga
disso, a eletricidade engloba conceitos menos co- elétrica de realizar trabalho ao alterar sua posição.
nhecidos, como o campo eletromagnético e indu- A quantidade de energia potencial elétrica armaze-
ção eletromagnética. A palavra deriva do termo em nada em cada unidade de carga em dada posição.
neolatim “ēlectricus”, que por sua vez deriva do latim Unidade SI: volt (V); o mesmo que joule por coulomb
clássico “electrum”, “amante do âmbar”, termo esse (J/C).
cunhado a partir do termo grego ήλεκτρον (elétrons) - Corrente elétrica: quantidade de carga que ul-
no ano de 1600 e traduzido para o português como trapassa determinada secção por unidade de tem-
âmbar. O termo remonta às primeiras observações po. Unidade SI: ampère (A); o mesmo que coulomb
mais atentas sobre o assunto, feitas esfregando-se por segundo (C/s).
pedaços de âmbar e pele. - Potência elétrica: quantidade de energia elé-
No uso geral, a palavra “eletricidade” se refere trica convertida por unidade de tempo. Unidade SI:
de forma igualmente satisfatória a uma série de efei- watt (W); o mesmo que joules por segundo (J/s).
tos físicos. Em um contexto científico, no entanto, o - Energia elétrica: energia armazenada ou dis-
termo é muito geral para ser empregado de forma
tribuída na forma elétrica. Unidade SI: a mesma da
única, e conceitos distintos contudo a ele diretamen-
energia, o joule (J).
te relacionados são usualmente melhor identificadas
- Eletromagnetismo: interação fundamental entre
por termos ou expressões específicos. Alguns concei-
o campo magnético e a carga elétrica, estática ou
tos importantes com nomenclatura específica que
em movimento.
dizem respeito à eletricidade são:
O uso mais comum da palavra “eletricidade”
- Carga elétrica: propriedade das partículas su-
atrela-se à sua acepção menos precisa, contudo.
batômicas que determina as interações eletromag-
Refere-se a: Energia elétrica (referindo-se de forma
néticas dessas. Matéria eletricamente carregada
menos precisa a uma quantidade de energia po-
produz, e é influenciada por, campos eletromagnéti-
tencial elétrica ou, então, de forma mais precisa, à
cos. Unidade SI (Sistema Internacional de Unidades):
energia elétrica por unidade de tempo) que é forne-
ampère segundo (A.s), unidade também denomina-
cida comercialmente pelas distribuidoras de energia
da coulomb (C).
elétrica. Em um uso flexível contudo comum do ter- A madeira, a argila, a água, o ferro são exemplos
mo, “eletricidade” pode referir-se à “fiação elétrica”, de matéria, podemos vê-los e tocá-los, mas existem
situação em que significa uma conexão física e em matérias que não podem ser vistas e nem sentidas,
operação a uma estação de energia elétrica. Tal é o caso do ar que respiramos e que enche nossos
conexão garante o acesso do usuário de “eletricida- pulmões. O calor que sentimos, as cores, os nossos
de” ao campo elétrico presente na fiação elétrica, sentimentos, os sonhos, nenhum deles é matéria, já
e, portanto, à energia elétrica distribuída por meio que não são materiais.
desse. Através da matéria podemos dar origem a ma-
Embora os primeiros avanços científicos na área teriais (objetos). Exemplificando seria assim: com um
remontem aos séculos XVII e XVIII, os fenômenos elé- pedaço de madeira o carpinteiro faz um móvel. Ao
tricos têm sido estudados desde a antiguidade. Con- relacionarmos matéria com o exemplo, ficaria assim:
tudo, antes dos avanços científicos na área, as apli- Madeira – matéria
cações práticas para a eletricidade permaneceram tábua – corpo
muito limitadas, e tardaria até o final do século XIX mesa – objeto
para que os engenheiros fossem capazes de dispo-
Surge assim outra definição, a de corpo e obje-
nibilizá-la ao uso industrial e residencial, possibilitan-
to: Corpo é qualquer porção limitada de matéria e
do assim seu uso generalizado. A rápida expansão
objeto, é aquilo que o corpo se transforma quando
da tecnologia elétrica nesse período transformou a
é trabalhado.
indústria e a sociedade da época. A extraordinária
Mais exemplos: o escultor usa um pedaço de
versatilidade da eletricidade como fonte de energia mármore (corpo) para fazer uma estátua (objeto). O
levou a um conjunto quase ilimitado de aplicações, ourives faz um anel (objeto), de uma barra (corpo)
conjunto que em tempos modernos certamente in- de ouro (matéria).
clui as aplicações nos setores de transportes, aque-
cimento, iluminação, comunicações e computação. CONDUTORES E ISOLANTES
A energia elétrica é a espinha dorsal da sociedade
industrial moderna, e deverá permanecer assim no Em alguns tipos de átomos, especialmente os
futuro tangível. que compõem os metais - ferro, ouro, platina, cobre,
60 Eletrostática é o ramo da eletricidade que estu- prata e outros -, a última órbita eletrônica perde um
da as propriedades e o comportamento de cargas elétron com grande facilidade. Por isso seus elétrons
elétricas em repouso, ou que estuda os fenômenos recebem o nome de elétrons livres.
do equilíbrio da eletricidade nos corpos que de algu- Estes elétrons livres se desgarram das últimas órbi-
ma forma se tornam carregados de carga elétrica, tas eletrônicas e ficam vagando de átomo para áto-
ou eletrizados. mo, sem direção definida. Mas os átomos que per-
dem elétrons também os readquirem com facilidade
CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA, PARTÍCULA FUNDA- dos átomos vizinhos, para voltar a perdê-los momen-
MENTAIS tos depois. No interior dos metais os elétrons livres va-
gueiam por entre os átomos, em todos os sentidos.
Tudo aquilo que tem massa e ocupa lugar no es-
paço pode ser definido como sendo matéria. Toda
matéria é formada por pequenas partículas, desig-
nadas átomos. Segundo a teoria atômica de Dalton
podemos definir que:
- A matéria é constituída de pequenas partícu-
Devido à facilidade de fornecer elétrons livres, os
las esféricas, maciças e indivisíveis, denominadas de metais são usados para fabricar os fios de cabos e
átomos. aparelhos elétricos: eles são bons condutores do fluxo
- Elemento químico é composto de um conjunto de elétrons livres.
de átomos com as mesmas massas e tamanhos. Já outras substâncias - como o vidro, a cerâmica,
- Elementos químicos diferentes indicam átomos o plástico ou a borracha - não permitem a passagem
com massas, tamanhos e propriedades diferentes. do fluxo de elétrons ou deixam passar apenas um pe-
- Substâncias diferentes são resultantes da combi- queno número deles. Seus átomos têm grande difi-
nação de átomos de elementos diversos. culdade em ceder ou receber os elétrons livres das
- A origem de novas substâncias está relacionada últimas camadas eletrônicas. São os chamados ma-
ao rearranjo dos átomos, uma vez que eles não são teriais isolantes, usados para recobrir os fios, cabos e
criados e nem destruídos. aparelhos elétricos.
A unidade de resistência é o ohm, que é a resis- gundo a qual a força é proporcional ao produto das
tência de um condutor em que uma diferença de cargas, dividido pelo quadrado da distância que as
potencial de um volt produz uma corrente de um separa. A lei é assim chamada em homenagem ao
ampère. A capacidade de um condensador é me- físico francês Charles de Coulomb.
dida em farad: um condensador de um farad tem Se dois corpos de carga igual e oposta são co-
uma diferença de potencial de um volt entre suas nectados por meio de um condutor metálico, por
placas quando estas apresentam uma carga de um exemplo, um cabo, as cargas se neutralizam mutua-
coulomb. mente. Essa neutralização é devida a um fluxo de
O Henry é a unidade de indutância, a proprieda- elétrons através do condutor, do corpo carregado
de de um circuito elétrico em que uma variação na negativamente para o carregado positivamente. A
corrente provoca indução no próprio circuito ou num corrente que passa por um circuito é denominada
circuito vizinho. Uma bobina tem uma auto-indutân- corrente contínua (CC), se flui sempre no mesmo
cia de um Henry quando uma mudança de um am- sentido, e corrente alternada (CA), se flui alternativa-
père/segundo na corrente elétrica que a atravessa mente em um e outro sentido. Em função da resistên-
provoca uma força eletromotriz oposta de um volt. cia que oferece um material à passagem da corren-
Lei de Coulomb, lei que governa a interação ele- te, podemos classificá-lo em condutor, semicondutor
trostática entre duas cargas pontuais, descrita por e isolante.
Charles de Coulomb. Entre as muitas manifestações O fluxo de carga ou intensidade da corrente que
da eletricidade, encontramos o fenômeno da atra- percorre um cabo é medido pelo número de cou-
ção ou repulsão entre dois ou mais corpos eletrica- lombs que passam em um segundo por uma seção
mente carregados que se encontram em repouso. determinada do cabo. Um Coulomb por segundo
De modo geral, estas forças de atração ou re- equivale a 1 ampère, unidade de intensidade de cor-
pulsão estáticas têm uma forma matemática muito rente elétrica cujo nome é uma homenagem ao físi-
complicada. No entanto, no caso de dois corpos co francês André Marie Ampère. Quando uma carga
de 1 coulomb se desloca através de uma diferença
carregados que têm tamanho desprezível em rela-
de potencial de 1 volt, o trabalho realizado corres-
ção à distância que os separa, a força de atração
ponde a 1 joule. Essa definição facilita a conversão
ou repulsão estática entre eles assume uma forma
de quantidades mecânicas em elétricas.
62 muito simples, que é chamada lei de Coulomb.
A primeira constatação de que a interação entre
A lei de Coulomb afirma que a intensidade da
cargas elétricas obedece à lei de força
força F entre duas cargas pontuais Q1 e Q2 é dire-
tamente proporcional ao produto das cargas, e in-
versamente proporcional ao inverso do quadrado da
distância R que as separa.
Eletricidade, categoria de fenômenos físicos origi-
nados pela existência de cargas elétricas e pela sua
onde r é a distância entre as cargas F e é o módu-
interação. Quando uma carga elétrica encontra-se
lo da força, foi feita por Priestley em 1766. Priestley ob-
estacionária, ou estática, produz forças elétricas so-
servou que um recipiente metálico carregado, não
bre as outras cargas situadas na mesma região do
possui cargas na superfície interna, 1, não exercen-
espaço; quando está em movimento, produz, além
do forças sobre uma carga colocada dentro dele. A
disso, efeitos magnéticos.
partir deste fato experimental, pode-se deduzir ma-
Os efeitos elétricos e magnéticos dependem da
tematicamente a validade de (1) O mesmo tipo de
posição e do movimento relativos das partículas car-
dedução pode ser feita na gravitação, para mostrar
regadas. No que diz respeito aos efeitos elétricos, es-
que dentro de uma cavidade não há força gravita-
sas partículas podem ser neutras, positivas ou negati-
cional.
vas (ver Átomo). A eletricidade se ocupa das partícu-
Medidas diretas da lei (1) foram realizadas em
las carregadas positivamente, como os prótons, que
1785 por Coulomb , utilizando um aparato denomina-
se repelem mutuamente, e das partículas carrega-
do balança de torção . Medidas modernas mostram
das negativamente, como os elétrons, que também
que supondo uma lei dada por
se repelem mutuamente (ver Elétron; Próton).
Em troca, as partículas negativas e positivas se
atraem entre si. Esse comportamento pode ser resu-
mido dizendo-se que cargas do mesmo sinal se repe-
lem e cargas de sinal diferente se atraem.
Então
A força entre duas partículas com cargas q1 e
q2 pode ser calculada a partir da lei de Coulomb se-
63
A
todo instante estamos relacionando os fatos de natureza e o nosso modo de vida que depende
de técnicas e aparelhos elétricos modernos.
Analisaremos os fenômenos magnéticos que são causados por cargas elétricas em movimento.
Carga Positiva – corpos que tem comportamento como o de uma barra de vidro atritada com seda,
neste caso todos os corpos se repelem uns aos outros, estando detrizados positivamente, adquirindo carga
positiva.
Carga Negativa – corpos que se comportam com uma barra de ferro de borracha atritada com um
pedaço de lã, todos os corpos se repelem uns aos outros, mas atraem os corpos do grupo anterior. Estando
eletrizados negativamente, possuindo carga positiva.
Contato: Com um corpo já eletrizado, coloca-se em contato com outro corpo neutro, assim, a carga
passa de corpo para o outro, e as cargas de ambos os corpos passam a ser iguais.
Indução: O método de indução consiste em aproximar um corpo eletrizado de um corpo neutro, para
que a carga do corpo neutro se concentre em apenas um lado do mesmo. Após, conecta-se um fio-terra
à outra extremidade para que aquele lado volte a ficar neutro, depois disso retira-se o fio-terra e afasta-se o
corpo eletrizado. Assim o corpo anteriormente neutro adquire uma carga contraria á do corpo que foi apro-
ximado.
Potencial Elétrico
lhos capazes de medir a intensidade de um campo. dedicar à pesquisa durante um certo tempo, montou
A unidade para se representar a voltagem está in- uma indústria para fabricar exemplares de seu gera-
cluída no Sistema Internacional sendo representada dor.
por 1 V/m. O gerador de Van, se baseia nos seguintes princí-
Potencial de um ponto, significa a diferença de pios físicos: Um corpo metálico eletrizado coloca-se
potencial entre este ponto e outro ponto, tomado em contato interno com outro, transferindo toda a
como referência, sendo muito usado nos dias de sua carga. O conceito básico do gerador de Van, é
hoje. Para que se calcule tal potencial, é necessá- o fato de as cargas elétricas se transferirem integral-
rio achar o valor de A (VA) em relação a P, onde P mente de um corpo para outro, quando ocorrer con-
representa um ponto qualquer denominado nível de tato interno. No lugar de motor, utiliza-se uma mani-
potencial, cujo valor é nulo. vela para movimentar a polia e a correia, podendo
Para se calcular o valor de uma carga puntual, obter tal gerador alguns milhares de volts.
usaremos a seguinte fórmula: V = K0 Q Segundo o americano Robert Millikan (1868-1953),
Essa expressão nos permite obter considerando- os valores das grandezas podem sofrer variações
-se como referência um ponto muito afastado de em saltos, dizemos então que ela é quantizada. Mi-
carga Q, sendo que a mesma consegue calcular
llikan realizou uma grande número de experiências,
seus valores até o seu infinito.
medindo o valor da carga elétrica adquirida por mi-
Para que se calcule a fórmula acima com total
lhares de gotículas de óleo, concluindo que a carga
acerto, é necessário saber analisar os valores de Q,
sendo : elétrica será quantizada, possibilitando determinar o
Se Q positivo, o potencial será também positivo valor do quantum de carga do elétron.
Se Q negativo, o valor de V em P será negativo.
Princípio da Superposição
De acordo com a figura podemos estabelecer
que Q1, Q2, Q3, é igual à soma algébrica dos poten- Até agora, discutimos as forças elétricas devido
ciais que cada carga produz naquele ponto P. a interação entre dois corpos carregados. Vamos su-
Para que se determine uma superfície equipoten- por que uma carga de prova positiva (qo) tenha sido
cial, é necessário que todos os seus pontos possuam o colocada na presença de várias outras cargas. Qual
mesmo potencial, onde uma superfície esférica com será, então, a força eletrostática resultante sobre qo?
66 centro Q será, uma superfície equipotencial, pois to- Somos tentado a resolver este problema da mesma
dos os seus pontos estão igualmente distanciados de maneira como é feito com a força gravitacional na
Q, conforme figura abaixo, onde as superfícies equi- mecânica, isto é, adicionar vetorialmente as forças
pontenciais do campo criado pela carga Q. que atuam separadamente entre dois corpos, para
Através da afirmação de que é nulo o interior de obter a força resultante. Este método é conhecido
um campo elétrico de um condutor em equilíbrio ele- como princípio da superposição. Na Fig.1, mostramos
trostático, concluímos que no potencial de uma esfe-
a representação esquemática das forças atuando
ra, os pontos então no mesmo potencial.
em qo, devido a todas as outras forças. Embora este
Concluímos também que os elétrons livres podem
resultado possa parecer óbvio, ele não pode ser de-
deslocar dentro de um condutor metálico, sendo que
suas cargas negativas tendem a se deslocar entre os rivado de algo mais fundamental. A única forma de
pontos onde o potencial é menor para aqueles que verificá-lo é testando-o experimentalmente.
possuem potencial maior.
Após essa transferência de elétrons, ocorrerá al-
teração e consequentemente os condutores fica-
ram com os mesmos valores, em relação aos seus
potenciais.
Uma rápida biografia de Van de Graaff: Enge-
nheiro americano que após estudar alguns anos em
Paris, onde teve a oportunidade de assistir a confe-
rências de Marie Curie, passou a se dedicar à pes-
quisas no campo da Física Atômica. Trabalhando
na Universidade de Oxford, Van de Graaff, sentiu a
necessidade, para desenvolver suas pesquisas, de Forças elétricas sobre uma carga de prova qo de-
uma fonte de partículas subatômicas de alta ener- vido a uma distribuição de cargas infinitesimais (qi).
gia, criando então o gerador de Van de Graaff, ace-
No caso de N partículas carregadas, temos que a
lerador de partículas que recebeu seu próprio nome
força resultante sobre qo será, então a soma vetorial
e que encontrou larga aplicação, não só na Física
Atômica, como também na Medicina e na indústria. de todas , como a seguir
Mais tarde, voltando aos Estados Unidos, depois de se
CAMPO UNIFORME, SUPERFÍCIES EQUIPOTENCIAIS, Lei de Ohm pode ser assim enunciada: A inten-
DIFERENÇA DE POTENCIAL sidade de uma corrente elétrica é diretamente pro-
ENTRE DOIS PONTOS E ANÁLISE DO MOVIMENTO DE porcional à voltagem e inversamente proporcional à
UMA CARGA PUNTIFORME NO CAMPO resistência.
lho realizado por esta força externa mede a energia energia potencial adquirida por ela. Essa energia po-
transferida ao sistema, na forma de energia poten- tencial é proporcional ao valor de q. Portanto, o quo-
cial de interação elétrica. Eliminada a força externa, ciente entre a energia potencial e a carga é cons-
os objetos afastam-se novamente, transformando a tante. Esse quociente chama-se potencial elétrico do
energia potencial de interação elétrica em energia ponto. Ele pode ser calculado pela expressão:
cinética à medida que aumentam de velocidade.
O aumento da energia cinética corresponde exata-
mente à diminuição da energia potencial de intera-
ção elétrica.
onde V é o potencial elétrico, Ep a energia po-
Potencial Elétrico tencial e q a carga. A unidade no S.I. é J/C = V (volt).
Portanto, quando se fala que o potencial elétrico de
Com relação a um campo elétrico, interessa-nos um ponto L é VL = 10 V, entende-se que este ponto
a capacidade de realizar trabalho, associada ao consegue dotar de 10J de energia cada unidade de
campo em si, independentemente do valor da car- carga da 1C. Se a carga elétrica for 3C por exemplo,
ga q colocada num ponto desse campo. Para me- ela será dotada de uma energia de 30J, obedecen-
dir essa capacidade, utiliza-se a grandeza potencial do à proporção. Vale lembrar que é preciso adotar
elétrico. um referncial para tal potencial elétrico. Ele é uma
Para obter o potencial elétrico de um ponto, região que se encontra muito distante da carga, lo-
coloca-se nele uma carga de prova q e mede-se calizado no infinito.
a energia potencial adquirida por ela. Essa energia
potencial é proporcional ao valor de q. Portanto,
o quociente entre a energia potencial e a carga é
constante. Esse quociente chama-se potencial elé-
trico do ponto.
Diferença de Potencial
Para calcular o potencial elétrico devido a uma
68 carga puntiforme usa-se a fórmula:
uma mesma distância dessa carga possuirá o mes- A energia calorífica aquece os tubos e a água até
mo potencial elétrico. Portanto, aparece ai uma su- ferver. A água ferve a 100º Celsius ou a 212º Fahre-
perfície equipotencial esférica. Podemos também nheit. A turbina contém várias lâminas semelhantes a
encontrar superfícies equipotenciais no campo elé- uma ventoinha. O vapor da água chega ás lâminas
trico uniforme, onde as linhas de força são paralelas que começam a girar. O gerador encontra-se ligado
e equidistantes. Nesse caso, as superfícies equipoten- á turbina e recebe a sua energia mecânica transfor-
ciais localizam-se perpendicularmente às linhas de mando-a em energia eléctrica.
força (mesma distância do referencial). O potencial O gerador é constituído por um imã gigante situa-
elétrico e distância são inversamente proporcionais, do dentro de um círculo enrolado com um grande fio.
portanto o gráfico cartesiano Vxd é uma assíntota. O eixo que liga a turbina ao gerador está sempre a
Nota-se que, percorrendo uma linha de força no rodar; ao mesmo tempo que a parte magnética gira.
seu sentido, encontramos potenciais elétricos cada Quando o fio ou outro condutor eléctrico atravessa o
vez menores. campo magnético produz-se uma corrente eléctrica.
Vale ainda lembrar que o vetor campo elétrico Um gerador é o contrário de um motor eléctrico. Em
é sempre perpendicular à superfície equipotencial, e vez de usar a energia eléctrica para por a trabalhar
consequentemente a linha de força que o tangen- o motor ou leme como nos brinquedos eléctricos, o
cia também. eixo da turbina põe a trabalhar o motor que produz
Podemos associar analogamente as superfícies a electricidade.
equipotenciais com as cascas de uma cebola, con- Depois do vapor passar pela turbina vai para um
forme temos uma mesma superfície de casca, temos zona de arrefecimento e em seguida é canalizada
uma mesma superfície equipotencial. pelos tubos de metal para novo aquecimento nas
caldeiras. Existem centrais eléctricas que usam ener-
Geradores, Turbinas e Sistemas de Condução gia nuclear para aquecer a água, noutras a água
Eléctrica quente vem naturalmente de reservatórios subterrâ-
neos sem queimar nenhum combustível.
Tal como aprendemos no 2º capítulo a eletrici-
dade desloca-se nos fios elétricos até acender as Lei de Ohm
lâmpadas, televisões, computadores e todos os ou-
tros aparelhos eletrónicos. Mas de onde é que vem Segundo o inventor de tal lei, verificou-se que 69
a eletricidade? Sabemos que a energia não pode para muitos dos materiais existentes, a relação entre
ser gerada, mas sim transformada. Nas barragens e a voltagem e a corrente mantinham-se constante,
outras centrais elétricas a energia mecânica é trans- onde se conclui que: o valor da resistência permane-
formada em energia elétrica. ce constante, não dependendo da voltagem apli-
O processo inicia-se com o aquecimento de água cada ao condutor.
em grandes caldeiras. Nestas, queimam-se combustí- Para tais condutores, denominamos de condu-
veis para produzir calor e ferve-se a água de forma a tores de ôhmicos, onde a resistividade do material é
transformá-la em vapor. O vapor é condensado em alterada pela modificação na voltagem.
alta pressão na turbina, que gira a grande velocida-
de; o gerador ligado á turbina transforma a energia Associação de Resistências
da rotação mecânica da turbina em electricidade.
Vamos aprofundar melhor este processo. É a mesma coisa quando se determina uma
resistência em série, como por exemplo as lâmpadas
de natal na decoração de uma árvore, com os
mesmos valores de resistência, onde as mesmas
serão percorridas pela corrente elétrica.
Podemos concluir segundo o autor que: quando
várias resistências R1, R2, R3, etc., são associadas em
série, todas elas são percorridas pela mesma corren-
te e a resistência equivalente da associação é dada
por: R = R1 + R2 + ...... quando várias resistências R1,
R2, R3, etc., associadas em paralelo, todas elas ficam
submetidas à mesma voltagem e a resistência equi-
Em muitas caldeiras, a madeira, o carvão, o pe- valente da associação é dada por
tróleo ou o gás natural são queimados para produzir
calor. O interior da caldeira é constituído por uma sé-
rie de tubos de metal por onde passa água corrente.
e portanto produzem o efeito joule são: chuveiro elé- deve ser ligado em paralelo ao aparelho em cujos
trico, secador de cabelo, aquecedor elétrico, ferro terminais você quer determinar a ddp, assim o apa-
de passar roupas, pirógrafos, etc. relho e o voltímetro indicarão a mesma ddp.
71
Se sua resistência interna for muito alta, comparada às resistências do circuito, consideramos o aparelho
como sendo ideal.
Os voltímetros podem medir tensões contínuas ou alternadas dependendo da qualidade do aparelho.
Voltímetro Ideal → Resistência interna infinita.
Voltímetro não-ideal
Voltímetro Ideal
Amperímetro
Aparelho utilizado para medir a intensidade de corrente elétrica que passa por um fio. Pode medir tanto
corrente contínua como corrente alternada. A unidade utilizada é o àmpere.
O amperímetro deve ser ligado sempre em série, para aferir a corrente que passa por determinada região
do circuito. Para isso o amperímetro deve ter sua resistência interna muito pequena, a menor possível.
Se sua resistência interna for muito pequena, comparada às resistências do circuito, consideramos o am-
perímetro como sendo ideal.
Amperímetro Ideal → Resistência interna nula
72
Corrente Contínua
É preciso considerar que as cargas estejam sempre em repouso. Para que possamos considerar o que é
uma corrente elétrica, é necessário que façamos algumas experiências, como ligar as extremidades de fios
aos pólos de uma pilha.
Podemos concluir que o fio possui muitos elétrons livres., estando em movimento devido a força elétrica
do campo, possuindo carga negativa, em movimento contrário ao do campo ampliado, gerando portanto
a chamada corrente elétrica.
Quando um campo elétrico é estabelecido em um condutor qualquer, as cargas livres aí presentes en-
tram em movimento sob a ação deste campo, ocorrendo um deslocamento constituindo uma corrente
elétrica.
Nos metais, a corrente elétrica é conduzida por elétrons livres em movimento.
Nos líquidos, as cargas livres que se movimentam são íons positivos e íons negativos enquanto que, nos
gases, são íons positivos, íons negativos e também elétrons livres.
Segundo os físicos para se determinar uma corrente convencional seria necessário que uma carga ne-
gativa em movimento seja sempre imaginada como se fosse uma carga positiva, movendo-se em sentido
contrário, conforme ilustração abaixo.
A intensidade da corrente se da pela fórmula:
Aplicações: Se temos um circuito RC série, a me- mada de magnetita, de onde derivam as palavras
dida que aumentarmor a frequência, a tensão no magnético e magnetismo. Uma outra versão atribui
capacitor diminuirá e a tensão no resistor aumenta- o nome do mineral ao fato de ele ser abundante na
rá. Podemos então fazer filtros, dos quais só passarão região asiática da Magnésia. Seja qual for a versão
frequências acima de uma frequência estabelecida verdadeira da origem da palavra, a magnetita é um
ou abaixo dela. Estes são os filtros passa alta e passa imã natural - um minério com propriedades magnéti-
baixa. cas. Sejam naturais ou artificiais, os ímãs são materiais
capazes de se atraírem ou repelirem entre, si bem
Frequência de corte: é a frequência onde XC=R. como de atrair ferro e outros metais magnéticos,
como o níquel e o cobalto.
Quando temos uma fonte CA de várias frequen-
cias, um resistor e um capacitor em série, em frequên- Polaridade
cias mais baixas XC é maior, desta forma, a tensão
no capacitor é bem maior que no resistor. A partir Os imãs possuem dois polos magnéticos, chama-
da frequência de corte, a tensão no resistor torna-se dos de polo norte e polo sul, em torno dos quais existe
maior. Dessa forma, a tensão no capacitor é alta em um campo magnético. Seguindo a regra da atração
frequências mais baixas que a frequência de corte. entre opostos, comum na física, o polo norte e o sul
Quando a frequência é maior que a frequência de de dois imãs se atraem mutuamente. Por outro lado,
corte, é o resistor que terá alta tensão. se aproximarmos os polos iguais de dois imãs o efei-
Filtro passa baixa: to será a repulsão. O campo magnético é um con-
junto de linhas de força orientadas que partem do
polo norte para o pólo sul dos imãs, promovendo sua
capacidade de atração e repulsão, mecanismo que
fica explicado na figura que segue:
Vsaída=It XC
Filtro passa alta
76
Perfis magnéticos
O
ndulatória é a parte da Física que estuda Classificação em relação à direção de propaga-
as ondas. Qualquer onda pode ser estu- ção
dada aqui, seja a onda do mar, ou ondas
eletromagnéticas, como a luz. A definição de onda As ondas podem ser dividas em três tipos, segun-
é qualquer perturbação (pulso) que se propaga em do as direções em que se propaga:
um meio. Ex: uma pedra jogada em uma piscina (a
fonte), provocará ondas na água, pois houve uma - Ondas unidimensionais: só se propagam em
perturbação. Essa onda se propagará para todos os uma direção (uma dimensão), como uma onda em
lados, quando vemos as perturbações partindo do uma corda.
local da queda da pedra, até ir na borda. Uma se-
quência de pulsos formam as ondas.
Chamamos de Fonte qualquer objeto que pos-
78 sa criar ondas. A onda é somente energia, pois ela
só faz a transferência de energia cinética da fonte,
para o meio. Portanto, qualquer tipo de onda, não
transporta matéria!. As ondas podem ser classifica-
das seguindo três critérios:
- Ondas tridimensionais: se propagam em todas as direções possíveis, como ondas sonoras, a luz, etc.
79
- Ondas longitudinais: são as ondas onde a vibração da fonte é paralela ao deslocamento da onda.
Exemplos de ondas longitudinais são as ondas sonoras (o alto falante vibra no eixo x, e as ondas seguem essa
mesma direção), etc.
- Ondas transversais: a vibração é perpendicular à propagação da onda. Ex.: ondas eletromagnéticas,
ondas em uma corda (você balança a mão para cima e para baixo para gerar as ondas na corda).
- Frequência: é o número de oscilações da onda, por um certo período de tempo. A unidade de frequên-
cia do Sistema Internacional (SI), é o hertz (Hz), que equivale a 1 segundo, e é representada pela letra f. En-
tão, quando dizemos que uma onda vibra a 60Hz, significa que ela oscila 60 vezes por segundo. A frequência
de uma onda só muda quando houver alterações na fonte.
-Período: é o tempo necessário para a fonte produzir uma onda completa. No SI, é representado pela
letra T, e é medido em segundos.
f = 1/T
ou
T = 1/f
- Comprimento de onda: é o tamanho de uma onda, que pode ser medida em três pontos diferentes: de
crista a crista, do início ao final de um período ou de vale a vale. Crista é a parte alta da onda, vale, a parte
baixa. É representada no SI pela letra grega lambda (λ)
- Velocidade: todas as ondas possuem uma velocidade, que sempre é determinada pela distância per-
corrida, sobre o tempo gasto. Nas ondas, essa equação fica:
ou ou ainda
80
- Amplitude: é a “altura” da onda, é a distância entre o eixo da onda até a crista. Quanto maior for a
amplitude, maior será a quantidade de energia transportada.
Um dos comportamentos oscilatórios mais simples de se estender, sendo encontrado em vários sistemas,
podendo ser estendido a muitos outros com variações é o Movimento Harmônico Simples (M.H.S).
Muitos comportamentos oscilatórios surgem a massa m para a esquerda da posição 0, uma força
partir da existência de forças restauradoras que ten- de sentido contrário e proporcional ao deslocamento
dem a trazer ou manter sistemas em certos estados X surgirá tentando manter o bloco na posição de
ou posições, sendo essas forças restauradoras basi- equilíbrio 0.
camente do tipo forças elásticas, obedecendo, por- Se dermos um puxão no bloco de massa m e o
tanto, a Lei de Hooke (F = - kX). soltarmos veremos o nosso sistema oscilando. Você
Um sistema conhecido que se comporta dessa teria idéia de por quê o nosso sistema oscila? Se ha-
maneira é o sistema massa-mola (veja a figura abai- veria, e se sim, qual a relação da força restauradora
xo). Consiste de uma massa de valor m, presa por e do fato de nosso sistema ficar oscilando?
uma das extremidades de uma certa mola de fator Na tentativa de respondermos a essa pergunta
de restauração k e cuja outra extremidade está liga- começaremos discutindo o tipo de movimento reali-
da a um ponto fixo. zado por nosso sistema massa-mola e a natureza ma-
temática deste tipo de movimento.
Perfil de um comportamento tipo M.H.S.
Oscilando em torno de um ponto central, apre-
sentando uma variação de espaço maior nas proxi-
midades do ponto central do que nas extremidades.
Sistema Massa-Mola Você saberia dizer qual o tipo de função representa-
da em nosso esquema? Esse formato característico
Esse sistema possui um ponto de equilíbrio ao qual pertence a que tipo de funções?
chamaremos de ponto 0. Toda vez que tentamos ti- Uma explicação para esse tipo de gráfico obtido
rar o nosso sistema desse ponto 0, surge uma força poderia sair de uma análise das forças existentes no
restauradora (F = -kX) que tenta trazê-lo de volta a sistema massa-mola, mesmo que a compreensão to-
situação inicial. tal da mesma somente possa ser entendida a fundo
a nível universitário.
Sabendo-se que a força aplicada no bloco m do
nosso sistema massa-mola na direção do eixo X será
igual à força restauradora exercida pela mola sobre 81
o bloco na posição X aonde o mesmo se encontrar
(3a. Lei de Newton) podemos escrever a seguinte
equação:
F (X) = - kX
Sistema Massa-Mola na Posição de Equilíbrio
Passando o segundo termo para o primeiro mem-
bro temos:
F (x) + kX = 0
85
ONDAS EM UMA CORDA, VELOCIDADE, Em que: F = a força de tração na corda µ = ,
FREQUÊNCIA E COMPRIMENTO DE ONDA, a densidade linear da corda
ONDAS ESTACIONÁRIAS NUMA CORDA
FIXA EM AMBAS AS EXTREMIDADES Aplicação:Uma corda de comprimento 3 m e
massa 60 g é mantida tensa sob ação de uma for-
Velocidade de Propagação de uma Onda Unidi- ça de intensidade 800 N. Determine a velocidade de
mensional propagação de um pulso nessa corda.
Essa fórmula é válida também para a refração de
ondas bidimensionais e tridimensionais.
Reflexão de um pulso numa corda Observe que o comprimento de onda e a velo-
cidade de propagação variam com a mudança do
Quando um pulso, propagando-se numa corda, meio de propagação.
atinge sua extremidade, pode retornar para o meio
em que estava se propagando. Esse fenômeno é de- Aplicação: Uma onda periódica propaga-se em
nominado reflexão. uma corda A, com velocidade de 40 cm/s e compri-
Essa reflexão pode ocorrer de duas formas: mento de onda 5 cm. Ao passar para uma corda B,
sua velocidade passa a ser 30 cm/s. Determine:
Extremidade fixa a) o comprimento de onda no meio B
Se a extremidade é fixa, o pulso sofre reflexão b) a frequência da onda
com inversão de fase, mantendo todas as outras ca-
racterísticas. Resolução:
86
Extremidade livre
Se a extremidade é livre, o pulso sofre reflexão e
volta ao mesmo semiplano, isto é, não ocorre inver-
são de fase.
Princípio da Superposição
Quando duas ou mais ondas se propagam, simul-
taneamente, num mesmo meio, diz-se que há uma
superposição de ondas.
Refração de um pulso numa corda Como exemplo, considere duas ondas propa-
gando-se conforme indicam as figuras:
Se, propagando-se numa corda de menor densi- Supondo que atinjam o ponto P no mesmo instan-
dade, um pulso passa para outra de maior densida- te, elas causarão nesse ponto uma perturbação que
de, dizemos que sofreu uma refração. é igual à soma das perturbações que cada onda
causaria se o tivesse atingido individualmente, ou
seja, a onda resultante é igual à soma algébrica das
ondas que cada uma produziria individualmente no
ponto P, no instante considerado.
Em resumo:
Quando ocorre o encontro de duas cristas, am- 87
bas levantam o meio naquele ponto; por isso ele
sobe muito mais.
Quando dois vales se encontram eles tendem a
baixar o meio naquele ponto.
Quando ocorre o encontro entre um vale e uma
crista, um deles quer puxar o ponto para baixo e o Em que: N = nós ou nodos e V= ventres.
outro quer puxá-lo para cima. Se a amplitude das Ao atingirem a extremidade fixa, elas se refletem,
duas ondas for a mesma, não ocorrerá deslocamen- retornando com sentido de deslocamento contrário
to, pois eles se cancelam (amplitude zero) e o meio ao anterior.
não sobe e nem desce naquele ponto. Dessa forma, as perturbações se superpõem às
outras que estão chegando à parede, originando o
fenômeno das ondas estacionárias.
Uma onda estacionária se caracteriza pela ampli-
tude variável de ponto para ponto, isto é, há pontos
da corda que não se movimentam (amplitude nula),
chamados nós (ou nodos), e pontos que vibram com
amplitude máxima, chamados ventres.
É evidente que, entre nós, os pontos da corda
vibram com a mesma frequência, mas com
amplitudes diferentes.
Observe que: Como os nós estão em repouso,
não pode haver passagem de energia por eles, não
havendo, então, em uma corda estacionária o trans-
porte de energia.
A distância entre dois nós consecutivos vale . * A equação acima nos mostra que quanto mais
rápida for a onda maior será a frequência e mais
A distância entre dois ventres consecutivos energia ela tem. Porém, a frequência é o inverso do
vale . comprimento de onda (l), isto quer dizer que ondas
com alta frequência têm l pequenos. Ondas de bai-
A distância entre um nó e um ventre consecutivo xa frequência têm l grandes
vale .
Som
Quando o som breve direto atinge o tímpano dos Quando uma onda sonora sofre refração, ocorre
nossos ouvidos, ele o excita. A excitação completa uma mudança no seu comprimento de onda e na
ocorre em 0,1 segundo. Se o som refletido chegar ao sua velocidade de propagação. Sua frequência,
tímpano antes do décimo de segundo, o som refleti- que depende apenas da fonte emissora, se mantém
do reforça a excitação do tímpano e reforça a ação inalterada.
do som direto. É o fenômeno do reforço. Como já vimos, o som é uma onda mecânica e
Na reverberação, o som breve refletido chega transporta apenas energia mecânica. Para se des-
ao ouvido antes que o tímpano, já excitado pelo som locar no ar, a onda sonora precisa ter energia sufi-
ciente para fazer vibrar as partículas do ar. Para se
direto, tenha tempo de se recuperar da excitação
deslocar na água, precisa de energia suficiente para
(fase de persistência auditiva). Desta forma, começa
fazer vibrar as partículas da água. Todo meio mate-
a ser excitado novamente, combinando duas exci- rial elástico oferece uma certa “resistência” à trans-
tações diferentes. Isso ocorre quando o intervalo de missão de ondas sonoras: é a chamada impedância.
tempo entre o ramo direto e o ramo refletido é maior A impedância acústica de um sistema vibratório ou
ou igual a zero, porém menor que 0,1 segundo. O re- meio de propagação, é a oposição que este ofere-
sultado é uma ‘confusão’ auditiva, o que prejudica ce à passagem da onda sonora, em função de sua
o discernimento tanto do som direto quanto do re- frequência e velocidade.
fletido. É a chamada continuidade sonora e o que A impedância acústica (Z) é composta por duas
ocorre em auditórios acusticamente mal planejados. grandezas: a resistência e a reactância. As vibrações
No eco, o som breve refletido chega ao tímpano produzidas por uma onda sonora não continuam
após este ter sido excitado pelo som direto e ter-se indefinidamente pois são amortecidas pela resistên-
recuperado dessa excitação. Depois de ter voltado cia que o meio material lhes oferece. Essa resistên-
completamente ao seu estado natural (completou a cia acústica (R) é função da densidade do meio e,
consequentemente, da velocidade de propagação
fase de persistência auditiva), começa a ser excita-
do som neste meio. A resistência é a parte da impe-
do novamente pelo som breve refletido. Isto permite
dância que não depende da frequência. É medida
discernir perfeitamente as duas excitações.
em ohms acústicos. A reactância acústica (X) é a
Ainda derivado do fenômeno da reflexão do parte da impedância que está relacionada com a
som, é preciso considerar a formação de ondas es- frequência do movimento resultante (onda sonora
90 tacionárias nos campos ondulatórios limitados, como que se propaga). É proveniente do efeito produzido
é o caso de colunas gasosas aprisionadas em tubos. pela massa e elasticidade do meio material sobre o
O tubo de Kundt, abaixo ilustrado, permite visualizar movimento ondulatório.
através de montículos de pó de cortiça a localiza- Se existe a impedância, uma oposição à onda
ção de nós (regiões isentas de vibração e de som) sonora, podemos também falar em admitância, uma
no sistema de ondas estacionárias que se estabelece facilitação à passagem da onda sonora. A admitân-
como resultado da superposição da onda sonora di- cia acústica (Y) é a recíproca da impedância e defi-
reta e da onda sonora refletida. ne a facilitação que o meio elástico oferece ao mo-
vimento vibratório. Quanto maior for a impedância,
Ondas Estacionárias menor será a admitância e vice-versa. É medida em
mho acústico (contrário de ohm acústico).
A impedância também pode ser expressa em uni-
A distância (d) entre dois nós consecutivos é de
dades rayls (homenagem a Rayleigh). A impedância
meio comprimento de onda ( d = ? / 2 ). Sendo a característica do ar é de 420 rayles, o que significa
velocidade da onda no gás Vgás = ?×f tem-se Vgás que há necessidade de uma pressão de 420 N/m2
= 2×f×d, o que resulta num processo que permite para se obter o deslocamento de 1 metro, em cada
calcular a velocidade de propagação do som em segundo, nas partículas do meio.
um qualquer gás! A frequência f é fornecida pelo Para o som, o ar é mais refringente que a água
oscilador de áudio-frequência que alimenta o auto- pois a impedância do ar é maior. Tanto é verdade
-falante. que a onda sonora se desloca com maior velocida-
A refração do som obedece às leis da refração de na água do que no ar porque encontra uma re-
ondulatória. Este fenômeno caracteriza o desvio so- sistência menor.
frido pela frente da onda quando ela passa de um Quando uma onda sonora passa do ar para a
meio para outro, cuja elasticidade (ou compressibi- água, ela tende a se horizontalizar, ou seja, se afasta
lidade, para as ondas longitudinais) seja diferente. da normal, a linha marcada em verde (fig.6). O ân-
Um exemplo seria a onda sonora passar do ar para gulo de incidência em relação à água é importante
porque, se não for suficiente, a onda sonora não con-
a água.
segue “entrar” na água e acaba sendo refletida.
- o som passa de mais agudo para mais grave. Esta Todo instrumento musical tem o seu timbre, isto é,
mudança na percepção do som se deve ao efeito seu som característico. Assim, o acordeão e o violão
doppler. podem emitir uma mesma nota musical, de mesma
A velocidade do som através do ar é fixa. Para frequência e intensidade, mas será fácil distinguir o
simplificar, digamos que seja de 300 m/s. Se o carro som de um e do outro.
estiver parado a uma distância de 1.500 metros e to- Na música, o importante não é a frequência do
car a buzina durante 1 minuto, você ouvirá o som da som emitido pelos diversos instrumentos, mas sim a re-
buzina após 5 segundos pelo tempo de 1 minuto. lação entre as diversas frequências de cada um. Os,
Porém, se o carro estiver em movimento, vindo por exemplo, um dó e um mi são tocados ao mes-
em sua direção a 90 km/h, o som ainda será ouvido mo tempo, o som que ouvimos é agradável e nos dá
com um atraso de 5 segundos, mas você só ouvirá o uma sensação de música acabada. Mas, se forem
som por 55 segundos (ao invés de 1 minuto). O que tocadas simultaneamente o fá e o sí, ou sí e o ré, os
ocorre é que, após 1 minuto o carro estará ao seu sons resultantes serão desagradáveis, dando a sen-
lado (90 km/h = 1.500 m/min) e o som, ao fim de 1 sação de que falta alguma coisa para completá-las.
minuto, chega até você instantaneamente. Da sua Isso acontece porque, no primeiro caso, as relações
perspectiva, a buzinada de 1 minuto foi “empaco- entre frequências são compostas de números peque-
tada” em 55 segundos, ou seja, o mesmo número de nos, enquanto no segundo, esses números são relati-
ondas sonoras foi comprimida num menor espaço de vamente grandes.
tempo. Isto significa que a frequência foi aumentada Com o progresso da eletrônica, novos instrumen-
e você percebe o som da buzina como mais agudo. tos foram produzidos, como a guitarra elétrica, o
Quando o automóvel passa por você e se distan- órgão eletrônico etc., que nos proporcionam novos
cia, ocorre o processo inverso - o som é expandido timbres.
para preencher um tempo maior. Mesmo número de O órgão eletrônico chega mesmo a emitir os sons
ondas num espaço de tempo maior significa uma fre- dos outros instrumentos. Ele pode ter, inclusive, acom-
quência menor e um som mais grave. panhamento de bateria, violoncelo, contrabaixo e
Para definir o efeito doppler e podermos enten- outros, constituindo-se numa autentica orquestra ele-
de-lo utilizamos a seguinte equação que relaciona a trônica, regida por um maestro: executante da mú-
sica.
frequência emitida, frequência percebida, velocida-
92 de do som e velocidade da fonte ou observador.
Características das Ondas
Existem ondas que vibram na mesma direção em relâmpago, embora ambos os fenômenos (relâmpa-
que se propagam: são as ondas longitudinais. Pegue go e trovão) se formem ao mesmo tempo. (A propa-
uma mola e fixe uma de suas extremidades no teto. gação da luz, neste caso o relâmpago, também não
Pela outra extremidade, mantenha a mola esticada é instantânea, embora sua velocidade seja superior
e puxe levemente uma das espirais para baixo. Em à do som.)
seguida, solte a mola. Você verá que esta perturba- Assim, o som leva algum tempo para percorrer
ção se propaga até o teto produzido na mola zonas determinada distância. E a velocidade de sua pro-
de compressão e distensão. pagação depende do meio em que ele se propaga
e da temperatura em que esse meio se encontra.
Estudo do som No ar, a temperatura de 15ºC a velocidade do
som é de cerca de 340m/s. Essa velocidade varia em
Encoste a mão na frente de seu pescoço e emita 55cm/s para cada grau de temperatura acima de
um som qualquer. Você vai sentir a garganta vibrar zero. A 20ºC, a velocidade do som é 342m/s, a 0ºC,
enquanto dura o som de sua voz. O som produzido é de 331m/s.
resulta de um movimento vibratório das cordas vo- Na água a 20ºC, a velocidade do som é de apro-
cais, que provoca uma perturbação no ar a sua vol- ximadamente 1130m/s. Nos sólidos, a velocidade de-
ta, cujo efeito é capaz de impressionar o ouvido. pende da natureza das substâncias.
Quando uma lâmina de aço vibra, ela também
provoca uma perturbação no ar em sua volta. Propa- Qualidades fisiológicas do som
gando-se pelo ar, essa perturbação produz regiões
de compressão e distensão. Como nosso aparelho A todo instante distinguimos os mais diferentes
auditivo é sensível e essa vibração do ar, podemos sons. Essa diferenças que nossos ouvidos percebem
percebê-las sob a forma de som. se devem às qualidades fisiológicas do som: altura,
Além das cordas vocais e lâminas de aço, exis- intensidade e timbre.
tem inúmeros outros corpos capazes de emitir som.
Corpos com essa capacidade são denominados fon-
Altura
tes sonoras. Como exemplo, podemos citar os diapa-
sões, os sinos, as membranas, as palhetas e os tubos.
Mesmo sem conhecer música, é fácil distinguir o 93
som agudo (ou fino) de um violino do som grave (ou
Frequência do som audível
grosso) de um violoncelo. Essa qualidade que per-
mite distinguir um som grave de um som agudo se
O ouvido humano só é capaz de perceber sons
chama altura. Assim, costuma-se dizer qu o som do
de frequências compreendidas entre 16Hz e 20.000Hz,
violino é alto e o do violoncelo é baixo. A altura de
aproximadamente. Os infra-sons, cuja frequência é
um som depende da frequência, isto é, do número
inferior a 16Hz, e os ultra-sons, cuja frequência é su-
de vibrações por segundo. Quanto maior a frequên-
perior a 20.000Hz, não são captados por nosso olvi-
cia mais agudo é o som e vice versa. Por sua vez, a
do, mas são percebidos por alguns animais, como os
frequência depende do comprimento do corpo que
cães, que ouvem sons de 25.000Hz, e os morcegos,
que chegam a ouvir sons de até 50.000Hz. vibra e de sua elasticidade; Quanto maior a atração
é mais curta for uma corda de violão, por exemplo,
Propagação do som mais agudo vai será o som por ela emitido.
Você pode constatar também a diferença de
O som exige um meio material para propagar-se. frequências usando um pente que tenha dentes fi-
Esse meio pode ser sólido, líquido ou gasoso. nos e grossos. Passando os dentes do pente na bosta
O som não se propaga no vácuo, o q poder ser de um cartão você ouvirá dois tipos de som emitidos
comprovado pela seguinte experiência: colocando pelo cartão: o som agudo, produzido pelos dentes
um despertador dentro de uma campânula onde o finos (maior frequência), e o som grave, produzido
ar é rarefeito, isto é, onde se fez “vácuo”, o som da pelos dentes mais grossos (menor frequência).
campainha praticamente deixa de ser ouvido.
Intensidade
Velocidade do som
é a qualidade que permite distinguir um som forte
A propagação do som não é instantânea. Pode- de um som fraco. Ele depende da amplitude de
mos verificar esse fato durante as tempestades: o tro- vibração: quanto maior a amplitude mais forte é o
vão chega aos nossos ouvidos segundos depois do som e vice versa.
Na prática não se usa unidades de intensidade infrassom em armas de guerra, já que sua potência
sonora, mas de nível de intensidade sonora, uma pode destruir construções e até mesmo estourar
grandeza relacionada à intensidade sonora e à for- órgãos humanos.
ma como o nosso ouvido reage a essa intensidade.
Essas unidades são o bel e o seu submúltiplo o deci- Ultrassom é um som a uma frequência superior
bel (dB), que vale 1 décimo do bel. O ouvido huma- àquela que o ouvido do ser humano pode perceber,
no é capaz de suportar sons de até 120dB, como é o aproximadamente 20.000 Hz.
da buzina estridente de um carro. O ruído produzido Alguns animais, como o cão, golfinho e o morce-
por um motor de avião a jato a poucos metros do ob- go, têm um limite de percepção sonora superior ao
servador produz um som de cerca de 140dB, capaz do ouvido humano e podem, assim, ouvir ultrassons.
de causar estímulos dolorosos ao ouvido humano. A Existem “apitos” especiais nestas frequências que ser-
agitação das grandes cidades provocam a chama- vem a estes princípios.
da poluição sonora composta dos mais variados ruí- Um som é caracterizado por vibrações (variação
dos: motores e buzinas de automóveis, martelos de de pressão) no ar. O ser humano normal médio con-
ar comprimido, rádios, televisores e etc. Já foi com- segue distinguir, ou ouvir, sons na faixa de frequência
provado que uma exposição prolongada a níveis que se estende de 20Hz a 20.000Hz aproximadamen-
maiores que 80dB pode causar dano permanente ao te. Acima deste intervalo, os sinais são conhecidos
ouvido. A intensidade diminui à medida que o som como ultrassons e abaixo dele, infrassons.
se propaga ou seja, quanto mais distante da fonte, O emissor de som, em aparelhos de som, é o alto-
menos intenso é o som. -falante. Um cone de papelão movido por uma bo-
Timbre – imagine a seguinte situação: um ouvinte bina imersa em um campo magnético , produzido
que não entende de música está numa sala, ao lado por um imã permanente. Este cone pode “vibrar” a
da qual existe outra sala onde se encontram um pia- frequências de áudio e com isto impulsionar o ar pro-
no e um violino. Se uma pessoa tocar a nota dó no movendo ondas de pressão que ao atingirem o ou-
piano e ao mesmo tempo outra pessoa tocar a nota vido humano, são interpretados como sons audíveis.
dó no violino, ambas com a mesma força os dois sons Porém, à medida que a frequência das vibrações
terão a mesma altura (frequência) e a mesma inten- aumenta, a amplitude das vibrações vai se reduzin-
sidade. Mesmo sem ver os instrumentos, o ouvinte da do. Para gerar sons de alta-frequência e ultrassons
94 outra sala saberá distinguir facilmente um som de ou- geralmente são utilizados cerâmicas ou cristais pie-
zoelétricos, os quais produzem oscilações mecânicas
tro, porque cada instrumento tem seu som caracteri-
em resposta a impulsos elétricos.
zado, ou seja, seu timbre.
Podemos afirmar, portanto, que timbre é a qua-
A óptica é um ramo da Física que estuda a luz
lidade que nos permite perceber a diferença entre
ou, mais amplamente, a radiação eletromagnética,
dois sons de mesma altura e intensidade produzidos
visível ou não. A óptica explica os fenômenos de re-
por fontes sonoras diferentes.
flexão, refração e difração, a interação entre a luz e
o meio, entre outras coisas. Geralmente, a disciplina
INFRA-SOM E ULTRASSOM.
estuda fenômenos envolvendo a luz visível, infraver-
melha, e ultravioleta; entretanto, uma vez que a luz
Infrassons são ondas sonoras extremamente
é uma onda eletromagnética, fenômenos análogos
graves, com frequências abaixo dos 20 Hz, portanto
acontecem com os raios X, microondas, ondas de rá-
abaixo da faixa audível do ouvido humano que é de dio, e outras formas de radiação eletromagnética. A
20 Hz a 20.000 Hz. óptica, nesse caso, pode se enquadrar como uma
Ondas infrassônicas podem se propagar por lon- subdisciplina do eletromagnetismo. Alguns fenôme-
gas distâncias, pois são menos sujeitas às perturba- nos ópticos dependem da natureza da luz e, nesse
ções ou interferências que as de frequências mais caso, a óptica se relaciona com a mecânica quân-
altas. tica.
Infrassons podem ser produzidos pelo vento e por Segundo o modelo para a luz utilizada, distingue-
alguns tipos de terremotos. Os elefantes são capazes -se entre os seguintes ramos, por ordem crescente de
de emitir infrassons que podem ser detectados a uma precisão (cada ramo utiliza um modelo simplificado
distância de 2 km. do empregado pela seguinte):
É comprovado que os tigres têm a mais forte - Óptica geométrica: Trata a luz como um con-
capacidade de identificar infrassons. Seu rugido junto de raios que cumprem o princípio de Fermat.
emite ondas infrassônicas tão poderosas que são Utiliza-se no estudo da transmissão da luz por meios
capazes de paralisar suas presas e até pessoas. Há homogêneos (lentes, espelhos), a reflexão e a refra-
mais de 50 anos é estudada uma forma de usar o ção.
- Óptica ondulatória: Considera a luz como uma legítimo utilizar a óptica geométrica para explicar a
onda plana, tendo em conta sua frequência e com- refração mas não a difração. Todos os três princípios
primento de onda. Utiliza-se para o estudo da difra- podem ser derivados do Princípio de Fermat, de Pier-
ção e interferência. re de Fermat, que diz que quando a luz vai de um
- Óptica eletromagnética: Considera a luz como ponto a outro, ela segue a trajetória que minimiza o
uma onda eletromagnética, explicando assim a re- tempo do percurso (tal princípio foi utilizado por Ber-
flexão e transmissão, e os fenômenos de polarização noulli para resolver o problema da braquistócrona.
e anisotrópicos. Note a semelhança entre os enunciados do princípio
- Óptica quântica ou óptica física: Estudo quânti- e do problema).
co da interação entre as ondas eletromagnéticas e a A óptica geométrica fundamentalmente estu-
matéria, no que a dualidade onda-corpúsculo joga da o fenômeno da reflexão luminosa e o fenômeno
um papel crucial. da refração luminosa. O primeiro fenômeno tem sua
máxima expressão no estudo dos espelhos, enquan-
Conceitos e propriedades ópticas, princípios da to que o segundo, tem nas lentes o mesmo papel.
óptica geométrica, reflexão e refração da luz, diop- Durante sua propagação no espaço, a onda pro-
tros planos. picia fenômenos que acontecem naturalmente e
frequentemente. O conhecimento dos fenômenos
A Óptica Geométrica ocupa-se de estudar a ondulatórios culminou em várias pesquisas de impor-
propagação da luz com base em alguns postulados tantes cientistas, como Christiaan Huygens e Thomas
simples e sem grandes preocupações com sua natu- Young, estes defendiam que a luz tinha caracterís-
reza, se ondulatória ou particular. ticas ondulatórias e não corpusculares como Isaac
Newton acreditava, isso foi possível mediante a uma
Princípios importante experiência feita por Young, a da “Dupla
fenda”, baseada no fenômeno de interferência e di-
Os princípios em que se baseia a Óptica Geo- fração (veja a figura Fig.1), inerente às ondas. Mais
métrica são três: Propagação Retilínea da Luz: Em tarde, um outro cientista célebre chamado Heinrich
um meio homogêneo e transparente a luz se propa- Rudolf Hertz, runescape fotoelétrico que foi muito
ga em linha reta. Cada uma dessas “retas de luz” é bem entendido e explicado pelo físico Albert Einstein,
chamada de raio de luz. Independência dos Raios o que lhe rendeu o Nobel de Física. Essa contradição 95
de Luz: Quando dois raios de luz se cruzam, um não permitiu à luz ter caráter dualista, ou seja, ora se com-
interfere na trajetória do outro, cada um se compor- porta como onda ora como partícula. Outro exem-
tando como se o outro não existisse. Reversibilidade plo importante foi o de Gauss, no campo da óptica,
dos Raios de Luz: Se revertermos o sentido de propa- com suas descobertas e teorias sobre a reflexão da
gação de um raio de luz ele continua a percorrer a luz em espelhos esféricos e criador das fórmulas que
mesma trajetória, em sentido contrário. permite calcular a altura e distancia de uma imagem
O princípio da propagação retilínea da luz pode do espelho com relação ao objeto.
ser verificado no fato de que, por exemplo, um ob-
jeto quadrado projeta sobre uma superfície plana, Reflexão
uma sombra também quadrada. O princípio da in-
dependência pode ser observado, por exemplo, em Há muitos séculos, curiosos gregos como He-
peças de teatro no momento que holofotes específi- ron de Alexandria tentavam desvendar os mistérios
cos iluminam determinados atores no palco. Mesmo da natureza, em especial a ele a reflexão luminosa.
que os atores troquem suas posições nos palcos e os Atualmente os conhecimentos adquiridos sobre este
feixes de luz sejam obrigados a se cruzar, ainda sim os campo culminaram, em parte, na contemporânea
atores serão iluminados da mesma forma, até mes- mecânica quântica, cientistas como Niels Bohr (com
mo, por luzes de cores diferentes. O terceiro princípio seu modelo atômico mais complexo) perpassaram
pode ser verificado por exemplo na situação em que por estudos na área da reflexão, quando um de seus
um motorista de táxi e seu passageiro, este último no postulados dizia que fótons poderiam interagir com
banco de trás, conversam, um olhando para o outro os elétrons da camada mais exterior da eletrosfera
através do espelho central retrovisor. de um átomo, excitando-os e proporcionando-os a
O domínio de validade da óptica geométrica estes os chamados saltos quânticos que resultariam
é o de a escala em estudo ser muito maior do que na “devolução” da radiação(pacote destes fótons)
o comprimento de onda da luz considerada e em incidente. A reflexão, no entanto, não vale só para as
que as fases das diversas fontes luminosas não têm ondas luminosas e sim para todas as ondas, ou seja,
qualquer correlação entre si. Assim, por exemplo é acústica, do mar, etc. Tomando como exemplo on-
das originadas de inúmeras perturbações superficiais entre duas cristas ambas aumentam sua amplitude.
(pulsos) periódicas em um balde largo e comprido Quando dois vales se encontram sua amplitude é
de água inerte (parada), percebe-se que as ondas igualmente aumentada e os dois abaixam naquele
se propagam no meio “batem” nas paredes do reci- ponto. Quando um vale e uma crista encontram-se,
piente e “voltam” sem sofrerem perdas consideráveis ambos irão querer puxar cada elevação para o seu
de energia, esse fenômeno é chamado de reflexão. lado. Se as amplitudes forem iguais elas se cancelam
Os estudos do grego Alexandria resultaram na con- (a=0). Se as amplitudes foram diferentes elas se
clusão de que as ondas luminosas, natureza de onda subtraem.
estudada por ele, incidiam sobre um espelho e eram
refletidas, e ainda que o ângulo de incidência é igual Polarização
ao de reflexão. Esta teoria, aceita até os dias atuais,
é valida para todas as naturezas de onda, com ex- A polarização é um fenômeno que pode ocor-
ceção à acústica, por se propagar em todas as dire- rer apenas com ondas transversais, aquelas em que
ções (tridimensional). a direção de vibração é perpendicular à de propa-
gação, como a produzida em uma corda esticada.
Refração A onda é chamada polarizada quando a vibração
ocorre em uma única direção. Polarizar uma onda
Propagando-se numa corda de menor densida- significa orientá-la em uma única direção ou plano.
de, quando um pulso passa para outra de maior den-
sidade, está sofrendo uma refração. Dioptro
Interferência
A fórmula que determina esta distância é: - Tanto lentes de bordas finas como de bordas
espessas podem ser convergentes, dependendo do
seu índice de refração em relação ao do meio ex-
terno.
- O caso mais comum é o que a lente tem índice
de refração maior que o índice de refração do meio
Prisma externo. Nesse caso, um exemplo de lente com com-
portamento convergente é o de uma lente biconve-
Um prisma é um sólido geométrico formado por xa (com bordas finas):
uma face superior e uma face inferior paralelas e
congruentes (também chamadas de bases) ligadas
por arestas. As laterais de um prisma são paralelogra-
mos. No entanto, para o contexto da óptica, é cha-
mado prisma o elemento óptico transparente com
superfícies retas e polidas que é capaz de refratar a
luz nele incidida. O formato mais usual de um prisma
óptico é o de pirâmide com base quadrangular e la-
dos triangulares.
97
A aplicação usual dos prismas ópticos é seu uso
para separar a luz branca policromática nas sete
cores monocromáticas do espectro visível, além de
que, em algumas situações poder refletir tais luzes.
Lentes esféricas divergentes
Funcionamento do prisma
Em uma lente esférica com comportamento di-
Quando a luz branca incide sobre a superfície do
vergente, a luz que incide paralelamente entre si é
prima, sua velocidade é alterada, no entanto, cada
refratada, tomando direções que divergem a partir
cor da luz branca tem um índice de refração diferen-
de um único ponto. Tanto lentes de bordas espessas
te, e logo ângulos de refração diferentes, chegando
à outra extremidade do prima separadas. como de bordas finas podem ser divergentes, de-
pendendo do seu índice de refração em relação ao
Tipos de prismas do meio externo. O caso mais comum é o que a lente
tem índice de refração maior que o índice de refra-
- Prismas dispersivos são usados para separar a luz ção do meio externo. Nesse caso, um exemplo de
em suas cores de espectro. lente com comportamento divergente é o de uma
- Prismas refletivos são usados para refletir a luz. lente bicôncava (com bordas espessas):
- Prismas polarizados podem dividir o feixe de luz
em componentes de variadas polaridades.
Já o caso menos comum ocorre quando a lente tem menor índice de refração que o meio. Nesse caso,
um exemplo de lente com comportamento divergente é o de uma lente biconvexa (com bordas finas):
Na Física, o estudo do comportamento dos raios luminosos em relação ao globo ocular é conhecido
como óptica da visão. Para entender a óptica da visão será necessário estudar, anteriormente, a estrutura
do olho humano.
Nossos olhos são constituídos de vários meios transparentes que levam os raios luminosos até a retina
(onde formam-se as imagens).
Observe a figura abaixo:
98
Na óptica da visão é importante entender a função das partes mais importantes na formação de ima-
gens no globo ocular. Vamos ver estas partes e suas funções:
A pupila funciona como um diafragma, controlando a quantidade de luz que penetra no olho.
A retina é a parte do olho sensível à luz. É nesta região que se formam as imagens.
Para que o olho consiga formar uma imagem com nitidez, um objeto é focalizado variando-se a forma do
cristalino. Essa variação da distância focal do cristalino é feita pelos músculos ciliares, através de uma maior
ou menor compressão destes sobre o cristalino. Esse processo é chamado de acomodação visual.
O sistema óptico do globo ocular forma uma ima- Neste caso, o foco da imagem será encontrado
gem real e invertida no fundo do olho, mais precisa- 14,1mm distante da lente.
mente na retina. Como esta região é sensível à luz, as
informações luminosas são transformadas em sinais Ponto remoto
elétricos que escoam pelo nervo óptico até o centro
da visão (região do cérebro). O cérebro trata de de- Quanto a distância infinita, corresponde ao pon-
codificar estes sinais elétricos e nos mostrar a imagem to remoto, que a distância máxima alcançada para
do objeto focalizado. uma imagem focada. Nesta situação os músculos ci-
lires encontram-se totalmente relaxados.
Adaptação visual Da mesma forma que para o ponto próximo, po-
demos utilizar a equação de Gauss, para determinar
Chama-se adaptação visual a capacidade o foco da imagem.
apresentada pela pupila de se adequar a luminosi-
dade de cada ambiente, comprimindo-se ou dila-
tando-se. Em ambientes com grande luminosidade a
pupila pode atingir um diâmetro de até 1,5mm, fa-
zendo com que entre menos luz no globo ocular, pro-
tegendo a retina de um possível ofuscamento. Já em
ambientes mais escuros, a pupila se dilata, atingindo No entanto, é um valor indeterminado, mas se
diâmetro de até 10mm. Assim a incidência de lumi-
nosidade aumenta no globo ocular, possibilitando a pensarmos que infinito corresponde a um valor muito
visão em tais ambientes. alto, veremos que esta divisão resultará em um valor
muito pequeno, podendo ser desprezado. Assim,
Acomodação visual teremos que:
A primeira distância (25cm) corresponde ao pon- Ilusão de óptica são imagens que enganam mo-
to próximo, que é a mínima distância que um pes- mentaneamente o cérebro deixando o inconsciente
soa pode enxergar corretamente. O que caracteriza confuso e fazendo com que este capte ideias falsas,
esta situação é que os músculos ciliares encontram- preenchendo espaços que não ficam claros à pri-
-se totalmente contraídos. meira vista. Podem ser fisiológicas quando surgem
Neste caso, pela equação de Gauss: naturalmente ou cognitivas quando se cria com ar-
tifícios visuais.
Uma das mais famosas imagens, que causa ilusão
de óptica, foi criada em 1915 pelo cartunista W. E. Hill.
Nesta figura duas imagens podem ser vistas. Uma é
uma garota, posicionada de perfil olhando para lon-
Considerando o olho com distância entre a lente ge, a outra é o rosto de uma senhora idosa que olha
e a retina de 15mm, ou seja, p’=15mm: para o chão.
100
A
Termologia ou Termofísica é a parte da Físi- Medida de Temperatura
ca que estuda o calor. Os fenômenos são
interpretados a partir de modelos da es- Quando a temperatura de um corpo muda, al-
trutura da matéria, sob dois pontos de vista distintos, gumas propriedades desse corpo se modificam. Por
porém complementares: o macroscópico (tempera- exemplo:
tura, energia interna e pressão) e o microscópico (ve-
- Quando aquecemos um líquido, o volume deste
locidade e energia cinética de átomos e moléculas).
Veremos a explanação deste assunto nos próximos aumenta.
tópicos. - Quando aquecemos uma barra de metal, o
comprimento desta barra aumenta.
TERMOMETRIA: CONCEITOS DE - Quando aquecemos um fio elétrico, a resistên- 101
TERMOMETRIA, TEMPERATURA, UNIDADES DE cia deste aumenta.
MEDIDAS TÉRMICAS, TERMÔMETROS, ESCALAS - Quando aquecemos um gás confinado, a pres-
TERMOMÉTRICAS E SUAS CONVERSÕES. são deste gás aumenta.
Termometria é a parte da termologia voltada
para o estudo da Temperatura, dos Termômetros e Podemos usar estas propriedades para criar uma
das Escalas termométricas. Apenas com o nosso tato, ferramenta capaz de medir a temperatura de um
é possível perceber se um objeto está mais quente corpo, colocando um destes tipos de material em
ou mais frio que outro corpo tomado como referên- contato com o corpo. O nome desta ferramenta
cia. Essa noção de quente e frio está intimamente usada para medir a temperatura de um corpo é Ter-
relacionada com o grau de agitação das partículas mômetro.
constituintes do corpo. Essa grandeza física que nos Existem vários tipos de termômetros que usam di-
permite dizer se algo está quente ou esquentando,
versas propriedades físicas da matéria para medir a
frio ou esfriando é a Temperatura. Temperatura é a
grandeza escalar que nos permite medir a energia temperatura, por exemplo: Termômetro Clínico, Ter-
cinética média das moléculas de um corpo. mômetro de Cristal Líquido, Termômetro a Álcool, Ter-
mômetro a Gás, Termômetro de Radiação, Pirômetro
Equilíbrio Térmico Óptico, Termômetro Digital, entre outros. O tipo mais
comum de termômetro que existe é o termômetro de
Quando corpos de diferentes temperaturas são mercúrio, que consiste em um bulbo (recipiente) liga-
colocados em contato um com os outros, se não do a um tubo capilar. No interior deste bulbo, existe
houver influência do meio externo, estes passarão
uma certa quantidade de mercúrio. Quando colo-
a ter a mesma temperatura final. Ou seja, quando
colocamos dois corpos em contato (isolados das in- camos este termômetro em contato com um corpo
fluências do meio externo) com diferentes tempera- mais quente, o mercúrio vai se aquecer e dilatar, en-
turas iniciais, após um certo intervalo de tempo, eles tão a altura de mercúrio no tubo capilar vai aumen-
atingirão o equilíbrio térmico e possuirão uma mesma tar até parar, quando o mercúrio entra em equilíbrio
temperatura final. térmico com o corpo.
Cada altura da coluna de mercúrio no tubo capilar corresponde a uma temperatura. Para determinar a
escala de temperatura, colocamos o termômetro na água e gelo em equilíbrio térmico (sempre à pressão
de 1 atm), esperamos o mercúrio entrar em equilíbrio térmico com o gelo em fusão, então o mercúrio pára.
Chamamos este ponto, onde o mercúrio se estabilizou de Primeiro Ponto Fixo Fundamental. Depois coloca-
mos o termômetro em contato com água em ebulição, quando o mercúrio entrar em equilíbrio térmico com
a água e vapor, marcamos o Segundo Ponto Fixo Fundamental. Entre estes pontos, dividimos a altura do
tubo capilar em partes iguais, montando assim, uma escala termométrica, onde cada altura corresponderá
a uma temperatura.
Escalas Termométricas
Existem várias escalas termométricas, que foram criadas por vários cientistas em situações diferentes. Mas
existem três escalas que são as mais utilizadas:
Escala Celsius - É uma escala usada na maioria dos países de opção para uso popular, anteriormente
chamada de escala centígrada. Esta escala foi apresentada a 1742, pelo astrônomo sueco Anders Celsius
(1701-1744). O intervalo entre os Pontos Fixos Fundamentais desta escala é dividido em 100 partes iguais,
cada um valendo 1 °C (um grau Celsius). O primeiro ponto fixo fundamental, chamado de ponto de fusão
do gelo a 1 atm, corresponde ao valor de 0 °C e o segundo ponto fixo fundamental, chamado de ponto de
ebulição da água a 1 atm, corresponde ao valor de 100 °C.
Escala Fahrenheit - É uma escala utilizada nos países de língua inglesa. Esta escala foi apresentada a 1727,
pelo físico alemão Gabriel Daniel Fahrenheit (1686-1736). O intervalo entre os pontos fixos fundamentais desta
escala é dividido em 180 partes iguais. O ponto de fusão do gelo corresponde a 32 °F (trinta e dois graus Fa-
hrenheit) e o ponto de ebulição da água corresponde a 212 °F (ambos a pressão de 1 atm).
0°C = 32°F
100°C = 212°F
102
Escala Kelvin - é conhecida como escala absoluta, usada no meio científico. Esta escala foi inventada
pelo engenheiro, matemático e fisco britânico William Thomson Kelvin (Lord Kelvin, 1824-1907). Nesta escala,
o ponto de fusão do gelo corresponde a 273 K (duzentos e setenta e três kelvins) e o ponto de ebulição da
água corresponde a 373 K (ambos a pressão de 1 atm). A escala Kelvin não apresenta a notação em graus.
Esta escala é absoluta porque tem origem na temperatura zero absoluto, ou seja, a menor temperatura que
existe é o zero absoluto (0 K). Já que a temperatura está relacionada com o grau de agitação das molécu-
las, o zero absoluto seria o valor de temperatura que um corpo não possuiria nenhuma agitação molecular.
-273,15°C = 0K
0°C = 273,15K
100°C = 373,15K
Conversão de Escalas
Mudanças de estado físico, dilatação dos corpos, calor latente, trabalho a pressão constante, transmissão
de calor, condução, convecção, erradiação, regime estacionário, coeficiente de condutividade térmica. O
diagrama a seguir mostra as mudanças de estado, com os nomes particulares que cada uma delas recebe.
Como citado anteriormente, dois fatores são importantes nas mudanças de estado das substâncias: tem-
peratura e pressão.
Influência da temperatura
A vaporização, que é a passagem do estado líquido para o gasoso, pode ocorrer de três modos: evapo-
ração, ebulição e calefação.
A evaporação acontece com líquidos a qualquer temperatura. É o caso, por exemplo, da água líquida
colocada em um prato que após algum tempo desaparece, ou seja, transforma-se em vapor e mistura-se à
atmosfera.
Já a calefação é um processo rápido de vaporização, que ocorre quando há um aumento violento de
temperatura. É o que acontece quando colocamos água em pequenas quantidades em uma frigideira bem
quente. Ela vaporiza de modo brusco, quase instantâneo.
A ebulição é a vaporização que acontece a uma determinada temperatura.
Se colocarmos água para esquentar, notaremos que quando sua temperatura chega a 100ºC, ela ferve,
entrando em ebulição. Isso acontece ao nível do mar, onde a pressão exercida pelo ar (pressão atmosférica)
corresponde a uma atmosfera - 1 atm. A essa temperatura damos o nome de ponto (ou temperatura) de
ebulição.
A temperatura em que ocorre a ebulição, acontece também a condensação. Assim, se for resfriado, o
vapor d’água começa a transformar-se em água no estado líquido a partir de 100ºC. 103
Ainda ao nível do mar, se resfriarmos água no estado líquido, notaremos que ela se solidifica a 0ºC. A essa
temperatura damos o nome de ponto (ou temperatura) de solidificação.
O contrário da solidificação, a fusão, também ocorre a essa temperatura, chamada de ponto (ou tem-
peratura) de fusão.
De modo geral, cada substância apresenta um ponto de fusão (ou de solidificação) e um ponto de ebu-
lição (ou de condensação) específico.
Influência da pressão
Além da temperatura, a pressão também influi na mudança de estado. Note que até agora falamos em
ponto de fusão e ponto de ebulição ao nível do mar.
Quanto menor a pressão exercida sobre a superfície de um líquido, mais fácil é a vaporização, pois as
moléculas do líquido encontram menor resistência para aandoná-lo e transformar-se em vapor.
Vejamos, por exemplo, o caso da água. Ao nível do mar, a pressão exercida pelo ar é, como já dito an-
teriormente, de 1 atmosfera. A água ferve então a 100ºC. Já na cidade de São Paulo, por exemplo, que está
a uma altitude maior, a pressão atmosférica é menor, e a água ferve a cerda de 98ºC.
O mesmo efeito notamos na fusão. Uma alteração na pressão atmosférica modifica o ponto de fusão das
substâncias. Uma diminuição na pressão atmosférica costuma provocar também uma diminuição no ponto
de fusão.
Com relação à fusão, no entanto, a água é uma exceção a essa regra. Para essa substância, um aumen-
to na pressão provoca uma diminuição do seu ponto de fusão.
Um caso curioso acontece na Lua. Lá não existe ar e, portanto, a pressão atmosférica é nula. Se levarmos
até lá um bloco de gelo e colocarmos ao sol para derreter, observaremos uma sublimação, isto é, a passa-
gem direta da água do estádo sólido para o estado gasoso.
Como se explica esse fato? um corpo provoca mudança de fase. Estas mudan-
ças ocorrem com uma substância recebendo deno-
Acontece que a ausência de pressão impede minações como:
que lá exista água no estado líquido. A falta de for- - fusão - passagem de sólido para líquido
ças de pressão faria a água ferver, mesmo estando a - solidificação - passagem de líquido para sólido
qualquer temperatura. - vaporização - passagem de líquido para gás
- condensação (ou liquefação) - passagem de
Dilatação dos Sólidos gás para líquido
- sublimação - passagem direta de sólido para
Todos os corpos sólidos, líquidos ou gasosos, se di- gás ou para sólido (sem passar para o estado líqui-
latam quando a temperatura aumenta. Quando a do).
temperatura do sólido é aumentada, aumentando a
agitação de seus átomos, que ao vibrar afastam-se Fusão - a energia recebida pelo sólido provoca
mais da posição de equilíbrio. aumento na agitação dos átomos na rede cristalina
A dilatação também influi na densidade das subs- provocando um aumento na temperatura do corpo.
tâncias. Quando a temperatura do corpo cresce seu Atingindo um certo grau de intensidade sendo sufi-
volume aumenta e como sua massa não varia sua ciente para desfazer a rede cristalina.
densidade diminui. A variação de densidade causa
a formação dos ventos. Leis da Fusão
na temperatura de ebulição, dificultando a vaporiza- Nos líquidos e nos gases, a condução térmica é
ção. A diminuição de pressão abaixa a temperatura baixa. Por esse motivo é que os gases são utilizados
da ebulição. como isolantes térmicos.
Transmissão de Calor
105
Unidades
Calor Específico:
Q = 300 Δθ = 30ºC m = 50g
Q = m.c.Δθ 300 = 50.c.30 300 = 1500.c c = 0,2
cal/g.ºC
Lei de Charles (1ª Lei de Gay-Lussac) corpos atingem a mesma temperatura, o fluxo de ca-
lórico era interrompido e eles permanecem em equi-
Na transformação isobárica de uma dada massa líbrio térmico.
gasosa, o volume é diretamente proporcional à tem- A energia transferida de um corpo para outro em
peratura absoluta. virtude de uma diferença de temperatura entre eles
é calor. O termo calor é empregado para designar a
energia em trânsito, enquanto está sendo transferida
de um corpo para outro por causa da diferença de
temperatura. Se um corpo está com a temperatura
mais elevada do que outro, ele pode transferir parte
dela para outro. Mesmo recebendo outra forma de
energia , a energia interna de um corpo pode au-
mentar sem que o corpo receba calor. O aumento
da energia interna, ocorre pelo fato da energia me-
cânica transferida à água.
Transferência de Calor
A transmissão de calor é denominado condução.
A maior parte do calor é transferido através dos cor-
pos sólidos é transmitida de um ponto para outro por
condução. Se a temperatura do ambiente for baixa,
esta transmissão se faz com maior rapidez
A transferência de calor nos líquidos e gases po-
dem ser feitas por condução, mas é pelo processo
Lei de Charles (2ª Lei de Gay-Lussac) de convecção que responsável pela maior parte de
calor transferido através dos fluidos.
Na transformação isométrica (isocórica) de uma
dada massa gasosa, a pressão é diretamente pro- Capacidade Térmica de Calor Específico
porcional à temperatura absoluta. Quando se fornece a mesma quantidade de 109
calor a um outro corpo, verificamos a elevação de
temperatura diferente. Este processo e definido por
capacidade térmica.
O calor específico da água é maior que os calo-
res específicos de quase todas as substâncias.
geralmente troca energia com a sua vizinhança. Assim temos enunciada a primeira lei da termo-
Com isso a energia sofre variações passando de va- dinâmica: a variação de energia interna ΔU de um
lor inicial para valor final. sistema é igual a diferença entre o calor Q trocado
com o meio externo e o trabalho t por ele realizado
Transformações Adiabáticas durante uma transformação.
Quando um gás se expande ele não pode ce- Aplicando a lei de conservação da energia, te-
der nem receber calor da vizinhança. Uma trans- mos:
formação em que o sistema não troca calor com ΔU= Q – t à Q = ΔU + t
a vizinhança. Se a transformação é muito rápida, a
quantidade de calor que o sistema poderá ceder ou * Q à Quantidade de calor trocado com o meio:
absorver é muito pequena. Q > 0 à o sistema recebe calor;
Q < 0 à o sistema perde calor.
Transformações Isotérmicas
Se o trabalho que o gás realiza for igual ao calor * ΔU à Variação da energia interna do gás:
que ele absorve. A energia interna permanece cons- ΔU > 0 à a energia interna aumenta, portanto,
tante indicando que a temperatura não sofreu alte- sua temperatura aumenta;
rações, assim o gás se expandiu isotermicamente, re- ΔU < 0 à a energia interna diminui, portanto, sua
cebendo uma quantidade de calor igual ao trabalho temperatura diminui.
realizado na expansão.
* t à Energia que o gás troca com o meio sob a
Calor Absorvido por um Gás forma de trabalho:
Quando massas iguais de um mesmo gás é aque- t > 0 à o gás fornece energia ao meio, portanto,
cido uma dela o volume é constante e na outra a o volume aumenta;
pressão é constante. Para as duas a mesma eleva- t < 0 à o gás recebe energia do meio, portanto, o
ção de temperatura, a quantidade de calor que for- volume diminui.
necemos a pressão constante é maior do que aque-
la que devemos fornecer a volume constante.
Termodinâmica é a área da física que estuda
a transformação de energia térmica em energia
110 Calorímetro
mecânica ou vice-versa. Um fato importante de
Calorímetro é um aparelho usado na medida do
falarmos nesse tema, é que está intimamente ligado
calor trocado entre corpos, podendo obter como
ao trabalho de uma força, bem como a temperatura,
resultado dessa medida, o calor específico de uma
volume e energia interna de um gás perfeito.
substância qualquer. quando um ou mais corpos são
No estudo da termodinâmica temos que, para
colocados no interior de um calorímetro, sendo suas
um determinado gás, podemos calcular o trabalho
temperaturas diferentes da temperatura dos corpos
da força exercida por ele. Para isso, vamos imaginar
existentes, havendo assim troca de calor entre eles
um vaso com um êmbolo móvel na parte superior
alcançando assim o equilíbrio térmico.
(uma seringa, por exemplo), de forma que este possa
A primeira lei da termodinâmica nada mais é que
o princípio da conservação de energia e, apesar de se mover sempre que necessário.
ser estudado para os gases, pode ser aplicado em Quando aplicamos uma força F sobre o embolo
quaisquer processos em que a energia de um sistema esta pode ser expressa pela equação F = P . A, onde
é trocado com o meio externo na forma de calor e P é a pressão exercida sobre a área de contato (A).
trabalho. Sobre o trabalho de uma força, sabemos que ele é
Quando fornecemos a um sistema certa quanti- descrito pelo produto entre a força e a variação do
dade de energia Q, esta energia pode ser usada de espaço promovida pelo mesmo, logo temos que,
duas maneiras:
1. Uma parte da energia pode ser usada para o
sistema realizar um trabalho (t), expandindo-se ou
contraindo-se, ou também pode acontecer de o sis-
tema não alterar seu volume (t = 0);
2. A outra parte pode ser absorvida pelo sistema,
virando energia interna, ou seja, essa outra parte de
energia é igual à variação de energia (ΔU) do siste- Porém temos que
ma. Se a variação de energia for zero (ΔU = 0) o sis-
tema utilizou toda a energia em forma de trabalho. Portanto:
ΔU= Q – t
Podemos também, calcular o trabalho através Para a lâmpada incandescente de 40W, temos:
da área do gráfico expresso no plano P x Δv, confor-
me a figura.
QUESTÕES
Portanto:
QUESTÃO 01
A eficiência das lâmpadas pode ser comparada b) FALSA. Lâmpada fluorescente de 40W:
utilizando a razão, considerada linear, entre a quan-
tidade de luz produzida e o consumo. A quantidade
de luz é medida pelo fluxo luminoso, cuja unidade é
o lúmen (lm). O consumo está relacionado à potên-
cia elétrica da lâmpada que é medida em watt (W).
Por exemplo, uma lâmpada incandescente de 40W c) VERDADEIRA. Lâmpada de 8W:
emite cerca de 600 lm, enquanto uma lâmpada fluo-
rescente de 40 W emite cerca de 3000 lm.
Disponível em http://tecnologia.terra.com..br. Acesso em:
29 fev. de 2012 (adaptado).
RESOLUÇÃO: ALTERNATIVA C.
Por definição, a eficiência ε é a razão entre a
quantidade de luz produzida Q e a energia elétrica
ε1< ε3, embora consumam a mesma quantidade
consumida E.
de energia elétrica.
QUESTÃO 02
Em um dia de chuva muito forte, constatou-se
uma goteira sobre o centro de uma piscina cober-
A energia elétrica consumida é o produto da po-
ta, formando um padrão de ondas circulares. Nessa
tência da lâmpada pelo tempo de utilização Δt, que
situação, observou-se que caíam duas gotas a cada
vai ser suposto o mesmo para a comparação das efi-
segundo. A distância entre duas cristas consecutivas
ciências.
era de 25 cm e cada uma delas se aproximava da
borda da piscina com velocidade de 1,0 m/s.
Após algum tempo a chuva diminuiu e a goteira
passou a cair uma vez por segundo.
Com a diminuição da chuva, a distância entre as ca que o trajeto apresenta dois trechos de distâncias
cristas e a velocidade de propagação da onda se diferentes e velocidades máximas permitidas diferen-
tornaram, respectivamente, tes. No primeiro trecho, a velocidade máxima permi-
a) maior que 25 cm e maior 1,0 m/s. tida é de 80 km/h e a distância a ser percorrida é de
b) maior que 25 cm e igual a 1,0 m/s. 80 km. No segundo trecho, cujo comprimento vale 60
c) menor que 25 cm e menor que 1,0 m/s. km, a velocidade máxima permitida é 120 km/h.
d) menor que 25 cm e igual a 1,0 m/s. Supondo que as condições de trânsito sejam fa-
e) igual a 25 cm e igual a 1,0 m/s. voráveis para que o veículo da empresa ande con-
tinuamente na velocidade máxima permitida, qual
RESOLUÇÃO: ALTERNATIVA B. será o tempo necessário, em horas, para a realiza-
Supondo-se que a profundidade da piscina seja ção da entrega?
constante, a velocidade de propagação da onda a) 0,7
permanece constante e seu módulo continua igual b) 1,4
a 1,0m/s. c) 1,5
Como a frequência da onda diminuiu, o compri- d) 2,0
mento de onda deverá aumentar, ficando maior que e) 3,0
o comprimento de onda inicial de 25cm.
RESOLUÇÃO: ALTERNATIVA C.
V = λ f = constante Com o veículo movimentando-se sempre com a
f diminui ⇔ λ aumenta velocidade máxima em cada trajeto, temos:
O
átomo é a menor partícula que ainda cos (a água escoa facilmente).
caracteriza um elemento químico. Ele - Terra: formada por átomos cúbicos (a terra é es- 113
apresenta um núcleo com carga positi- tável e sólida).
va (Z é a quantidade de prótons e “E” a carga ele- - Ar: formado por átomos em movimento turbilho-
mentar) que apresenta quase toda sua massa (mais nantes (o ar se movimenta - ventos).
que 99,9%) e Z elétrons determinando o seu tama- - Fogo: formado por átomos pontiagudos (o fogo
nho. Até fins do século XIX, era considerado a menor fere).
porção em que se poderia dividir a matéria. Mas nas - Alma: formada pelos átomos mais lisos, mais de-
duas últimas décadas daquele século, as descober- licados e mais ativos que existem.
tas do próton e do elétron revelaram o equívoco - Respiração: era considerada troca de átomos,
dessa ideia. Posteriormente, o reconhecimento do em que átomos novos substituem átomos usados.
nêutron e de outras partículas subatômicas reforçou - Sono: desprendimento de pequeno número de
átomos do corpo.
a necessidade de revisão do conceito de átomo.
- Coma: desprendimento de médio número de
átomos do corpo.
Os atomistas na antiga Grécia
- Morte: desprendimento de todos os átomos do
corpo e da alma.
Os atomistas, encabeçados por Demócrito e
pelo seu professor Leucipo, pensavam que a matéria Os fundamentos de Demócrito para os átomos fo-
era constituída por partículas minúsculas e invisíveis, ram tomando corpo com o passar do tempo. Epicuro
os átomos (A-tomo),”Sem divisão”. Achavam eles (341 a.C. - aproximadamente 270 a.C.) complemen-
que se dividíssemos e voltássemos a dividir, alguma tou suas ideias ao sugerir que haveria um limite para
vez o processo havia de parar. Para Demócrito, a o tamanho dos átomos, justificando assim, a razão de
grande variedade de materiais na natureza provi- serem invisíveis.Mas, ainda assim, a teoria mais defen-
nha dos movimentos dos diferentes tipos de átomos dida era a de Aristóteles que acreditava que a maté-
que, ao se chocarem, formavam conjuntos maiores ria seria constituída de elementos da natureza como
gerando diferentes corpos com características pró- fogo, água, terra e ar que misturados em diferentes
prias. Algumas ideias de Demócrito sobre os átomos: proporções, resultariam em propriedades físico-quími-
cas diferentes.
Estrutura Se o núcleo de um átomo fosse do ta- Principais características das partículas funda-
manho de um limão com um raio de 3 cm, os elétrons mentais
mais afastados estariam cerca de 3 km de distância.
O diâmetro da eletrosfera de um átomo é de 10,000 Massa
a 100,000 vezes maior que o diâmetro de seu núcleo, Determinar a massa de um corpo significa com-
e sua estrutura interna pode ser considerada, para parar a massa deste corpo com outra tomada como
efeitos práticos, oca; pois para encher todo este es- padrão. A unidade de massa tomada como padrão
paço vazio de prótons e nêutrons (ou núcleos) neces- é o grama (g). Mas nós muitas vezes utilizamos o qui-
sitaríamos de um bilhão de milhões de núcleos… lograma, que equivale a 1000 vezes a massa de 1 g.
Os cientistas, por meio de técnicas avançadas, Um exemplo disso é quando se diz que a massa de
já perceberam a complexidade do átomo. Já com- uma pessoa é 45 vezes a massa correspondente à do
provaram a presença de inúmeras partículas em sua quilograma.
constituição e desvendaram o comportamento des- Ou ainda: 45 kg = 45 x 1000 g = 45 000 g
sas partículas. Mas para construir alguns conceitos
que ajudam a entender a química do dia-a-dia, o Como as partículas que constituem o átomo são
modelo de átomo descrito por Rutherford-Bohr é su- extremamente pequenas, uma unidade especial teve
ficiente. Na constituição dos átomos predominam os que ser criada para facilitar a determinação de suas
massas. Essa unidade, denominada unidade de mas-
espaços vazios. O núcleo, extremamente pequeno,
sa atômica, é representada pela letra u.
é constituído por prótons e nêutrons. Em torno dele,
1 u equivale a aproximadamente 1,66 · 10−27 kg.
constituindo a eletrosfera, giram os elétrons.
O átomo de hidrogênio é constituído por um só
As massas do próton e do nêutron são pratica-
próton com um só elétron girando ao seu redor. O mente iguais: medem cerca de 1 unidade de massa
hidrogênio é o único elemento cujo átomo pode não atômica. A massa do elétron é 1836 vezes menor que
possuir nêutrons. a do próton: essa massa é desprezível, porém é errado
O elétron e o próton possuem, respectivamente, dizer que o elétron é desprovido dela.
carga negativa e carga positiva, porém não a mes-
ma massa. O próton é 1836,11 vezes mais massivo Carga elétrica: O elétron é uma partícula dotada
que o elétron. Usando, como exemplo hipotético, de carga elétrica que os cientistas convencionaram
um átomo de vinte prótons e vinte nêutrons em seu chamar de negativa. A sua carga, que foi determina-
núcleo, e este estando em equilíbrio eletrodinâmico, da experimentalmente em 1908, equivale a uma uni-
terá vinte elétrons orbitando em suas camadas exte- dade de carga elétrica (1 ue). A carga do próton é 115
riores. Sua carga elétrica estará em perfeito equilíbrio igual à do elétron, só que de sinal contrário. O próton
eletrodinâmico, porém 99,97% de sua massa encon- tem carga elétrica convencionada como positiva. O
trar-se-á no núcleo. Apesar do núcleo conter prati- nêutron não possui carga elétrica, como o seu nome
camente toda a massa, seu volume em relação ao indica, ele é neutro.
tamanho do átomo e de seus orbitais é minúsculo.
O núcleo atômico mede em torno de (1 fm) um fen- Interação atômica: Se tivermos dois átomos hipo-
tâmetro de diâmetro, enquanto que o átomo mede téticos, cuja carga elétrica seja neutra, presume-se
cerca de (100 pm) cem picometros. que estes não se afetarão mutuamente por causa da
Considerando os modelos estudados, temos a se- neutralidade da força eletromagnética entre si. A dis-
guinte evolução, desde o modelo de Demócrito, até tribuição de cargas no átomo se dá de forma diversa.
chegar ao mais aceito atualmente, de nuvem eletrô- A carga negativa é externa, a carga positiva é inter-
nica, onde percebemos a parte mais escura que é na, isto ocorre por que os elétrons orbitam o núcleo.
o núcleo e os elétrons girando em volta. Os elétrons Quando aproximamos dois átomos, mesmo estando
com mais energia permanecem mais afastados do em perfeita neutralidade interna, estes se repelem, se
núcleo. desviam ou ricocheteiam. Exemplo típico ocorre no
elemento hélio (He) onde seus átomos estão em eter-
no movimento de mútuo ricochete. Em temperatura
ambiente, o gás hélio tem no movimento de seus áto-
mos um rápido ricochete. Ao diminuir a temperatura,
o movimento oscilatório diminui, o volume fica menor
e a densidade aumenta. Chegaremos teoricamente
num ponto em que o movimento de ricochete dimi-
nuirá tanto que não se poderá mais retirar energia
deste. A este nível térmico, damos o nome de zero ab-
soluto, este é –273,15 °C.
A
queima de uma vela, a obtenção de ál- Quando mais de um reagente, ou mais de um
cool etílico a partir de açúcar e o enfer- produto, participarem da reação, as fórmulas das
rujamento de um pedaço de ferro são substâncias serão separadas pelo sinal “+ “;
exemplos de transformações onde são formadas - para manter a proporção real de reagentes e
substâncias com propriedades diferentes das subs- produtos, é necessário balancear a equação quími-
tâncias que interagem. Tais transformações são ca, para isso, colocamos antes da fórmula de cada
chamadas reações químicas. As substâncias que um, o número que represente a quantidade de mo-
interagem são chamadas reagentes e as formadas, léculas ou átomos necessários para que a reação
produtos. ocorra. NUNCA devemos mexer nos índices dos áto- 117
No final do século XVIII, estudos experimentais le- mos (número que se encontra subescrito na fórmu-
varam os cientistas da época a concluir que as rea- la), pois isso significaria alterar a fórmula do compos-
ções químicas obedecem a certas leis. Estas leis são to o que está errado.
de dois tipos:
- leis ponderais: tratam das relações entre as Utilizando as regras acima para representar a for-
massas de reagentes e produtos que participam de mação da água temos:
uma reação; - reagentes: hidrogênio e oxigênio; produto:
- leis volumétricas: tratam das relações entre vo- água.
lumes de gases que reagem e são formados numa - fórmulas das substâncias: hidrogênio: H2; oxigê-
reação. nio: 02; água: H20.
- equação: H2 + 02 => H2O.
Equações Químicas - acerto dos coeficientes: a expressão acima
Para representar graficamente as reações quími- indica que uma molécula de hidrogênio (forma-
cas, utilizamos as equações químicas. Estas devem da por dois átomos) reage com uma molécula de
sempre refletir a realidade, ou sejam, devem ser es- oxigênio (formada por dois átomos) para formar
critas segundo critérios que representem reações uma molécula de água (formada por dois átomos
reais. de hidrogênio e um de oxigênio). Vemos, portanto,
Para se escrever uma equação química é neces- que a expressão contraria a lei da conservação dos
sário: átomos (lei da conservação das massas), pois antes
- saber quais substâncias são consumidas (rea-
da reação existiam dois átomos de oxigênio e, ter-
gentes) e quais são formadas (produtos);
minada a reação, existe apenas um. No entanto,
- conhecer as fórmulas dos reagentes e dos pro-
se ocorresse o desaparecimento de algum tipo de
dutos;
átomo a massa dos reagentes deveria ser diferente
- escrever a equação sempre da seguinte forma:
da massa dos produtos, o que não é verificado ex-
reagentes => produtos
perimentalmente.
Como dois átomos de oxigênio (na forma de molécula 02) interagem, é lógico supor que duas moléculas
de água sejam formadas. Mas como duas moléculas de água são formadas por quatro átomos de hidrogênio,
serão necessárias duas moléculas de hidrogênio para fornecer essa quantidade de átomos. Assim sendo, o me-
nor número de moléculas de cada substância que deve participar da reação é: hidrogênio, duas moléculas;
oxigênio, uma molécula; água, duas moléculas.
A equação química que representa a reação é: 2 H2 + 02 => 2 H20 (que é lida da seguinte maneira: duas mo-
léculas de hidrogênio reagem com uma molécula de oxigênio para formar duas moléculas de água.)
Observe que nesta reação o volume do produto (vapor d’água) é menor do que a soma dos volumes dos
reagentes (hidrogênio e oxigênio). Esta é uma reação que ocorre com contração de volume, isto é, o volume
dos produtos é menor que o volume dos reagentes. Existem reações entre gases que ocorrem com expansão
de volume, isto é, o volume dos produtos é maior que o volume dos reagentes, como por exemplo na decom-
posição do gás amônia:
118 amônia => hidrogênio + nitrogênio
2 vol. 3 vol 1 vol.
Em outras reações gasosas o volume se conserva, isto é, os volumes dos reagentes e produtos são iguais. E o
que acontece, por exemplo, na síntese de cloreto de hidrogênio:
hidrogênio + cloro => cloreto de hidrogênio
1 vol. 1 vol. 2 vol.
Hipótese de Avogadro
Em 1811, na tentativa de explicar a lei volumétrica de Gay-Lussac, Amadeo Avogadro propôs que amostras
de gases diferentes, ocupando o mesmo volume e submetidas às mesmas condições de pressão e temperatura,
são formadas pelo mesmo número de moléculas. Tomando-se como exemplo a formação de vapor d’água
(todos os gases submetidos às mesmas condições de pressão e temperatura) temos:
hidrogênio + oxigênio => vapor d’água
dados experimentais 2 vol. 1 vol. 2 vol.
hip. de Avogadro 2a moléc. 1a moléc. 2a moléc.
dividindo por a 2 moléc. 1 moléc. 2 moléc.
ou seja, a relação entre os volumes dos gases que reagem e que são formados numa reação é a mesma
relação entre o número de moléculas participantes. A hipótese de Avogadro também permitiu a previsão das
fórmulas moleculares de algumas substâncias. E o que foi feito, por exemplo, para a substância oxigênio. Como
uma molécula de oxigênio, ao reagir com hidrogênio para formar água, produz o dobro de moléculas de água,
é necessário que ela se divida em duas partes iguais. Portanto, é de se esperar que ela seja formada por um
número par de átomos. Por simplicidade, Avogadro admitiu que a molécula de oxigênio deveria ser formada
por dois átomos. Raciocinando de maneira semelhante ele propôs que a molécula de hidrogênio deveria ser
diatômica e a de água triatômica, formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio.
Estas suposições a respeito da constituição das moléculas de água, oxigênio e hidrogênio concordam com
as observações experimentais acerca dos volumes dessas substâncias que participam da reação.
(2) o oxigênio apresenta número de oxidação igual Em cada processo desse tipo, existe uma relação
a -2, em todas as suas combinações com outros ele- de proporção fixa e única entre as moléculas. Uma
mentos, exceto nos peróxidos, quando esse valor é -1; molécula de oxigênio, por exemplo, se une a duas
(3) o hidrogênio tem número de oxidação +1 em de hidrogênio para formar duas moléculas de água.
todos os seus compostos, exceto aqueles em que se Essa proporção é a mesma para todas as vezes que
combina com os ametais, quando o número é -1; e se procura obter água a partir de seus componentes
(4) os outros números de oxidação são determi- puros: 2H2 + O2 -> 2H2O
nados de tal maneira que a soma algébrica global A reação descrita, que é redox por se terem al-
dos números de oxidação de uma molécula ou íon terado os números de oxidação do hidrogênio e do
seja igual a sua carga efetiva. Assim, é possível deter- oxigênio em cada um dos membros, pode ser enten-
minar o número de oxidação de qualquer elemento dida como a combinação de duas reações iônicas
diferente do hidrogênio e do oxigênio nos compostos parciais:
que formam com esses dois elementos.
H2 -> 2H+ + 2e- (semi-oxidação)
Assim, o ácido sulfúrico (H2SO4) apresenta, para 4e- + 2H+ + O2 -> 2OH- (semi-redução)
seu elemento central (enxofre), um número de oxida-
ção n, de forma que seja nula a soma algébrica dos em que os elétrons ganhos e perdidos represen-
números de oxidação dos elementos integrantes da tam-se com e- e os símbolos H+ e OH- simbolizam
molécula: 2.(+1) + n + 4.(-2) = 0, logo, n = +6 respectivamente os íons hidrogênio e hidroxila. Em
Em toda reação redox existem ao menos um ambas as etapas, a carga elétrica nos membros ini-
agente oxidante e um redutor. Em terminologia quí- ciais e finais da equação deve ser a mesma, já que
mica, diz-se que o redutor se oxida, perde elétrons, e, os processos são independentes entre si.
em conseqüência, seu número de oxidação aumen- Para fazer o balanceamento da reação global,
ta, enquanto com o oxidante ocorre o oposto. igualam-se as reações iônicas parciais, de tal ma-
neira que o número de elétrons doados pelo agente
Oxidantes e redutores. Os mais fortes agentes
redutor seja igual ao número de elétrons recebidos
redutores são os metais altamente eletropositivos,
pelo oxidante, e procede-se a sua soma:
como o sódio, que facilmente reduz os compostos
120 de metais nobres e também libera o hidrogênio da
(H2 -> 2H+ + 2e-) x 2
água. Entre os oxidantes mais fortes, podem-se citar
(4e- + 2H+ + O2 -> 2OH-) x 1
o flúor e o ozônio.
--------------------------------------------
O caráter oxidante e redutor de uma substância
2H2 + 4e- + 2H+ + O2 -> 4H+ + 4e- + 2OH-
depende dos outros compostos que participam da
reação, e da acidez e alcalinidade do meio em que
o que equivale a:
ela ocorre. Tais condições variam com a concentra-
2H2 + O2 -> 2H2O
ção de elementos ácidos. Entre as reações tipo redox
mais conhecidas -- as reações bioquímicas -- inclui-se
a corrosão, que tem grande importância industrial. Pois os elétrons se compensam e os íons H+ e OH-
Um caso particularmente interessante é o do fe- se unem para formar a água.
nômeno chamado auto-redox, pelo qual um mesmo Nesses mecanismos se apóia o método genera-
elemento sofre oxidação e redução na mesma rea- lizado de balanço de reações redox, chamado íon
ção. Isso ocorre entre halogênios e hidróxidos alcali- -elétron, que permite determinar as proporções exa-
nos. Na reação com o hidróxido de sódio a quente, o tas de átomos e moléculas participantes. O método
cloro (0) sofre auto-redox: se oxida para clorato (+5) íon-elétron inclui as seguintes etapas:
e se reduz para cloreto (-1): 6Cl + 6NaOH -> 5NaCl- + (1) notação da reação sem escrever os coefi-
NaClO3 + 3H2O cientes numéricos;
(2) determinação dos números de oxidação de
Balanço das reações redox. As leis gerais da quí- todos os átomos participantes;
mica estabelecem que uma reação química é a (3) identificação do agente oxidante e redutor e
redistribuição das ligações entre os elementos rea- expressão de suas respectivas equações iônicas par-
gentes e que, quando não há processos de ruptura ciais;
ou variação nos núcleos atômicos, conserva-se, ao (4) igualação de cada reação parcial e soma de
longo de toda a reação, a massa global desses rea- ambas, de tal forma que sejam eliminados os elétrons
gentes. Desse modo, o número de átomos iniciais de livres;
cada reagente se mantém quando a reação atinge (5) eventual recomposição das moléculas origi-
o equilíbrio. nais a partir de possíveis íons livres.
O
s diversos elementos e substâncias co- são materiais cristalinos e sólidos. Estas duas caracte-
nhecidas podem ser classificados de vá- rísticas combinadas conferem à estes materiais uma
rias formas diferentes. Uma classificação grande importância tecnológica. Os semicondutores
121
importante em termos de propriedades elétricas é são os responsáveis por toda a moderna tecnolo-
a de metais, isolantes e semicondutores. Esta classifi- gia eletrônica, estando presentes em praticamente
cação tem grande importância na engenharia e na todos os aparelhos eletro-eletrônicos que conhece-
física de dispositivos. Os metais, como se sabe, são mos, desde um simples rádio a pilha até os mais sofis-
bons condutores de eletricidade enquanto os isolan- ticados computadores.
tes não a conduzem. Os semicondutores, por outro
lado, possuem comportamento intermediário, con- Materiais cristalinos
duzindo ou não a corrente elétrica em função das Os materiais cristalinos, além de diversas proprie-
condições de operação. Além desta classificação, dades interessantes, podem ser processados em la-
há também uma outra que diz respeito ao modo boratório com elevado grau de pureza. Sua estrutura
como os átomos ou moléculas estão arranjados ou cristalina pode ser reproduzida através de técnicas
distribuídos no material. Materiais nos quais os átomos especiais conhecidas como técnicas de crescimento
ou moléculas se distribuem de forma organizada e de cristais. Embora possa parecer estranho à primeira
regular por todo o material, são classificados como vista, o conceito envolvido nessas técnicas de cresci-
materiais cristalinos ou simplesmente cristais, ou ainda mento é simples. Vamos ver a seguir um exemplo de
sólidos. Esta última designação não se refere ao es- cristal bem conhecido e que pode ser crescido até
tado físico do material (vapor, líquido ou sólido), mas mesmo em casa, sem nenhum equipamento sofisti-
sim ao fato de que sua estrutura atômica se acha na cado.
forma de um sólido geométrico, tal qual um cubo por
exemplo. Esta organização interna dos átomos em Cloreto de Sódio
um cristal é responsável por uma série de proprieda- O cloreto de sódio (NaCl) ou sal de cozinha co-
des importantes em aplicações industriais. Os mate- mum, possui estrutura cristalina cúbica, isto é, os áto-
riais sem organização atômica interna definida, são mos do Cloro e do Sódio estão arranjados na forma
chamados amorfos. Exemplos de materiais amorfos de um cubo, como mostra a figura abaixo. Este cubo
muito utilizados são o vidro e plásticos em geral. Os chama-se célula unitária do NaCl. Qualquer porção
semicondutores, além de suas propriedades elétricas de NaCl pode ser pensada como uma pilha destes
dependentes das condições de operação, também cubos unitários colocados lado a lado e uns sobe os
outros. A aresta do cubo é designada como parâme- do cristal. Quando um fabricante de microprocessa-
tro da rede cristalina do material. Em termos mate- dores precisa comprar sua matéria prima, ou seja, lâ-
máticos, um cristal é descrito por uma rede de pontos minas de Silício, ele precisa especificar a direção cris-
geométricos que satisfazem certas operações de si- talina dessas lâminas, caso contrário sua produção
metria, tais como reflexão, translação e rotação. Esta de “chips” pode ser seriamente comprometida.
rede é conhecida como rede de Bravais, em home-
nagem ao cientista que sistematizou estes conceitos. Crescimento de cristais
Existem vários materiais que se cristalizam com o mes- Vamos agora ver como se pode crescer um cris-
mo tipo de estrutura do NaCl, isto é, cúbica. Ocorre, tal. Inicialmente vamos retomar nosso exemplo do
entretanto, que, dentro do cubo unitário, os átomos NaCl ou sal de cozinha. Obviamente você sabe que
podem estar dispostos de modo diferente, condu- o NaCl pode ser dissolvido na água, formando uma
zindo a estruturas cúbicas diferentes. O NaCl, possui solução líquida. Na linguagem dos químicos, a água
estrutura cúbica de face centrada (fcc- face cen- é chamada de solvente e o sal de soluto. Podemos
tered cubic), havendo ainda estruturas cúbicas sim- então preparar em um copo comum, uma solução
ples (sc - simple cubic) e estruturas cúbicas de corpo supersaturada de NaCl. Isto significa ir dissolvendo aos
centrado (bcc - body centered cubic). Na realidade poucos o sal na água, até que em dado momento,
o modo correto para descrever um cristal, vem do não conseguimos mais dissolver sal. A quantia de sal
conceito de rede de Bravais. A cada pondo geomé- extra que não pode mais ser dissolvida pela água,
trico da rede de Bravais, associa-se um ou mais áto- fica depositada no fundo do copo. Esta saturação
mos, que formam a base química do cristal. É desse depende basicamente do solvente, do soluto e da
modo que se formam os vários tipos de estruturas cris- temperatura da solução. Se aquecermos a água,
talinas cúbicas, além de outras formas geométricas. aquele sal extra do fundo do copo vai ser dissolvido,
Por este motivo, na literatura científica, sempre que mas assim que a temperatura voltar ao normal, o ex-
se faz referência a algum tipo de cristal, é usual men- cesso volta a se depositar no fundo do copo. Não
cionar algum material com estrutura conhecida. Por precisamos fazer isto. Nossa solução saturada na tem-
exemplo, sempre que se fala da estrutura do telureto peratura ambiente já serve aos nossos propósitos. É
de chumbo (PbTe), é conveniente falarmos que sua importante você mexer bem a solução, para se cer-
estrutura é cúbica como a do NaCl. tificar de que realmente ficou saturada. Agora você
122 deve filtrá-la com um coador de papel, desses utili-
zados para café, para eliminar o excesso de sal não
dissolvido. Feito isto, providencie algum tipo de tam-
pa para o copo. Pode ser até mesmo um pedaço de
filme plástico utilizado na embalagem de alimentos
congelados. Faça alguns furos nesta tampa de modo
que possa haver evaporação da água. Guarde o
copo tapado em um lugar fresco, onde não haja mui-
ta variação de temperatura e deixo-o em repouso.
Você precisa ser paciente. Este tipo de crescimen-
to de cristal é bastante lento. Após vários dias, você
Estrutura Cristalina cúbida do NaCl. poderá notar pequenos grãos de sal depositados no
fundo do copo. Se você for paciente, poderá deixar
As esferas maiores representam o Cloro (Cl) e as o crescimento prosseguir e a medida que a água for
menores o Sódio (Na). se evaporando, os cristais no fundo do copo, ou até
mesmo, nas paredes do copo irão crescer. Se você
Como os cristais possuem formas geométricas tiver usado água limpa (o ideal seria destilada) e dei-
bem definidas é possível adotar-se eixos coordena- xado o experimento em repouso em lugar adequa-
dos de forma a especificar a orientação cristalina do do, irá obter alguns belos cristais cúbicos de NaCl.
material. Para especificar essa orientação, utilizamos,
os chamados índices de Miller, encontrados num pla-
no tridimensional x, y e z (semelhante ao plano carte-
siano). No processamento de semicondutores, como
o Silício, para a confecção de dispositivos eletrônicos,
o conhecimento da direção cristalina do material é
muito importante. Os processos de fabricação de-
pendem de procedimentos físico-químicos cujo com-
portamento ou eficiência, variam com a orientação
A explicação é simples. Sua solução inicial estava saturada. A medida que a água vai se evaporando e,
portanto, diminuindo a quantidade de água no copo, o NaCl vai se precipitar na forma de um cristal cúbi-
co microscópico. Com a evaporação continuada da água, mais NaCl irá se precipitar. Mas a precipitação
ocorrerá preferencialmente sobre o NaCl que já estiver cristalizado e portanto atuando como se fosse uma
semente para que mais NaCl se cristalize. A tendência natural do NaCl é cristalizar-se na forma cúbica. Se lhe
é oferecida uma superfície ou material com o mesmo arranjo atômico cúbico, ele vai encontrar mais facili-
dade de se depositar sobre este material e não sobre outro lugar qualquer.
Mistura: associação de duas ou mais substâncias em porções arbitrárias, separáveis por meios mecânicos
ou físicos e em que cada um dos componentes guarda em si todas as propriedades que lhe são inerentes. A
partir disso, podemos concluir que para saber se um composto é uma mistura ou apenas um componente,
basta utilizar métodos de separação de misturas para verificar. Estes métodos são chamados de análise ime-
diata, sendo como dito, não alteram a natureza das substâncias. E para cada tipo de mistura existem vários
métodos diferentes.
123
Se deixarmos um balde com água barrenta em repouso por um determinado tempo, observaremos que
o barro precipitará, ou seja, irá para o fundo do balde, isso é devido ao fato dele ser mais denso que a água.
A água então pode ser retirada do balde facilmente.
Utilizando o funil de separação, podemos fazer o mesmo com a mistura de água e óleo, que com o pas-
sar do tempo, o líquido mais denso, neste caso a água, vai para o fundo e o líquido menos denso, no caso o
óleo, fica em cima. Sendo possível a retirada da água e separando os dois líquidos da mistura.
Centrifugação: método utilizado para separar misturas heterogêneas do tipo sólido-líquido. Este método é
uma maneira de acelerar a decantação. Neste método é utilizado a centrífuga. Neste aparelho, devido aos
movimentos de rotação, as partículas com maior densidade são “atiradas” para o fundo do tubo. Girando
a manivela da centrífuga manual, os tubos de ensaio contendo a amostra, se inclinam fazendo com que a
parte mais densa da amostra vá para o fundo do tubo, separando-se da menos densa.
As ligações químicas são uniões estabelecidas Um grande número de elementos adquire es-
entre átomos para formarem moléculas ou no caso tabilidade eletrônica quando seus átomos apresen-
de ligações iônicas ou metálicas aglomerados atô- tam oito elétrons na sua camada mais externa, e
micos organizados de forma a constituírem a estru- usualmente esses se ligam de forma a buscarem a
tura básica de uma substância ou composto. Na completeza desses oito elétrons, especificamente a
Natureza existem aproximadamente uma centena completeza de suas camadas externas. Dadas as va-
de elementos químicos. Os átomos destes elemen- riações na distribuição eletrônica, existem várias ex-
tos químicos ao se unirem formam a grande diversi- ceções para essa regra, a exemplo do Hidrogênio (H)
dade de substâncias químicas. Uma analogia seria e do Hélio (He), onde ambos se estabilizam com dois
comparar os elementos químicos ao alfabeto que, elétrons na última camada, e outros casos onde os
uma vez organizado seguindo uma dada regra ou átomos têm mais do que oito elétrons na última ca-
ordem, leva as letras a formarem palavras imbuídas mada quando ligados. Como exemplo da regra do
de significado distinto e bem mais amplo daquele octeto, válida contudo de forma bem regular para
disponível quando separadas. Os átomos, compa- os elementos representativos da tabela periódica, te-
rando, seriam as letras, e as moléculas ou aglomera- mos o caso do átomo de carbono, que é tetravalen-
dos organizados seriam as palavras. Na escrita não te (pode realizar quatro ligações), e além dele todos
podemos simplesmente ir juntando as letras para a os átomos que pertencem a família de número 14 da
formação de palavras: aasc em português não tem tabela periódica que, também tetravalentes, encon-
significado (salvo se corresponder a uma sigla); po- tram-se no eixo central dessa regra (Octeto).
rém se organizarmos essas mesmas letras teremos a
palavra casa, que certamente tem significado “físi- Ligações Iônicas ou Eletrovalentes
co”.
Assim como na escrita, há regras físico-químicas Ligações Iônicas são um tipo de ligação quími-
a serem obedecidas, e a união estabelecida entre ca baseada na atração eletrostática entre dois íons
átomos não ocorre de qualquer forma, devendo ha- carregados com cargas opostas. Na formação da li-
ver condições apropriadas para que a ligação en- gação iônica, um metal tem uma grande tendência
126 tre os átomos ocorra, tais como: afinidade, contato, a perder elétron(s), formando um íon positivo ou cá-
energia, etc. As ligações químicas podem ocorrer tion. Isso ocorre devido à baixa energia de ionização
através da doação e recepção de elétrons entre os de um metal, isto é, é necessária pouca energia para
átomos, que se transformam em íons que mantém- remover um elétron de um metal. Simultaneamen-
se unidos via a denominada ligação iônica. Como te, o átomo de um ametal (não-metal) possui uma
exemplo tem-se o cloreto de sódio (NaCl). Compos- grande tendência a ganhar elétron(s), formando um
tos iônicos conduzem eletricidade no estado líquido íon de carga negativa ou ânion. Isso ocorre devido
ou dissolvidos, mas não quando sólidos. Eles normal- à sua grande afinidade eletrônica. Sendo assim, os
mente têm um alto ponto de fusão e alto ponto de dois íons formados, cátion e ânion, se atraem devido
ebulição. a forças eletrostáticas e formam a ligação iônica. Se
Outro tipo de ligações químicas ocorre através estes processos estão interligados, ou seja, o(s) elé-
do compartilhamento de elétrons: a ligação cova- tron(s) perdido(s) pelo metal é(são) ganho(s) pelo
lente. Como exemplo tem-se a água (H2O). Dá-se o ametal, então, seria “como se fosse” que, na ligação
nome de molécula apenas à estrutura em que to- iônica, houvesse a formação de íons devido à “trans-
dos os seus átomos conectam-se uns aos outros de ferência” de elétrons do metal para o ametal.
forma exclusiva via ligação covalente. Existe tam- Esta analogia simplista é muito utilizada no Ensino
bém a ligação metálica onde os elétrons das últi- Médio, que destaca que a ligação iônica é a única
mas camadas dos átomos do metal soltam-se dos em que ocorre a transferência de elétrons. A regra
respectivos íons formados e passam a se movimen- do octeto pode ser utilizada para explicar de forma
tar livremente entre todos os íons de forma a mantê simples o que ocorre na ligação iônica. Exemplo: An-
-los unidos. Um átomo encontra-se assim ligado não tes da formação da ligação iônica entre um átomo
apenas ao seu vizinho imediato, como na ligação de sódio e cloro, as camadas eletrônicas se encon-
covalente, mas sim a todos os demais átomos do tram da seguinte forma:
objeto metálico via uma nuvem de elétrons de lon-
go alcance que se distribui entorno dos mesmos. 11Na - K = 2; L = 8; M = 1
17Cl - K = 2; L = 8; M = 7
O sódio possui 1 elétron na última camada (cama- OBS.: O hidrogênio faz ligação iônica com metais
da M). Bastaria perder este elétron para que ele fique também. Embora possua um elétron, não é metal,
“estável” com 8 elétrons na 2ª camada (camada L). O logo, não tende a perder esse elétron. Na verdade, o
cloro possui 7 elétrons na sua última camada (camada hidrogênio tende a receber um elétron ficando com
M). É bem mais fácil ele receber 1 elétron e ficar estável configuração eletrônica igual à do gás hélio.
do que perder 7 elétrons para ficar estável, sendo isto
o que acontece. Sendo assim, é interessante ao sódio Ligações Covalentes ou Moleculares
doar 1 elétron e ao cloro receber 1 elétron. No esque-
ma abaixo, está representado este processo, onde é Ligação covalente ou molecular é aquela onde
mostrado apenas a camada de valência de cada áto- os átomos possuem a tendência de compartilhar os
mo. Seria como se fosse que os átomos se aproximam e elétrons de sua camada de valência, ou seja, de sua
ocorre a transferência de elétron do sódio para o cloro: camada mais instável. Neste tipo de ligação não há
a formação de íons, pois as estruturas formadas são
eletronicamente neutras, como o exemplo abaixo,
do oxigênio. Ele necessita de dois elétrons para ficar
estável e o H irá compartilhar seu elétron com o O.
Sendo assim o O ainda necessita de um elétron para
se estabilizar, então é preciso de mais um H e esse
H compartilha seu elétron com o O, estabilizando-o.
Sendo assim é formado uma molécula o H2O.
O resultado final da força de atração entre cátions
e ânions é a formação de uma substância sólida, em
condições ambientes (25 °C, 1 atm). Não existem molé-
culas nos sólidos iônicos. Em nível microscópico, a atra-
ção entre os íons acaba produzindo aglomerados com
formas geométricas bem definidas, denominadas retí-
culos cristalinos. No retículo cristalino cada cátion atrai
simultaneamente vários ânions e vice-versa.
OBS.: Ao compartilharem elétrons, os átomos po- 127
dem originar uma ou mais substâncias simples dife-
rentes. Esse fenômeno é denominado alotropia. Essa
substâncias são chamadas de variedades alotrópi-
cas. As variedades podem diferir entre si pelo número
de átomos no retículo cristalino. Ex.: Carbono, Oxigê-
nio, Enxofre, Fósforo.
Configuração Eletrônica de lítio e fluor. O Lítio tem - Podem ser encontrados nos três estados físicos;
um elétron em sua camada de valência, mantido com - Apresentam ponto de fusão e ponto de ebuli-
dificuldade porque sua energia de ionização é baixa. ção menores que os compostos iônicos;
O Fluor possui 7 elétrons em sua camada de valência. - Quando puros, não conduzem eletricidade;
Quando um elétron se move do lítio para o fluor, cada - Quando no estado sólido, podem apresentar
íon adquire a configuração de gás nobre. A energia de dois tipos de retículos cristalinos (R. C. Moleculares, R.
ligação proveniente da atração eletrostática dos dois C. Covalente).
íons de cargas opostas tem valor negativo suficiente
para que a ligação se torne estável.
Ligações Covalente Dativa ou Coordenada
Características dos compostos iônicos
Este tipo de ligação ocorre quando os átomos
envolvidos já atingiram a estabilidade com os oito ou
- Apresentam forma definida, são sólidos nas condi-
dois elétrons na camada de valência. Sendo assim
ções ambientes;
- Possuem altos ponto de fusão e ponto de ebuli- eles compartilham seus elétrons disponíveis, como se
ção; fosse um empréstimo para satisfazer a necessidade
- Conduzem corrente elétrica quando dissolvidos de oito elétrons do elemento com o qual está se li-
em água ou fundidos. gando.
Ligação metálica
A ligação metálica ocorre entre metais, isto é, átomos de alta eletropositividade (tendência a doar elé-
trons). Num sólido, os átomos estão dispostos de maneira variada, mas sempre próximos uns aos outros, com-
pondo um retículo cristalino. Enquanto certos corpos apresentam os elétrons bem presos aos átomos, em
outros, algumas dessas partículas permanecem com certa liberdade de se movimentarem no cristal. É o que
diferencia, em termos de condutibilidade elétrica, os corpos condutores dos isolantes. Nos corpos condu-
tores, muitos dos elétrons se movimentam livremente no cristal, de forma desordenada, isto é, em todas as
direções. E, justamente por ser caótico, esse movimento não resulta em qualquer deslocamento de carga de
um lado a outro do cristal.
Aquecendo-se a ponta de uma barra de metal, coloca-se em agitação os átomos que a formam e os
que lhe estão próximos. Os elétrons aumentam suas oscilações e a energia se propaga aos átomos mais in-
ternos. Neste tipo de cristal os elétrons livres servem de meio de propagação do calor - chocam-se com os
átomos mais velozes, aceleram-se e vão aumentar a oscilação dos mais lentos. A possibilidade de melhor
condutividade térmica, portanto, depende da presença de elétrons livres no cristal. Estudando-se o fenôme-
no da condutibilidade elétrica, nota-se que, quando é aplicada uma diferença de potencial, por meio de
uma fonte elétrica às paredes de um cristal metálico, os elétrons livres adquirem um movimento ordenado:
passam a mover-se do polo negativo para o polo positivo, formando um fluxo eletrônico orientado na super-
fície do metal, pois como se trabalha com cargas de mesmo sinal, estas procuram a maior distância possível
entre elas. Quanto mais elétrons livres no condutor, melhor a condução se dá.
Os átomos de um metal têm grande tendência a perder elétrons da última camada e transformar-se
em cátions. Esses elétrons, entretanto, são simultaneamente atraídos por outros íons, que então o perdem
novamente e assim por diante. Por isso, apesar de predominarem íons positivos e elétrons livres, diz-se que
os átomos de um metal são eletricamente neutros. Os átomos mantêm-se no interior da rede não só por im-
plicações geométricas, mas também por apresentarem um tipo peculiar de ligação química, denominada
ligação metálica. A união dos átomos que ocupam os “nós” de uma rede cristalina dá-se por meio dos elé-
trons de valência que compartilham (os situados em camadas eletrônicas não são completamente cheias).
128 A disposição resultante é a de uma malha formada por íons positivos e uma nuvem eletrônica.
Segundo essa teoria, alguns átomos do metal “perdem” ou “soltam” elétrons de suas últimas camadas;
esses elétrons ficam “passeando” entre os átomos dos metais e funcionam como uma “cola” que os mantém
unidos. Existe uma força de atração entre os elétrons livres que se movimentam pelo metal e os cátions fixos.
Água
C
erca de 71% da superfície da Terra é coberta por água em estado líquido. Do total desse volume,
97,4% aproximadamente, está nos oceanos, em estado líquido. A água dos oceanos é salgada:
contém muito cloreto de sódio, além de outros sais minerais.
129
Mas a água em estado líquido também aparece nos rios, nos lagos e nas represas, infiltrada nos espaços
do solo e das rochas, nas nuvens e nos seres vivos. Nesses casos ela apresenta uma concentração de sais
geralmente inferior a água do mar. É chamada de água doce e corresponde a apenas cerca de 2,6% do
total de água do planeta.
Cerca de 1,8% da água doce do planeta é encontrado em estado sólido, formando grandes massas de
gelo nas regiões próximas dos pólos e no topo de montanhas muito elevadas. As águas subterrâneas corres-
pondem á 0,96% da água doce, o restante está disponível em rios e lagos.
Oceanos e mares - 97%
Geleiras inacessíveis - 2%
Rios, lagos e fontes subterrâneas - 1%
A presença de água nos seres vivos
Um dos fatores que possibilitaram o surgimento e a manutenção da vida na Terra é a existência da água.
Ela é um dos principais componentes da biosfera e cobre a maior parte da superfície do planeta.
Na Biosfera, existem diversos ecossistemas, ou seja, diversos ambientes na Terra que são habitados por
seres vivos das mais variadas formas e tamanhos. Às vezes, nos esquecemos que todos esses seres vivos têm
em comum a água presente na sua composição. Veja alguns exemplos.
Água-viva Melância
A água-viva chega a ter 95% de água na composição do seu corpo. A melancia e o pepino chegam a
ter 96% de água na sua composição.
Portanto a água não está presente apenas nas plantas; ela também faz parte do corpo de muitos ani-
mais.
É fácil comprovar que o nosso corpo, por exemplo, contém água. Bebemos água várias vezes ao dia,
ingerimos muitos alimentos que contém água e expelimos do nosso corpo vários tipos de líquidos que pos-
suem água, por exemplo, suor, urina, lágrimas, etc.
O que é a água?
A água é uma das substâncias mais comuns em nosso planeta. Toda a matéria (ou a substância) na
natureza é feita por partículas muito pequenas, invisíveis a olho nu, os átomos.
Cada tipo de átomo pertence a um determinado elemento químico. Os átomos de oxigênio, hidrogê-
nio, carbono e cloro são alguns exemplos de elementos químicos que formam as mais diversas substâncias,
como a água, o gás carbônico, etc.
130 Os grupos de átomos unidos entre si formam moléculas. Cada molécula de água, por exemplo, é for-
mada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. A molécula de água é representada pela fórmula
química H2O. Em cada 1 g de água há cerca de 30 000 000 000 000 000 000 000 (leia: “trinta sextilhões”) de
moléculas de água.
Representação da molécula de água com os dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. As cores são
meramente ilustrativas e o tamanho não segue as proporções reais.
Estados denagragação (estados físicos) da matéria
Quando nos referimos à água, a ideia que nos vem de imediato à mente é a de um líquido fresco e
incolor. Quando nos referimos ao ferro, imaginamos um sólido duro. Já o ar nos remete à ideia de matéria
no estado gasoso.
Toda matéria que existe na natureza se apresenta em uma dessas formas - sólida, líquida ou gasosa. É o
que chamamos de estados físicos da matéria.
No estado gasoso a matéria está muito expandida e, muitas vezes, não 131
podemos percebê-la visualmente. Os corpos no estado gasoso não
possuem volume nem forma próprios e também adotam a forma do
recipiente que os contém. No estado gasoso, as moléculas se movem
mais livremente que no estado líquido, estão muito mais distantes umas
das outras que no estado sólido ou líquido, e se movimentam em todas as
direções. Frequentemente há colisões entre elas, que se chocam também
com a parede do recipiente em que estão. É como se fossem abelhas
presas em uma caixa, e voando em todas as direções.
Em resumo: no estado sólido as moléculas de água vibram em posições fixas. No estado líquido, as molé-
culas vibram mais do que no estado sólido, mas dependente da temperatura do líquido (quanto mais quen-
te, maior a vibração, até se desprenderem, passando para o estado gasoso, em um fenômeno conhecido
como ebulição). Consequentemente, no estado gasoso (vapor) as moléculas vibram fortemente e de forma
desordenada.
O ponto de ebulição de uma substância é a tem- O orvalho se forma quando o vapor de água pre-
peratura a que essa substância passa do estado líqui- sente no ar se condensa ao entrar em contato com
do para o estado gasoso. superfícies que estão mais frias que o ar. Se a tempera-
No caso da água o ponto de ebulição é de tura estiver muito baixa, a água pode congelar sobre
100ºC. Assim toda a água permanecerá a 100ºC até as superfícies frias, formando uma camada de gelo: é
toda ela tenha evaporado para somente depois a geada, que pode causar prejuízos às plantações, já
sua temperatura começar a aumentar para 101ºC, que o frio pode destruir folhas e frutos.
102ºC etc.
A água pode passar do estado de vapor para o
estado líquido. É fácil observar essa passagem. Quan-
tas vezes você já não colocou água gelada dentro
de um copo de vidro fora da geladeira? Depois de
um tempo, a superfície do lado de fora fica molhada,
não é mesmo?
As pequenas gotas de água se formam porque
o vapor de água que existe no ar entra em contato
com a superfície fria do copo e se condensa, isto é,
passa para o estado líquido. Essa mudança de esta-
do é chamada condensação, ou liquefação.
Condensação
Passagem do estado gasoso para o estado lí-
quido, devido ao um arrefecimento (resfriamento). Você já observou que certos produtos para perfu-
Quando a substância gasosa inicia a condensação, mar o ambiente instalados no banheiro, por exemplo,
vão diminuindo de tamanho com o tempo? Isso acon-
a temperatura fica inalterada até que a totalidade
tece porque eles passam diretamente do estado sólido
esteja no estado líquido, e só depois a temperatura
para o estado gasoso. Essa passagem do estado sólido
continua a baixar.
para o gasoso e vice-versa é chamada sublimação.
133
Sublimação
Passagem direta de uma substância do estado
sólido para o estado gasoso, por aquecimento, ou do
estado gasoso para o estado sólido, por arrefecimento.
Ex. Gelo seco, naftalina.
136
Tensão superficial
Uma outra característica da água no estado líquido é a tensão que ela representa em sua superfície. Isso
acontece porque as moléculas da água se atraem, mantendo-se coesas (juntas), como se formassem uma
finíssima membrana da superfície. Olhe a figura abaixo.
A qualidade da água
A vida humana, assim como a de todos os seres
vivos depende da água.
Mas a nossa dependência da água vai além das
necessidades biológicas: precisamos dela para lim- 137
par as nossas casas, lavar as nossas roupas e o nosso
corpo. E mais: para limpar máquinas e equipamen-
tos, irrigar plantações, dissolver produtos químicos,
criar novas substâncias, gerar energia. Observe que a água ferve (1) com ajuda
É aí que está o perigo: a atividade humana mui- do (2) Bico de Bunsen (chama que aquece a água),
tas vezes compromete a qualidade da água. Casas transformando-se em vapor (3), e depois se conden-
e indústrias podem despejar em rios e mares subs- sa (4), voltando ao estado líquido. Os sais minerais não
tâncias que prejudicam a nossa saúde. Por isso, es- vaporizam, mas ficam dentro do vidro onde a água foi
colher bem a água que bebemos e proteger rios, fervida (chamado balão de destilação).
lagos e mares são cuidados essenciais à vida no
planeta. Água mineral
A água do mar é salgada porque tem muito clo-
Água potável reto de sódio, que é o sal comum usado na cozinha.
A água potável é aquela popularmente cha- Justamente por ter tanto sal, não é potável. Se beber-
mada água pura. Essa água, tecnicamente não é mos água do mar, o excesso de sal nos fará eliminar
pura, como podemos perceber abaixo. Para ser be- mais água na urina do que deveríamos, e começa-
bida por nós, a água deve ser incolor, insípida (sem mos então a ficar desidratados.
sabor) e inodora (sem cheiro). Ela deve estar livre
de materiais tóxicos e microorganismos, como
bactérias, protozoários etc., que são prejudiciais,
mas deve conter sais minerais em quantidade ne-
cessária à nossa saúde.
A água potável é encontrada em pequena
quantidade no nosso planeta e não está disponível
infinitamente. Por ser um recurso limitado, o seu con-
sumo deve ser planejado.
Já a água doce, dos rios, lagos e fontes, tem menos sal que a água do mar e pode
ser bebida - desde que esteja sem micróbios e produtos tóxicos ou que tenha sido
tratada para eliminar essas impurezas.
A chamada água mineral é água que brota de fontes do subsolo. Ela costuma
ter alguns sais minerais em quantidade um pouco maior que a água utilizada nas
residências e, às vezes outros sais.
A água mineral é, em geral potável e pode ser bebida na fonte ou engarrafada -
desde que a fonte esteja preservada da poluição e da contaminação ambiental e
que o processo de engarrafamento seja feito com higiene.
O mar pode “morrer”
Na Ásia, há o famoso mar Morto, que é um exemplo de que um mar pode “morrer”. O mar “morre” e os lagos
também quando o nível de salinidade, isto é, a concentração de sais da sua água, é tão alto que não permite
que os peixes, a flora e outros seres vivam nele. Esse fenômeno ocorre por vários fatores, entre eles: pouca chuva
aliada à evaporação intensa (clima quente e seco) e corte ou diminuição do regime de escoamento de rios.
138
Acidente no rio dos Sinos onde milhares de peixes morreram pela contaminação do rio com dejetos
químicos lançados pelas empresas, Rio Grande do Sul, outubro, 2006.
Na estação de tratamento, a água passa por tanques de cimento e recebe produtos como o sulfato de
alumínio e o hidróxido de cálcio (cal hidratada). Essas substâncias fazem as partículas finas de areia e de
argila presentes na água se juntarem, formando partículas maiores, os flocos. Esse processo é chamado flo-
culação. Como essas partículas são maiores e mais pesadas, elas vão se depositando aos poucos no fundo
de outro tanque, o tanque de decantação. Desse modo, algumas impurezas sólidas da água ficam retidas.
Após algumas horas no tanque de decantação, a água que fica por cima das impurezas, e que está mais
limpa, passa por um filtro formado por várias camadas de pequenas pedras (cascalho) e areias. À medida
que a água vai passando pelo filtro, as partículas de areia ou de argila que não se depositaram vão ficando
presas nos espaços entre os grãos de areia. Parte dos micróbios também fica presa nos filtros. É a etapa co-
nhecida como filtração. Mas nem todos os micróbios que podem causar doenças se depositam no fundo do
tanque ou são retidos pelo filtro. Por isso, a água recebe produtos contendo o elemento cloro, que mata os
140 micróbios (cloração), e o flúor, um mineral importante para a formação dos dentes.
A água é então levada através de encanamentos subterrâneos para as casas ou os edifícios.
Mesmo quem recebe água da estação de tratamento deve filtrá-la para o consumo. Isso porque pode
haver contaminação nas caixas d’água dos edifícios ou das casas ou infiltrações nos canos. As caixas-d’água
devem ficar sempre bem tampadas e ser limpas pelo menos a cada seis meses. Além disso, em certas épo-
cas, quando o risco de doenças transmitidas pela água aumenta, é necessário tomar cuidados adicionais.
Quando não há estação de tratamento
Nos locais em que não há estações de tratamento, a água é obtida diretamente de rios, lagos, nascen-
tes, represas ou poços. Mas, nesses casos, a água pode estar contaminada por micróbios e poluentes e são
necessários alguns cuidados.
O poço mais comum é o poço raso, que obtém Nas regiões mais populosas, entretanto, exige-
água a 20 metros de profundidade, no máximo. Ele se uma solução mais complexa. Isso ocorre porque,
deve ser construído longe das fontes de poluição e mesmo para um pequeno prédio com dez aparta-
contaminação, ficando, por exemplo, a pelo me- mentos, a fossa séptica e o sumidouro, em geral, não
nos 25 metros da fossa onde as fezes e os resíduos são suficientes para absorver a água consumida por
da casa são despejados. Deve ter uma tampa im- esses moradores. Imagine, então, uma grande cida-
permeável (uma laje de concreto armado) e uma de repleta de arranha-céus.
abertura a pelo menos 20 centímetros acima do solo, Nesses casos, utilizam-se redes de esgoto.
para protegê-lo contra a entrada de águas que es-
correm pela superfície do solo. O Tratamento de Esgoto
É preciso também que os primeiros três metros do Ao chegar à estação de tratamento, o esgo-
poço sejam impermeáveis à água da chuva que cai to passa por grades de metal que separam objetos
na superfície do terreno. A água que se infiltra a mais (como plástico, latas, tecidos, papéis, vidros etc.) da
de três metros e que entra no poço já sofreu um pro- matéria orgânica, da areia e de outros tipos de par-
cesso natural de filtração ao atravessar o solo. tículas.
É importante garantir que a água do poço ou de O esgoto passa, lentamente, por grandes tan-
outras fontes não esteja contaminada por micróbios.
ques, a fim de que a areia e as outras partículas se
O ideal é que ela seja analisada periodicamente por
depositem.
um laboratório, para verificar seu estado de pureza.
O lodo com a matéria orgânica pode seguir para
Se isso não for possível, a água que se bebe, bem
como a que é usada para lavar pratos e talheres, um equipamento chamado biodigestor, onde sofre
deve ser filtrada e tratada. A água deve ser fervida ação decompositora das bactérias. Nesse processo,
por pelos menos 15 minutos ou tratada com cloro há desprendimento de gases, entre eles o metano,
(siga bem a instruções do fabricante, pois cloro em que pode ser utilizado como combustível.A parte lí-
excesso pode causar envenenamento). Antes de tra- quida, que ficou acima do lodo, também é atacada
tar a água com cloro, porém, devemos filtrá-la, já que por bactérias, pois ainda apresenta matéria orgâni-
os ovos de vermes, por exemplo, não são destruídos ca dissolvida, essa parte é agitada por grandes héli-
pelo cloro, mas podem ser removidos pela filtração. ces, que garantem a oxigenação da água. Também
podem ser utilizados para essa oxigenação bombas
de ar ou mesmo certos tipos de algas, que produzirão
o oxigênio na fotossíntese.
141
M
uitos dos objetos que utilizamos cotidianamente provêm de indústrias que transformam mate-
riais em produtos. Isso com o objetivo básico de nos auxiliar nas mais variadas tarefas. Para tanto,
as transformações químicas envolvidas nesses processos são controladas das mais variadas formas.
Um dos controles básicos diz respeito às quantidades utilizadas e produzidas nas transformações químicas.
Esse controle é baseado na Lei da Conservação de Massa, de Antoine Laurent de Lavoisier, e na Lei das Pro-
porções Definidas, deJoseph Louis Proust.
142
Lei de Lavoisier
A Lei de Conservação de Massa é resultante de estudos quantitativos sobre as transformações químicas. O
trabalho de Lavoisier foi caracterizado pelo uso sistêmico de instrumentos de medição e controle rigoroso das
quantidades dos materiais envolvidos nas transformações químicas.
Entre seus experimentos, destaca-se o estudo com o aquecimento do mercúrio líquido. Ele aqueceu em
sistema fechado uma amostra de mercúrio previamente mensurada e observou a formação de um sólido
vermelho, o óxido de mercúrio, verificando que a massa do óxido formado era igual à massa inicial dos rea-
gentes. Veja uma representação da reação utilizada por Lavoisier:
Lavoisier registrou em seus trabalhos que existe ainda uma relação entre as massas dos reagentes envolvi-
das e os produtos, na qual não se podem usar quaisquer quantidades de reagentes para obter uma quanti-
dade arbitrária de produto(s). Ele chegou a essa conclusão a partir de seu experimento envolvendo os gases
oxigênio e hidrogênio, para obtenção da água em sistema fechado.
A Tabela 1, a seguir, com dados similares aos adotados por Lavoisier em seus experimentos, pode ajudar
no entendimento de sua postulação:
Obs.: 0,001g para cima ou para baixo está dentro do considerado erro de pesagem da balança.
A relação entre reagentes e produtos é verificada nos dados apresentados nos quatro ensaios (a, b, c,
d). Considerando a precisão da balança, pode-se afirmar que realmente ocorreu a conservação da massa.
Vejamos o caso do experimento b: foram utilizados 0,033 g de gás oxigênio e 0,004 g de gás hidrogênio para
produzir 0,037 g de água com nenhuma sobra de reagentes.
Pode-se verificar que a massa de água formada é exatamente o somatório das massas dos dois gases
envolvidos. Essa conclusão é reforçada ao observar a experiência c, na qual se utilizou 0,006 g de gás hidro-
gênio, ao invés dos 0,004 g adotados no experimento b, pois a diferença entre os dois valores, 0,002 g, é o
exato valor que sobrou de hidrogênio nessa experiência.
Considerando também o experimento d como referência de análise, verifica-se que para formar 0,095
g de água são necessários 0,085 g de gás oxigênio e 0,011 g de gás hidrogênio, ou seja, dos 0,015 g de hi-
drogênio utilizados restaram 0,004 g, demonstrando, assim, que existem quantidades especificas dos gases
reagentes.
Lei de Proust
Em 1799, Joseph Louis Proust, com base no raciocínio da Lei da Conservação das Massas, estabeleceu
a Lei das Proporções Definidas (Lei de Proust), segundo a qual um determinado composto químico sempre
contém os seus elementos nas mesmas proporções em massa.
Como exemplo pode-se analisar a reação de combustão entre o metal magnésio e o gás oxigênio. Veja
a representação:
a 48,6 g 32 g 80,6 g
b 97,2 g 64 g 161,2 g
Segundo a Lei de Proust, existe uma proporção definida entre as massas de reagentes para a formação
de produtos. Por exemplo, no caso específico da combustão do metal magnésio, representado na Tabela 2,
a proporção é constante, mesmo tendo sido utilizadas massas diferentes dos materiais nas três experiências.
Vejamos o raciocínio matemático:
48,6 : 32 = 1,52
97,2 : 64 = 1,52
24,3 : 16 = 1,52
A reação de formação do óxido de magnésio apresentará sempre a mesma relação entre magnésio e
oxigênio, qualquer que seja a massa formada, ou seja, 1,52 partes de magnésio para 1 parte de oxigênio.
É importante ressaltar que Lavoisier e Proust realizaram seus experimentos com quantidades de materiais
possíveis de serem mensuradas nas balanças existentes em suas épocas - e que, atualmente, trabalhos des-
sa natureza, realizados com balanças de última geração, apontam para a confirmação das duas teorias.
ESTEQUIOMETRIA
144 Estequiometria é a parte da Química que estuda as proporções dos elementos que se combinam ou que
reagem.
MASSA ATÔMICA (u)
É a massa do átomo medida em unidades de massa atômica (u).
A massa atômica indica quantas vezes o átomo considerado é mais pesado que 1/2do isótopo C12.
Na natureza, quase todos os elementos são misturas dos seus isótopos com diferentes porcentagens em
massa. Estas porcentagens são chamadas de abundâncias relativas.
Veja a abundância relativa do cloro:
A massa atômica do cloro que aparece na Tabela Periódica dos Elementos é a média ponderada destas
massas. O cálculo é feito desta maneira:
Antigamente, utilizava-se o termo “peso atômico”. Mas deve-se evitar este termo. Para determinar as
massas atômicas dos elementos é utilizado um aparelho chamado espectrômetro de massas.
Fórmula Mínima
É uma fórmula que fornece o número relativo entre os átomos da substância.
Mostra a proporção em número de átomos dos elementos expressa em número inteiros e os menores
possveis.
Veja a fórmula mínima de algumas substâncias e sua fórmula moleculares:
Geralmente, as fórmulas mínimas são uma “simpli- O mol indica quantidade. Um mol de qualquer
ficação matemática” da fórmula molecular. A água coisa possui 6,02x1023 unidades. É utilizado em quími-
oxigenada pode ser dividida por 2 formando a fór- ca para referir-se à matéria microscópica, já que este
mula mínima acima. Na glicose, a fórmula molecular número é muito grande. Pode ser usado para quanti-
foi dividida por 6 e no ácido sulfúrico, não é possível
ficar átomos, moléculas, íons, número de elétrons, etc.
dividir por um número inteiro, então a fórmula mínima O número 6,02x1023 é a constante de Avogadro.
fica igual à fórmula molecular. Exemplos:
1 mol de átomos de H tem 6,02x1023 átomos.
Composição Centesimal ou Análise Elementar 2 mol de átomos de H tem 2 x 6,02x1023 átomos =
A fórmula centesimal fornece o percen- 12,04x1023 átomos de H
tual dos átomos que compõe a substância. O mol indica massa. Um mol de um elemento é
Representa a proporção em massa que existe na igual a sua massa molecular em gramas (g).
substância. É sempre constante e segue a Lei de Exemplos:
Proust. 1 mol de água tem 18g
Exemplo: 2 mol de água tem 2 x 18 = 36g
C: 85,6% O mol indica volume. Na realidade, indica o vo-
H: 14,4% lume ocupado por um gás nas CNTP (condições nor-
mais de temperatura e pressão). Para gases que estão
Veja como calcular a fórmula centesimal a partir nestas condições, o valor de um mol é 22,4L (litros).
de dados obtidos da análise da substância: CNTP:
A análise de 0,40g de um certo óxido de ferro re- T=0°C = 273K
velou que ele possui 0,28g de ferro e 0,12g de oxigê- P = 1atm = 760mmHg
nio. Qual é a sua fórmula centesimal? Exemplos:
1 mol de CO2 ocupa que volume nas CNTP? 22,4L
2 mol de CO2 ocupa que volume nas CNTP? 2 x
22,4L = 44,8L
Para gases que não estão nestas condições, uti-
146 liza-se a fórmula do Gás Ideal ou Equação de Cla-
x = 70% de Fe
peyron:
P.V = n.R.T
Onde:
P = pressão do gás (atm)
V = volume do gás (L)
x = 30%
n = número de mols do gás (mol)
R = constante de Clapeyron = 0,082atm.L/mol.K
Então, neste óxido possui 70% de Fe e 30% de O.
T = temperatura do gás (K)
MOL
A palavra mol foi utilizada pela primeira vez pelo ESTEQUIOMETRIA COMUM / ESTEQUIOMETRIA DA
químico Wilhem Ostwald em 1896. Em latim, esta pa- FÓRMULA:
lavra significa mole, que significa”monte”, “quantida- Os cálculos estequiométricos são cálculos que re-
de”. A partir desta palavra também originou molé- lacionam as grandezas e quantidades dos elementos
cula, que quer dizer pequena quantidade. Algumas químicos. Utiliza-se muito o conceito de mol nestes
mercadorias são vendidas em quantidades já defini- cálculos. É muito importante saber transformar a uni-
das, como por exemplo a dúzia (6), a resma (500) e dade grama em mol. Pode-se usar a seguinte fórmula:
etc.
O mol também determina quantidade. Pode de-
terminar também massa e volume. Veja o esquema
a seguir:
Onde:
n = número de mol (quantidade de matéria)
m = massa em gramas
MM = massa molar (g/mol)
x = 4 x 22,4
x = 89,6L
Este cálculo pode ser feito também por Regra de Três:
4) Quantos mols existem em 89,6L do gás CO2 nas
CNTP?
5 mol = x Exemplos:
1) 108g de metal alumínio reagem com o ácido
2) Quantas moléculas de água há em 3 mol de sulfúrico, produzindo o sal e hidrogênio, segundo a
H2O? reação abaixo:
Determine:
a) o balanceamento da equação:
x = 3 . 6,02.1023
x = 18,06. 1023 ou 1,806.1024 moléculas
b) a massa de ácido sulfúrico necessária para Qual massa de óxido de cálcio obtida a partir da
reagir com o alumínio: queima de 800g de calcita?
x = 640g de CaCO3
2°) passo:
Para o restante do cálculo, utiliza-se somente o
valor de CaCO3 puro, ou seja, 640g.
3°) passo:
148
x = 358,4g de CaO
CÁLCULO DE RENDIMENTO
É comum, nas reações químicas, a quan-
tidade de produto ser inferior ao valor espera-
x = 588g de H2SO4 do. Neste caso, o rendimento não foi total. Isto
pode acontecer por várias razões, como por
Relacionar a massa de ácido com a massa de exemplo, má qualidade dos aparelhos ou dos
alumínio, como no 3° passo. Antes, no 1° e no 2°pas- reagentes, falta de preparo do operador, etc.
so, transformar o número de mol em gramas. O cálculo de rendimento de uma reação química
é feito a partir da quantidade obtida de produto
CÁLCULO DE PUREZA e a quantidade teórica (que deveria ser obtida).
O cálculo de pureza é feito para determinar a Quando não houver referência ao rendimento de
quantidade de impurezas que existem nas substâncias. reação envolvida, supõe-se que ele tenha sido de
Estes cálculos são muito utilizados, já que nem todas 100%.
as substâncias são puras. Exemplo:
Exemplo: Num processo de obtenção de ferro a partir do
Uma amostra de calcita, contendo 80% de car- minério hematita (Fe2O3), considere a equação quí-
bonato de cálcio, sofre decomposição quando sub- mica não-balanceada:
metida a aquecimento, de acordo com a reação:
x = 336g de Fe
Cálculo de Rendimento:
149
SUBSTÂNCIA E MISTURA
Analisando a matéria qualitativamente (qualida-
de) chamamos a matéria de substância.
Substância – possui uma composição característi-
x = 44,68g de ZnS ca, determinada e um conjunto definido de proprie-
dades.
Algumas constantes e conversões úteis: Pode ser simples (formada por só um elemento
1atm = 760mmHg = 101325Pa químico) ou composta (formada por vários elemen-
1Torr = 1mmHg tos químicos).
R= 0,082atm.L/mol.K Exemplos de substância simples: ouro, mercúrio,
150 R= 8,314/mol.K ferro, zinco.
R= 1,987cal/mol.K Exemplos de substância composta: água, açúcar
(sacarose), sal de cozinha (cloreto de sódio).
Número de Avogadro: 6,02.1023 Mistura – são duas ou mais substâncias agrupa-
1mL = 1cm³ das, onde a composição é variável e suas proprieda-
1dm³ = 1L = 1000mL des também.
1000Kg = 1ton Exemplo de misturas: sangue, leite, ar, madeira,
1Kg = 1000g granito, água com açúcar.
1g = 1000mg
1nm = 1.10-9m CORPO E OBJETO
Analisando a matéria quantitativamente chama-
Qualquer coisa que tenha existência física ou real mos a matéria de Corpo.
é matéria. Tudo o que existe no universo conhecido Corpo - São quantidades limitadas de matéria.
manifesta-se como matéria ou energia.A matéria Como por exemplo: um bloco de gelo, uma barra
pode ser líquida, sólida ou gasosa. São exemplos de de ouro. Os corpos trabalhados e com certo uso são
matéria: papel, madeira, ar, água, pedra. chamados de objetos. Uma barra de ouro (corpo)
pode ser transformada em anel, brinco (objeto).
Fonte: http://www.infoescola.com/Modules/Articles/Images/destilacao-simples.gif
FUSÃO FRACIONADA – separa componentes de misturas homogêneas de vários sólidos. Derrete-se a subs-
tância sólida até o seu ponto de fusão, separando-se das demais substâncias.
Exemplo: mistura sólida entre estanho e chumbo.
O estanho funde-se a 231°C e o chumbo, a 327°C. Então, funde-se primeiramente o estanho.
ÁTOMO
Toda matéria é formada por partículas muito pe-
quenas. Essas partículas chamamos de átomo.
ÁTOMO – É uma partícula indivisível.
Há cerca de 2,5 mil anos, o filósofo grego Demó-
crito disse que se dividirmos a matéria em pedacinhos
cada vez menores, chegaremos a grãozinhos indivisí-
veis, que são os átomos (a = não e tomo = parte). Em
1897, o físico inglês Joseph Thompson (1856-1940) des-
cobriu que os átomos eram divisíveis: lá dentro havia o
elétron, partícula com carga elétrica negativa.
Fonte: http://www.infoescola.com/
Modules/Articles/Images/full-1-3d6aba4843.jpg
Quando um elétron salta para uma camada mais O número atômico é indicado pela letra (Z).
interna ele libera energia. Número Atômico é o número de prótons e elé-
Quando um elétron salta para uma camada mais trons (átomo neutro) que existem no átomo.
externa ele absorve energia. Exemplos:
A energia emitida é em forma de luz. Chamamos Na (sódio) Z=11
essa energia de “quantum” de energia. O “quan- He (hélio) Z=2
tum” também é chamado de fóton. V (vanádio) Z=23
Br (bromo) Z=84
Po (polônio) Z=84
ISÓTOPO, ISÓBARO E ISÓTONO Outros são seguidos pela segunda letra do ele-
Se observarmos o número atômico, número de mento.
massa e de nêutrons de diferentes átomos podemos Co – cobalto
encontrar conjuntos de átomos com outro número Cr – crômio
igual. Cu – cobre
Os isótopos são átomos que possuem o mesmo nú- Cs – césio
mero de prótons (p) e diferente número de massa (A). Ca – cálcio
Exemplo: o hidrogênio (H) Cl – cloro
¹H ²H ³H
Cd – cádmio
¹ ¹ ¹
hidrogênio deutério trítio
Outros têm o seu símbolo derivado do seu nome
158 Z = 1 Z = 1 Z = 1
em latim.
A = 1 A = 2 A = 3
Na (natrium) – sódio
K (kalium) – potássio
Este fenômeno é muito comum na natureza. Qua-
S (sulfur) – enxofre
se todos os elementos químicos naturais são formados
P (phosphoros) – fósforo
por mistura de isótopos.
Ag (argentum) – prata
Os isóbaros são átomos que possuem o mesmo
Au (aurum) – ouro
número de massa (A) e diferente número de prótons.
Cu (cuprum) – cobre
Exemplo:
Sn (stannum) – estanho
40
K 40Ca
19
20 Pb (plumbum) – chumbo
A = 40 A = 40 Hg (hydrargyrium) - mercúrio
Z = 19 Z = 20
O símbolo representa o átomo do elemento quí-
São átomos de elementos químicos diferentes, mico.
mas que tem o mesmo número de massa. A representação (notação) é feita colocando o
Os isótonos são átomos que possuem o mesmo nú- símbolo do elemento, o número atômico Z à esquer-
mero de nêutrons e com diferentes números de pró- da e abaixo do símbolo e o número de massa (A) à
tons e de massa. São átomos de diferentes elementos esquerda ou direita acima do símbolo.
químicos. Veja o modelo:
Exemplo:
A
X XA
A = 37Cl A = 40Ca
Z
Z
Z = 17 Z = 20 Observe os exemplos:
__________ __________
40
Ca ou Ca40 56Fe ou Fe56
n = 20 n = 20 20 20 2
7
27
Os isótonos têm propriedades químicas e físicas di-
ferentes.
MASSA ATÔMICA
A massa atômica do átomo é expressa em u. Indica quantas vezes a massa do átomo é maior que 1/12
da massa do átomo de carbono (A =12).
Quando medimos uma grandeza, comparamos com outra como referência. Para medir a massa do nos-
so corpo utilizamos o quilograma (kg) como unidade padrão. Se a pessoa tem massa igual a 80kg significa
que a sua massa é 80 vezes maior que a massa de 1 kg.
A Química, na prática, não se interessa em saber a massa de um átomo isolado, mas para a ciência, é
importante saber a massa dos átomos comparados com a massa de outro átomo tomado como padrão. O
carbono então foi o elemento que tem sua massa padronizada (A =12).
A massa de um átomo é expressa empregando uma unidade muito pequena chamada unidade de
massa atômica (u). Antigamente, usava-se a sigla u.m.a para esta unidade.
Uma unidade de massa atômica (u) é 1/12 da massa de um átomo de carbono (A=12). Isso equivale
estabelecer o valor 12u como sendo a massa de um átomo de carbono (A=12).
Massa Atômica é a massa do átomo expressa em u. Indica quantas vezes a massa do átomo é maior que
1/12 da massa do átomo de carbono (A=12).
Quando se afirma que a massa de um elemento X é igual a 24u, significa que a sua massa é 24 vezes
maior que a massa de 1/12 do átomo do carbono (A=12). Em outras palavras, a massa atômica do elemento
X é duas vezes a massa atômica do carbono.
Tabela com alguns elementos químicos e seus números atômicos e massas atômicas:
Os elementos químicos estão reunidos em três grandes grupos: metais, não-metais e gases nobres. O
hidrogênio (H) não se encaixa em nenhuma dessas classificações porque possui características próprias.
Algumas tabelas mostram esta divisão. Os metais são elementos químicos que possuem várias propriedades 161
específicas, como brilho, condutividade térmica e elétrica, maleabilidade e ductibilidade. Todos os metais
são sólidos à temperatura de 25ºC e pressão de 1atm, exceto o mercúrio (Hg) que é líquido nestas condições.
Quase todos os metais têm brilho, pois são capazes de refletir muito bem a luz. Ouro, prata e alumínio são
exemplos de metais com muito brilho. Os metais são bons condutores elétricos. Como em geral apresentam
ductibilidade, ou seja, podem ser reduzidos a fios, são usados como tal na condução de eletricidade.
Os metais conduzem bem o calor. Nem sempre um metal puro apresenta as propriedades desejáveis
para determinadas aplicações. Por isso são produzidas as ligas metálicas, onde dois ou mais metais são mis-
turados. São exemplos o bronze e o latão. O bronze é uma mistura de cobre, estanho e o latão é resultado
da mistura de cobre e zinco. A maioria das ligas é formada por dois ou mais metais, mas algumas contêm
não-metais, como o carbono. A liga mais usada desse tipo é o aço. Os não-metais são maus condutores
de eletricidade, quase não apresentam brilho, não são maleáveis e nem dúcteis. Tendem a formar ânions
(íons negativos). Os gases nobres ou inertes, ou ainda raros, constituem cerca de 1% do ar. É muito difícil se
conseguir compostos com estes gases. Raramente eles reagem porque são muito estáveis. Suas camadas
exteriores estão completamente preenchidas de elétrons. Estão todos no grupo 18 da tabela periódica. Na
tabela periódica atual, existem elementos naturais e artificiais. Os naturais são os elementos encontrados na
natureza e os artificiais são produzidos em laboratórios.
Dois estão localizados antes do urânio (U-92), os chamados elementos cisurânicos, que são o tecnécio
(Tc – 43) e o promécio (Pm – 61). Outros elementos artificiais vêm depois do urânio, chamamos de transurâni-
cosque são todos os outros após o U – 92. Dentre eles: Pu, Am, Bk, Fm, No, Sg, Ds.
A
palavra estequiometria (ou equações quí- aí que está a lei de proporções múltiplas). Compostos
micas) vem do grego stoikheion (elemento) cujas proporções molares não são números inteiros
e metriā (medida, de metron). A obra Stoi- são chamados de compostos não-estequiométricos.
chiometria de Nicéforo rendeu muitas linhas nos livros A estequiometria não é tão somente usada para
canônicos do Novo Testamento e dos Apócrifos. O balancear equações químicas, mas também para
termo “estequiométrico” é usado com frequência em conversões de unidades - por exemplo, de gramas a
Termodinâmica para referir-se à “mistura perfeita” de mols, ou gramas a mililitros. Por exemplo, se temos 2,00
um combustível e o ar.A estequiometria baseia-se na g de NaCl, para achar o número de mols, pode-se fa-
lei da conservação das massas e na lei das propor- zer o seguinte:
ções definidas (ou lei da composição constante), e na
lei das proporções múltiplas. Em geral, as reações quí-
micas combinam proporções definidas de compostos
químicos. Já que a matéria não pode ser criada ou
destruída, a quantia de cada elemento deve ser a
mesma antes, durante e após a reação. Por exemplo, No exemplo acima, quanto escrito em forma de
162 a quantia de um elemento A no reagente deve ser fração, a unidade grama cancela-se, deixando o va-
igual à quantia do mesmo elemento no produto. lor convertido a mols (a unidade desejada)
A estequiometria é usada frequentemente para
balancear equações químicas. Por exemplo, os dois
gases diatômicos hidrogênio e oxigênio podem com-
binar-se para formar um líquido, água, em uma rea-
ção exotérmica, como descrita na Equação. Outro uso da estequiometria é achar a quantia
certa de reagentes a ser usada em uma reação quí-
mica. Um exemplo é mostrado abaixo usando uma
reação termite:
A Equação 1 não mostra a estequiometria correta
da reação - isto é, não demonstra as proporções rela-
tivas dos reagentes e do produto.
Quantos gramas de alumínio são necessários para
reagir completamente com 85 g de óxido de ferro III?
Resolução
Começa-se montando uma regra de 3 simples com base nos dados da solução de soda cáustica:
A 2ª equação será feita com base na reação de neutralização entre o ácido e a base:
Definição:É o cálculo que permite relacionar quantidades de reagentes e produtos, que participam de
uma reação química com o auxílio das equações químicas correspondentes.
Assim você terá proporção das quantidades em mols entre os participantes. Esses coeficientes lhe darão
uma idéia da relação segundo a qual as substâncias se combinam.Exemplo:
2 mol de CO estão para 1 mol de O2 que está para 2 mol de CO2
2:1:2
c) Montar a proporção baseando-se nos dados e nas perguntas do problema (massa-massa, massa-
quantidade em mols, massa-volume etc.).
Relações Auxiliares
Exemplo Básico
ou
12.1023moléculas : 6.1023 moléculas : 12.1023 molé-
culas
ou
44,8 L de CO : 22,4 L de O2 : 44,8 L de CO2
Pureza:
É o quociente entre a massa da substância
pura e a massa total da amostra. Pode ser expressa
em porcentagem.
P = massa da substância pura / massa da amos-
tra x 100. Exemplo: Qual a massa de CaCO3 presente
numa amostra de 200g de calcário cuja pureza é de
80%?
Resolução:
100g de calcário → 80g de CaCO3
200g de calcário → x
x = 160g de CaCO3
Rendimento:
É o quociente entre a quantidade de pro-
duto realmente obtida, e a quantidade teoricamen-
te calculada. Pode ser expresso em porcentagem.
Entalpia (ΔH):É o conteúdo global de calor de um
R = quantidade real / quantidade teórica x 100.
sistema.
Exemplo: Qual a massa de CaCO3 obtida na reação
164 de 2 mol de CaO com 2 mol de CO2, se o rendimento
Unidade: Kcal ou KJ (1Kcal ~ 4,18KJ)
for 60%?
A variação da energia de um sistema (ΔH) pode
ser calculado pela diferença entre as energias dos
Dados: Massa molar do CaCO3 = 100g / mol
produtos e reagentes.
CaO + CO2 → CaCO3
ΔH = Hprod – Hreag
Resolução:
Reação endotérmica: Hprod>Hreag , ΔH > 0
1mol CaO → 1 mol CO2 → 1 mol CaCO3
Reação exotérmica: Hprod<Hreag , ΔH < 0
2 mol CaO → 2 mol CO2 → 2 mol CaCO3
Reação Endotérmica:É aquela que absorve calor 1 – Entalpia de formação (ΔH°f) - É o calor libe-
do meio externo. É necessário fornecer calor.Ex: fo- rado ou absorvido na formação de 1 mol de uma
tossíntese (6CO2 + 6H2O + calor -> C6H12O6 + 6O2). substância no estado-padrão, a partir de substância
simples.
Reação Exotérmica:É aquela que libera calor Ex: Formação da Amônia = N2(g) + 3/2H2(g) -> NH3(g)
para o ambiente.Ex: Queima do gás de cozinha (C3H8 ΔH°f = -286KJ
+ 5O2 -> 3CO2 + 4H2O + calor).
Calor de neutralização ou entalpia de neutraliza- A energia livre liberada numa reação é a energia
ção: máxima que é livre para produzir trabalho útil.
H+(aq) + OH-(aq) ® H2O(l)
DH = -58 kJ
DH DS DG
+ - + (sempre)
- + - (sempre)
+ quando DH > T· DS
+ +
- quando DH < T· DS
+ quando |DH| < |T· DS|
- -
- quando |DH| > |T· DS|
CINÉTICA QUÍMICA.
Velocidade de reação
aA + bB→cC + dD
D[C]
vmédia de formação de C = ———
Dt
Energia de Ativação
Complexo ativado é uma estrutura intermediária entre os reagentes e os produtos, com ligações interme-
diárias entre as dos reagentes e as dos produtos. Energia de ativação é a energia mínima necessária para a
formação do complexo ativado.
Teoria da Colisão
Colisão efetiva ou eficaz é aquela que resulta em reação, isto é, que está de acordo com as duas últimas
condições da teoria da colisão. O número de colisões efetivas ou eficazes é muito pequeno comparado ao
número total de colisões que ocorrem entre as moléculas dos reagentes. Quanto menor for a energia de ati-
vação de uma reação, maior será sua velocidade. Uma elevação da temperatura aumenta a velocidade
de uma reação porque aumenta o número de moléculas dos reagentes com energia superior à de ativação.
Regra de Van’tHoff - Uma elevação de 10°C duplica a velocidade de uma reação. Esta é uma regra apro-
ximada e muito limitada. O aumento da concentração dos reagentes aumenta a velocidade da reação.
as de hidrogênio colidem entre si há uma certa chan- Um raciocínio similar, em princípio, pode ser apli-
ce da reação entre elas ocorrer, assim como quando cado para qualquer equilíbrio.Deve-se salientar que
moléculas de amônia colidem entre si há uma certa quando uma reação atinge o equilíbrio ela não para.
chance de elas se dissociarem e de se reorganizarem Ela continua se processando, porém tanto a reação
em H2 e N2. No início do processo, quando há ape- direta como a inversa ocorrem à mesma velocida-
nas uma mistura de hidrogênio e nitrogênio, as chan- de, e desse jeito a proporção entre os reagentes e
ces das moléculas dos reagentes (H2 e N2) colidirem os produtos não varia . Por outras palavras, estamos
umas com as outras é a máxima de toda a reação, o na presença de um equilíbrio dinâmico (e não de um
que fará com que a taxa (ou velocidade) com que a equilíbrio estático).
reação ocorre também o seja. Porém à medida com
que a reação se processa o número de moléculas de Constante de Equilíbrio
hidrogênio e de nitrogênio diminui, reduzindo dessa
forma as chances de elas colidirem entre si e, conse- “Por exemplo, a constante dessa reação na
quentemente, a velocidade desse sentido da reação. temperatura de 1000 K é 0,0413, note que a cons-
Por outro lado, com o avançar da reação, o número tante é Adimensional.”Uma vez atingido o equilíbrio
de moléculas de amônia vai aumentando, o que faz a proporção entre os reagentes e os produtos não
com que cresçam as chances de elas colidirem e de é necessariamente de 1:1 (lê-se um para um). Essa
se voltar a formar hidrogênio e nitrogênio, elevando proporção é descrita por meio de uma relação ma-
assim a velocidade desse sentido da reação. Por fim temática, mostrada a seguir:
chegará um momento em que tanto a velocidade Dada a reação genérica:aA + bB yY + zZ,onde
de um dos sentidos quanto a do outro serão idênticas, A, B, Y e Z representam as espécies químicas envolvi-
nesse ponto nenhuma das velocidades variará mais das e a, b, y e z os seus respectivos coeficientes este-
(se forem mantidas as condições do sistema onde a quiométricos. A fórmula que descreve a proporção
reação se processa) e ter-se-á atingido o equilíbrio no equilíbrio entre as espécies envolvidas é:
químico, conforme ilustrado nas figuras abaixo:
168
Os colchetes representam o valor da concentra-
ção (normalmente em mol/L) da espécie que está
simbolizada dentro dele ([A] = concentração da
espécie A, e assim por diante). é uma grande-
za chamada de constante de equilíbrio da reação.
Cada reação de equilíbrio possui a sua constante,
a qual sempre possui o mesmo valor para uma mes-
ma temperatura. De um modo geral, a constante
de equilíbrio de uma reação qualquer é calculada
Velocidade das reações direta e inversa em função dividindo-se a multiplicação das concentrações
do tempo dos produtos (cada uma elevada ao seu respectivo
coeficiente estequiométrico) pela multiplicação das
concentrações dos reagentes (cada uma elevada
ao seu relativo coeficiente estequiométrico).
Um exemplo disso é a formação do trióxido de
enxofre (SO3) a partir do gás oxigênio (O2) e do dióxi-
do de enxofre (SO2(g)) — uma etapa do processo de
fabricação do ácido sulfúrico:
2 SO2(g) + O2(g) 2 SO3(g)
Neste caso, a terceira reação é igual à soma da primeira mais duas vezes a segunda:
Pode se perceber que caso uma reação apareça duas ou mais vezes na soma, ela aparece esse mesmo
número de vezes na multiplicação.
Conforme já mencionado, no equilíbrio a velocidade tanto da reação inversa quanto a da direta são
iguais. Por sua vez, a velocidade de uma reação depende de uma outra constante chamada de constante
de velocidade (simbolizada aqui por ); e é possível encontrar uma relação entre as constantes de velocida-
de das reações direta e indireta, e a constante de equilíbrio.
Para demonstrar isso, considere-se o seguinte equilíbrio genérico (supondo que as suas reações ocorram
cada qual em uma única etapa):
170
2A X+Y
Agora vejamos as duas reações que ocorrem nele, juntamente com a expressão de suas respectivas
velocidades ( ):
2A → X + Y
X + Y → 2A
É importante frisar que o expoente que eleva as concentrações das espécies na fórmula da velocidade
não necessariamente é igual ao respectivo coeficiente estequiométrico da espécie na reação, contudo o
expoente certamente será assim se a reação se processar em uma única etapa (conforme se está conside-
rando nessa situação). Uma vez que as velocidades de ambas as reações são idênticas no equilíbrio, pode-se
igualá-las:
Observemos que a expressão do membro es- A densidade de uma dada substância em dadas
querdo é idêntica à fórmula do equilíbrio dessa rea- condições é uma propriedade intensiva, ou seja, é a
ção. Então podemos escrever: mesma independentemente do quanto dessa subs-
tância houver. Dessa forma pode-se concluir que a
concentração de um sólido ou um líquido puro (que
são virtualmente incompressíveis) é a mesma inde-
pendentemente de quanto houver deles (já um gás,
que pode ser comprimido sem dificuldade, tem a sua
Esta relação é válida para qualquer equilíbrio cujas concentração variada facilmente). Por essa razão se
reações ocorram em uma única etapa, o que pode ser simplifica as expressões das constantes de equilíbrio
facilmente constatado por essa mesma dedução para omitindo-se a concentração de sólidos e líquidos pu-
outros equilíbrios.No caso de as reações se processa- ros.Com isso, a expressão para a constante do último
rem em mais de uma etapa, basta lembrar que a rea- equilíbrio apresentado fica:
ção global nada mais é que a soma das reações de
cada etapa. Para cada uma das etapas pode-se fazer
essa mesma dedução, e então somar cada reação (o
que significa multiplicar as suas constantes). Dessa for-
ma teremos para uma reação de múltiplas etapas:
Equilíbrio gasoso
Note-se que o subscrito (s) significa que a espécie O membro esquerdo ( / ) é a fórmula para o
se encontra no estado sólido. Equilíbrios heterogêneos, cálculo da concentração molar do gás. A constante
como este, frequentemente apresentam ao menos um é sempre a mesma e a temperatura não varia
sólido puro ou um líquido puro.Na expressão da cons- em um sistema que permanece em equilíbrio quí-
tante de equilíbrio temos as concentrações das espé- mico, assim o único fator que pode variar na equa-
cies envolvidas. A concentração pode ser calculada ção em um equilíbrio é a pressão parcial . Dessa
dividindo-se o número de mols da substância pelo vo- forma pode-se dizer que a concentração do gás é
lume que ela ocupa. O número de mols representa a proporcional à sua pressão parcial.Com base nisso,
quantidade de matéria e, por isso, ele é proporcional também é possível escrever a fórmula da constante
a massa; assim o número de mols dividido pelo volume de equilíbrio usando-se as pressões parciais dos ga-
é proporcional à massa dividida pelo volume.A densi- ses envolvidos, no lugar de suas concentrações. Por
dade de algo é justamente calculada dividindo-se a exemplo:
sua massa pelo seu volume ocupado. No caso de uma
substância pura, toda a sua massa corresponde à de
uma única substância, e assim a sua “concentração”
do seu número de mols dividido pelo volume é propor- H2(g) + I2(g) 2HI(g)
cional a sua densidade (massa dividida pelo volume).
Observe-se que agora a constante de equilíbrio Se o valor de (volume) diminuir, é preciso que o
está representada por , em vez de (quando número de mols do N2O4 aumente para que o valor
o cálculo foi feito usando-se as concentrações dos da constante de equilíbrio permaneça o mesmo. Na
gases). Essas duas constantes para um mesmo caso reação, esse reagente representava metade do nú-
possuem valores diferentes uma da outra, então é mero de moléculas do produto. O mesmo raciocínio
importante especificar qual das duas se está usando pode ser aplicado em qualquer equilíbrio gasoso.
quando se está lidando com um equilíbrio.
Temperatura
Adição ou remoção de reagentes (Não serve
para sólidos) É encontrado experimentalmente que a forma-
ção de produtos de uma reação exotérmica (isto é,
Ao se alterar a quantidade de uma substância, que liberta energia) é favorecida com a diminuição
também se está mexendo na velocidade em que a
da temperatura, ao passo que a formação de produ-
reação se processa (pois se estará mudando as chan-
tos em uma reação endotérmica (isto é, que absorve
ces de as substâncias reagirem entre si). Dessa forma,
energia) é favorecida com o aumento da tempera-
a velocidade das reações direta e inversa deixa de
tura.Em um equilíbrio, se uma reação é endotérmica
ser igual: se uma substância foi retirada de uma das
a outra necessariamente é exotérmica, e vice-versa.
reações, essa passará a ser mais lenta; e, analoga-
Aumentar ou diminuir a temperatura fará com que a
mente, ela passará a ser mais rápida se uma substân-
cia for adicionada a ela. Assim ocorre que se algo for velocidade de uma das reações aumente e a da ou-
acrescentado, o equilíbrio tende a reduzir a quanti- tra diminua. As velocidades das reações se igualarão
dade dessa substância e vice-versa.Tal resposta do novamente depois de um tempo; porém nesse caso
equilíbrio pode ser sumarizada pelo assim chamado como temos o favorecimento e o desfavorecimento
Princípio de Le Chatelier: da formação de certas substâncias, a constante de
Quando um stress é aplicado a um sistema em equilíbrio nessa nova temperatura não será mais a
equilíbrio dinâmico, o equilíbrio tende a se ajustar para mesma da temperatura anterior.
diminuir o efeito do stress.À medida que as reações se
processam, as suas velocidades vão se aproximando Catalisador
172 até que se igualem e assim é atingido novamente o
equilíbrio. A constante do equilíbrio será a mesma da A adição de um catalisador direciona a reação
de antes de se adicionar ou remover substâncias. para um novo mecanismo, o qual é mais rápido do
que o sem a catálise. Contudo, o catalisador não
Compressão afeta o valor da constante de equilíbrio, ele apenas
faz com que o equilíbrio seja atingido em um tempo
Um equilíbrio gasoso pode ser afetado pela com- menor, conforme mostrado na figura a seguir:
pressão. De acordo com o princípio de Le Chatelier,
com o aumento da pressão o equilíbrio tende a se
deslocar no sentido de diminuir essa pressão, o que
significa favorecer a reação que resulte no menor nú-
mero de moléculas no estado gasoso. Nesse caso, a
o valor da constante de equilíbrio também não é al-
terado.Para se observar tal efeito, considere-se esse
equilíbrio:
N2O4(g) 2NO2(g)
As concentrações podem ser escritas como o seu Curvas tracejadas: com catalisador
número de mols dividido pelo volume ( ), então Curvas cheias: sem catalisador
teremos:
Atenção: O equilíbrio não é deslocado com a
presença do catalisador.
Existe uma relação matemática entre as cons- Pilha é qualquer dispositivo no qual uma reação
tantes de equilíbrio em função da concentração de oxirredução espontânea produz corrente elétrica.
Kc e em função da pressão parcial Kp, baseada na Cátodo é o eletrodo no qual há redução (ganho
equação de Clapeyron: de elétrons). É o polo positivo da pilha.
Ânodo é o eletrodo no qual há oxidação (perda
de elétrons). É o polo negativo da pilha.
Essa expressão matemática apresenta uma limi- Representação convencionada pela IUPAC
tação, não admitindo a presença de um ou mais lí-
quidos na reação em questão. Isso não significa que Ânodo/Solução do ânodo//Solução do cátodo/
a reação não apresente Kp e Kc, significa apenas Cátodo
que a expressão é inválida para esse caso.
Exemplo: Pilha de Daniell→Zn/Zn2+//Cu2+/Cu
Aplicações
Eletrodo padrão 173
Dada a constante de equilíbrio, é possível saber
em qual direção a reação vai ocorrer preferencial- Eletrodo padrão é aquele no qual as concentra-
mente no início quando misturamos certas quantida- ções das substâncias em solução é igual a 1 mol/L e
des de substâncias que estarão em equilíbrio entre a temperatura é de 25°C. No caso de um gás partici-
si.Para isso basta calcular o quociente de reação par do eletrodo, sua pressão deve ser igual a 1 atm.
para o início da mistura. Sua expressão é exatamen- Por convenção, o potencial padrão de eletrodo do
te a mesma que a da constante de equilíbrio, o que hidrogênio é igual a zero e o seu potencial padrão
muda é que nesse caso usamos as concentrações ou de redução é igual a zero:
as pressões parciais de um dado instante da reação
(não necessariamente no equilíbrio).Se o quociente
de reação for maior que a constante de equilíbrio, 2H+ + 2e- →
¬
H2
isso significa que a quantidade de produtos é alta
E0red = 0 (convenção)
demais e, pelo princípio de Le Chatelier, a reação
vai se processar preferencialmente no sentido de
A IUPAC eliminou o termo potencial de oxidação.
consumir os produtos. Analogamente, se o quocien-
Sempre deve ser usada a expressão potencial de re-
te de reação for menor que a constante de equilí-
dução. A medida do potencial padrão de redução
brio, a reação vai se processar preferencialmente do
de um dado eletrodo padrão é feita medindo-se a
sentido de consumir os reagentes.Sabendo-se disso,
ddp de uma pilha padrão na qual uma das semipi-
também é possível favorecer a formação de um pro-
lhas é um eletrodo padrão de hidrogênio e a outra é
duto de interesse o removendo em uma certa taxa
o eletrodo padrão cujo E0red se quer medir.
ao longo do processo (pois assim o equilíbrio será
- Quanto maior for o E0red, mais fácil será a redu-
deslocado a favor da formação desse produto). ção e mais forte será o oxidante.
- Quanto menor for o E0red, mais difícil será a redu-
ção e mais fraco será o oxidante.
- Quanto maior for o E0red, mais difícil será a oxida-
ção e mais fraco será o redutor.
- Quanto menor for o E0red, mais fácil será a oxida- Nas eletrólises em solução aquosa e com ânodo
ção e mais forte será o redutor. inerte (Pt ou grafite) de sais oxigenados (SO42-, NO3-
, PO43-...) não há a descarga dos respectivos ânions
fluxo de elétrons oxigenados, mas ocorre a descarga segundo a
¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ® equação:
reação espontânea
(DG < 0) H2O → 2H+ + ½O2 + 2e-
MENOR E0red MAIOR E0red
fluxo de elétrons O ânion F-, embora não seja oxigenado, compor-
¬ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ta-se como os ânions oxigenados em relação à des-
reação não-espontâ- carga no ânodo.
nea (DG > 0) Nas eletrólises em solução aquosa com ânodo de
metal não-inerte M (prata ou metal mais reativo que
Corrosão a prata), a descarga que ocorre no ânodo é segun-
do a equação:
Corrosão do ferro
M → M x+ + xe-
Ag → Ag+ + e-
Reação global: 2Fe + Fe2O3 · Cu → Cu2+ + 2e-
3
/2O2 + xH2O → xH2O
ferrugem
Purificação eletrolítica do cobre - Faz-se a eletró-
lise de CuSO4 em solução aquosa usando como cá-
todo um fio de cobre puro e como ânodo um bloco
Proteção contra a corrosão de cobre impuro. Nesse processo, precipita a lama
- Ferro galvanizado (ferro revestido de anódica que contém impurezas de Au, Ag, Pt, etc.,
zinco) da qual são posteriormente extraídos esses metais.
- Lata (ferro revestido de estanho)
- Ferro com plaquetas de Zn ou Mg Galvanoplastia - Douração, prateação, niquela-
174 ção, cromeação, etc., feitas por via eletrolítica.
presas na superfície e que funcionam
como eletrodo de sacrifício
Aplicações da eletrólise
Eletrólise - Obtenção de metais (Al, Na, Mg)
- Obtenção de NaOH, H2 e Cl2
Eletrólise é uma reação de oxirredução não-es- - Purificação eletrolítica de metais
pontânea produzida pela passagem da corrente - Galvanoplastia
elétrica. Cátodo da cela eletrolítica é o eletrodo ne-
gativo, isto é, ligado ao polo negativo do gerador.
Nele ocorre sempre uma reação de redução. Ânodo
da cela eletrolítica é o eletrodo positivo, isto é, liga-
do ao polo positivo do gerador. Nele sempre ocorre
uma reação de oxidação.
Ácido: toda espécie química que recebe par de Já o hidróxido de sódio, a popular soda cáustica,
elétrons. ao se ionizar em água, libera uma hidroxila OH-, de-
Base: toda espécie química que doa par de elé- finindo-se assim como base:
trons.
Exemplo:
A definição mais tradicional dos ácidos e bases Uma outra definição para ácidos e bases foi
foi dada pelo cientista sueco Svante Arrhenius, que dada pelo dinamarquês Johannes N. Bronsted e
estabeleceu os ácidos como substâncias que - em pelo inglês Thomas Lowry, independentemente, fi-
solução aquosa - liberam íons positivos de hidrogênio cando conhecida como definição protônica. Se-
(H+), enquanto as bases, também em solução aquo- gundo os dois, ácido é uma substância capaz de
sa, liberam hidroxilas, íons negativos OH-. Assim, quan- ceder um próton a uma reação, enquanto base
do diluído em água, o cloreto de hidrogênio (HCl) é uma substância capaz de receber um próton.
ioniza-se e define-se como ácido clorídrico, como A definição de Bronsted-Lowry é mais abrangente
segue: que a de Arrhenius, principalmente pelo fato de
nem todas as substâncias que se comportam como
bases liberarem uma hidroxila OH-, como é o caso
da amônia (NH3). Além disso, a definição protônica
não condiciona a definição de ácidos e básicos à
dissolução em meio aquoso, como propunha a do
químico sueco.
Bronsted e Lowry definiram ácidos e bases a par-
tir dos prótons que liberavam e recebiam. Já o nor-
te-americano Gilbert Newton Lewis se voltou para
os elétrons ao desenvolver sua definição. De acor-
do com ela, ácidos são substâncias que, numa liga-
ção química, podem receber pares eletrônicos, en- H2O(ℓ) + H2O(ℓ) ↔ H3O+(aq) + OH-(aq)
quanto as bases são aquelas que cedem estes pa-
res. A definição de Lewis abrange as de Arrhenius e Ou
a definição protônica, que, entretanto, continuam
válidas dentro de suas próprias abrangências. Experimentos demonstram que quando a água,
limpa ou misturada com solvente, se ioniza num es-
Identificação dos ácidos e bases paço pequeno origina o equilíbrio: Observe que hou-
ve a formação dos íons: H3O+ (íon hidrônio) e OH-
Os ácidos possuem sabor azedo, como o en- (íon hidróxido). É por isso que esse processo é chama-
contrado nas frutas cítricas ricas no ácido de mes- do de Ionização da água. As concentrações de íons
mo nome. Já as bases, tem gosto semelhante ao H+ e OH- que estão no equilíbrio diversificam com a
do sabão (sabor adstringente). Mas, felizmente, há temperatura, porém constantemente estarão iguais
modos mais eficazes e seguros de identificar ácidos entre si:
e bases do que o paladar. É possível medir a concen-
tração de hidrogênio iônico em uma solução a partir água → [H+] = [OH-]
de uma escala logarítmica inversa, que recebeu o
nome de potencial hidrogeniônico, ou simplesmen- Em uma água pura a 25 ºC, as concentrações em
te, escala de pH. Esta escala vai de zero a 14, sendo mol/L de H+ e OH- mostram um valor igual a 10-7 mol.
o pH 7 considerado neutro. Os valores menores que L-1. Água pura medindo 25 ºC → [H+] = [OH-] = 10-7
sete classificam a solução medida como ácida e os mol . L-1
maiores que sete, como alcalinos (bases). Escala de
pH: Auto-Ionização da H2O
Q
uímica Orgânica: é o ramo da Química O explosivo da dinamite é a nitroglicerina, que é
que estuda os compostos do carbono. fabricada pela reação da glicerina com o ácido nítri-
Os átomos de carbono podem ligar-se co. A glicerina é um composto orgânico cuja molécu- 179
uns aos outros formando cadeias carbônicas. São la apresenta uma cadeia de três carbono.
conhecidos compostos com cadeias formadas por
2,3,4,5 ... até milhares de átomos de carbono
Cadeia Carbônica
C3H6O
H 4C2O2
Acetona
C6H12O6 - Glicose
Nos hospitais, os doentes após operações cirúrgicas são alimentados com glicose sob a forma de soro
(solução de glicose). A glicose é um composto orgânico cuja molécula apresenta uma cadeia de seis áto-
mos de carbono
C6H12O6
Glicose
A coloração amarela da cenoura é dada por um pigmento vegetal chamado caroteno, cuja molécula
apresenta uma cadeia de 40 átomos de carbono (C40H56). A coloração avermelhada do tomate maduro é
dada por outro pigmento chamado” licopeno”, cuja molécula também apresenta cadeia de 40 átomos de
carbono (C40H56). A cadeia carbônica do caroteno é diferente da do licopeno, mas ambos são (C40H56).
O petróleo é uma mistura contendo inúmeros compostos orgânicos, predominando os formados de car-
bono e hidrogênio (CxHy). Por destilação fracionada do petróleo são obtidos inúmeros produtos, tais como:
gasolina, querosene, óleo diesel, óleos lubrificantes, parafinas, vaselina, asfalto, etc.
Características Gerais
As ligações mais frequentes envolvendo os compostos orgânicos acontecem entre átomos de carbono
e hidrogênio. Nesse caso, como a atração exercida sobre os elétrons é praticamente a mesma, não ocorre
acúmulo de cargas elétricas (polos). Portanto, essas ligações são apolares, originando compostos apolares.
Quando, na molécula de um composto orgânico existe outro elemento químico além de carbono e hi-
180 drogênio, suas moléculas poderão apresentar certa polaridade.
ou
Essa característica é, entre outras, responsável por algumas propriedades dos compostos orgânicos. Ve-
jamos algumas delas:
A ausência ou a baixa polaridade é responsável pelos menores pontos de fusão e ebulição quando com-
parado com os inorgânicos. Também essa característica justifica que, à temperatura ambiente, os compos-
tos orgânicos sejam encontrados nos três estados físicos, enquanto os compostos iônicos sejam encontrados
somente no estado sólido.
Solubilidade
Os compostos orgânicos apolares são praticamente insolúveis em água e tendem a se dissolver em outros
compostos orgânicos apolares (semelhante tende a dissolver semelhante).
A graxa (orgânica) é removida quando a dissolvemos com gasolina (orgânica). No entanto, também
existem compostos orgânicos polares, portanto solúveis em água. Alguns deles: açúcar, álcool comum, áci-
do acético (contido no vinagre), éter comum, etc.
Combustibilidade
A maior parte dos compostos que sofrem combustão (queima) são de origem orgânica.
Encadeamento
Os átomos de carbono têm a propriedade de se unir, formando estruturas denominadas cadeias carbô-
nicas. Essa propriedade é a principal responsável pela existência de milhões de compostos orgânicos.
Veja alguns exemplos de cadeias:
181
Importante: Uma cadeia carbônica pode apresentar, além de átomos de carbono, átomos de outros
elementos, desde que estes estejam entre os átomos de carbono. Os elementos diferentes do carbono que
mais frequentemente podem fazer parte da cadeia carbônica são: O, N, S, P. Nessa situação, estes átomos
são denominados heteroátomos.
Existe outra maneira de representar a cadeia de um composto orgânico. Nesse tipo de representação,
não aparecem nem os carbonos, nem os hidrogênios ligados aos carbonos. As ligações entres os carbonos
são indicados por traços (-) localizando-se os carbonos nos pontos de inflexão (quinas) e nas extremidades
dos traços.
ciclopropano
1-buteno
Classificação do Carbono
Podem ser classificados de acordo com o número de outros átomos de carbono ligado a ele na cadeia.
182
Ligado diretamente a dois outros
Secundário
carbonos
Cadeia Carbônica
É o conjunto de todos os átomos de carbono e de todos os heteroátomo que constituem a molécula de
qualquer composto orgânico. Quanto a disposição dos átomos de carbono:
Benzeno
Ácido Fênico
Fórmula molecular da acetona
Metil-propanol-2
O carbono terciário se liga a outros três átomos
de carbono.
Propanol – 1
Propanodiol – 1,2
Triálcool: este álcool conta com três hidroxilas em A denominação é constituída a partir do nome dos
sua cadeia. hidrocarbonetos, finalizando com a terminação al.
Exemplo: Exemplo:
Propanotriol
Exemplo:
Propanol-2
Ciclopentanol
Neste caso, a figura pentágono forma a estrutura
carbônica.
Fenol
(mudança de posição do texto)
A numeração da cadeia deve começar depois da ou gasosa. Os de massa molecular mais elevada
da extremidade mais próxima do grupo C = O. estão no estado sólido, os que apresentam dois e três
carbonos na molécula são gasosos e os seguintes são
líquidos que são extremamente voláteis.
Éteres são usados como solventes de óleos, gor-
duras, resinas e na fabricação de seda artificial. Den-
tre as variadas aplicações dos éteres se destaca sua
utilização na medicina que é muito importante, sen-
do usado como anestésico e na preparação de me-
dicamentos.
O éter etílico (éter comum) pertence à classe de
éteres, é um líquido incolor muito volátil (ferve a 35°
A denominação das cetonas ramificadas e/ou C), produz frio intenso ao evaporar em contato com
insaturadas segue as regras já vistas. a pele e seus vapores são três vezes mais pesados
que o ar. Sua utilização é feita em pacientes, é um
poderoso anestésico inalatório porque relaxa os mús-
culos, mas possui as desvantagens de causar irrita-
ção no trato respiratório e a possibilidade de provo-
car explosões em ambientes fechados. Sendo assim,
ele está em desuso, apesar de ter sido usado durante
quase um século.
O éter etílico dissolve graxas, óleos e resinas, por
isso é usado na indústria como solvente de óleos e
tintas.
A nomenclatura oficial para os Éteres segue uma
regra fixa estabelecida pela União Internacional de
Existe uma nomenclatura usual em que o grupo Química Pura e Aplicada (IUPAC). Observe o funcio-
>C = O é denominado cetona, e seus ligamentos são namento das normas:
188 considerados grupos orgânicos. 1. Inicie o nome dos éteres pelo prefixo de menor
número de carbonos, conforme abaixo:
Prefixos:
Esta evolução é devido a pesquisas e produção de inúmeras substâncias por reações feitas em labora-
tório. Os químicos reconhecem o composto e tentam produzi-lo por meio de reações orgânicas. É econo-
micamente viável, pois é mais barato e mais fácil sintetizar uma substância do que extraí-la de uma fonte
natural. Exemplo: a vitamina C pode ser obtida de fontes naturais ou pode ser produzida em laboratório, e
sua composição é a mesma em ambos os casos.
As reações orgânicas podem ser classificadas de diversas maneiras, a mais comum é a que diferencia
reações de adição, substituição e eliminação.
Reações de adição: correspondem às reações que tem uma configuração característica de hidrocarbo-
netos insaturados, como os alcenos, alcinos e dienos. Na reação por adição, há a junção de duas ou mais
moléculas provocando a origem de unicamente um produto. Veja o exemplo:
Reações de substituição: um átomo ou grupo de átomos é substituído por um radical do outro reagente,
ou seja, ocorre na molécula a troca de um ligante.
Reações de eliminação: os átomos na molécula do reagente orgânico diminuem, daí o nome da reação:
eliminação. Nesse tipo de reação, ocorre a saída de ligantes de uma molécula sem que aconteça a substi-
tuição desses ligantes por outros.
Mecanismo de uma reação é o caminho pelo qual a reação se processa, ele descreve as várias etapas
pelas quais ela passa. 189
A ruptura das ligações, os ataques eletrofílicos e nucleofílicos ao reagente orgânico, a formação de no-
vas ligações e de compostos intermediários, tudo isso é demonstrado em um mecanismo. Vale lembrar que
um mecanismo é proposto se baseado em experimentos, mas é apenas um modelo, não sendo um caminho
obrigatório para a reação.
No mecanismo da reação influem vários fatores, como a natureza do solvente, polaridade das ligações,
troca de elétrons, etc. Portanto, um determinado mecanismo nem sempre é a única maneira de se explicar
a formação de determinado produto.
No caso das reações orgânicas, um mecanismo pode ocorrer de duas maneiras: ionicamente ou via
radicais livres.
1. Mecanismo iônico: a ruptura heterolítica de uma ligação covalente dá início ao processo, originando
íons (carbocátion e carbânion).
2. Mecanismo via radicais livres: a ruptura homolítica de uma ligação covalente forma radicais livres
(muito instáveis e reativos).
Acompanhe o mecanismo de Halidrificação de Alcenos.
Etapa final: Nesta etapa se forma o produto (1- Bromo propano) e um novo radical que reiniciará a rea-
ção.
Como se vê, a Halidrificação de Alcenos ocorre por Mecanismo via radicais livres.
Observação: Halidrificação pode ser entendida como Halogenação, uma vez que houve a adição de
um Halogênio (Bromo) à molécula.
O mecanismo de uma reação é uma maneira didática (simulação) de mostrar passo a passo a formação
de determinado produto, mas, contudo, explica o que acontece realmente na prática.
Reação de Saponificação
Em termos gerais, a reação de saponificação ocorre quando um éster em solução aquosa de base inor-
gânica origina um sal orgânico e álcool.
A Reação de saponificação também é conhecida como hidrólise alcalina, através dela é que se torna
possível o feitio do sabão. Falando quimicamente, seria a mistura de um éster (proveniente de um ácido gra-
xo) e uma base (hidróxido de sódio) para se obter sabão (sal orgânico).
A equação abaixo demonstra este processo:
Praticamente todos os ésteres são retirados de óleos e gorduras, daí o porquê das donas de casa usarem
o óleo comestível para o feitio do sabão caseiro.
Equação genérica da hidrólise alcalina:
190
A equação acima representa a hidrólise alcalina de um óleo (glicerídeo). Dizemos que é uma hidrólise
em razão da presença de água (H2O) e que é alcalina pela presença da base NaOH (soda cáustica). O
símbolo ∆ indica que houve aquecimento durante o processo. Produtos da reação de Saponificação: sabão
e glicerol (álcool).
Reação de substituição
Reação de substituição, como o próprio nome já diz, é aquela em que ocorre na molécula a troca de
um ligante.
Veja um exemplo de substituição por radical livre:
1ª etapa: formação do radical
Ruptura homolítica do Br2 e formação de radicais • BR: esta cisão na ligação covalente ocorre na pre-
sença de calor ou luz.
2ª etapa: ataque do radical Brometo ao Propano, causando a ruptura homolítica da ligação C ― H.
O ligante H da molécula de propano é substituído pelo ligante BR, originando o 1 -Bromo propano ou 2 -
Bromo propano. A reação de substituição por radical livre é típica de alcanos.
Nota: As duas setas indicam que o radical Bromo pode substituir qualquer hidrogênio da estrutura. A rup-
tura de ligações entre átomos pode ocorrer de modo homogêneo ou heterogêneo.
Ruptura Homolítica: a molécula é separada de modo igual para os radicais resultantes, ou seja, é uma
cisão de ligação sem perda nem ganho de elétrons.
Quando a quebra da ligação é feita igualmente, cada átomo fica com seu elétron original da ligação,
dando origem aos chamados radicais livres.
Radical livre: átomo com elétron desemparelhado, cuja carga elétrica é neutra. 191
Ruptura Heterolítica: a quebra da ligação é feita de modo desigual, ficando o par eletrônico com apenas
um dos átomos da ligação.
Observe que uma das espécies ganha elétrons e a outra perde (formação de íons).
Rompendo-se heteroliticamente a ligação entre carbono e bromo, teremos um carbocátion e um íon
brometo (ânion). Neste caso, o elemento bromo, como sendo mais eletronegativo, leva consigo o par ele-
trônico.
Mas o que aconteceria se o par de elétrons ficasse com o Carbono? Isto ocorre quando há uma quebra
heterolítica entre a ligação de carbono e hidrogênio:
O carbono fica com o par eletrônico e colabora para a formação de um carbânion e um íon H+ (próton).
Reação de oxidação: quando ocorre - na maioria das vezes - com adição de oxigênio.
A reação da oxidação pode ser: parcial ou total.
Oxidação de aldeído.
Exemplo:
192
Reação de redução: é o inverso da reação de oxidação. Ocorre - na maioria das vezes - com adição de
hidrogênio.
A reação de redução pode ser: parcial ou total.
Redução de aldeído.
Exemplo:
Redução de cetona.
Exemplo:
Reação de combustão
Combustão é uma reação química exotérmica, ou seja, libera calor para o ambiente. Esse tipo de rea-
ção é muito comum, já que a maioria da energia que consumimos é derivada da queima de materiais: os
combustíveis. Exemplo: gás de cozinha, gasolina, óleos e outros, todos eles obtidos a partir da destilação de
petróleo, por isso recebem a classificação de hidrocarbonetos. Esses compostos são formados somente por
carbono e hidrogênio, e para que uma combustão ocorra é necessário um comburente: o gás Oxigênio.
Na reação de combustão dos hidrocarbonetos ocorre a formação de gás carbônico (CO2) e água, a
energia é liberada sob a forma de calor. Veja a equação de combustão:
Para se prevenir e extinguir um incêndio é preciso eliminar um dos três elementos citados, a eliminação
pode ser por:
Resfriamento: a água é usada para abaixar a temperatura;
Abafamento: utiliza-se cobertores para impedir o contato do gás oxigênio do ar com o combustível;
Retirada do combustível: existem vários tipos de extintores, e eles são usados conforme a origem do com-
bustível:
- Sólidos: carvão, madeira, pólvora;
- Líquidos: gasolina, álcool, éter, óleo;
- Gasosos: metano, etano, etileno.
Bioquímica
O objetivo da Bioquímica é explicar a forma e a função biológica em termos químicos. Uma das formas
mais produtivas de se abordar o entendimento dos fenômenos biológicos tem sido aquela de purificar os
componentes químicos individuais, tais como uma proteína de um organismo vivo, e caracterizar sua estrutu-
ra química ou sua atividade catalítica.
195
Ligação peptídica
Cada aminoácido está ligado a outro por uma ligação peptídica. Por meio dessa ligação, o grupo amina
de um aminoácido une-se ao grupo carboxila do outro, havendo a liberação de uma molécula de água. Os
dois aminoácidos unidos formam um dipeptídio.A ligação de um terceiro aminoácido ao dipeptídeo origina
um tripeptídeo que então, contém duas ligações peptídicas. Se um quarto aminoácido se ligar aos três ante-
riores, teremos um tetrapeptídeo, com três ligações peptídicas. Com o aumento do número de aminoácidos
na cadeia, forma-se um polipetídio, denominação utilizada até o número de 70 aminoácidos. A partir desse
número considera-se que o composto formado é uma proteína.
A parte protéica é a apoenzima e a não protéica é o co-fator. Quando o co-fator é uma molécula
orgânica, é chamado de coenzima. O mecanismo de atuação da enzima se inicia quando ela se liga ao
reagente, mais propriamente conhecido como substrato. É formado um complexo enzima-substrato, instá-
vel, que logo se desfaz, liberando os produtos da reação a enzima, que permanece intacta embora tenha
participado da reação
Mas para que ocorra uma reação química entre duas substâncias orgânicas que estão na mesma solu-
ção é preciso fornecer uma certa quantidade de energia, geralmente, na forma de calor, que favoreça o
encontro e a colisão entre elas. A energia também é necessária para romper ligações químicas existentes
entre os átomos de cada substância, favorecendo, assim a ocorrência de outras ligações químicas e a sínte-
se de uma nova substância a partir das duas iniciais.
197
Temperatura
A temperatura é um fator importante na atividade das enzimas. Dentro de certos limites, a velocidade de
uma reação enzimática aumenta com o aumento da temperatura. Entretanto, a partir de uma determina-
da temperatura, a velocidade da reação diminui bruscamente.O aumento de temperatura provoca maior
agitação das moléculas e, portanto, maiores possibilidades de elas se chocarem para reagir. Porém, se for
ultrapassada certa temperatura, a agitação das moléculas se torna tão intensa que as ligações que estabi-
lizam a estrutura espacial da enzima se rompem e ela se desnatura.
Para cada tipo de enzima existe uma temperatura ótima, na qual a velocidade da reação é máxima,
permitindo o maior número possível de colisões moleculares sem desnaturar a enzima. A maioria das enzimas
humanas, têm sua temperatura ótima entre 35 e 40ºC, a faixa de temperatura normal do nosso corpo. Já
bactéria que vivem em fontes de água quente têm enzimas cuja temperatura ótima fica ao redor de 70ºC.
198
Q
uando uma folha de árvore é exposta à A química nos acompanha 24 horas por dia. Ela
luz do sol e é iniciado o processo da fo- está presente em praticamente todos os produtos
tossíntese, o que está ocorrendo é quí- que utilizamos no dia-a-dia. Do sofisticado computa-
mica. Quando o nosso cérebro processa milhões de dor à singela caneta esferográfica, do possante au-
informações para comandar nossos movimentos, tomóvel ao carrinho de brinquedo, não há produto
nossas emoções ou nossas ações, o que está ocor- que não utilize matérias-primas fornecidas pela in-
rendo é química.A química está presente em todos dústria química. Teclados, gabinetes e disquetes dos
os seres vivos. O corpo humano, por exemplo, é uma computadores, para ficar apenas em alguns exem-
grande usina química. Reações químicas ocorrem a plos, são moldados em resinas plásticas. No automó-
cada segundo para que o ser humano possa conti- vel, há uma lista enorme de produtos de origem quí-
nuar vivo. Quando não há mais química, não há mais mica: volantes, painéis, forração, bancos, fiação elé-
vida.Há muitos séculos, o homem começou a estu- trica encapada com isolantes plásticos, mangueiras, 199
dar os fenômenos químicos. Os alquimistas podiam tanques de combustível, pára-choques e pneus são
estar buscando a transmutação de metais. Outros apenas alguns desses itens. A maioria dos alimentos
buscavam o elixir da longa vida. Mas o fato é que, chegou às nossas mãos em embalagens desenvolvi-
ao misturarem extratos de plantas e substâncias reti- das pela química. Em nossas roupas, há fibras sinté-
radas de animais, nossos primeiros químicos também ticas e corantes de origem química. Em nossa casa,
já estavam procurando encontrar poções que curas- há uma infinidade de produtos fornecidos, direta ou
sem doenças ou pelo menos aliviassem as dores dos indiretamente, pela indústria química: a tinta que re-
pobres mortais. Com seus experimentos, eles davam veste as paredes, potes e brinquedos em plástico, tu-
início a uma ciência que amplia constantemente os bos para condução de água e eletricidade, tapetes,
horizontes do homem. Com o tempo, foram sendo carpetes e cortinas. Isso sem falar nos componentes
descobertos novos produtos, novas aplicações, no- químicos das máquinas de lavar roupas e louças, na
vas substâncias. O homem foi aprendendo a sinte- geladeira, no microondas, no videogame e no tele-
tizar elementos presentes na natureza, a desenvol- visor. Nos produtos que utilizamos em nossa higiene
ver novas moléculas, a modificar a composição de pessoal e na limpeza da casa também podemos per-
materiais. A química foi se tornando mais e mais im- ceber a presença da química. É só prestar atenção.
portante até ter uma presença tão grande em nos- Nosso cotidiano seria realmente muito mais difícil sem
so dia-a-dia, que nós nem nos damos mais conta do a química. É para ajudar o homem a ter mais saúde,
que é ou não é química.O que sabemos, no entanto, mais conforto, mais lazer e mais segurança que a in-
é que, sem a química, a civilização não teria atingido dústria química investe dia-a-dia em tecnologia, em
o atual estágio científico e tecnológico que permite processos seguros e no desenvolvimento de novos
ao homem sondar as fronteiras do universo, deslocar- produtos. O resultado é o progresso
se à velocidade do som, produzir alimentos em pleno Na saúde, a química é aplicada desde as análi-
deserto, tornar potável a água do mar, desenvolver ses clínicas até à Imageologia. Como é sabido, a quí-
medicamentos para doenças antes consideradas mica está profundamente relacionada com a área
incuráveis e multiplicar bens e produtos cujo acesso da saúde e Medicina, pois a química permite estudar
era restrito a poucos privilegiados os tecidos (órgãos e pele), estruturas (ossos) e líquidos
internos (Sangue, bílis, suco pancreático, morfinas…) Na agricultura, a química é importante, pois, per-
e do ponto de vista da sua composição e funcio- mite produzir adubos (fertilizante) que enriquece o
namento, interligando-se assim com a Biologia (for- solo (geralmente com azoto (nitrogênio), fósforo, po-
mando assim a bioquímica), para achar curas para tássio, enxofre, cálcio e magnésio) e pesticidas (an-
doenças atualmente incuráveis, como por exemplo, tigamente produzidos com chumbo, mercúrio e ar-
a mortífera doença sexualmente transmissível da sênico, materiais altamente tóxicos) que permitem,
SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), ten- por um lado o crescimento da planta/cereal rápido,
do em conta os conhecimentos em termos da quími- devido ao adubo, e, por outro lado, o crescimento
ca do nosso corpo assim como a biologia humana. saudável, sem as pestes de insetos que destroem as
A química é também utilizada na concepção de me- plantações e culturas.
dicamentos e vacinas, que nos permite combater as As questões ambientais, como a mudança cli-
doenças e epidemias, como é o caso da lepra, da mática, a poluição da água e a energia renovável,
malária... fazem títulos de notícias e têm-se tornado cada vez
Pode-se afirmar que se química não existisse, a mais importantes na vida do dia-a-dia. Muitas pes-
saúde de todos nós teria os seus dias contados.
soas vêem a química e a indústria química como
perniciosas para o ambiente. No entanto, novos
Indústria
avanços e pesquisas científicas na área da química
estão a ajudar-nos a desenvolver materiais e aplica-
A indústria tem várias vertentes, mas, em três a
ções mais amigas do ambiente, ao mesmo tempo
química é crucial: a indústria farmacêutica, a indús-
que preserva a qualidade e o estilo de vida que am-
tria alimentar e a indústria ligada à drogaria.
Na indústria farmacêutica, a química foi, é e será bicionamos.
essencial, pois ela permite estudar as propriedades Ao longo dos anos, a indústria e a opinião públi-
dos produtos utilizados na manufatura de medica- ca têm tomado consciência dos efeitos de algumas
mentos e sua aplicação específica para combater práticas passadas e da necessidade de proteger o
determinada doença ou infecção. ambiente. Antigamente, poucos estavam conscien-
tes dos efeitos que potencialmente o nosso estilo de
vida moderno podia ter sobre o ambiente, e apenas
200 viam o potencial positivo para criar materiais e pro-
dutos novos e úteis.
A investigação nas ciências biológicas e na quí-
mica tem revelado que os processos industriais na
química e na petroquímica podem ter um papel
no desenvolvimento de soluções para os problemas
ambientais como a alteração climática, a gestão
dos resíduos, a reciclagem, a eficiência energética –
apenas para nomear alguns. Não poderíamos com-
preender verdadeiramente estes problemas sem os
químicos. Tem havido profundas alterações, e ainda
continuam a ser realizadas, no sentido de serem en-
contradas soluções alternativas.
A indústria da drogaria dedica-se à produção de A indústria também tem realizado diversas ini-
produtos químicos, desde os mais caseiros, como a ciativas voluntárias, como o programa ”Responsible
nossa eficaz desentupidora de canalizações – soda Care” , para elevar os padrões relacionados com as
cáustica – até aos químicos mais complexos, como é
questões da saúde e o ambiente e estabelecer siste-
o caso do dicromato de potássio, e aos mais perigo-
mas de transporte seguro e sustentável em completa
sos, como por exemplo, o hidrogênio (explosivo). Po-
concordância com as leis. Como parte do programa
de-se afirmar que esta indústria é totalmente apoia-
“Responsible Care”, a indústria publica orientações
da na química, não na antiga alquimia, que por ve-
para a distribuição e manuseamento de substâncias
zes misturava magia com a toda-poderosa química.
químicas que requerem determinadas precauções.
Na indústria alimentar, a química é utilizada para
produzir e aperfeiçoar os conservantes e corantes, Este esforço conjugado com a nova legislação euro-
mas também de outros produtos químicos, como os peia para os produtos químicos (denominada REA-
acidificantes, reguladores de acidez e aromatizan- CH) garante que a química está a desenvolver-se
tes, que servem para melhorar e intensificar o sabor num caminho mais seguro e mais amigável para o
dos alimentos e bebidas. ambiente.
Paralelamente, químicos e petroquímicos estão monia com o ambiente e a natureza. Isto representa
a pesquisar novos métodos que sejam, por um lado, o maior desafio de todas as disciplinas da ciência
mais sustentáveis e amigos do ambiente e, por outro, moderna, e muito em especial as que têm efeito no
mantenham o desenvolvimento da nosso economia ambiente – a integração da tecnologia, da natureza
e indústria. Como exemplos, incluem-se: e dos seres humanos.
• Biocombustíveis: combustível para transpor-
te derivado da biomassa. Uma larga gama de pro-
dutos biomassa, como a cana de açúcar, a colza, o
milho, a palha, a madeira, os resíduos animal e agrí-
cola e o lixo podem ser transformados em combustí-
veis para transporte;
• Bioplásticos: produção de materiais plásti-
cos, utilizando recursos naturais como as plantas,
que são biodegradáveis;
• Isolamento: desenvolvimento de materiais
isolantes para permitir casas e edifícios com maior
eficiência energética;
• Compostos de plástico leve que ajudem
a diminuir o consumo de combustível dos carros e
aviões;
• Motores: quando são utilizados em carros e
motociclos, os motores de hidrogénio produzem va-
por de água em vez de gases de escape;
• Novas tecnologias de iluminação (como –Sis-
tema orgânico emissor de luz - Organic Light Emit-
ting Diodes - OLEDS) que produz mais luz com menos
electricidade;
• Turbinas eólicas e painéis solares : ambos se 201
baseiam em materiais produzidos pela indústria quí-
mica. As lâminas metálicas das turbinas eólicas têm
sido largamente substituídas por lâminas de fibra de
vidro reforçada com poliéster para aguentar tempo
mais agreste.
A sociedade tende a considerar como sendo
mau cada produto químico construído pelo homem
e como bom tudo o que é natural. Apenas porque
é natural não significa que seja automaticamente
boa para a saúde ou para o ambiente – ou insegu-
ra se é produzida pelo homem. O que aparenta ser
mais natural do que queimar lenha numa fogueira,
por exemplo? Na realidade, o fumo de um incên-
dio pode ser danoso quer para a saúde quer para o
ambiente tal como outros processos de combustão.
Também é necessário tomar em consideração
todo o ciclo de vida de um produto, (desde a cria-
ção à sua destruição), para se avaliar o seu impacto.
Já alguma vez imaginou que o impacto da cultura
do algodão no ambiente pode ser maior do que
produzir fibras sintéticas, como o poliéster? A razão
é que o algodão necessita de grandes quantidades
de água, de fertilizadores e de pesticidas.
É fundamental o fortalecimento da ciência quí-
mica através da pesquisa e desenvolvimento para
nos permitir manter uma vida confortável em har-
E
gentes, alimentos e biodiesel. Também usado para
ste elemento ficou muito conhecido devido desobstruir encanamentos e sumidouros pelo fato
à utilização em um alimento indispensável a de ser corrosivo. É produzido por eletrólise de uma
nossa sobrevivência: a água potável. Como solução aquosa de cloreto de sódio (salmoura).É uti-
todos sabem, a água encontrada em rios não é re- lizado em reações químicas por sua alta reativida-
comendável para o consumo sem antes passar por
de. Exemplos: em degradações, onde é usado para
um tratamento prévio, e graças à adição de cloro é
preparar alcanos a fim de diminuir a quantidade de
possível eliminar todos os microorganismos patogêni-
carbono na cadeia. Usado também, juntamente
cos e tornar a água potável, ou seja, própria para o
consumo. com o óxido de cálcio (CaO), para diminuir a reati-
Então vamos conhecer um pouco mais sobre este vidade e prevenir a corrosão dos tubos de ensaio.O
elemento: manuseio do hidróxido de sódio deve ser feito com
O cloro é um elemento químico de símbolo Cl e total cuidado, pois apresenta um quadro considerá-
número atômico 17 (17 prótons e 17 elétrons), com vel de danos ao homem. Se for ingerido, pode cau-
202 massa atômica 35,5 u. Este elemento está situado na sar danos graves e as vezes irreversíveis ao sistema
série química dos halogênios (grupo 17 ou 7A).O Clo- gastrointestinal, e se for inalado pode causar irrita-
ro, em temperatura ambiente, se encontra em sua ções, sendo que em altas doses pode levar à morte.
forma biatômica (Cl2): é um gás extremamente tóxi- O contato com a pele também é um fato perigoso,
co e de odor irritante, possui coloração esverdeada, pois pode causar de uma simples irritação até uma
aliás, a denominação “Cloro” vem do gregochlorós, úlcera grave, e nos olhos pode causar queimaduras
e quer dizer esverdeado.Mas você sabe como o cloro e problemas na córnea ou no conjuntivo.Em casos
mata as bactérias, ou melhor, como ele atua como
de contato com o hidróxido de sódio, deve-se colo-
desinfetante da água? Primeiramente, o cloro reage
car a região exposta em água corrente por 15 min
com o hidrogênio presente na água e neste momento
e procurar ajuda médica, se for ingerido deve-se
ocorre uma liberação de oxigênio, esta reação aca-
ba por matar as bactérias por oxidação. Este proces- dar água ou leite à vítima sem provocar vômito na
so é chamado de cloração da água e, neste caso, o mesma, se for inalado levar a vítima para um local
cloro é usado na forma de ácido hipocloroso (HClO), aberto para que possa respirar. Se caso a vítima não
o qual é obtido quando se dissolve cloro na água.As esteja respirando, é necessário usar respiração arti-
aplicações de cloro não param por aí! Na produção ficial.
de papel é usado para o branqueamento da polpa Ácido sulfúrico – H2SO4: Líquido incolor, viscoso e
de celulose, é empregado também na produção de oxidante. Densidade de 1,84g/cm3. Ao diluir o áci-
PVC (policloreto de vinila) quando atua na forma de do sulfúrico, não se deve adicionar água, porque
cloreto de vinila.O Cloro possui aplicação importan- o calor liberado vaporiza a água rapidamente, à
te na síntese de compostos orgânicos e inorgânicos medida que ela vai sendo adicionada.
como, por exemplo, o tetracloreto de carbono (CCl4) É uma das substâncias mais utilizadas nas indús-
e o clorofórmio (CHCl3).
trias. O maior consumo de ácido sulfúrico se dá na
fabricação de fertilizantes, como os superfosfatos e
Hidróxido de Sódio
o sulfato de amônio. É ainda utilizado nas indústrias
O hidróxido de sódio (NaOH), também conhe-
cido como soda cáustica, é um hidróxido cáustico petroquímicas, de papel, de corantes etc. e nas
usado na indústria (principalmente como uma base baterias de chumbo (baterias de automóveis).
O ácido nítrico é muito utilizado pela indústria ção primeiro de galerias e mais tarde de poços e fi-
química, principalmente em processos de nitrifica- nalmente as primeiras explorações subterrâneas du-
ção de composto orgânicos, na fabricação de ex- rante o neolítico. Surpreendentemente, algumas
plosivos, fertilizantes agrícolas, vernizes, celuloses, sa- destas minas subterrâneas, escavadas em giz no sul
litre (nitrato de potássio), pólvora negra, trinitrolueno da Inglaterra e norte de França atingiam os 90 me-
(TNT), nitroglicerina (dinamite), seda artificial, ácido tros de profundidade. A partir daqui a humanidade
benzoico, fibras sintéticas, galvanoplastia, ácido pí- passou a dirigir a sua atenção também para os mi-
crico, nylon, entre outros. nérios metálicos. Inicialmente os metais eram apenas
Na indústria metalúrgica, o ácido nítrico é uti- apreciados como pedras ornamentais. Por volta de
lizado para a refinação de metais preciosos, como 40 000 a.C. era extraída hematite, na atual Suazi-
o ouro e a prata. Na indústria de impressão é usado lândia, para utilização em pinturas rituais. Entre 7000
como agente de gravação em fotogravura e litogra- a.C. e 4000 a.C. desenvolveu-se a metalurgia do co-
fia. É utilizado pelos fotógrafos que utilizam filmes de bre até à produção de ligas com características va-
nitrocelulose e pela indústria farmacêutica, na com- riáveis de fusão, dureza e flexibilidade. A tecnologia
posição e na destruição de medicamentos. pirometalúrgica apareceu pela primeira vez no Mé-
Pode causar efeitos nocivos à saúde, se inalado, dio oriente por volta de 6000 a.C
pode conduzir à pneumonia e edema pulmonar, O bronze seria produzido a partir de 2600 a.C..
se ingerido, pode ocasionar queimaduras na boca, Cerca de 2000 a.C. os povos do mediterrâneo orien-
garganta, esôfago e estômago, em contato com a tal eram já capazes da produção em massa de
pele e olhos causa queimaduras severas. Em caso de cobre, chumbo e prata a partir de minérios de óxi-
acidentes com ácido nítrico é fundamental buscar dos e sulfuretos de metais, bem como de várias li-
orientação médica. gas metálicas. Por esta mesma altura, os povos pré
Mineração é um termo que abrange os processos, -Hititas já utilizavam o ferro e os chineses iniciavam a
atividades e indústrias cujo objetivo é a extração de extracção de carvão para utilização como combus-
substâncias minerais a partir de depósitos ou massas tível.As minas de prata e chumbo de Laurium, próxi-
minerais. Podem incluir-se aqui a exploração de pe- mo de Atenas, Grécia foram inicialmente exploradas
tróleo e gás natural e até de água. Como atividade e posteriormente abandonadas pelos micénios, no 2º
milénio a.C.. Eram explorações a a céu aberto com
industrial, a mineração é indispensável para a manu-
204 pequenas galerias. Os atenienses retomariam a sua
tenção do nível de vida e avanço das sociedades
exploração cerca de 600 a.C., construindo numero-
modernas em que vivemos. Desde os metais às ce-
sos poços de acesso e ventilação e utilizando o mé-
râmicas e ao, betão, dos combustíveis aos plásticos,
todo de câmaras e pilares. O progresso da escava-
equipamentos eléctricos e electrónicos, cablagens,
ção era lento, estimando-se que um mineiro conse-
computadores, cosméticos, passando pelas estra-
guisse um avanço de 1.5 m/mês na escavação de
das e outras vias de comunicação e muitos outros
poços.Cerca de 950 a.C. os Fenícios iniciam a explo-
produtos e materiais que utilizamos ou de que des-
ração da mina de Rio Tinto, Espanha, para obtenção
frutamos todos os dias, todos eles têm origem na ati-
de prata. Por volta de 700 a.C. são utilizadas as pri-
vidade da mineração. Pode-se sem qualquer tipo
meiras ferramentas de ferro na extracção de sal-ge-
de dúvida dizer que sem a mineração a civilização
ma na Áustria e em 600 a.C. os chineses descobrem
atual, tal como a conhecemos, pura e simplesmente
o petróleo e o gás natural em explorações de sal. As
não existiria, facto do qual a maioria de nós nem se- primeiras armas de aço aparecem na China em 600
quer se apercebe. a.C..
A imagem um tanto negativa desta atividade A economia brasileira sempre teve uma relação
junto da sociedade em geral, sobretudo nas últimas estreita com a extração mineral. Desde os tempos de
décadas, deve-se sobretudo aos profundos impactos colônia, o Brasil transformou a mineração - também
que ela pode ter no ambiente (sobretudo os negati- responsável por parte da ocupação territorial - em
vos) e que têm sido a causa de numerosos acidentes um dos setores básicos da economia nacional. Atual-
ao longo dos tempos. mente, é responsável por 3 a 5% do Produto Interno
Por último, não nos podemos esquecer que a Bruto.
capacidade desta atividade em fornecer à socie- Importante na obtenção de matérias-primas, é
dade os materiais que esta necessita não é infinita, utilizada por indústrias metalúrgicas, siderúrgicas, fer-
pois muitos dos recursos minerais explorados são, pelo tilizantes, petroquímica e responsável pela interiori-
contrário, bastante finitos zação da indústria inclusive em regiões de fronteiras.
Ocupavam-se sobretudo da obtenção de sí- Em 2000, o setor mineral representou 8,5 % do PIB - US$
lex e cherte para a fabricação de utensílios e armas 50,5 bilhões de dólares. É um setor portanto de pro-
de pedra. As suas pedreiras e cortas levaram à cria- funda importância, pois, além do que já representa
para a economia nacional, o subsolo brasileiro repre- dados e explicados, corroborando na melhoria con-
senta um importante depósito mineral. Entre as subs- tínua das práticas utilizadas até então. A partir de en-
tâncias encontradas, destacam-se o nióbio, minério tão surge um novo ramo da metalurgia, a metalurgia
de ferro (segundo maior produtor mundial), tantalita, física que tem como objetivo o estudo das caracte-
manganês, entre outros. Deixando de lado aspectos rísticas físicas dos materiais metálicos.
já mencionados, não se pode esquecer que a ati- Um importante ramo da metalurgia, que embora
vidade mineradora é responsável pela criação de já existisse, ganhou grandes proporções após o sécu-
inúmeros empregos diretos, representando no ano lo XVIII, é a metalurgia extrativa que tem como foco
2000, 500.000 empregos e um saldo na balança co- de trabalho a obtenção de metais a partir de sucata
mercial de US$ 7,7 bilhões de dólares ou minérios. Atualmente, cerca de 40% do aço pro-
A metalurgia, é a ciência que estuda a extração, duzido no mundo é obtido a partir da fusão da suca-
transformação e aplicação de materiais metálicos, ta (UFRGS).
como o ferro (Fe), o ouro (Au), a prata (Ag) e o bron- Ao campo da metalurgia extrativa que trata da
ze (Cu-Sn). Os materiais metálicos constituem um dos obtenção especificamente do ferro dá-se o nome
grupos em que podemos classificar tecnicamente os de siderurgia, mas este conceito também se refere
materiais. Os outros três grupos são: materiais polimé- as demais etapas do processo de trabalho do ferro:
ricos, materiais cerâmicos e compósitos (formados a transformação, fundição e preparação, destacan-
pela junção de materiais de tipos diferentes. Ex.: fibra do-se a produção do aço (Fe-C).
de vidro é um compósito formado por um material Mais recentemente, o desenvolvimento de uma
cerâmico e um material polimérico). técnica de fabricação de pecas através da utiliza-
Os metais por sua vez, podem ser divididos em três ção de pós metálicos deu origem ao surgimento de
subclasses: ferro (Fe) e aço (Fe-C); ligas não-ferrosas uma nova área de estudo na metalurgia: a metalur-
e superligas (Ex.: bronze, Cu-Sn; latão, Cu-Zn; e nitinol, gia dos pós. A tecnologia desenvolvida na década
Ni-Ti) de maior aplicação no campo aeroespacial; e de 70 para atender, principalmente, ao setor de in-
compostos intermetálicos (Ex.: WC – widia), materiais formática, permite a fabricação de peças de alta
estruturais de alta temperatura (UFRGS). O ferro é o precisão e complexidade.
metal mais produzido pelo homem, respondendo por A poluição atmosférica é consequência, em
mais de 90% da produção em escala global em mas-
maior parte, da ação humana, no sentido de intro-
sa de metais. 205
duzir produtos químicos e/ou tóxicos no ambiente.
Acredita-se que o primeiro contato do homem
A queima de combustíveis fósseis – e não só ela -
com os metais tenha se dado ao acaso por volta de
propicia a liberação de monóxido de carbono, que
6 a 4 mil anos a.C. com metais encontrados em seu
corresponde a aproximadamente 45% dos poluentes
estado natural como o ouro e o cobre. Os primei-
liberados em grandes metrópoles. Inodoro e incolor,
ros trabalhos com cobre de que se tem notícia fo-
o CO tem capacidade de se ligar à hemoglobina
ram feitos por volta de 6.000 a.C. na Mesopotâmia e
sanguínea, podendo provocar asfixia.
eram apenas materiais pouco trabalhados. Apenas
Dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre, ácido
2000 anos depois é que se desenvolveram métodos
nítrico, ácido sulfúrico e hidrocarbonetos são outros
um pouco mais sofisticados de trabalhar o metal. Da
poluentes que contribuem para esse tipo de polui-
mesma época, tem-se registros de materiais feitos
ção. Irritação de mucosas e vias respiratórias, cânce-
com uma liga metálica de cobre e estanho, o bron-
ze e, apenas por volta de 2000 a.C. foi descoberto o res, alteração da água e solo, corrosões de constru-
ferro. ções e monumentos, inversão térmica, efeito de es-
As civilizações antigas, especialmente a egípcia, tufa e destruição da camada de ozônio são algumas
fizeram grande uso dos metais, o que fez com que os consequências da ação desses. Partículas, como as
métodos de produção de materiais metálicos se de- de sílica e amianto podem ser cancerígenas, além
senvolvessem rapidamente, embora de modo arcai- de causar fibroses e enfisemas pulmonares.
co, baseados apenas no conhecimento empírico. O Considerando que, em qualquer tipo de ambien-
processo de têmpera (tratamento térmico do ferro), te, indivíduos que o constituem possuem relações de
por exemplo, foi desenvolvido pelos gregos e roma- dependência, o fim de uma população, por exem-
nos por volta de 300 a.C. e teve grande importância plo, pode causar drásticas consequências a toda co-
em suas conquistas ao conferir maior resistência a munidade. Como, obviamente, nossa espécie é uma
seus armamentos. (IST) delas, não devemos nos esquecer que podemos ser
Mas foi apena a partir do século XVIII, após a re- os principais prejudicados. Apesar de várias iniciati-
volução cientifica ocorrida no século anterior e a vas governamentais e não governamentais, impac-
industrial, que a metalurgia tornou-se uma ciência tos ambientais de diversas magnitudes vêm ocorren-
e que os processos metalúrgicos passam a ser estu- do e podem se agravar em razão desse problema.
O velho paradigma de que não há desenvolvimento sem que haja agressões bruscas ao meio ambiente
é o principal responsável por esta questão.
Há menos de cinco décadas, o discurso dos ambientalistas era tido como exagero ou ponto de vista radi-
cal e infundado. Entretanto, é fato que, por exemplo, os teores de gás carbônico na atmosférica aumentam
anualmente em torno de 0,5%, a temperatura média da superfície de nosso planeta aumentou cerca de 5°
C desde a época da Revolução Industrial e camadas inteiras e gigantescas de gelo das regiões polares são
derretidas em velocidade assustadora como consequência da poluição do ar.
Assim, é importante rever nossas atitudes individuais e cobrar de nossos representantes e superiores ati-
tudes referentes à qualidade do ar. O uso de filtros em chaminés de indústrias, investimento no transporte
coletivo e em ciclovias a fim de reduzir o número de automóveis nas cidades, criar sistemas de carona entre
os colegas, evitar queimadas, reduzir ou não fazer o consumo de carne (o esterco, a fermentação gástrica e
intestinal dos ruminantes e o desmatamento para criar pastos são extremamente impactantes), reutilização
de materiais, uso de energias menos ou não poluentes e não adquirir produtos que contém CFC’s (estes têm
capacidade de destruir a camada de ozônio) são algumas medidas que podem ser adotadas.
O Efeito Estufa
Graças ao efeito estufa, a temperatura da Terra se mantém, em média, em torno de 15ºC, o que é favo-
rável à vida no planeta. Sem esse aquecimento nosso planeta seria muito frio.
O nome estufa tem origem nas estufas de vidro, em que se cultivam certas plantas, e a luz do Sol atraves-
sa o vidro aquecendo o interior do ambiente. Apenas parte do calor consegue atravessar o vidro, saindo da
estufa. De modo semelhante ao vidro da estufa, a atmosfera deixa passar raios de Sol que aquecem a Terra.
Uma parte desse calor volta e escapa para o espaço, atravessando a atmosfera, enquanto outra parte é
absorvida por gases atmosféricos (como o gás carbônico) e volta para a Terra, mantendo-a aquecida.
No entanto desde o surgimento das primeiras indústrias, no século XVIII, tem aumentado a quantidade de
gás carbônico liberado para a atmosfera.
A atmosfera fica saturada com esse tipo de gás, que provoca o agravamento do efeito estufa. Cientistas
e ambientalistas têm alertado para esse fenômeno que parece ser a principal causa do aquecimento global.
Observe abaixo um esquema do efeito estufa.
206
• O gás carbônico e outros gases permitem a passagem da luz do Sol, mas retêm o calor por ele
gerado.
• A queima de combustíveis fosseis e outros processos provocam acúmulo de gás carbônico no ar,
aumentando o efeito estufa.
• Por meio da fotossíntese de plantas e algas, ocorre a remoção de parte do gás carbônico do ar.
Este ar frio que toca a superfície do solo, recebendo calor dele, esquenta, fica menos denso, sobe, dando
lugar a um novo movimento descendente de ar frio.
E o ciclo se repete. O normal, portanto, é que se tenha ar quente numa camada próxima ao solo, ar frio
numa camada logo acima desta e ar ainda mais frio em camadas mais altas porém, em constantes trocas por
correntes de convecção. Esta situação normal do ar colabora com a dispersão da poluição local.
Na inversão térmica, condições desfavoráveis podem, entretanto, provocar uma alteração na disposi-
ção das camadas na atmosfera. Geralmente no inverno, pode ocorrer um rápido resfriamento do solo ou
um rápido aquecimento das camadas atmosféricas superiores. Quando isso ocorre, o ar quente ficando por
cima da camada de ar frio, passa a funcionar como um bloqueio, não permitindo os movimentos verticais de
convecção: o ar frio próximo ao solo não sobe porque é o mais denso e o ar quente que lhe está por cima
não desce, porque é o menos denso. Acontecendo isso, as fumaças e os gases produzidos pelas chaminés e
pelos veículos não se dispersam pelas correntes verticais.
Os rolos de fumaça das chaminés assumem posi- poderia ter impedido a formação da camada flu-
ção horizontal, ficando nas proximidades do solo. A tuante de 1000 km com 10 metros de profundidade
cidade fica envolta numa “neblina” e conseqüen- que compromete a vida de organismos que têm o
temente a concentração de substâncias tóxicas au- Oceano Pacífico como habitat.
menta muito.
Nota :O fenômeno é comum no inverno de cida-
des como Nova Iorque, São Paulo e Tóquio, agrava-
do pela elevada concentração de poluentes tóxi-
cos diariamente despejados na atmosfera.
O termo “poluição” refere-se à degradação do
ambiente por um ou mais fatores prejudiciais à saú-
de deste. Ela pode ser causada pela liberação de
matéria, e também de energia (luz, calor, som): os
chamados poluentes.
Poluição sonora, térmica, atmosférica, por ele-
mentos radioativos, por substâncias não biodegra-
dáveis, por derramamento de petróleo e por eutro-
fização, são alguns exemplos.
Problemas neuropsíquicos e surdez; alterações
drásticas nas taxas de natalidade e mortalidade de
populações, gerando impactos na cadeia trófica;
morte de rios e lagos; efeito estufa; morte por asfixia;
destruição da camada de ozônio; chuvas ácidas e
destruição de monumentos e acidificação do solo
e da água; inversão térmica; mutações genéticas;
necrose de tecidos; propagação de doenças infec-
ciosas, dentre outras, são apenas algumas das con-
208
sequências da poluição.
O marco desse problema foi a Revolução Indus-
trial, trazendo consigo a urbanização e a industria-
lização. Com a consolidação do capitalismo, pro-
piciado por este momento histórico, o incentivo à
produção e acúmulo de riquezas, aliada à necessi-
dade aparente de se adquirir produtos novos a todo
o momento, fez com que a ideia de progresso sur-
gisse ligada à exploração e destruição de recursos
naturais.
Como se não bastasse este fato, a grande pro-
dução de lixo gerado por esta forma de consumo
ligada ao desperdício e descarte, faz com que te-
nhamos consequências sérias. A fome e a má quali-
dade de vida de alguns, em detrimento da riqueza
de outros, mostra que nosso planeta realmente não
está bem. Em um mundo onde a maior parte de lixo
produzido é de origem orgânica, muitas pessoas
têm, como única fonte de alimento, aquele oriundo
de lixões a céu aberto.
Assim, para que consigamos garantir um futu-
ro digno ao nosso planeta e, consequentemente,
às gerações de populações vindouras, devemos
repensar nossa forma de nos relacionarmos com o
mundo. O simples fato de, por exemplo, evitarmos
sacolas e materiais descartáveis feitos de plástico,
A
s transformações observadas ao longo
da Terceira Revolução Industrial foram segui-
das de uma exigência progressiva de ener-
gia. Ademais, o crescimento econômico constatado
em algumas regiões do mundo, entre o final do século
20 e início do 21, além do crescimento populacional,
intensificou a busca de fontes de energia.
O aumento do número de veículos automotores
em circulação, uma característica comum das socie-
dades em industrialização, também passou a requerer
um maior volume de combustíveis fósseis, apesar de os
veículos produzidos atualmente consumirem, em mé-
dia, 50% menos combustível do que os modelos de dé-
cadas atrás. 209
Atualmente há uma diversidade de fontes de ener- Carvão mineral
gia, classificadas em renováveis e não-renováveis. Re- O carvão é uma complexa e variada mistura de
nováveis são aquelas que continuam disponíveis de- componentes orgânicos sólidos, fossilizados ao longo
pois de utilizadas, isto é, que não se esgotam. Como de milhões de anos, como ocorre com todos os com-
exemplo, temos a energia solar, a energia dos vegetais bustíveis fósseis. Sua qualidade, determinada pelo
(biomassa), da correnteza dos rios (hidráulica), dos ven- conteúdo de carbono, varia de acordo com o tipo e
tos (eólica), do calor interno do planeta Terra (geotér- o estágio dos componentes orgânicos.
mica), das marés, entre outras. A turfa, de baixo conteúdo carbonífero, constitui
Quanto às não-renováveis, estas são limitadas e um dos primeiros estágios do carvão, com teor de
demoram milhões de anos para se formar, isto é, se es- carbono na ordem de 45%; o linhito apresenta um ín-
gotarão e não serão repostas (o petróleo, o gás natural, dice que varia de 60% a 75%; o carvão betuminoso
o carvão mineral e o urânio, por exemplo). (hulha), mais utilizado como combustível, contém de
Algumas fontes de energia podem ser produzidas 75% a 85% de carbono; e o mais puro dos carvões, o
pelo homem, como a lenha e o álcool, por meio da antracito, apresenta um conteúdo carbonífero supe-
queima do bagaço da cana-de-açúcar cultivada, e rior a 90%.
nesse caso também são consideradas fontes renová- Da mesma forma, os depósitos variam de cama-
veis. Os combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e das relativamente simples e próximas da superfície
gás natural) são chamados assim porque são, de fato, do solo - e, portanto, de fácil extração e baixo custo
derivados de plantas e vegetais mortos, soterrados com - a complexas e profundas camadas, de difícil extra-
os sólidos que formam as rochas sedimentares. ção e custos elevados.
Eles são a principal fonte de energia utilizada no Em termos de contribuição na matriz energética
mundo hoje. Em 2002, representavam mais de 85% da mundial, segundo o Balanço Energético Nacional
matriz energética mundial, ou seja, considerando-se to- 2005 - dados mundiais do ano de 2002, fornecidos
das as fontes utilizadas no mundo e todos os tipos de pelo Ministério de Minas e Energia do Brasil -, o carvão
energia, o petróleo, o carvão mineral e o gás natural é responsável por 7,1% de todo o consumo mundial
eram responsáveis por 86% da energia gerada. Veja de energia e de 39,0% de toda a energia elétrica ge-
o Gráfico 1, a seguir: rada.
No âmbito mundial, apesar dos graves impactos sobre o meio ambiente, o carvão é uma importante
fonte de energia. As principais razões para isso são as seguintes: a) abundância das reservas; b) distribuição
geográfica das reservas; c) baixos custos e estabilidade nos preços, relativamente a outros combustíveis.
Além de constituir fonte de energia, o carvão mineral é importante matéria-prima da indústria de produtos
químicos orgânicos, como piche, asfalto, eletrodos para baterias, corantes, plásticos, naftalina, inseticidas,
tintas, benzeno e náilon.
O Mapa 1 (abaixo) ilustra as reservas mundiais no ano de 2002. Observe que as reservas de carvão mineral
do hemisfério Norte são bem maiores que as do Sul, o que se deve, basicamente, a dois fatores: no primeiro
hemisfério há maior quantidade de terras emersas e ocorrência de verões mais quentes e invernos mais rigo-
rosos, favorecendo a ação biológica.
No Brasil, as principais reservas de carvão mineral estão localizadas no Sul do país, notadamente no Esta-
do do Rio Grande do Sul, que detém mais de 90% das reservas nacionais. No final de 2002, as reservas nacio-
nais de carvão giravam em torno de 12 bilhões de toneladas, o que corresponde a mais de 50% das reservas
sul-americanas e a 1,2% das reservas mundiais.
210
Petróleo
O petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos (moléculas de carbono e hidrogênio) que tem origem na
decomposição de matéria orgânica, principalmente o plâncton (plantas e animais microscópicos em sus-
pensão nas águas), causada pela ação de bactérias em meios com baixo teor de oxigênio. Ao longo de
milhões de anos, essa decomposição foi-se acumulando no fundo dos oceanos, mares e lagos; e, pressio-
nada pelos movimentos da crosta terrestre, transformou-se na substância oleosa denominada petróleo. Essa
substância é encontrada em bacias sedimentares específicas, formadas por camadas ou lençóis porosos de
areia, arenitos ou calcários.
Embora conhecido desde os primórdios da civilização humana, somente em meados do século 19 (Se-
gunda Revolução Industrial) tiveram início a exploração de campos e a perfuração de poços de petróleo. A
partir de então, a indústria petrolífera teve grande expansão, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.
Apesar da forte concorrência com o carvão e com outros combustíveis considerados nobres naquela
época, o petróleo ganhou projeção no cenário internacional, especialmente após a invenção dos motores
a gasolina e a óleo diesel.
Durante muitas décadas, o petróleo foi o grande propulsor da economia internacional, chegando a re-
presentar quase 50% do consumo mundial de energia primária, no início dos anos 1970. Embora declinante
ao longo do tempo, sua participação nesse consumo ainda representa cerca de 43%, segundo a Agência
Internacional de Energia (2004), e deverá manter-se expressiva por várias décadas.
Além de predominante no setor de transportes, o petróleo ainda é o principal responsável pela geração
de energia elétrica em diversos países do mundo. Apesar da expansão recente da hidroeletricidade e da
diversificação das fontes de geração de energia elétrica verificadas nas últimas décadas, o petróleo ainda
é responsável por aproximadamente 7,2% de toda a eletricidade gerada no mundo.
Durante muitos séculos, o homem procurou abrigo e instalação de suas atividades cotidianas em locais
próximos de recursos naturais, particularmente energéticos. Com a descoberta dos combustíveis fósseis e da
eletricidade, isso deixou de ser uma preocupação, de modo que, atualmente, os grandes centros consumi-
dores podem estar distantes das grandes reservas e dos potenciais energéticos. O caso do petróleo ilustra
bem essa tendência do mundo moderno.
Como indicado no Mapa 2 (abaixo), há uma grande irregularidade na distribuição geográfica das re-
servas mundiais de petróleo, em razão das condições geológicas específicas das regiões detentoras. Cerca
de 2/3 das reservas provadas estão localizados no Oriente Médio, que responde por cerca de, aproximada-
mente, 6% do consumo mundial. Por outro lado, a América do Norte, que possui apenas 4,8% das reservas, é
responsável por cerca de 30% do consumo mundial.
211
Gás natural
Combustível fóssil encontrado em estruturas geológicas sedimentares, o gás natural está associado ao
petróleo e, portanto, é esgotável e não-renovável. É utilizado em maçaricos, motores a explosão, altos-for-
nos, fogões, etc. e sua queima libera uma boa quantidade de energia, cada vez mais utilizada nos transpor-
tes, na termeletricidade e na produção industrial.
Segundo a Agência Internacional de Energia (2004), a participação do gás natural no consumo mundial
de energia é, atualmente, da ordem de 16,2%, sendo responsável por cerca de 19,1% de toda a eletricidade
gerada no mundo.
No Brasil, as reservas provadas são da ordem de 230 bilhões de m3, dos quais 48% estão localizados no
Estado do Rio de Janeiro, 20% no Amazonas, 9,6% na Bahia e 8% no Rio Grande do Norte. A produção é con-
centrada no Rio de Janeiro (44%), no Amazonas (18%) e na Bahia (13%). A participação do gás natural na
matriz energética brasileira ainda é pouco expressiva, da ordem de 5,6% do consumo final.
Outras características importantes do gás natural são os baixos índices de emissão de poluentes em com-
paração a outros combustíveis fósseis - como o carvão mineral e o petróleo -, rápida dispersão em caso de
vazamentos, baixos índices de odor e de contaminantes.
Ainda em relação a outros combustíveis fósseis, o gás natural apresenta maior flexibilidade, tanto em ter-
mos de transporte (facilmente transportado em condutos) como de aproveitamento.
Assim como ocorre com o petróleo e o carvão mineral, as principais reservas estão no hemisfério Norte,
conforme podemos observar no Mapa 3:
Energia elétrica
A eletricidade pode ser obtida pela força da água (hidráulica), pelo vapor da queima de combustíveis
fósseis (termelétricas) e pelo calor produzido pela fissão do urânio no núcleo de um reator.
Temos, portanto, três tipos de usinas que geram eletricidade: as usinas hidrelétricas, as termelétricas e as
termonucleares ou atômicas. Em qualquer dessas usinas, a energia elétrica é produzida numa turbina, que
consiste, principalmente, num conjunto cilíndrico de ferro que gira em torno de seu eixo, no interior de um
receptor imantado. Na turbina, portanto, a energia de movimento (cinética) é transformada em energia
elétrica.
212 As hidrelétricas:
A geração de energia hidrelétrica é realizada em barragens, dentro das quais se encontram geradores,
cujas hélices são movidas pela água que escoa sob forte pressão. A eletricidade produzida pelos geradores
é transmitida por cabos até os centros consumidores.
Ao contrário das demais fontes renováveis, a hidrelétrica representa uma parcela significativa da matriz
energética mundial e possui tecnologias de aproveitamento devidamente consolidadas. Atualmente, é a
principal fonte geradora de energia elétrica para diversos países e representa cerca de 17% de toda a ele-
tricidade gerada no mundo.
A produção da energia elétrica não é poluente, mas a construção de usinas pode causar profundos
impactos sociais e ambientais na região. Como exemplo, temos a inundação de grandes áreas, o desloca-
mento de comunidades ribeirinhas, a mudança de curso de rios, etc.
As termelétricas:
A geração de energia elétrica pelas termelétricas é realizada com maiores custos e com maior impacto
ambiental, porém, a construção de uma usina desse tipo necessita de investimentos menores que a de uma
hidrelétrica.
Se, na usina hidrelétrica, as águas dos rios movimentam as turbinas, na termelétrica quem faz esse papel
é a pressão do vapor de água produzido por uma caldeira aquecida pela queima de carvão mineral, gás
ou petróleo.
Uma das vantagens em relação à hidroeletricidade é que a localização da usina é determinada pelo
mercado consumidor e não pelo relevo, o que possibilita sua construção em áreas próximas onde há deman-
da, resultando em despesas inferiores na transmissão da energia elétrica produzida.
Energia nuclear
A energia nuclear é proveniente da fissão de átomos de urânio em um reator nuclear. Apesar da comple-
xidade de uma usina nuclear, seu princípio de funcionamento é similar ao de uma termelétrica convencional,
onde o calor gerado pela queima de um combustível produz vapor que aciona uma turbina, acoplada a
um gerador de corrente elétrica.
Madeira e hulha
Quando a madeira é soterrada, ela passa por um processo de fossilização na crosta terrestre, sendo gra-
dativamente enriquecida em carbono. Isto ocorre, pois a madeira é composta basicamente de hidrogênio
(H), oxigênio (O) e carbono (C). Mas com o tempo o hidrogênio e o oxigênio são eliminados na forma de
água (H2O), dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4). Desse modo, forma-se o carvão mineral ou natural,
que é uma mistura de substâncias complexas ricas em carbono.
A hulha é uma variedade do carvão mineral que apresenta um dos maiores índices de carbono em sua
composição (veja tabela). Em relação à madeira e aos outros carvões minerais, ela fica atrás somente do
Antracito.
213
A hulha é um composto muito utilizado pela indústria, porque ao se fazer a sua destilação seca, ela dá
origem a três compostos analisados a seguir:
1. Fração gasosa: (gás de iluminação): é chamada assim porque era utilizada para iluminar ruas. Também
é usado como combustível doméstico e na indústria. Composta de 49% de Hidrogênio, 34% de metano, 8%
de dióxido de carbono e outros gases em menor proporção.
2. Fração Líquida: formada pelas águas amoniacais e o alcatrão de hulha
2.1- Águas amoniacais: constituídas de substâncias nitrogenadas; principalmente aminas - compostos
derivados da amônia (NH3). Usado para produzir ácido nítrico e principalmente na produção de fertilizantes
agrícolas.
2.2 – Alcatrão de hulha: é a principal fonte natural A biomassa é um material constituído principal-
de obtenção dos compostos aromáticos e ao pas- mente de substâncias de origem orgânica, ou seja,
sar por uma destilação fracionada dá origem a cin- de animais e vegetais. A energia é obtida através da
co frações, que permitem fornecer matérias-primas combustão da lenha, bagaço de cana-de-açúcar,
para inúmeros produtos químicos, como medica- resíduos florestais, resíduos agrícolas, casca de arroz,
mentos, plásticos, tintas, produtos de limpeza, pavi- excrementos de animais, entre outras matérias orgâ-
mentação de ruas (piche), etc. As cinco frações são: nicas.
• Óleo leve (2%) - benzeno tolueno, xileno; Essa fonte energética é renovável, pois a sua de-
• Óleo médio (12%) - fenol, cresóis, etc.; composição libera CO2 na atmosfera, que, durante
• Óleo pesado (10%) - Naftaleno e seus deriva- seu ciclo, é transformado em hidratos de carbono,
dos; através da fotossíntese realizada pelas plantas. Nesse
• Óleo de antraceno (25%) - antraceno, fenan- sentido, a utilização da biomassa, desde que con-
treno, carbazol, criseno, etc. trolada, não agride o meio ambiente, visto que a
• Piche (51%) - Hidrocarbonetos de massa molar composição da atmosfera não é alterada de forma
significativa.
elevada.
Entre as principais vantagens da biomassa estão:
- Baixo custo de operação;
- Facilidade de armazenamento e transporte;
- Proporciona o reaproveitamento dos resíduos;
- Alta eficiência energética;
- É uma fonte energética renovável e limpa;
- Emite menos gases poluentes.
Porém, o seu uso sem o devido planejamento
pode ocasionar a formação de grandes áreas des-
matadas pelo corte incontrolado de árvores, perda
dos nutrientes do solo, erosões e emissão excessiva
de gases.
A utilização da energia da biomassa é de funda-
214 mental importância no desenvolvimento de novas
alternativas energéticas. Sua matéria-prima já é em-
pregada na fabricação de vários biocombustíveis,
como, por exemplo, o bio-óleo, BTL, biodiesel, biogás,
Exemplo de produto feito a partir do alcatrão de etc.
hulha
Biocombustiveis
3. Fração sólida: Denominado carvão coque, é Os biocombustíveis são apresentados como alter-
bastante utilizado em siderúrgicas para a obtenção nativas aos combustíveis fósseis, visto que são ener-
de aço. Também é utilizado na produção de ferro e gias renováveis, o que não acontece com os com-
na de gasolina sintética. bustíveis fósseis. Em geral, apresentam um balanço de
Biomassa CO2 melhor que os combustíveis fósseis, pois os culti-
A busca por alternativas eficazes de produção vos absorvem o carbono atmosférico durante o seu
e distribuição de energia é um elemento essencial crescimento. Todavia, é preciso atentar que o avan-
para o ser humano, principalmente na atual socie- ço das lavouras para biocombustíveis pode compe-
dade, onde os modos de consumo se intensificam tir com a produção de alimentos ou exercer pressão
a cada dia. Diante dessa dependência de recursos sobre áreas de ecossistemas nativos.Na língua fran-
cesa, é feita uma diferença entre os termos biocom-
energéticos, surge a necessidade de diversificar a
bustível, biocarburante e agrocarburante. Agrocar-
utilização das fontes energéticas.
burantes são combustíveis para motor (automóveis e
Atualmente, o petróleo é a principal substân-
outros) obtidos a partir de produtos agrícolas produ-
cia empregada na geração de energia, porém, a
zidos para esse fim.Há também biocombustíveis pro-
biomassa é uma fonte utilizada bem antes da des-
duzidos a partir de óleos comumente usados.O ba-
coberta do “ouro negro”. O homem utiliza a lenha
lanço ambiental dos biocombustíveis depende da
como fonte energética desde o início da civilização. fileira considerada (álcool, óleo vegetal puro, biodie-
Portanto, a biomassa faz parte da história da huma- sel etc.) e do tipo de agricultura praticado (agricul-
nidade como fonte de energia. tura intensiva,agricultura biológica etc.). A fileira do
óleo vegetal puro tem um melhor balanço que a do
QUESTÃO 01 QUESTÃO 04
A China comprometeu-se a indenizar a Rússia O Brasil é um dos países que obtêm melhores re-
pelo derramamento de benzeno de uma indústria sultados na reciclagem de latinhas de alumínio. O
petroquímica chinesa no rio Songhua, um afluente esquema acima representa as várias etapas desse
do rio Amur, que faz parte da fronteira entre os dois processo:
países. O presidente da Agência Federal de Recur- A temperatura do forno em que o alumínio é fun-
sos de Água da Rússia garantiu que o benzeno não dido é útil também porque
chegará aos dutos de água potável, mas pediu à
população que fervesse a água corrente e evitasse A) sublima outros metais presentes na lata.
a pesca no rio Amur e seus afluentes. As autoridades B) evapora substâncias radioativas remanescen-
locais estão armazenando centenas de toneladas tes.
de carvão, já que o mineral é considerado eficaz C) impede que o alumínio seja eliminado em al-
absorvente de benzeno. tas temperaturas.
Levando-se em conta as medidas adotadas D) desmagnetiza as latas que passaram pelo pro-
para a minimização dos danos ao ambiente e à po- cesso de triagem.
pulação, é correto afirmar que E) queima os resíduos de tinta e outras substân-
A) o carvão mineral, ao ser colocado na água, cias presentes na lata.
reage com o benzeno, eliminando-o.
B) o benzeno é mais volátil que a água e, por isso, QUESTÃO 05
é necessário que esta seja fervida. Considerando as informações apresentadas no
C) a orientação para se evitar a pesca deve-se à texto, qual é, aproximadamente, o fator de emissão
necessidade de preservação dos peixes. de CO2 quando 1 tonelada de cimento for produzi-
D) o benzeno não contaminaria os dutos de da, levando-se em consideração apenas a etapa de
água potável, porque seria decantado naturalmen- obtenção do óxido de cálcio?
te no fundo do rio. A) 4,9 x 10-4
E) a poluição causada pelo derramamento de B) 7,9 x 10-4
benzeno da indústria chinesa ficaria restrita ao rio C) 3,8 x 10-1
D) 4,9 x 10-1
216 Songhua.
E) 7,9 x 10-1
QUESTÃO 02
QUESTÃO 06
Com base no texto, quais são os fatores que in-
Observe as dicas para calcular a quantidade
fluenciam a rapidez das transformações químicas re-
certa de alimentos e bebidas para as festas de fim
lacionadas aos exemplos 1, 2 e 3, respectivamente?
de ano:
A) Temperatura, superfície de contato e concen-
• Para o prato principal, estime 250 gramas de
tração.
carne para cada pessoa.
B) Concentração, superfície de contato e cata-
• Um copo americano cheio de arroz rende o su-
lisadores.
ficiente para quatro pessoas.
C) Temperatura, superfície de contato e catali-
• Para a farofa, calcule quatro colheres de sopa
sadores.
por convidado.
D) Superfície de contato, temperatura e concen- • Uma garrafa de vinho serve seis pessoas.
tração. • Uma garrafa de cerveja serve duas.
E) Temperatura, concentração e catalisadores. • Uma garrafa de espumante serve três convida-
dos.
QUESTÃO 03
Mantendo-se as mesmas dimensões geométri- Quem organiza festas faz esses cálculos em cima
cas, o fio que apresenta menor resistência elétrica é do total de convidados, independente do gosto de
aquele feito de #12; cada um. Quantidade certa de alimentos e bebidas
A) tungstênio. evita o desperdício da ceia.
B) alumínio. Jornal Hoje, 17 dez. 2010 (adaptado).
C) ferro.
D) cobre. Um anfitrião decidiu seguir essas dicas ao se pre-
E) prata. parar para receber 30 convidados para a ceia de
Natal. Para seguir essas orientações à risca, o anfi-
trião deverá dispor de
a) 120 kg de carne, 7 copos americanos e meio C) possuir raio e carga relativamente próximos
de arroz, 120 colheres de sopa de farofa, 5 garrafas aos de íons metálicos que atuam nos processos bio-
de vinho, 15 de cerveja e 10 de espumante. lógicos, causando interferência nesses processos.
b) 120 kg de carne, 7 copos americanos e meio D) apresentar raio iônico grande, permitindo que
de arroz, 120 colheres de sopa de farofa, 5 garrafas ele cause interferência nos processos biológicos em
de vinho, 30 de cerveja e 10 de espumante. que, normalmente, íons menores participam.
c) 75 kg de carne, 7 copos americanos e meio de E) apresentar carga +2, o que permite que ele
arroz, 120 colheres de sopa de farofa, 5 garrafas de cause interferência nos processos biológicos em que,
vinho, 15 de cerveja e 10 de espumante. normalmente, íons com cargas menores participam.
d) 7,5 kg de carne, 7 copos americanos, 120 co-
lheres de sopa de farofa, 5 garrafas de vinho, 30 de QUESTÃO 09
cerveja e 10 de espumante. Na estrutura da curcumina, identificam-se grupos
e) 7,5 kg de carne, 7 copos americanos e meio característicos das funções
de arroz, 120 colheres de sopa de farofa, 5 garrafas A) éter e álcool.
de vinho, 15 de cerveja e 10 de espumante. B) éter e fenol.
C) éster e fenol.
Resolução: alternativa E D) aldeído e enol.
Considerando que o anfitrião é um dos 30 convi- E) aldeído e éster.
dados, para realizar a festa serão necessários:
de carne, 250 g x 30 = 7 500 g = 7,5 kg QUESTÃO 10
1 Supondo-se que o esmalte dentário seja constituí-
de arroz, ––– de copo x 30 = 7,5 copos. do exclusivamente por hidroxiapatita, o ataque áci-
4 do que dissolve completamente 1 mg desse material
1 ocasiona a formação de, aproximadamente, #12;
de vinho, ––– de garrafa x 30 = 5 garrafas. A) 0,14 mg de íons totais.
6 B) 0,40 mg de íons totais.
1 C) 0,58 mg de íons totais.
de cerveja, ––– de garrafa x 30 = 15 garrafas. D) 0,97 mg de íons totais.
E) 1,01 mg de íons totais. 217
2
1
RESPOSTAS
de espumante, ––– de garrafa x 30 = 10 garrafas.
1) B
3
2) C
3) E
QUESTÃO 07
4) E
As informações químicas presentes no rótulo de
5) D
vários produtos permitem classificar o produto de vá-
6) E
rias formas, de acordo com seu gosto, seu cheiro, sua
7) D
aparência, sua função, entre outras. As informações
8) C
da tabela permitem concluir que essa água é
9) B
A) gasosa.
10) D
B) insípida.
C) levemente azeda.
D) um pouco alcalina.
E) radioativa na fonte.
QUESTÃO 08
Com base no texto, a toxicidade do cádmio em
sua forma iônica é consequência de esse elemento
A) apresentar baixa energia de ionização, o que
favorece a formação do íon e facilita sua ligação a
outros compostos.
B) possuir tendência de atuar em processos bio-
lógicos mediados por cátions metálicos com cargas
que variam de + 1 a + 3.
219
A
O retículo endoplasmático se comunica, tam-
membrana das células animais é lipopro-
bém, com a membrana plasmática e com o meio
téica e seletivamente permeável, capaz
extracelular. Ele atua como um sistema interno de
de controlar a entrada e saída de mate-
distribuição.
riais. Moléculas pequenas e sais inorgânicos passam
Os ribossomos, pequenos grânulos observados no
através da membrana. Moléculas maiores são en-
citoplasma, são compostos por protéinas e por RNA,
globadas em vesículas. Substâncias exportadas pela
e sintetizam proteínas, algumas que são usadas na
célula ficam em pequenas bolsas membranosas, que
célula, como as enzimas, e outras que são lançadas
se abrem na superfície, despejando seu conteúdo no
no meio externo. Os ribossomos podem ser encontra-
exterior.
Fase Anaeróbica ou Glicólise Nesta fase, forma-se 36 ATP . Junto com as mo-
léculas formadas na primeira fase, gera-se um ren-
Esta fase acontece ainda no citoplasma (hialo- dimento de 38 ATP, porém como para realizar este
plasma ) da célula, fora da mitocôndria. Por ação de processo todo, gasta-se 6 ATP de energia, gera um
enzimas , a molécula de glicose (composta de 6 car- rendimento líquido de 32 ATP.
bonos, 12 hidrogênios e 6 oxigênios) é quebrada em
duas moléculas menores de Ácido Pirúvico (cada Reações aerobióticas
uma com 3 carbonos ). A partir delas, por ação tam-
bém de enzimas ocorre a liberação de Gás Carbõ- As reações aerobióticas são um tipo específico
nico (CO2), transformando-as em Ácido Acético de um processo mais global, designado por respira-
(cada uma com 2carbonos ). ção celular. Através destas reações, a glicose é de-
Nesta fase ocorre a formação de 2 moléculas de gradada em dióxido de carbono e água , libertan-
ATP (células responsáveis pelo armazenamento de do-se energia . É, assim, como que o processo inverso
energia ). da fotossíntese , onde as plantas produzem glicose
usando água , dióxido de carbono e energia solar .
Ciclo de Krebs
Respiração anaeróbia
Esta fase acontece dentro da mitocôndria , em
suas cristas . A molécula de Ácido Pirúvico entra para Na linguagem vulgar, respiração é o ato de inalar
dentro da mitocôndria, e então começa uma espé- e exalar ar através da boca ou das cavidades na-
cie de reconstituição da molécula, para torná-la no- sais para se processarem as trocas gasosas ao nível
vamente com 6 carbonos. Essa molécula de Ácido dos pulmões ; este processo encontra-se descrito em
Pirúvico é carregada por uma molécula chamada ventilação pulmonar .
“Acetil CoA “ (que possui 2 carbonos). A molécula de Do ponto de vista da fisiologia , respiração é o
Acetil CoA faz com que o Ácido Pirúvico se una com processo pelo qual um organismo vivo troca oxigénio
e dióxido de carbono com o seu meio ambiente .
uma molécula de Ácido Oxalacético (composta de
4 carbonos). Ao unirem-se, forma-se uma molécula
Do ponto de vista da bioquímica , respiração ce-
composta de 6 carbonos , 12 hidrogênios e 6 oxigê- 223
lular é o processo de conversão das ligações quími-
nios (mesma da glicose , porém com os hidrogênios
cas de moléculas ricas em energia que possa ser
em posição diferente), agora chamada de Ácido Cí-
usada nos processos vitais.
trico . A molécula de Acetil CoA sai da reação para
Respiração celular
voltar a carregar mais moléculas de Ácido Acético
O processo básico da respiração é a oxidação
para completar o ciclo.
da glicose , que se pode expressar-se pela seguinte
Nesta fase não há formação de ATP
equação química:
C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O + energia
Cadeia Respiratória
Este artigo centra-se nos fenómenos da respira-
ção, que se processa segundo duas sequências bá-
Esta fase acontece na Matriz da Mitocôndria. É sicas:
a única fase em que há utilização de oxigênio para 1. Glicólise e
a quebra de moléculas, caracterizando a respiração 2. Oxidação do piruvato através de um de dois
Aeróbia. A molécula de Ácido Cítrico é agora que- processos:
brada vagarosamente por moléculas de oxigênio, a) Respiração aeróbica
fazendo com que, ao invés de separar em moléculas b) Respiração anaeróbica
bem menores, como o ocorrido na primeira fase, as Oxidação do piruvato
moléculas são quebradas perdendo 1 oxigênio por De acordo com o tipo de metabolismo, existem
vez. Assim, o ácido cítrico de 6 carbonos é quebrado duas sequências possíveis para a oxidação do piru-
por uma molécula de oxigênio em uma molécula de vato proveniente da glicólise
5 carbonos, liberando gás carbônico , água e ener-
gia para a formação de ATP . Por sua vez, a molécu- Respiração aeróbica
la composta de 5 carbonos será quebrada em uma
de 4, e assim sucessivamente. A respiração aeróbica requer oxigênio. Cada pi-
É a partir desta quebra, que se forma o Ácido ruvato que entra na mitocôndria e é oxidado a um
Oxalacético, utilizado para juntar-se com o Ácido Pi- composto com 2 carbonos (acetato) que depois é
rúvico na segunda fase. combinado com a Coenzima-A, com a produção de
NADH e libertação de CO2. De seguida, inicia-se o ambientes aquáticos e em ambientes terrestres muito
ciclo de Krebs. Neste processo, o grupo acetil é com- húmidos. Entre as células que formam a sua epiderme
binado com compostos com 4 carbonos formando , há algumas especializadas na produção de ummuco
o citrato (6C). Por cada ciclo que ocorre liberta-se . Esse muco espalha-se sobre o tegumento, mantendo
2CO2, NADH eFADH2 . No ciclo de Krebs obtém-se -o húmido e possibilitando as trocas gasosas.
2 ATPs . Numa última fase - cadeia transportadora de
elétrons (ou fosforilação oxidativa) os elétrons remo- Síntese proteica.
vidos da glicose são transportados ao longo de uma
cadeia transportadora, criando um gradiente protó- Síntese de Proteínas
nico que permite a fosforilação do ADP . O aceptor As proteínas são moléculas orgânicas formadas
final de elétrons é o O2, que, depois de se combinar pela união de uma série determinada de aminoá-
com os elétrons e o hidrogênio, forma água. Nesta cidos, unidos entre si por ligações peptídicas. Trata-
fase da respiração aeróbica a célula ganha 34 molé- se das mais importantes substâncias do organismo,
culas de ATP. Isso faz um total ganho de 38 ATP duran- já que desempenham inúmeras funções: dão es-
te a respiração celular em que intervém o oxigênio. trutura aos tecidos, regulam a atividade de órgãos
(hormônios), participam do processo de defesa do
Respiração anaeróbica organismo (anticorpos), aceleram todas as reações
químicas ocorridas nas células (enzimas), atuam no
A respiração anaeróbica envolve um receptor transporte de gases (hemoglobina) e são responsá-
de eléctrons diferente do oxigênio e existem vários veis pela contração muscular.
tipos de bactérias capazes de usar uma grande va- A síntese de proteínas é um processo rápido, que
riedade de compostos como receptores de eléctrons ocorre em todas as células do organismo, mais preci-
na respiração: compostos nitrogenados, tais comoni- samente, nosribossomos, organelas encontradas no
tratos e nitritos , compostos de enxofre , tais como sul- citoplasma e no retículo endoplasmático rugoso. Esse
processo pode ser dividido em três etapas:
fatos , sulfitos , dióxido de enxofre e mesmo enxofre
elementar, dióxido de carbono , compostos de ferro ,
1º. Transcrição
demanganês , de cobalto e até de urânio .
No entanto, para todos estes , a respiração
224 A mensagem contida no cístron (porção do DNA
anaeróbica só ocorre em ambientes onde o oxigé-
que contém a informação genética necessária à
nio é escasso, como nos sedimentos marinhos e la-
síntese proteica) é transcrita pelo RNA mensagei-
custres ou próximo de nascentes hidrotermais sub-
ro (RNAm). Nesse processo, as bases pareiam-se: a
marinas.
adenina do DNA se liga à uracila doRNA, a timina do
Uma das sequências alternativas à respiração
DNA com a adenina do RNA, a citosina do DNA com
aeróbica é a fermentação , um processo em que
a guanina do RNA, e assim sucessivamente, havendo
o piruvato é apenas parcialmente oxidado, não se
a intervenção da enzima RNA-polimerase. A sequen-
segue o ciclo de Krebs e não há produção de ATP cia de 3 bases nitrogenadas de RNAm, forma o có-
numa cadeia de transporte de eléctrons. No entanto, don, responsável pela codificação dos aminoácidos.
a fermentação é útil para a célula porque regenera Dessa forma, a molécula de RNAm replica a mensa-
o dinucleótido de nicotinamida eadenina (NAD ), gem do DNA, migra do núcleo para os ribossomos,
que é consumido durante a glicólise . atravessando os poros da membrana plasmática e
Os diferentes tipos da fermentação produzem forma um molde para a síntese proteica.
vários compostos diferentes, como oetanol (o álcool
das bebidas alcoólicas , produzido por vários tipos de 2º. Ativação de aminoácidos
leveduras e bactérias) ou o ácido láctico do iogurte
. Nessa etapa, atua o RNA transportador (RNAt),
Outras moléculas, como N O 2, S O2 são os acep- que leva os aminoácidos dispersos no citoplasma,
tores finais na cadeia de transporte de elétrons. provenientes da digestão, até os ribossomos. Numa
das regiões do RNAt está o anticódon, uma sequên-
Respiração cutânea cia de 3 bases complementares ao códon de RNAm.
A ativação dos aminoácidos é dada por enzimas es-
Os animais de respiração cutânea precisam ter pecíficas, que se unem ao RNA transportador, que
o tegumento (epiderme ou pele ) constantemente forma o complexo aa-RNAt, dando origem ao anti-
humedecido, uma vez que o oxigénio e o dióxido de códon, um trio de códons complementar aos códons
carbono só atravessam membranas quando dissol- do RNAm. Para que esse processo ocorra é preciso
vidos. Portanto, esses organismos só podem viver em haver energia, que é fornecida pelo ATP.
É impossível imaginar a multiplicação de uma O ciclo celular todo, incluindo a interfase (G1, S,
fabrica, de modo que todas as filiais fossem extre- G2) e a mitose (M) – prófase, metáfase, anáfase e
mamente semelhantes a matriz, com cópias fieis de telófase – pode ser representado em um gráfico no
todos os componentes, inclusive dos diretores? Essa, qual se coloca a quantidade da DNA na ordenada
porém, no caso da maioria das células, é um acon- (y) e o tempo na abscissa (x). Vamos supor que a
tecimento rotineiro. A mitose corresponde a criação célula que vai se dividir tenha, no período G1, uma
quantidade 2C de DNA (C é uma unidade arbitrária). A formação de um novo par de centríolos é ini-
Nas células, existe uma espécie de “manual de verifi- ciada na fase G1, continua na fase S e na fase G2 a
cação de erros” que é utilizado em algumas etapas duplicação é completada. No entanto, os dois pares
do ciclo celular e que é relacionado aos pontos de de centríolos permanecem reunidos no mesmo cen-
checagem. Em cada ponto de checagem a célula trossomo. Ao iniciar a prófase, o centrossomo parte-
avalia se é possível avançar ou se é necessário fazer se em dois e cada par de centríolos começa a diri-
algum ajuste, antes de atingir a fase seguinte. Muitas gir-se para polos opostos da célula que irá entrar em
vezes, a escolha é simplesmente cancelar o processo divisão.
ou até mesmo conduzir a célula à morte.
Metáfase – Fase do meio (meta = no meio)
As fases da mitose - Os cromossomos atingem o máximo em espira-
lação, encurtam e se localizam na região equatorial
A mitose é um processo contínuo de divisão ce- da célula.
lular, mas, por motivos didáticos, para melhor com- - No finalzinho da metáfase e início da anáfase
preendê-la, vamos dividi-la em fases: prófase, metá-
ocorre a duplicação dos centrômeros.
fase, anáfase e telófase. Alguns autores costumam
citar uma quinta fase – a prometáfase – intermediária
entre a prófase e a metáfase. O final da mitose, com
a separação do citoplasma, é chamado de citoci-
nese.
Embora os centríolos participem da divisão, não Anáfase – Fase do deslocamento (ana indica
é deles que se originam as fibras do fuso. Na mitose movimento ao contrário)
em célula animal, as fibras que se situam ao redor de - As fibras do fuso começam a encurtar. Em con-
cada par de centríolos opostas ao fuso constituem o sequência, cada lote de cromossomos-irmãos é pu-
áster (do grego, aster = estrela). xado para os polos opostos da célula.
- O núcleo absorve água, aumenta de volume e
a carioteca se desorganiza. Como cada cromátide passa a ser um novo cro-
- No final da prófase, curtas fibras do fuso, prove- mossomo, pode-se considerar que a célula fica tem-
nientes do centrossomos, unem-se aos centrômeros. porariamente tetraplóide.
Cada uma das cromátides-irmãs fica ligada a um
dos polos da célula.
Telófase – Fase do Fim (telos = fim) que orientam a deposição de uma placa celular
- Os cromossomos iniciam o processo de deses- mediana semelhante a um disco, originada de ve-
pirilação. sículas fundidas do sistema golgiense. Progressiva-
- Os nucléolos reaparecem nos novos núcleos ce- mente, a placa celular cresce em direção à periferia
lulares. e, ao mesmo tempo, no interior da vesícula, ocorre a
- A carioteca se reorganiza em cada núcleo-filho. deposição de algumas substâncias, entre elas, pecti-
- Cada dupla de centríolos já se encontra no lo- na e hemicelulose, ambos polissacarídeos. De cada
cal definitivo nas futuras células-filhas. lado da placa celular, as membranas fundidas contri-
buem para a formação, nessa região, das membranas
plasmáticas das duas novas células e que acabam se
conectando com a membrana plasmática da célula-
mãe. Em continuação à formação dessa lamela mé-
dia, cada célula-filha, deposita uma parede celulósica
primária, do lado de fora da membrana plasmática. A
parede primária acaba se estendendo por todo o perí-
metro da célula. Simultaneamente a parede celulósica
primária da célula-mãe é progressivamente desfeita, o
que permite o crescimento de cada célula-filha, cada
qual dotada, agora, de uma nova parede primária. En-
tão, se pudéssemos olhar essa região mediana de uma
das células, do citoplasma para fora, veríamos, inicial-
mente, a membrana plasmática, em seguida a parede
Citocinese – Separando as células celulósica primária e, depois, a lamela média. Eventual-
mente, uma parede secundária poderá ser deposita-
A partição em duas copias é chamada de citoci-
da entre a membrana plasmática e a parede primária.
nese e ocorre, na célula animal, de fora para dentro,
isto é, como se a célula fosse estrangulada e partida
em duas (citocinese centrípeta). Há uma distribuição
de organelas pelas duas células-irmãs. Perceba que
a citocinese é, na verdade a divisão do citoplasma. 227
Essa divisão pode ter início já na anáfase, dependen-
do da célula.
rara atividade de modelar, pintar ou desenhar figuras sica para a unidade orgânica da raça humana na
de pesadelo da imaginação, e de lhes emprestar, no primeira transgressão, e da provisão para a salvação
processo, um valor completamente falso da realida- da raça em Cristo, Rm 5.12,19; 1Co 15.21,22. Shedd
de evidente”. Fleming que um dos mais proeminentes entende esta unidade de raça realisticamente quan-
cientista da atualidade fala a respeito: “A conclusão do diz: “A natureza humana é uma substância espe-
disso tudo é que não podemos pôr em ordem todos cifica ou geral criada nos primeiros indivíduos de uma
os conhecimentos fósseis do suposto ‘homem’ numa espécie humana e com eles, não ainda individuali-
seqüência linear gradualmente progredindo no tipo zada, mas pela geração ordinária, subdividida em
ou na forma, a partir da forma ou tipo de algum ma- partes, formando estas partes distintos e separados
caco antropóide, ou de outros mamíferos, até aos indivíduos da espécie. A substância uma e especifica
tipos modernos e atualmente existentes do homem é, pela propagação, metamorfoseada em milhões
verdadeiro. Qualquer suposição ou afirmação de de substancias individuais, ou pessoas. Um individuo
que se pode fazer isto, e de que é verdadeiro, sem é uma parte fracionária da natureza humana separa
dúvida é incorreta. È certamente enganoso e indizi- da massa comum e constitui uma pessoa particular,
velmente pernicioso expor em revistas populares ou tendo todas as propriedades essenciais da natureza
noutras publicações lidas por crianças, figuras de go- humana”.
liras ou chipanzés rotuladas de ‘primo do homem’ ou TESTEMUNHO DA CIÊNCIA EM FAVOR DA UNIDADE
‘parente mais próximo do homem’, ou publicar de- DA RAÇA: A Escritura em favor da unidade da raça
senhos inteiramente imaginários e grotescos de um humana, é confirmada pela ciência de varias formas.
suposto ‘homem de java’ com rosto selvagem como Alguns homens de mentalidade cientifica, nem sem-
sendo um antepassado do homem moderno, como pre acredita nisso. Antigos gregos tinham sua teoria
ocasionalmente se faz. Os que se fazem tal coisa são do autoctonismo, que diziam que os homens brota-
culpados de ignorância ou de deturpação delibera- ram da terra por uma espécie de geração espontâ-
das dos fatos. Tampouco se justifica que os pregado- nea, onde não consiste nenhum suporte sólido, pois
res nos púlpitos digam às suas igrejas que há acordo jamais foi comprovada e desacreditada. Agassiz pro-
geral entre os cientistas quanto à explicação evolu- pôs a teoria dos coadamitas, que presume que houve
cionista da origem do homem, como procedente de
diferentes centros de criação. Peyrerius em 1655, de-
antepassado animal”. Cientistas como Fleming, Da-
232 senvolveu a teoria dos pré-adamitas, que pressupõe
wson. Kelly e Price rejeitam totalmente a teoria evo-
que havia homens antes de Adão. Teoria esta, revivi-
lucionista e aceita a doutrina da criação. Sir William
da por Winchell que não negava a unidade da raça,
Dowson diz a respeito da origem do homem: “Nada
considerando Adão como o primeiro antepassado
sei da origem do homem, exceto o que me diz a es-
dos judeus, e não chefe da raça humana. Fleming
critura – que Deus o criou. Nada sei além disso, e não
, sem ser dogmático, disse haver razões para supor
conheço ninguém que o saiba”. Diz Flaming: “ Tudo
que poderia existir raças de homens inferiores antes
que no presente a ciência pode dizer a luz do co-
de Adão aparecer por volta de 5500 a.C. Inferiores
nhecimento humano limitado, e definidamente a, é
aos adamitas, já tinham capacidades diferentes de
que não sabe como, onde e quando foi originado o
animais. Posteriormente o homem adâmico foi criado
homem. Se nos há de chegar algum conhecimento
com capacidades maiores e mais nobres, e prova-
disso, haverá de vir de alguma outra fonte que não a
antropologia moderna”. velmente foi destinado a levar a toda outra humani-
dade existente à obediência a Deus.Fracassando na
A ORIGEM DO HOMEM E A UNIDADE DE RAÇA: infidelidade ao Criador, foi providenciado por Deus a
TESTEMUNHO ESCRITURÍSTICO DA UNIDADE DA vinda de um descendente humano e, contudo, bem
RAÇA: Conforme os ensinamentos da Bíblia, descen- mais que humano, para que pudesse realizar o que
de de um único par, encontrados nos primeiros capí- Adão não conseguiu. Fleming foi levado a defender
tulos do livro de Gênesis. Adão e Eva que foram cria- o conceito: “que o ramo inquestionavelmente cau-
dos por Deus são os iniciantes da espécie humana, casiano é tão somente a derivação, pela geração
onde lhes foram ordenado que se multiplicassem e normal, da raça adâmica, a saber, dos membros da
enchessem a terra. Gênesis mostra que as gerações raça adâmica que serviam a Deus e que sobrevive-
seguintes, até o dilúvio, estiveram em ininterrupta re- ram ao dilúvio – Noé e seus filhos e filhas”. Essa teoria
lação genética com o primeiro casal. A raça huma- não tem apoio na Bíblia e contradiz a At 17.26 e tudo
na consititui não somente uma unidade especifica, mais que é ensinado por ela com referencia a apos-
como também a mesma natureza humana, e uma tasia e à libertação do homem. Além disso, a ciência
unidade genética ou genealógica. Paulo também apresenta diversos argumentos em favor da unidade
ensina em At 17.26. Da mesma forma, a verdade bá- da raça humana, como os seguintes:
É verdade: todos somos criaturas, todos fomos No entanto, é de surpreender o modo como eles
criados. Mas será que estamos todos no mesmo ní- conseguem impor suas idéias como se fossem verda-
vel? ? des absolutas considerando que, de acordo com o
Até mesmo na escola, temos de aceitar essa jornal inglês The Observer, até mesmo entre cientistas
idéia oficial, sem poder questionar. É uma heresia adeptos da evolução há divisão sobre a questão. De
consagrada e respeitada. É assombroso o fato de fato, não há um consenso acerca das suposições da
que podemos reconhecer como perigoso um espírita evolução.
ensinando suas idéias a nossos filhos, mas não conse- Enézio E. de Almeida Filho, em seu excelente arti-
guimos perceber o perigo de um professor que joga go Teoria da Evolução, Desnudando Darwin: Ciência
ao chão, diante de alunos inocentes, o valor de ver- ou Fé? Comenta:
dades tão importantes para nossa existência. A au- É engraçado e até irônico: um sapo ser beijado
toridade da Palavra de Deus é tratada, até mesmo por uma princesa e transformado em príncipe é his-
diante de crianças cristãs, como se não fosse válida tória da carochinha. Agora, um suposto ser unicelular
no mundo real. É como se as verdades bíblicas de- (inobservado) ao longo de bilhões de anos se trans-
vessem permanecer confinadas nas igrejas e na pri- formar em Australopithecus e depois em Charles Dar-
vacidade dos lares cristãos. No entanto, em nenhum win (inobservado), isso sim, é considerado ciência?
momento os adeptos de Darwin aceitam que as Não são 30 dias de debates. São 38 anos. Jornalistas
idéias de Darwin sejam tratadas do jeito que eles tra- científicos deveriam considerar o questionamento
tam a Palavra de Deus. Para eles, a opinião evolucio- levantado por G. A. Kerkut, um evolucionista, em re-
nista deve prevalecer sobre todas as outras opiniões. lação à evidência inadequada de sete importantes
Um site na Internet intitulado Myths in Genesis (Os inferências evolucionistas. 1. Coisas não-vivas deram
Mitos do Gênesis) se dedica a dois objetivos: promo- origem a organismos vivos; 2. A abiogênese ocorreu
ver a teoria da evolução como verdade e mostrar uma vez; 3. Os vírus, bactérias, plantas e animais são
que os relatos da criação do mundo em Gênesis não todos inter-relacionados; 4. Os protozoários deram
são verdade. Por exemplo, o site ataca “os mitos origem aos metazoários; 5. Vários filos de invertebra-
óbvios nos primeiros capítulos do livro de Gênesis e
dos são inter-relacionados; 6. Os invertebrados de-
as tentativas de os cristãos conservadores de forçar
ram origem aos vertebrados; e 7. Peixes, répteis, aves
seus ensinos nas escolas públicas como fato cientifi-
e mamíferos tiveram origem ancestral comum.
234 camente provado”.O autor, um ardoroso adepto da
Até hoje, nenhum cientista evolucionista solucio-
evolução, ocupa uma página inteira da Web para
nou estas dificuldades teórico-empíricas. Percebe-se,
atacar os evangélicos que crêem, conforme a opi-
contudo, no que é veiculado nas reportagens cien-
nião pessoal dele, nos “mitos” do livro de Gênesis e
tíficas uma certa preocupação quanto ao tempos
afirma que ninguém tem o direito de ensinar para as
verbais: todos no condicional. Isso é bom porque não
crianças de escola que Deus criou o mundo, confor-
atribui como “fato” determinadas descobertas. Con-
me revela a Palavra de Deus. .
tudo, não é salientado para os leitores quais aspectos
Nos Estados Unidos, um professor de escola públi-
da teoria neodarwinista estariam sendo corrobora-
ca foi processado por mostrar aos alunos os erros da
teoria da evolução. Ele comenta: “Se algo na ciência dos e questionados. Por que essa omissão? O que se
de repente se torna tão sagrado que não se pode vê no jornalismo científico, supostamente objetivo, é
questionar, então já não é mais ciência. O que quero um jornalismo ideologicamente naturalista mascara-
mesmo não é ensinar o criacionismo [o ensino de que do de jornalismo científico. Pseudo-jornalismo científi-
Deus é o Autor da criação]; quero apenas ensinar as co a ser desmascarado. Com muito rigor científico. .
falhas do darwinismo.” Ele foi legalmente impedido Apesar das falhas evolucionistas, nas provas es-
de falar na escola a respeito dos erros da teoria da colares de ciência, as perguntas sobre a questão
evolução. Ele foi perseguido apenas por questionar da origem do homem exigem, oficialmente, que se
um tabu “científico”. Imagine então o que lhe acon- dê uma resposta de acordo a teoria da evolução.
teceria se ele tentasse ensinar para as crianças que Quem pensa diferente é obrigado a guardar para si
há um Deus Criador? suas convicções. Uma resposta que dê a Deus o cré-
Por que tanta oposição, em nome da ciência, à dito da criação do homem custa a um aluno alguns
realidade de um Deus Criador? A verdadeira ciência pontos.
não contradiz a Bíblia. O que contradiz a Bíblia é a Embora o mundo moderno esteja experimentan-
interpretação e as opiniões pessoais de cientistas que do extraordinários avanços na área tecnológica, há
rejeitam a Deus. Não existe uma guerra entre a ciên- ainda questões básicas que todo ser humano quer
cia e Deus. O que existe são cientistas que não acei- entender e que até mesmo os computadores não
tam a Deus e usam seu conhecimento para negar a conseguem resolver. A principal pergunta é: “Qual
existência e o poder criador desse Deus. . é a origem da vida?” Os adeptos da teoria da evo-
lução estão, em nome da ciência, impondo suas consciencioso não teria coragem de fazer. A extinta
respostas de todas as formas possíveis e censurando União Soviética, em seu radicalismo socialista ateísta,
qualquer explicação que não respeite as idéias de abraçava a teoria da evolução como única verda-
Darwin. Eles têm fé de que eles possuem a ÚNICA res- de. Assim, não é de admirar que os governantes so-
posta. Mas nossa fé é baseada não só no que a natu- viéticos e seus seguidores tratassem as pessoas como
reza e a ciência mostram, mas principalmente no que animais. E quem é que não se lembra das atrocida-
a Palavra de Deus diz: des que distintos homens da medicina, psiquiatria e
“No começo Deus criou o céu e a terra.” (Gênesis ciência cometiam contra homens, mulheres e até
1:1) crianças na Alemanha nazista? A teoria da evolução
“É pela fé que entendemos que o Universo foi cria- era um dos ídolos no altar do ateísmo nazista. Muitas
do pela palavra de Deus e que aquilo que pode ser vezes eles sacrificavam vidas humanas em experiên-
visto foi feito daquilo que não se vê.” (Hebreus 11:3) cias nos campos de concentração alegando que os
Escolhendo acreditar em Deus, passamos a en- resultados ajudariam no tratamento de muitas doen-
tender que há um Autor para tudo o que se vê no ças. Tanto a União Soviética quanto a Alemanha na-
mundo natural. Compreendemos que o homem não zista fecharam as escolas cristãs e forçaram todas as
está aqui por acaso, mas tem um destino eterno e crianças a ir para escolas do governo a fim de serem
uma alma eterna. Por outro lado, escolhendo acredi- sistematicamente doutrinadas no humanismo evolu-
tar que o homem veio do macaco, não precisamos cionista, ateísta e materialista. O exemplo soviético e
nos preocupar com Deus, Céu, inferno ou com nossa nazista nos dá abundantes evidências dos “benefí-
responsabilidade de fazer o bem e evitar o mal. (Afi- cios” do evolucionismo na sociedade moderna. .
nal, se Deus não existe, quem é que vai definir o que A ciência é contrária a Deus? Claro que não! Mas
é o bem e o que é o mal?) ) cientistas contrários à realidade de Deus e às suas leis
A teoria da evolução pode não ser verdadeira, morais utilizam indevidamente seu conhecimento
mas fornece a desculpa necessária para os que pre- avançado para sustentar teorias que se encaixam
em seus preconceitos pessoais. Algumas vezes, eles
cisam de espaço para agir fora dos princípios morais
têm de se envolver em experiências que não são eti-
estabelecidos por Deus. O famoso filósofo evangélico
camente aceitáveis. Em outras palavras, nem tudo
Dr. Francis Schaeffer e C. Everett Koop (ex-Ministro da
o que um cientista faz respeita a moralidade cristã.
Saúde dos EUA) pensam da mesma forma. Em seu li- 235
Por exemplo, pode-se sacrificar um bebê para se
vro Whatever Happened to the Human Race? (O que
criar um “tratamento” médico? O princípio cristão,
foi que Aconteceu com a Raça Humana?), eles de-
de que a vida é sagrada, coloca um limite necessá-
claram: :
rio em qualquer tentativa de manipular fatalmente
Diferente do conceito evolucionário sem o envol-
uma criatura humana, antes ou depois do nascimen-
vimento de uma pessoa no começo? a Bíblia relata
to. Para levar adiante algumas de suas pesquisas não
a origem do homem como uma pessoa finita feita
muito honrosas, os cientistas precisam de princípios
conforme a imagem de Deus, isto é, igual a Deus.
que não limitem sua liberdade de decidir ou agir. Se
Vemos então como é que o homem pode ter perso-
o ser humano veio do macaco, então ele tem o valor
nalidade, dignidade e valor. Nossa condição como de um animal. Se podemos fazer pesquisas com ani-
seres totalmente diferentes é garantida, algo que é mais, por que não incluir os seres humanos?
impossível num sistema materialista. Se não há dife- Portanto, é preciso encarar uma realidade ób-
rença de qualidade entre o homem e outras formas via. Aceitar a teoria da evolução necessariamente
de vida orgânica (plantas ou animais), por que de- envolve três conseqüências inevitáveis: a) remove
veríamos sentir mais preocupação com a morte de Deus como o Criador do ser humano; b) dá crédito
um ser humano do que com a morte de um rato de às idéias do homem, prestando assim adoração ao
laboratório? Será que, no final das contas, o homem homem; e, c) tira a dignidade do ser humano, que
tem um valor mais elevado? ? ele recebeu quando Deus o criou conforme a sua
Cientistas de diversas áreas estão alertando que imagem e que o torna totalmente diferente de todos
não é possível defender a teoria da evolução. Ape- os outros seres vivos criados. .
sar disso, o alerta deles tem sido devidamente igno- A teoria da evolução se torna, assim, mais um
rado e censurado. Embora a teoria da evolução não meio de distração espiritual, impedindo as pessoas
seja uma realidade comprovada, pelo menos é con- de vir a conhecer e honrar a Deus. Mas será que é
veniente para as atividades de quem não quer ser tão difícil ver que há um Criador? Quem pesquisar a
limitado por conceitos e éticas morais. Ver o ser hu- natureza honestamente, terá de fechar os olhos para
mano como animal dá para o cientista inescrupuloso não ver que há uma Mente Superior por trás de tudo
o pretexto ideal para realizar o que um ser humano o que foi criado. .
Assim, um estudo honesto da natureza acaba tra- Na verdade, o termo apropriado é religião heré-
zendo como resultado o conhecimento de que há tica. Os evolucionistas passaram a seguir as idéias de
um Criador. Alguns cientistas famosos que criam em Darwin com a paixão irracional dos heréticos, sempre
Jesus, na Bíblia e em Deus como o Criador: Lord Kelvin procurando silenciar todas as dúvidas sobre suas he-
(cujo nome era William Thompson [1824-1907]. Ele for- resias e não dando espaço democrático algum para
mulou a primeira e a segunda Lei da Termodinâmica. quem não coloca sua fé no altar da evolução. Aliás,
Ele disse: “Com relação à origem da vida, a ciência? é interessante observar que as grandes heresias mui-
sem sombra de dúvida afirma que há poder criador. tas vezes começam com indivíduos que se desviam
Há muito tempo sinto que as pessoas que não es- do Cristianismo. Tal foi o caso com Charles Darwin. Em
tão envolvidas com a ciência acham que a classe sua juventude, ele se desviou do Cristianismo, “desco-
cientifica acredita que a ciência descobriu meios de briu” a teoria da evolução, mas no fim mudou de dire-
explicar todos os fatos da natureza sem adotar ne- ção. Todos têm o direito de mudar para melhor, não?
nhuma fé clara num Criador. Na minha opinião, esse Um dia, depois de falar sobre a santidade de Deus
modo de pensar não tem base alguma.”5), Sir James e da grandeza da Bíblia, Darwin confessou o que era
Young Simpson (1811-1870, descobriu o clorofórmio e mais importante para ele: :
declarou que sua maior descoberta foi Jesus 6), Louis Cristo Jesus e sua salvação. Não é esse o melhor
Pasteur (1822-1895, cientista que desenvolveu o pro- assunto?
cesso de pasteurização, a vacina anti-rábica, etc. O fato mais importante na vida de Darwin é que
Ele declarou: “A ciência nos aproxima mais de Deus.” no fim ele se desviou de suas próprias idéias evolucio-
7), Sir Isaac Newton (1642-1727, famoso descobridor nistas. Só um tolo não faria isso.
das leis universais da gravidade. 8), Matthew Fontai- Então por que indivíduos aparentemente inteli-
ne Maury (1806-1873, cientista considerado fundador gentes conseguem se apegar ao que Darwin aca-
da moderna hidrografia e oceanografia. 9), Johann bou abandonando? Para as muitas pessoas que per-
Kepler (1571-1630, fundador da astronomia física e guntam como é possível que indivíduos “estudados”
descobridor das leis que governam o movimento dos consigam acreditar que o homem veio do macaco,
planetas. 10), Wernher von Breaun (1912-1977, conhe- talvez a melhor resposta seja o que o escritor George
cido como o pai do programa espacial americano, Orwell disse: há coisas “tão tolas que só os intelectuais
foi diretor da NASA e um dos maiores cientistas espa- conseguem crer”?
236 ciais do mundo. Ele disse: “Os evolucionistas desafiam
a ciência a provar a existência de Deus. Mas será que QUE CONSEQÜÊNCIAS SOACIAIS E POLÍTICAS PO-
realmente precisamos acender uma vela para ver o DEM SER ATRIBUÍDAS À CRENÇA EVOLUCIONISTA?
sol?? Eles dizem que não conseguem ver um Criador. O filósofo Will Durant notou certa vez: “Ao ofere-
Bem, será que um físico pode ver um elétron?? Que cer a evolução em lugar de Deus como uma cau-
estranho tipo de raciocínio faz com que alguns físicos sa da história, Darwin removeu a base teológica do
aceitem o inconcebível elétron como real enquanto código moral da cristandade. No entanto, o código
rejeitam reconhecer a realidade de um Criador com moral que não teme a Deus é bastante frágil. Essa é a
o motivo de que não podem concebê-lo?? É com condição em que nos encontramos.
honestidade científica que apóio que teorias alterna- Não penso que o homem já seja capaz de lidar
tivas à origem do universo, vida e humanidade sejam com a ordem social e a decência individual sem te-
ensinadas nas aulas de ciência das escolas. Seria um mer algum ser sobrenatural que tenha autoridade
erro negligenciar a possibilidade de que o universo sobre ele e possa castigá-lo”. Podemos confirmar em
foi planejado, não vindo a existir por acaso”. 11). Es- toda parte que a declaração de Durant estava cor-
ses são apenas alguns exemplos de homens da ciên- reta. Num Universo que, em última análise, não tem
cia que acreditavam que Deus é a origem de tudo razão de ser, o que acontece com a ética individual
no universo. . e social? Por que os mais poderosos e inteligentes en-
Pudemos ver então que nem todos os cientistas tre nós não devem manipular os menos inteligentes e
aceitam as idéias da evolução. Mas o que dizer do menos poderosos para os propósitos que consideram
homem que as inventou? Refletindo em tudo o que “bons” e “respeitáveis”?
havia feito, no fim da vida Charles Darwin confessou: : O século XX está repleto de exemplos. Os últimos
Eu era jovem e minhas idéias não estavam forma- 80 anos testemunharam alguns dos maiores horrores
das. Não quis saber de perguntas nem sugestões e o de toda a história da humanidade – principalmente
tempo todo me surpreendia com tudo o que estava o resultado das atrocidades nazistas e comunistas. A
fazendo. Para meu espanto, minhas idéias se espa- Alemanha nazista foi hedionda e o comunismo foi res-
lharam como um incêndio florestal. As pessoas fize- ponsável pela morte de aproximadamente 25 vezes
ram delas uma verdadeira religião. . mais pessoas que as sacrificadas por Hitler!
Essas ideologias, porém, continuam ainda vivas. Vemos Hitler supremamente convencido de que
Na Alemanha de hoje, o neonazismo se tornou uma só a evolução produz uma base verdadeira para a
poderosa força social e o neofacismo está crescen- política nacional...
do na Itália – quase inconcebivelmente, sob a lide- Os meios adotados por ele para assegurar o desti-
rança da própria neta de Mussolini. Apesar do co- no da sua raça e do povo foram matanças organiza-
lapso do comunismo na Europa e na Rússia, a teoria das, que saturaram a Europa de sangue... Tal condu-
marxista continua dominando mais de um bilhão de ta é altamente imoral quando medida por qualquer
pessoas na China e em outros países. escala de ética, todavia a Alemanha a justifica; ela
Ninguém pode ter também certeza de que a Rús- está de acordo com a moral tribal ou evolucionista.
sia e a Europa Oriental vão continuar seu movimento A Alemanha voltou ao passado tribal e está demons-
em direção à democracia. O que tudo isso tem a ver trando ao mundo, em toda a sua nudez, os métodos
com a evolução naturalista? da evolução... Na Alemanha, Hitler viu na teoria evo-
A evolução está baseada na premissa de que o lucionista a justificação “científica” de seus pontos
tempo mais a matéria impessoal mais o acaso for- de vista pessoais. “Não há dúvidas de que a evolu-
maram todos os seres vivos. Em essência, o homem ção foi a base de todo o pensamento nazista, desde
se torna algo como um acidente trágico, não tendo o início até o fim. Todavia, é de fato um fenômeno
valor final, girando a velocidades vertiginosas através notável que tão poucos tivessem se apercebido dis-
dos corredores sombrios do espaço. so até hoje”. Uma forma de darwinismo foi também
Visões filosóficas moldadas por pensamentos utilizada efetivamente na propagação da ideologia
desse tipo podem, entretanto, encontrar facilmente comunista. Karl Marx “sentiu que sua obra era um pa-
expressão lógica na vida diária de milhares de indiví- ralelo exato da de Darwin” e ficou tão grato que quis
duos. Isso foi reconhecido por Sedgwick, um geólogo dedicar uma parte do livro Das Kapital (O Capital) a
de Cambridge e conhecido de Darwin, que achou Darwin, que declinou a honra.
que Darwin havia mostrado a cada criminoso como Marx escreveu a Engels com respeito a A Origem
justificar seu comportamento. Ele também cria que das Espécies, dizendo que o livro “contém na história
se os ensinos de Darwin tivessem larga aceitação, a natural a base para as nossas opiniões da [história hu-
humanidade “iria ser prejudicada a ponto de bruta- mana]”. Em 1861, ele também escreveu: “O livro de
lizar-se e fazer a raça humana mergulhar num grau Darwin é muito importante e me serve como base na
maior de degradação do que qualquer outro em seleção natural para a luta de classes na história...” 237
que tivesse caído desde que os seus registros escri- O Dr. A. E. Wilder-Smith comenta: “A propagan-
tos nos contam a sua história”. Um dos maiores evo- da política e anti-religiosa publicada desde os dias
lucionistas de épocas recentes foi o antropólogo Sir de Marx está eivada do darwinismo mais primitivo”,
Arthur Keith. Ele dedicou mais tempo ao estudo da observando que “ela brutaliza aqueles a quem do-
ética evolucionista do que talvez qualquer de seus mina”. A filosofia de Marx, como a de Hitler, refletia a
contemporâneos. brutalidade da natureza. Ele se referia ao “desarma-
A sua obra Evolution and Ethics (Evolução e Éti- mento da burguesia... terror revolucionário... e cria-
ca) mostra que a ética ensinada pelo cristianismo e a ção de um exército revolucionário...” Além disso, o
da evolução não são compatíveis: “O ensinamento governo revolucionário não teria “nem tempo nem
cristão está... em oposição direta à lei da evolução” oportunidade para a compaixão e o remorso. Seu
e, “a ética cristã não se harmoniza com a natureza intento era aterrorizar os oponentes até a sua sub-
humana e é secretamente antagônica ao esquema missão. Ele deve desarmar o antagonismo mediante
de evolução e ética da natureza”. execução, prisão, trabalho forçado, controle da im-
Keith também compreendeu que, se seguirmos a prensa...”
ética evolucionista até a sua conclusão estrita e lógi- Em vista do impacto de Hitler, Marx e seus asso-
ca, devemos “abandonar a esperança de alcançar ciados, e a ligação demonstrável de suas filosofias
um dia um sistema universal de ética” porque, “como desumanas com o ateísmo evolucionista, os comen-
acabamos de ver, os caminhos da evolução nacio- tários do filósofo histórico John Koster são pertinentes:
nal, tanto no passado como no presente, são cruéis, Muitos nomes foram citados além dos de Hitler para
brutais, implacáveis, impiedosos”. explicar o Holocausto. De modo estranho, o de Char-
De fato, quando examinamos a influência social les Darwin quase nunca se encontra entre eles. To-
e política da teoria darwiniana sobre a última me- davia... as idéias de Darwin e de Huxley quanto ao
tade do século dezenove e todo o século vinte, as lugar do homem no Universo prepararam o caminho
conseqüências morais são algumas vezes amedron- para o Holocausto... Hitler e Stalin assassinaram mais
tadoras. O próprio Keith observa o gélido impacto da vítimas inocentes do que as que morreram em todas
teoria de Darwin sobre a Alemanha: as guerras religiosas na história da humanidade. Eles
não assassinaram essas vítimas enganados pela idéia eles contêm se duplicam e passam à descendência
de salvar as suas almas ou punir os seus pecados, mas através dos gametas. Embora existam mecanismos
por serem competidores na questão do alimento e para impedir erros na replicação do DNA, eles po-
obstáculos ao “progresso evolutivo”. Muitos huma- dem ocorrer, trazendo como resultado modificações
nitários, cristãos, judeus, ou agnósticos compreen- nas características que determinam. Esses erros ocor-
deram a relação entre as idéias de Nietzsche e as rem subitamente e são chamados de mutações.
equipes de assassinato em massa e os crematórios • Gênicas
de Hitler. Podem ser definidas como erros no processo de
Poucos, porém, voltaram um passo atrás fazen- autoduplicação do DNA. A palavra mutação não se
do a ligação com Darwin, o “cientista” que inspirou restringe a modificações ocorridas em genes (muta-
diretamente a teoria do super-homem de Nietzsche ção gênica), mas engloba alterações sofridas pelos
e o corolário nazista de que alguns indivíduos são su- próprios cromossomos (mutações cromossômicas).
bumanos. A evidência estava toda ali – o termo neo- Estas podem envolver o número ou a ordem dos ge-
darwinismo foi usado abertamente para descrever as nes nos cromossomos ou, ainda,
teorias raciais nazistas. A expressão “seleção natural”, o próprio número de cromossomos.
como aplicada a seres humanos, foi encontrada na As mutações podem ser espontâneas ou provo-
Conferência de Wannsee no principal documento cadas. Não se sabe a causa das mutações espontâ-
do Holocausto... Podemos ver os eventos na Alema- neas, e sua frequência é muito baixa.
nha de Hitler e na Rússia de Stalin como uma cole- As mutações provocadas são induzidas, por
ção sem sentido de atrocidades que tiveram lugar agentes mutagênicos: raios x, radiações beta, gama
porque os alemães e os russos são pessoas perversas, e ultravioleta, substâncias químicas como o gás mos-
nada parecidas conosco. Ou podemos compreen- tarda, a colchicina (extraída de um vegetal) e o fe-
der que a imposição das teorias de Huxley e Darwin, nol.
de que a-vida-é-patológica, de depressão clínica As mutações ocorridas em células germinativas
disfarçada em ciência, desempenhou um papel críti- podem ser transmitidas a descendência. Visto que
co na era das atrocidades. essas células são precursoras dos gametas. As muta-
As pessoas têm de aprender a deixar de pensar ções de células somáticas causam nioclificações fe-
em seus semelhantes como se fossem máquinas e notípicas apenas nos indivíduos que as sofreram, não
238 aprender a pensar neles como homens e mulheres sendo transmitidas.
possuidores de uma alma...” (John Ankerberg e John
Weldon). Recombinação Gênica
Se a mutação é a fonte primária de variabilidade,
Noções sobre células-tronco, clonagem e tecno- a recombinação gênica é que efetivamente realiza
logia do DNA recombinante a “mistura” entre os genes diferentes dos seres vivos.
Nas décadas de 1930 e 1940, os conhecimentos A evolução seria extremamente lenta se não houves-
acerca da Genética foram unidos às ideias evolucio- se um modo de reunir as mutações de diferentes indi-
nistas de Darwin numa síntese que teve como resulta- víduos. A mutação em si é um fenômeno bem raro, e
do uma teoria mais abrangente e mais embasada e, se a evolução dependesse apenas da mutação cer-
por isso, mais aceita para explicar as leis que regem tamente não teríamos hoje em dia organismos tão
o processo evolutivo de seres vivos. Essa teoria ficou bem adaptados ao seu ambiente.
conhecida como teoria moderna da evolução, ou A mutação e a recombinação agem em conjun-
teoria sintética ou, ainda, Neodarwinismo. to; a mutação modifica o DNA, e a recombinação
Basicamente, essa teoria faz referência a duas realiza uma mistura entre as partes modificadas de
principais conclusões: 1) a evolução pode ser eluci- dois organismos.
dada pelas mutações e pela recombinação gênica,
norteadas pelo processo de seleção natural; 2) os Seleção Natural
fenômenos evolutivos fundamentam-se nos mecanis-
mos genéticos. Seleção Natural aplicada às mariposas, Biston
Tal teoria leva em consideração três principais fa- betularia
tores evolutivos, que são a seleção natural, a muta- É o principal fator evolutivo que atua sobre a
ção gênica e a recombinação gênica. variabilidade genética de uma população. A ação
Mutações da seleção natural consiste em selecionar genótipos
A transmissão das características hereditárias se mais bem adaptados a uma determinada condição
faz de pais para filhos através da reprodução. Nessa ecológica, eliminando aqueles desvantajosos para
ocasião, os cromossomos e o material genético que essa condição.
Alguns exemplos de alimentos da engenharia ge- diversas partes do mundo, por exemplo, o arroz e o
nética são: o tomate, para se manter fresco durante tomate ainda não estão aprovados para venda na
muito tempo é um exemplo de um alimento geneti- Europa. A modificação genética é complexa e leva
camente modificado, Milho concebido para resistir muitos anos, ainda não é possível modificar tudo ge-
aos pesticidas é outro exemplo de produtos geneti- neticamente.
camente modificados. No Brasil e no mundo já existem bons exemplos do
Os produtos alimentares geneticamente modifi- uso da biotecnologia,
cados são, por exemplo, tipos de plantas cujas ca- para aumentar a qualidade de alguns alimentos,
racterísticas genéticas foram alteradas. Os cientistas como é o caso de determinadas variedades de soja,
ajustam as suas características introduzindo neles batata, tomate, brócolis e milho. A soja, por exemplo,
novo material genético, por exemplo, de uma bac- com um maior conteúdo de óleos insaturados (áci-
téria capaz de resistir aos pesticidas. do léico), já à venda nos EUA e no Canadá, é mais
Organismos geneticamente modificados saudável para pessoas com propensão a problemas
O aprimoramento cardiovasculares, a batata o balanço de amilopec-
genético tem a função de adequar determina- tina e da amilose da batata inglesa foi melhorado, a
do alimento às necessidades do homem moderno, batata modificada reduz a absorção de óleo duran-
facilitando a sua produção, possibilitando maior nú- te o processo de fritura. O tomate Flavr Savr foi de-
mero de safras anuais, tornando-o mais resistente às senvolvido para resistir ao transporte, permanecendo
pragas, enriquecendo-o no aspecto nutricional, etc. firme por mais tempo, e para ser maior e mais sabo-
É o que acontece com o milho híbrido, o trigo e a roso. Hoje, um dos objetivos dos cientistas é produzir
soja entre outros. Sobre os alimentos geneticamente tomates com mais licopeno, substância naturalmen-
modificados, os transgênicos, há uma grande polê- te presente nos frutos, porém em baixa quantidade,
mica; pois de um lado encontram-se os cientistas, que é benéfica na prevenção do câncer de prósta-
alterando um determinado alimento a fim de ade- ta. Os brócolis estudam-se também aumentar o teor
quá-lo às necessidades socioeconômicas, enquanto de glucosinolato nos brócolis. Esse composto possui
propriedades metabólicas anticancerígenas e antio-
do outro estão os ambientalistas, que acreditam que
xidantes. O milho A Embrapa está desenvolvendo um
este produto não deve ser consumido, pois não se
milho com maior teor de etionina, aminoácido adi-
240 sabe ao certo o que pode ocasionar em nossa saú-
cionado à ração animal, além de reduzir o custo da
de, em longo prazo.
ração à base de milho, a mudança proporcionará
Vamos pensar numa hipótese bem prática,
melhoria nutricional na dieta da população brasilei-
imagine que exista uma laranja bem graúda, cuja
ra. (VILLARI 2003)
produção seja rápida e grande, mas o sabor extre-
Vantagens dos alimentos enriquecidos pela en-
mamente ácido. Este seria um fruto bonito, do qual
genharia genética.
se produziria muito suco, mas que não seria aceito
O alimento pode ser enriquecido com um com-
pelo mercado devido à sua acidez. Já outra laranja
ponente nutricional essencial. Um feijão genetica-
é extremamente doce, pequena e de baixa produti-
mente modificado por inserção de gene da casta-
vidade. Graças à manipulação genética, podem-se
nha do Pará passa produzir metionina, um aminoá-
isolar os genes responsáveis pela característica doce cido essencial para a vida. O alimento pode ter a
da segunda laranja, e insere-se este material gené- função de prevenir, reduzir ou evitar riscos de doen-
tico no cromossomo da primeira. O resultado é uma ças, através de plantas geneticamente modificadas
laranja doce, graúda, com muita polpa e de fácil para produzir vacinas, ou iogurtes fermentados com
produção. microrganismos geneticamente modificados que es-
Alimentos que podem ser enriquecidos pela en- timulem o sistema imunológico.
genharia genética. As plantas podem resistir ao ataque de insetos,
Muitos alimentos podem ser modificados pela da seca ou geada, garantindo estabilidade dos pre-
engenharia genética como a Colza, milho doce, ar- ços e custos de produção. Um microrganismo ge-
roz e tomate são apenas alguns exemplos dos mui- neticamente modificado produz enzimas usadas na
tos produtos alimentares que foram já geneticamen- fabricação de queijos e pães o que reduz o preço
te modificados. Existem muitos cientistas por todo o deste ingrediente, aumentando o grau de pureza e a
mundo trabalhando no desenvolvimento de culturas especificidade do ingrediente, permitindo maior flexi-
geneticamente modificadas. Nem todas as plantas bilidade para as indústrias,
do milho, do arroz e do tomate são geneticamente Aumentando a produtividade agrícola através
modificadas sem que isso viole a lei. As culturas ge- do desenvolvimento de lavouras mais produtivas
neticamente modificadas podem encontrar-se em e menos onerosas, cuja produção agrida menos o
meio ambiente, com isso o alimento pode ser enri- a função de adequar determinado alimento às ne-
quecido com um componente nutricional essencial, cessidades do homem moderno, facilitando a sua
como por exemplo, o arroz geneticamente modifica- produção, possibilitando maior número de safras
do que produz a vitamina A. anuais, tornando-o mais resistente às pragas, enri-
Desvantagens dos alimentos enriquecidos pela quecendo-o no aspecto nutricional e trazendo be-
engenharia genética nefícios para a população, com frutos e vegetais al-
Aumento das reações alérgicas, as plantas que tamente modificados e combatendo certos tipos de
não sofreram modificação genética podem ser eli- doenças.
minadas pelo processo de seleção natural, pois, as
transgênicas possuem maior resistência às pragas e Aplicações de tecnologias relacionadas ao DNA
pesticidas, aumentando a resistência aos pesticidas a investigações científicas, determinação da pater-
e gerando maior consumo desse tipo de produto. nidade, investigação criminal e identificação de in-
Apesar de eliminar pragas prejudiciais à plantação, o divíduos.
cultivo de plantas transgênicas pode, também, ma- FORENSE DA BIOLOGIA MOLECULAR
tar populações benéficas como abelhas, minhocas e Os avanços nas tecnologias de DNA surtiram
outros animais e espécies de plantas. Pesquisadores um enorme impacto no campo da ciência forense.
e cientistas do mundo inteiro estão desenvolvendo Com uma incrível sensibilidade e um alto poder de
pesquisas sobre quais são as reais conseqüências da discriminação, a análise de DNA tem sido uma po-
utilização de alimentos geneticamente modificados derosa ferramenta para a identificação humana e
no organismo humano e no meio-ambiente. Consu- investigações criminais. Outra técnica que também
midores de países onde já ocorre a comercialização será exposta, Southern Blotting, visa a identificação
de alimentos transgênicos exigem a sua rotulagem, de uma sequência de bases especificas do DNA, que
assim como está sendo feito com os orgânicos, para foi por muito tempo aplicada tanto na detecção de
que possam ser distinguidos na hora da escolha do SNPs como de VNTRs e STRs. Alem disto, será descrita
alimento. a reação em cadeia da polimerase (PCR), um méto-
O lugar em que o gene é inserido não pode ser do laboratorial capaz de copiar milhões de vezes um
controlado completamente, causando resultados segmento do DNA, que se destaca perante outras
inesperados, pois os genes de outras partes do orga- técnicas por ser um procedimento relativamente sim-
nismo podem ser afetados. Os genes são transferidos ples e fácil de realizar em laboratório, gerando resul- 241
entre espécies que não se relacionam como genes tados precisos e satisfatórios, em um curto espaço de
de animais em vegetais, de bactérias em plantas e tempo. Por fim, serão descritos os métodos automa-
até de humanos em animais. A engenharia genética tizados que, a partir de PCR, permitem a detecção
não respeita as fronteiras da natureza (fronteiras que rápida de marcadores moleculares, a fim de facilitar
existem para proteger a singularidade de cada es- e tornar mais precisa a identificação forense.
pécie e assegurar a integridade genética das futuras As primeiras técnicas forenses de identificação
gerações. A alta proteção em áreas que plantam o humana eram convenientes apenas para análise de
mesmo tipo de cultivo, porque a invasão de pestes, DNA de evidências biológicas que contivessem cé-
doenças e ervas daninha ocorrem sempre, quan- lulas nucleadas. Atualmente, com a implementação
to maior for à variedade (genética) no sistema da do sequenciamento do DNA mitocondrial, essa limi-
agricultura, mais este sistema estará adaptado para tação tem sido superada. Se antes, impressões digi-
enfrentar esses tipos de doenças, até mudanças cli- tais e outras pistas eram usadas para desvendar cri-
máticas que podem acabar afetando algumas va- mes; hoje, são inúmeros os espécimes biológicos dos
riedades. quais o DNA pode ser extraído. Podemos encontrá-lo
Organismos antes cultivados para serem usados em pequenas amostras de sangue, ossos, sêmen, ca-
na alimentação estão sendo modificados para pro- belo, dentes, unhas, saliva, urina,
duzirem produtos farmacêuticos e químicos. Essas entre outros fluidos, e análises cuidadosas desse
plantas modificadas poderiam fazer uma polinização material ajudam a identificar criminosos.
cruzada com espécies semelhantes e, deste modo, As aplicações da Biologia Molecular no labora-
contaminar plantas utilizadas exclusivamente na ali- tório criminal centralizam-se, em grande parte, na
mentação. capacidade da análise do DNA em identificar um
Os alimentos transgênicos poderiam aumentar indivíduo a partir de cabelos, manchas de sangue
as alergias, sendo que muitas pessoas são alérgicas e fluidos corporais, entre outros itens recuperados no
a determinados alimentos, diante das proteínas que local do crime. Essas técnicas são conhecidas como
elas produzem. datiloscopia genética, embora o termo mais precise
Concluímos que, o aprimoramento genético tem e utilizado para designá-las seja perfil de DNA.
Sendo assim, entende-se que, existem quatro O sucesso da tipagem de DNA depende basica-
grandes vantagens que devem ser citadas sobre a mente da qualidade e quantidade de DNA extraído
tipagem molecular do DNA: a primeira e de maior im- das diversas fontes. Nos exames de paternidade, o
portância é, sem sombra de dúvida, a possibilidade DNA é geralmente extraído de amostras coletadas
de sua extração de qualquer fonte de material bioló- em condições ideais. Já na determinação de iden-
gico, a segunda é que o DNA possui um alto poten- tidade, o material obtido nem sempre está em boas
cial discriminatório, a terceira é a alta estabilidade condições. Às vezes há pouco DNA, ou este está
química mesmo após um longo período de tempo, contaminado ou degradado. Nesses casos a extra-
estando presente em todas as células nucleadas do ção de DNA adequado para a análise talvez seja
organismo humano, e a quarta vantagem do DNA, a etapa mais importante do processo. São também
reside na possibilidade de separá-lo da célula esper-
analisados polimorfismos presentes no DNA mitocon-
mática, de qualquer outro DNA celular.
drial e no cromossomo.
Atualmente a identificação humana forense por
Além dos cuidados que devem ser tomados com
análise do DNA já é aceita em processos judiciais em
todas as evidências criminais e civis, nos casos que
todo o mundo, sendo possível inclusive à www.dere-
choycambiosocial.com │ ISSN: 2224-4131 │ Depósito envolvem análises de DNA, deve-se ter atenção em
legal: 2005-5822 4 identificação de pessoas mortas há relação à contaminação das evidências criminais
centenas de anos, utilizando DNA obtido de ossos ou que contenham material genético. Por isso é impor-
dentes. tante o uso de luvas descartáveis, máscaras e gorros
Assim disposto, entende-se que a genotipagem cirúrgicos quando for fazer a coleta, manuseio e pro-
forense se presta, no núcleo principal de sua finali- cessamento das evidências.
dade, a estabelecer os correspondentes vínculos ge- Os exercícios propostos para laboratórios que
néticos entre amostras-questionadas, vestígios de ori- realizam caracterização de vínculo genético nor-
gem biológica desconhecida, e amostras-referência, malmente são constituídos de amostras biológicas
de origem biológica conhecida, concluindo-se pela de mãe, filho e suposto pai, com o intuito de com-
determinação da origem individual de cada vestígio parar as estratégias utilizadas, seus protocolos meto-
e, a partir desse ponto e mesmo coligado a outros dológicos, assim como os resultados obtidos entre os
meios de prova, eventualmente reconstruir parcial ou participantes.
242 totalmente a dinâmica do ato criminoso. Tendo em vista assegurar uma geração de da-
Aspectos Gerais da Análise do DNA Forense dos corretos e tecnologias adequadas, um apropria-
O exame de DNA foi apontado como a maior re- do programa de controle de qualidade é essencial
volução científica na esfera forense, desde o uso e
para todos os laboratórios de análises clínicas que
reconhecimento das impressões digitais como uma
realizam identificação humana pelo DNA.
característica pessoal, onde as técnicas de identifi-
Metodologia Aplicada à Identificação Humana:
cação fundamentadas na análise direta do ácido
desoxirribonucleico ostentam pelo menos duas van- A análise do DNA em caracterização de vínculo
tagens sobre os métodos convencionais de identifi- genético engloba desde o domínio da metodologia
cação: a estabilidade química do DNA, mesmo após de coleta do material biológico até a interpretação
longo período de tempo, e a sua ocorrência em to- dos resultados obtidos.
das as células nucleadas do organismo humano, o Cada metodologia possui sua particularidade e
que permite condenar ou absolver um suspeito com cuidados inerentes à técnica que podem favorecer
vestígios encontrados na cena de um crime. vantagens e desvantagens, de acordo com o obje-
Segundo Jobim (2006), o estudo do DNA possibi- tivo almejado. A análise do DNA compreende diver-
litou obter informações sobre a individualidade hu- sas etapas, independente da metodologia a ser em-
mana, iluminando a ciência da investigação e da pregada e do tipo de amostra que será analisada.
identificação em casos criminais. Uma mudança to- O processo envolvendo a biologia molecular na
tal na tecnologia aconteceu a seguir, pois o estudo forense inclui:
do polimorfismo do DNA substituiu, em curto espaço 1) coleta de amostras;
de tempo, as análises sorológicas dos polimorfismos 2) extração, purificação e quantificação do DNA
de proteínas e grupos sanguíneos, até então, usados de todas as amostras;
exclusivamente na área forense. Para o autor as téc- 3) análise dos loci;
nicas de amplificação do DNA pela PCR na última
4) visualização dos fragmentos e caracterização
década tiveram um enorme progresso. Foram tam-
(com o uso da Eletroforese);
bém desenvolvidos novos métodos de extração do
5) interpretação e análise comparativa dos resul-
DNA do sangue periférico, tecidos, ossos, cabelos,
tados20
manchas de sangue, material vaginal, entre outros.
Coleta de Amostras para Análise Forense cias celulares antes de ser examinado. Proteínas ce-
A coleta de amostras para o exame de DNA lulares, contaminações químicas e microbiológicas
deve ser realizada logo após a identificação possível diminuem o poder discriminatório das análises utili-
pelos médicos-legistas, odonto-legistas e papilosco- zando o DNA.
pistas, mesmo quando esta identificação for positi- A escolha do uso de diferentes métodos de extra-
va, pois pode ser necessário um futuro confronto ge- ção de DNA está relacionada ao tipo de material en-
nético para elucidação de dúvidas com relação à volvido e influencia diretamente o sucesso da análise
identidade do indivíduo e troca de corpos. dos STRs. A maioria dos procedimentos de extração
A escolha do tipo de amostra a ser coletada de- de DNA compreende a lise celular, seguida da remo-
pende da conservação da amostra, onde os dentes ção das proteínas celulares precipitadas e por fim a
e ossos são os materiais que se preservam por mais precipitação do DNA com sua final eleição.
tempo, mesmo quando submetidos a diferentes fa- A extração orgânica, que é o método mais tra-
tores de degradação. dicional na genética forense, o qual consiste na re-
A coleta e os métodos de preservação das pro- moção dos resíduos de proteínas do DNA através da
vas coletadas na cena do crime têm um grande im- combinação de dois solventes orgânicos diferentes:
pacto no tribunal. Do ponto de vista técnico e cri- Fenol e Clorofórmio. Esse método como qualquer
minalista, o DNA pode ser coletado da maioria dos outro, possui suas indicações, vantagens e desvan-
espécimes biológicos, pois é uma molécula estável tagens. Entre as principais vantagens temos: o baixo
em ambiente seco e frio. custo e um alto grau de pureza do DNA a ser investi-
Se armazenado em tais condições, tem grandes gado. As desvantagens são: demora em sua execu-
chances de resultados confiáveis. Em geral, uma ção e é um método altamente tóxico.
quantidade significativa de material deve ser co- A técnica mais amplamente empregada envol-
letada para garantir a extração de DNA suficiente ve, em sua primeira fase, a lise celular, seguida de
desnaturação ou inativação de proteínas, com a
para os testes. No entanto, é importante preservar a
utilização de proteinase K. Com solventes orgânicos
coleta de sujeira adicional, gorduras, fluidos e outros
o DNA é posteriormente separado de macromolécu-
materiais que possam afetar o processo de tipagem
las, como as proteínas através de solubilização em
de DNA.
água, e em seguida precipitado com etanol. Outras
O material biológico recuperado na cena do 243
metodologias com o mesmo princípio, inclusive kits
crime pode sofrer alterações ambientais (luz, altas
comerciais, podem ser utilizadas para cada tipo de
temperaturas, reativos químicos, etc.) que poderão
amostra biológica.
ocasionar quebras e alterações da cadeia de nu-
A quantidade, a pureza e a integridade do DNA
cleotídeos e, como consequência, modificar a com-
dependem de vários fatores como condições da
posição e a estrutura normal do DNA, impossibilitan-
amostra e da conservação, sendo necessário utilizar
do a análise.
critérios para escolha de metodologia de extração
O armazenamento do material biológico úmido
para cada tipo de amostra.
em sacos plásticos deve ser de no máximo 2 horas A resina magnética é outro método de extração
ou, quando possível, permitir que seque antes do de DNA muito utilizado na genética forense, sendo
acondicionamento final. Cada tipo de amostra de as mais utilizadas a DNA IQTM, da Promega e a Char-
material biológico (sangue, saliva, osso, dente, etc.) geSwitcha®, da Invitrogen. Em ambos os casos, Uma
deve ter sua coleta e disposição individualmente resina paramagnética é usada para capturar uma
descrita. A degradação do DNA de amostras bio- quantidade consistente Depósito legal DNA.
lógicas, utilizadas em investigação criminal, pode
ocorrer decorrente de um processo natural de expo- DNA E A BIOÉTICA
sição ao meio-ambiente. Na atualidade, em virtude dos numerosos avan-
Extração de DNA Forense ços tecnológicos, principalmente no campo da bio-
O DNA pode ser extraído de amostras de sangue, medicina, discute-se muito acerca da bioética e bio-
de esfregaços bucais, de saliva, de osso, de dente, direito em conexão com a biossegurança. A principal
de tecidos e órgãos, de fios de cabelos, de sêmen, barreira das pesquisas na área da biologia molecular,
entre outros materiais biológicos. é justamente a ética. Os avanços científicos trarão
A quantidade, a pureza e a integridade do DNA grandes e promissoras realizações que a molécula
dependem de vários fatores, podendo ser influen- de DNA virá a oferecer, dentre elas, os transplantes
ciados pelas metodologias aplicadas para sua ex- de órgãos, tratamento e diagnóstico de diversas pa-
tração. Após a coleta do material biológico, o DNA tologias, modernização do próprio aparelho policial
da amostra deverá ser separado de outras substân- no combate à criminalidade, Projeto Genoma. Entre-
tanto, é preciso destacar a ética, que tem como ob- Teste de Paternidade
jetivo, criar regras possibilitando o melhor uso dessas Cada indivíduo tem o direito de conhecer sua
tecnologias. Estas regras não possuem coerção e é própria biogênese. Investigar a sua origem biológica
assim que surge o biodireito, buscando normatizar e é um interesse de cada pessoa. Na atualidade, o tes-
regular a Medicina e a Biologia, como forma de ope- te de paternidade, vem sendo muito utilizado para
racionalizar e melhor responder às questões que tanto subsidiar a Justiça da Família, mas o suspeito pai não
causam perplexidades à nossa sociedade. é obrigado e nem pode ser compelido a se submeter
A genética a serviço da Lei tem demonstrado mui- a exame de sangue para testes de vinculação ge-
ta precisão e otimismo. nética de paternidade. Não existe no ordenamento
O DNA é eficiente e inigualável na identificação jurídico brasileiro qualquer norma que obrigue o réu
criminal, onde a partir de pequenas amostras orgâni- em uma ação de investigação de paternidade ou
cas, (sangue, fio de cabelo, sêmen, saliva, pele, fezes), maternidade, a submeter-se ao exame pericial so-
coletados no local do crime ou mesmo na vítima, po- licitado. Todavia, há entendimentos outros de que,
de-se identificar o autor pela comparação genética a recusa do investigado em submeter-se ao exame,
entre o material obtido na cena criminal e o material resulte na presunção da veracidade dos fatos que se
padrão coletado do suspeito. Porém, a credibilidade alegam. Este fato vem sendo polêmico, pois a ques-
desses exames depende de normas rígidas que co- tão é saber qual o direito que se deve preponderar
meçam desde a coleta de evidências até a capaci- nas demandas de verificação da paternidade: o da
tação daquele que colocará a assinatura no laudo criança (a sua identidade) ou a do indigitado pai, (a
correspondente. Com isso, seria possível condenar um sua intangibilidade física). Nesta situação, o juiz nem
criminoso, auxiliando o trabalho policial, como tam- sempre dispõe de elementos de conteúdo probante
bém absolver um inocente. O único problema, é que absoluto e dado seu direito discricionário no proces-
para se identificar criminosos, é preciso ter suspeitos, so, termina optando por indícios e presunções, o que
pois caso contrário, não há como comparar o DNA lamentavelmente pode resultar em equívocos.
do verdadeiro autor, com o obtido na cena criminal. Outro aspecto a ser destacado, é a grande fama
Esta realidade poderia ser modificada se houvessem de infalibilidade do referido exame, pois este tam-
na polícia, DNAs arquivados de todas as pessoas exis- bém pode apresentar erros. É perigoso considerar o
tentes ou pelo menos o material genético de presidiá- teste de paternidade como uma prova infalível e ab-
244 rios como ocorre em alguns países. Nos Estados Uni- soluta, formando assim o julgador prisioneiro de seus
dos, todos os condenados são obrigados a ceder seu resultados. É preciso que os laboratórios sejam sub-
DNA à Justiça, facilitando identificar um assassino que metidos a controle de qualidade periódica, porque
já passou pela cadeia e tenha reincidido o crime. In- devido à rápida popularização do teste de paterni-
felizmente, este arquivo de DNAs é inexistente no Brasil dade, alguns laboratórios passaram a desenvolver
por causa da legislação, que diz que o réu não é obri- suas próprias técnicas de diagnóstico com a finalida-
gado a fornecer provas contra si mesmo. de de simplificar e baratear o exame. E ainda pode
Além disso, já existe um sistema de origem france- haver a má identificação de amostras de sangue ou
sa que permite pesquisas automatizadas de fichas cri- mesmo possíveis trocas destas amostras. Verificamos
minais, impressões digitais e consulta de banco de da- então, a enorme importância da bioética nestas si-
dos de DNA em tempo real. Este sistema, denominado tuações.
Automated Fingerprints Identification ou simplesmente Apesar do exame de DNA em si, ser considerado
AFIS, fará parte da modernização da Policia Federal. incontestável, por causa de sua probabilidade 100%
Já é utilizado pelas Policias Federais da França, Norue- de apontar o verdadeiro pai ou mãe de uma crian-
ga, Alemanha e aqui no Brasil pela Polícia Civil ape- ça, vale lembrar que hoje, Centros se oferecem para
nas nos estados do Ceará e Rio de Janeiro. Entretanto, realizar o teste de investigação de paternidade, por
aqui, por não ser um padrão nacional, o sistema não vezes sem devida habilitação, sem utilizar técnicas
se comunica com a Polícia Federal e nem com a Po- seguras e tão pouco a ética. Com esta realidade,
lícia Civil de outros estados, obrigando os investigado- temos a banalização do método e a consequente
res a recorrerem à remota pesquisa manual. imprecisão dos resultados.
Outras aplicações da Biologia Molecular na iden- Transgênicos
tificação humana através da análise direta do DNA Animais e plantas podem ser geneticamente mo-
resultam na identificação de cadáveres carbonizados dificados com a introdução de genes de organismos
ou em decomposição, além de corpos mutilados no de outras espécies que não a sua, objetivando que o
caso de algum grave acidente, favorecendo a locali- gene manipulado se expresse no ser em que foi colo-
zação breve das vítimas como também diminuindo o cado. Esta manipulação genética possibilita a produ-
número de indigentes. ção de hormônios, insulina e outras substanciam raras
e caras, por animais e microrganismos, para serem nados para fins farmacêuticos ou para a salvação
utilizadas no tratamento de patologias, bem como a daquelas espécies que estejam em perigo de extin-
“humanização” de animais para transplantes de ór- ção. Neste cenário, a botânica acadêmica se revitali-
gãos em seres humanos. É importante ressaltar, que zaria e se destacaria de prestígio invejável.
estes animais transgênicos são de grande utilidade No reino animal, a clonagem foi tema de destaque
na medicina moderna, todavia deve-se respeitá-los em 1997 com o nascimento da ovelha Dolly, por obra
afim de que não sejam manipulados com a finalida- de cientistas escoceses e este fato marcante originou
de de servirem como diversão para cientistas. uma suposta possibilidade de aplicar a técnica à re-
A prática da transgenicidade foi realizada pela produção humana, gerando sérios problemas éticos.
primeira vez em uma planta, no ano de 1983. Hoje, Isso porque permanecem de pé muitas dúvidas e per-
através dessa técnica, há possibilidade de criar plan- plexidades acerca de vários aspectos da experimen-
tas resistentes aos herbicidas, amadurecimento retar- tação, pois para se atingir o resultando de um ser clo-
dado de frutos, alteração da qualidade nutricional nado perfeito, inúmero seres mutantes serão juntamen-
ou sabor de um vegetal, fabricação de plantas inseti- te originados. Por exemplo, no caso da ovelha Dolly,
cidas, aumento da produção de substancias útil, pro- foram necessárias 277 fusões ovócitonúcleo de doador
dução de plantas ornamentais exóticas, de plantas onde apenas 8 dessas 277 fusões iniciaram o desenvol-
biorreatoras e até mesmo a busca de um caminho vimento embrionário e somente um destes 8 embriões,
que elimine a necessidade de adubo. conseguiu chegar ao nascimento. Se o experimento
A engenharia genética acaba por eliminar as tivesse sido realizado em humanos, qual seria o destino
fronteiras entre espécies ao possibilitar que qualquer de embriões mal formados? Seriam simplesmente des-
ser vivo adquira novas características ou de vegetais, cartados? Ou isso seria crime? O que fazer com eles
ou de animais, ou até mesmo humanas. Este avan- então? Além disso, com a existência de clones huma-
ço poderá ter como consequência, inúmeras altera- nos, o que seria da biodiversidade de nossa espécie?
ções na vida biológica, social, política e econômica A extensão da clonagem ao homem já fez ima-
em âmbito mundial. Um resultado espantoso poderá ginar hipóteses inspiradas pelo desejo de um poder
absoluto como a replicação de indivíduos dotados
ser o processo de seleção onde as sementes trans-
de genialidade e beleza excepcional, reprodução da
gênicas eliminem as naturais e por via polinização,
imagem de um familiar defunto, seleção de indivíduos
se misturem aos vegetais naturais gerando espécies
sadios e imunes a doenças genéticas, possibilidade 245
estéreis e enfraquecidas, causando um grande de-
de escolha do sexo. O resultado, é a inserção da clo-
sastre ecológico.
nagem humana no projeto de eugenismo e, portanto
Outro fator assustador foi a vantagem econômica
está sujeita a todas as observações éticas e jurídicas
que empresas estabeleceram através da venda de
que a condenam amplamente.
vegetais bioengenheirados destacando que seriam
Já a extensão da clonagem, sugerindo a produ-
destinados à alimentação, fabricação de sementes
ção de embriões previamente selecionados e criocon-
transgênicas, fertilizantes e pesticidas, assegurando
servados a fim de serem utilizados para a reprodução
aperfeiçoar, aumentar a produtividade agrícola e
de órgãos humanos em laboratório, talvez seja uma
assim combater a fome. Porém, sob o capitalismo, grande solução para escassez desses órgãos em trans-
a fome é muito mais uma questão política do que plantes, mas no Brasil, a Lei 8.974/95, proíbe em seu ar-
agrícola, principalmente quando se fala no Brasil, um tigo 8º:
país repleto de terras férteis e clima propício, capaz II – a manipulação genética de células germinais
de gerar intermináveis colheitas e onde ao mesmo humanas
tempo, o problema mostra-se impossível de ser de- III – a intervenção em material genético humano in
belado. vivo , exceto para o tratamento de defeitos genéticos,
Clonagem e Reprodução Humana respeitando-se princípios éticos, tais como o princípio
Na atualidade, a modernização de técnicas da de autonomia e o princípio de beneficência, e em
biologia molecular, permitiu também a utilização do aprovação prévia da CTNbio
DNA a fim de se obter clones tanto vegetais como IV – a produção e armazenamento ou manipula-
animais. Entretanto, a clonagem vem sendo o princi- ção de embriões humanos destinados a serviço como
pal alvo de discussão quando se coloca em questão material biológico disponível
a bioética, especialmente se estendermos a hipótese
de que tal experimentação possa vir a ser aplicada Projeto Genoma Humano
na espécie humana. Este projeto que se iniciou oficialmente em 1990,
No reino vegetal, a clonagem pode vir a ter uma consiste no mapeamento da sequência do DNA, bus-
certa importância se utilizada como incentivo à mul- cando selecionar um modelo genético humano e
tiplicação de certos exemplares de vegetais selecio- possui um enorme potencial para o progresso científi-
co e médico. Através dele, é possível obter genes re- manipulação do código genético, agora lido pelo
lacionados a certos tipos de doenças até então incu- projeto genoma. As pessoas se preocupariam então,
ráveis como o câncer, diabetes e Mal de Parkinson, com a introdução de genes para inteligência, bele-
por exemplo, como também adquirir conhecimentos za, força física, etc. Nos dias atuais, uma família de
sobre fatores ambientais e genéticos presentes na classe média, beneficia seus filhos pagando cursos,
predisposição e a resistência às patologias, a deno- universidade, entre outras coisas e com a Eugênia,
minada epidemiologia genética. A Terapia Gênica, estas famílias beneficiariam seus filhos introduzindo
um tratamento que substitui um gene defeituoso por neles, estes genes vantajosos. A minoria populacional
um gene normal, possui uma dificuldade: descobrir teria condições de fornecer esta vantagem genética
como introduzir a cópia correta no genoma da pes- a filhos e parentes, pois se tratam de técnicas caras,
soa. Com a descoberta do genoma humano, este mas a maioria da população seria aquela a qual não
problema estará resolvido, pois teremos o mapa ge- evoluiria, pois estariam em desvantagem de genes.
nético humano em mãos, possibilitando a manipula- E o fator mais preocupante deste quadro é que, de
ção dos genes com precisão. acordo com as leis da evolução, a mutação no ge-
O projeto genoma humano tem suscitado análi- noma de um ser, fornece variedade de indivíduos.
ses éticas, legais, sociais e humanas que tem ido mais Nesta variedade, o meio ambiente seleciona. Os
além da investigação científica. Segundo a UNESCO, mais adaptados sobrevivem e os menos adaptados
o genoma humano é propriedade inalienável de (a população desprovida de recursos para adquirir
toda a pessoa e por sua vez um componente fun- genes vantajosos), entram em extinção.
damental para toda a humanidade. Dessa maneira
ele deve ser respeitado e protegido como caracte- Aspectos éticos relacionados ao desenvolvimen-
rística individual e específica, como um “patrimônio to biotecnológico.
da humanidade”, porque todas as pessoas são iguais Trangênicos ou organismos geneticamente mo-
no que se refere a seus genes. Entretanto, o projeto dificados, (OGM-T) são seres vivos cuja estrutura ge-
genoma humano, deve esclarecer em benefício à nética - à parte da célula onde está armazenado o
medicina, apenas o genoma numa dimensão geral, código da vida, o DNA - foi modificado pelo homem
isto é, a característica de todos àqueles que perten-
através de engenharia genética, de modo a atribuir
cem à espécie humana. Quanto às características
a esses seres uma determinada característica não
246 individuais, essas são realmente um patrimônio gené-
programada por natureza.
tico, sendo evidente que sobre este, é preciso aplicar
Os argumentos utilizados em defesa da liberação
uma proteção jurídica fundamental porque perten-
dos produtos trangênicos estão ancorados em ques-
ce sim individualmente a cada ser humano. E se ao
tões de ordem econômica e tecnológica, vinculados
acaso, o enfermo necessitar que sua parte do geno-
aos progressos e à necessidade da ciência avançar,
ma individual seja revelada, caberá aos médicos e
não várias vezes tangenciando a crítica a um possí-
outros profissionais da saúde, manter sigilo absoluto
vel obscurantismo da parte de quem, contrariamen-
da informação.
te, coloque-se contra a liberação de tais produtos.
Sabe-se que as informações advindas do proje-
Os fatos que restringem à liberação dos produ-
to genoma, devem servir para melhorar a saúde em
casos como antecipação do processo terapêutico tos trangênicos, surgiram contrariedades com a nova
no tratamento de uma doença, entretanto é preci- tecnologia. Inicialmente restrita aos movimentos am-
so prevenir aspectos prejudiciais que eventualmente bientalistas, na medida em que repercutem, nas so-
poderão. ciedades, comentários contrários à inovação e que
Será que o conhecimento do material genético os governos mais e mais discutem o tema e criam
de uma pessoa não permitirá sua exclusão social ou controles sobre o mesmo. Os principais argumentos
econômica? Empresas seguradoras de saúde pode- contrários a esses produtos estão relacionados aos
riam, por exemplo, utilizar o mapeamento genético temores quanto à sua prejudicialidade à saúde hu-
para alterar os valores dos serviços ou excluir clientes mana, animal e ao meio ambiente, argumentos es-
que demonstrassem grande propensão a determina- tes que estão amplamente discutidos no decorrer do
das patologias. O mapeamento genético individual, presente trabalho.
poderia se tornar uma fonte de estigmatização e O código de defesa do consumidor brasileiro ga-
discriminação social, onde a população portado- rante o direito do consumidor em ser informado a res-
ra de anomalias genéticas poderia ser considerada peito da existência de componentes geneticamen-
“defeituosa” enquanto que, pessoas com menor te modificados nos gêneros alimentícios, tenham ou
quantidade ou nenhuma anomalia genética, seriam não sido embalados, já que existe conclusão cien-
consideradas seres dignos de respeito. Essa conse- tífica definida a respeito dos riscos que os alimentos
quência denomina-se Eugênia, que surgiria com a trangênicos possam apresentar à saúde.
No dia 24 de abril de 2004, o Presidente Luis Iná- tes dessa multiplicação. Consideram-se ainda os seg-
cio Lula da Silva assinou a instrução Normativa nº mentos de ADN/ARN sintéticos equivalentes aos ADN/
01 de 01/04/2004 da Casa Civil, Decreto 4.680 de ARN natural; IV Organismo geneticamente modifica-
24/04/2003, e a Portaria MJ 2.658 22/12/2003. O referi- do é aquele cujo material genético (ADN/ARN) tenha
do decreto visa regulamentar o direito à informação sido modificado por qualquer técnica de engenharia
do consumidor, assegurado pelo Código de Defesa genética; Engenharia genética - atividade de mani-
do Consumidor, Lei nº 8078/1990, no que tange aos pulação de moléculas ADN/ARN recombinante.
alimentos e ingredientes alimentares destinado ao Os OGMS (organismos geneticamente modifica-
consumo com mais de 1% de transgenia, devendo do) foram introduzidos ao meio ambiente no século
existir nos respectivos rótulos um “destaque” em re- passado, nesta época melhoristas de plantas e ani-
lação aos dados de alimentos trangênicos, a fim de mais utilizavam-se dos recursos genéticos de espé-
que os consumidores possam optar em adquirir pro- cies, cultivares e raças locais em programas de me-
dutos “geneticamente modificados”. lhoramentos de plantas3, os produtos advindos desse
Pelo exposto a presente pesquisa tem o objetivo processo apresentavam resistência a doenças, pra-
de analisar a referida instrução e a sua aplicabilidade gas ou estresse, balanço nutricional, forma e forma-
junto ao Código de Defesa do Consumidor. to dos frutos bem como a sua qualidade nutricional,
portanto não apresentava riscos para a humanidade.
2 TRANGÊNICOS: ASPECTOS GERAIS Hoje um estudo realizado pela ESA (Sociedade
O assunto embora seja atual e muito discutido em Ecológica Americana) com o objetivo de avaliar os
todos os aspectos seja, econômico, jurídico, social ou riscos ecológicos que trazem os OGMS – Organismos
ambiental, envolve um certo grau de conhecimento Geneticamente Modificados, detectou alguns aspe-
de física, genética e biotecnologia, para tanto bus- tos preocupantes ao meio ambiente e a biodiversida-
cando um melhor entendimento e assimilação das de das novas
informações que ora se terá no decorrer do presente biotecnologias, entre elas, estão as origens de
novas plantas daninhas, amplificações dos efeitos de
estudo faz-se necessário disponibilizar, primeiramen-
plantas daninhas existentes, danos a espécies não
te, os conceitos de alimentos trangênicos, mostrando
alvo, perturbação de comunidades bióticas, feitos
as terminologias para um conseqüente domínio do
adversos em processos dos ecossistemas e desperdí-
tema.
cio de valiosos recursos biológicos4. 247
Um organismo é denominado trangênico quando
Vive-se uma revolução tecnológica, na qual re-
é misturado a ele gene de outras espécies, processo
gras são alteradas profundamente, gerando diver-
este que modifica o produto, atribuindo outras carac-
sas reações, mesmo que as pesquisas e experiências
terísticas a ele. O referido processo é muito utilizado
científicas visam o aprimoramento das condições de
na agricultura, com a finalidade de produzir alimentos
vida do homem na terra, a engenharia genética,
fortes, os quais resultam aos insumos, ao fenômeno da
mexe com paradigmas estabelecidos, e este proces-
natureza e também ao enriquecimento nutricional.
so causa conflitos divide opiniões e é discutido por to-
O alimento trangênico pode ser criado através dos os segmentos, cada um com um interesse distinto,
da junção de fragmentos de DNAs de espécies dife- para o ordenamento jurídico cabe tentar solucionar
rentes aos quais formam um novo fragmento que é as ações judiciais.
introduzido na planta com a função de transforma-la. Questões como, segurança dos alimentos gene-
Outra técnica consiste na colocação de DNAs direta- ticamente modificados, seus riscos e benefícios, têm
mente na planta, ao qual, gerará uma nova planta. causado muitas discussões “nos meios científicos, no
segmento industrial, nos movimentos sociais e ecoló-
De acordo com a Lei 8.964/1995: gicos, nos fóruns internacionais, nos tribunais, na im-
“OGM - Definição legal: I organismo- Toda entida- prensa, e, aos poucos, junto à população, que não
de biológica capaz de reproduzir e/ou de transferir tem, entretanto, a verdadeira dimensão de o quanto
material genético, incluindo vírus, prions e outras clas- os produtos transgênicos (aqueles que tiveram sua
ses que venham a ser conhecidas; II – ácido desoxir- estrutura genética alterada, ganhando novas carac-
ribonucléico (ADN) ácido ribonucléico (ARN) – mate- terísticas através da utilização de genes de outros or-
rial genético que contém informações determinantes ganismos) já fazem farte de seu cotidiano”5.
dos caracteres hereditários transmissíveis à descen- Estes motivos faz com que se gere uma gama de
dência; III – moléculas de ADN/ARN recombinante – discussão no âmbito jurídico e muita dificuldade para
aquelas manipuladas fora das células vivas, median- uma regulamentação satisfatória e legal que aten-
te a modificação de segmentos de ADN/ARN natural da, o consumidor, o fornecedor, o meio ambiente,
ou sintético que possam multiplicar-se em uma célula pesquisador e todos os outros envolvidos nesta gran-
viva, ou ainda, as molécuilas de ADN/ARN resultan- de batalha.
Lei nº 9.605/98 - Lei dos Crimes Ambientais O decreto visa que a rotulagem deve ser trata-
Resolução CONAMA nº 01/86 da sob a ótica da proteção e defesa do consumidor,
Resolução CONAMA nº 237/97 principalmente no fornecimento de informações so-
Lei nº 9.279/96 - Lei de Patentes bre os produtos colocados no mercado.
Lei nº 9.456/97 - Lei de Proteção de Cultivares O Juiz Newton de Lucca versa que:
Fonte: Idec “a discussão sobre a necessidade ou não de
constar na embalagem do produto a informação
Devido ao tema da pesquisa, apresentou-se o rol de que se trata de grão Geneticamente Modifica-
da legislação existente, a fim de ressaltar o aparato do passa a ser um problema próprio do Código de
legal acerca dos trangênicos, porém para se obter defesa do Consumidor e quer me parecer, no caso,
a resposta do problema desta pesquisa e atingir os que ela é facilmente resolúvel, diante do incontro-
objetivos propostos o próximo capítulo limita-se ape- verso direito do consumidor de ter a mais ampla in-
nas a análise do Código de defesa do Consumidor e formação sobre o produto ou serviço que adquire”
do Decreto no. 4.680 de 24/04/2003, cujo estudo é a O direito de cada um decidir se vai ou não con-
base deste artigo. sumir alimentos trangênicos, mesmo que a separa-
ção das cadeias produtivas tenha um custo, o direi-
3 TRANGENICO: DIREITO A INFORMAÇÃO COM to de escolha
BASE NA AUTOAPLICABILIDADE DO DECRETO No. De acordo com Almeida:
4.680 de 24/04/2003 “Conquanto seja um direito básico do consumi-
Existem aspectos positivos, mas, também muitos dor, e uma decorrência do princípio da transparên-
negativos, dos produtos trangênicos, o que acentua cia, a informação ao consumidor assume posição
as discussões e dificulta o aspecto jurídico, gerando relevante para instrumentalizar sua defesa. É obriga-
uma infinidade de dúvidas jurídicas . ção do fornecedor informar ao consumidor todos os
Em relação a informação existem ações que de- dados acerca dos produtos e serviços, como quan-
fendem o cumprimento da Lei Brasileira, principal- tidade, riscos, características, composição, data de
mente no que tange ao direito do consumidor e a validade, qualidade e preço, para que o consumi-
legislação do meio-ambiente, visando a sua segu- dor possa exercer livre e conscientemente a sua es-
rança. colha·” 249
Por isso em 25/03/1997, foi protocolado junto a Com o crescimento das discussões sobre a in-
Assembléia o projeto de lei 2.905 que visa o estabe- trodução dos produtos trangênicos observa-se uma
lecimento de regras para a comercialização de ali- grande tendência de se distinguir os alimentos ge-
mentos geneticamente modificados e cria a obriga- neticamente modificados daqueles que não são por
toriedade de que sejam rotulados. meio da rotulagem, sendo este processo o mais efi-
Muitas idéias controvertidas como, por exemplo, caz para se obter a informação de que o alimento é
a de que a falta de comprovação cientifica de dano ou não trangênico.
a saúde não autoriza a comercialização do produto Com isso o Decreto 4.680/03 de 24/04/03 entra em
como se fosse inofensivo. Surgiram nestas discussões, vigor e revoga o Decreto no. 3.871 de 18/06/2001, no
porém alguns pensamentos, os quais defendiam que referido Decreto está contido que todos os produtos
o direito do consumidor a informação era uma ques- com mais de 1% de materiais geneticamente modifi-
tão de oportunizar a ele o direito de escolha. cado deve estar impresso no rotulo esta informação
“O decreto 3.871 dispôs, dentre outras coisas, so- e o símbolo T para caracterizar os trangênicos. O re-
bre a criação de uma comissão interministerial sobre ferido Decreto vai de encontro com o art. 4o. caput
a rotulagem de alimentos que contenham OGM em- 6o. III e 31 do Código de defesa do Consumidor em
balados para consumo humano. que diz:
Porém no mesmo Decreto 3871 foi definido “A Política Nacional das Relações de Consumo
que seria rotulados apenas os alimentos trangê- tem por objetivo o atendimento das necessidades
nicos e não os seus derivados, esta medida foi ado- dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saú-
tada por causa do alto custo que teria a rotulagem de e segurança, a proteção de seus interesses eco-
destes produtos, uma vez que deveria ser levantado nômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
junto aos OGMS o percentual de trangênico desde o como a transparência e harmonia das relações de
momento do plantio até as prateleiras dos supermer- consumo” e o princípio III reza: harmonização dos
cados e fixou as regras para rotulagem de alimentos interesses dos participantes das relações de consu-
que contenham mais de 4% de seu peso ou volume mo e compatibilização da proteção do consumidor
constituído por produto trangênico com a necessidade de desenvolvimento econômi-
Neste sentido o Código de defesa do Consumi- Buscando uma regulamentação do direito à in-
dor defende além da informação, e no art. 8O. – pa- formação, assegurada pela Constituição Federal e
rágrafo único estabelece “em se tratando de produ- pelo Código de Defesa do Consumidor, é que foi
to industrial, ao fabricante cabe prestar as informa- editado em 24 de abril de dois mil e três o decreto
ções a que se refere este artigo, através de impressos no. 4.680/03, sendo que no seu art. 2o. escreveu: “Na
apropriados que devam acompanhar o produção, comercialização de alimentos ou ingredientes ali-
no caso, subentende a rotulagem, o direito de esco- mentares destinado sao consumo humano ou animal
lha, a qual deve ser fornecido pelo fornecedor, pois que contenham, ou sejam produzidos a partir de or-
o consumidor não é obrigado a consumir um produ- ganismos geneticamente modificados, com presen-
to que contenha organismos geneticamente modifi- ça acima do limite de um por cento do produto, o
cados, ou seja deve ser lhe informado para que ele consumidor deverá ser informado da natureza tran-
faça a opção de consumir ou não. gênica desse produto” 13
Conforme o que versa no capitulo V, das práticas § 1o. Tanto nos produtos embalados como nos
comerciais, o art. 31 – A oferta e apresentação de vendidos a granel ou in natura, o rótulo da embala-
produtos ou serviços devem assegurar informações gem ou do recipiente em que estão contidos deverá
corretas claras, precisas constar, em destaque, no painel principal e em con-
ostensivas em língua portuguesa sobre suas ca- junto com o símbolo a ser definido mediante ato do
racterísticas, qualidades, quantidades, composições, Ministério da Justiça, uma das seguintes expressões.
preço, garantia, prazos de validade e origem, entre Dependendo do caso (nome do produto) trangê-
outros dados, bem como os riscos que apresentam à nico” contém nome do ingrediente ou ingrediente)
saúde e segurança dos consumidores. trangênico(s) ou produto produzido a partir (nome
Não se tem dúvida quanto a apresentação das do produto) trangênico”.14
informações e porque se demora tanto para regula- Art. 4o. Aos alimentos e ingredientes alimentares
mentar algo que já está previsto, o que falta é ape- que não contenham nem sejam produzidos a partir
nas estabelecer critérios. de Organismos geneticamente modificados será fa-
Quando se trata de infrações penais o Código
cultada a rotulagem “( nome do produto ou ingre-
de Defesa do Consumidor é claro em determinar no
diente) livre de trangênicos”, desde que tenham simi-
seu art. 66o.: “Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou
lares transgênicos no mercado brasileiro.
omitir informações, relevante sobre a natureza, ca- 251
Entretanto, a rotulagem não deve ser vista como
racterística, qualidade, quantidade, segurança, de-
uma medida única de segurança alimentar, pois, se-
sempenho, durabilidade, preço ou garantia de pro-
gundo acentuou o ministro, a determinação de ava-
dutos ou serviços”:
liação prévia da biossegurança dos OGM, do ponto
Pena – detenção de 3 meses a 1 ano e multa.
de vista da saúde humana, animal e do meio am-
§ 1o. Incorrerá nas mesmas penas quem patroci-
biente, continua sendo competência legal atribuída
nar a oferta.
à CTNBio.15
§ 2o. se o crime é culposo:
Ainda no mesmo decreto fica definido que a fis-
Pena – Detenção de 1 a seis meses de multa”
No que tange aos objetivos deste estudo, há de calização deve ser feita pelo Ministério da Agricultu-
se colocar em favor de que seja aplicado as penas ra, quando se tratar do processo do campo e pela
previstas no caso de omissão de informação, pois Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
entende-se que os transgênicos, Organismos geneti- que deve fiscalizar os produtos nos Supermercados.
camente Modificados, embora, tenham surgido com “O direito de informação apresenta-se como fun-
a intenção de sanar problemas, tem os seus lados damental para preservar o consumidor, pautando
negativos, e mesmo que seja provado a sua inofen- pela lealdade e veracidade, sendo o dever de infor-
sividade, ainda assim o consumidor tem o direito de mar, pedra angular da defesa do consumidor, razão
optar por consumi-lo ou não. porque o seu oposto, ou seja, a desinformação ou
Quando se trata de alterações, cuja essência é não informação, a publicidade abusiva ou engano-
a natureza, vegetal, animal ou humana, a cautela sa, constitui crime” 16
deve ser redobrada, pois esses temas dividem opi- A preocupação de informar o consumidor não se
niões, dos mais diversos segmentos e as opiniões se dá somente pelo repasse de dados sobre o produto,
divergem, e são tomadas de acordo com o conhe- mas sim para a sua segurança, pois quando se trata
cimento de cada cidadão e os padrões pré-estabe- de mudança em produtos alimentícios, em conside-
lecidos, principalmente no aspecto religioso, então ração às pessoas que às vezes, não podem consumir
além de direito a informação, ou de escolha, a ques- determinados produtos, pois os mesmos podem cau-
tão da rotulagem é também uma questão de respei- sar danos à saúde, como alergias ou qualquer outro
to a nação não só brasileira como mundial. tipo de reação.
A
complexidade da célula eucariótica de Os foraminíferos são dotados de carapaças ex-
um protozoário é tão grande, que ela - so- ternas feitas de carbonato de cálcio. As algas diato-
zinha - executa todas as funções que te- máceas possuem carapaças silicosas. 255
cidos, órgãos e sistemas realizam em um ser plurice- Os protistas podem ainda ter adaptações de
lular complexo. Locomoção, respiração, excreção, forma e estrutura de acordo com o seu modo de vi-
controle hídrico, reprodução e relacionamento com da:parasita, ou de vida livre.
o ambiente, tudo é executado por uma única célula, O citoplasma está diferenciado em duas zonas,
que conta com algumas estruturas capazes de rea- uma externa, hialina, o ectoplasma, e outra interna,
lizar alguns desses papéis específicos, como em um granular, o endoplasma. Nesta, existem vacúolos di-
organismo pluricelular. gestivos e inclusões.
Segundo a classificação dos seres vivos em cin-
co reinos (Whittaker – 1969), um deles, o dos Protistas,
agrupa organismos eucariontes, unicelulares, autó-
trofos e heterótrofos. Neste reino se colocam asalgas
inferiores: euglenófitas, pirrófitas (dinoflagelados) e
crisófitas (diatomáceas), que são protistas autótro-
fos (fotossintetizantes). Os protozoários são protistas
heterótrofos.
A célula
A célula de um protista é semelhante às células de
animais e plantas, mas há particularidades. Os plastos
das algas são diferentes dos das plantas quanto à sua
organização interna de membranas fotossintéticas.
Ocorrem cílios e flagelos para a locomoção. A
célula do protozoário tem uma membrana simples
ou reforçada por capas externas protéicas ou, ainda,
por carapaças minerais, como certas amebas (teca-
mebas).
Em geral, os cientistas consideram como critérios vamos representar a seguir todas essas fases, desde
importantes: o zigoto até a gástrula, considerando o padrão mais
• a característica da planta ser vascular ou fácil para o entendimento básico de como elas ocor-
avascular, isto é, a presença ou não de vasos condu- rem.
tores de água e sais minerais (seiva bruta) e matéria Alguns animais desenvolvem-se até um conjunto
orgânica (a seiva elaborada); de células que não chega a formar tecidos verdadei-
• ter ou não estruturas reprodutoras (semente, ros, enquanto a maioria atinge niveis de organização
fruto e flor) ou ausência delas. superiores a tecidos, tais como órgãos e sistemas. É
possivel, assim, distinguir dois grandes grupos:
Os nomes dos grupos de plantas • Parazoa (parazoário; pará = ao lado, zoa =
animal): representado pelos Porifera (esponjas), no
• Criptógama: palavra composta por cripto, qual não há a formação de tecidos verdadeiros.
que significa escondido, e gama, cujo significado • Eumetazoa (eumetazoários; eu = verdadeiros,
está relacionado a gameta (estrutura reprodutiva). metazoário = animal): representados por todos os ou-
Esta palavra significa, portanto, “planta que tem es- tros animais que possuem tecido diferenciado.
trutura reprodutiva escondida”. Ou seja, sem semen- Dentre os Eumetazoa distinguem-se dois outros
te. grupos: o dos organismos que não passam do nível
• Fanerógama: palavra composta por fanero, de organização superior a tecidos, do qual fazem
que significa visível, e por gama, relativo a gameta. parte os cnidários, e o dos organismos que já apre-
Esta palavra significa, portanto, “planta que tem a sentam os órgãos em sistemas definidos, compreen-
estrutura reprodutiva visível”. São plantas que pos- dendo a maioria dos Eumetazoa.
suem semente. O ramo da biologia qe estuda os animais é deno-
• Gimnosperma: palavra composta por gimm- minado Zoologia (zoo = animal, logus = estudo).
no, que significa descoberta, e sperma, semente. É muito comum, em Zoologia falar-se em ani-
Esta palavra significa, portanto, “planta com semen- mais invertebrados e animais vertebrados.
te a descoberto” ou “semente nua”. Os invertebrados são todos os animais que não
• Angiosperma: palavra composta por angion, possuem vértebras e, consequentemente, coluna
que significa vaso (que neste caso é o fruto) esper- vertebral. A maior parte dos animais é formada pelos
ma, semente. A palavra significa, “planta com se- invertebrados, caso das esponjas, medusas, planá- 259
mente guardada no interior do fruto”. rias, vermes, minhocas, insetos, siris, estrelas-do-mar e
outros.
Reino Animalia. O termo invertebrado não tem nenhum valor
taxonômico e não corresponde a grupos como filo,
O Reino Animalia é definido segundo caracterís- classe, ordem ou outros; é simplismente um termo vul-
ticas comuns a todos os animais: organismos euca- gar aplicado a todos esses animais.
riontes, multicelulares, heterotróficos, que obtêm seu Os vertebrados correspondem a todos os animais
alimento por ingestão de nutrientes do meio. que possuem vértebras, caso dos peixes, anfíbios,
Mesmo dentro de critérios assim tão amplos, po- répteis, aves e mamíferos. Os vertebrados correspon-
demos encontrar exceções, em funções de fatores dem a um subfilo dentro do filo dos cordados. Dentre
diversos, como a adaptação de organismos a meios os cordados, existem animais invertebrados, como é
de vida especiais. É o que ocorre, por exemplo, com o caso do anfioxo, que vive enterrado na areia, no
alguns endoparasitas que perderam a capacidade ambiente marinho.
de ingestão de nutrientes, obtendo-os por absorção
direta dos líquidos do corpo dos organismos parasita- Simetria e Locomoção
dos. Todos os animais começam seu desenvolvimen- Animais de organização mais simples, como di-
to a partir de uma célula-ovo ou zigoto, que surge da versas esponjas, possuem formas irregulares, sendo,
fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Assim, a por isso, chamados assimétricos.
reprodução sexuada sempre está presente nos ciclos Em outros animais, podemos passar por seus cor-
de vida dos animais. Isso não significa que a reprodu- pos diversos planos verticais de simetria que passam
ção assexuada não aconteça; ela ocorre e é muito pelo eixo central longitudinal (como nos tipos de es-
importante em alguns grupos. ponjas que crescem com a forma aproximada de
A partir do zigoto, inicia-se o desenvolvimento vaso, nos cnidários e na maioria dos equinodermos,
embrionário, que passa pelas fases de mórula, blás- por exemplo); cada plano permite a separação do
tula e gástrula. São vários os tipos de desenvolvimen- animal em metades equivalentes. São os chamados-
to embrionário, mas, apenas para exemplificação, simétricos radiais, em geral animais cilíndricos ou em
forma de sino. Os animais simétricos radiais, em sua Não quero dizer que podemos usar todos os re-
maioria, são fixos ao substrato (esponjas adultas, pó- produtores com problemas, não, pelo contrário!! De-
lipos de cnidários etc.), ou movem-se com lentidão vemos é tentar perceber a causa desses problemas e
(medusas, estrelas e ouriços-do-mar etc.). certificarmo-nos que é genética e transmissível antes
No entanto, a simetria predomina no reino ani- de eliminarmos aves com bom potencial genético.
mal é a bilateral. Os animais bilaterais possuem lados Para melhorar a qualidade das nossas aves é essen-
esquerdo e direito, faces ventral e dorsal e extremi- cial eliminar algumas delas retirando os seus genes
dades anterior e posterior. A extremidade anterior é das linhas de reprodução, mas estas aves poderão
aquela em que fica localizada a cabeça, que con- facilmente preencher as necessidades de uma prin-
tém o centro de comando nervoso. cipiantes e são até por vezes muito boas.
A extremidade posterior é aquela em que, na Por exemplo em algumas linhas de mandarins não
maioria das vezes, situa-se o ânus e os orifícios repro- pretendo que existam gene recessivos para o factor
dutores. malhado pelo que qualquer ave que seja portadora
Nesse tipo de simetria existe um plano sagital que é eliminada (bem como os seus antepassados em al-
divide o animal em duas metades equivalentes. De gumas situações), mas ao mesmo tempo mantenho
modo geral, a simetria bilateral é relacionada ao uma linha distinta de malhados. Os malhados são
modo de vida de «ir em busca» do alimento de uma bons e desejáveis na minha linha de malhados, não
forma mais dirigida. nas outras!!
Todo o indivíduo é o resultado da interacção de
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA HEREDITARIEDADE - MA- genética e ambiente. Um bom exemplo disto são os
TERIAL GENÉTICO; COMPOSIÇÃO, ESTRUTURA E DUPLI- canários de factor vermelho. Por muito boa que seja
CAÇÃO DO DNA - CÓDIGO GENÉTICO E MUTAÇÃO. a genética dos pais se os filhos não receberem os
suplementos necessários durante a muda nunca ga-
Por certo que já várias vezes se juntaram duas nharão toda a cor pretendida. Este exemplo é perfei-
aves na esperança de que produzissem crias da cor to para percebermos como as coisas se combinam,
de um dos pais e no final se obteve quase todas as aqui a genética influencia o modo como o pigmen-
cores possíveis mesmo o queríamos. to é absorvido e distribuido pela plumagem mas o
Quando me refiro às cores é por acaso, pois po- ambiente é que controla a quantidade de pigmento
260 dia fazê-lo em relação a variados factores como o que a ave tem para distribuir na plumagem. Supo-
porte, tamanho, qualidades reprodutoras, entre ou- nhamos agora que o criador de esquecia de admi-
tros. A transmissão de certas características de pais nistrar os corantes necessários numa época mas sa-
para filhos é regida por leis que são a base da gené- bia ter um bom cruzamento com resultados já dados
tica e devemos conhecer. em anos anteriores. Não era por os filhos serem la-
É importante saber que alguns factores são tam- ranjas que não poderia ficar com alguns para repro-
bém ambientais e nem sempre é fácil dinstingui-los. dução, muito provavelmente se na época seguinte
Por exemplo uma ave que permaneça no ninho por fornecesse na alimentação os pigmentos necessários
dois meses (como alguns psitacídeos) se não tiver os descendentes desses filhos poderiam exprimir toda
uma alimentação adequada particularmente em a sua capacidade genética.
vitaminas e cálcio pode ficar com problemas de per-
nas. Agora imaginemos que essa ave era um macho Definições
com qualidades extraordinárias como uma nova cor
de plumagem. Muita gente acabaria (?!)por não o Antes de podermos compreender os mecanis-
usar na reprodução, mas o facto é que os problemas mos genéticos em si é importante conhecer alguns
que ele mostra não são transmissíveis aos filhos pois termos.
a sua causa foi ambiental e, com uma alimentação Genótipo: constituição genética do indivíduo.
correcta, quase de certeza que os seus descenden- Fenótipo: Aparência do indivíduo em parte como
tes não teriam quaisquer problemas de pernas. consequência do seu genótipo e ambiente.
Foi por situações semelhantes que algumas mu- Loci (pl) Locus (sing): Localização específica de
tações ganharam fama de serem muito sensíveis ou uma característica (alelo) num cromossoma. Um par
até mesmo letais erradamente. Veja-se o caso dos de alelos (gene) tem loci iguais cada um transpor-
mandarins de bochecha negra onde o cruzamento tando um diferente alelo podendo ou não ser afec-
de dois recessivos ainda é “proibido” pelo surgimen- tados por esses outros alelos. Gene: Unidade de infor-
to de alguns indivíduos melanísticos que morriam sem mação hereditária. É uma zona específica do DNA
deixar descendentes e por causas inteiramente am- dos indivíduos que contém codificada a informação
bientais, devidas a deficiências nutritivas. para a síntese de uma determinada proteína. Alelo:
cada umas das formas alternativas de um gene, que plo se cruzarmos um macho desconhecido com uma
pode ocupar o respectivo locus e cujo número varia. fêmea recessiva podemos determinar se o macho é
A representação normal é feita por meio de uma le- portador daquele caracter recessivo ou se é puro.
tra. Cromossoma: Unidade do genótipo que contém Caso este seja puro todos os filhos serão como ele,
um grande número de genes.O número de cromos- se fôr portador 25% serão brancos, etc... Esta expli-
somas é específico para cada espécie. cação é muito básica pois geralmente é preciso um
Autossómico: As características herdadas são re- pouco mais do que este único cruzamento.
gidas pelos genes localizados em cromossomas não A limitação destes cruzamentos está no facto de
determinantes do sexo. não permitirem identificar portadores de alelos múl-
Factores ligados ao sexo (“Sex-linked”): Caracte- tiplos para a mesma característica ou seja podem
rísticas herdadas através dos cromossomas sexuais. existir em alguns casos mais do que dois alelos para
No caso das aves os machos possuem um par de o mesmo gene e o efeito da sua combinação variar.
cromossomas Z e as fêmeas um cromossoma Z e um Além disso podemos estar a cruzar para um factor
cromossoma W. Considera-se que estas característi- para o qual o macho ou fêmea a testar não são por-
cas estão baseadas no cromossoma masculino Z, po- tadores mas serem para outros.
dendo ser herdadas numa só cópia pelas fêmeas e
em uma ou duas pelos machos. Factores ligados ao Sexo
Homozigóticos: a presença de dois alelos seme-
lhantes no loci correspondente do mesmo gene. Apli- Existem diversas mutações em muitas espécies
ca-se a genes autossómicos mas também pode ser que são controladas e transmitidas por este meca-
aplicado a características ligadas ao sexo nos ma- nismo genético, pelo que é importante que se com-
chos. preenda o seu funcionamento.
Heterozigótico:a presença de dois alelos diferen- Por definição, e no caso das aves, os factores li-
tes nos loci do mesmo gene. Aplica-se a genes autos- gados ao sexo estão no cromossoma sexual mascu-
sómicos mas também pode ser aplicado a caracte- lino Z. Isto é muito importante porque enquanto os
rísticas ligadas ao sexo nos machos. outros factores nos cromossomas autossómicos são
Recessivo: carcaterísticas expressas no fenótipo transportados em pares em todos os indivíduos de
só quando existem dois alelos para essa característi- ambos os sexos, neste caso os machos transportam
ca nos loci do mesmo gene, caso contrário o efeito 261
dois cromosomas Z e as fêmeas apenas um. Esta si-
desse alelo não é visível, excepto no caso das fêmeas tuação é o inverso do que sucede com os mamíferos
com mutações ligadas ao sexo. onde é o sexo masculino que têm uma situação de
Dominante: caraterísticas que são expressas no herozigotia sexual com um cromossomas X e um Y,
fenótipo mesmo quando só está presente um alelo.
enquanto as fêmeas são XX.
Quando combinadas com um outro alelo recessivo
Por exemplo uma fêmea Gould amarela tem um
dominam-no.
único gene co-dominante para costas amarelas e
Portador: indicado “/”: indivíduo que embora não
contudo tem costas totalmente amarelas e nunca
o demonstre no seu fenótipo transporta alelos recessi-
diluídas (como no caso das machos onde o amarelo
vos ou ligados ao sexo mas que estão escondidos por
perde intensidade em heterozigóticos).
outro gene, podendo mesmo assim ser transmitidos à
Quando da fertilização os óvulos produzidos pela
descendência.
fêmea transportam ou um cromossoma Z ou W ao
FS: Factor Simples. Apenas está presente um alelo
qual sevai juntar um cromossoma Z proveniente do
para a característica. Usa-se para diferenciar os indi-
macho reformando o par ZZ ou ZW conforme a com-
víduos que, expressando um fenótipo dominante não
binação. Assim todos os genes que a mãe tiver no
são puros e transportam outros alelos recessivos.
seu cromossoma Z são passados aos filhos macho
FD: Factor Duplo. Estão presentes dois alelos para
a característica. Apenas faz sentido quando usado (pois recebem um cromossoma Z da mãe), enquan-
para indentificar indivíduos dominantes puros, i.e., to que os filhos fêmea recebem o cromossoma W ao
com dois alelos dominantes. qual se junta um dos Z do macho. É por isso que com
mutações ligadas ao sexo os machos podem pro-
Cruzamentos teste duzir descendência com essa mutação (sempre fê-
meas) mas para se produzirem machos também de
Este cruzamento é feito com um indivíduo homo- mutação temos sempre de ter uma fêmea já muta-
zigótico recessivo para o factor que se pretende estu- da e um macho no mínimo portador (em que apenas
dar, que facilmente se identifica pelo seu fenótipo e existe o gene mutado num dos dois cromossomas Z).
um outro de genótipo conhecido ou não. Por exem-
Selecção zes vale a pena pagar mais por uma ave e adquiri-la
a um criador que nos pode dar algumas garantias
Entende-se por selecção a escolha não aleató- e informações sobre os seus antepassados. Isso não
ria dos reprodutores de modo a que estes transmitam invalida o que eu disse anteriormente sobre aves de
determinadas características às gerações seguintes. grande potencial não fazerem por si uma linha. O
Desde sempre que o homem faz selecção artificial maior erro de muita gente com efectivos de qualida-
de várias coisas, cruzando animais com força a ou- de média è pensar que pode comprar uma ave mui-
tros com grande tamanho, plantas de frutos grande to boa (geralmente pensa-se sempre no tamanho...)
com outras que produzem mais frutos, mas de meno- e melhorar todo o efectivo a partir dela, o que leva
res dimensões ou melhor qualidade. em pouco tempo a efeitos contrários de consaguini-
Também nas aves se vêem seleccionando à já dade.
vários séculos características específicas. Na Idade Para obtermos uma linha pura NUNCA podemos
média faziam-se concursos de tentilhões para ver trabalhar apenas com uma ou duas aves, nem mes-
qual cantava melhor vencendo os seus rivais. Foi as- mo com um só casal. Se dispusermos de pelo menos
sim que se chegou a criar novas espécies como o dois casais de origens distintas, mas com as mesmas
bengalim do japão ou todas as variedades de caná- características que queremos seleccionar, podemos
rio a partir da ave selvagem. intercruzar os filhos e eliminar todos aqueles que não
Para seleccionarmos temos antes de mais que se enquadrem no pretendido. Desse novo cruzamen-
assegurar que aquele casal apenas acasala entre to devemos obter alguns exemplares puros que de-
si, pelo que convém separá-lo de outros da mesma pois vamos usar em combinações ou cruzamentos
espécies e de espécies intercruzáveis. Tem de ser re- com outras aves para fixar a característica.
ferido um factor que muitas vezes é esquecido por Mesmo assim o mínimo para fixar uma linhagem
quem começa e por quem já sabe do ofício e leva são 3 casais distintos, de preferência 4 ou 5. Só assim
a desilusões frequentes. Quando se fala de selecção podemos garantir que existe suficiente variebilidade
esta apenas faz sentido numa linha e raramente em genética dentro do efectivo para assegurar uma me-
indivíduos isolados. Ou melhor a selecção individual lhoria nas gerações futuras. A variabilidade genética
dos indivíduos deve ter em vista a melhoria de uma é a base de TODA a evolução, perseguir linhas uni-
linha, semelhante ou não. Não podemos esperar que formes é utópico pois acaba por invalidar avanços
262 num único cruzamento se melhore a qualidade das futuros. Só podemos escolher os melhores em gera-
aves isso sucede ao longo das gerações conforme ções sucessivas se ouver alguns melhores que outros!!
vamos mantendo os melhores exemplares e repro- E sobretudo melhores que os pais o que se consegue
duzindo com eles. É errado pensar que comprando juntando os pontos fortes dos reprodutores.
uma ave muito boa se pode fazer milagres, muitas
vezes é desperdiçar de tempo e dinheiro, é rpeciso Consanguinidade
aprender o que se precisa, o que se tem e o que se
quer melhorar nas gerações futuras. Este é outro dos pontos em que muitas vezes se
Depois temos de saber o que queremos produzir erra. Não existe qualquer problema em cruzar irmãos
e como esse factor é transmitido geneticamente. O com irmãos ou filhos com pais desde que se saiba
modo empírico e mais usual é usar aves que mostrem como fazê-lo. Na realidade este é o método mais
aquela caraterística específica e cruzá-las entres si, rápido e eficaz de fixar uma característica porque a
para depois esperar que os filhos demonstrem ainda base genética é semelhante.
mais aquele factor, mas nem sempre isto funciona, é Quando se faz isto tem de se partir de um casal
mais adequado para trabalhar e melhorar mutações não relacionado, isto é os pais nunca poderão ser da
já establecidas. mesma linha. O melhor portanto é tentar adquiri-los
em sítios diferentes. Dito isto, a descendência que
Linhas puras esse casal produz pode ser cruzada entre si escolhen-
do os melhores exemplares (tamanho, porte, cor).
Uma linha pura é aquela em que todos os indiví- Desse cruzamento escolhemos de novo os melhores
duos têm uma constituição genética idêntica e origi- mas agora para cruzar com uma ave semelhante de
nam descendentes idênticos, sendo o resultado do outra linha que não a dos pais ou irmãos. Podemos
cruzamento previsível. por exemplo usar uma fêmea e adquirir um outro ma-
Arranjar linhas puras é complicado e envolve cho. Deste modo quebramos imediatamente a de-
muito tempo de trabalho, em especial com espécies pressão por consaguinidade nos descendentes do
que se reproduzem pouco e atingem a maturidade terceiro cruzamento. Tambén já tive uma situação
sexual muito tarde. Assim, na minha opinião por ve- em que depois de procurar por uma determinada
ave que queria não fosse relacionada com as que já Caracteres recessivos ligados ao sexo
tinha, depois de finalmente a encontrar (bem longe
de casa) regressei e fiquei muito surpreendido ao ver São mais fáceis de trabalhar apenas por serem
que o número de criador de ambas era o mesmo... ligados ao sexo. Assim basta pensarmos numa coisa,
A consanguinidade resulta do acumular de ge- os machos vão sempre produzir fêmeas recessivas e
nes com efeitos negativos, diminuindo o tamanho e machos portadores independentemente da fêmea
vigor das aves. Quando se começa a partir de boas com que sejam acasalados. Por seu lado as fêmeas
linhas reprodutoras que estão “isentas” de genes vão produzir todos os machos portadores. Para ob-
desfavoráveis é aceitável a consaguinidade e per- termos machos recessivos precisamos de que a fê-
dermos nuns pontos para obter uma ave com uma mea seja recessiva e o macho, no mínimo portador,
boa característica específica a partir da qual vamos o que até é preferível em relação ao acasalamento
establecer cruzamentos para recuperar o que foi de dois recessivos neste caso.
perdido, geralmente tamanho e fertilidade.
Caracteres Dominantes
Esquemas de cruzamentos
A dominância é um pau de dois bicos. É fácil de
O cruzamento a seguir vai depender do tipo de trabalhar porque produz sempre o que queremos
mecanismo genético da característica a trabalhar. mas temos de ter cuidado com o que escondemos,
não devemos cruzar dominantes com aves portado-
Caracteres recessivos ras de caracteres recessivos raros ou não pois nunca
iremos saber quais os filhos portadores.
Para os caracteres controlados por um mecanis- Alguns factores dominantes não devem ser cria-
mo autossómico recessivo temos de produzir repro- dos em factor duplo (os Gloster de poupa). De qual-
dutores que sejam ou homozigóticos recessivos ou, quer modo um dominante FS produz 50% de descen-
no mínimo, portadores desse alelo recessivo. Só assim dentes dominantes, o que até é bom porque um
conseguiremos obter descendentes que manifestem gene dominante é tão fácil de reproduzir que pode
essa característica. passar de raro a excessivo num efectivo em apenas 2
Partindo de um único macho devemos primeiro ou 3 gerações! Este é outro problema quando se tra-
produzir uma geração de portadores o que se con- 263
balha em selecção, muitas vezes, para mais se traba-
segue cruzando o macho recessivo com uma fêmea
lhamos com portadores e combinações, acabamos
pura dominante para esse alelo (ou vice-versa). To-
por ocupar muito espaço muito depressa. Com os
dos os filhos serão fenotipicamente idênticos à mãe
dominantes é ainda mais grave porque basta ficar-
mas portadores do alelo recessivo. Aqui devemos
mos com uma cria para que metade dos seus des-
escolher dois filhos e cruzá-los de modo a obtermos
cendentes sejam também dominantes, raramente se
25% de descendentes que são recessivos tal como o
refuga os pais e assim é preciso uma nova gaiola, um
primeiro macho. Esses vão ser acasalados com outras
novo casal, uma nova cria que sai bastante boa e
fêmeas de uma outra linha que não a da sua mãe de
acaba por ficar e assim em diante...
modo a fazer duas linhas distintas de portadores. Des-
Genética
te modo conseguimos obter duas linhas com apenas
Estudo científico de como se transmitem os ca-
25% de consaguinidade e que podem ser cruzadas
entre si sem grandes problemas. racteres físicos, bioquímicos e de comportamento
Os cruzamentos entre dois portadores não são re- de pais a filhos. Este termo foi criado em 1906 pelo
comendáveis porque nunca poderemos saber quais biólogo britânico William Bateson. Os geneticistas
os filhos portadores e os não portadores pois estes são determinam os mecanismos hereditários pelos quais
fenotipicamente iguais, daí que quando se pretenda descendentes de organismos que se reproduzem de
evitar o cruzamento de dois recessivos devamos usar forma sexual não se parecem exatamente com seus
sempre ou um recessivo e um dominante (obtendo pais, e as diferenças e semelhanças entre pais e filhos
todos os descendentes portadores) ou então um re- que se reproduzem de geração em geração, segun-
cessivo e um portador (obtendo 50% recessivos e 50% do determinados padrões.
portadores). Em alguns casos não há alternativa se-
não cruzar portadores mas, em especial para quem 2. ORIGEM DA GENÉTICA
tem poucos intresses de selecção fiquem conscientes
que isso é “espalhar genética” que pode muito bem A ciência da genética nasceu em 1900, quan-
ir parar às mãos de alguém que não trate de apro- do vários investigadores da reprodução das plantas
veitar uma característica rara por não saber que ela descobriram o trabalho do monge austríaco Gregor
existe naquela ave... Mendel, que, apesar de ter sido publicado em 1866,
havia, na prática, sido ignorado por muito tempo. 5. FUNÇÃO DOS GENES: O ADN E O CÓDIGO DA
Mendel, que trabalhou com a planta da ervilha, des- VIDA
creveu os padrões da herança em função de sete
pares de traços contrastantes que apareciam em Em 1944, o bacteriologista canadense Oswald
sete variedades diferentes dessa planta Theodore Avere demonstrou que o ácido desoxirri-
bonucléico (ADN) era a substância fundamental que
3. BASES FÍSICAS DA HEREDITARIEDADE determinava a herança . O geneticista norte-ameri-
cano James Watson e o britânico Francis Compton
Pouco depois da redescoberta dos trabalhos de Crick descobriram que a molécula de ADN é for-
Mendel, os cientistas perceberam que os padrões mada por duas cadeias que se enrolam, compon-
hereditários que ele havia descrito eram compará- do uma hélice dupla, semelhante a uma escada
veis à ação dos cromossomos nas células em divi- em caracol. As cadeias, o corrimão da escada, são
são, e sugeriram que as unidades mendelianas de constituídas por moléculas de fosfato e carboidratos
herança, os genes, se localizavam nos cromosso- que se alternam. As bases nitrogenadas, dispostas
mos. Os cromossomos variam em forma e tamanho em pares, representam os degraus. Para fazer uma
e em geral apresentam-se em pares. Os membros de cópia nova e idêntica da molécula de ADN, só é ne-
cada par, chamados cromossomos homólogos, têm cessário que as duas cadeias se estendam e se se-
grande semelhança entre si. A maioria das células parem por suas bases; graças à presença na célula
do corpo humano contém 23 pares de cromosso- de mais nucleotídeos, pode-se unir a cada cadeia
mos. Atualmente, sabe-se que cada cromossomo separada bases complementares novas, formando
contém muitos genes e que cada gene se localiza duas duplas hélices. Desde que se demonstrou que
numa posição específica, o locus, no cromossomo. as proteínas eram produto dos genes, e que cada
Os gametas originam-se através da meiose, divisão gene era formado por frações de cadeias de ADN,
na qual só se transmite a cada célula nova um cro- os cientistas chegaram à conclusão de que deve ha-
mossomo de cada um dos pares da célula original. ver um código genético através do qual a ordem dos
Quando, na fecundação, se unem dois gametas, a trípletes (ou códons), define a ordem dos aminoáci-
célula resultante, chamada zigoto, contém toda a dos no polipeptídeo.
dotação dupla de cromossomos. A metade destes As duas cadeias do ADN se separam numa por-
264 ção de seu comprimento. Uma delas atua como
cromossomos procede de um progenitor e a outra
suporte sobre o qual se forma o ARN mensageiro
metade do outro.
(ARNm), num processo denominado transcrição. A
molécula nova de ARNm se insere numa estrutura
4. A TRANSMISSÃO DE GENES
pequena chamada ribossoma, de onde se forma a
proteína. Neste processo, denominado tradução, a
A união dos gametas combina dois conjuntos de
seqüência de bases de nucleotídeos presentes no
genes, um de cada progenitor. Por isso, cada gene
ARNm determina a ordem em que se unem os ami-
— isto é, cada posição específica sobre um cromos-
noácidos, para formar o polipeptídeo.
somo que afeta uma característica particular — está
representado por duas cópias, uma procedente da
6. MUTAÇÕES
mãe e outra do pai. Quando as duas cópias são
idênticas, diz-se que o indivíduo é homozigótico para
Embora a replicação do ADN seja muito precisa,
aquele gene particular. Quando são diferentes, ou ela não é perfeita. Em raros casos, produzem-se er-
seja, quando cada progenitor contribuiu com uma ros e o ADN novo contém um ou mais nucleotídeos
forma diferente, ou alelo, do mesmo gene, diz-se trocados. Um erro deste tipo, que recebe o nome
que o indivíduo é heterozigótico para o gene. Am- de mutação, pode acontecer em qualquer área do
bos os alelos estão contidos no material genético do ADN. Se acontecer na seqüência de nucleotídeos
indivíduo, mas se um é dominante, apenas este se que codifica um polipeptídeo particular, este pode
manifesta. No entanto, como demonstrou Mendel, a apresentar um aminoácido trocado na cadeia poli-
característica recessiva pode voltar a manifestar-se peptídica. Esta modificação pode alterar seriamente
em gerações posteriores (em indivíduos homozigóti- as propriedades da proteína resultante. Por exemplo,
cos para seus alelos). os polipeptídeos que distinguem a hemoglobina nor-
mal da hemoglobina das células falciformes diferem
em apenas um aminoácido (ver Anemia das células
falciformes). Quando se produz uma mutação du-
rante a formação dos gametas, esta se transmitirá às
trons”, vão ser removidas e as porções não removi- Iniciação: A subunidade menor do ribossoma li-
das, “éxons”, ligam-se entre si, formando assim um ga-se à extremidade 5’ do mRNA, esta, desliza ao
mRNA maturado. O RNA que sofre este processo de longo da molécula do mRNA até encontrar o codão
exclusão de porções é designado do RNA pré-men- de iniciação (AUG), transportando o tRNA ligado a
sageiro. No final do processo, o mRNA é constituído um aminoácido, ligando-se ao codão de iniciação
apenas pelas sequências que codificam os aminoá- por complementaridade. A subunidade maior liga-
cidos de uma proteína, podendo assim migrar para o se à subunidade menor do ribossoma. O processo de
citoplasma, onde vai ocorrer a tradução da mensa- tradução começa pelo aminoácido de metionina
gem, isto é, a síntese de proteínas. AUG.
Leis de Mendel
laia à temperatura. Em temperaturas baixas, os pelos limitação destes cruzamentos está no fato de não
crescem pretos e, em temperaturas altas, crescem permitirem identificar portadores de alelos múltiplos
brancos. A pelagem normal desses coelhos é bran- para a mesma característica, ou seja, podem existir
ca, menos nas extremidades do corpo (focinho, ore- em alguns casos mais do que dois alelos para o mes-
lha, rabo e patas), que, por perderem mais calor e mo gene e o efeito da sua combinação variar. Além
apresentarem temperatura mais baixa, desenvolvem disso, podemos estar cruzando um fator para o qual
pelagem preta. o macho ou fêmea teste não são portadores, mas
sim de outros alelos.
Determinando o genótipo
Os principais símbolos são os seguintes: Uma vez que se descobriu qual é o gene domi-
nante e qual é o recessivo, vamos agora localizar os
homozigotos recessivos, porque todos eles manifes-
tam o caráter recessivo. Depois disso, podemos co-
meçar a descobrir os genótipos das outras pessoas.
Devemos nos lembrar de duas coisas:
1ª) Em um par de genes alelos, um veio do pai e
o outro veio da mãe. Se um indivíduo é homozigoto
recessivo, ele deve ter recebido um gene recessivo
de cada ancestral.
2ª) Se um indivíduo é homozigoto recessivo, ele
envia o gene recessivo para todos os seus filhos. Des-
sa forma, como em um “quebra-cabeça”, os outros
genótipos vão sendo descobertos. Todos os genóti-
pos devem ser indicados, mesmo que na sua forma
parcial (A_, por exemplo).
Exemplo:
A montagem de um heredograma obedece a
algumas regras:
1ª) Em cada casal, o homem deve ser colocado
à esquerda, e a mulher à direita, sempre que for pos-
sível.
2ª) Os filhos devem ser colocados em ordem de
nascimento, da esquerda para a direita.
3ª) Cada geração que se sucede é indicada por
algarismos romanos (I, II, III, etc.). Dentro de cada
geração, os indivíduos são indicados por algarismos
272 arábicos, da esquerda para a direita. Outra possibili-
dade é se indicar todos os indivíduos de um heredo-
grama por algarismos arábicos, começando-se pelo
primeiro da esquerda, da primeira geração.
ou parcial. Um exemplo desse tipo de herança é a Cruzando, agora, duas plantas heterozigotas
cor das flores maravilha. Elas podem ser vermelhas, (flores cor-de-rosa), teríamos:
brancas ou rosas. Plantas que produzem flores cor-de
-rosa são heterozigotas, enquanto os outros dois fenó- Flor cor-de-rosa
tipos são devidos à condição homozigota. Supondo F1
VB
que o gene V determine a cor vermelha e o gene B,
VV BV
cor branca, teríamos: V Vermelha cor-de-rosa
VV = flor vermelha Flor cor-de-rosa
BB = flor branca B VB BB
VB = flor cor-de-rosa cor-de-rosa Branca
Apesar de anteriormente usarmos letras maiús- F2 = Genótipos: 1/4 VV, 1/2 VB, 1/4 BB.
culas para indicar, respectivamente, os genes domi-
nantes e recessivos, quando se trata de dominância Fenótipo: 1/4 plantas com flores vermelhas
incompleta muitos autores preferem utilizar apenas 1/2 plantas com flores cor-de-rosa
diferentes letras maiúsculas. Fazendo o cruzamento 1/4 plantas com flores brancas
de uma planta de maravilha que produz flores ver- Alelos letais: Os genes que matam
melhas com outra que produz flores brancas e ana-
lisando os resultados fenotípicos da geração F1e F2, As mutações que ocorrem nos seres vivos são to-
teríamos: talmente aleatórias e, às vezes, surgem variedades
genéticas que podem levar a morte do portador
antes do nascimento ou, caso ele sobreviva, antes
de atingir a maturidade sexual. Esses genes que con-
duzem à morte do portador, são conhecidos como
alelos letais. Por exemplo, em uma espécie de planta
existe o gene C, dominante, responsável pela colora-
ção verde das folhas. O alelo recessivo c, condicio-
na a ausência de coloração nas folhas, portanto o
homozigoto recessivo cc morre ainda na fase jovem 273
da planta, pois esta precisa do pigmento verde para
produzir energia através da fotossíntese. O heterozi-
goto é uma planta saudável, mas não tão eficiente
na captação de energia solar, pela coloração verde
clara em suas folhas. Assim, se cruzarmos duas plan-
tas heterozigotas, de folhas verdes claras, resultará
na proporção 2:1 fenótipos entre os descendentes,
ao invés da proporção de 3:1 que seria esperada se
fosse um caso clássico de monoibridismo (cruzamen-
to entre dois indivíduos heterozigotos para um único
gene). No caso das plantas o homozigoto recessivo
morre logo após germinar, o que conduz a propor-
ção 2:1.
Agora analisando os resultados genotípicos da
geração F1e F2, teríamos:
Planta com folhas verde cla-
P ras
Flor Branca Cc
P:
BB
C CC Cc
BV BV Verde escuro Verde clara
V Planta com
cor-de-rosa cor-de-rosa
Flor Vermelha folhas verde claras Cc cc
V VB VB C Verde clara Inviável
cor-de-rosa cor-de-rosa
F1 = Fenótipo: 2/3 Verde clara
F1 = 100% VB (flores cor-de-rosa) 1/3 Verde escura
Genótipo: 2/3 Cc
1/3 CC
Esse curioso caso de genes letais foi descoberto Noções de probabilidade aplicadas à genética
em 1904 pelo geneticista francês Cuénot, que estra-
nhava o fato de a proporção de 3:1 não ser obede- Acredita-se que um dos motivos para as ideias de
cida. Logo, concluiu se tratar de uma caso de gene Mendel permanecerem incompreendidas durante
recessivo que atuava como letal quando em dose du- mais de 3 décadas foi o raciocínio matemático que
pla. No homem, alguns genes letais provocam a morte continham. Mendel partiu do princípio que a forma-
do feto. É o caso dos genes para acondroplasia, por ção dos gametas seguia as leis da probabilidade, no
exemplo. Trata-se de uma anomalia provocada por tocante a distribuição dos fatores.
gene dominante que, em dose dupla, acarreta a mor-
te do feto, mas em dose simples ocasiona um tipo de Princípios básicos de probabilidade
nanismo, entre outras alterações. Há genes letais no
homem, que se manifestam depois do nascimento, al- Probabilidade é a chance que um evento tem
guns na infância e outros na idade adulta. Na infância, de ocorrer, entre dois ou mais eventos possíveis. Por
por exemplo, temos os causadores da fibrose cística exemplo, ao lançarmos uma moeda, qual a chance
e da distrofia muscular de Duchenne (anomalia que dela cair com a face “cara” voltada para cima? E
acarreta a degeneração da bainha de mielina nos em um baralho de 52 cartas, qual a chance de ser
nervos). Dentre os que se expressam tardiamente na sorteada uma carta do naipe ouros?
vida do portador, estão os causadores da doença de
Huntington, em que há a deterioração do tecido ner- Eventos Aleatórios
voso, com perde de células principalmente em uma
parte do cérebro, acarretando perda de memória, Eventos como obter “cara” ao lançar uma moe-
movimentos involuntários e desequilíbrio emocional. da, sortear um “ás” de ouros do baralho, ou obter
“face 6” ao jogar um dado são denominados even-
Como os genes se manifestam tos aleatórios (do latim alea, sorte) porque cada um
deles tem a mesma chance de ocorrer em relação
Vimos que, em alguns casos, os genes se manifes- a seus respectivos eventos alternativos. Veja a seguir
tam com fenótipos bem distintos. Por exemplo, os ge- as probabilidades de ocorrência de alguns eventos
nes para a cor das sementes em ervilhas manifestam- aleatórios. Tente explicar por que cada um deles
274 se com fenótipos bem definidos, sendo encontradas ocorre com a probabilidade indicada.
sementes amarelas ou verdes. A essa manifestação - A probabilidade de sortear uma carta de espa-
gênica bem determinada chamamos de variação das de um baralho de 52 cartas é de ¼.
gênica descontínua, pois não há fenótipos intermediá- - A probabilidade de sortear um rei qualquer de
rios. Há herança de características, no entanto, cuja um baralho de 52 cartas é de 1/13.
manifestação do gene (também chamada de expres- - A probabilidade de sortear o rei de espadas de
sividade) não determina fenótipos tão definidos, mas um baralho de 52 cartas é de 1/52.
sim uma gradação de fenótipos. A essa gradação da
expressividade do gene, variando desde um fenótipo A formação de um determinado tipo de gameta,
que mostra leve expressão da característica até sua com um outro alelo de um par de genes, também é
expressão total, chamamos de norma de reação ou um evento aleatório. Um indivíduo heterozigoto Aa
expressividade variável. Por exemplo, os portadores tem a mesma probabilidade de formar gametas por-
dos genes para braquidactilia (dedos curto) podem tadores do alelo A do que de formar gametas com o
apresentar fenótipos variando de dedos levemente alelo a (1/2 A: 1/2 a).
mais curtos até a total falta deles. Alguns genes sem-
pre que estão presentes se manifestam, dizemos que Eventos Independentes
são altamente penetrantes. Outros possuem uma pe-
netrância incompleta, ou seja, apenas uma parcela Quando a ocorrência de um evento não afeta
dos portadores do genótipo apresenta o fenótipo cor- a probabilidade de ocorrência de um outro, fala-se
respondente. em eventos independentes. Por exemplo, ao lançar
Observe que o conceito de penetrância está rela- várias moedas ao mesmo tempo, ou uma mesma
cionado à expressividade do gene em um conjunto de moeda várias vezes consecutivas, um resultado não
indivíduos, sendo apresentado em termos percentuais. interfere nos outros. Por isso, cada resultado é um
Assim, por exemplo, podemos falar que a penetrância evento independente do outro. Da mesma maneira,
para o gene para a doença de Huntington é de 100%, o nascimento de uma criança com um determina-
o que quer dizer que 100% dos portadores desse gene do fenótipo é um evento independente em relação
apresentam (expressam) o fenótipo correspondente. ao nascimento de outros filhos do mesmo casal. Por
exemplo, imagine uma casal que já teve dois filhos Em certos casos precisamos aplicar tanto a regra
homens; qual a probabilidade que uma terceira do “e” como a regra do “ou” em nossos cálculos de
criança seja do sexo feminino? Uma vez que a for- probabilidade. Por exemplo, no lançamento de duas
mação de cada filho é um evento independente, moedas, qual a probabilidade de se obter “cara” em
a chance de nascer uma menina, supondo que ho- uma delas e “coroa” na outra? Para ocorrer “cara”
mens e mulheres nasçam com a mesma freqüência, na primeira moeda E “coroa” na segunda, OU “co-
é 1/2 ou 50%, como em qualquer nascimento. roa” na primeira e “cara” na segunda. Assim nesse
caso se aplica a regra do “e” combinada a regra do
A regra do “e” “ou”. A probabilidade de ocorrer “cara” E “coroa”
(1/2 X 1/2 = 1/4) OU “coroa” e “cara” (1/2 X 1/2 = 1/4)
A teoria das probabilidades diz que a probabili- é igual a 1/2 (1/4 + 1/4). O mesmo raciocínio se aplica
dade de dois ou mais eventos independentes ocor- aos problemas da genética. Por exemplo, qual a pro-
rerem conjuntamente é igual ao produto das proba- babilidade de uma casal ter dois filhos, um do sexo
bilidades de ocorrerem separadamente. Esse princí- masculino e outro do sexo feminino? Como já vimos,
pio é conhecido popularmente como regra do “e”, a probabilidade de uma criança ser do sexo masculi-
pois corresponde a pergunta: qual a probabilidade no é ½ e de ser do sexo feminino também é de ½. Há
de ocorrer um evento E outro, simultaneamente?
duas maneiras de uma casal ter um menino e uma
Suponha que você jogue uma moeda duas vezes.
menina: o primeiro filho ser menino E o segundo filho
Qual a probabilidade de obter duas “caras”, ou seja,
ser menina (1/2 X 1/2 = 1/4) OU o primeiro ser menina
“cara” no primeiro lançamento e “cara” no segun-
e o segundo ser menino (1/2 X 1/2 = 1/4). A probabili-
do? A chance de ocorrer “cara” na primeira joga-
dade final é 1/4 + 1/4 = 2/4, ou 1/2.
da é, como já vimos, igual a ½; a chance de ocorrer
“cara” na segunda jogada também é igual a1/2. As-
sim a probabilidade desses dois eventos ocorrer con- Alelos múltiplos na determinação de um caráter
juntamente é 1/2 X 1/2 = 1/4.
No lançamento simultâneo de três dados, qual a Como sabemos, genes alelos são os que atuam
probabilidade de sortear “face 6” em todos? A chan- na determinação de um mesmo caráter e estão
ce de ocorrer “face 6” em cada dado é igual a 1/6. presentes nos mesmo loci (plural de lócus, do latim,
Portanto a probabilidade de ocorrer “face 6” nos três local) em cromossomos homólogos. Até agora, só 275
dados é 1/6 X 1/6 X 1/6 = 1/216. Isso quer dizer que a estudamos casos em que só existiam dois tipos de
obtenção de três “faces 6” simultâneas se repetirá, alelos para uma dada característica (alelos simples),
em média, 1 a cada 216 jogadas. mas há caso em que mais de dois tipos de alelos es-
tão presentes na determinação de um determinado
caráter na população. Esse tipo de herança é co-
Um casal quer ter dois filhos e deseja saber a pro- nhecido como alelos múltiplos (ou polialelia). Apesar
babilidade de que ambos sejam do sexo masculino. de poderem existir mais de dois alelos para a deter-
Admitindo que a probabilidade de ser homem ou minação de um determinado caráter, um indivíduo
mulher é igual a ½, a probabilidade de o casal ter diplóide apresenta apenas um par de alelos para a
dois meninos é 1/2 X 1/2, ou seja, ¼. determinação dessa característica, isto é, um alelo
em cada lócus do cromossomo que constitui o par
A regra do “ou” homólogo.
São bastante frequentes os casos de alelos múl-
Outro princípio de probabilidade diz que a ocor- tiplos tanto em animais como em vegetais, mas são
rência de dois eventos que se excluem mutuamente clássicos os exemplos de polialelia na determinação
é igual à soma das probabilidades com que cada da cor da pelagem em coelhos e na determinação
evento ocorre. Esse princípio é conhecido popu- dos grupos sanguíneos do sistema ABO em humanos.
larmente como regra do “ou”, pois corresponde Um exemplo bem interessante e de fácil compreen-
à pergunta: qual é a probabilidade de ocorrer um
são, é a determinação da pelagem em coelhos,
evento OU outro? Por exemplo, a probabilidade de
onde podemos observar a manifestação genética
obter “cara” ou “coroa”, ao lançarmos uma moeda,
de uma série com quatro genes alelos: o primeiro C,
é igual a 1, porque representa a probabilidade de
expressando a cor Aguti ou Selvagem; o segundo
ocorrer “cara” somada à probabilidade de ocorrer
Cch, transmitindo a cor Chinchila; o terceiro Ch, repre-
“coroa” (1/2 + 1/2 =1). Para calcular a probabilidade
de obter “face 1” ou “face 6” no lançamento de um sentando a cor Himalaia; e o quarto alelo Ca, respon-
dado, basta somar as probabilidades de cada even- sável pela cor Albina.
to: 1/6 + 1/6 = 2/6.
Genótipo Fenótipo
CC, C C , C C e C C
ch h a
Selvagem ou Aguti
C C ,C C eC C
ch ch ch h ch a
Chinchila
C C e Ch C
h h a
Himalaia
CC
a a
Albino
Segregação independente de 3 pares de alelos Obtendo a Proporção 9:3:3:1 sem Utilizar o Qua-
dro de Cruzamentos
Ao estudar 3 pares de características simultanea-
mente, Mendel verificou que a distribuição dos tipos Número de
de indivíduos em F2 seguia a proporção de 27: 9: 9: 9: Genótipo Valor de n 2n
gametas
3: 3: 3: 1. Isso indica que os genes para as 3 caracterís-
AA 0 20 1
ticas consideradas segregam-se independentemen-
te nos indivíduos F1, originando 8 tipos de gametas. Aa 1 2 1
2
Em um dos seus experimentos, Mendel considerou si- AaBB 1 2 1
2
multaneamente a cor (amarela ou verde), a textura AaBb 2 2 2
4
da casca (lisa ou rugosa) e a cor da casca da se-
mente (cinza ou branca). O cruzamento entre uma AABbCCDd 2 22 4
planta originada de semente homozigota dominan- AABbCcDd 3 2 3
8
te para as três características (amarelo-liso-cinza) e AaBbCcDd 4 2 4
16
uma planta originada de semente com traços reces- AaBbCcDdEe 5 2 5
32
sivos (verde-rugosa-branca) produz apenas ervilhas
com fenótipo dominante, amarelas, lisas e cinza. Es-
A 2º lei de Mendel é um exemplo de aplicação
ses indivíduos são heterozigotos para os três pares de
direta da regra do E de probabilidade, permitindo
genes (VvRrBb). A segregação independente desses
chegar aos mesmos resultados sem a construção tra-
três pares de alelos, nas plantas da geração F1, leva
balhosa de quadro de cruzamentos. Vamos exempli-
à formação de 8 tipos de gametas.
ficar, partindo do cruzamento entre suas plantas de
ervilha duplo heterozigotas: P: VvRr X VvRr
Vv X Vv Rr X Rr
3/4 sementes amarelas 3/4 sementes lisas 277
1/4 sementes verdes 1/4 sementes rugosas
Finalmente, a probabilidade de nós obtermos se- mente poucos cromossomos no núcleo das células
mentes verdes e rugosas: e inúmeros genes, é intuitivo concluir que, em cada
cromossomo, existe uma infinidade de genes, respon-
sementes verdes E sementes rugosas sáveis pelas inúmeras características típicas de cada
espécie. Dizemos que esses genes presentes em um
1/4 X 1/4 = 1/16
mesmo cromossomo estão ligados ou em linkage e
caminham juntos para a formação dos gametas.
Assim a 2ª lei de Mendel nem sempre é obedecida,
Utilizando a regra do E, chegamos ao mesmo re- bastando para isso que os genes estejam localizados
sultado obtido na construção do quadro de cruza- no mesmo cromossomo, ou seja, estejam em linkage.
mentos com a vantagem da rapidez na obtenção
da resposta. Linkage
278
Podemos descrever esses arranjos, usando um Para uma explicação desse resultado a cor de
traço duplo ou simples para descrever o cromosso- olho nessa mosca deveria ser ligada ao sexo. Então
mo, ou mais simplificadamente, o arranjo pode ser existiriam cromossomos sexuais que carregariam ge-
descrito como AB/ab para Cis e Ab/aB para trans. nes como os da coloração de olhos. Observando
O arranjo cis e trans dos alelos no duplo-heterozigoto essa e outras características com o mesmo padrão
pode ser facilmente identificado em um cruzamento de segregação emDrosophila: asas pequenas (Minia-
teste. No caso dos machos de Drosófila, se o arranjo ture), cor de corpo amarela (Yelow), Morgan trouxe,
for cis (PV/pv), o duplo heterozigoto forma 50% de ga- portanto, como evidência da Teoria Cromossômica
metas PV e 50% de gametas pv. Se o arranjo for trans da Herança, os padrões de segregação dos genes
(Pv/pV), o duplo heterozigoto forma 50% de gametas ligados aos cromossomos sexuais em Drosophila.
Pv e 50% de pV. Nas fêmeas de Drosófila, nas quais Embora W. Waldeyer (1888) tenha sido quem
ocorrem permutações, o arranjo cis ou trans pode ser usou o termo cromossomo pela primeira vez, foi W. C.
identificado pela frequência das classes de gametas. Von Nageli (1842) quem primeiro os observou, mas foi
As classes mais frequentes indicam as combinações W. Fleming (1879-1875) que utilizando novas técnicas
parentais e as menos frequentes as recombinantes. de coloração os descreveu, denominando essa subs-
tância existente no núcleo de cromatina.
PADRÕES DE HERANÇA: AUTOSSÔMICA, LIGADA Foi Oscar Hertwig(1875) quem primeiro referiu a
AO SEXO – DOMINANTE E RECESSIVA. GRUPOS SAN- fusão do esperma com o ovo para formar o zigoto.
GUINEOS. A identificação dos cromossomos como carrega-
dores dos genes foi rapidamente demonstrada em
Teoria Cromossômica da Herança trabalhos de 1880 de T. Boveri, K. Rabi e E. Van Bre-
den, e mais tarde evidenciadas em publicações de
A noção que os cromossomos carregam os ge- Mc.Clung (1902), W.S.Sutton (1903), T.Boveri (1904),
nes, como percebe-se, só foi aceita mais tarde e E.B.Wilson (1905).
constituiu-se na Teoria Cromossômica da Herança. Em 1885, A. Weissmann já afirmava que a he-
rança era baseada exclusivamente no núcleo e em
Thomas Hunt Morgan em 1910, trouxe a primeira
1887 predizia a ocorrência e uma divisão redutora
evidência para essa teoria. Foi obtida a partir de es-
que denominou de meiose.
280 tudos em uma mosca da fruta, a Drosophila melano-
Em 1890, O. Hertwig e T. Boveri descreviam o pro-
gaster.
cesso de meiose em detalhe.
Em 1913, A. Sturtevant criava o primeiro mapa
genético usando as características deDrosophila me-
lanogaster. Demonstrava que os genes existiam em
ordem linear nos cromossomos.
Em 1927, L. Stadler e H. J. Muller demonstravam
que os genes podiam ser originados artificialmente
ou induzidos por mutações usando radiações ioni-
zantes como o Raio-X.
Os cromossomos de eucariotes são formados por
Esse organismo que mostrou-se como um dos nucleoproteinas, as histonas e não histonas associa-
mais adequados organismos para estudos genéti- das a DNA. Possuem em sua estutura dois braços
cos, pelo seu pequeno tamanho e baixo número de separados por uma constrição primário ou centrô-
cromossomos, fácil criação em pequenos espaços mero, e ainda constricções secundárias que sepa-
de laboratório, cultura de manutenção econômica, ram eventuamente o braço cromossômico de uma
grande número de descendentes por geração, gran- pequena região chamada de satélite. No M.E., um
de número de gerações em pouco espaço de tem- cromossomo na fase descondensada e com ativi-
po e a possibilidade de se obter fêmeas virgens logo dade de síntese de RNA, pode ser observado com
após a eclosão para efetuar cruzamentos precisos. um estrutura de contas em colar (os nucleossomos)
Morgan cruzou moscas de linhagens puras com olhos constituídos de DNA enrolado (core DNA) em uma
vermelhos (gene dominante) e de olhos brancos. En- bola de 4 pares de histonas, H2A, H2B, H3 e H4, (core
tretanto nem toda a progênie era de olho vermelho. Histona) que juntos constituem cada nucelossomo.
Quando cruzava machos de olho vermelho da ge- Observe o esquema na figura a seguir.
ração F1 com suas irmãs fêmeas de olho vermelho
produzia somente ¼ de machos de olho branco mas
nenhuma fêmea de olho branco.
Nas transfusões de sangue deve-se saber se há ou não compatibilidade entre o sangue do doador e
o do receptor. Se não houver essa compatibilidade, ocorre aglutinação das hemácias que começam a se
dissolver (hemólise). Em relação ao sistema ABO, o sangue doado não deve conter aglutinogênios A; se o
sangue do receptor apresentar aglutininas anti-B, o sangue doado não pode conter aglutinogênios B.
282
Em geral os indivíduos Rh negativos (Rh-) não possui aglutininas anti-Rh. No entanto, se receberem san-
gue Rh positivo (Rh+), passam a produzir aglutininas anti-Rh. Como a produção dessas aglutininas ocorre de
forma relativamente lenta, na primeira transfusão de sangue de um doador Rh+ para um receptor Rh-, geral-
mente não há grandes problemas. Mas, numa segunda transfusão, deverá haver considerável aglutinação
das hemácias doadas. As aglutininas anti-Rh produzidas dessa vez, somadas as produzidas anteriormente,
podem ser suficientes para produzir grande aglutinação nas hemácias doadas, prejudicando os organismos.
CONCEITO
Refere-se à herança de genes localizados na porção não homóloga do cromossomo X (mamíferos, Dro-
sophila, etc.) ou no cromossomo análogo Z.
CARACTERÍSTICAS
Herança do tipo avô-neto. Neste caso o fenótipo do avô desaparece na F1 e volta aparecer na F2.
EXEMPLOS
Neste exemplo a segregação fenotípica ocorre apenas no sexo feminino, no qual o alelo W determina as
asas de cor branca e o alelo recessivo w determina asas de cor amarela. Os machos só se apresentam com
asas amarelas.
Penas de galinhas
Neste exemplo a segregação fenotípica ocorre apenas no sexo masculino. No sexo feminino, o fenótipo
é o mesmo, independente do genótipo da ave.
O alelo H inibe a presença de penas masculinas quando em presença de hormônios sexuais masculinos.
Se o galo Hh for castrado, o nível de hormônios masculino decresce e o efeito inibitório do alelo H desapare-
ce, permitindo h manifestar-se e o galo passa, após castrado, ter penas de galos.
285
Herança Quantitativa
A herança quantitativa também é um caso particular de interação gênica. Neste caso, em que as dife-
renças fenotípicas de uma dada característica não mostram variações expressivas, as variações são lentas e
contínuas e mudam gradativamente, saindo de um fenótipo “mínimo” até chegar a um fenótipo “máximo”.
É fácil concluir, portanto, que na herança quantitativa (ou poligênica) os genes possuem efeito aditivo e
recebem o nome de poligenes.
A herança quantitativa é muito frequente na natureza. Algumas características de importância econô-
mica, como a produção de carne em gado de corte, produção de milho etc., são exemplos desse tipo de
herança. No homem, a estatura, a cor da pele e, inclusive, inteligência, são casos de herança quantitativa.
Herança da cor da pele no homem
Segundo Davenport (1913), a cor da pele na espécie humana é resultante da ação de dois pares de
genes (AaBb), sem dominância. Dessa forma, A e B determinam a produção da mesma quantidade do pig-
mento melanina e possuem efeito aditivo. Logo, conclui-se que deveria existir cinco tonalidades de cor na
pele humana, segundo a quantidade de genes A e B.
Genótipos Fenótipos
aabb pele clara
Aabb, aaBb mulato claro
AAbb, aaBB, AaBb mulato médio
AABb, AaBB mulato escuro
AABB pele negra
Vejamos os resultados genotípicos e fenotípicos que seriam obtidos a partir do cruzamento de dois indiví-
duos mulatos médios, duplo-heterozigotos:
mulato médo X mulato médio
AaBb AaBb
AB Ab aB ab
AABB AABb AaBB AaBb
AB
Negro mulato escuro mulato escuro Púrpura
AABb AAbb AaBb Aabb
Ab
mulato escuro mulato médio mulato médio mulato claro
AaBB AaBb aaBB aaBb
aB
mulato escuro mulato médio mulato médio mulato claro
AaBb Aabb aaBb aabb
ab
mulato médio mulato claro mulato claro Branca
Fenótipos:
1/16 : 4/16 : 6/16 :
4/16 : 1/16
branco mulato claro mulato
médio mulato escuro negro
O número de fenótipos que podem ser encon- RNA - O ácido ribonucleico (RNA) é uma molé-
trados, em um caso de herança poligênica, depen- cula também formada por um açúcar (ribose), um
de do número de pares de alelos envolvidos, que grupo fosfato e uma base nitrogenada (U ou uracila,
chamamos n. A ou adenina, C ou citosina e G ou guanina). Um gru-
po reunindo um açúcar, um fosfato e uma base é um
Número de fenótipos = 2n + 1 “nucleotídeo”.
Código genético - A informação contida no DNA,
o código genético, está registrada na sequência de
Se uma característica é determinada por três
suas bases na cadeia (timina sempre ligada à ade-
pares de alelos, sete fenótipos distintos podem ser
nina, e citosina sempre com guanina). A sequência
encontrados. Cada grupo de indivíduos que expres-
indica outra sequência, a de aminoácidos - substân-
sam o mesmo fenótipo constitui uma classe fenotí-
cias que constituem as proteínas. O DNA não é o fa-
pica.
bricante direto das proteínas; para isso ele forma um
Sabendo-se o número de pares envolvidos na
tipo específico de RNA, o RNA mensageiro, no pro-
herança, podemos estimar a frequência esperada
cesso chamado transcrição. O código genético, na
de indivíduos que demonstram os fenótipos extre-
forma de unidades conhecidas como genes, está no
mos, em que n é o número de pares de genes.
DNA, no núcleo das células. Já a “fábrica” de pro-
teínas se localiza no citoplasma celular em estruturas
Frequencia dos fenótipos extremos =1/4n específicas, os ribossomos, para onde se dirige o RNA
mensageiro. Na transcrição, apenas os genes relacio-
APLICAÇÃO DOS CONHECIMENTOS ATUAIS DE nados à proteína que se quer produzir são copiados
GENÉTICA NA TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINAN- na forma de RNA mensageiro. Cada grupo de três
TE – RETROCRUZAMENTO INTERAÇÃO GÊNICA - HE- bases (ACC, GAG, CGU etc.) é chamado códon e é
RANÇA LIGADA AO SEXO - MUTAÇÕES - GRUPOS específico para um tipo de aminoácido. Um pedaço
SANGUÍNEOS. de ácido nucléico com cerca de mil nucleotídeos de
comprimento pode, portanto, ser responsável pela
DNA e RNA síntese de uma proteína composta de centenas de
aminoácidos. Nos ribossomos, o RNA mensageiro é
Substâncias químicas das quais são feitos os ge- por sua vez lido por moléculas de RNA de transferên- 287
nes. Verifica-se isso pelo fato de essas moléculas cia, responsável pelo transporte dos aminoácidos até
estarem envolvidas na transmissão dos caracteres o local onde será montada a cadeia proteica. Essa
hereditários e na produção de proteínas. Estas úl- produção de proteínas com base em um código é o
timas são os principais compostos constituintes dos fundamento da engenharia genética.
seres vivos e estão em produção constante pelas Texto adaptado de Maria Duarte Mendonça.
células sob ordem dos genes. Ou seja, do DNA e do
RNA, siglas que em inglês significam, respectivamen- Herança mendeliana.
te, ácido desoxirribonucleico e ácido ribonucleico.
De maneira geral, se diz que são ácidos nucléicos e A genética mendeliana, herança mendeliana ou
também se podem chamá-los pela sigla em portu- Mendelismo é um conjunto de princípios relaciona-
guês ADN e ARN. De acordo com a moderna biolo- dos à transmissão hereditária das características de
gia, com exceção dos retrovírus, o DNA produz RNA, um organismo a seus filhos. Consiste na base principal
que, por sua vez, produz proteína. da genética clássica. Originou-se dos trabalhos de
DNA - O ácido desoxirribonucleico é uma molé- Mendel publicados em 1865 e 1866, os quais foram
cula formada por duas cadeias na forma de uma considerados controversos inicialmente, e redesco-
dupla hélice. Essas cadeias são constituídas de um bertos em 1900. Somente quando incorporada à teo-
açúcar, chamado desoxirribose, um grupo fosfato e ria do cromossomo de Thomas Hunt Morgan em 1915
quatro bases nitrogenadas, chamadas T ou timina, A foi que a Genética mendeliana se tornou a essência
ou adenina, C ou citosina e G ou guanina. O fato de da genética clássica.
o DNA ter a forma de duas hélices, enroladas uma Gregor Johann Mendel nasceu a 20 de Julho de
1822, na Silésia, sendo batizado a 22 de julho de 1822,
na outra, é um fator essencial na sua replicação, isto
o que gera confusão em relação ao dia de seu nasci-
é, a sua reprodução, gerando uma nova molécula
mento. Segundo consta, era pobre, e aos 21 anos de
de DNA enquanto ocorre a divisão celular. Durante
idade entrou para um convento da Ordem de Santo
a replicação, as duas hélices se desenrolam uma da
Agostinho, de onde seus superiores o enviaram a Vie-
outra e cada uma delas serve de molde para fazer
na a fim de estudar história natural. Indicado depois
duas novas.
para professor-substituto dessa matéria, jamais con- estavam maduras, polinizou as flores de ervilha ama-
seguiu, entretanto, a aprovação nos exames para se rela com o pólen das flores de ervilha verde, e vice-
tornar efetivo no cargo. Seu trabalho genial colocou versa. Essas plantas constituem portanto as linhagens
-o no nível dos maiores cientistas da humanidade. parentais. Os descendentes desses cruzamentos
Sua obra Experiências com hibridização de plantas, constituem a primeira geração em estudo designada
que não abrange mais de 30 páginas impressas, é por geração F¹, assim como as seguintes são desig-
um modelo de método científico. O que descobriu, nadas por F², F³, etc.
e vem sendo ensinado desde 1900, se tornou abso-
lutamente imprescindível para a compreensão da Primeira Lei: Lei da Segregação
Biologia moderna.
A primeira lei de Mendel, chamada de lei da se-
Baseado em trabalhos já existentes acerca de gregação ou lei da pureza dos gametas, pode ser
hibridização de plantas ornamentais, mas que não enunciada da seguinte forma: na formação dos ga-
haviam sido bem-sucedidos, tais como o trabalho de metas, os pares de fatores se segregam. Todas as
Kölreuter, Gartner, e outros, Mendel decidiu estudar sementes obtidas em F¹, foram amarelas (por serem
o mesmo problema. O primeiro cuidado que teve foi dominantes e as verdes recessivas), portanto iguais a
selecionar devidamente o material de estudo; para um dos pais. Uma vez que todas as sementes eram
isso, estabeleceu alguns critérios e procurou mate- iguais, Mendel plantou-as e deixou que as plantas
rial que se lhes adequassem. Tais critérios consistiam quando florescessem, se autofecundassem, produ-
principalmente em encontrar plantas de caracteres zindo assim a geração F². As sementes obtidas na ge-
nitidamente distintos e facilmente diferenciáveis; que ração F² foram verdes e amarelas, na proporção de 3
essas plantas cruzassem bem entre si, e que os híbri- para 1, sempre 3 amarelas para 1 verde. Inclusive na
dos delas resultantes fossem igualmente férteis e se análise de dois caracteres simultaneamente, Mendel
reproduzissem bem; e, por fim, que fosse fácil prote- sempre caía na proporção final de 3:1.
gê-las contra polinização estranha. Baseado nesses Para explicar a ocorrência de somente sementes
critérios, depois de várias análises, Mendel escolheu amarelas em F¹ os dois tipos em F², Mendel come-
algumas variedades e espécies de ervilhas (Pisum sa- çou admitindo a existência de fatores que passas-
tivum), conseguindo um total de sete pares de ca- sem dos pais para os filhos por meio dos gametas.
288 racteres distinto. Cada fator seria responsável pelo aparecimento de
Vamos chamar de linhagem os descendentes de um caráter. Assim, existiria um fator que condiciona
um ancestral comum. Mendel observou que as dife- o caráter amarelo e que podemos representar por
rentes linhagens, para os diferentes caracteres esco- A (maiúsculo), e um fator que condiciona o caráter
lhidos, eram sempre puras, isto é, não apresentavam verde e que podemos representar por a (minúsculo).
variações ao longo das gerações. Por exemplo, a li- Quando a ervilha amarela pura é cruzada com uma
nhagem que apresentava sementes da cor amarela ervilha verde pura, o híbrido F¹ recebe o fator A e o
produziam descendentes que apresentavam exclu- fator a, sendo portanto, portador de ambos os fato-
sivamente a semente amarela. O mesmo caso ocor- res. As ervilhas obtidas em F¹ eram todas amarelas,
re com as ervilhas com sementes verdes. Essas duas isso quer dizer que, por ter o fator A (maiusculo), esse
linhagens eram, assim, linhagens puras. Mendel re- se manifestou, sendo assim chamado de “dominan-
solveu então estudar esse caso em especifico. A flor te”. Mendel chamou de “recessivo” (a)(minúsculo) o
de ervilha é uma flor típica da família das Legumino- fator que não se manifesta em F¹. Utiliza-se sempre
sae. Apresenta cinco pétalas, duas das quais estão a letra do caráter recessivo para representar ambos
opostas formando a carena, em cujo interior ficam os os caráteres, sendo maiúscula a letra do dominante
órgãos reprodutores masculinos e femininos. Por isso, e minúscula a do recessivo. Continuando a análise,
nessa família, a norma é haver autofecundação; ou Mendel contou em F², o número de indivíduos com
seja, o grão de pólen da antera de uma flor cair no caráter recessivo, e verificou que eles ocorrem sem-
pistilo da própria flor, não ocorrendo fecundação pre na proporção de 3 dominantes para 1 recessivo.
cruzada. Logo para cruzar uma linhagem com a ou- Mendel chegou a conclusão que o fator para
tra era necessário evitar a autofecundação. verde só se manifesta em indivíduos puros, ou seja
Mendel escolheu alguns pés de ervilha de semen- com ambos os fatores iguais à a (minúsculo). Em F¹
te amarela e outros de semente verde, emasculou as plantas possuíam tanto os fatores A quanto o fa-
as flores ainda jovens, ainda não-maduras. Para isso, tor a sendo, assim, necessariamente amarelas. Pode-
retirou das flores as anteras imaturas, tornando-as, mos representar os indivíduos da geração F¹ como
desse modo, completamente femininas. Depois de Aa (heterozigoto e, naturalmente, dominante). Logo
algum tempo, quando as flores se desenvolveram e para poder formar indivíduos aa (homozigotos reces-
sivos) na geração F² os gametas formados na fecun- Cruzamentos possíveis de todos os gametas ob-
dação só poderiam ser aa. Esse fato não seria possível tidos
se a geração desse origem a gametas com fatores
iguais aos deles (Aa). Isso só seria possível se ao ocorrer Gametas AB Ab aB ab
a fecundação houvesse uma segregação dos fato- AB AABB AABb AaBB AaBb
res A e a presentes na geração F¹, esse fatores seriam Ab AABb AAbb AaBb Aabb
misturados entre os fatores A e a provenientes do pai aB AaBB AaBb aaBB aaBb
e os fatores A e a provenientes da mãe. Os possíveis ab AaBb Aabb aaBb aabb
resultados sendo: AA, Aa e aa. Esse fato foi posterior-
mente explicado pela meiose, que ocorre durante a A_: Dominante(cor Amarela). B_: Dominante(for-
formação dos gametas. Mendel havia criado então ma Lisa). aa: Recessivo(cor Verde). bb: Recessivo(for-
sua teoria sobre a hereditariedade e da segregação ma Rugosa).
dos fatores. Obs.: Foram obtidos dezesseis resultados entre
os cruzamentos dos possíveis tipos de cromossomos.
Segunda Lei: Segregação independente Obs.2: A proporção obtida na experiencia decorre
da soma do número de ocorrencias. Exemplo: Ama-
A Segunda Lei de Mendel é também conhecida rela e Lisa(A_B_)- 1/16x9= 9/16.
como Lei da segregação independente dos genes. Assim na geração F2 constata-se a existência de
Mendel em seus experimentos também cruzou plan- quatro fenótipos distintos, sendo dois idênticos da ge-
tas que diferiam em relação a dois pares de alelos. ração parental e dois novos(A_bb e aaBabba_). To-
Neste cruzamento, que objetivava esclarecer a rela- dos os resultados confirmaram que os genes de cada
ção de diferentes pares de alelos, ele cruzou plantas carácter passavam de forma independente dos de-
que possuíam sementes amarelas e lisas com plantas mais, ou seja, o fenótipo dominante - amarelo - não
que possuíam sementes verdes e rugosas. A progênie era transmitido obrigatoriamente com o fenótipo do-
F1 resultante entre o cruzamento dos progenitores ho-
minante - liso, o mesmo ocorreu com a transmissão
mozigota é formada por híbridos(heterozigotos) para
dos fenótipos recessivos - verde e rugoso - para os
dois pares de genes. A progênie F1 (GgWw) é forma-
descendentes. A segunda Lei de Mendel também
da por diíbridos e, por extensão, o cruzamento GGWW
denominada de lei da segregação independente foi
x ggww é um cruzamento diíbrido. Sabia-se, graças à 289
criada por Gregor Mendel diz que, as diferenças de
experiências anteriores, que os alelos que determina-
uma característica são herdadas independentemen-
vam sementes amarelas e lisas eram dominantes e
te das diferenças em outras características.
sobre seus respectivos alelos, que produziam semen-
tes verdes e rugosas. Assim, considerando dois deles
Mecanismos hereditários não previstos por Men-
tinham-se as informações: caráter cor dos cotilédones
del
já tinha sido observado que o padrão amarelo (V_)
apresentava dominância sobre o padrão verde (vv);
Co-dominância
caráter aspecto da casca da semente neste caso, já
se observa que o padrão de casca lisa (R_) era domi- Alelos múltiplos
nante sobre o tipo casca rugosa (rr). Genes Letais
Os cruzamentos foram realizados no mesmo es-
quema da elaboração da primeira lei. A geração Importância dos estudos de Mendel
parental(P) utilizava duas plantas homozigóticas para
as características estudadas, assim uma duplo-do- Embora as conclusões de Mendel tenham se
minante (AA) era cruzada com um duplo-recessiva baseado em trabalhos com uma única espécie de
(aa). Desse cruzamento surgiu um híbrido heterozigó- planta, os princípios enunciados nas duas leis apli-
tico (Aa). Mendel selecionou dois caracteres das sete cam-se a todos os organismos de reprodução sexua-
estudadas na primeira lei para comparação, ervilhas da. Pode-se tomar como exemplo um caso de he-
amarelas(AA) e lisas(BB)(duplo-dominante) e ervilhas rança animal. Cobaias pretas homozigotas cruzadas
verdes(aa) e rugosas(bb)(duplo-recessiva).No primeiro com cobaias brancas homozigotas originarão des-
cruzamento (F1) todas as ervilhas obtidas eram ama- cendentes pretos heterozigotos, que cruzados entre
relas(Aa) e lisas(Bb). Na segunda geração(F2) foram si, originarão cobaias pretas e brancas na proporção
obtidas ervilhas amarelas(A_) e lisas(B_), amarelas(A_) 3:1. Mendel criou a base da genética moderna. Em-
e rugosas(bb),verdes(aa) e lisas(B_) e verdes(aa)e ru- bora seus estudos tenham permanecidos obscuros
gosas(bb), Na proporção, respectivamente, 9:3:3:1 até o século XX eles influenciaram a biologia como
(P)AA/aa + BB/bb (F1)AAxaa=Aa BBxbb=Bb (F2)Aa- um todo dando origem a todos os estudos posteriores
xAa=AA/Aa/Aa/aa BbxBb=BB/Bb/Bb/bb sobre hereditariedade e genética.
A herança dos tipos sanguíneos do sistema ABO constitui um exemplo de alelos múltiplos na espécie hu-
mana.
Por volta de 1900, o médico austríaco Karl Landsteiner (1868 – 1943) verificou que, quando amostras de
sangue de determinadas pessoas eram misturadas, as hemácias se juntavam, formando aglomerados seme-
lhantes a coágulos. Landsteiner concluiu que determinadas pessoas têm sangues incompatíveis, e, de fato, as
pesquisas posteriores revelaram a existência de diversos tipos sanguíneos, nos diferentes indivíduos da popula-
ção. Quando, em uma transfusão, uma pessoa recebe um tipo de sangue incompatível com o seu, as hemá-
cias transferidas vão se aglutinando assim que penetram na circulação, formando aglomerados compactos
que podem obstruir os capilares, prejudicando a circulação do sangue.
Aglutinogênios e Aglutininas
No sistema ABO existem quatro tipos de sangues: A, B, AB e O. Esses tipos são caracterizados pela presença
ou não de certas substâncias na membrana das hemácias, os aglutinogênios, e pela presença ou ausência
de outras substâncias, as aglutininas, no plasma sanguíneo. Existem dois tipos de aglutinogênio, A e B, e dois
tipos de aglutinina, anti-A e anti-B. Pessoas do grupo A possuem aglutinogênio A, nas hemácias e aglutinina
anti-B no plasma; as do grupo B têm aglutinogênio B nas hemácias e aglutinina anti-A no plasma; pessoas do
grupo AB têm aglutinogênios A e B nas hemácias e nenhuma aglutinina no plasma; e pessoas do gripo O não
tem aglutinogênios na hemácias, mas possuem as duas aglutininas, anti-A e anti-B, no plasma. Determinação
dos grupos sanguíneos utilizando soros anti-A e anti-B. Amostra 1- sangue tipo A. Amostra 2 - sangue tipo B.
290 Amostra 3 - sangue tipo AB. Amostra 4 - sangue tipo O.
Assim, o aspecto realmente importante da trans- dos M e N. Analisando o sangue de diversas pessoas,
fusão é o tipo de aglutinogênio da hemácia do doa- verificou-se que em algumas existia apenas o antíge-
dor e o tipo de aglutinina do plasma do receptor. Indi- no M, em outras, somente o N e várias pessoas pos-
víduos do tipo O podem doar sangue para qualquer suíam os dois antígenos. Foi possível concluir então,
pessoa, porque não possuem aglutinogênios A e B que existiam três grupos nesse sistema: M, N e MN. Os
em suas hemácias. Indivíduos, AB, por outro lado, po- genes que condicionam a produção desses antíge-
dem receber qualquer tipo de sangue, porque não nos são apenas dois: L M e L N (a letra L é a inicial do
possuem aglutininas no plasma. Por isso, indivíduos do descobridor, Landsteiner). Trata-se de uma caso de
grupo O são chamadas de doadores universais, en- herança medeliana simples. O genótipo L ML M, con-
quanto os do tipo AB são receptores universais. diciona a produção do antígeno M, e L NL N, a do an-
tígeno N. Entre L M e L N há co-dominância, de modo
que pessoas com genótipo L ML N produzem os dois
tipos de antígenos.
Genótipos Fenótipos
M L ML M
N L NL N
MN L ML N
Transfusões no Sistema MN
anti-Rh, cerca de 85% dos indivíduos apresentavam sanguínea, se o filho é Rh + novamente, o organismo
aglutinação (e pertenciam a raça branca) e 15% materno já conterá anticorpos para aquele antíge-
não apresentavam. Definiu-se, assim, “o grupo san- no e o feto poderá desenvolver a DHPN ou eritroblas-
guíneo Rh +” (apresentavam o antígeno Rh), e “o gru- tose fetal.
po Rh -“ ( não apresentavam o antígeno Rh). No plas- O diagnóstico pode ser feito pela tipagem san-
ma não ocorre naturalmente o anticorpo anti-Rh, de guínea da mãe e do pai precocemente e durante
modo semelhante ao que acontece no sistema Mn. a gestação o teste de Coombs que utiliza anti-an-
O anticorpo, no entanto, pode ser formado se uma ticorpo humano pode detectar se esta havendo a
pessoa do grupo Rh -, recebe sangue de uma pessoa produção de anticorpos pela mãe e providências
do grupo Rh +. Esse problema nas transfusões de san- podem ser tomadas. Uma transfusão , recebendo
gue não são tão graves, a não ser que as transfusões sangue Rh -, pode ser feita até mesmo intra-útero já
ocorram repetidas vezes, como também é o caso do que Goiânia está se tornando referência em fertili-
sistema MN. zação in vitro. O sangue Rh - não possui hemácias
com fator Rh e não podem ser reconhecidas como
A Herança do Sistema Rh estranhas e destruídas pelos anticorpos recebidos
da mãe. Após cerca de 120 dias, as hemácias serão
Três pares de genes estão envolvidos na herança substituídas por outras produzidas pelo próprio indiví-
do fator Rh, tratando-se portanto, de casos de alelos duo. O sangue novamente será do tipo Rh +, mas o
múltiplos. Para simplificar, no entanto, considera-se o feto já não correrá mais perigo.
envolvimento de apenas um desses pares na produ- Após o nascimento da criança toma-se medida
ção do fator Rh, motivo pelo qual passa a ser consi- profilática injetando, na mãe Rh- , soro contendo anti
derado um caso de herança mendeliana simples. O Rh. A aplicação logo após o parto, destrói as hemá-
gene R, dominante, determina a presença do fator cias fetais que possam ter passado pela placenta no
Rh, enquanto o gene r, recessivo, condiciona a au- nascimento ou antes. Evita-se, assim, a produção de
sência do referido fator.
anticorpos “zerando o placar de contagem”. Cada
vez que um concepto nascer e for Rh+ deve-se fazer
Genótipos Fenótipos nova aplicação pois novos anticorpos serão forma-
292 Rh +
RR ou Rr dos. Os sintomas no RN que podem ser observados
Rh -
rr são anemia (devida à destruição de hemácias pe-
los anticorpos), icterícia (a destruição de hemácias
Doença hemolítica do recém-nascido ou eritro- aumentada levará a produção maior de bilirrubina
blastose fetal indireta que não pode ser convertida no fígado), e
após sua persistência o aparecimento de uma doen-
Uma doença provocada pelo fator Rh é a eritro- ça chamada Kernicterus que corresponde ao depó-
blastose fetal ou doença hemolítica do recém-nasci- sito de bilirrubina nos núcleos da base cerebrais o
do, caracterizada pela destruição das hemácias do que gerará retardo no RN.
feto ou do recém-nascido. As consequências desta
doença são graves, podendo levar a criança à mor- Ligação gênica.
te. Durante a gestação ocorre passagem, através
da placenta, apenas de plasma da mãe para o fi- O que é ligação gênica?
lho e vice-versa devido à chamada barreira hema-
to-placentária. Pode ocorrer, entretanto, acidentes Dois ou mais pares de genes alelos localizados
vasculares na placenta, o que permite a passagem em diferentes pares de cromossomos homólogos se-
de hemácias do feto para a circulação materna. Nos gregam-se independentemente. Portanto, esta é a
casos em que o feto possui sangue fator rh positivo os condição de validade da segunda lei de Mendel.
antígenos existentes em suas hemácias estimularão o Quando dois ou mais pares de genes alelos estão
sistema imune materno a produzir anticorpos anti-Rh localizados em um mesmo par de cromossomos ho-
que ficarão no plasma materno e podem, por serem mólogos, eles não obedecem à lei da segregação
da classe IgG, passar pela BHP provocando lise nas independente. Afinal, durante a meiose irá haver
hemácias fetais. A produção de anticorpos obedece uma tendência de que esses genes permaneçam
a uma cascata de eventos (ver imunidade humoral) unidos, quando o par de homólogos se separar,
e por isto a produção de anticorpos é lenta e a quan- como mostra a figura abaixo.
tidade pequena num primeiro. A partir da segunda
gestação, ou após a sensibilização por transfusão
Quando dois ou mais pares de genes alelos se localizam em um mesmo par de cromossomos, dizemos
que eles apresentam ligação gênica (ou ligação fatorial). Os autores de língua inglesa dão a essa situação o
nome de linkage. No entanto, há um fenômeno capaz de alterar essa tendência de união. É a permutação
gênica (ou crossing-over), troca de fragmentos entre cromossomos homólogos, que pode acontecer na
prófase da primeira divisão da meiose.
Quando dois pares de genes alelos estão situados de tal forma, em um par de homólogos, que não ocor-
re permutação entre eles, diz-se que há linkage total entre eles. Caso haja permutação, o linkage é parcial.
Em um caso de ligação gênica, não basta se conhecer o genótipo de um indivíduo. É necessário que
se determine a posição relativa dos genes no par de homólogos. Por que isso é tão importante? Observe as
duas situações mostradas a seguir:
293
Podemos notar que, embora as duas células possuam os mesmos genes, a sua posição, no par de cro-
mossomos homólogos não é a mesma, o que determina a produção de tipos diferentes de gametas, na
meiose.
Existem diversas formas de se indicar a posição dos genes no par de homólogos. As mais comuns são:
Uma outra forma de se indicar essa posição relativa dos genes é uma nomenclatura habitualmente usa-
da pela química orgânica. O duplo-heterozigoto que tem os dois genes dominantes no mesmo cromossomo
e os dois recessivos no outro (AB/ab) é chamado de heterozigoto “cis”. O duplo-heterozigoto cujos genes
dominantes estão em cromossomos diferentes do par de homólogos (Ab/aB) é o heterozigoto “trans”.
2. Gametas parentais e recombinantes
Quando as células de um indivíduo cujo genótipo é genótipo AB/ab sofrem meiose e originam gametas,
os tipos de gametas formados podem variar em função da ocorrência ou não da permutação.
Não acontecendo o crossing-over, apenas dois tipos de gametas poderão se formar: AB e ab. Caso ocor-
ra o crossing-over, além desses dois tipos também poderão ser encontrados os gametas aB e Ab.
É importante destacar que, mesmo ocorrendo o crossing-over, os gametas AB e ab se formam, uma vez
que as cromátides externas não trocam fragmentos entre si. Veja novamente a figura anterior e repare que
apenas as cromátides internas, também chamadas cromátides vizinhas, trocam fragmentos!
Os gametas dos tipos AB a ab, cujo aparecimento não depende da ocorrência da permutação, são
chamados gametas parentais, porque eles refletem a posição dos genes nas células. Os gametas dos tipos
Ab e aB, que só aparecem caso aconteça a permutação, são chamados recombinantes.
Herança e sexo
Em condições normais, qualquer célula diplóide humana contém 23 pares de cromossomos homólogos,
isto é, 2n= 46. Desses cromossomos, 44 são autossomos e 2 são os cromossomos sexuais também conhecidos
como heterossomos.
Autossomos e heterossomos
Os cromossomos autossômicos são os relacionados às características comuns aos dois sexos, enquanto
os sexuais são os responsáveis pelas características próprias de cada sexo. A formação de órgãos somáticos,
tais como fígado, baço, o estômago e outros, deve-se a genes localizados nos autossomos, visto que esses
órgãos existem nos dois sexos. O conjunto haplóide de autossomos de uma célula é representado pela letra
A. Por outro lado, a formação dos órgãos reprodutores, testículos e ovários, característicos de cada sexo, é
condicionada por genes localizados nos cromossomos sexuais e são representados, de modo geral, por X e Y.
O cromossomo Y é exclusivo do sexo masculino. O cromossomo X existe na mulher em dose dupla, enquanto
no homem ele se encontra em dose simples. Microscopia Eletrônica do cromossomo X e Y. Compare a dife-
rença de tamanho de cada cromossomo.
Os cromossomos sexuais
O cromossomo Y é mais curto e possui menos genes que o cromossomo X, além de conter uma porção
encurtada, em que existem genes exclusivos do sexo masculino. Observe na figura abaixo que uma parte
do cromossomo X não possui alelos em Y, isto é, entre os dois cromossomos há uma região não-homóloga.
O sistema X0
Daltonismo
tas nessa área têm sido obtidas através de métodos do corpo do indivíduo adulto, uma vez que materiais
de genética molecular e de genética clássica. O seu diferentes, distribuídos assimetricamente nessa célu-
principal objetivo é compreender os mistérios que la, poderão facilitar ou limitar as divisões celulares (e
conduzem um ovo fertilizado a um complexo orga- seus respectivos planos de divisão) em determinadas
nismo multicelular, com diferentes tipos celulares es- regiões, bem como os movimentos morfogenéticos.
pecializados, de forma ordenada. A embriologia, por Com isso, o material citoplasmático também é redis-
sua vez, é uma ciência cujos principais problemas, tribuído assimetricamente entre as células filhas. Atra-
teorias, e frequentemente as técnicas que desper- vés do processo de clivagem, são produzidas várias
tam o nosso interesse atualmente, são essencialmen- células filhas por divisões mitóticas, até o estágio cha-
te os mesmos de algumas décadas atrás. Portanto, mado de blástula ou blastocisto (em alguns casos),
esses problemas já foram definidos há algum tempo caracterizado pela existência de uma cavidade ou
pelos pesquisadores, e até hoje ainda existem muitas lacuna no interior de um epitélio circundante.
dúvidas a respeito da diferenciação celular. O blastóporo é a porção representada pela linha
Segundo Ashworth (1973), existem dois caminhos de invaginação, através da qual ocorre em seguida
para se tentar compreender, experimentalmente, o movimento de gastrulação. Essa invaginação (em
um fenômeno tão complexo quanto a diferencia- direção à cavidade interior da blástula) formará o in-
ção celular. O primeiro caminho, o qual pode ser testino primitivo do embrião, e também possibilitará
chamado de abordagem reducionista, inicialmente o surgimento dos primeiros tecidos: Ectoderma, me-
consiste em subdividir o problema em vários proble- soderma e endoderma, os quais seguirão diferentes
mas menores, e, posteriormente, encontrar um siste- caminhos de especialização, até o final deste pro-
ma biológico suficientemente simples, o qual possa cesso, com os indivíduos adultos. As informações ne-
nos mostrar apenas as características necessárias à cessárias para o desenvolvimento de um indivíduo e/
compreensão da cada um dos problemas menores, ou a especialização celular, estão contidas primor-
já que o problema central foi dividido. Por exemplo, dialmente no seu genoma. Ao mesmo tempo, um
um bacteriófago (tomado como um dos mais sim- único indivíduo deve possuir diferentes tipos celulares
ples sistemas vivos) seria interessante para estudos de especializados, contendo o mesmo genoma, que di-
ferem entre si na expressão de determinados genes,
mutações no material genético. O segundo caminho
característicos do tipo celular em questão.
pode ser chamado de abordagem clássica, assu-
Devido à assimetria da célula-ovo, a clivagem 299
me que como resultado de intensa pressão evoluti-
também é assimétrica. Dessa forma, um determinado
va, cada característica existente em um organismo
conjunto de blastômeros pode possuir diferentes mR-
pode, de alguma forma, estar presente de maneira
NAs e produtos gênicos diferentes de outro conjunto,
mais intensa em um outro organismo, e a compreen-
o que acarretará também em diferentes destinos de
são de seu papel naquele organismo, também pode
especialização para essas células. As primeiras cliva-
ser alcançada com exemplos em outro organismo.
gens, que geram os blastômeros iniciais, não podem
Exemplo: Os cromossomos politênicos, que ocorrem
definir um grande número de tipos celulares. Através
em glândulas salivares de um grande número de in-
da interação entre essas células, ainda podem ser
setos, podem se tornar modelos interessantes para a
formados novos tipos de células, desde que as célu-
compreensão do comportamento das moléculas de las que interagem entre si tenham algum contato. Foi
DA, mesmo em organismos que não os apresentam. descoberto em Xenopus, que, quando blastômeros
Esses métodos de estudo foram bastante úteis duran- comprometidos a se diferenciarem em ectoderma,
te um longo período de tempo, e, atualmente, existe eram de alguma forma separados uns dos outros,
uma grande quantidade de métodos auxiliares para não havia a diferenciação destes tecidos em meso-
o estudo da diferenciação celular. Esta revisão cons- derma. Portanto, descobriu-se que era necessário o
ta de uma breve síntese sobre o assunto diferencia- contato entre esses dois tecidos primordiais para que
ção celular, sob os aspectos da expressão gênica e o mesoderma se desenvolvesse. À esse fenômeno,
do ciclo celular. dá-se o nome de indução, e através dele, as células
podem induzir as células vizinhas a se diferenciarem
DIFERENCIAÇÃO E CONTROLE DA EXPRESSÃO GÊ- em outro tipo. Um fato importante é que muitos tipos
NICA celulares podem ser gerados a partir de interações
indutivas, e as células geradas dessa maneira tam-
Descobriu-se que, desde as primeiras divisões ce- bém podem induzir as células vizinhas, e vice-versa,
lulares, o organismo já se apresenta sujeito a alguns sofrendo também indução. Existem sinais químicos
mecanismos de controle para a formação dos eixos responsáveis por esse fenômeno de indução, os quais
do corpo. Normalmente, a célula-ovo é assimétrica, e são proteínas sinalizadoras secretadas pelas células e
essa característica, por si só, pode definir os três eixos induzem a diferenciação de células vizinhas.
Há um grande número de moléculas sinalizadoras bem diferente em relação aos outros grupos animais,
atuando no embrião de um animal superior, as quais e, como consequência, o desenvolvimento inicial do
contribuirão conjuntamente para a formação dos embrião se dá concomitantemente ao desenvolvi-
padrões do corpo do animal adulto. No embrião de mento das estruturas anexas, que serão importantes
Xenopus, existe uma região diferenciada do meso- no auxílio de seu desenvolvimento. O desenvolvimen-
derma chamada “organizador de Spemann”, e esse to inicial em mamíferos é altamente regulatório, e há
organizador, por sua vez, secreta uma molécula sina- uma frequente interação entre células próximas. Além
lizadora específica, que atuará em células vizinhas. disso, existem também a influência ambiental no início
Esse sinal é uma molécula que se difunde entre as do desenvolvimento. Como não há assimetria entre os
células próximas, e supõe-se que essa molécula seja blastômeros iniciais, apenas a interação entre as célu-
lentamente degradada, na medida em que ela se las e o ambiente onde elas se encontram será respon-
afasta da célula fonte do sinal. Com isso, essa molé- sável pelo processo de diferenciação inicial. Dessa
cula estará em maior concentração próxima à fonte, forma, sinais químicos proteicos serão enviados para
e em concentrações cada vez menores na medida as células vizinhas, e determinados genes poderão ser
em que ela se distancia da célula que a secretou, ou ou não ativados nesse estágio.
seja, forma-se um gradiente de concentração dessa De algum modo, após as divisões celulares, as
substância. Como resultado, desse gradiente, as cé- células filhas devem conservar as características da
lulas, dependendo da sua distância da célula fonte célula-mãe, a fim de que essas características sejam
do sinal, estarão sujeitas à uma maior ou menor con- herdáveis pelas gerações subsequentes. A partir disto,
centração dessa molécula, e, dependendo dessa cria-se o conceito de memória celular, isto é, as cé-
concentração do sinal, essas células podem se tornar lulas “lembram-se” das influências das células que as
diferentes. Tal substância, de concentração variável originaram, e as passam adiante para as suas descen-
(dependendo da sua localização), é denominada dentes. Por exemplo, quando uma célula de pigmen-
morfógeno. to sofre mitose, , as suas células filhas continuam a ser
Os gradientes de morfógeno podem controlar o pigmentadas, quando um queratinócito se divide, as
posicionamento ou a diferenciação das células. Exis- características dessa célula são conservadas nas célu-
te um limiar de resposta aos morfógenos, através do las filhas. Há um estágio, no início do desenvolvimento,
qual uma célula necessita de uma concentração em que a célula assume certo comprometimento com
300 mínima desta molécula para responder ao sinal de uma determinada via de diferenciação, antes mesmo
determinada forma. Através desse limiar de resposta, que essa diferenciação comece a se manifestar, a
células expostas a diferenças mínimas de concen- partir de um complexo conjunto de estímulos, ou seja,
tração de um morfógeno podem assumir caminhos a célula está determinada a se diferenciar em um tipo
completamente diferentes. Outro fato interessante é particular de célula, mesmo que as características fi-
que, além da concentração de morfógeno que as nais da célula diferenciada ainda não sejam identifi-
células recebem, também é muito importante o mo- cáveis. A partir desses dados, têm-se os conceitos de
mento em que as células recebem o sinal, uma vez determinação e diferenciação distintos. Para ilustrar
que as células estão constantemente sofrendo mu- melhor, somente através do processo de diferencia-
danças no seu estado interno, e, dessa forma, tam- ção, a célula assume as características intrínsecas ao
bém podem responder diferentemente ao morfóge- seu tipo celular final, as quais são pré-programadas
no. Um exemplo disso ocorre na formação do eixo já no estágio de determinação. Todos esses proces-
central do corpo de Xenopus, durante o processo de sos parecem ser severamente controlados por genes
gastrulação. Nesse processo, o eixo do corpo do ani- regulatórios. Existem diversos fatores citoplasmáticos
mal vai sendo formado gradativamente, de acordo proteicos que atuam como elementos regulatórios,
com o estágio de desenvolvimento das células que e, essas proteínas, por sua vez, controlam a expressão
recebem o estímulo. de determinados conjuntos de genes relacionados à
No caso das células ovo simétricas dos mamíferos, diferenciação celular. No caso da diferenciação das
não há grande acúmulo de material citoplasmático células musculares, uma parte essencial deste proces-
, porque esse embrião será nutrido através da pla- so de sinalização é efetuada pela família MyoD e de
centa materna. Esses ovos são cerca de 2000 vezes proteínas miogênicas proximamente relacionadas.
menores em relação aos ovos de anfíbios, e a trans- Essas proteínas possuem sítios de ligação ao DNA, e,
crição gênica já começa no estágio de duas células. assim como o nome sugere, atuam na determinação
Juntamente com o embrião, há o desenvolvimento das células musculares, desencadeando a produção
das estruturas anexas, tais como o saco amniótico e a de proteínas músculo-específicas. Quando essas pro-
placenta, esta última responsável pela comunicação teínas são inseridas em fibroblastos, por exemplo, elas
do embrião com o corpo materno. Portanto, o am- podem diferenciá-los em células musculares, através
biente onde o embrião se desenvolve, nesses casos, é da expressão desses genes.
even-skipped). O DNA regulatório interpreta todas nessa fase, quando o envelope nuclear se desor-
as informações vindas desses fatores, e em respos- ganiza, e forma-se o fuso mitótico. Em uma célula
ta causa a ativação de genes específicos para a animal somática em ciclo celular, essa sequência
diferenciação das partes do corpo em cada seg- de eventos é repetida a cada 18-24 horas.
mento. Existem dois pontos de controle fundamentais
Existe uma alta homologia de sequência entre no ciclo celular, os quais determinam a ordem da
os homeoboxes de D. melanogaster com regiões sua progressão:
homeobox presentes em rãs e mamíferos. Estes -Os cromossomos são comprometidos a se repli-
dados podem sugerir que estes genes estejam en- carem na fase G1. Se as condições para esse “ponto
volvidos na regulação da embriogênese de muitas de comprometimento” são satisfeitas, a célula entra-
espécies, inclusive no homem. Acredita-se que a rá na fase S. Em leveduras esse ponto do ciclo é cha-
ordem dos genes no cromossomo em cada parte mado de START, e em células animais é chamado de
do complexo ordene o domínio de sua expressão ponto de restrição.
no corpo. O mecanismo molecular que controla o -A célula é comprometida a sofrer a divisão mitó-
fenômeno de memória não é bem conhecido, mas tica no final da fase G2. Se a célula não se dividir nes-
deve depender de mudanças de autoperpetua- se ponto ela permanecerá na condição tetraplóide.
ção de estado nas regiões de controle no comple-
xo HOM. Para células animais em cultura, o controle em
G1 é o principal ponto de decisão do ciclo, e o
O CICLO CELULAR E O DESENVOLVIMENTO controle em G2 é secundário. As células passam a
grande maioria do seu tempo do ciclo na fase G1,
O período entre duas divisões mitóticas define e o comprimento dessa fase é ajustado em resposta
o ciclo celular somático. O tempo do final de uma às condições de crescimento. Algumas células não
divisão mitótica ao início de outra é chamado intér- se dividem totalmente, e são consideradas como
fase, e o período real de divisão, correspondendo tendo saído do ciclo celular para um outro estado,
à mitose visível, é chamado fase M. Para se dividir,
semelhante a G1, mas incapazes de entrarem na
a célula somática eucariótica deve duplicar a sua
fase S. Esse estado é chamado de G0, e as células
massa e dividir seus componentes entre duas célu-
muito diferenciadas, com pouca ou nenhuma capa-
las filhas. a duplicação do tamanho é um processo
cidade de diferenciação subsequente, geralmente 303
contínuo, resultado da transcrição e da tradução
permanecem nesse estado. Algumas células em G0
dos genes que codificam as proteínas que consti-
ainda podem ser reestimuladas para entrarem no-
tuem o fenótipo celular. Em contrapartida, a repro-
vamente no ciclo. Os núcleos, em alguns estados da
dução do genoma ocorre apenas durante um pe-
embriogênese de insetos, se dividem e permanecem
ríodo específico na intérfase. A mitose de uma célu-
em repouso no estado tetraplóide.
la somática gera duas células filhas idênticas, cada
Existem ainda os pontos de checagem do ciclo
uma delas comportando um conjunto diplóide de
celular, que verificam se a célula está pronta para
cromossomos. A intérfase é dividida em períodos
definidos com referência ao tempo de síntese de seguir para a próxima fase do ciclo. Cada ponto de
DNA. As células saem da divisão mitótica para a checagem representa um “loop” de controle que
fase G1, durante a qual RNAs e proteínas são sinte- marca o início de um evento no ciclo celular que é
tizados, mas não o DNA. dependente do evento anterior, de forma que um
O início da replicação do DNA deifne a trans- ponto de checagem atua diretamente sobre os fa-
crição da fase G1 para o período S. O período S é tores que controlam a progressão do ciclo. Nesses
estabelecido até que todo o DNA tenha sido repli- pontos de checagem, devem ser verificados: se todo
cado. Durante essa fase S, o conteúdo total de DNA o DNA está duplicado, ou se o ambiente é favorável,
é aumentado a seu valor tetraplóide (4n). O perío- se a célula está grande o bastante para se dividir, ou
do que parte da fase S até a mitose é denomina- se todos os cromossomos estão presos no fuso mitóti-
do período G2, durante o qual a célula apresenta co. O sistema de controle central do ciclo celular se
dois conjuntos diplóides de cromossomos. Durante dá por meio de proteínas que foram altamente con-
a intérfase, não há praticamente mudanças visíveis servadas durante a evolução. Muitas delas, quando
na célula. O núcleo aumenta de tamanho durante retiradas de humanos, funcionam perfeitamente em
a fase S, justamente no momento em que a ma- leveduras, ou seja, à partir de estudos sobre o ciclo
quinaria de replicação do DNA é mobilizada, e o celular em leveduras, pode-se realizar inferências
estado da cromatina parece ser o mesmo durante para o ciclo das células de outros organismos.
todo esse período. A mitose segrega um conjunto Alguns ciclos de células embrionárias parecem
diplóide de cromossomos para cada célula-filha, e “pular” alguns dos pontos de controle, e estarem
os cromossomos individuais podem ser visualizados submetidas à um timer ou oscilador. Assim, o sistema
de controle do ciclo celular pode se combinar com tágio corresponde, portanto, à fase S, de replicação
uma unidade de tempo, com a taxa de crescimen- do DNA, e isso ocorre porque não há a fase G1 da in-
to da célula, com a massa celular ou com a própria térfase, representada por intensa transcrição gênica
replicação do DNA. A existência dos reguladores e síntese de protéinas. Estudos realizados com ovóci-
do ciclo celular em diferentes estágios foi revelada tos e também com ovos de Xenopus possibilitaram a
através de experimentos de fusão de células em di- descoberta do fator promotor de maturação (MPF),
ferentes estágios do ciclo celular. Com os resultados que induzia a maturação dos ovócitos e, portanto,
obtidos, descobriu-se a presença de proteínas indu- preparava a célula para a divisão meiótica.
toras da fase M (mitose) e da fase S (replicação), e, O MPF torna-se inativo quando as ciclinas são
ao mesmo tempo, que esses indutores estão presen- degradadas, para que a célula encerre a divisão, e
tes apenas transitoriamente. Durante o período G1, a anáfase se inicie. Essa molécula consiste de duas
a célula, de alguma forma, se compromete a entrar subunidades, a p34 e a p45. O dímero tem atividade
no período de START, mas a natureza do intervalo an- de quinase, e pode fosforilar uma grande variedade
terior à fase S ainda é desconhecida. Descobriu-se de proteínas. É através da fosforilação das proteínas
também que o ativador da fase S é uma proteíno- alvo em um ponto específico do ciclo que o MPF
quinase, e está relacionado com a quinase respon- exerce sua função. A subunidade p34 é catalítica,
sável pela ativação da mitose. com atividade de quinase. Fosforila resíduos de seri-
A mitose depende da ativação da proteína na e treonina nas proteínas alvo. A subunidade p45
quinase da fase M, uma proteína com duas subu- é uma ciclina, uma subunidade regulatória, neces-
nidades. Uma delas é uma subunidade catalítica sária ao funcionamento da atividade de quinase do
com modo de ação de quinase, que é ativada por MPF. Quando a ciclina está presente, ela confere ao
modificação de sua estrutura, no início da mitose. A MPF uma mudança conformacional para ativação
outra subunidade é uma ciclina, uma proteína que de sua subunidade catalítica. Uma protéina homólo-
se acumula devido à uma síntese contínua durante ga à subunidade catalítica p34 do MPF encontrada
a interface, e que é destruída na mitose. A destrui- em leveduras é chamada cdc2. Essa proteína inte-
ção dessa proteína inativa a quinase da fase M, e rage com as ciclinas da mesma forma como a p34.
libera as células filhas da mitose. Essa atividade de Essa proteína é fosforilada e desfosforilada por outras
controle é altamente conservada, e parece estar enzimas. A sua fosforilação impede a sua atividade
304 presente em todos os sistemas eucarióticos! Alguns catalítica, mesmo que cdc2 esteja complexada
desses sistemas têm ciclos que se desviam um pouco com alguma ciclina.
dos padrões normais do ciclo somático. Isto ocorre Existem as ciclinas mitóticas, as quais se com-
particularmente em muitos dos processos de embrio- plexam com cdc2 para permitir que a célula atin-
gênese. No ovo de Xenopus, por exemplo, ocorrem ja a fase M, e as ciclinas do período G1, que fazem
divisões muito rápidas, nas quais a fase S se alterna com que a célula duplique seu DNA, entrando na
diretamente com a fase M (mitose). Nos blastôme- fase S. Com o desaparecimento das ciclinas nas fa-
ros, e entrada na mitose é controlada pela quinase ses S e M, a subunidade catalítica torna-se inativa
da fase M, o mesmo fator de todas as células somá- novamente, e, somente quando a célula tiver con-
ticas, da mesma forma como ocorre em leveduras. dições de atingir as fases S e M novamente (satisfei-
O desenvolvimento inicial dos ovos de Xenopus tas as condições dos pontos de checagem), genes
revelou um sistema bastante útil para se analisar as específicos serão ativados por proteínas regulado-
características que levam uma célula à divisão. O ras controlarão esses mecanismos de fosforilação e
ovócito de Xenopus é interrompido em seu primei- desfosforilação na célula, enquanto que as ciclinas
ro ciclo de divisão meiótica, no início da condensa- serão produzidas quase que continuamente durante
ção cromossômica, e a correspondência mais íntima a intérfase. Muitos fatores externos podem atuar no
com o ciclo somático está no estágio G2. A ovula- controle do ciclo celular, incluíndo hormônios e fa-
ção ocorre quando os hormônios desencadeiam o tores de crescimento de tecidos específicos, no pro-
progresso do ciclo até a segunda divisão da meiose cesso de proliferação celular, para a organização,
e, quando o ovo é posto, o progresso é interrompi- ou mesmo para a manutenção dos tecidos. Existem
do até o final da segunda meiose, numa condição diferentes controles externos que podem atuar no
de mitose somática. O ovo de anfíbios, bem como o ciclo celular, e as células dependerão, fundamen-
das aves, é uma estrutura grande, que contém gran- talmente de sinais em seu material citoplasmático
de quantidade de material citoplasmático para as (no início da embriogênese), bem como de sinais do
primeiras divisões. A fertilização desencadeia ciclos ambiente externo. Nos processos de proliferação ce-
de divisões muito rápidos, que alternam os períodos S lular e senescência, outros sinais de controle externos
com a fase M, como citado anteriormente. O maior do ciclo desencadearão de maneira diferente esse
período de atividade sintética das células nesse es- sistema citado aqui.
D
esde a antiguidade a origem da vida tem O médico, biólogo e cientista italiano Francesco
sido um mistério. O homem antigo pro- Redi (1626-1697) estava convencido de que a vida
curava de todas as formas possíveis ex- não surgia espontaneamente. Para provar isso fez o 305
plicarem da onde é que surgiam novos seres vivos. que chamamos de experiência controlada. Em fras-
De muitas explicações surgiu a Teoria da geração cos, Redi, colocou pedaços de carne, alguns frascos
espontânea ou Teoria da abiogênese. De acordo foram vedados com gaze, outros não. Nos frascos
com essa teoria os seres vivos se formariam através abertos onde moscas entravam e saíam livremente
da matéria bruta do meio. Por exemplo= na Índia, surgiam muitas larvas provenientes de ovos deposita-
Babilônia e Egito ensinavam que as rãs, crocodilos dos ali. Nos frascos fechados com gaze, onde as mos-
e cobras eram gerados pelo lodo dos rios. Um dos cas não entravam, não apareceu nenhuma larva
grandes defensores da Teoria da abiogênese no sé- mesmo depois de muitos dias. Redi demonstrou com
culo XVII foi Jean Baptista van Helmont (1577-1644), tal experimento que as larvas presentes na carne pu-
um importante médico belga que chegou a formu- trefata se desenvolvem a partir de ovos de moscas
lar uma ‘’receita’’ para se produzir ratos . Veja: depositadas ali, e não pela transformação da carne,
‘’(...) coloca-se num canto sossegado e mal ilu- como propunha a abiogênese.
minado trigo, fermento e camisas sujas. O resultado
será que, em 21 dias, surgirão ratos (...)’’. Needham X Spallanzani
Hoje sabemos que os ratos que apareciam não
se formavam da mistura de ingredientes, mas sim Em meados do século XVII, o holandês Antonie
eram atraídos pela mistura. van Leeuwenhoek com um microscópio descobriu o
Nesse mesmo século surgiram sábios com novas mundo dos microorganismos, os micróbios. Os abio-
idéias e dispostos a provar que a vida não provinha genitas acreditaram ainda mais na sua tese, afirman-
de matéria bruta como propunha a Teoria da abio- do que seres tão pequenos não se reproduzia e sim
gênese. Que foi logo descartada quando Redi, Spal- surgiam espontaneamente. O cientista inglês John
lanzani, e Pasteur iniciaram seus experimentos. Eles Needham (1713-1481) realizou seus experimentos
provaram que um ser vivo só se origina de outro ser para provar que os micróbios surgiam de geração
vivo. Esta é então a atualmente aceita Teoria da bio- espontânea. Diversos frascos contendo um caldo
gênese. nutritivo foram submetidos à fervura por 30 minutos.
Depois Needham lacrava os frascos com rolhas e os
deixava por repouso por alguns dias. Depois desse re-
pouso ele examinou o caldo com a ajuda de um mi- Com esse espetacular experimento Pasteur rece-
croscópio e notou a presença de microorganismos. A beu um prêmio compensador da Academia France-
explicação dada foi que a fervura tinha matado todos sa de Ciências e derrubou de uma vez por todas a hi-
os seres eventualmente presentes no caldo e nenhum pótese da geração espontânea ou abiogênese. Com
microorganismo poderia entrar no frasco após de ter isso o problema da origem da vida se tornou preocu-
sido lacrado com rolhas. Portanto, só havia uma expli- pante, pois se os organismos surgem a partir de outros,
cação! Os microorganismos surgiram por geração es- como foi que se originou o primeiro?
pontânea ou abiogênese. Após alguns anos o padre
e pesquisador italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799) Qual é a origem do Universo?
repetiu os experimentos de Needham com algumas
modificações. Spallanzani colocou caldo nutritivo em Não existe nenhuma questão mais enigmática do
balões de vidro e fechou-os hermeticamente esses que essa! A grande maioria dos cientistas acredita na
balões eram então colocados em caldeirões e fervi- teoria do Big Bang, ou Grande Explosão - mas o que
dos por cerca de uma hora. Dias depois ele exami- havia antes dela? Tudo indica que seja impossível sa-
nou os caldos e obteve resultados completamente ber com certeza!
diferentes aos de Needham = o caldo estava livre de O próprio Big Bang, aliás, já é bem misterioso. Se-
microorganismos. gundo a teoria, há cerca de 15 bilhões de anos toda a
Spallanzani explicou que Needham submeteu a matéria que constitui o Universo concentrava-se num
solução à fervura por um tempo curto de mais para único ponto, que explodiu, dando origem a tudo o
esterilizar o caldo. Needham respondeu às críticas que conhecemos... e até ao que ainda não conhe-
afirmando que o tempo longo usado pelo cientis- cemos. Essa origem bombástica é comprovada por
ta destruía a força vital ou princípio ativo que dava várias observações científicas, mas possui alguns pro-
vida à matéria, e ainda tornava o ar desfavorável ao blemas. O principal deles é que, pelas leis da física,
aparecimento da vida. Em fins do século XVII pôde- a explosão estaria sujeita a pequenas flutuações que
se entender porque o ar se tornava desfavorável ao tornariam o universo irregular - o que não acontece na
aparecimento da vida. Descobriu-se que o oxigênio realidade. “Existem mais de 50 teorias que tentam re-
é essencial à vida. Segundo abiogenistas o aqueci- solver essa questão”, diz o físico Augusto Damineli, da
mento prolongado e a vedação hermética excluíam Universidade de São Paulo (USP). A idéia mais aceita
306 o oxigênio tornando impossível a sobrevivência de foi proposta pelo físico americano Alan Guth em 1981:
qualquer forma de vida. A polêmica abiogênese X nas primeiras frações de segundo, a explosão teria se
biogênese continuou existindo até cerca de 1860, expandido a uma velocidade muito maior do que a
quando a abiogênese sofreu seu golpe final. da luz. Isso teria deixado uniforme o Universo que ob-
servamos, mas encoberto tudo o que acontecera.
Pasteur derruba a abiogênese Se os físicos têm dificuldade em entender o que
se passou logo após o Big Bang, descobrir o que ocor-
Foi por volta de 1860 que um grande cientista reu antes é, portanto, uma tarefa muito mais árdua
- ainda mais porque é provável que esse fenômeno
francês conseguiu provar definitivamente que seres
não tenha sido o início de tudo. “O Universo já existia
vivos só podem se originar de outros seres vivos. Louis
no momento do Big Bang”, diz o físico Mario Novello,
Pasteur (1822-1895) preparou um caldo de carne – ex-
do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio
celente meio de cultura para micróbios – colocou en-
de Janeiro. Entre as dezenas de modelos propostos, é
tão, esse caldo em um frasco com pescoço de cisne
possível que o espaço e o tempo tenham existido des-
e submeteu o líquido contido dentro desse frasco à
de sempre, que o Big Bang seja o resultado do colap-
fervura para a esterelização. Após a fervura a medida
so entre diversas dimensões e que a explosão tenha
que o líquido resfriava, gotículas de água se acumula-
dado origem não a um, mas sim a vários universos.
vam no pescoço do frasco agindo como uma espé-
cie de filtro retendo os micróbios contidos no ar que
Big Bang
penetrava no balão, impedindo a contaminação do
caldo. Esse experimento mostrou que não era a falta
De acordo com o modelo do Big Bang, oUniver-
de ar fresco que impedia a formação de microorga- so se expandiu a partir de um estado extremamente
nismos no caldo. Pateur provou também que não ha- denso e quente e continua a se expandir atualmente.
via nenhuma ‘’ força vital’’ que era destruída após a Uma analogia comum explica que o espaço está se
fervura, pois se aquele mesmo caldo esterilizado fosse expandindo, levandogaláxias com ele, como passas
submetido ao ar sem a filtragem que o balão pesco- em um naco de pão a aumentar. O esquema gráfico
ço de cisne proporcionava, surgiriam sim microorga- superior é um conceito artístico que ilustra a expan-
nismos que advinham de contaminação. são de uma parte de um Universo plano.
O Big Bang, também por vezes denominada em ria do estado estacionário”, tinha por objetivo criar
português como a Grande Explosão, é a teoria cos- um termo pejorativo, mas Hoyle explicitamente negou
mológica dominante do desenvolvimento inicial do isso e disse que era apenas um termo impressionan-
universo. Os cosmólogos usam o termo “Big Bang” te para destacar a diferença entre os dois modelos.
para se referir à ideia de que o universo estava ori- Hoyle mais tarde ajudou consideravelmente no es-
ginalmente muito quente e denso em algum tempo forço de compreender a nucleossíntese estelar, a via
finito no passado e, desde então tem se resfriado nuclear para a construção de alguns elementos mais
pela expansão ao estado diluído atual e continua pesados até os mais leves. Após a descoberta da ra-
em expansão atualmente. A teoria é sustentada por diação cósmica de fundo em 1964, e especialmen-
explicações mais completas e precisas a partir de te quando seu espectro (ou seja, a quantidade de
evidências científicas disponíveis e da observação. radiação medida em cada comprimento de onda)
De acordo com as melhores medições disponíveis traçou uma curva de corpo negro, muitos cientistas fi-
em 2010, as condições iniciais ocorreram por volta de caram razoavelmente convencidos pelas evidências
13,3 a 13,9 bilhões de anos atrás. de que alguns dos cenários propostos pela teoria do
Georges Lemaître propôs o que ficou conhecido Big Bang devem ter ocorrido.
como a teoria Big Bang da origem do Universo, em-
bora ele tenha chamado como “hipótese doátomo História:
primordial”. O quadro para o modelo se baseia na
teoria da relatividade de Albert Einstein e hipóteses Em 1927, o padre e cosmólogo belga Georges
simplificadoras (comohomogeneidade e isotropia Lemaître (1894-1966) derivou independentemente as
do espaço). As equações principais foram formula- equações de Friedmann a partir das equações de
das por Alexander Friedmann. Depois Edwin Hubble campo de Einstein e propôs que os desvios espectrais
descobriu em1929 que as distâncias de galáxias dis- observados em nebulosas se deviam a expansão do
tantes eram geralmente proporcionais aos seus des- universo, que por sua vez seria o resultado da “explo-
são” de um “átomo primordial”.
vios para o vermelho, como sugerido por Lemaître
em1927. Esta observação foi feita para indicar que
Em 1929, Edwin Hubble forneceu base observa-
todas as galáxias muito distantes e aglomerado de
cional para a teoria de Lemaitre ao medir um desvio
galáxias têm uma velocidade aparente diretamente
para o vermelho no espectro (“redshift”) de galáxias 307
para fora do nosso ponto de vista: quanto mais dis-
distantes e verificar que este era proporcional às suas
tante, maior a velocidade aparente. Se a distância
distâncias o que ficou conhecido como Lei de Hub-
entre os aglomerados de galáxias está aumentando
ble-Homason.
hoje, todos deveriam estar mais próximos no passado.
O Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP)
Esta idéia tem sido considerada em detalhe volta no
é um sistema de sensoreamento térmico da energia
tempo para as densidades e temperaturas extremas,
remanescente de fundo, ou ruído térmico de fundo do
e grandes aceleradores de partículas têm sido cons-
Universo conhecido. Esta imagem é um mapeamen-
truídos para experimentar e testar tais condições, re- to em microondas do Universo conhecido cuja ener-
sultando em significativa confirmação da teoria, mas gia que chega ao sistema está reverberando desde
estes aceleradores têm capacidades limitadas para 379000 anos depois do Big-bang, há 13 bilhões de
investigar em tais regimes de alta energia. Sem ne- anos (presume-se). A temperatura está dividida en-
nhuma evidência associada com a maior brevidade tre nuances que vêm do mais frio ao mais morno, do
instantânea da expansão, a teoria do Big Bang não azulao vermelho respectivamente, sendo o mais frio,
pode e não fornece qualquer explicação para essa a matéria ou o “éter”, onde a energia térmica de fun-
condição inicial, mas sim, que ela descreve e explica do está mais fria, demonstrando regiões mais antigas.
a evolução geral do Universo desde aquele instante. A comparação, feita pelo autor da imagem, é como
As abundâncias observadas de elementos leves em se tivéssemos tirado umafotografia de uma pessoa de
todo o cosmos se aproximam das previsões calcula- oitenta anos, mas, no dia de seu nascimento.
das para a formação destes elementos de processos O Big Bang, ou grande explosão, também conhe-
nucleares na expansão rápida e arrefecimento dos cido como modelo da grande explosão térmica, par-
minutos iniciais do Universo, como lógica e quantitati- te do princípio de Friedmann, onde, enquanto o Uni-
vamente detalhado de acordo com a nucleossíntese verso se expande, a radiação contida e a matéria se
do Big Bang. esfriam. Para entender a teoria do Big Bang, deve-se
Fred Hoyle é creditado como o criador do termo em primeiro lugar entender a expansão do Universo,
Big Bang durante uma transmissão de rádio de 1949. de um ponto A para um ponto B, assim, podemos, a
Popularmente é relatado que Hoyle, que favoreceu partir deste momento retroceder no espaço, portan-
um modelo cosmológico alternativo chamado “teo- to no tempo, até o Big Bang.
Como a temperatura é a medida da energia mé- No modelo quadridimensional, não existe a fron-
dia das partículas, e esta é proporcional à matéria teira, ou a parede; o conceito é volumétrico no do-
do universo, de uma forma simplificada, ao dobrar o mínio tempo, portanto, só visualizável através de
tamanho do universo, sua temperatura média cairá cálculo. Porém pode-se tentar mostrar algo sobre a
pela metade. Isto é, ao reduzir o tecido universal, por- quarta dimensão, basta um pouco de imaginação e
tanto aumentando sua densidade, aquela dobrará; uma boa dose de visualização tridimensional.
podemos ter um ponto de partida de temperatura Embora não se deva imaginar a expansão Uni-
máxima, e massa concentrada numa singularida- verso como uma bolha crescendo vista do lado de
de, que nos dará o tempo aproximado do início da fora, (O lado de fora não existe, a matéria e o tempo
aceleração da expansão do tecido universal, e sua tiveram seu início a partir do ponto zero), esta é uma
gradual e constante desaceleração térmica. Para das poucas maneiras de se tentar vislumbrar um es-
entender este processo, há que se usar um exemplo paço quadridimensional do Universo em expansão
prático, a visão deve ser quadridimensional. Como os (Não se deve também assumir uma visão antropo-
sentidos humanossomente percebem o espaço tridi- cêntrica). Ao centro, está representada em amarelo
mensional (Coordenadas x,y,z), ilustrando a partir de aVia Láctea, os círculos coloridos excêntricos são to-
um modelo em três dimensões fica mais compreen- dos os corpos celestesse afastando, azul para frente
sível, pois o tempo estaria numa coordenada “d”, e vermelho para trás devido ao efeito Doppler, as es-
o que dificulta ao leitor comum a compreensão da feras sem cor representam a posição real dos astros.
evolução do tempo e espaço simultaneamente. Para que entendamos um objeto tridimensional
As estrelas ou corpos celestes marcados com cír- em visualização bidimensional, temos que desenhá
culos são os mais distantes, logo os mais antigos já -lo de forma que enxerguemos uma parte de cada
observados pelos humanos. A coloração avermelha- vez. Imagine o mesmo exemplo da bolha, agora vis-
da é devida ao efeito Doppler. Quando um corpo ta em duas dimensões, temos largura e profundida-
se afasta deu um supostocentro, mais a sua imagem
de, mas não temos noção da dimensão altura. Para
desvia para o vermelho, e quando se aproxima, ao
que possamos representá-la e entendê-la, precisa-
contrário o desvio é para o azul. Como o afastamento
308 remos fazer diversos desenhos no domínio da Altu-
é quase para o vermelho de tonalidade mais escura,
ra, iniciando na parte mais baixa e assim por diante,
isto indica que se dá em altíssimas velocidades, (suas
representando círculos que, se vistos bidimensional-
distâncias estão beirando os treze bilhões deanos-luz),
mente sobrepostos, apresentarão um círculo dentro
algo bastante próximo do Big-bang. Estas formações
do outro, (semelhantes aos mapas topográficos). Po-
indicam um Universo infantil, onde as grandes galáxias
rém, devidas limitações no desenho, a primeira im-
(presumivelmente) ainda não se haviam formado.
pressão que teremos (se não soubermos que é uma
Imaginemos uma bolha de sabão, suponhamos
esfera) não será de uma esfera, e sim de meia esfera.
que esta bolha seja preenchida por umfluido, deixe-
Para a representação tridimensional, os eixos
mos o fluido de lado e concentremo-nos na superfície
(x,y,z), e o eixo tempo (t) inserido, (isto é, em quatro
propriamente dita da bolha. Esta no início é um ponto
de água com sabão, por algum motivo desconheci- dimensões, porém representada em três), a analogia
do, que não importa, começa a aumentar através é semelhante, poderemos vislumbrar a meia esfera
da inserção de um gás, tomando a formaesférica. de acordo com nossas observações e medições, a
Observemos que, na medida em que o ar penetra outra metade somente poderemos teorizar.
preenchendo o interior da bolha de sabão (a exem- Podemos inclusive usar a mesma esfera, porém
plo de uma bexiga), começa a haver a expansão vo- , em vez de olharmos um círculo dentro de outro,
lumétrica do objeto. Nos concentremos no diâmetro representando a imagem topográfica, imaginemos
da bolha e na espessura da parede. Verificaremos uma esfera dentro de outra, maior e maior, como se
que, à medida que seu diâmetro aumenta, a espes- o fotografássemos em momentos em que estivesse
sura diminui, ficando mais e mais tênue, pois a matéria inflando , assim temos uma visão quadridimensional
está se desconcentrando e seespalhando em todas num universo tridimensional, onde a superfície da es-
as direções. De uma maneira simplificada, podemos fera, aumentando a cada passar de tempo, seria a
afirmar que o aumento do diâmetro da bolha é o uni- expansão quadridimensional do Universo. Esta visão
verso em expansão, o aumento da área da superfície não deve ser encarada como antropocêntrica, pois
é a diminuição da densidade material, a redução da de qualquer ponto do espaço vemos o Universo se
espessura da parede é a constante térmica que dimi- expandindo em todas as direções, ou seja, sempre
nui à medida que o universo se expande. nos parecerá estarmos no centro, não importa de
qual ponto estejamos observando. Portanto, deve- Cada galáxia distante afasta-se da Via Láctea
mos imaginar, não estando no centro da esfera, mas numa velocidade proporcional à distância em que
num ponto onde absolutamente tudo se afasta em se encontra desta, quanto maior a distância, maior
todas as direções, embora os nossos sentidos nos di- a velocidade.
gam estarmos no centro. Hubble e seu colega Milton L. Homason pesqui-
saram para descobrir a proporção dos movimentos
O início da teoria da grande explosão: e sua aceleração, deduzindo uma equação conhe-
cida como Lei de Hubble-Homason em que:Vm=16r,
Conforme descrito no início do artigo, em 1927, o onde Vm é a velocidade de afastamento da galá-
padre e cosmólogo belga Georges Lemaître (1894- xia, dada em quilômetros por segundo, e r expressa a
1966), derivou independentemente as equações distância entre a Terra e a galáxia em estudo, dada
de Friedmann a partir das equações de Einstein e em unidades de milhões de anos luz, e, segundo esta,
propôs que os desvios espectrais observados em se uma galáxia estiver situada a cem milhões de anos
nebulosas se deviam a expansão do universo, que luz, esta se afasta a 1600 quilômetros por segundo.
por sua vez seria o resultado da “explosão” de um Aparentemente, o Universo está se expandindo
“átomo primordial”. A teoria do Big Bang, grande em torno de nós, novamente é afirmado que isto não
explosão, tornou-se a explicação da expansão do deve ser encarado como antropocentrismo, pois to-
universo desde suas origens, no tempo, (arbitrando- dos os pontos do universo estão se afastando relati-
se o conceito de que o tempo teve uma origem). vamente uns aos outros simultaneamente, conforme
Segundo essa teoria, o universo surgiu há pelo já explicado. A observação, feita em 1929 por Hubb-
menos 13,7 bilhões de anos, a partir de um estado le, significa que no início do tempo-espaço a matéria
inicial de temperatura e densidade altamente ele- estaria de tal forma compactada que os objetos es-
vadas. Embora essa explicação tenha sido proposta tariam muito mais próximos uns dos outros.
na década de 1920, sua versão atual é da década Mais tarde, observou-se em simulações que de
de 1940 e deve-se sobretudo ao grupo de George fato exista aparentemente a confirmação de que
Gamow que deduziu que o Universo teria surgido entre dez a vinte bilhões de anos atrás toda a maté-
após uma grande explosão resultante da compres- ria estava exatamente no mesmo lugar, portanto, a
são de energia. densidade do Universo seria infinita.
As observações em modelos e as conjecturas dos 309
cientistas apontam para a direção em que o Univer-
Edwin Hubble
so foi infinitesimalmente minúsculo, e infinitamente
denso. Nessas condições, as leis convencionais da
Voltando no tempo…, no início do século XX, a
física não podem ser aplicadas, pois quando se tem
Astronomia desviou sua atenção das estrelas e dos
a dimensão nula e a massa infinita, qualquer evento
planetas. Nos últimos oitenta anos a Cosmologia se
antes desta singularidade não pode afetar o tempo
voltou para as galáxias e espaço exterior. Um dos
atual, pois ao iniciar o universo, expandindo a massa
muitos responsáveis por esta mudança de perspec-
e ao mesmo tempo se desenvolvendo em todas as
tiva foi Edwin Hubble, do Observatório Monte Wilson.
direções, indica que o tempo também esteve nesta
Em 1924, foram publicadas fotografias provando
singularidade, logo o tempo era nulo.
que as manchas de luz difusas e distantes, chama-
das de Nebulosas, (este nome devido à crença de
Gamow, a explosão e a teoria da expansão
que se tratava de massas informes de gás e poeira),
na verdade eram gigantescos sistemas de aglome- Segundo Gamow, na expansão do universo a
rados de estrelas, semelhantes à Via Láctea. partir de seu estado inicial de alta compressão, numa
explosão repentina, o resultado foi uma violentíssima
Os movimentos galácticos e a Lei de Hubble-Ho- redução de densidade e temperatura; após este ím-
mason peto inicial, a matéria passou a predominar sobre a
antimatéria.
Hubble dedicou-se ao estudo das galáxias, me- Ainda segundo Gamow toda a matéria existen-
dindo suas distâncias, localizando sua distribuição te hoje no universo encontrava-se concentrada no
no espaço e analisando seus movimentos. chamado “átomo inicial”, ou “ovo cósmico”, e que
Com o passar do tempo, notou-se que aqueles uma incalculável quantidade de energia, depois de
movimentos não eram ao acaso, como o desloca- intensamente comprimida, repentinamente explo-
mento das moléculas de um gás na termodinâmi- diu, formando ao avançar do tempo gases, estrelas
ca, porém obedecem a uma trajetória centrífuga. e planetas.
A temperatura média do universo diminui à me- Bang. A pergunta sobre o que ocorreu antes des-
dida que se expande. Alguns autores afirmam que a te tempo limite é contudo certamente pertinente à
partir de um determinado momento, quando univer- teoria. O Grande Colisor de Hádrons (LHC) construído
so for totalmente resfriado, ele vai começar a dimi- na europa traz consigo a esperanças de, em breve,
nuir de tamanho novamente, voltando a sua primeira poder-se compreender de facto o comportamento
forma, do átomo inicial. da matéria-energia, e por tal do espaço-tempo, em
densidades tão altas quanto as esperadas para antes
O paradoxo do tempo deste tempo limite - geralmente aceito pela maioria
como próximo ao denominado tempo de planck.
Se o tempo iniciou numa grande explosão, jun- Embora muitas vezes apoiadas em sólidas bases
tamente com o espaço e com a matéria-energia no matemáticas, considerações antes apresentadas es-
Universo mutável, num Universo imutável um começo tendem-se assim para todas as teorias - ainda não
no tempo é necessário se impor para que se possa ter científicas justo pela ausência de fatos - que afirmam
uma visão dinâmica do processo da criação inicial conhecimento acerca do que ocorreu antes deste
(não confundir com Criação Teológica), esta se deu tempo limite, entre as quais destacam-se certamente
tanto numa maneira de se ver o início da dualida- a teoria das cordas, teoria que propõe a existência
de tempo matéria, quanto em outra. Partindo-se da de multiversos e de onze dimensões - ao invés de ape-
premissa de que o Universo é mutável no domínio do nas as quatro do espaço-tempo - e as teorias do Big
tempo, pois de outra forma não se consegue obser- Bang Frio; e do Big Crunch e do Universo oscilante.
var a expansão deste, deve haver razões físicas para A nucleossíntese foi a formação inicial dos primei-
que o Universo realmente tivesse um começo, pois ros núcleos atômicos elementares (hidrogênio e hé-
não se consegue imaginar a existência de um univer- lio). Ela ocorreu porque a atuação da Força Nuclear
so antes do Big Bang, e se não existia nada antes, o Forte acabou atraindo prótons e nêutrons que se
que fez o desequilíbrio da singularidade que acabou comprimiram em núcleos primitivos. Sabe-se que esta
criando um Universo caótico e em mutação? Vol- força nuclearforte só é eficaz em distâncias da ordem
tando-se no tempo e espaço, chega-se que desde de 10-13 cm. Presume-se que a nucleossíntese ocor-
o começo, o Universo se expande de acordo com reu 100 segundos após o impulso inicial, e que esta
leis bastante regulares. É portanto razoável que estas foi seguida de um processo de repentino resfriamento
310 se mantenham durante e antes da grande explosão, devido à irradiação que, segundo alguns, ocasionou
logo na singularidade está a chave para se descobrir o surgimento dos núcleos — segundo outros, o surgi-
como houve o momento de aceleração inicial nos mento dos núcleos ocasionou o resfriamento. Em fun-
eventos iniciais do Universo atual. ção da nucleossíntese, a matéria propriamente dita
Existe uma outra teoria, entre muitas que, antes passou a dominar o universo primitivo, pois sabe-se
do big bang, houve outro universo, idêntico ao atual que a densidade de energia em forma de matéria
onde as galáxias ao invés de se afastarem, se apro- passou, a partir daquele momento, a ser maior do
ximariam (O dia em que o universo quicou - Gravita- que a densidade em forma de radiação. Isso se deu
ção quântica em laços). em torno de 10 mil anos após o impulso inicial.
De facto tem-se apenas que, com os conheci- Com a queda da temperatura universal, os nú-
mentos que detêm-se hoje acerca da matéria e ener- cleos atômicos de hidrogênio, hélio e lítio recém-for-
gia, é possível delinear com razoável precisão os pro- mados se ligaram aos elétrons, formando assim áto-
cessos associados ao Big Bang que ocorreram após mos completos desses elementos. Presume-se que isso
um dado tempo contado a partir do “tempo zero”, se deu em torno de 300 mil anos após o chamado
o que implica dizer que, para os processos anterio- marco zero. A temperatura universal estava então em
res a este tempo limite, entra-se em um campo muito torno de 3.000 K.
mais especulativo do que propriamente científico. O O processo, ou a era da formação atômica, se-
que se conhece acerca do Big Bang é descrito como gundo alguns pesquisadores, durou cerca de um
processos ocorrendo no espaço-tempo. Considera- milhão de anos aproximadamente. À medida que
ções acerca deste ter sido criado no instante zero ou se expandia a matéria, a radiação que permeava
existir antes, acerca da existência de outro universo o meio se expandia simultaneamente pelo espaço,
com características distintas das encontradas no uni- porém em velocidade muito maior, ultrapassando a
verso que nos abriga, ou qualquer outra afirmação primeira. Daquela energia irradiada sobraram alguns
relativa ao que ocorre antes deste tempo limite de- resquícios em forma de micro-ondas, que foram de-
finido pela nossa compreensão factual transcendem tectadas em 1965 por Arno A. Penzias e Robert W.
assim - até a presente data - os limites científicos e Wilson, tendo sido chamada de radiação de fundo.
o paradigma científicamente aceito acerca do Big O “som” característico da radiação propagada é se-
cionais. Se fosse possível observar a queda de objetos dilatação regional de causa ainda desconhecida,e
num buraco negro, presume-se que se veria um obje- somente o desenvolvimento de telescópios de maior
to mover-se cada vez mais devagar, ao contrário do alcance e resolução poderiam confirmá-lo. Não acei-
que poderia naturalmente supor, pois à medida que tar a constante de afastamento das galáxias mais dis-
este se aproxima da singularidade, a distorção tem- tantes como uma verdade absoluta, implica endossar
poral agiria de tal forma que não o veríamos parar. outras teorias que melhor se identificariam com o efei-
Segundo Einstein, há o desvio para o vermelho e este to sonda encontrado na informação de luz emitida
também é dependente da intensidade gravitacional. de fontes muito distantes. A observação da propaga-
Se se analisar sob o ponto de vista corpuscular, imagi- ção no meio inter-espacial da energia eletromagné-
nando-se que a luz é um pacote quântico com massa tica de supernovas, (verdadeiros tsunamis de energia
e que esta partícula ocupa um determinado lugar no que constantemente varrem o espaço), com a nova
espaço, e está acelerada energeticamente (isto é, vi- tecnologia dos futuros telescópios e radiotelescópios
brando), a oscilação gera o comprimento de onda espaciais, brevemente poderá identificar e esclarecer
de luz, que se propaga como frente de onda em es- muitas dúvidas sobre o comportamento da luz atra-
paço livre. Longe de campo gravitacional intenso, a vés da matéria escura. Independente disso, e embora
frequência emitida tende para o azul. Na medida em ainda não possa ser confirmado com as imagens de
que o campo gravitacional começa a agir sobre a fundo provindas dos limites de observação, habitar e
partícula, esta começará a se movimentar, ou vibrar, observar apenas parte de um hipotético universo que
com menos intensidade, logo sua emissão desviará se desloca linearmente, e, em paralelo com velocida-
para o vermelho, pois a oscilação foi retardada. Nesse de acelerada, seria uma dessas teorias que atendem
ponto, a análise funde a dualidade matéria-energia. a região que esta sendo mapeada. Essa teoria estima
Sabe-se que não é possível analisar a partícula como que estaríamos em meio a um universo acelerado em
matéria e energia ao mesmo tempo: ou se considera paralelo, e cujo efeito retardado da informação da luz
o ponto de vista vibratório ou o corpuscular. Porém, que nos chega só seria permitido observar as ondas
próximo à singularidade, temos que fazer este exercí- luminosas com desvio do espectro para o vermelho.
cio de raciocínio, pois a atração gravitacional é tão Em linguagem matemática, o ponto de vista das
forte que pode fazer parar o movimento oscilatório, informações “emitidas e recebidas” entre duas partí-
e ao mesmo tempo atrair o objeto para si. Portanto, culas que se movem com velocidades próximas à da
312 qualquer que seja o ângulo de observação, a gravi- luz e em paralelo poderiam melhor explicar o fenôme-
dade prende a radiação em si mesma. Logo, a con- no da expansão.
clusão é que não se pode observar absolutamente
nada o que ocorre dentro do raio de Schwarzschild, Formação em partículas:
ou singularidade.
Como antes do Big-Bang o Universo era uma sin- A teoria mais aceita para a origem do universo
gularidade, presume-se que o tempo então não exis- propõe que ele seja o resultado duma grande ex-
tia, pois se objetos densos tendem a retardar o tempo, plosão, logo após a qual a matéria estava extrema-
logo quando se tem matéria infinita em espaço nulo a mente densa, comprimida e quente. Essa matéria pri-
singularidade é tal que o tempo para. mordial era composta, principalmente, de partículas
elementares, como quarks e elétrons. À medida que
Novas Possibilidades: ela ia se expandindo e esfriando, os quarks se uniam
formando partículas maiores chamadas hádrons, os
Este é o conceito artístico da expansão do Univer- quais podem conter 3 quarks (bárions) ou 2 quarks
so, onde o espaço (incluindo hipotéticas partes não (mésons). Os prótons e nêutrons formados (que são
observáveis do Universo) é representado em cada bárions) se agrupavam em núcleos e os elétrons
momento, em seções circulares. O esquema é deco- eram capturados em órbitas em torno dos núcleos,
rado com imagens do satéliteWMAP. formando átomos.
Apesar de ser uma tendência da cosmologia in- Os núcleos maiores e mais pesados foram criados
vestir num princípio, devemos considerar que o argu- no interior de estrelas, as quais por sua vez se forma-
mento que endossa a teoria do Big Bang é uma ex- ram pela aglomeração de grandes quantidades da
pansão do universo que pode ser observada. No en- matéria primordial. Algumas dessas estrelas ejetaram
tanto, essa dilatação pode ser um fenômeno regional, parte de sua massa para o espaço interestelar, levan-
existente apenas nos limites do universo observável do à formação de estrelas menores, planetas, nebu-
ou no alcance do atual telescópio Espacial Hubble. losas etc. As substâncias químicas foram criadas pela
Diante disso, existe a possibilidade desse fenômeno aglomeração dos átomos em moléculas e, finalmen-
não atender todo o universo. Nesse caso, o que até te, os seres vivos originaram-se do agrupamento de
hoje foi observado seria somente um processo de vários tipos de moléculas em estruturas complexas.
Assim, há grande “luta” pela vida entre os des- mesmo eles não são absolutamente idênticos, ape-
cendentes, pois apesar de nascerem muitos indiví- sar de o patrimônio genético inicial ser o mesmo. Isso
duos poucos atingem a maturalidade, o que man- porque podem ocorrer alterações somáticas devidas
tém constante o número de indivíduos na espécie. á ação do meio.
Na “luta” pela vida, organismos com variações A enorme diversidade de fenótipos em uma po-
favoráveis ás condições do ambiente onde vivem pulação é indicadora da variabilidade genética des-
têm maiores chances de sobreviver, quando compa- sa população, podendo-se notar que esta é geral-
rados aos organismos com variações menos favorá- mente muito ampla.
veis. A compeensão da variabilidade genética e fe-
Os organismos com essas variações vantajosas notípica dos indivíduos de uma população é funda-
têm maiores chances de deixar descendentes. Como mental para o estudo dos fenômenos evolutivos, uma
há transmissão de caracteres de pais para filhos, es- vez que a evolução é, na realidade, a transforma-
tes apresentam essas variações vantajosas. ção estatística de populações ao longo do tempo,
Assim , ao longo das gerações, a atuação da se-
ou ainda, alterações na frequência dos genes dessa
leção natural sobre os indivíduos mantém ou melhora
população. Os fatores que determinam alterações
o grau de adaptação destes ao meio.
na frequência dos genes são denominados fatores
evolutivos. Cada população apresenta um conjun-
A teoria sintética da evolução:
to gênico, que sujeito a fatores evolutivos , pode ser
A Teoria sintética da evolução ou Neodarwinismo alterado. O conjunto gênico de uma população é o
foi formulada por vários pesquisadores durante anos conjunto de todos os genes presentes nessa popula-
de estudos, tomando como essência as noções de ção. Assim , quanto maior é a variabilidade genética.
Darwin sobre a seleção natural e incorporando no- Os fatores evolutivos que atuam sobre o conjunto
ções atuais de genética. A mais importante contribui- gênico da população podem ser reunidos duas ca-
ção individual da Genética, extraída dos trabalhos tegorias:
de Mendel, substituiu o conceito antigo de herança - Fatores que tendem a aumentar a variabilidade
através da mistura de sangue pelo conceito de he- genética da população:mutação gênica, mutação
rança através de partículas: os genes. cromossônica , recombinação;
A teoria sintética considera, conforme Darwin já - Fatores que atuam sobre a variabilidade gené- 315
havia feito, a população como unidade evolutiva. A tica jás estabelecida : seleção natural, migração e
população pode ser definida como grupamento de oscilação genética.
indivíduos de uma mesma espécie que ocorrem em A integração desses fatores associada ao isola-
uma mesma área geográfica, em um mesmo inter- mento geográfico pode levar, ao longo do tempo,
valo de tempo. ao desenvolvimento de mecanismos de isolamento
Para melhor compreender esta definição , é im- reprodutivo, quando, então, surgem novas espécies.
portante conhecer o conceito biológico de espécie:
agrupamento de populações naturais, real ou po- Origem e Evolução do Ser Humano
tencialmente intercruzantes e reprodutivamente iso-
lados de outros grupos de organismos. África, o berço da humanidade
Quando, nesta definição, se diz potencialmente
intercruzantes, significa que uma espécie pode ter É comum indagarmos sobre a nossa origem. Vie-
populações que não cruzem naturalmente por esta- mos mesmo dos macacos? Antigamente a pergunta
rem geograficamente separadas. Entretanto, colo- era ouvida com desprezo e incredulidade, mas hoje
cadas artificialmente em contato, haverá cruzamen-
é recebida com naturalidade.
to entre os indivíduos, com descendentes férteis. Por
A origem do ser humano - esse mamífero tão es-
isso, são potencialmente intercruzantes.
pecial - deve ser analisada, pois o comportamento
A definição biológica de espécie só é valida para
humano tem raízes num passado remoto, quando
organismos com reprodução sexuada, já que, no
um ser meio macaco, meio humano ocupava as flo-
caso dos organismos com reprodução sexuada, já
restas e depois as savanas da África, onde devem
que, no caso dos organismos com reprodução asse-
xuada, as semelhanças entre características morfoló- ter surgido os primeiros ancestrais dos seres humanos.
gicas é que definem os agrupamentos em espécies. Há milhões de anos, a África era coberta por
Observando as diferentes populações de indiví- densas florestas e macacos movimentavam-se em
duos com reprodução sexuada, pode-se notar que bandos. Terremotos, porém, modificaram a paisa-
não existe um indivíduo igual ao outro. Execeções a gem, fazendo surgir montanhas de até 3 mil metros
essa regra poderiam ser os gêmeos univitelínicos, mas de altitude ao longo do continente.
Essas modificações transformaram não só a pai- do mais, teriam alimentação de melhor qualidade, e
sagem como também o clima: as grandes elevações esse fator aumentaria as chances de sobreviver, ter
formaram uma barreira contra a passagem da umi- filhos e transmitir as novas características às gerações
dade tão necessária à manutenção das florestas; futuras.
conseqüentemente, as árvores escassearam, dimi- Fisicamente, porém, havia um grande empeci-
nuindo as áreas de florestas, em parte substituídas por lho: não possuíam características de caçador. Não
matas, savanas e desertos. tinham presas desenvolvidas nem garras nem es-
Posteriormente, outras modificações da crosta queletos que lhes permitissem locomover-se em pé,
terrestre originaram um grande vale que, estenden- olhando por sobre o capim, com as mãos livres para
do-se de norte a sul, funcionou como um obstáculo empunhar paus, pedras e carregar o que coletavam.
natural às populações animais que viviam no leste e A caça de animais maiores tornava-se difícil... Algo
no oeste. deveria mudar.. . Teriam chances de sobreviver?
Separados por essa barreira natural, grupos de
macacos passaram a viver em lugares com condi- A evolução do ser humano
ções ambientais diferentes, fato que propiciou o am-
biente ideal à formação de uma nova espécie. O antropólogo Richard Leakey, em seu livro A
Assim, o destino dos seres vivos que ficaram nes- origem da espécie humana, afirma que a primeira
sas novas regiões dependia da adaptação às novas espécie de macaco bípede - o fundador da famí-
condições do meio; se se adaptassem sobreviveriam; lia humana - era fisicamente diferente dos macacos
se não, pereceriam. atuais e devia alimentar-se de talos, sementes, raízes,
Separados por essa barreira natural, os indivíduos brotos e insetos, da mesma forma que fazem hoje os
foram sofrendo pequenas modificações que, ao lon- babuínos das regiões montanhosas da Etiópia. Talvez
go de muitas gerações, resultaram populações com comesse animais que já encontrava mortos e, como
características físicas e comportamentais diferen- os chimpanzés, usasse gravetos para desenterrar raí-
tes em cada uma das regiões. Assim, alguns desses zes ou espantar adversários.
macacos do passado continuaram habitando as Acredita-se que a partir desse animal, que viveu
árvores das florestas remanescentes e originaram o entre 5 e 7 milhões de anos atrás, surgiu a família hu-
orangotango, o gorila e o chimpanzé; outros, que
mana. Mas somente há 3 milhões de anos aproxima-
316 ocupavam a região que se modificou, para poder
damente os hominídeos (espécies humanas ances-
sobreviver, abandonaram as árvores, aventuraram-
trais) proliferaram e deram origem a novos tipos: um
se pelo chão e deram origem aos humanos. Isso não
deles a linhagem do Homo, que originou o homem
se deu num passe de mágica, mas foram necessários
moderno.
milhões de anos em que, gradativamente, foram se
Entre esse ancestral e o ser humano atual - co-
acumulando modificações até se formar uma nova
nhecido nos meios científicos como Homo sapiens
espécie: a humana.
sapiens - houve uma série de outros tipos.
A floresta primitiva apresentava grande varieda-
Por meio dos fósseis sabemos que progressivas
de de folhas e frutos comestíveis, alimento farto e va-
modificações determinaram um aumento da esta-
riado aos nossos antepassados que não precisavam
tura e também do volume do cérebro. Este quase
deslocar-se a grandes distâncias para obtê-lo nem
de horário certo para se alimentar. Viviam em ban- triplicou, passando de 500 para 1.400 centímetros cú-
dos e saciavam a fome nos lugares por onde passa- bicos no homem atual. Como tudo isso aconteceu?
vam. Com as mudanças das condições ambientais O ser humano originou-se pela seleção natural, o
escassearam as florestas e apareceram as savanas, mesmo processo evolutivo que deu origem a todos
e já não havia mais a mesma fartura de alimento. os seres vivos.
As espécies, então, iniciaram uma grande competi- Nas células de todos os seres vivos há os cromos-
ção pelo alimento. Provavelmente alguns macacos somos e, nestes, os genes. Os genes são estruturas
se aventuraram fora do ambiente em que sempre responsáveis por todas as características que identifi-
tinham vivido, para procurar outras fontes de sub- cam um ser. Definem-lhe desde a forma até as subs-
sistência. Para sobreviver, modificaram os hábitos tâncias que compõem suas células, assim como o
alimentares, pois a vegetação escassa forçava-os a seu funcionamento.
procurar outros alimentos, levando-os provavelmen- Os genes são formados por uma substância co-
te a especializar-se mais na caça de pequenos ani- nhecida como DNA, que contém as informações
mais para complementar a sua alimentação. genéticas necessárias à vida em um sistema chama-
Todas as modificações que ocorreram em seu or- do código genético. Ocasionalmente, este código
ganismo que os capacitaram a caçar com mais faci- se modifica e, conseqüentemente, as substâncias
lidade provavelmente foram mantidas, pois, caçan- que vão ser formadas nesse ser, o que alterará as
características determinadas pelo gene. Essas modi- dos, o homem é um primata muito especial: herdou
ficações geralmente casuais são as mutações, que de seus ancestrais macacos a visão binocular (que
constituem a base ou a matéria-prima da evolução. permite a visão tridimensional e a percepção da pro-
Se esta modificação for favorável ao ser, aumentan- fundidade) e a capacidade de agarrar e manipular
do-lhe a probabilidade de sobrevivência no meio, objetos com as mãos, com destreza e perfeição.
a mutação será mantida. Essas mudanças ocorrem Além de o corpo ter-se tornado ereto, houve ain-
continuamente e, por serem graduais, são assimila- da o aumento relativo do volume do cérebro e da
das naturalmente pelas populações, passando des- espessura do córtex, onde se situam as circunvolu-
percebidas aos nossos olhos. ções, que no ser humano são mais desenvolvidas do
Desse modo, somos, entre outras coisas, o resulta- que nos demais primatas. Como conseqüência des-
do da herança genética codificada em nosso DNA, sas modificações cerebrais sua capacidade mental
originada não só do nosso grupo familiar e racial, mas tornou-se maior.
também dos nossos antepassados que viveram há Além dessas diferenças, uma das principais ca-
milhões de anos. Entretanto, não podemos chegar racterísticas humanas é a criação do mundo espiri-
ao extremo de acreditar que o DNA seja o único res- tual. Os chimpanzés não enterram seus mortos nem
ponsável por tudo o que somos. Agindo sobre o nos- têm simbologia para o além; não representam grafi-
so material genético comum, a cultura cria inúmeras camente as emoções, embora elas estejam presen-
e variadas tradições. tes no semblante e nos gestos; não apresentam cria-
A própria formação dos grupos étnicos é resulta- tividade para a elaboração de símbolos que levem a
do das mutações. Grupos humanos dispersaram-se imagens gráficas ou musicais.
por várias regiões da Terra e ficaram muito tempo O ser humano é o único animal capaz de impor
isolados geograficamente. Durante o período de sua vontade ao meio ambiente. Só ele tem realmen-
isolamento, sofreram pequenas modificações que te a capacidade de entender a diferença entre o
se foram somando e dando-Ihes características dife- bem e o mal. Somente o homem ama de forma a
rentes. Se um desses grupos tivesse permanecido iso- englobar todas as criaturas.
lado por longo período de tempo, tantas poderiam
ter sido as modificações causadas pelas mutações O despertar da consciência
que talvez até impossibilitassem o cruzamento ou a
formação de um descendente caso esses grupos se Será que os outros animais também têm cons- 317
encontrassem. Neste caso ter-se-ia se formado uma ciência? Até bem pouco tempo essa indagação não
nova espécie. No entanto, isso não aconteceu.
teria sentido, e a resposta seria um sonoro “Não!”.
Assim, ocorre naturalmente uma seleção impos-
Atualmente, como se descobriu que o chimpanzé re-
ta pelo ambiente, sobrevivendo aquele que estiver
conhece sua imagem no espelho, já não podemos
mais adaptado a ele. A esse processo - o principal
mais responder negativamente a essa pergunta.
mecanismo da Teoria da Evolução enunciada por
Pesquisadores colocaram uma mancha verme-
Charles Darwin (1809-1882) - damos o nome de sele-
lha na testa de um chimpanzé e fizeram-no olhar-se
ção natural.
no espelho; imediatamente, ele colocou a mão na
A hipótese mais aceita sobre a origem da espé-
testa: sabia que era a sua imagem. Outros tipos de
cie humana afirma que, por um mecanismo seme-
macacos, porém, não possuem a mesma capacida-
lhante, um grupo primitivo de macacos se diversifi-
de, portanto devem existir vários níveis de consciên-
cou, originando o ser humano, o chimpanzé, o gorila
cia, entre os quais a humana seria a mais diferencia-
e o orangotango.
Recentemente, estudos bioquímicos revelaram da e, como diz o antropólogo Richard Leakey, “o
que há 99,4% de semelhança entre o DNA humano produto de uma criação muito especial”.
e o do chimpanzé. Também nos mostraram que o A partir de 1960, vários trabalhos têm demonstra-
chimpanzé é muito mais parecido com os humanos do que determinados comportamentos considera-
do que com o gorila. Após esses estudos, o chimpan- dos essencialmente humanos - reconhecer-se diante
zé e o gorila passaram a fazer parte da família hu- do espelho, usar símbolos, fabricar artefatos e ferra-
mana. mentas - não são exclusividade da espécie humana.
Experiências realizadas com chimpanzés já demons-
O que nos diferencia dos outros primatas: traram que eles relacionam com facilidade símbolos
com objetos. Outros animais também são capazes
O homem, o gorila, o chimpanzé, o orangotango, de fazer essa associação. Os cães, por exemplo, fi-
os macacos do Novo e do Velho Mundo, o társio e cam felizes ao ver seus donos pegar a coleira, pois
o lêmure formam o grupo dos mamíferos conhecido associam a coleira ao passeio na rua, assim como as-
como primatas. Diferem bastante entre si, mas, de to- sociam uma vasilha com o alimento. Havia, porém,
uma curiosidade entre os pesquisadores: queriam sa- de óbvia, seja porque são associadas popularmente
ber se os chimpanzés usariam os símbolos para pen- com status elevado ou porque são impostos à força.
sar abstratamente. Para isso, em um teste, ensina- Pelo menos na evolução das línguas, parece que
ram-lhes o que era comida e o que era ferramenta. funciona um tipo de deriva, mudanças aparente-
Posteriormente, mostraram outras comidas e outras mente casuais que levam, por exemplo, à formação
ferramentas: os chimpanzés separaram com facilida- de dialetos. As características culturais e as línguas di-
de as comidas das ferramentas, mostrando que seu vergem se houver uma separação geográfica e exis-
intelecto estava generalizando abstrações. tem muitos exemplos de divergência, convergência
e paralelismo cultural entre as sociedades humanas.
1 Evolução biológica e cultural; É compreensível que ocorra seleção de grupo de ca-
A espécie humana representa uma das maiores racterísticas culturais. Muitas peculiaridades culturais,
populações de mamíferos do planeta, apresentando por exemplo, parecem conservar um balanço eco-
uma grande diversidade cultural. Através da evolu- lógico entre uma tribo e seu ambiente sem conferir
ção as populações foram se isolando e cada uma nenhuma vantagem especial a membros específicos
adquirindo hábitos culturais diferentes, isso provocou do grupo.
um diferenciação entre os povos, e em cada região A evolução cultural diverge da evolução biológi-
do planeta existem grandes grupos de seres huma- ca em pontos muitos importantes. Talvez o mais im-
nos divididos em países, estados, cidades e tribos, portante seja que a evolução cultural é lamarckiana:
que possuem culturas diferentes. o comportamento, a língua e as peculiaridades que
Este trabalho busca esclarecer algumas caracte- um indivíduo adquire durante a sua vida, são transmi-
rísticas dessa evolução cultural, que envolve desde tidas para seus descendentes ou para outros indiví-
hábitos alimentares até a observação de comporta- duos. Consequentemente, a mudança cultural pode
mento, que são transmitidos aos descendentes para ocorrer muito mais rapidamente do que a evolução
evolução das espécies. biológica e mudanças súbitas podem ocorrer numa
única geração. A
2 EVOLUÇÃO CULTURAL evolução cultural é muito mais intricada do que
a evolução biológica, porque as sociedades adotam
A evolução cultural consiste de mudanças no os hábitos umas das outras e porque inclusive ela im-
318 comportamento fundamentadas no aprendizado e põe um tipo de herança integrada: é muito difícil
não em alterações de freqüências gênicas. Ela pode identificar unidades de cultura que, como os genes,
ser tanto vertical (transmissão dos mais velhos para os sejam transmitidas sem alteração (considere a pro-
mais jovens) como horizontal (por imitação de prá- núncia do nome espanhol “Los Angeles” em inglês).
ticas entre irmãos e entre companheiros do mesmo A seleção que orienta a mudança cultural nor-
grupo). malmente é uma seleção das próprias caracterís-
Os modelos matemáticos da evolução cultural ticas, não dos indivíduos que as põem em práticas;
são muito incipientes. Eles podem incluir considera- o automóvel substitui o cavalo devido à sua vanta-
ções genéticas (como, por exemplo, admitindo que gem óbvia, não porque os motoristas de automóvel
certos genótipos tenham probabilidade maior de tiveram mais filhos de que os cavaleiros. A vantagem
aprender ou adotar uma particularidade cultural do muitas vezes pode ser ilusória: muitos traços culturais,
que outra) ou considerar as características culturais variando desde o hábito de fumar até políticas nu-
como entidades submetidas às suas próprias regras cleares, podem trazer em longo prazo e muitas ve-
de herança (não genética), assim como seleção, mi- zes em curto prazo, desvantagens tanto individuais,
gração e deriva não genética. É óbvio que a cultura como para grupos.
e a genética podem interagir. Por exemplo, muitos Algumas características culturais têm suas fre-
povos asiáticos são geneticamente incapazes de qüências aumentadas não somente devido à trans-
metabolizar produtos do leite quando adultos e esses missão cultural, mas porque elas influenciam no
produtos, tradicionalmente, não fazem crescimento e na dispersão das populações. A op-
parte de suas dietas. O que não se sabe é até ção pela agricultura, por exemplo, fez com que as
que ponto a prática cultural de não tomar leite in- sociedades pastoris alcançassem densidades popu-
fluenciou a frequência gênica, ou vice versa. lacionais maiores do que as sociedades dos caça-
É fácil traçar analogias entre a evolução biológi- dores – coletores, levando, a um aumento do tama-
ca e a evolução cultural, mas elas não deveriam ser nho populacional total e relativo dos agriculturalistas.
generalizadas. As inovações culturais (análogas às Como consequência, passaram a prevalecer outras
mutações) também sofrem ação de fatores seletivos, características culturais típicas dos agriculturalistas,
no sentido que algumas ficam arraigadas na cultura assim como as freqüências dos alelos que existiam,
e outras não, elas podem se fixar seja devido à utilida- nas tribos agricultoras.
3 A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA E A CULTURA HUMANA Segundo uma visão clássica, quase todos os
comportamentos que observamos nos animais são
Trabalhar nas múltiplas conceituações de cultura adaptativos. Eles respondem a estímulos apropria-
suscita o estabelecimento de um amplo debate dos de maneira eficiente e por isso alimentam-se,
interdisciplinar que envolve a preocupação de encontram abrigo, acasalam-se e procriam. O que
tratar das bases biológicas na formação da cultura, faz com que o comportamento de um animal se
sem todavia tentar-se “explicar” a cultura, mas sim torne tão bem adaptado ao seu ambiente natural
no sentido de também pensá-la biologicamente, pode ser um conjunto de respostas “pré-formadas”
partindo do pressuposto de que são verdadeiras as no sistema nervoso como parte de sua estrutura
concepções fundamentais da teoria da evolução herdada, constituindo-se num tipo de “memória da
propostas por Darwin, sem muita preocupação com espécie” transmitida de uma geração a outra ou
suas anomalias. pode ser uma capacidade de modificar seu com-
Dessa forma, se nenhum novo paradigma surgir portamento em virtude de suas experiências, à me-
revolucionando esta questão, este ensaio poderá dida que se desenvolve através da ação sobre o
servir como uma revisão adequada do assunto, am- meio (MANNING, 1977).
pliando as bases de discussão para o estabelecimen- O aprendizado permite modificar o comporta-
to do diálogo intercultural, caso contrário, poderá mento de modo a adaptá-lo a circunstâncias no-
servir como mais uma das “piadas” científicas a ser vas, no homem, isso permitiu o desenvolvimento de
contada, futuramente, nas salas de aula. uma grande plasticidade fenotípica, fazendo com
De acordo com pressupostos básicos da teoria que a organização estrutural das populações hu-
da evolução de Darwin, os seres vivos têm tendência manas seja certamente a mais elevada do reino
para apresentar variações, uma fração das quais é animal. Isto se aplica não só a estrutura social
de natureza hereditária. dentro das populações, das famílias às nações,
Quando essas variações não forem neutras para como também às relações inter-populacionais, que
a sobrevivência ou reprodução, ocorrerá, obviamen- são únicas. Estas diferenças podem superar, inclu-
te, uma sobrevivência e uma reprodução diferencia-
sive, as observadas entre populações de espécies
das de seus portadores. “Os seres favorecidos nessa
distintas e com muita frequência, as relações esta-
luta pela vida são considerados como os mais bem
belecidas se assemelham ao que se observa entre 319
adaptados aos meios em que vivem, isto é, os mais
predador e presa ou hospedeiro e parasita.
aptos sob o ponto de vista seletivo. Como o ambien-
O intercâmbio e interdependência entre popu-
te se altera ao longo do tempo, também mudam a
lações humanas é muito maior do que para outras
direção e a intensidade da seleção natural. Dessa
espécies. Isso afeta não apenas o intercâmbio de
forma os seres vivos irão evoluindo” (FREIRE-MAIA,
pessoas, como o de energia, de matéria, de conhe-
1991).
cimento e cultura.
Atualmente questiona-se o fato de que as muta-
Nesse sentido, com o crescente processo de
ções casuais e a seleção natural sejam fatores sufi-
globalização, torna-se cada vez mais urgente acres-
cientes para explicar toda a evolução, mas podem
centarmos à nossa cultura humana a capacidade
contribuir para uma reflexão sobre o papel da cultura
na origem do ser humano, que foi capaz de se de estabelecimento do diálogo intercultural.
diferenciar dos demais primatas, principalmente Sendo assim, não se pode definir um homem uni-
no que concerne à produção e armazenamento de camente pelos seus constituintes biológicos (células,
“cultura”. órgãos e metabolismos), é necessário, para expli-
Além da cultura, há inúmeras diferenças morfo- car as suas características mais essenciais, levar em
lógicas entre o ser humano e outros primatas, mas conta os grupos sociais e culturais em que ele está
grande parte delas puderam ser acumuladas a par- integrado, pois os utensílios fornecidos pela natureza
tir do isolamento sexual do grupo ancestral e neste não têm qualquer interesse enquanto outros homens
isolamento reprodutivo ela desempenha um papel não nos ensinarem a manejá-los (Jacquard,1988).
destacado. Fato é que até os animais menos complexos po-
Podemos conceituar biologicamente a cultura dem, por seu comportamento, alterar o ambiente
como uma extraordinária complexificação do que se adequando-o em seu proveito, e assim modificar as
denomina, em Biologia, de comportamento animal, forças seletivas que os afetam. Um comportamen-
que, em linhas gerais, envolve todos os processos to completamente novo pode ser transmitido por
através dos quais um animal percebe o mundo exter- aprendizado e gradativamente substituir a ativida-
no e o seu estado interno e responde às mudanças de prévia, sem que ocorra nenhuma alteração ge-
percebidas. nética, pois, em geral, se herda apenas uma poten-
cialidade para aprender e não o aprendizado em si, Dessa forma, quanto mais fortemente estiverem
a não ser nos casos em que não há sobreposição de “ligados” ou apareceram no mesmo indivíduo genes
gerações e os indivíduos precisam nascer sabendo. com alto poder
É claro que a evolução cultural só é possível entre adaptativo, menor será o risco de aparecerem
os animais que possuem uma capacidade conside- indivíduos em que alguns deles faltem, provocando
rável de modificar seu comportamento por prática e um desenvolvimento imperfeito. Nesse caso, ressalta
imitação, e, além do homem, isso pode ser observa- a importância dos processos de isolamento reprodu-
do em outros primatas, tendo sido descobertas uma tivo, ou de seleção sexual, que favorecem o acasala-
grande variedade de diferenças alimentares, cuja mento entre determinados indivíduos em detrimento
origem foi cultural, entre bandos do macaco japonês de outros, garantindo a manutenção dessa ligação
Macaca fuscata. genética.
Paradoxalmente, é muito restrito o papel que a Sem dúvida os processos de isolamento reprodu-
aprendizagem pode desempenhar na evolução do tivo fazem parte da herança genética, não apenas
comportamento animal, pois essa evolução depen- dos animais como também de todos os grupos de
de de variações herdadas sobre as quais a seleção seres vivos com reprodução sexuada, pois eles de-
possa agir. Ou seja, para que os processos de sele- sencadeiam a microevolução, um processo que dá
ção natural possam atuar é necessário que o novo origem a novas espécies a partir de uma população
comportamento se transforme em informação “her- ancestral.
dável”, que não dependa exclusivamente do rela- O isolamento reprodutivo envolve, inicialmente
cionamento direto entre os seres vivos, caso contrá- apenas padrões comportamentais de reconheci-
rio o novo comportamento, por mais adaptativo que mento e estranhamento. Nos animais estes sinais so-
seja corre o risco de ser perdido com a extinção do ciais precisam ser salientes e quase todos têm forma
indivíduo ou grupo populacional que o tenha desen- muito exagerada, pois para terem a maior eficiência
volvido. possível precisam ser nítidos e inequívocos, principal-
Nesse sentido, a capacidade de “registrar” sua mente entre espécies próximas ou morfologicamen-
cultura através da escrita, pintura, escultura, música, te semelhantes onde as diferenças são basicamente
etc, foi provavelmente uma das maiores conquistas quantitativas.
que fez com que o homem se diferenciasse dos de- Hoje, com já dissemos anteriormente, acumu-
320 mais primatas e pudesse “evoluir culturalmente”. lamos tantas diferenças, que nos diferenciam dos
Hoje, já acumulamos tantas diferenças e nos di- nossos parentes primatas que parece meio irracional
ferenciamos tanto dos nossos parentes primatas que pensar em estratégias especiais de isolamento se-
parece meio irracional pensar num tempo onde nos- xual, mas nos primórdios do surgimento do homem
sas diferenças morfológicas em relação aos chim- nossas diferenças
panzés e orangotangos não eram assim tão eviden- morfológicas não eram assim tão evidentes. Além
tes. disso, não é verdade que os macacos modernos es-
A hipótese mais aceita para o surgimento do ho- tejam genealogicamente mais próximos do que nós
mem era de que nossos ancestrais se pareciam mui- do ancestral comum que deu início à divisão entre os
to com os grandes antropoides atuais. Porém, a des- símios em geral e os grandes macacos há milhões de
coberta de um esqueleto de Ardipithecus ramidus anos atrás.
muda este conceito sugerindo que os ancestrais dos O fóssil de Ardipithecus ramidus, com idade esti-
macacos já foram muito parecidos com os homens mada de 4,4 milhões de anos confere com prespec-
atuais. Este fóssil repudia o senso comum de que os tivas anteriores de que nosso ramo do arbusto dos
macacos atuais foram nossos ancestrais e reforça as grandes macacos apresentaria um ancestral comum
teorias evolutivas, as quais preconizam que o ser hu- com os chimpanzés até 5 e 8 milhões de anos atrás,
mano e os grandes macacos antropoides, como go- isso significa que por muito tempo fomos uma mesma
rila e chimpanzé, tiveram o mesmo e desconhecido espécie.
ancestral comum. Tanto quanto nós, os chimpanzés, bonobos, gori-
O surgimento de uma nova espécie envolve um las e orangotangos são formas bastante evoluídas e
processo de acúmulo de diferenças genéticas a tal adaptadas aos seus ambientes. Mas é provável que
ponto que o cruzamento entre os indivíduos não pro- ainda tenhamos na nossa bagagem genética uma
duza mais descendentes férteis, para isso, a seleção tendência grande para o desenvolvimento de me-
natural é fundamental pois, ao longo do tempo, vai canismos de isolamento sexual baseados em diferen-
favorecendo as ligações entre os genes, que contri- ças culturais, como um recurso auxiliar para discrimi-
buem conjuntamente para uma característica co- narmos, aqueles que são iguais a nós daqueles que
mum. são diferentes de nós.
Este aspecto favoreceria, indiretamente, o surgi- participar na construção da humanidade e, para tal,
mento dos comportamentos racistas entre diferentes incitá-lo a tornar-se o seu próprio criador, a sair de si
populações ou grupos sociais como uma manifesta- mesmo para poder ser um sujeito que escolhe o seu
ção do instinto de preservação, ou seja, como um percurso e não um objeto que assiste submisso à sua
ônus da evolução cultural. própria produção”. O termo “humanitude” define “a
Logicamente, não somos apenas seres que se iso- contribuição de todos os homens, de outrora ou de
lam, temos também que considerar nossa alta poten- hoje, para cada homem”
cialidade de estabelecimento de agrupamentos hu- A evolução cultural da espécie humana é mais
manos, já presente quando éramos primatas e tam- rápida que a evolução biológica, talvez por con-
bém a intrigante e incompreendida característica do siderar aspectos evolutivos, como comportamen-
altruísmo, que nos capacita à filantropia. to. O fato de o ser humano conviver em sociedade
Assim, vemos em luta as forças dissociativas do contribui para essa evolução cultural, porém, essas
isolamento sexual e associativas da formação de mudanças podem ser benéficas ou não o que con-
grupo. As primeiras nos tradiz a teoria darwiniana, onde os mais aptos sobre-
lançando à luta ou à fuga de tudo aquilo que nos vivem, talvez pelo fato de as características culturais
seja estranho, as segundas nos capacitando para a não estarem relacionada à genética. Assim pode-se
convivência e o desenvolvimento dos processos edu- relacionar a evolução cultural à teoria lamarckista,
cativos, que podem nos proporcionar um comporta- pois as características adquiridas são passadas a seus
mento ou uma cultura muito distanciada da nossa descendentes e indivíduos do mesmo grupo.
natureza meramente animal. Assim, pode-se afirmar que a evolução cultural foi
Para Nietzsche: “O homem é corda distendida e continua sendo de grande importância para a es-
entre o animal e o super-homem: uma corda sobre pécie humana, trazendo vantagens e desvantagem,
um abismo; travessia perigosa, temerário caminhar, social e economicamente.
perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. A Anatomia: é a ciência que estuda e classifica e
grandeza do homem é ser ele uma ponte, e não descreve as estruturas e órgãos do corpo humano.
uma meta [...]”. Etimologicamente, deriva do grego Ana, “repetir”, e
Voltando às questões biológicas, é muito difícil tomos, “cortar”; ou seja, da repetição de cortes na
precisar até que ponto se pode transpor os conheci-
dissecação de cadáveres. 321
mentos obtidos com pesquisas em animais aos seres
humanos, mas “faz parte da sabedoria convencional
Fisiologia: (do grego physis = natureza, função
que virtualmente toda variação cultural é originaria-
ou funcionamento; e logos = palavra ou estudo) é
mente mais fenotípica do que genética” (RUSE,1983).
o ramo da biologia que estuda as múltiplas funções
Darwin, por exemplo, apoiava a origem biológi-
mecânicas, físicas e bioquímicas nos seres vivos. De
ca da agressão humana, assim como afirmava que
uma forma mais sintética, a fisiologia estuda o funcio-
as diferenças raciais podiam ser explicadas através
namento do organismo.
desse mecanismo. Todavia, essa discussão suscita o
problema básico de saber até que ponto os padrões
Quando você procura assistência médica, preci-
do comportamento humano, de fato, constituem
sa usar os termos anatômicos corretos para descre-
uma função direta dos genes e não da cultura, mas
ver a posição, a direção e a localização da vítima.
querer “explicar” os processos sociais através do co-
nhecimento biológico é uma ingenuidade, que tem Primeiramente, veremos os termos relativos à posi-
levado muitos biólogos a uma leitura míope acerca ção, direção e localização.
do homem. Termos relativos à posição:
Este ensaio procurou levantar alguns aspectos
que favorecessem a reflexão sobre a importância da Posição anatômica – o paciente está em pé,
cultura para o surgimento e estruturação da espécie ereto, os braços para baixo ao longo do corpo, as
humana, no sentido da mesma ter tido um importan- palmas voltadas para frente. “Direita” e “esquerda”
te papel no nosso auto-reconhecimento e no isola- referem-se à direita e esquerda da vítima.
mento reprodutivo. Posição de decúbito dorsal – o acidentado está
Nossa deitado de costas (com a barriga para cima).
capcidade biológica para estruturação de uma Posição de decúbito ventral – o acidentado está
cultura elaborada possibilitou os processos educati- deitado com a barriga para baixo (de bruços).
vos. Jacquard (1988) afirma que: “O objetivo primário Posição de decúbito lateral – o paciente está dei-
da educação é, evidentemente, revelar a um filho tado de lado (direito ou esquerdo).
de homem a sua qualidade de homem, ensiná-lo a
322
Sistema Esquelético
323
Existem três tipos básicos de músculos no corpo humano:
- Músculos esqueléticos ou voluntários – estão sobre o controle consciente da pessoa e tornam possíveis
ações como andar, mastigar, engolir, sorrir, falar e mover os olhos. Estes músculos ajudam a dar a forma ao
corpo. A maioria dos músculos esqueléticos está presa aos ossos por tendões, que são cordões rígidos de
tecido fibroso.
- Músculos lisos ou involuntários – são aqueles que temos pouco ou nenhum controle consciente, como
no intestino e vasos sanguíneos.
- Músculo cardíaco – forma a parede do coração. Este músculo é capaz de auto-estimular suas contra-
ções sem receber sinais do sistema nervoso central.
Existem três tipos de músculos. Os músculos esqueléticos, também denominados músculos voluntários, são
encontrado em todo o corpo. O músculo cardíaco se limita ao coração. Os músculos lisos, ocasionalmente
denominados músculos involuntários, são encontrados nos intestinos, nas arteríolas e nos bronquíolos.
Sistema Circulatório
Sistema Digestório
O sistema digestório compreende o trato alimen-
tar e os órgãos acessórios da digestão – boca, esô-
fago, estômago, pâncreas, fígado, baço, vesícula
biliar, intestino delgado e intestino grosso.
Em caso de ferimentos fechados (batida) ou pe-
netrantes (facada, tiro) no abdome, é necessário
atendimento de emergência.
Sistema Nervoso
A pele é o maior órgão do organismo. Tem a fun- O sistema cardiocirculatório é exposto a condi-
ção de proteger os órgãos internos contra lesões e ções variáveis de estresse e tem uma grande capa-
invasão de microorganismos, impedir a desidrata- cidade de se adaptar. Entender essa fisiologia adap-
ção, manter a temperatura do corpo e atuar como tativa torna-se muito importante, visto que as mani-
receptor do tato, dor, calor e frio. festações clínicas de muitas doenças cardiovascula-
A pele é composta de três camadas. A camada res acontecem devido à perda desta capacidade
mais externa, a epiderme, contém células que dão adaptativa e de sua função principal, que é fornecer
cor à pele. A derme, se segunda camada, conte sangue para suprir os tecidos de oxigênio e nutrientes
a vasta rede de vasos sanguíneos, folículos pilosos, necessários para o metabolismo
glândulas sudoríparas, glândulas sebáceas e nervos O endocárdio compõe o revestimento interno
sensitivos. A última camada é composta por tecido do coração (membrana interna), em contato direto
adiposo com espessura variada, dependendo da com o sangue, o pericárdio é a membrana que re-
parte do corpo que ela cobre. veste externamente o coração. O miocárdio, múscu-
lo cardíaco, é estriado e possui filamentos de actina e
miosina(proteínas que fazem a contração muscular),
que deslizam uns pelos outros durante a contração,
determinando o inotropismo cardíaco, que é a força
de contração. O feixe átrio ventricular é um sistema
de condução elétrica especializado em conduzir po-
tencial elétrico entre átrio e ventrículo, determinando
a contração sincronizada das células cardíacas. O
nodo sinusal, ou também chamado sinoatrial é con-
siderado o marcapasso normal do coração, contro-
lando o batimento cardíaco devido a sua freqüência
de descargas rítmicas liberadas.
326
Fisiologia
em ramo esquerdo e direito; a partir daí, as células de Vejamos abaixo, os principais tipos células sanguí-
Purkinje distribuem-se de forma a permitir que todo o neas e suas principais características.
miocárdio ventricular (células de contração cardía-
ca) seja ativado simultaneamente. O ciclo cardíaco
consiste em um período de relaxamento, denomina-
do diástole, onde o coração se enche de sangue, e
um período de contração denominado sístole, onde
o coração bombeia boa parte do sangue presente
nos ventrículos.
Diástole
Sístole
Quando o organismo tem febre, ocorre um au- Sistema Respiratório
mento acentuado da FC, chegando até o dobro do
seu valor. Isto se dá pelo fato de o calor aumentar A respiração é o intercâmbio de gases entre um
o metabolismo, dentre outros fatores. Na hipotermia organismo e o meio no qual esse organismo vive.
ocorre o inverso, a FC diminui chegando a alguns Mais especificamente, trata-se da absorção de oxi-
poucos batimentos por minuto até a morte. gênio, sua utilização nos tecidos e a eliminação de
dióxido de carbono pelo organismo.
Sistema Hematopoiético Para o diagnóstico e o tratamento da maioria 327
das doenças respiratórias é necessário compreen-
O sangue é um tecido fluido, composto em 45%
der os princípios da fisiologia respiratória e das trocas
de componentes celulares que circulam em suspen-
gasosas. Algumas doenças respiratórias resultam de
são num meio líquido, denominado plasma. A parte
ventilação inadequada, ao passo que outras resul-
celular, composta principalmente pelas hemácias
(células vermelhas, para transporte de oxigênio no tam de anormalidades na difusão através da mem-
sangue) é denominada hematócrito. O componente brana pulmonar ou no transporte de gases dos pul-
celular do sangue consiste em três tipos principais de mões para os tecidos.
células: leucócitos (células brancas), eritrócitos (he- Podemos dividir a respiração em quatro grandes
mácias) e trombócitos (plaquetas). A porção acelular eventos, do ponto de vista funcional:
ou plasma é constituída por 92% de água. Os 8% res- - A ventilação pulmonar, que é a remoção cícli-
tantes são formados por proteínas, sais e outros cons- ca do gás alveolar pelo ar atmosférico.
tituintes orgânicos em dissolução - A difusão do oxigênio e do dióxido de carbono
Num homem adulto e normal, com peso corpó- entre os alvéolos e o sangue.
reo de 75 kg, o volume total de sangue é de, apro- - O transporte, no sangue e nos líquidos corpo-
ximadamente, 5.000 mL. Nas mulheres, esses valores rais, do oxigênio (dos pulmões para as células) e do
são um pouco menores, ou seja, 3.404 mL de volume dióxido de carbono (das células para os pulmões).
sangüíneo total, considerando-se um peso médio de - A regulação da ventilação e de outros aspec-
55 kg. tos da respiração.
O sistema hematopoiético consiste em sangue e São exemplos de doenças do sistema respirató-
nos locais onde este é produzido, incluindo a medu- rias a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica)
la óssea e o sistema reticuloendotelial. Na criança,
que nela inclui o enfisema pulmonar e a bronquite
todos os ossos esqueléticos estão envolvidos, mas, à
crônica; embolia pulmonar; síndrome do descon-
medida que a pessoa envelhece, a atividade da me-
forto respiratório agudo (SDRA); edema agudo de
dula diminui. Todavia, na idade adulta, a atividade
pulmão (EAP); pneumonia; infecções; insuficiência
da medula é geralmente limitada à pelve, costela,
vértebra e esterno. respiratória aguda (IRA); dentre outras.
A inspiração, que promove a entrada de ar nos Os sinais para os músculos expiratórios, especial-
pulmões, dá-se pela contração da musculatura do mente os músculos abdominais, são transmitidos para
diafragma e dos músculos intercostais. O diafragma a porção baixa da medula espinhal, para os nervos
abaixa e as costelas elevam-se, promovendo o au- espinhais que inervam os músculos.
mento da caixa torácica, com consequente redução Existem algumas ocasiões em que a concentra-
da pressão interna (em relação à externa), forçando ção de oxigênio nos alvéolos cai a valores muito bai-
o ar a entrar nos pulmões. A expiração, que promove xos. Isso ocorre especialmente em locais de grande
a saída de ar dos pulmões, dá-se pelo relaxamento altitude ou quando uma pessoa contrai pneumonia,
da musculatura do diafragma e dos músculos inter- por exemplo.
costais. O diafragma eleva-se e as costelas abaixam,
o que diminui o volume da caixa torácica, com con- Sistema Renal
seqüente aumento da pressão interna, forçando o ar
a sair dos pulmões. O sistema urinário é composto pelos rins, ureteres,
bexiga e uretra. Os rins são órgãos excretores e regu-
ladores. Excretando a água e outras substâncias, os
rins eliminam do corpo o excesso de água e produ-
tos desnecessários e tóxicos. Eles também regulam o
volume e a composição dos fluidos corporais dentro
de um limite bastante estreito, eliminando o efeito de
grandes variações na absorção de alimentos e água.
Devido à função homeostática dos rins, os tecidos e
as células do corpo podem realizar suas funções ha-
bituais em um ambiente relativamente constante.
O fluxo sanguíneo para os dois rins é equivalente
a 25% (1,25 L/min) do débito cardíaco nos indivíduos
em repouso. Contudo, os rins constituem menos de
0,5% do peso corporal total.
No ser humano, cada rim é constituído de cerca
328 de 1 milhão de néfrons, cada um destes é capaz de
Cinética do movimento inspiratório com eleva-
formar urina. Os néfrons são tubos ocos formados de
ção das costelas e abaixamento do diafragma.
uma camada celular simples. O rim não tem a capa-
cidade de regenerar novos néfrons. Por conseguinte,
O transporte de gás oxigênio está a cargo da he-
em caso de lesão ou doença renal, ou no processo
moglobina, proteína presente nas hemácias. Cada
do envelhecimento normal, verifica-se diminuição
molécula de hemoglobina combina-se com 4 molé-
gradual do número de néfrons.
culas de gás oxigênio, formando a oxi-hemoglobina.
Nos alvéolos pulmonares o gás oxigênio do ar difun-
de-se para os capilares sangüíneos e penetra nas
hemácias, onde se combina com a hemoglobina,
enquanto o gás carbônico (CO2) é liberado para o
ar. Nos tecidos ocorrem um processo inverso: o gás
oxigênio dissocia-se da hemoglobina e difunde-se
pelo líquido tissular, atingindo as células.
Em repouso, a frequência respiratória (FR) é da
ordem de até 12 movimentos por minuto. A respira-
ção é controlada automaticamente por um centro
nervoso localizado no bulbo. Desse centro partem
os nervos responsáveis pela contração dos músculos
respiratórios (diafragma e músculos intercostais).
Os sinais nervosos são transmitidos desse centro
através da coluna espinhal para os músculos da res-
piração. O mais importante músculo da respiração,
o diafragma, recebe os sinais respiratórios através de
um nervo especial, o nervo frênico, que deixa a me-
dula espinhal na metade superior do pescoço e diri-
ge-se para baixo, através do tórax até o diafragma.
Importância da Microbiologia: É uma área da varíola. Muitos habitantes de Roma foram mortos,
Biologia que tem grande importância seja como deixando a cidade com menos poder para suportar
ciência básica ou aplicada. Básica: estudos fisiológi- os ataques dos bárbaros, que terminaram por destruir
cos, bioquímicos e moleculares (modelo compara- o Império.
tivo para seres superiores). Microbiologia Molecular Durante a Idade Média varias novas epidemias
Aplicada: processos industriais, controle de doenças, se sucederam, sendo algumas amplamente disse-
de pragas, produção de alimentos, etc. minadas pelos diferentes continentes e outras mais
localizadas. Dentre as principais moléstias pode-se
Áreas de estudo: citar: Tifo, varíola, sífilis, cólera e peste. Em 1346, a po-
pulação da Europa, Norte da África e Oriente Médio
Odontologia: Estudo de microrganismos associa- era de cerca de 100 milhões de habitantes. Nesta
dos à placa dental, cárie dental e doenças perio- época houve uma grande epidemia da peste, que
dontais. Estudos com abordagem preventiva. disseminou-se através da “rota da seda” (a principal
Medicina e Enfermagem: - Doenças infecciosas e rota mercante para a China), provocando um gran-
infecções hospitalares. de número de mortes na Ásia e posteriormente espa-
Nutrição: - Doenças transmitidas por alimentos, lhando-se pela Europa, onde resultou em um total de
Controle de qualidade de alimentos, Produção de cerca de 25 milhões de pessoas, em poucos anos.
alimentos (queijos, bebidas). Novas epidemias da peste ocorreram nos sécu-
Biologia: - Aspectos básicos e biotecnológicos. los XVI e XVII, sendo que no século XVIII (entre 1720 e
Produção de antibióticos, hormônios (insulina, GH), 1722), uma última grande epidemia ocorreu na Fran-
enzimas (lipases, celulases), insumos (ácidos, álcool), ça, matando cerca de 60% da população de Marse-
Despoluição (Herbicidas - Pseudomonas, Petróleo), lha, de Toulon, 44% em Arles, 30% em Aix e Avignon.
Bio-filme (Acinetobacter), etc. A epidemia mais recente de peste originou-se na Chi-
Biotecnologia - Uso de microrganismos com finali- na, em 1892, disseminando-se pela Índia, atingindo
dades industriais, como agentes de biodegradação, Bombaim em 1896, sendo responsável pela morte de
de limpeza ambiental, etc. cerca de 6 milhões de indivíduos, somente na Índia.
Antes da II Guerra Mundial, o resultado das guerras
Efeitos das doenças nas civilizações: talvez um era definido pelas armas, estratégias e “pestilência”,
332 dos aspectos mais negligenciados quando se estu- sendo esta última decisiva. Em 1566, Maximiliano II
da a microbiologia refere-se às profundas mudanças da Alemanha reuniu um exército de 80.000 homens
que ocorreram no curso das civilizações, decorrentes para enfrentar o Sultão Soliman da Hungria. Devido
das doenças infecciosas. De forma geral, as doen- a uma epidemia de tifo, o exército alemão foi pro-
ças provocavam um abatimento físico e moral da fundamente dizimado, sendo necessária a dispersão
população e das tropas, muitas vezes influencian- dos sobrevivente, impedindo assim a expulsão das
do no desenrolar e no resultado de um conflito. A hordes de tribos orientais da Europa nesta época.
própria mobilização de tropas, resultando em uma Na guerra dos 30 anos (1618-1648), onde protes-
aglomeração, muitas vezes longa, de soldados, em tantes se revoltaram contra a opressão dos católicos,
ambientes onde as condições de higiene e de ali- além do desgaste decorrente da longa duração do
mentação eram geralmente inadequadas, também confronto, as doenças foram determinantes no re-
colaborava na disseminação de doenças infeccio- sultado final. Na época de Napoleão, em 1812, seu
sas, para as quais não existiam recursos terapêuticos. exército foi quase que completamente dizimado por
Paralelamente, em áreas urbanas em franca expan- tifo, disenteria e pneumonia, durante campanha de
são, os problemas mencionados acima eram tam- retirada de Moscou. No ano seguinte, Napoleão ha-
bém de grande importância, pois rapidamente as ci- via recrutado um exército de 500.000 jovens solda-
dades cresciam, sendo que as instalações sanitárias dos, que foram reduzidos a 170.000, sendo cerca de
geralmente eram completamente precárias. 105.000 mortes decorrentes das batalhas e 220.000
Com a prática do comércio entre as diferentes decorrentes de doenças infecciosas. Em 1892, outra
nações emergentes, passou a haver a disseminação epidemia de peste bubônica, na China e Índia, foi
dos organismos para outras populações, muitas vezes responsável pela morte de 6 milhões de pessoas.
susceptíveis a aqueles agentes infecciosos. Abaixo lis- Até a década de 30, este era quadro, quan-
taremos, brevemente, um pequeno histórico com al- do Alexander Fleming, incidentalmente, descobriu
guns exemplos dos efeitos das doenças microbianas um composto produzido por um fungo do gêne-
no desenvolvimento de diferentes civilizações. O de- ro Penicillium, que eliminava bactérias do gênero
clínio do Império Romano, com Justiniano (565 a.C.), Staphylococcus, um organismo que pode produ-
foi acelerado por epidemias de peste bubônica e zir uma vasta gama de doenças no homem. este
composto - denominado penicilina - teve um pa- das formas de distribuição no interior do citoplasma.
pel fundamental na desfecho da II Guerra Mundial, Essas duas características determinam aspectos dife-
uma vez que passou a ser administrado às tropas rentes no desenvolvimento embrionário. É o estudo
aliadas, enquanto o exército alemão continua- do desenvolvimento do ovo, desde a fecundação
va a sofrer pesadas baixas no campo de batalha. até a forma adulta.
Além destas epidemias, vale ressaltar a importância
das diferentes epidemias de gripe que assolaram o Tipos de ovos:
mundo e que continuam a manifestar-se de forma
bastante intensa até hoje. Temos ainda o problema Oligolécitos - alécitos - pouco vitelo (equinoder-
mundial envolvendo a AIDS, o retorno da tuberculose mos, protocordados e mamíferos).
(17 milhões de casos no Brasil) e do aumento progres- Telolécitos incompletos - heterolécitos - polarida-
sivo dos níveis de resistência aos agentes antimicro- de (anfíbios).
bianos que vários grupos de bactérias vêm apresen- Telolécitos completos - megalécitos - disco germi-
tando atualmente. nativo (peixe, répteis, aves).
Centrolécitos - vitelo no centro (artrópodes).
Embriologia
Tipos de clivagem:
Tipos de óvulos (ovos): classificação e ocorrência.
Holoblástica (total)
A embriologia é a parte da Biologia que estuda o Igual – oligolécitos
desenvolvimento dos embriões animais. Há grandes Desigual - telolécitos incompletos
variações, visto que os animais invertebrados e ver-
tebrados apresentam muitos diferentes aspectos e Meroblástica (parcial)
níveis evolutivos. Discoidal - telolécitos completos
Superficial - centrolécitos
Em Biologia o desenvolvimento envolve diversos
aspectos: Fases do Desenvolvimento
- Multiplicação de células, através de mitoses su-
cessivas. Segmentação: aumento do número de células 333
- Crescimento, devido ao aumento do número (blastômeros);
de células e das modificações volumétricas em cada
uma delas.
- Diferenciação ou especialização celular, com
modificações no tamanho e forma das células que
compõem os tecidos. Essas alterações é que tornam
as células capazes de cumprir suas funções biológi-
cas.
como são mais apolares tendem a passar pelo pro- resposta inata, ao contrário da adaptativa, sempre
cesso de metabolização, que os torna mais polares dá a mesma resposta mesmo quando é exposta vá-
e passíveis de serem eliminados pela urina, mas aí o rias vezes ao patógeno. Os fagócitos coordenam as
que está sendo eliminado do organismo são os me- respostas inatas e os linfócitos coordenam as respos-
tabólitos do fármaco, já não é mais o fármaco. Já os tas imunes adaptativas. Os principais componentes
fármacos que são polares são eliminados pela urina do sistema imune são as células T, células B, linfócitos
sem passar pela metabolização, e então o que está grandes granulares (células NK), fagócitos mononu-
sendo eliminado agora é o fármaco mesmo e não cleares (monócitos), neutrófilos, eosinófilos, basófilos,
seus metabólitos. mastócitos (denominação dos basófilos infudidos nos
Obs: esta matéria será vista novamente em ou- tecidos), plaquetas e células teciduais.
tros tópicos. Os linfócitos T e B são responsáveis pelo reconhe-
cimento específico dos antigénios. Cada célula B
Imunologia está geneticamente programada para codificar um
receptor de superfície específico para um determina-
É o ramo da biologia que estuda o sistema imu- do antígeno, os linfócitos T constituem várias subpo-
nitário (ou imunológico). Ele lida, entre outras coisas, pulações diferentes com uma variedade de funções.
com o funcionamento fisiológico do sistema imune As células citotóxicas reconhecem e destroem outras
de um indivíduo no estado sadio ou não, mal funcio- células que se tornaram infectadas. Essas células são:
namento do sistema imune em casos de doenças Ta¹, Ta², Tc e LGG. As células auxiliares que controlam
imunológicas (doenças autoimunes, hipersensitivida- a inflamação são: basófilos, mastócitos e plaquetas.
de, deficiência imune rejeição pós enxerto); carac- Os basófilos e mastócitos possuem granulosidades
terísticas físicas, químicas e fisiológicas dos compo- no seu citoplasma e uma série de mediadores que
nentes do sistema imune in vitro, in situ e in vivo. O provocam inflamação nos tecidos circundantes. As
ramo da imunologia que estuda a sua interação com plaquetas também podem liberar mediadores infla-
o comportamento e o sistema neuroendócrino cha- matórios quando activadas durante a trombogénese
ma-se psiconeuroimunologia. O conceito de Imuno- ou por complexos antígeno-anticorpo.
logia foi criado por Elie Metchnikoff em 1882. Após As moléculas envolvidas no desenvolvimento da
espetar uma larva transparente de estrela-do-mar resposta imune compreendem os anticorpos e as ci-
com o acúleo de uma roseira, Metchnikoff verificou 335
tosinas, produzidas pelos linfócitos, e uma ampla va-
um acumulo de células cercando a ponta afiada, 24
riedade de outras moléculas conhecidas como pro-
horas após a injúria. Uma resposta activa (inexistente
teínas de fase aguda, porque as suas concentrações
naquela época - ver Teoria dos Humores) dos orga-
séricas elevam-se rapidamente durante a infecção.
nismos foi então proposta, baseada nas observações
As moléculas que promovem a fagocitose são co-
da Fagocitose (termo cunhado pelo próprio Metch-
nhecidas como opsoninas. O sistema complementar
nikoff). Esta actividade seria fundamental na manu-
é um conjunto de aproximadamente 20 proteína sé-
tenção da integridade dos organismos, sendo que a
ricacieínas séricas cuja principal função é o controle
defesa aparece como um fenômeno secundário.
do processo inflamatório. As proteínas deste sistema
As células responsáveis pela imunidade são os lin-
promovem a fagocitose, controlam a inflamação e
fócitos e os fagócitos. Os linfócitos podem apresen-
interagem com os anticorpos na resposta imune. As
tar-se como linfócitos T ou linfócitos B (estes são res-
citosinas são moléculas diversas que fornecem sinais
ponsáveis pela produção de anticorpos), as células
T citotóxicas (CD8) destroem células infectadas por para os linfócitos, fagócitos e outras células do orga-
vírus e os linfócitos T auxiliares (CD4) coordenam as nismo. Todas as citosinas são proteínas ou péptidos,
respostas imunes. Além das defesas internas existem algumas contendo glicoproteínas.
também defesas externas (Ex: pele – barreira física, Os principais grupos de citosinas são: Interferons
ácidos gordos e comensais). As defesas externas são (IFNs) (limitam a propagação de certas infecções vi-
a primeira barreira contra muitos organismos agres- rais), Interleucinas (ILs) (a maioria delas está envolvi-
sores. No entanto, muitos conseguem penetrar, ac- da na indução de divisão e diferenciação de outras
tivando assim as defesas internas do organismo. O células), Fatores estimuladores de colônias (CSFs) (di-
sistema imune pode sofrer um desequilíbrio que se visão e diferenciação das células-tronco na medula
apresenta como imunodeficiência, hipersensibilida- óssea e dos precursores dos leucócitos sanguíneos),
de ou doença auto-imune. Quimiocinas (direcciona a movimentação das cé-
As respostas imunes podem ser adaptativas ou lulas pelo organismo) e outras citosinas (são particu-
inatas: as respostas adaptativas reagem melhor cada larmente importantes nas reacções inflamatórias e
vez que encontram um determinado patógeno e a citotóxicas).
Anticorpos: são um grupo de proteínas séricas ne se defronta com um patogene extracelular o seu
produzidas pelos linfócitos B. Eles são a forma solúvel objectivo é destruí-lo e neutralizar os seus produtos.
do receptor de antígenos. Os anticorpos ligam-se Nas respostas intracelulares, os linfócitos T destroem a
especificamente aos antígenos e assim promovem célula infectada ou determinam que a própria célula
efeitos secundários. Enquanto uma parte da molé- parasitada destrua o parasita por si própria.
cula do anticorpo se liga ao antigénio (chamada O princípio da vacinação está baseado em dois
porção Fab do AC), outras regiões interagem com elementos fundamentais da resposta imune adapta-
outros elementos do sistema imune (chamada por- tiva: memória e especificidade. O objectivo no de-
ção Fc do AC), como os fagócitos ou com uma das senvolvimento da vacina é alterar o patogene ou as
moléculas do complemento. suas toxinas de tal modo que eles se tornem inócuos
sem perderem a antigenicidade. O sistema imune
Antígenos: são quaisquer moléculas que possam pode sofrer um desequilíbrio, esta falência do sistema
ser reconhecidas pelo sistema imune adaptativo. O imune pode ocasionar:
reconhecimento do antígeno é a base principal de
todas as respostas imunes adaptativas. O ponto es- Imunodeficiência - resposta imune ineficiente;
sencial a ser considerado com relação ao antígeno
é que a estrutura é a força iniciadora e condutora Hipersensibilidade - resposta imune exagerada;
de todas as respostas imunes. O sistema imune evo- Doenças auto-imunes – reacção inadequada aos
luiu com a finalidade de reconhecer os antígenos e antigénios autólogos.
destruir e eliminar a sua fonte. Quando o antígeno
é eliminado, o sistema imune é desligado. A seleção
clonal envolve a proliferação de células que reco-
nhecem um antígeno específico. Quando um antí-
geno se liga às poucas células que podem reconhe-
cê-lo, estas são rapidamente induzidas a proliferar e
em poucos dias existirá uma quantidade suficiente
delas para elaborar uma resposta imune adequada.
A
ecologia abrange desde áreas como pro- O meio ambiente afeta os seres vivos não só pelo
337
cessos globais, estudos de habitats mari- espaço necessário à sua sobrevivência e reprodu-
nhos e terrestres (Meio) a interações inte- ção, mas também às suas funções vitais, incluindo
respecíficas como predação e polinização. A Eco- o seu comportamento, através do metabolismo. Por
essa razão, o meio ambiente e a sua qualidade de-
logia é a ciência que estuda as interações entre os
terminam o número de indivíduos e de espécies que
organismos e seu ambiente, ou seja, é o estudo cien-
podem viver no mesmo habitat. Por outro lado, os se-
tífico da distribuição e abundância dos seres vivos e
res vivos também alteram permanentemente o meio
das interações que determinam a sua distribuição.
ambiente em que vivem. O exemplo mais dramático
As interações podem ser entre seres vivos e/ou com
de alteração do meio ambiente por organismos é a
o meio ambiente. A palavra Ecologia tem origem no
construção dos recifes de coral por minúsculosinver-
grego “oikos”, que significa casa, e “logos”, estudo.
tebrados, os pólipos coralinos.
Logo, por extensão seria o estudo da casa,ou, de for- As relações entre os diversos seres vivos existentes
ma mais genérica, do lugar onde se vive. num ecossistema também influencia na distribuição e
O cientista alemão Ernst Haeckel usou pela pri- abundância deles próprios. Como exemplo, incluem-
meira vez este termo em 1869 para designar o estu- se a competição pelo espaço, pelo alimento ou por
do das relações entre os seres vivos e o ambiente em parceiros para a reprodução, a predação de orga-
que vivem. nismos por outros, asimbiose entre diferentes espécies
A Ecologia pode ser dividida em Autoecologia, que cooperam para a sua mútua sobrevivência, o
Demoecologia e Sinecologia. Entretanto, diversos ra- comensalismo, o parasitismo e outras.
mos tem surgido utilizando diversas áreas do conhe- A maior compreensão dos conceitos ecológicos
cimento: Biologia da Conservação, Ecologia da Res- e da verificação das alterações de vários ecossis-
tauração, Ecologia Numérica, Ecologia Quantitati- temas pelo homem levou ao conceito daEcologia
va, Ecologia Teórica, Macroecologia, Ecofisiologia, Humana que estuda as relações entre o homem e
Agroecologia, Ecologia da Paisagem. Ainda pode- a biosfera, principalmente do ponto de vista da ma-
se dividir a Ecologia em Ecologia Vegetal e Animal e nutenção da sua saúde, não só física, mas também
ainda em Ecologia Terrestre e Aquática. social. Com o passar do tempo surgiram também
os conceitos de conservação que se impuseram na
atuação dos governos, quer através das ações de (1895). A ecologia pode também ter começado
regulamentação do uso do ambiente natural e das com Carl Linnaeus, principal pesquisador da econo-
suas espécies, quer através de várias organizações mia da natureza no início do século XVIII. Ele fundou
ambientalistasque promovem a disseminação do um ramo de estudo ecológico que chamou de eco-
conhecimento sobre estas interações entre o homem nomia da natureza. Os trabalhos de Linnaeus influen-
e a biosfera. ciaram Darwin no The Origin of Species onde adota
Há muitas aplicações práticas da ecologia, como a frase de Linnaues economia ou política da natu-
a biologia da conservação, gestão de zonas úmidas, reza. Linnaeus foi o primeiro a enquadrar o equilíbrio
gestão de recursos naturais (agricultura,silvicultura e da natureza, como uma hipótese testável. Haeckel,
pesca), planejamento da cidade e aplicações na que admirava o trabalho de Darwin, definiu ecologia
economia. com base na economia da natureza, o que levou al-
A Ecologia tem uma complexa origem, em gran- guns a questionar se a ecologia é sinônimo dos con-
de parte devido a sua natureza multidisciplinar. Os ceitos de Linnaues para a economia da natureza.
antigos filósofos da Grécia, incluindo Hipócrates e Aris- A síntese moderna da ecologia é uma ciência jo-
tóteles, foram os primeiros a registrar observações so- vem, que substancial atenção formal no final do sé-
bre história natural. No entanto, os filósofos da Grécia culo 19 e tornando se ainda mais popular durante os
Antiga consideravam a vida como um elemento es- movimento ambientais da década de 1960, embora
tático, não existindo a noção de adaptação. Tópicos muitas observações, interpretações e descobertas
mais familiares do contexto moderno, incluindo ca- relacionadas a ecologia estendem-se desde o inicio
deias alimentares, regulação populacional e produ- dos estudos da história natural. Por exemplo, o con-
tividade, não foram desenvolvidos antes de 1700. Os ceito de balanço ou regulaçãoo da natureza pode
primeiros trabalhos foram do microscopista Antoni van ser rastreado até Herodotos (morto em 425 ac.), que
Leeuwenhoek (1632–1723) e do botânico Richard Bra- descreveu mutualismo no Rio Nilo, quando crocodilos
dley(1688-1732). O biogeógrafo Alexander von Hum- abrem a boca permitindo escolopacídeos remover
bolt (1769–1859) foi outro pioneiro do pensamento sanguessugas.
ecológico, um dos primeiros a reconhecer gradientes Contribuições mais ampla para o desenvolvi-
mento histórico das ciências ecológicas, Aristóteles é
ecológicos e fazer alusão às relações entre espécies
considerado um dos primeiros naturalistas que teve
e área.
338 um papel influente no desenvolvimento filosófico das
No início do século XX, a ecologia foi uma forma
ciências ecológicas. Um dos alunos de Aristóteles,
analítica de história natural. Seguindo a tradição de
Teofrasto, fez observações ecológicas sobre plantas
Aristóteles, a natureza descritiva da história natural
e postulava uma postura filosófica sobre as relações
examina a interação dos organismos com o seu meio
autônomas entre as plantas e seu ambiente, que está
ambiente e suas comunidades. Historiadores natu-
mais na linha com o pensamento ecológico moder-
rais, incluindo James Hutton e Jean-Baptiste Lamarck,
no. Tanto Aristóteles e Teofrasto fizeram observações
contribuíram com obras significativas que lançaram
detalhadas sobre as migrações de plantas e animais,
as bases das modernas ciências ecológicas. O termo
biogeografia, fisiologia e seus hábitos no que pode-
“ecologia” é de origem mais recente e foi escrito pelo
ria ser considerado um análogo do nicho ecológico
biólogo alemão Ernst Haeckel no seu livro Generelle
moderno. Hipócrates, outro filósofo grego, também
Morphologie der Organismen (1866). Haeckel foi um é creditado com referência a temas ecológicos em
zoólogo, artista, escritor e professor de anatomia com- seus primeiros desenvolvimentos.
parada. De Aristóteles a Darwin o mundo natural foi predo-
Por ecologia entendemos o corpo de conheci- minantemente considerado estático e sem mudan-
mentos sobre a economia da natureza, da investiga- ças desde criação original. Antes do livro The Origin
ção das relações totais dos animais com o ambiente of Species teve pouca valorização ou entendimento
inorgânico e orgânico; incluindo, sobretudo, suas rela- das dinâmicas relações entre os organismos e suas
ções amigáveis e hostis com aqueles animais e plan- adaptações e modificações relacionadas ao meio
tas com as quais entram diretamente ou indiretamen- ambiente. Enquanto Charles Darwin é o mais conhe-
te em contato – em uma palavra, ecologia é o estudo cido por seus trabalhos em evolução, ele é também
de todas as complexas inter-relações referidas por um dos fundadores de ecologia de solo. Em The Origin
Darwin como as condições da luta pela existência. of Species Darwin faz nota a o primeiro experimento
As opiniões divergem sobre quem foi o fundador ecológico publicado em 1816. Na ciência que an-
da teoria ecológica moderna. Alguns marcam a defi- tecederam a Darwin a noção de evolução das es-
nição de Haeckel como o início, outros atribuem a Eu- pécies foi ganhando apoio popular. Este paradigma
genius Warming com a escrita de Oecology of Plants: científico mudou a maneira que os pesquisadores se
An Introduction to the Study of Plant Communities aproximaram das ciências ecológicas.[24]
(1) organismos, tais sobre qual uma espécie é apta a persistir. O nicho
(2) populações e efetivo é o grupo de condições ambientais ótimas so-
(3) comunidades. bre a qual uma espécie é apta a persistir. Organismos
tem traços fundamentais que são excepcionalmentes
Ecólogos estudam ecossistemas por amostragem de adaptados ao nicho ecológico. Um traço é uma pro-
certo número de indivíduos que representam uma po- priedade mensurável do organismo que fortemente in-
pulação. Os ecossistemas consistem nas comunidades fluencia sua performace. Padrões biogeográficos e es-
que entre elas e com o meio ambiente. E em ecologia, calas de distribuição são explicados e previstos através
comunidades são criadas por interação de populações do conhecimento e compreensão das exigências do
de diferentes espécies de uma área. nicho da espécie. Por exemplo, a adaptação natural
de cada espécie no sue nicho ecológico significa que
Biodiversidade ela é apta para excluir competitivamente outras espé-
cies similarmente adaptada que tem uma escala geo-
Biodiversidade é um atributo de um local ou área gráfica de sobreposição. Isso é chamado de principio
que consiste na variedade dentro e entre comunidades de exclusão competitiva Importante do conceito do
bióticas, influenciadas ou não por seres humanos, em nicho é o habitat. O habitat é o ambiente sobre a qual
qualquer escala espacial de microhabitats a manchas uma espécies sabemos que ocorre e o tipo de comu-
de habitats, para toda a biosfera. nidade que é formada como resultado. Por exemplo,
Biodiversidade é simplesmente a forma resumida habitat pode se referia a um ambiente aquático ou ter-
para a diversidade biológica. Biodiversidade descreve restre que pode ser categorizado como ecossistemas
todas as variantes da vida de genes a ecossistemas, e é de montanha ou Alpes.
uma área complexa que abrange todos os níveis bioló- Biodiversidade de um recife de corais. Corais adap-
gicos de organização. Há muitas índices, maneiras para tam e modificam seu ambiente pela formação de es-
medir e representar a biodiversidade. Biodiversidade queleto de carbonato de cálcio que fornecem condi-
inclui diversidade de espécies, diversidade de ecossis- ções de crescimento para futuras gerações e formam
temas, diversidade genética e os complexos processos habitat para muitas outras espécies.
que operam em e entre esses diversos níveis. Biodiver- Organismos são sujeitos a pressões ambientais, mas
sidade executa um importante papel na saúde eco- eles também podem modificar seus habitats. O fee-
lógica, quanto na saúde dos humanos. Prevenindo ou dback positivo entre organismos e seu ambiente pode
340 priorizando a extinção das espécies é uma maneira de modificar as condições em uma escala local ou global
preservar a biodiversidade, nas populações, a diversi- (Ver Hipótese Gaia) e muitas vezes até mesmo após
dade genética entre elas e os processos ecológicos, a morte do organismo, como por exemplo deposição
como migração, que estão sendo ameaçados em es- de esqueletos de sílica ou calcário por organismos ma-
cala global e desaparecendo rapidamente. Priorida- rinhos. Este processo de engenharia de ecossistemas
des de conservação e técnicas de gestão requerem também pode ser chamado de construção de nicho.
diferentes abordagens e considerações para abordar Engenheiro de ecossistemas são definidos como:”...
toda gama ecológica da biodiversidade. População e organismos que diretamente ou indiretamente modu-
migração de espécies, por exemplo, são os mais sensí- lam a disponibilidade de recursos para outras espécies,
veis indicadores de serviços ecológicos que sustentam e causando mudanças nos estados físicos nos matérias
contribuem para o capital natural e para o “bem estar” bióticos ou abióticos. Assim eles modificam, mantem e
do ecossistema. O entendimento da biodiversidade tem criam habitats. O conceito de engenharia ecológica
uma aplicação pratica para o planejamento da con- foi estimulado por uma nova apreciação do grau de
servação dos ecossistemas, para tomar decisões eco- influencia que os organismos tem no ecossistemas e no
logicamente responsáveis nas gestão de empresas de processo evolutivo. O conceito de construção de nicho
consultoria, governos e empresas. destaca um prévio subvalorizado mecanismo de fee-
dback na seleção natural transmitindo forças no nicho
Nicho Ecológico abiótico. Um exemplo de seleção natural através de
engenharia de ecossistemas ocorre em nichos de inse-
O nicho ecológico é um conceito central na eco- tos sociais, incluindo formigas, abelhas, vespas e cupins.
logia de organismos. São muitos as definições do nicho Lá é uma emergência de homeostase na estrutura do
ecológico desde 1917, mas George Evelyn Hutchin- nicho que regula, mantém e defende a fisiologia no in-
son fez um avanço conceitual em 1957 e intruduziu terior da colônia. Montes de cupins, por exemplo, man-
a definição mais amplamente aceita: “O nicho é o tém uma temperatura interna constante através de
grupo de condições bioticas e abióticas condições chaminés de ar condicionado. A estrutura dos nichos
na qual uma espécie é capaz de persistir e manter es- é sujeita as forças da seleção natural. Além disso, o ni-
tável o tamanho da população. O nicho ecológico cho pode sobreviver a sucessivas gerações, o que sig-
é dividido em nicho fundamental e nicho efetivo. O nifica que os organismos herdam o material genético
nicho fundamental é o grupo de condições ambien- e um nicho, que foi construído antes do seu tempo.
Ecologia de populações
A população é a unidade de analise da ecologia de populações. Uma população consiste nos indivíduos de
uma espécies que vivem, interagem e migram através do mesmo nicho e habitat . Uma primarias lei da ecologia
de populações é a Teoria Populacional Malthusiana. Este modelo prevê que: “...uma população pode crescer
(ou declinar) exponencialmente enquanto o ambiente experimentado por todos os indivíduos da população
se mantém constante...” Esta premissa Malthusiana fornece a base para a formulação de teorias preditivas e
testes que se seguem. Modelagens simples de populações usualmente começam com quatro variáveis incluído
nascimento, morte, imigração e emigração. Modelos matemáticos são usados para calcular a mudança demo-
gráfica na população usando modelos nulos. Um modelo nulo é usado como uma hipótese nula para os testes
estatísticos. A hipótese nula parte da pressuposto que processos aleatórios criam os padrões observados. Alter-
nativamente o padrão observado difere significantemente do modelo aleatório e exige mais explicação. Mo-
delos podem ser matematicamente complexos quando “...varias hipóteses competitivas são simultaneamente
confrontadas com os dados.” Um exemplo de um modelo introdutório de população descreve uma população
fechada, como em uma ilha, onde a imigração e emigração não ocorre. Nestes modelos de ilha as taxas per
capita de variação são descritos como:
onde N é o número de indivíduos medidos como densidade de biomassa, a é a taxa per capita máxima de
mudança, e K é a capacidade de suporte da população. A formula pode ser lida assim, a taxa de mudança na
população (dN/dT) é igual ao crescimento (aN) que é limitado pela capacidade de suporte (1-N/K). A disciplina 341
de ecologia de populações baseia-se estes modelos introdutórios para entender os processos demográficos em
populações real e conduz testes de hipóteses estatísticos. O campo da ecologia populacional, muitas vezes uti-
liza os dados sobre história de vida e álgebra matricial para desenvolver matrizes de projeção em fecundidade
e sobrevivência. Esta informação é usada para o gerenciamento de estoques da vida selvagem e fixação de
quotas de colheita.
Uma lista de termos que define vários tipos de agrupamentos naturaus de indivíduos que são usados
no estudo das populações.
Termos Definições
Populações de es-
Todos os indivíduos de uma espécie.
pécies
Metapopulação Um conjunto de populações desjuntas, entre as quais ocorre migração.
Um grupo de coespecíficos indivíduos que são demograficamente, genetica-
População
mente, ou espacialmente separadas de outros grupos de indivíduos.
Agregação Um agrupamento espacial de grupos de indivíduos.
Um grupo de indivíduos que são mais geneticamente similares do que outros
Deme
indivíduos, usualmente com algum grau de isolamento espacial também.
Um grupo de indivíduos dentro de uma pequena área delimitada, menos que
População local a distribuição geográfica da espécie, muitas vezes dentro de uma população.
A população local pode ser uma população desjunta.
Um subconjunto de indivíduos de uma população arbitrariamente delimitado
Subpopulação
espacialmente.
Dinâmica trófica
Links na teia alimentar primeiramente conectam relações alimentares entre espécies. Biodiversidade den-
tro do ecossistema pode se organizar em dimensões verticais e horizontais. A dimensão vertical representa
as relações alimentares da base da cadeia alimentar até os predadores de topo. A dimensão horizontal
representa a abundancia relativa ou biomassa de casa nível Quando a abundancia relativa ou biomassa
de cada grupo alimentar é empilhada em seus respectivos grupos tróficos eles naturalmente formam uma
espécie de ‘piramide de números’. Grupos funcionais são amplamente categorizados como autotróficos
(ou produtores primários), heterotrificos (ou consumidores), e dretritivoros (ou decompositores). Heterotrofa-
gos podem ser subdivididos em diferentes grupos funcionais, incluindo: consumidores primários (herbívoros),
consumidores secundários (predadores que consomem exclusivamente herbívoros) e consumidores terciários
(predadores que consimem tanto herbívoros quanto outros predadores). Onívoros não se encaixam perfei-
tamente nessas categorias funcionais porque consomem tanto tecidos vegetais e tecidos animais. Tem sido
sugerido, entretanto, que os onívoros têm uma maior influência funcional como predadores, porque em rela-
ção aos herbívoros são relativamente ineficientes na pastagem.
Ecólogos coletam dados em níveis tróficos e teias alimentares para modelar estatisticamente e calcular
parâmetros matemáticos, tais como aqueles usados em outros tipos de análise de rede, para estudar os
padrões emergentes e propriedades compartilhadas entre os ecossistemas. O arranjo piramidal emergente
de níveis tróficos com quantidades de transferência de energia diminuindo à medida que as espécies se
tornam mais distantes da fonte de produção é um dos vários padrões que repetem entre os ecossistemas. O
tamanho de cada nível trófico na pirâmide geralmente representa a biomassa, que pode ser medida como
o peso seco dos organismos. Autótrofos podem ter a maior proporção mundial de biomassa, mas eles são
rivalizados de perto ou mesmo superados pelos microrganismos.
A decomposição da matéria orgânica morta, como folhas caindo no chão da floresta, se transforma
em solo que a alimenta a produção de plantas. A soma total dos ecossistemas do planeta terra é chamado
de pedosfera, onde é encontrada uma proporção muito grande da biodiversidade. Invertebrados que se ali-
mentam e rasgam folhas maiores, por exemplo, criar pequenos pedaços que alimentam organismos menores
na cadeia de alimentação. Coletivamente, estes são os detritívoros que regulam a formação do solo. As
raízes das árvores, fungos, bactérias, minhocas, formigas, besouros, centopéias, mamíferos, aves, répteis e
343
anfíbios todo o contribuem para criar a cadeia trófica da vida nos ecossistemas do solo. Como organismos
se alimentam e deslocam fisicamente materiais para solos, este processo ecológico importante é chamado
bioturbação. Biomassa de microrganismos do solo são influenciadas por feedback (retroalimentantação) na
dinâmica trófica da superfície solar exposta. Estudos paleecológicos de solos colocam a origem da bioturba-
ção a um tempo antes do período Cambriano. Outros eventos, como a evolução das árvores e anfíbios no
período devoniano teve um papel significativo no desenvolvimento dos solos e trofismo ecológico.
Grupos tróficos funcionais separam hierarquicamente em uma piramide trófica porque requerem adap-
tações especializadas para realizar fotossíntese ou predação, mas raramente são eles tem uma combina-
ção de ambas habilidades funcionais. Isso explica por que adaptações funcionais em trofismo organizam
diferentes espécies emergente em um grupo funcional. Níveis tróficos são parte de um holístico ou comprexo
sistema visto no ecossistema. Cada nível trófico contém espécies independentes que se agrupam, porque
compartilham funções ecológicas comuns. Agrupamento de espécies funcionalmente similar em um sistema
trófico dá uma imagem macroscópica do amplo design funcional.
Links em uma teia alimentar ilustram diretas rela- tos mais complexos. Biomas, por exemplo, são uma
ções tróficas entre espécies, mas podem também grande unidade de organização que categorizam
efeitos indiretos que podem alterar a abundancia, regiões de ecossistemas da Terra, de acordo com a
distribuição ou biomassa do nível trófico. Por exem- fisionomia e composição da vegetação. Diferentes
plo, predadores comendo herbívoros indiretamente pesquisas tem aplicados diferentes métodos para
influenciam a controle e regulação da produção pri- definir limites continentais de domínios de biomas, por
maria nas plantas. Embora predadores não comem diferentes tipos de função da comunidade de vege-
plantas diretamente, eles regulam a população de tação, que são limitada na distribuição do clima, pre-
herbívoros que diretamente são ligados diretamente cipitação e outras variáveis ambientais. Exemplos de
as plantas. A rede de relações de efeitos diretos e nomes de biomas incluem: florestas tropicais, florestas
indiretos é clamada de cascata trófica. Cascata tró- temperadas decíduas, taiga, tundra, desertos quen-
fica são separadas em cascatas a nível de espécie, tes e desertos polares. Outras pesquisas tem recen-
onde apenas um subconjunto da dinâmica da teia temente iniciado a categorizar outros tipos de bio-
alimentar é impactado por uma mudança no nume- mas, como microbioma humano e oceânico. Para os
ro da população, e cascadas ao nível de comunida- microrganismos o corpo humano é o habitat e uma
de, onde uma mudança no numero da população paisagem. O microbioma tem sido descoberto atra-
pode ter um efeito dramático na teia alimentar intei- vés de avanços na genética molecular, revelando
ra, como a distribuição de biomassa de plantas. uma desconhecida riquesa de microorganismos no
planeta. O microbioma oceânico desempenha um
Espécies Chaves significante papel na ecologia biogeoquímica dos
oceanos.
Uma espécie chave é uma espécie que ocupa A maior escala de organização ecológica é
um papel particularmente forte ou central em uma a biosfera. A biosfera é a soma total dos ecossiste-
teia alimentar. Uma espécie chave ocupa um papel mas do planeta. Relações ecológicas regulam o flu-
desproporcional em manter processos ecológicos. xo de energia, nutrientes e clima, todos subindo até
A perda de uma espécie chave resulta na extinção a escala planetária. Por exemplo, a historia dinâmi-
de outras espécies e um efeito cascata alterando o ca da composição de CO2 e O2 na atmosfera foi em
dinâmica trófica e conexões na teia alimentar. Espé- grande parte por fluxos de gases biogênicos prove-
344 cies chaves, como os engenheiros de ecossistemas, nientes da respiração e fotossíntese, com níveis flu-
tem um papel estruturador, apesar de ter níveis rela- tuando no tempo em relação a ecologia e evolução
dos animais e plantas. Quando partes de subcom-
tivamente baixos de representação da biomassa na
ponetes são organizadas em um todo, muitas vezes
pirâmide trófica. Lontras do mar (Enhydra lutris) são
propriedades emergentes descrevem a natureza do
um exemplo clássico de espécies chave porque li-
sistema. Teorias ecológicas tem sido usadas para ex-
mitam o densidade de ouriços que se alimentam de
plicar os fenômenos emergentes de auto regulação
algas. Se as lontras são removidas do sistema, os ou-
na escala planetária. Isso é conhecido como Hipóte-
riços pastam até que as algas marinha desaparecer
se Gaia. The Gaia hypothesis is an example of holism
e isso tem um efeito dramático na estrutura da co-
applied in ecological theory. A ecologia do planeta
munidade. A caça de lontras do mar, por exemplo, é
age como uma única unidade regulatória e holística
considerado em ter indiretamente levado a extinção
chamada de hipótese Gaia. A hipótese Gaia afirma
do dugongo-de-steller(Hydrodamalis gigas). Enquan-
que existe um feedback emergente gerado pelo me-
to o conceito de espécies chaves tem sido muito usa-
tabolismo dos organismos vivos que mantem a tem-
do como uma ferramenta de conservação biológi-
peratura da Terra e condições da atmosfera dentro
ca, ele foi criticado por estar mal definido. Diferentes de uma estreita escala de tolerância auto regulável.
ecossistemas expressam diferentes complexidades e
por isso é claro como aplicável que o modelo de es- Ecologia e Evolução
pécies chave pode ser aplicado.
Ecologia e evolução são consideradas disciplinas
Bioma e Biosfera irmãs, sendo ramos da ciência da vida.
Seleção Natural, Historia de vida, desenvolvimen-
Unidades ecológicas de organização são defini- tos, adaptação, populações, e herança estão pre-
das através de referencia de algumas magnitudes sentes em teorias evolutivas e ecológicas.
de espaço e tempo no planeta. Comunidades de Morfologia, comportamento e/ou traços genéti-
organismos, por exemplo, são muitas vezes arbitra- cos, por exemplo, podem ser mapeados em árvores
riamente definidas, mas os processos de vida intera- evolutivas para estudar a desenvolvimento histórico
gem com os diferentes níveis e organizam em conjun- da espécie e também organizar a informação em
CARACTERÍSTICAS DOS NÍVEIS DE ORGANIZA- Os sistemas são formados pela união de vários
ÇÃO: POPULAÇÃO E ECOSSISTEMAS. O AMBIENTE E órgãos, que se trabalham em conjunto para exercer
AS ADAPTAÇÕES DOS ORGANISMOS. CONDIÇÕES uma determinada função corporal, por exemplo, o
AMBIENTAIS E A SAÚDE. A BIOSFERA COMPROMETIDA sistema digestório, que é formado por vários órgãos,
- A EXTINÇÃO DAS ESPÉCIES. como boca, estômago, intestino, glândulas, etc.
(mutualismo), benéfica a um e inócua ao outro (co- Se em uma área de plantio que durante o ano ali-
mensalismo), ou benéfica a um e prejudicial ao outro menta 100 pessoas, se for utilizada para engorda do
(parasitismo). Em alguns casos de simbiose, como no gado, o numero de gado, será tão pequeno, que não
dos líquens e das formigas cultivadoras de fungos, as alimentara mais que cinco pessoas durante o ano..
formas associadas não podem viver separadas. Vemos então, que a quantidade de energia
A maioria das doenças nos organismos é cau- que se perdeu de um nível trófico para outro foi mui-
sada por parasitas. A maior parte dos parasitas não to grande. Concluímos assim, que os consumidores
mata o hospedeiro e quase nunca extermina popu- primários estão muito mais servido energeticamente
lações inteiras. Os parasitas tendem a adaptar-se tão que os demais níveis tróficos da pirâmide energética.
completamente aos seus hospedeiros que passam a
depender completamente desses. Os ecossistemas apresentam dois componentes
Os níveis tróficos de um ecossistema estão ligados estruturais básicos e intimamente inter-relacionados:
por associações predador-presa. Essas associações - Componentes abióticos: podem ser físicos
exercem papel regulador no tamanho das popula- (como a radiação solar, a temperatura, a luz, a umi-
dade, os ventos), químicos (como os nutrientes pre-
ções e profundos efeitos evolutivos nas diversas espé-
sentes nas águas e nos solos) ou geológos (como o
cies implicadas.
solo);
As plantas e os animais desenvolveram uma va-
- Componentes bióticos: são os seres vivos.
riedade de processos de defesa contra a predação.
Esses tipos de defesa incluem a “armadura” e outras
Em um ecossistema existem várias populações de
formas de proteção física, como as observada; nos
diferentes espécies de seres vivos, e o conjunto des-
cactos, tatus, tartarugas e numerosos organismos, sas populações compõe uma comunidade ou bio-
e armas químicas, tais como venenos de plantas e cenose ou, ainda biota.
secreções aversivas de insetos. Muitos organismos se
camuflam. Os componentes abióticos
Alguns insetos vieram a assemelhar-se a organis-
mos de outra espécie, seja para exibir um dispositivo A radiação solar é um dos principais fatores físicos
protetor eficaz que tenham em comum com essa ou- dos ecossistemas, pois é por meio dela que os seres
tra espécie (mimetismo mülleriano), seja para “dar a clorofilados realizam fotossíntese. Nesse processo, li- 347
impressão” de possuírem esse dispositivo embora na beram oxigênio para a atmosfera e transformam a
verdade não o possuam (mimetismo batesiano). energia luminosa em energia química, única forma
Todas essas associações contribuem para deter- de energia que se pode ser aproveitada pelos de-
minar o caráter da comunidade e dos organismos mais seres vivos.
que nela vivem.
Os componentes bióticos
Pirâmides Ecológicas:
PIRÂMIDE DE ENERGIA Os componentes bióticos podem ser divididos em
A pirâmide de energia expressa a quantidade dois grupos:
de energia acumulada em cada nível da cadeia ali- - Organismos autótrofos: representados pelos se-
mentar. res fotossintetizantes e quimiossintetizantes, conside-
5º- GAVIÕES rados os produtores dos ecossistemas;
4º- COBRAS - Organismos heterótrofos: representados pelos
3º- SAPOS consumidores e pelos decompositores.
2º- INSETOS
1º- GRAMÍNEAS Os consumidores são organismos que se alimen-
tam de outros organismos, como fazem todos os ani-
O fluxo decrescente de energia da cadeia ali-
mais. Os que se alimentam de produtores são cha-
mentar justifica o fato de a pirâmide apresentar o
mados consumidores primários, como é o caso dos
vértice voltado para cima. O comprimento do re-
herbívoros, cujo alimento são as plantas. Os decom-
tângulo (tamanho das palavras) indica o conteúdo
positores degradam a matéria orgânica contida nos
energético presente em cada elo da cadeia. Esti-
produtores e nos consumidores, utilizando alguns pro-
ma-se que cada nível trófico transfira apenas 10% da dutos da decomposição como alimento e liberando
capacidade energética para o nível trófico seguinte, para os meio ambientes apenas minerais e outras
por isso, que uma pirâmide dificilmente apresentara substâncias, que podem ser novamente utilizadas
mais que cinco níveis tróficos. Assim, podemos presu- pelos produtores. Os decompositores estão represen-
mir o seguinte: tados pelas bactérias e pelos fungos.
Todos os seres vivos necessitam de matéria-prima Conforme o vapor de água sobe a atmosfera,
e de energia para a realização de suas atividades vi- ele encontra menor temperatura e pressão, e tende
tais. Essas necessidades são supridas pelos alimentos a formar gotículas que constituem nuvens. Quando
orgânicos. os movimentos de ar deslocam as nuvens contra
Os organismos produtores (autótrofos) sintetizam uma serra, ela é forçada a subir mais, o que pode
seu próprio alimento orgânico a partir de matéria provocar sua precipitação, geralmente na forma de
não orgânica, e esse alimento é utilizado por eles e chuva ou de neblina. O mesmo ocorre quando uma
pelos consumidores (heterótrofos), que não são ca- massa de ar frio (frente fria) encontra uma massa de
pazes de executar essa função. Os principais produ- ar quente e úmido. A água que se precipita, seja
tores são os organismos fotossintetizantes. A energia através de chuva, neve, granizo, etc. pode, em sua
luminosa só Sol é transformada em energia química forma líquida, infiltrar-se no solo e subsolo, ou escoar
pelos produtores e é transmitida aos demais seres vi- superficialmente, tendendo sempre a escorrer para
vos. Essa energia, no entanto, diminui à medida que regiões mais baixas e podendo, assim, alcançar os
passa de um consumidor pra outro, pois parte dela é oceanos. Nesse percurso e nos oceanos, ela pode
liberada sob a forma de calor e parte é utilizada na evaporar diretamente, como também pode ser cap-
realização dos processos vitais do organismo. tada pelos seres vivos.
Assim, sempre restará uma parcela menos de Durante a fotossíntese dos organismos clorofi-
energia disponível para o nível seguinte. Como na lados, a água é decomposta: os hidrogênios são
transferência de energia entre os seres vivos não há transferidos para a síntese de substâncias orgânicas
reaproveitamento da energia liberada, diz-se que e o oxigênio constitui o O2 que é liberado. Durante
essa transferência é unidirecional e ocorre como um a respiração, fotossíntese e diversos outros processos
fluxo de energia. A matéria, no entanto, pode ser re- bioquímicos, são produzidas moléculas de água. As
ciclada, falando-se em ciclo da matéria ou ciclo bio- plantas terrestres obtêm água do solo pelas raízes,
geoquímico. Os decompositores são fundamentais e perdem-na por transpiração. Os animais terrestres
nesse ciclo, pois eles decompõem organismos mortos que ingerem, e a perdem por transpiração, respira-
de todos os níveis tróficos, devolvendo ao ciclo ele- ção e excreção.
mentos fundamentais. Através desses processos, a água circula entre o
meio físico e os seres vivos continuamente.
348 CICLO DA ÁGUA OU CICLO HIDROLÓGICO
Luz
6H2O + 6CO2 –> 6O2 + C6H12O6
Clorofila
A
importante classificação filogenética das uma única característica como base de classificação.
espécies. Para organizar essas características, foi criado o
Sistema de Classificação Biológica, que é o principal
A classificação biológica é o sistema
tópico abordado neste trabalho.
que ordena os seres vivos e os distribui em grupos hie-
rárquicos.
1- Como ficam os Híbridos na Classificação Bioló-
Esse método classificatório das espécies teve
gica?
início em 1735, proposta pelo naturalista Carl Von
Os híbridos não fazem parte de uma Classificação
Linnée (Systema Naturae), a partir de uma análise
Biológica especifica, ou seja, não possuem uma filoge-
anatômica comparada (a morfologia), tendo em nia correta na história evolutiva. Eles são o produto do
350 vista que até essa época não existia qualquer forma cruzamento entre dois indivíduos diferentes, em geral
lógica que propusesse critérios organizacionais para membros de espécies distintas.
um coerente agrupamento dos organismos. Se os gametas que se conjugam, são de espécies
Contudo, o surgimento da sistemática molecular, diferentes, o híbrido diz-se intergenérico, se são da
inquiriu e promoveu consideráveis alterações no siste- mesma espécie, chama-se interspecifico e, se perten-
ma de ordenação de Linnée. cem a subespécies ou variedade da mesma espécie
Fundamentado na semelhança genética das es- é interssubespecifico ou intervarietal. Eles possuem em
pécies, foram reestruturadas as bases taxonômicas, geral características intermediarias aos dos seus pro-
também denominada de sistemática biológica, re- genitores.
lacionando os seres vivos de acordo com o paren- Os híbridos são mais freqüentes entre os organis-
tesco evolutivo (classificação científica moderna), mos vegetais, pois por serem imóveis, é inevitável a
dispostas pelas seguintes categorias taxonômicas: hibridização freqüente por causa da transferência de
Reino, Filo, Classe, Ordem Família, Gênero, Gênero e pólen pelos agentes externos.
Espécie. Assim, tanto as necessidades ecológicas da plan-
Dessa forma, associada ao sistema moderno de ta como seus mecanismos reprodutivos, favorecem a
classificação, foi criada uma nomenclatura binomial, hibridização.
com intuito de uniformizar e simplificar o estudo filo-
genético aplicável a todas as espécies: os vírus, as 2- Sistemas de Classificação Biológica
bactérias, os fungos, os protozoários, as algas, os ani- O reino é ainda a maior unidade usada em classi-
mais e vegetais. ficação biológica.
Entre o nível do gênero e o nível do reino, entre-
Continuação: tanto, Lineu e taxonomistas posteriores adicionaram
A ciência busca ordenar o universo a sua volta. diversas categorias. Assim, os gêneros são agrupados
em famílias, as famílias em ordens, as ordens em clas-
Para isso o homem criou sistemas para agrupar os or-
ses e as classes em filos. Essas categorias podem ser
ganismos em esquemas que façam sentido.
subdivididas ou agregadas em várias outras menos
importantes, como os subgêneros e as superfamílias.
Por convenção, os nomes genéricos e específicos são A CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS
escritos em itálicos, enquanto o nome das famílias, or- Vegetais (bordo vermelho)
dens, classes e outras categorias não o são, embora
tenham a letra maiúscula inicial. Animal (homem)
Para Lineu e seus sucessores imediatos, a classifica-
ção taxonômica era a revelação de um grande plano Categoria
permanente. Quando teoria evolucionista, passou a Nome
ser a força ordenadora dominante, nas ciências bio- Características
lógicas, viu-se que a taxonomia refletia a história evo- Categoria
lutiva. Nome
As espécies são grupos que divergiam recente- Características
mente; os gêneros tiveram ancestrais mais distantes e Reino
assim por diante. Embora o significado da taxonomia Plantae
mudasse, a classificação dos organismos por si mes- Organismos geralmente dotados de paredes ce-
ma, baseada quase inteiramente em critérios morfo- lulares rígidas e de clorofila
lógicos (como o são as teorias parentescos evoluti- Reino
vas), pouco se alterou. Animália
Até bem recentemente era comum classificar Organismos multicelulares que requerem substân-
cada ser vivo ou como planta, ou como animal. cias de origem vegetal e animal para alimento
Os animais eram organismos que se moviam, co- Sub-reino
miam coisas, respiravam; suas patas e órgãos do cor- Embryophyta
po cresciam até certo ponto e depois paravam de Plantas formadoras de embrião
crescer. As plantas eram organismos que não se mo- -
viam, nem comiam, nem respiravam e que cresciam -
indefinidamente. Os fungos, as algas e as bactérias -
eram agrupados com as plantas; os protozoários-or- Filo
ganismos unicelulares que comiam e se moviam-e- Tracheophyta
ram classificados como animais. Plantas vasculares
Filo 351
No século XX, começaram a surgir problemas,
Chordata
foram descobertas algumas diferenças importantes.
Animais com notocorda, corda nervosa oca, dor-
Conseqüentemente, aumentou o número de grupos
sal e brânquias na faringe em algum estágio do de-
reconhecidos como reinos deferentes. As classifica-
senvolvimento
ções mais recentes propõem cinco reinos: Monera,
Subfilo
Protista, Fungi, Plantae, Animália.
Pterophytina
Outros sistemas propõem três reinos: Monera,
Geralmente, folhas largas e salientes, padrão vas-
plantas e animais. Alguns sistemas mantem a classifi-
cular complexo
cação em dois reinos: Plantas e Animais.
Subfilo
A razão dessa diversidade é que nenhum sistema
Vertebrata
é realmente satisfatório. Por exemplo, ao nível de vida
Corda espinhal incluída em uma coluna verte-
unicelular, não há critérios práticos para separar plan- bral, corpo basicamente segmentado, encéfalo
tas de animais. dentro do crânio
Podem ocorrer duas espécies de organismos uni- Classe
celulares móveis, quase idênticas, exceto quanto a Angiospermae
presença ou ausência de cloroplastos. Em outros ca- Plantas floríferas, semente incluída em ovário
sos, a forma que possui cloroplastos, pode perde-lo Superclasse Classe
de vez em quando e sobreviver e reproduzir-se indefi- Tetrapoda Mammalia
nidamente. Apesar disso, um sistema baseado numa Vertebrados terrestres, de quatro patas. Filhotes
classificação planta-animal tem de separar essas for- alimentados por glândulas mamárias, respiração pul-
mas, seja do ponto de vista da taxonomia baseada monar, pêlos, cavidade do corpo dividida por dia-
em critérios morfológicos, seja do da taxonomia ba- fragma, hemácias anucleadas, temperaturas corpo-
seada em critérios evolucionistas, a divisão em dois ral constante.
reinos é insatisfatória. Subclasse
Por outro lado, existe uma clara seqüência evoluti- Dicotyledoneae
va na qual representantes modernos, vivos vão desde Embrião com duas folhas de semente (cotilédo-
algas unicelulares até plantas floríferas. nes)
uma árvore. Nas árvores filogenéticas, a divisão de As plantas, porque possuem meiose pré-espórica,
um ramo em dois indica que uma espécie ancestral, possuem alternância de gerações, logo uma gera-
naquela etapa do processo, separou-se em duas no- ção esporófita, diplóide, pois resulta da transforma-
vas espécies. Cada espécie atual representa a pon- ção de um ovo em esporos. A geração gametófita,
ta de um ramo da árvore filogenética; «descendo» como corresponde à transformação de esporos em
por um ramo dessa árvore encontraremos o ponto gâmetas, coincide com a haploidia. Significa isto que
em que ele se une ao ramo vizinho (um «nó»), que quanto mais evoluída for a planta mais desenvolvida
indica o ancestral mais recente que as duas espécies é a geração esporófita, logo a diplofase, o que leva
têm em comum. à existência de um maior número de cromossomas,
logo uma maior variabilidade genética e uma maior
Aspectos comparativos da evolução das plantas; capacidade de adaptação ao meio.
A Filicínea, mais evoluída, já
Evolução das Plantas possui uma geração esporófita mais desenvolvi-
da que a geração gametófita, sendo o esporófito
Aspectos comparativos entre os ciclos de vida de e o gametófito nutricionalmente independentes. A
diferentes plantas - perspectiva Angiospérmica inverte a situação da Briófita, pois a
geração esporófita é dominante em relação a uma
As plantas provavelmente evoluíram a partir das reduzida geração gametófita, sendo o gametófito
Clorófitas (algas verdes), pois plantas e Clorófitas pos- parasita do esporófito.
suem reservas de amido, parede celular de composi- As Gimnospérmicas introduzem a novidade das
ção celulósica e os seus pigmentos fotossintéticos são sementes, no entanto, devido à ausência de flor, es-
os carotenóides, a clorofila a e a clorofila b. tas sementes são nuas e desprotegidas de um pe-
ricarpo. A presença de uma semente permite ao
As primeiras plantas, logicamente muito simples, embrião aguardar melhores condições de sobre-
dependiam muito da água, tendo a sua evolução vivência, mantendo-se em latência, e as reservas
passado por uma perda da necessidade de água, o permitem a sua nutrição durante o desenvolvimento
que as obrigou a adquirir mecanismos que lhes evitas- embrionário. É com as Gimnospérmicas que surge
sem a perda de água e lhes aumentassem a capaci- o tubo polínico e a fecundação independente da
354 dade de reserva em água, para assim sobreviverem
água.
em meio terrestre. A aquisição destas características
Com as Angiospérmicas surge a flor, e por isso a
não resultou de um processo tipo lamarckista, mas
polinização entomófila, que, ao permitir cruzar dife-
antes de um processo de selecção à variabilidade
rentes plantas, aumenta a sua variabilidade gené-
genética expressa nos fenótipos destas plantas.
tica. A semente passa a estar encerrada num peri-
Do ponto de vista evolutivo, as Briófitas (plantas
carpo, pois o óvulo que lhe deu origem está prote-
avasculares) surgiram primeiro dando posteriormente
gido por um ovário, parte constituinte do carpelo. A
lugar às Traqueófitas (plantas vasculares). A aquisi-
presença de um pericarpo atrai os animais e assim
ção dos vasos condutores imprimiu desde logo uma
aumenta a área de dispersão destas sementes, logo
maior independência das Traqueófitas relativamente
destas plantas.
à água. A presença destes vasos não só lhes permi-
As plantas apresentam alternância de gerações
tiu absorver e transportar mais água e sais minerais,
(Gametófita/Esporófita)
como lhes permitiu fazer a sua reserva podendo, des-
te modo, aumentar mais as suas dimensões, pois a
taxa fotossintética aumentou e por isso aumentaram Adaptações das Angiospermas quanto à organi-
também os valores energéticos disponíveis. As Brió- zação, crescimento, desenvolvimento e nutrição
fitas, devido à ausência de , vasos vasculares, são Angiospermas
plantas de reduzidas dimensões em relação à maioria
das Traqueófitas. Ocupam praticamente todos os ecossistemas
As plantas Traqueófitas continuaram a sofrer um do planeta, devido a sua grande capacidade de
processo evolutivo. adaptação e mecanismos eficientes de dispersão,
As Filicíneas são Traqueófitas que se disseminam através de suas sementes e frutos. São plantas tra-
apenas por esporos. Sendo vasculares são mais evoluí queófitas, com vasos condutores, com variação de
das que as Briófitas; no entanto, a ausência de uma tamanho, desde formas herbáceas até arborescen-
semente torna-as menos evoluídas que uma Gimnos- tes. Apresentam heterosporia, com produção de mi-
pérmica. Este facto também pode ser analisado atra- crósporo e de megásporo que formarão o gametófi-
vés das suas gerações esporófita e gametófita. to masculino e o feminino.
O pólen é levado até o estigma da flor. Ali ele Cissiparidade ou Fissão Binária
germina e produz o tubo polínico até o gametófito Fissão binária é o nome dado ao processo de
feminino. Os gametas masculinos são aflagelados. reprodução assexuada dos organismos unicelulares
O óvulo fecundado vai desenvolver uma semente, que consiste na divisão de uma célula em duas por
envolta pelo ovário, que se desenvolve em fruto. Os mitose, cada uma com o mesmo genoma da “célu-
processos de formação do megagametófito e dos la-mãe” (com o mesmo DNA ou material genético
núcleos polares são chamados de megaesporogê- da “célula-mãe”)
nese e megagametogênese. Normalmente as an- O processo inicia-se com a replicação do DNA,
giospermas fazem fecundação cruzada, porém al- em que cada nova cadeia se liga à membrana ce-
gumas se reproduzem por autopolinização. lular que, acaba por dividir a célula em duas, num
Essas características juntas fazem das angiosper- processo chamado citocinese.
mas as mais diversas e numerosas plantas terrestres Os organismos que se reproduzem por fissão bi-
e o grupo mais comercialmente importante para os nárina incluem:
humanos. As bactérias;
As angiospermas, apesar de apresentarem uma Os protozoários;
grande diversidade de formas, de tamanho e da or- A Pyrodictium abyssi, uma arquebactéria anaeró-
ganização de suas flores, podem analisar seu proces- bica das nascentes hidrotermais das profundezas do
so reprodutivo num aspecto padrão de ciclo de vida oceano (e outros organismos do mesmo reino);
com alternância de gerações do tipo haplodiplo- As leveduras
bionte, onde a geração esporofítica é o vegetal de Também fala-se em cissiparidade no caso de
vida longa, ficando a geração gametofítica restrita organismos pluricelulares bastante simples que são
às estruturas reprodutivas. capazes de regenerar partes divididas (o exemplo
clássico é a planária).
Padrões de reprodução, crescimento e desenvol-
vimento dos animais; Brotamento ou Gemulação
Graças à reprodução, a perpetuação da vida é A gemulação ou gemiparidade ou brotamento
possível, desde o seu surgimento. A forma de reprodu- é um processo de reprodução assexuada no qual
ção que se desenvolveu mais cedo foi a assexuada, ocorre a formação de uma dilatação denominada
356 gema (ou gomo) formada por mitoses na superfície
processo este em que um único indivíduo é capaz
de dar origem a outros, com o mesmo genótipo. A externa do organismo progenitor, podendo separar-
divisão binária, esporulação, brotamento e estaquia se e dar origem a um novo indivíduo. O brotamento
são alguns exemplos. externo ocorre quando uma esponja mãe origina
A reprodução sexuada tem como princípio a um broto na parte de fora de seu corpo que pode se
formação do embrião a partir da união de game- desligar ou continuar unida a ela. A interna acon-
tece quando os arqueócitos coletados no mesófilo
tas masculino e feminino, dando origem a indivíduos
começam a formar uma nova esponja, também
semelhantes aos pais, mas não idênticos, como na
chamada de gemulação.
reprodução assexuada. Por tal motivo, ela é muito
Este processo ocorre em seres unicelulares, como
importante no que se diz respeito à variabilidade ge-
as bactérias e as leveduras; Em seres pluricelulares
nética.
como esponja, a medusa e a hidra. Também pode
Reprodução Assexuada ou Agâmica
ocorrer em plantas superiores, como as angiospér-
A reprodução assexuada, também chamada de
micas.
reprodução agamética ou agâmica, é individual e
sem ocorrência de gametas. O indivíduo divide-se
Esporulação
em unidades menores que crescem posteriormente,
Nesse tipo de reprodução assexuada, o indivíduo
sem que haja união de células germinativas ou re-
produz esporos, células que conseguem germinar
produtoras.
originando novos indivíduos, sem que haja fecunda-
Esse processo leva à formação de descendentes ção.
geneticamente iguais entre si e aos seus ancestrais. Os esporos formam-se no esporângios e apresen-
Ele também conhecido como reprodução vegeta- tam uma parede resistente capaz de suportar con-
tiva. Dá-se o nome de clone a uma população de dições desfavoráveis. Existem esporos ligados tanto
indivíduos com idênticas características hereditárias na reprodução sexuada formados por meiose como
provenientes de sucessivas reproduções vegetativas nos musgos e por reprodução assexuada formados
a partir de um único indivíduo inicial. por mitose é o caso do bolor do pão do limão e mui-
tos outros fungos.
Tipos de Reprodução Assexuada:
Regeneração Ovíparos
Alguns organismos possuem uma capacidade de Animais ovíparos botam ovos e o desenvolvimen-
regeneração muito grande. Quando algum fragmen- to embrionário deles ocorre principalmente fora do
to é retirado, ao encontrar condições ideais de sobre- corpo materno. Os embriões dependem de material
vivência, pode se regenerar e dar origem a um novo nutritivo presente nos ovos. Como exemplo de animal
indivíduo. Isto pode acontecer nas planárias, esponjas ovíparo podemos citar as aves, insetos, répteis e ma-
e algumas plantas. míferos monotremados.
Algumas partes de certas plantas, ao serem desta-
cadas e implantadas no solo, ou imersas em água, de- Ovovivíparos
senvolvem raízes e dão origem à novas plantas. Esta Animais ovovivíparos retêm os ovos dentro do cor-
prática e chamada de estaquia e é muito utilizada po até a eclosão, e os embriões também se alimen-
em jardinagem. tam das reservas nutritivas presentes nos ovos. Como
exemplo de animal ovovivíparo temos oslebistes, que
Reprodução Sexuada ou Gâmica são peixes comuns em água doce, escorpiões, tuba-
Tipo mais comum e de menor ocorrência tanto rões e cobras venenosas.
nos animais como nos vegetais. Ocorre em todos os
grupos desde os protozoários até os mamíferos. Vivíparos
A reprodução gâmica ou sexuada se caracteriza Nos vivíparos o embrião depende diretamente
fundamentalmente pela produção e fusão de células da mãe para a sua nutrição, que ocorre por meio de
especiais denominadas gametas. trocas fisiológicas entre mãe e feto. Não existe casca
A grande vantagem da reprodução sexuada so- isolando o ovo. Como regra o desenvolvimento em-
bre a reprodução assexuada é que a primeira permite brionário se completa dentro do corpo materno e os
uma grande variabilidade genética dos filhos indivíduos já nascem formados. O custo energético é
Gameta Masculino – Espermatozoide especialmente alto, pois as fêmeas investem energia
Gameta Feminino – Óvulo na nutrição e no desenvolvimento do embrião dentro
Fecundação
de seus corpos. Nos casos dessas espécies, forma-se
A fecundação humana é o nome que se dá quan-
um maior número de embriões, mas eles têm maiores
do um óvulo é fertilizado por um espermatozoide, du-
chances de sobrevivência. É vivípara, por exemplo,
rante o período fértil da mulher, dando início a uma 357
os mamíferos placentários, como é o caso da espé-
gravidez. Também pode ser chamada de concepção
cie humana.
e, geralmente, ocorre nas trompas de falópio. Depois
de algumas horas, o zigoto, que é o óvulo fecundado,
Tipos de Reprodução Sexuada:
migra para o útero, onde irá se desenvolver
Partenogênese
Tipos de fecundação
A fecundação pode ser externa, quando ocorre
A partenogênese, também conhecida como
fora do corpo, no meio ambiente, ou interna, quando,
ocorre no corpo do indivíduo que produz os óvulos. partogênese, diz respeito ao crescimento e desen-
Fecundação Externa volvimento de um embrião sem que ocorra a fertiliza-
O custo energético da produção de gametas é ção, ou seja, ocorre por reprodução assexuada. São
especialmente grande nas espécies cuja fecundação fêmeas que apresentam a habilidade de procriar
é externa. Nesses casos formam-se muitos gametas sem que haja um parceiro sexual, havendo a partici-
masculinos e femininos, o que garante a chance de pação apenas do gameta feminino.
encontro casual entre eles, originando o maior núme- Este fenômeno acontece naturalmente em plan-
ro de zigotos. Porém, desses inúmeros zigotos, nem to- tas agamospérmicas, seres invertebrados (como pul-
dos sobrevivem às adversidades do meio ambiente. gas de água, abelhas, entre outros) e determinados
Apenas um pequeno número forma indivíduos adul- vertebrados (como lagartos, salamandras, alguns
tos, dando continuidade à espécie. peixes e perus). Os seres que se reproduzem desta
maneira geralmente estão relacionados à ambientes
Fecundação Interna isolados, como ilhas oceânicas.
Nos animais em que a fecundação é interna, o
número de gametas produzidos é menor, com isso, o Fecundação Cruzada
custo energético de sua produção também é menor. É a que ocorre entre gametas originários de dois
O custo com o desenvolvimento do embrião também indivíduos diferentes, de sexos diferentes ou não. Nas
depende do animal ser ovíparo, ovovivíparo ou viví- espécies com sexos separados, a fecundação cruza-
paro. da é a única forma possível de fecundação.
adquiridos não são herdados, que posteriormente que hava uma relação genética, conforme testados
seus estudos da genética receberam grande confir- em suas formas originais. Nesses testeis só parte do
mação. Darwin era seguro ao falar da transmutação sangue , o soro estéril, que não contem matéria viva,
da espécie e vislumbrava uma contínua linha de de- foi usado, embora comprovado que a porção sólida
senvolvimento da célula primordial ao homem. Mas do sangue, que contém células vermelhas e brancas,
De Vries, Mendel e outros, em suas experiências, de- é o veículo dos fatores hereditários. Posteriormente
sacreditavam este conceito. As mudanças graduais provaram que há diferença entre o sangue animal
e imperceptíveis de Darwin deram lugar às repentinas e do homem, onde foram testados com uso de es-
e inesperadas mutações de de Vries. Darwin pressu- pectroscópio, examinando o sangue completo. Foi
punha variações intermináveis em diversas direções, reconstituídos pelos cientistas alguns homens, com
Mendel demonstrou que as variações ou mutações base em ossos achados de homens antigos, como:
nunca retiram o organismo da espécie e são sujeitas homem de Java reconstituído (Pithecanthropus erec-
a uma lei defina, que foi confirmada pela citologia tus), homem de Heidelberg (Homo Heidelbensis), ho-
moderna, no estudo da célula, com seus genes e cro- mem de Neandertal (Homo Neanderthalensis), ho-
mossomos como veículos dos caracteres herdados. mem de Cro-Magnon, o homem de Piltdown e outros.
Ficou provado que as novas espécies, como diziam O Dr. Wood, professor de anatomia da Universidade
os evolucionistas, não era espécies verdadeiras, e sim de Londres, diz num opúsculo sobre a ascendência
espécies alteradas, que digamos variedades da mes- do homem (ancestry of Man): “Não vejo ocupação
ma espécie. Nordenskioeld, em sua História da Biolo- menos digna da ciência da antropologia do que a
gia (History of Biology), cita a seguinte sentença de rara atividade de modelar, pintar ou desenhar figuras
um relato popular dos resultados da pesquisa heredi- de pesadelo da imaginação, e de lhes emprestar, no
tariedade, como refletindo o verdadeiro estado da processo, um valor completamente falso da realida-
questão: “Justamente em razão do grande número de evidente”. Fleming que um dos mais proeminentes
de fatos que a moderna pesquisa da hereditarieda- cientista da atualidade fala a respeito: “A conclusão
de trouxe à luz, prevalece atualmente o caos, no que disso tudo é que não podemos pôr em ordem todos
diz respeito aos conceitos sobre a formação de espé- os conhecimentos fósseis do suposto ‘homem’ numa
cies”. Não tendo muita probabilidade de explicar a seqüência linear gradualmente progredindo no tipo
origem do homem, evolucionistas proeminentes, ad-
ou na forma, a partir da forma ou tipo de algum ma-
mitem agora que a origem das espécies é um mistério 359
caco antropóide, ou de outros mamíferos, até aos
para eles.
tipos modernos e atualmente existentes do homem
verdadeiro. Qualquer suposição ou afirmação de
Na tentativa de provar que o homem descende
de uma espécie de macacos antropóides, Darwin que se pode fazer isto, e de que é verdadeiro, sem
apoiou-se: dúvida é incorreta. È certamente enganoso e indizi-
Na similaridade estrutural entre o homem e ani- velmente pernicioso expor em revistas populares ou
mais da categoria superior; noutras publicações lidas por crianças, figuras de go-
Argumento embriológico; liras ou chipanzés rotuladas de ‘primo do homem’ ou
Argumento dos órgão rudimentares ‘parente mais próximo do homem’, ou publicar de-
A esses três fatores foram posteriormente acres- senhos inteiramente imaginários e grotescos de um
centados: suposto ‘homem de java’ com rosto selvagem como
Argumento derivado de testes de sangue; sendo um antepassado do homem moderno, como
Argumento paleontológico. ocasionalmente se faz. Os que se fazem tal coisa são
culpados de ignorância ou de deturpação delibera-
Sendo que nenhum dos argumentos apresenta- das dos fatos. Tampouco se justifica que os pregado-
dos prova a descendência do homem de macacos res nos púlpitos digam às suas igrejas que há acordo
antropóides.O argumento da semelhança estrutural geral entre os cientistas quanto à explicação evolu-
presume, sem base, que a similaridade só pode ser cionista da origem do homem, como procedente de
explicada de um modo. antepassado animal”. Cientistas como Fleming, Da-
Podemos explicar pela admissão de que Deus,
wson. Kelly e Price rejeitam totalmente a teoria evo-
quando criou o mundo animal, fizera formas típicas
lucionista e aceita a doutrina da criação. Sir William
básicas completas, obtendo unidade na variedade.
Dowson diz a respeito da origem do homem: “Nada
Recentemente, estudos biológicos parecem indi-
sei da origem do homem, exceto o que me diz a es-
car que o parentesco ou a descendência não pode
ser provada por nenhuma similaridade estrutural, so- critura – que Deus o criou. Nada sei além disso, e não
mente por uma relação genética. Certas semelhan- conheço ninguém que o saiba”. Diz Flaming: “ Tudo
ças entre o sangue animal e do homem, não provam que no presente a ciência pode dizer a luz do co-
nhecimento humano limitado, e definidamente a, é dos judeus, e não chefe da raça humana. Fleming
que não sabe como, onde e quando foi originado o , sem ser dogmático, disse haver razões para supor
homem. Se nos há de chegar algum conhecimento que poderia existir raças de homens inferiores antes
disso, haverá de vir de alguma outra fonte que não a de Adão aparecer por volta de 5500 a.C. Inferiores
antropologia moderna”. aos adamitas, já tinham capacidades diferentes de
animais. Posteriormente o homem adâmico foi criado
A ORIGEM DO HOMEM E A UNIDADE DE RAÇA: com capacidades maiores e mais nobres, e prova-
velmente foi destinado a levar a toda outra humani-
TESTEMUNHO ESCRITURÍSTICO DA UNIDADE DA dade existente à obediência a Deus.Fracassando na
RAÇA: Conforme os ensinamentos da Bíblia, descen- infidelidade ao Criador, foi providenciado por Deus a
de de um único par, encontrados nos primeiros capí- vinda de um descendente humano e, contudo, bem
tulos do livro de Gênesis. Adão e Eva que foram cria- mais que humano, para que pudesse realizar o que
dos por Deus são os iniciantes da espécie humana, Adão não conseguiu. Fleming foi levado a defender
onde lhes foram ordenado que se multiplicassem e o conceito: “que o ramo inquestionavelmente cau-
enchessem a terra. Gênesis mostra que as gerações casiano é tão somente a derivação, pela geração
seguintes, até o dilúvio, estiveram em ininterrupta re- normal, da raça adâmica, a saber, dos membros da
lação genética com o primeiro casal. A raça huma- raça adâmica que serviam a Deus e que sobrevive-
na consititui não somente uma unidade especifica, ram ao dilúvio – Noé e seus filhos e filhas”. Essa teoria
como também a mesma natureza humana, e uma não tem apoio na Bíblia e contradiz a At 17.26 e tudo
unidade genética ou genealógica. Paulo também mais que é ensinado por ela com referencia a apos-
ensina em At 17.26. Da mesma forma, a verdade bá- tasia e à libertação do homem. Além disso, a ciência
sica para a unidade orgânica da raça humana na apresenta diversos argumentos em favor da unidade
primeira transgressão, e da provisão para a salvação da raça humana, como os seguintes:
da raça em Cristo, Rm 5.12,19; 1Co 15.21,22. Shedd
entende esta unidade de raça realisticamente quan- A) O ARGUMENTO DA HISTORIA: As tradições da
do diz: “A natureza humana é uma substância espe- raça dos homens apontam decisivamente para uma
cifica ou geral criada nos primeiros indivíduos de uma origem e uma linhagem comuns na Ásia Central. A
espécie humana e com eles, não ainda individuali- história das migrações do homem tente a mostrar
360 zada, mas pela geração ordinária, subdividida em que houve uma distribuição partindo de um único
partes, formando estas partes distintos e separados centro.
indivíduos da espécie. A substância uma e especifica
é, pela propagação, metamorfoseada em milhões B) O ARGUMENTO DA FILOLOGIA: O estudo das
de substancias individuais, ou pessoas. Um individuo línguas da humanidade indica uma origem comum.
é uma parte fracionária da natureza humana separa As línguas indo-germanicas têm sua raízes um idioma
da massa comum e constitui uma pessoa particular, primitivo comum, um velho remanescente do qual
tendo todas as propriedades essenciais da natureza ainda existe no sânscrito. Além disso, há prova que
humana”. mostra que o antigo idioma egípcio é o elo da liga-
ção entre a língua indo-européia e a semítica.
TESTEMUNHO DA CIÊNCIA EM FAVOR DA UNIDADE
DA RAÇA: C) O ARGUMENTO DA PSICOLOGIA: A alma é a
parte mais importante da natureza constitucional do
A Escritura em favor da unidade da raça huma- homem, e a psicologia revela claramente o fato de
na, é confirmada pela ciência de varias formas. Al- que as almas dos homens, quaisquer que sejam as tri-
guns homens de mentalidade cientifica, nem sempre bos ou nações a que pertençam, são essencialmen-
acredita nisso. Antigos gregos tinham sua teoria do te idênticas. Tem em comum os mesmos apetites,
autoctonismo, que diziam que os homens brotaram instintos e paixões animais, as mesmas tendências e
da terra por uma espécie de geração espontânea, capacidades, e, acima de tudo, as mesmas quali-
onde não consiste nenhum suporte sólido, pois jamais dades superiores, as características morais e mentais
foi comprovada e desacreditada. Agassiz propôs a que pertencem exclusivamente ao homem.
teoria dos coadamitas, que presume que houve di-
ferentes centros de criação. Peyrerius em 1655, de- D) O ARGUMENTO DAS CIÊNCIAS NATURAIS OU DA
senvolveu a teoria dos pré-adamitas, que pressupõe FISIOLOGIA: É agora opinião comum dos especialistas
que havia homens antes de Adão. Teoria esta, revivi- em fisiologia comparada, que a raça humana cons-
da por Winchell que não negava a unidade da raça, titui tão somente uma única espécie. As diferenças
considerando Adão como o primeiro antepassado que existem entre várias famílias da humanidade são
consideradas simplesmente como variedades dessa peradamente - que há poucas provas que sustentam
espécie única. A ciência não assevera positivamente a teoria neodarwiniana: seus alicerces teóricos são
que a raça humana descende de um único par, mas fracos, assim como as evidências experimentais que
, não obstante, demonstra que pode muito bem ter a apóiam”.
sido este o caso, e que provavelmente é. A Bíblia não menciona a teoria da evolução, mas
apresenta como fato a criação por Deus. A explica-
A TEORIA DA EVOLUÇÃO É FATO COMPROVADO? ção bíblica, também, fica fora dos limites dos labora-
tórios científicos. A grande maioria dos seres humanos
A teoria da evolução é apresentada com tan- olha para a evidência ao seu redor e aceita, por fé,
ta confiança que muitos acreditam que seja mais a idéia de criação por Deus: “Porque os atributos in-
do que teoria. Livros didáticos, revistas e programas visíveis de Deus” são “percebidos por meio das coisas
científicos na televisão dão a impressão que todos que foram criadas” (Romanos 1:20). A nossa fé é bem
aceitam essa teoria como a única e mais adequa- colocada, e nada teme da investigação científica. E
da explicação das origens da vida, inclusive da vida a fé dos evolucionistas? “Diz o insensato no seu cora-
humana. ção: Não há Deus” (Salmo 14:1).
Se a teoria da macro-evolução for um fato com-
provado, a Bíblia seria absolutamente falsa, pois ela UMA HERESIA EM NOME DA CIÊNCIA
afirma que Deus criou o universo e tudo que nele há
(Atos 17:25-28; Hebreus 11:3). A nossa fé seria vazia O homem veio do macaco. Não é o que nós cris-
e sem valor, pois a teoria da evolução contraria os tãos pensamos, mas é que o que muitas vezes somos
princípios fundamentais das Escrituras e até nega a obrigados a ler ou ouvir desde criança. Livros, revis-
existência de Deus. tas e documentários “científicos” apresentam o ser
Essa teoria, que domina e limita o pensamento de humano dessa forma igualada ao resto dos animais.
muitos cientistas hoje, nunca foi e jamais será com- Apresentam com tanta naturalidade e segurança
provada. Há mais de 2.000 anos que alguns filósofos que não sentem nenhuma necessidade de explicar
sugeriram algumas teorias da evolução. Nos últimos por que motivo temos de ser vistos dessa maneira tão
200 anos, as idéias propostas por Charles Darwin têm longe da posição de dignidade e respeito que Deus
se tornado artigos de fé nos deu na Criação. É como se as idéias de Darwin
que servem como a base da religião de muitos a respeito da origem do homem fossem verdades ir- 361
na comunidade científica. Mas são teorias e interpre- refutáveis. .
tações, não fatos. Nem todos os cientistas professam É verdade: todos somos criaturas, todos fomos
fé na evolução. Lynn Margulis, professora emérita de criados. Mas será que estamos todos no mesmo ní-
biologia na Universidade de Massachusetts diz que a vel? ?
história, futuramente, julgará o neodarwinismo uma Até mesmo na escola, temos de aceitar essa
“pequena seita religiosa do século XX, dentro da idéia oficial, sem poder questionar. É uma heresia
fé religiosa geral da biologia anglo-saxônica”. Ela, consagrada e respeitada. É assombroso o fato de
como muitos outros cientistas, reconhece a falta de que podemos reconhecer como perigoso um espí-
provas apoiando a teoria da macro-evolução. rita ensinando suas idéias a nossos filhos, mas não
A noção de macro-evolução sugere que a vida conseguimos perceber o perigo de um professor que
surgiu e se desenvolve por acaso, sem ação inteli- joga ao chão, diante de alunos inocentes, o valor de
gente. Até hoje, nem provas científicas, nem evidên- verdades tão importantes para nossa existência. A
cias arqueológicas irrefutáveis foram apresentadas autoridade da Palavra de Deus é tratada, até mes-
para sustentar essa explicação. Os proponentes da mo diante de crianças cristãs, como se não fosse vá-
teoria ficam cada vez mais frustrados. Darwin achou lida no mundo real. É como se as verdades bíblicas
que mais pesquisas e o desenvolvimento tecnológico devessem permanecer confinadas nas igrejas e na
forneceriam as evidências que faltavam na época privacidade dos lares cristãos. No entanto, em ne-
dele. Aconteceu ao contrário. Quase dois séculos nhum momento os adeptos de Darwin aceitam que
passaram, e as evidências mostram mais e mais a fra- as idéias de Darwin sejam tratadas do jeito que eles
queza da sua teoria. G. A. Kerkut, bioquímico inglês tratam a Palavra de Deus. Para eles, a opinião evo-
e autor do livro As Implicações da Evolução, admitiu lucionista deve prevalecer sobre todas as outras opi-
que “a evidência que apóia [a teoria da macro-evo- niões. .
lução] não é forte o bastante para nos permitir a con- Um site na Internet intitulado Myths in Genesis (Os
siderá-la mais do que uma hipótese funcional”. Jerry Mitos do Gênesis) se dedica a dois objetivos: promo-
Coyne, do Departamento de Ecologia e Evolução ver a teoria da evolução como verdade e mostrar
da Universidade de Chicago diz: “Concluímos - ines- que os relatos da criação do mundo em Gênesis não
são verdade. Por exemplo, o site ataca “os mitos uma vez; 3. Os vírus, bactérias, plantas e animais são
óbvios nos primeiros capítulos do livro de Gênesis e todos inter-relacionados; 4. Os protozoários deram
as tentativas de os cristãos conservadores de forçar origem aos metazoários; 5. Vários filos de invertebra-
seus ensinos nas escolas públicas como fato cientifi- dos são inter-relacionados; 6. Os invertebrados de-
camente provado”.O autor, um ardoroso adepto da ram origem aos vertebrados; e 7. Peixes, répteis, aves
evolução, ocupa uma página inteira da Web para e mamíferos tiveram origem ancestral comum.
atacar os evangélicos que crêem, conforme a opi-
nião pessoal dele, nos “mitos” do livro de Gênesis e Até hoje, nenhum cientista evolucionista solucio-
afirma que ninguém tem o direito de ensinar para as nou estas dificuldades teórico-empíricas. Percebe-se,
crianças de escola que Deus criou o mundo, confor- contudo, no que é veiculado nas reportagens cien-
me revela a Palavra de Deus. . tíficas uma certa preocupação quanto ao tempos
Nos Estados Unidos, um professor de escola públi- verbais: todos no condicional. Isso é bom porque não
ca foi processado por mostrar aos alunos os erros da atribui como “fato” determinadas descobertas. Con-
teoria da evolução. Ele comenta: “Se algo na ciência tudo, não é salientado para os leitores quais aspectos
de repente se torna tão sagrado que não se pode da teoria neodarwinista estariam sendo corrobora-
questionar, então já não é mais ciência. O que quero dos e questionados. Por que essa omissão? O que se
mesmo não é ensinar o criacionismo [o ensino de que vê no jornalismo científico, supostamente objetivo, é
Deus é o Autor da criação]; quero apenas ensinar as um jornalismo ideologicamente naturalista mascara-
falhas do darwinismo.” Ele foi legalmente impedido do de jornalismo científico. Pseudo-jornalismo científi-
de falar na escola a respeito dos erros da teoria da co a ser desmascarado. Com muito rigor científico. .
evolução. Ele foi perseguido apenas por questionar
um tabu “científico”. Imagine então o que lhe acon- Apesar das falhas evolucionistas, nas provas es-
teceria se ele tentasse ensinar para as crianças que colares de ciência, as perguntas sobre a questão
há um Deus Criador? da origem do homem exigem, oficialmente, que se
Por que tanta oposição, em nome da ciência, à dê uma resposta de acordo a teoria da evolução.
realidade de um Deus Criador? A verdadeira ciência Quem pensa diferente é obrigado a guardar para si
não contradiz a Bíblia. O que contradiz a Bíblia é a suas convicções. Uma resposta que dê a Deus o cré-
interpretação e as opiniões pessoais de cientistas que dito da criação do homem custa a um aluno alguns
362 rejeitam a Deus. Não existe uma guerra entre a ciên- pontos.
cia e Deus. O que existe são cientistas que não acei-
tam a Deus e usam seu conhecimento para negar a Embora o mundo moderno esteja experimentan-
existência e o poder criador desse Deus. . do extraordinários avanços na área tecnológica, há
No entanto, é de surpreender o modo como eles ainda questões básicas que todo ser humano quer
conseguem impor suas idéias como se fossem verda- entender e que até mesmo os computadores não
des absolutas considerando que, de acordo com o conseguem resolver. A principal pergunta é: “Qual
jornal inglês The Observer, até mesmo entre cientistas é a origem da vida?” Os adeptos da teoria da evo-
adeptos da evolução há divisão sobre a questão. De lução estão, em nome da ciência, impondo suas
fato, não há um consenso acerca das suposições da respostas de todas as formas possíveis e censurando
evolução. qualquer explicação que não respeite as idéias de
Darwin. Eles têm fé de que eles possuem a ÚNICA
Enézio E. de Almeida Filho, em seu excelente arti- resposta. Mas nossa fé é baseada não só no que a
go Teoria da Evolução, Desnudando Darwin: Ciência natureza e a ciência mostram, mas principalmente
ou Fé? Comenta: : no que a Palavra de Deus diz:
É engraçado e até irônico: um sapo ser beijado
por uma princesa e transformado em príncipe é his- “No começo Deus criou o céu e a terra.” (Gê-
tória da carochinha. Agora, um suposto ser unicelular nesis 1:1)
(inobservado) ao longo de bilhões de anos se trans- “É pela fé que entendemos que o Universo foi
formar em Australopithecus e depois em Charles Dar- criado pela palavra de Deus e que aquilo que pode
win (inobservado), isso sim, é considerado ciência? ser visto foi feito daquilo que não se vê.” (Hebreus
Não são 30 dias de debates. São 38 anos. Jornalistas 11:3)
científicos deveriam considerar o questionamento Escolhendo acreditar em Deus, passamos a en-
levantado por G. A. Kerkut, um evolucionista, em re- tender que há um Autor para tudo o que se vê no
lação à evidência inadequada de sete importantes mundo natural. Compreendemos que o homem não
inferências evolucionistas. 1. Coisas não-vivas deram está aqui por acaso, mas tem um destino eterno e
origem a organismos vivos; 2. A abiogênese ocorreu uma alma eterna. Por outro lado, escolhendo acredi-
tar que o homem veio do macaco, não precisamos A ciência é contrária a Deus? Claro que não! Mas
nos preocupar com Deus, Céu, inferno ou com nossa cientistas contrários à realidade de Deus e às suas leis
responsabilidade de fazer o bem e evitar o mal. (Afinal, morais utilizam indevidamente seu conhecimento
se Deus não existe, quem é que vai definir o que é o avançado para sustentar teorias que se encaixam
bem e o que é o mal?) ) em seus preconceitos pessoais. Algumas vezes, eles
A teoria da evolução pode não ser verdadeira, têm de se envolver em experiências que não são eti-
mas fornece a desculpa necessária para os que pre- camente aceitáveis. Em outras palavras, nem tudo
cisam de espaço para agir fora dos princípios morais o que um cientista faz respeita a moralidade cristã.
estabelecidos por Deus. O famoso filósofo evangélico Por exemplo, pode-se sacrificar um bebê para se
Dr. Francis Schaeffer e C. Everett Koop (ex-Ministro da criar um “tratamento” médico? O princípio cristão,
Saúde dos EUA) pensam da mesma forma. Em seu livro de que a vida é sagrada, coloca um limite necessá-
Whatever Happened to the Human Race? (O que foi rio em qualquer tentativa de manipular fatalmente
que Aconteceu com a Raça Humana?), eles decla- uma criatura humana, antes ou depois do nascimen-
ram: : to. Para levar adiante algumas de suas pesquisas não
Diferente do conceito evolucionário sem o envol- muito honrosas, os cientistas precisam de princípios
vimento de uma pessoa no começo? a Bíblia relata a que não limitem sua liberdade de decidir ou agir. Se
origem do homem como uma pessoa finita feita con- o ser humano veio do macaco, então ele tem o valor
forme a imagem de Deus, isto é, igual a Deus. Vemos de um animal. Se podemos fazer pesquisas com ani-
então como é que o homem pode ter personalidade, mais, por que não incluir os seres humanos?
dignidade e valor. Nossa condição como seres total-
mente diferentes é garantida, algo que é impossível Portanto, é preciso encarar uma realidade óbvia.
num sistema materialista. Se não há diferença de qua- Aceitar a teoria da evolução necessariamente envol-
lidade entre o homem e outras formas de vida orgâ- ve três conseqüências inevitáveis:
nica (plantas ou animais), por que deveríamos sentir a) remove Deus como o Criador do ser humano;
mais preocupação com a morte de um ser humano b) dá crédito às idéias do homem, prestando as-
do que com a morte de um rato de laboratório? Será sim adoração ao homem; e,
que, no final das contas, o homem tem um valor mais
c) tira a dignidade do ser humano, que ele rece-
elevado? ?
beu quando Deus o criou conforme a sua imagem e
Cientistas de diversas áreas estão alertando que 363
que o torna totalmente diferente de todos os outros
não é possível defender a teoria da evolução. Apesar
seres vivos criados. .
disso, o alerta deles tem sido devidamente ignorado e
censurado. Embora a teoria da evolução não seja uma
A teoria da evolução se torna, assim, mais um
realidade comprovada, pelo menos é conveniente
meio de distração espiritual, impedindo as pessoas
para as atividades de quem não quer ser limitado por
de vir a conhecer e honrar a Deus. Mas será que é
conceitos e éticas morais. Ver o ser humano como ani-
tão difícil ver que há um Criador? Quem pesquisar a
mal dá para o cientista inescrupuloso o pretexto ideal
natureza honestamente, terá de fechar os olhos para
para realizar o que um ser humano consciencioso não
não ver que há uma Mente Superior por trás de tudo
teria coragem de fazer. A extinta União Soviética, em
seu radicalismo socialista ateísta, abraçava a teoria da o que foi criado. .
evolução como única verdade. Assim, não é de admi- Assim, um estudo honesto da natureza acaba tra-
rar que os governantes soviéticos e seus seguidores tra- zendo como resultado o conhecimento de que há
tassem as pessoas como animais. E quem é que não se um Criador. Alguns cientistas famosos que criam em
lembra das atrocidades que distintos homens da me- Jesus, na Bíblia e em Deus como o Criador: Lord Kelvin
dicina, psiquiatria e ciência cometiam contra homens, (cujo nome era William Thompson [1824-1907]. Ele for-
mulheres e até crianças na Alemanha nazista? A teoria mulou a primeira e a segunda Lei da Termodinâmica.
da evolução era um dos ídolos no altar do ateísmo na- Ele disse: “Com relação à origem da vida, a ciência?
zista. Muitas vezes eles sacrificavam vidas humanas em sem sombra de dúvida afirma que há poder criador.
experiências nos campos de concentração alegando Há muito tempo sinto que as pessoas que não estão
que os resultados ajudariam no tratamento de muitas envolvidas com a ciência acham que a classe cienti-
doenças. Tanto a União Soviética quanto a Alemanha fica acredita que a ciência descobriu meios de expli-
nazista fecharam as escolas cristãs e forçaram todas as car todos os fatos da natureza sem adotar nenhuma
crianças a ir para escolas do governo a fim de serem fé clara num Criador. Na minha opinião, esse modo
sistematicamente doutrinadas no humanismo evolu- de pensar não tem base alguma.”), Sir James Young
cionista, ateísta e materialista. O exemplo soviético e Simpson (1811-1870, descobriu o clorofórmio e decla-
nazista nos dá abundantes evidências dos “benefí- rou que sua maior descoberta foi Jesus), Louis Pas-
cios” do evolucionismo na sociedade moderna. . teur (1822-1895, cientista que desenvolveu o proces-
so de pasteurização, a vacina anti-rábica, etc. Ele Cristo Jesus e sua salvação. Não é esse o melhor
declarou: “A ciência nos aproxima mais de Deus.”), assunto?
Sir Isaac Newton (1642-1727, famoso descobridor O fato mais importante na vida de Darwin é que
das leis universais da gravidade.), Matthew Fontaine no fim ele se desviou de suas próprias idéias evolucio-
Maury (1806-1873, cientista considerado fundador nistas. Só um tolo não faria isso. .
da moderna hidrografia e oceanografia.), Johann Então por que indivíduos aparentemente inteli-
Kepler (1571-1630, fundador da astronomia física e gentes conseguem se apegar ao que Darwin aca-
descobridor das leis que governam o movimento dos bou abandonando? Para as muitas pessoas que per-
planetas.), Wernher von Breaun (1912-1977, conheci- guntam como é possível que indivíduos “estudados”
do como o pai do programa espacial americano, foi consigam acreditar que o homem veio do macaco,
diretor da NASA e um dos maiores cientistas espaciais talvez a melhor resposta seja o que o escritor George
do mundo. Ele disse: “Os evolucionistas desafiam a Orwell disse: há coisas “tão tolas que só os intelec-
ciência a provar a existência de Deus. Mas será que tuais conseguem crer”?
realmente precisamos acender uma vela para ver o
sol?? Eles dizem que não conseguem ver um Criador. QUE CONSEQÜÊNCIAS SOACIAIS E POLÍTICAS PO-
Bem, será que um físico pode ver um elétron?? Que DEM SER ATRIBUÍDAS À CRENÇA EVOLUCIONISTA?
estranho tipo de raciocínio faz com que alguns físicos O filósofo Will Durant notou certa vez: “Ao ofere-
aceitem o inconcebível elétron como real enquanto cer a evolução em lugar de Deus como uma cau-
rejeitam reconhecer a realidade de um Criador com sa da história, Darwin removeu a base teológica do
o motivo de que não podem concebê-lo?? É com código moral da cristandade. No entanto, o código
honestidade científica que apóio que teorias alterna- moral que não teme a Deus é bastante frágil. Essa é
tivas à origem do universo, vida e humanidade sejam a condição em que nos encontramos.
ensinadas nas aulas de ciência das escolas. Seria um Não penso que o homem já seja capaz de lidar
erro negligenciar a possibilidade de que o universo com a ordem social e a decência individual sem te-
foi planejado, não vindo a existir por acaso”.). Esses mer algum ser sobrenatural que tenha autoridade so-
são apenas alguns exemplos de homens da ciência bre ele e possa castigá-lo”. Podemos confirmar em
que acreditavam que Deus é a origem de tudo no toda parte que a declaração de Durant estava cor-
reta. Num Universo que, em última análise, não tem
364 universo. .
razão de ser, o que acontece com a ética individual
Pudemos ver então que nem todos os cientistas
e social? Por que os mais poderosos e inteligentes en-
aceitam as idéias da evolução. Mas o que dizer do
tre nós não devem manipular os menos inteligentes e
homem que as inventou? Refletindo em tudo o que
menos poderosos para os propósitos que consideram
havia feito, no fim da vida Charles Darwin confessou:
“bons” e “respeitáveis”?
Eu era jovem e minhas idéias não estavam forma-
O século XX está repleto de exemplos. Os últimos
das. Não quis saber de perguntas nem sugestões e o
80 anos testemunharam alguns dos maiores horrores
tempo todo me surpreendia com tudo o que estava
de toda a história da humanidade – principalmente
fazendo. Para meu espanto, minhas idéias se espa-
o resultado das atrocidades nazistas e comunistas.
lharam como um incêndio florestal. As pessoas fize-
A Alemanha nazista foi hedionda e o comunismo foi
ram delas uma verdadeira religião. .
responsável pela morte de aproximadamente 25 ve-
Na verdade, o termo apropriado é religião heré-
zes mais pessoas que as sacrificadas por Hitler!
tica. Os evolucionistas passaram a seguir as idéias de Essas ideologias, porém, continuam ainda vivas.
Darwin com a paixão irracional dos heréticos, sempre Na Alemanha de hoje, o neonazismo se tornou uma
procurando silenciar todas as dúvidas sobre suas he- poderosa força social e o neofacismo está crescen-
resias e não dando espaço democrático algum para do na Itália – quase inconcebivelmente, sob a lide-
quem não coloca sua fé no altar da evolução. Aliás, rança da própria neta de Mussolini. Apesar do co-
é interessante observar que as grandes heresias mui- lapso do comunismo na Europa e na Rússia, a teoria
tas vezes começam com indivíduos que se desviam marxista continua dominando mais de um bilhão de
do Cristianismo. Tal foi o caso com Charles Darwin. pessoas na China e em outros países.
Em sua juventude, ele se desviou do Cristianismo, Ninguém pode ter também certeza de que a Rús-
“descobriu” a teoria da evolução, mas no fim mudou sia e a Europa Oriental vão continuar seu movimento
de direção. Todos têm o direito de mudar para me- em direção à democracia. O que tudo isso tem a ver
lhor, não? com a evolução naturalista?
Um dia, depois de falar sobre a santidade de A evolução está baseada na premissa de que o
Deus e da grandeza da Bíblia, Darwin confessou o tempo mais a matéria impessoal mais o acaso for-
que era mais importante para ele: maram todos os seres vivos. Em essência, o homem
se torna algo como um acidente trágico, não tendo o início até o fim. Todavia, é de fato um fenômeno
valor final, girando a velocidades vertiginosas através notável que tão poucos tivessem se apercebido dis-
dos corredores sombrios do espaço. so até hoje”. Uma forma de darwinismo foi também
Visões filosóficas moldadas por pensamentos utilizada efetivamente na propagação da ideologia
desse tipo podem, entretanto, encontrar facilmente comunista. Karl Marx “sentiu que sua obra era um pa-
expressão lógica na vida diária de milhares de indiví- ralelo exato da de Darwin” e ficou tão grato que quis
duos. Isso foi reconhecido por Sedgwick, um geólogo dedicar uma parte do livro Das Kapital (O Capital) a
de Cambridge e conhecido de Darwin, que achou Darwin, que declinou a honra.
que Darwin havia mostrado a cada criminoso como Marx escreveu a Engels com respeito a A Origem
justificar seu comportamento. Ele também cria que das Espécies, dizendo que o livro “contém na história
se os ensinos de Darwin tivessem larga aceitação, a natural a base para as nossas opiniões da [história hu-
humanidade “iria ser prejudicada a ponto de bruta- mana]”. Em 1861, ele também escreveu: “O livro de
lizar-se e fazer a raça humana mergulhar num grau Darwin é muito importante e me serve como base na
maior de degradação do que qualquer outro em seleção natural para a luta de classes na história...”
que tivesse caído desde que os seus registros escri- O Dr. A. E. Wilder-Smith comenta: “A propaganda
tos nos contam a sua história”. Um dos maiores evo- política e anti-religiosa
lucionistas de épocas recentes foi o antropólogo Sir publicada desde os dias de Marx está eivada do
Arthur Keith. Ele dedicou mais tempo ao estudo da darwinismo mais primitivo”, observando que “ela bru-
ética evolucionista do que talvez qualquer de seus taliza aqueles a quem domina”. A filosofia de Marx,
contemporâneos. como a de Hitler, refletia a brutalidade da natureza.
A sua obra Evolution and Ethics (Evolução e Éti- Ele se referia ao “desarmamento da burguesia... ter-
ca) mostra que a ética ensinada pelo cristianismo e a ror revolucionário... e criação de um exército revo-
da evolução não são compatíveis: “O ensinamento lucionário...” Além disso, o governo revolucionário
cristão está... em oposição direta à lei da evolução” não teria “nem tempo nem oportunidade para a
e, “a ética cristã não se harmoniza com a natureza compaixão e o remorso. Seu intento era aterrorizar os
humana e é secretamente antagônica ao esquema oponentes até a sua submissão. Ele deve desarmar
o antagonismo mediante execução, prisão, trabalho
de evolução e ética da natureza”.
forçado, controle da imprensa...”
Keith também compreendeu que, se seguirmos a
Em vista do impacto de Hitler, Marx e seus asso- 365
ética evolucionista até a sua conclusão estrita e lógi-
ciados, e a ligação demonstrável de suas filosofias
ca, devemos “abandonar a esperança de alcançar
desumanas com o ateísmo evolucionista, os comen-
um dia um sistema universal de ética” porque, “como
tários do filósofo histórico John Koster são pertinentes:
acabamos de ver, os caminhos da evolução nacio-
Muitos nomes foram citados além dos de Hitler para
nal, tanto no passado como no presente, são cruéis,
explicar o Holocausto. De modo estranho, o de Char-
brutais, implacáveis, impiedosos”.
les Darwin quase nunca se encontra entre eles. To-
De fato, quando examinamos a influência social
davia... as idéias de Darwin e de Huxley quanto ao
e política da teoria darwiniana sobre a última me-
lugar do homem no Universo prepararam o caminho
tade do século dezenove e todo o século vinte, as
para o Holocausto... Hitler e Stalin assassinaram mais
conseqüências morais são algumas vezes amedron- vítimas inocentes do que as que morreram em todas
tadoras. O próprio Keith observa o gélido impacto da as guerras religiosas na história da humanidade. Eles
teoria de Darwin sobre a Alemanha: não assassinaram essas vítimas enganados pela idéia
Vemos Hitler supremamente convencido de que de salvar as suas almas ou punir os seus pecados, mas
só a evolução produz uma base verdadeira para a por serem competidores na questão do alimento e
política nacional... obstáculos ao “progresso evolutivo”. Muitos huma-
Os meios adotados por ele para assegurar o desti- nitários, cristãos, judeus, ou agnósticos compreen-
no da sua raça e do povo foram matanças organiza- deram a relação entre as idéias de Nietzsche e as
das, que saturaram a Europa de sangue... Tal condu- equipes de assassinato em massa e os crematórios
ta é altamente imoral quando medida por qualquer de Hitler.
escala de ética, todavia a Alemanha a justifica; ela Poucos, porém, voltaram um passo atrás fazen-
está de acordo com a moral tribal ou evolucionista. do a ligação com Darwin, o “cientista” que inspirou
A Alemanha voltou ao passado tribal e está demons- diretamente a teoria do super-homem de Nietzsche
trando ao mundo, em toda a sua nudez, os métodos e o corolário nazista de que alguns indivíduos são su-
da evolução... Na Alemanha, Hitler viu na teoria evo- bumanos. A evidência estava toda ali – o termo neo-
lucionista a justificação “científica” de seus pontos darwinismo foi usado abertamente para descrever
de vista pessoais. “Não há dúvidas de que a evolu- as teorias raciais nazistas. A expressão “seleção natu-
ção foi a base de todo o pensamento nazista, desde ral”, como aplicada a seres humanos, foi encontrada
cia de migração e tamanhos populacionais infinita- adquirindo hábitos culturais diferentes, isso provocou
mente grandes, etc, as frequências dos alelos e dos um diferenciação entre os povos, e em cada região
pares de alelos (genótipos) podem ser calculadas do planeta existem grandes grupos de seres huma-
segundo fórmulas derivadas do chamado Princípio nos divididos em países, estados, cidades e tribos, que
do Equilíbrio de Hardy-Weinberg explicado a baixo: possuem culturas diferentes.
Suponha que um determinado gene tenha dois Este trabalho busca esclarecer algumas caracte-
alelos: A e a, que ocorrem com a frequência de 0,8 rísticas dessa evolução cultural, que envolve desde
e 0,2 respectivamente. Como cada gameta contém hábitos alimentares até a observação de comporta-
apenas 1 dose de cada alelo, cada 80% portarão mento, que são transmitidos aos descendentes para
alelo A e 20% o alelo a. evolução das espécies.
A frequência dos indivíduos formados pela união A evolução cultural consiste de mudanças no
desses alelos é calculada como o produto das fre- comportamento fundamentadas no aprendizado e
quências dos alelos que se uniram. não em alterações de freqüências gênicas. Ela pode
Genótipo ser tanto vertical (transmissão dos mais velhos para os
AA mais jovens) como horizontal (por imitação de práticas
Aa entre irmãos e entre companheiros do mesmo grupo).
aa Os modelos matemáticos da evolução cultural
Freqüência são muito incipientes. Eles podem incluir considera-
p² ções genéticas (como, por exemplo, admitindo que
pq certos genótipos tenham probabilidade maior de
q² aprender ou adotar uma particularidade cultural do
que outra) ou considerar as características culturais
AA: resultado da união de dois alelos A. como a como entidades submetidas às suas próprias regras de
frequência desse alelo é 0,8, a frequência dos AA na herança (não genética), assim como seleção, migra-
população é: ção e deriva não genética. É óbvio que a cultura e a
368 f(A) x f(A) = 0,8 x 0,8 = 0,64 = 64% genética podem interagir. Por exemplo, muitos povos
Um dos alelos é chamado de p e outro de q, f(A) asiáticos são geneticamente incapazes de metaboli-
= p e f(a) = q, logo: zar produtos do leite quando adultos e esses produtos,
p x p = p² = 0,64 tradicionalmente, não fazem
Aa: é formado quando um gameta A masculino parte de suas dietas. O que não se sabe é até que
fecunda um gameta a feminino, ou um gameta a ponto a prática cultural de não tomar leite influenciou
masculino fecunda um gameta A feminino. a frequência gênica, ou vice versa.
Seguindo a regra do “ou”: É fácil traçar analogias entre a evolução biológi-
f(A) x f(a) + f(a) x f(A) = 0,8 x 0,2 + 0,2 x 0,8 = 0,32 ca e a evolução cultural, mas elas não deveriam ser
= 32% generalizadas. As inovações culturais (análogas às
f(Aa) = p . q mutações) também sofrem ação de fatores seletivos,
f(aA) = q . p, portanto no sentido que algumas ficam arraigadas na cultura e
f(Aa) = 2 . pq outras não, elas podem se fixar seja devido à utilida-
aa: é a união de dois gametas portadores do ale- de óbvia, seja porque são associadas popularmente
lo a com status elevado ou porque são impostos à força.
f(a) x f(a) = 0,2 x 0,2 = 0,04 ou 4% Pelo menos na evolução das línguas, parece que fun-
ou q² = 0,04 ciona um tipo de deriva, mudanças aparentemente
A soma das frequências será sempre 100%, obe- casuais que levam, por exemplo, à formação de dia-
decendo a seguinte fórmula: letos. As características culturais e as línguas divergem
p² + 2pq + q² = 1 se houver uma separação geográfica e existem mui-
0,64 + 0,32 + 0,04 = 1 tos exemplos de divergência, convergência e para-
lelismo cultural entre as sociedades humanas. É com-
Evolução biológica e cultural preensível que ocorra seleção de grupo de caracte-
A espécie humana representa uma das maiores rísticas culturais. Muitas peculiaridades culturais, por
populações de mamíferos do planeta, apresentando exemplo, parecem conservar um balanço ecológico
uma grande diversidade cultural. Através da evolu- entre uma tribo e seu ambiente sem conferir nenhuma
ção as populações foram se isolando e cada uma vantagem especial a membros específicos do grupo.
A evolução cultural diverge da evolução biológi- Dessa forma, se nenhum novo paradigma surgir
ca em pontos muitos importantes. Talvez o mais im- revolucionando esta questão, este ensaio pode-
portante seja que a evolução cultural é lamarckia- rá servir como uma revisão adequada do assunto,
na: o comportamento, a língua e as peculiaridades ampliando as bases de discussão para o estabele-
que um indivíduo adquire durante a sua vida, são cimento do diálogo intercultural, caso contrário, po-
transmitidas para seus descendentes ou para outros derá servir como mais uma das “piadas” científicas
indivíduos. Consequentemente, a mudança cultural a ser contada, futuramente, nas salas de aula.
pode ocorrer muito mais rapidamente do que a evo- De acordo com pressupostos básicos da teo-
lução biológica e mudanças súbitas podem ocorrer ria da evolução de Darwin, os seres vivos têm ten-
numa única geração. A evolução cultural é muito dência para apresentar variações, uma fração das
mais intricada do que a evolução biológica, porque quais é de natureza hereditária.
as sociedades adotam os hábitos umas das outras e Quando essas variações não forem neutras para
porque inclusive ela impõe um tipo de herança inte- a sobrevivência ou reprodução, ocorrerá, obvia-
grada: é muito difícil identificar unidades de cultura mente, uma sobrevivência e uma reprodução dife-
que, como os genes, sejam transmitidas sem altera- renciadas de seus portadores. “Os seres favorecidos
ção (considere a pronúncia do nome espanhol “Los nessa luta pela vida são considerados como os mais
Angeles” em inglês). bem adaptados aos meios em que vivem, isto é, os
A seleção que orienta a mudança cultural nor- mais aptos sob o ponto de vista seletivo. Como o
malmente é uma seleção das próprias caracterís- ambiente se altera ao longo do tempo, também
ticas, não dos indivíduos que as põem em práticas; mudam a direção e a intensidade da seleção natu-
o automóvel substitui o cavalo devido à sua vanta- ral. Dessa forma os seres vivos irão evoluindo” (FREI-
gem óbvia, não porque os motoristas de automóvel RE-MAIA, 1991).
tiveram mais filhos de que os cavaleiros. A vantagem Atualmente questiona-se o fato de que as mu-
muitas vezes pode ser ilusória: muitos traços culturais, tações casuais e a seleção natural sejam fatores
variando desde o hábito de fumar até políticas nu- suficientes para explicar toda a evolução, mas po-
cleares, podem trazer em longo prazo e muitas ve- dem contribuir para uma reflexão sobre o papel da
zes em curto prazo, desvantagens tanto individuais, cultura na origem do ser humano, que foi capaz de
como para grupos. se diferenciar dos demais primatas, principalmente 369
Algumas características culturais têm suas fre- no que concerne à produção e armazenamento de
qüências aumentadas não somente devido à trans- “cultura”.
missão cultural, mas porque elas influenciam no Além da cultura, há inúmeras diferenças morfo-
crescimento e na dispersão das populações. A op- lógicas entre o ser humano e outros primatas, mas
ção pela agricultura, por exemplo, fez com que as grande parte delas puderam ser acumuladas a par-
sociedades pastoris alcançassem densidades popu- tir do isolamento sexual do grupo ancestral e neste
lacionais maiores do que as sociedades dos caça- isolamento reprodutivo ela desempenha um papel
dores – coletores, levando, a um aumento do tama- destacado.
nho populacional total e relativo dos agriculturalistas. Podemos conceituar biologicamente a cultura
Como consequência, passaram a prevalecer outras como uma extraordinária complexificação do que
características culturais típicas dos agriculturalistas, se denomina, em Biologia, de comportamento ani-
assim como as freqüências dos alelos que existiam, mal, que, em linhas gerais, envolve todos os proces-
nas tribos agricultoras. sos através dos quais um animal percebe o mundo
externo e o seu estado interno e responde às mu-
A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA E A CULTURA HUMANA danças percebidas.
Segundo uma visão clássica, quase todos os
Trabalhar nas múltiplas conceituações de cultura comportamentos que observamos nos animais são
suscita o estabelecimento de um amplo debate adaptativos. Eles respondem a estímulos apropria-
interdisciplinar que envolve a preocupação de dos de maneira eficiente e por isso alimentam-se,
tratar das bases biológicas na formação da cultura, encontram abrigo, acasalam-se e procriam. O que
sem todavia tentar-se “explicar” a cultura, mas sim faz com que o comportamento de um animal se
no sentido de também pensá-la biologicamente, torne tão bem adaptado ao seu ambiente natural
partindo do pressuposto de que são verdadeiras as pode ser um conjunto de respostas “pré-formadas”
concepções fundamentais da teoria da evolução no sistema nervoso como parte de sua estrutura
propostas por Darwin, sem muita preocupação com herdada, constituindo-se num tipo de “memória da
suas anomalias. espécie” transmitida de uma geração a outra ou
pode ser uma capacidade de modificar seu com- Paradoxalmente, é muito restrito o papel que
portamento em virtude de suas experiências, à medi- a aprendizagem pode desempenhar na evolução
da que se desenvolve através da ação sobre o meio do comportamento animal, pois essa evolução de-
(MANNING, 1977). pende de variações herdadas sobre as quais a se-
O aprendizado permite modificar o comporta- leção possa agir. Ou seja, para que os processos
mento de modo a adaptá-lo a circunstâncias novas, de seleção natural possam atuar é necessário que
no homem, isso permitiu o desenvolvimento de uma o novo comportamento se transforme em informa-
grande plasticidade fenotípica, fazendo com que ção “herdável”, que não dependa exclusivamente
a organização estrutural das populações humanas do relacionamento direto entre os seres vivos, caso
seja certamente a mais elevada do reino animal. contrário o novo comportamento, por mais adap-
Isto se aplica não só a estrutura social dentro das po- tativo que seja corre o risco de ser perdido com a
pulações, das famílias às nações, como também às extinção do indivíduo ou grupo populacional que o
relações inter-populacionais, que são únicas. Estas tenha desenvolvido.
diferenças podem superar, inclusive, as observadas Nesse sentido, a capacidade de “registrar” sua
entre populações de espécies distintas e com muita cultura através da escrita, pintura, escultura, música,
frequência, as relações estabelecidas se asseme- etc, foi provavelmente uma das maiores conquistas
lham ao que se observa entre predador e presa ou que fez com que o homem se diferenciasse dos de-
hospedeiro e parasita. mais primatas e pudesse “evoluir culturalmente”.
O intercâmbio e interdependência entre popu- Hoje, já acumulamos tantas diferenças e nos
lações humanas é muito maior do que para outras diferenciamos tanto dos nossos parentes prima-
espécies. Isso afeta não apenas o intercâmbio de tas que parece meio irracional pensar num tempo
pessoas, como o de energia, de matéria, de conhe- onde nossas diferenças morfológicas em relação
cimento e cultura. aos chimpanzés e orangotangos não eram assim
Nesse sentido, com o crescente processo de glo- tão evidentes.
balização, torna-se cada vez mais urgente acres- A hipótese mais aceita para o surgimento do ho-
centarmos à nossa cultura humana a capacidade mem era de que nossos ancestrais se pareciam mui-
de estabelecimento do diálogo intercultural. to com os grandes antropoides atuais. Porém, a des-
370 Sendo assim, não se pode definir um homem uni- coberta de um esqueleto de Ardipithecus ramidus
camente pelos seus constituintes biológicos (células, muda este conceito sugerindo que os ancestrais dos
órgãos e metabolismos), é necessário, para explicar macacos já foram muito parecidos com os homens
as suas características mais essenciais, levar em con- atuais. Este fóssil repudia o senso comum de que os
ta os grupos sociais e culturais em que ele está in- macacos atuais foram nossos ancestrais e reforça
tegrado, pois os utensílios fornecidos pela natureza as teorias evolutivas, as quais preconizam que o ser
não têm qualquer interesse enquanto outros homens humano e os grandes macacos antropoides, como
não nos ensinarem a manejá-los (Jacquard,1988). gorila e chimpanzé, tiveram o mesmo e desconheci-
Fato é que até os animais menos complexos po- do ancestral comum.
dem, por seu comportamento, alterar o ambiente O surgimento de uma nova espécie envolve um
adequando-o em seu proveito, e assim modificar as processo de acúmulo de diferenças genéticas a tal
forças seletivas que os afetam. Um comportamen- ponto que o cruzamento entre os indivíduos não
to completamente novo pode ser transmitido por produza mais descendentes férteis, para isso, a se-
aprendizado e gradativamente substituir a atividade leção natural é fundamental pois, ao longo do tem-
prévia, sem que ocorra nenhuma alteração genéti- po, vai favorecendo as ligações entre os genes, que
ca, pois, em geral, se herda apenas uma potencia- contribuem conjuntamente para uma característica
lidade para aprender e não o aprendizado em si, a comum.
não ser nos casos em que não há sobreposição de Dessa forma, quanto mais fortemente estiverem
gerações e os indivíduos precisam nascer sabendo. “ligados” ou apareceram no mesmo indivíduo ge-
É claro que a evolução cultural só é possível entre nes com alto poder adaptativo, menor será o risco
os animais que possuem uma capacidade conside- de aparecerem indivíduos em que alguns deles fal-
rável de modificar seu comportamento por prática e tem, provocando um desenvolvimento imperfeito.
imitação, e, além do homem, isso pode ser observa- Nesse caso, ressalta a importância dos processos de
do em outros primatas, tendo sido descobertas uma isolamento reprodutivo, ou de seleção sexual, que
grande variedade de diferenças alimentares, cuja favorecem o acasalamento entre determinados in-
origem foi cultural, entre bandos do macaco japo- divíduos em detrimento de outros, garantindo a ma-
nês Macaca fuscata. nutenção dessa ligação genética.
Sem dúvida os processos de isolamento reprodu- citando para a convivência e o desenvolvimento dos
tivo fazem parte da herança genética, não apenas processos educativos, que podem nos proporcionar
dos animais como também de todos os grupos de se- um comportamento ou uma cultura muito distancia-
res vivos com reprodução sexuada, pois eles desenca- da da nossa natureza meramente animal.
deiam a microevolução, um processo que dá origem Para Nietzsche: “O homem é corda distendida
a novas espécies a partir de uma população ancestral. entre o animal e o super-homem: uma corda sobre
O isolamento reprodutivo envolve, inicialmente um abismo; travessia perigosa, temerário caminhar,
apenas padrões comportamentais de reconhecimen- perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. A
to e estranhamento. Nos animais estes sinais sociais grandeza do homem é ser ele uma ponte, e não
precisam ser salientes e quase todos têm forma muito uma meta [...]”.
exagerada, pois para terem a maior eficiência possível Voltando às questões biológicas, é muito difícil
precisam ser nítidos e inequívocos, principalmente en- precisar até que ponto se pode transpor os conhe-
tre espécies próximas ou morfologicamente semelhan- cimentos obtidos com pesquisas em animais aos
tes onde as diferenças são basicamente quantitativas. seres humanos, mas “faz parte da sabedoria con-
Hoje, com já dissemos anteriormente, acumulamos vencional que virtualmente toda variação cultural
tantas diferenças, que nos diferenciam dos nossos pa- é originariamente mais fenotípica do que genética”
rentes primatas que parece meio irracional pensar em (RUSE,1983).
estratégias especiais de isolamento sexual, mas nos Darwin, por exemplo, apoiava a origem biológi-
primórdios do surgimento do homem nossas diferenças ca da agressão humana, assim como afirmava que
morfológicas não eram assim tão evidentes. Além dis- as diferenças raciais podiam ser explicadas através
so, não é verdade que os macacos modernos estejam desse mecanismo. Todavia, essa discussão suscita o
genealogicamente mais próximos do que nós do an- problema básico de saber até que ponto os padrões
cestral comum que deu início à divisão entre os símios do comportamento humano, de fato, constituem
em geral e os grandes macacos há milhões de anos uma função direta dos genes e não da cultura, mas
atrás. querer “explicar” os processos sociais através do co-
O fóssil de Ardipithecus ramidus, com idade estima- nhecimento biológico é uma ingenuidade, que tem
da de 4,4 milhões de anos confere com prespectivas levado muitos biólogos a uma leitura míope acerca
anteriores de que nosso ramo do arbusto dos grandes
do homem. 371
macacos apresentaria um ancestral comum com os
Este ensaio procurou levantar alguns aspectos
chimpanzés até 5 e 8 milhões de anos atrás, isso signifi-
que favorecessem a reflexão sobre a importância
ca que por muito tempo fomos uma mesma espécie.
da cultura para o surgimento e estruturação da es-
Tanto quanto nós, os chimpanzés, bonobos, gori-
pécie humana, no sentido da mesma ter tido um im-
las e orangotangos são formas bastante evoluídas e
portante papel no nosso auto-reconhecimento e no
adaptadas aos seus ambientes. Mas é provável que
isolamento reprodutivo.
ainda tenhamos na nossa bagagem genética uma
Nossa capcidade biológica para estruturação
tendência grande para o desenvolvimento de meca-
de uma cultura elaborada possibilitou os processos
nismos de isolamento sexual baseados em diferenças
educativos. Jacquard (1988) afirma que: “O objeti-
culturais, como um recurso auxiliar para discriminar-
vo primário da educação é, evidentemente, revelar
mos, aqueles que são iguais a nós daqueles que são
a um filho de homem a sua qualidade de homem,
diferentes de nós.
Este aspecto favoreceria, indiretamente, o surgi- ensiná-lo a participar na construção da humanida-
mento dos comportamentos racistas entre diferentes de e, para tal, incitá-lo a tornar-se o seu próprio cria-
populações ou grupos sociais como uma manifes- dor, a sair de si mesmo para poder ser um sujeito que
tação do instinto de preservação, ou seja, como um escolhe o seu percurso e não um objeto que assiste
ônus da evolução cultural. submisso à sua própria produção”. O termo “huma-
Logicamente, não somos apenas seres que se nitude” define “a contribuição de todos os homens,
isolam, temos também que considerar nossa alta po- de outrora ou de hoje, para cada homem”
tencialidade de estabelecimento de agrupamentos A evolução cultural da espécie humana é mais
humanos, já presente quando éramos primatas e tam- rápida que a evolução biológica, talvez por consi-
bém a intrigante e incompreendida característica do derar aspectos evolutivos, como comportamento.
altruísmo, que nos capacita à filantropia. O fato de o ser humano conviver em sociedade
Assim, vemos em luta as forças dissociativas do iso- contribui para essa evolução cultural, porém, essas
lamento sexual e associativas da formação de grupo. mudanças podem ser benéficas ou não o que con-
As primeiras nos lançando à luta ou à fuga de tudo tradiz a teoria darwiniana, onde os mais aptos sobre-
aquilo que nos seja estranho, as segundas nos capa- vivem, talvez pelo fato de as características culturais
não estarem relacionada à genética. Assim pode-se porte, leves e rápidos, os terópodes. Nas recentes
relacionar a evolução cultural à teoria lamarckista, classificações filogenéticas, o grupo das aves é con-
pois as características adquiridas são passadas a siderado evolutivamente aparentado aos demais
seus descendentes e indivíduos do mesmo grupo. dinossauros. Juntos, constituem o grupo natural Dino-
Assim, pode-se afirmar que a evolução cultural sauria (assim, ao comermos uma coxa de frango no
foi e continua sendo de grande importância para a almoço, estamos devorando um remanescente de
espécie humana, trazendo vantagens e desvanta- dinossauro). Hoje, o homem convive no mesmo am-
gem, social e economicamente. biente com bactérias cujos ancestrais remontam aos
primórdios da vida, há quase quatro bilhões de anos.
A árvore filogenética dos hominídeos Nenhum dos dois grupos é mais ou menos evoluído
Como é de conhecimento comum, a mais tra- que o outro, simplesmente porque evolução não é
dicional representação da teoria da evolução é o mesmo que progresso. Se os organismos multicelu-
uma fila indiana de hominídeos, liderada pelo Homo lares não tivessem surgido no Proterozóico, há mais
sapiens, tendo como maior retardatário um animal de 800 milhões de anos, é bem possível que os mares
bípede de feições simiescas, o Australopithecus, ou não estivessem repletos de águas-vivas, esponjas ou
mesmo um pequeno chimpanzé. Qualquer um já se anelídeos poliquetos, e não haveria nenhum homi-
deparou com tal ilustração, seja em peças publicitá- nídeo com o telencéfalo altamente desenvolvido,
rias, charges humorísticas, outdoors, camisetas, obras cheio de circunvoluções e capacidade de raciocí-
religiosas que pretendem discutir conceitos cien- nio lógico e abstrato. Somos um produto fortuito da
tíficos, e mesmo em livros e revistas de divulgação evolução, não seu objetivo central.
científica. Para a cultura pop, essa figura, chamada HOMINÍDEOS
de iconografia canônica por Stephen Jay Gould no As principais características anatômicas dos ho-
seu livro “Vida Maravilhosa”, é sinônimo de evolu- minídeos foram: postura ereta, locomoção bípede
ção darwiniana, e é igualmente equalizada à ideia no solo, em substituição à braquiação (deslocamen-
de progresso. Apesar de onipresente, a iconografia to com os braços, de galho em galho), capacidade
carrega incorreções e ranços que empobrecem a craniana superior à de outras famílias aparentadas e
concepção popular sobre as ciências da vida no dentes pequenos, com caninos não especializados.
372 geral, e sobre a teoria da evolução em particular. No processo de hominização surgiram também com-
Nenhuma espécie “se transforma” em outra durante portamentos distintivos, como a confecção de instru-
a evolução. Espécies novas surgem a partir de popu- mentos e a linguagem verbal.
lações ancestrais, que não necessariamente deixam Os primatas surgiram há cerca de setenta mi-
de existir após o evento de especiação. O apare- lhões de anos, no fim do cretáceo. Os cientistas di-
cimento de uma barreira geográfica, como um rio, videm-nos em duas subordens: a dos prossímios e a
o soerguimento de uma montanha ou mesmo uma dos antropoídeos, em que se incluem a família dos
grande árvore caída no meio da floresta, é capaz hominídeos e a dos pongídeos, esta com importan-
de dividir uma população de uma espécie em dois tes espécies atuais (gorila, chimpanzé, orangotango
grupos menores, os quais, uma vez desconectados, e gibão). Em relação a outras ordens de mamíferos, a
poderão responder às pressões evolutivas em sepa- característica fundamental dos primatas é sua morfo-
rado. Essa disjunção talvez resulte no surgimento de logia pouco especializada, com alto grau de plastici-
espécies diferentes, que serão aparentadas àquela dade funcional, suscetível de futuras especializações
que ficou do outro lado do rio, ou filogeneticamente em cada subespécie. Desse modo, mais que de tra-
próximas. Diferente do que sugere a iconografia da ços característicos (que, por não se manifestarem em
evolução, a espécie ancestral não é substituída pela todos os primatas, impedem a classificação), cabe
espécie que surge, o que, entretanto, não a livra da falar de tendências: as garras se transformaram em
possibilidade de extinção, já que todos os organis- unhas achatadas; mãos e pés tornaram-se preênseis,
mos estão sujeitos às pressões do ambiente. Porções em geral com polegares e hálux (dedo grande do
das populações podem perecer, outras talvez sobre- pé) opostos; os braços liberaram-se aos poucos da
vivam, e o processo de descendência com modifi- função locomotora; a visão ganhou maior profundi-
cação continua, indefinidamente. Os dinossauros, dade, enquanto o olfato retrocedia e o apêndice
por exemplo, desapareceram apenas parcialmente, nasal se retraía; e, por fim, o cérebro desenvolveu-se
apesar de considerados extintos por quase toda a e adquiriu complexidade no que se refere à visão, à
mídia e pelos divulgadores das ciências. Na verda- coordenação muscular, à aprendizagem e à comu-
de, as aves ancestrais dos pássaros que voam hoje nicação.
são parte de um grupo de dinossauros de menor
mesmos, e de como a seleção natural foi capaz de reconhecimento e uso de símbolos complexos, coisas
produzir tamanha maravilha como o cérebro huma- abstratas que representam outras) memória de longo
no e suas assombrosas capacidades em um tempo prazo, etc. De fato, a visão científica atual é que de
evolucionário tão curto. Também fornece uma ex- que existem vários graus de complexidade de inteli-
planação sobre a natureza da nossa singularidade gência presente em mamíferos e que nós comparti-
no reino animal e porque nós somos assim hoje. lhamos com eles muitas características que anterior-
De fato, muitas facetas da evolução da inteli- mente pensávamos que eram únicas ao homem (tais
gência humana são ainda matéria de considerável como linguagem simbólica, como já foi provado que
mistério, porque ela não pode ser observada direta- ocorre em primatas).
mente no registro paleontológico, tal como ocorre Os cientistas têm levantado hipóteses sobre a
com um osso ou os dentes, por exemplo. A evidência existência de uma “massa crítica” de neurônios
reunida por cientistas sobre a inteligência é obtida como sendo o pré-requisito para a “explosão” evo-
indiretamente, a partir da observação do aumento lucionária da inteligência. Em outras palavras, abai-
do tamanho da capacidade craniana, de artefatos xo de um certo número de neurônios (ou tamanho
produzidos como resultado da inteligência humana, do cérebro), a inteligência é altamente limitada e
tais como a fabricação de ferramentas, a caça coo- não leva à invenção, imaginação, comunicação
perativa, a guerra, o uso do fogo e o cozimento de social simbólica e outras coisas que não existem em
alimentos, a arte, o enterramento dos mortos, e pou- cérebros não-humanos. Um número grande de fato-
cas outras coisas mais. res evolucionários convergentes determinaram um
O aparecimento da inteligência, juntamente com rápido aumento no tamanho e complexidade do
a linguagem (e ambas são indissoluvelmente entrela- cérebro dos hominídeos e estes levaram à primeira
çadas, como veremos adiante), foi um passo espeta- espécie verdadeiramente Homo. A massa crítica foi
cular da evolução animal. Ela apareceu em prima- atingida e após isso foi apenas uma questão de evo-
tas, mas poderia ter sido desenvolvida igualmente lução quantitativa, apenas.
bem em outros mamíferos avançados, tais como gol- Definindo inteligência
finhos. Por que ela se desenvolveu em primatas e não Mas o que é inteligência? Antes de embarcarmos
em outros gêneros animais? Provavelmente pela ine- em uma viagem rumo ao entendimento de sua evo-
rente instabilidade de ambientes terrestres, quando lução, devemos tentar conhecer melhor o objeto de
374 comparados com os ambientes aquáticos, e quase nossa questão.
certamente devido a uma série de mudanças dra- Parece que existem tantas definições de inte-
máticas no clima africano em certos pontos da histó- ligência quanto existem cientistas trabalhando no
ria geológica. Portanto, os fenômenos probabilistícos campo. De acordo com a Enciclopédia Britânica,
podem ser muito bem a explicação porque estamos “ela é a habilidade de se adaptar efetivamente ao
agora na posição de sermos os mais inteligentes de ambiente, seja fazendo uma mudança em nós mes-
todos os animais da Terra. mos ou mudando o ambiente ou buscando um novo
Este passo evolucionário foi espetacular porque ambiente”. Esta é uma definição inteligente, porque
deu origem a um círculo cada vez mais rápido de ela incorpora os conceitos de aprendizado (uma
retroalimentação positiva entre a evolução cultural mudança em nós mesmos), manufatura e abrigo
(trazida pela linguagem) e o desenvolvimento pos- (mudança do ambiente) e migração (encontrando
terior do cérebro, ao aumentar enormemente o su- um novo ambiente). A inteligência é uma entidade
cesso reprodutivo e as chances de sobrevivência do multifatorial, envolvendo coisas tais como lingua-
organismo assim armados com um cérebro capaz de gem, pensamento, memória, raciocínio, consciên-
alta flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de cia (a percepção de si mesmo), capacidade para
aprendizagem. Em um período de um a dois milhões aprendizagem e integração de várias modalidades
de anos (praticamente um piscar de olhos em termos sensoriais. De modo a nos adaptarmos efetivamente,
de tempo geológico), este poderoso impulso de evo- o cérebro deve usar todas estas funções. Portanto,
lução neural levou ao que somos hoje e ao que o “inteligência não é um processo mental único, mas
homem foi nos últimos 100.000 anos. sim uma combinação de muitos processos mentais
Estaria a inteligência presente apenas nos seres dirigidos à adaptação efetiva do ambiente”, prosse-
humanos? É claro que não. A inteligência humanas gue a definição da EB.
parece ser composta de um número de funções neu- Reconhecer quais são os componentes da inte-
rais correlacionadas e que operam cooperativamen- ligência é muito importante em termos de montar
te, muitas das quais já estão presentes em outros pri- uma “teoria da inteligência”. Uma das teorias mais
matas, tais como a dexteridade manual, visão colori- sólidas e interessantes foi proposta por Sternberg
da estereoscópica altamente sofisticada e acurada, (veja a tabela) e se relaciona diretamente ao que
nós sabemos sobre a evolução. Ele propõe que a in- da linguagem, com toda a sua riqueza de sintaxe e
teligência é feita de três aspectos integrados e inter- semântica. A linguagem, portanto, é fundamental
dependentes: no mundo interno, as relações com o para a nossa capacidade de pensar, e o intelecto
mundo externo, as experiências que relacionam ao humano e as conquistas que nós vamos explicar neste
mundo externo e o interno. artigo seriam impossíveis sem a linguagem. Para Tat-
tersall, a linguagem é “mais ou menos sinônimo com
Os Componentes da Inteligência o pensamento simbólico” e isto faz toda a diferença.
O mundo interno: cognição Neste contexto, aparece uma das mais importan-
1 - processos para decidir o que fazer e o quão tes propriedades da mente humana que é a cons-
bem foi feito ciência, ou auto-percepção. Nós não temos muitas
2 - processos para fazer o que foi decidido ser feito evidências se elas existem em outros animais, e quan-
3 - processos para aprender como fazer do ou onde elas aparecem em humanos pela primei-
ra vez. Será a auto-consciência um produto da evo-
O mundo externo: percepção e ação lução? Será que ela é vantajosa para a adaptação
1 - adaptação a ambientes existentes e sobrevivência? A resposta é sim. A auto-consciên-
2 - modelagem de ambientes existentes em novos cia nos permite construir a realidade além de meras
3 - a seleção de novos ambientes quando os anti- sensações físicas, como imaginar uma situação e as
gos se provam insatisfatórios conseqüências de nossas ações, antes que qualquer
coisa aconteça.
A integração dos ambientes internos e externos
através da experiência A Evolução da Inteligência
1 - a habilidade de se adaptar às novas situações Inteligência em Primatas Não Humanos
2 - processos para criar objetivos e para planeja-
mento Estudar a evolução da inteligência humana ime-
3 - mudança dos processos cognitivos pela expe- diatamente nos faz lembrar de estudos similares dos
nossos parentes, nossos “primos”, os macacos. Sem
riência externa
dúvida nenhuma, eles têm alguma forma de inteli-
gência, e diversos estudos comparativos tem jogado
Um dos melhores exemplos que demonstram os
uma importante luz sobre o entendimento de nossa 375
três aspectos da inteligência é a caça cooperativa
própria inteligência.
nos hominídeos. O mundo externo é caracterizado
Existem apenas cinco espécies vivas da ordem
por um extenso terreno tridimensional onde existem
dos macacos pongídeos, também conhecidas como
animais muito rápidos, muito grandes ou muito peri-
antropóides (significa similares ao homem), dos quais
gosos como presas em potencial. Aprender como
os crânios de três estão representados abaixo: o chim-
emboscar a presa, como aproximar-se dela e como
panzé, o bonobo (muito similar aos chimpanzés, mas
matá-la com um machado de pedra são habilidades
recentemente considerado uma única espécie), o
cognitivas. Ser capaz de caçar em vários ambientes,
gorila, o gibão (incluindo o siamang) e o orangotan-
mover-se para outras áreas quando a caça se torna go. Com exceção do orangotango, todas as outras
escassa, ou fabricar armas de caça, armadilhas para espécies estão distribuídas em regiões da floresta da
animais, etc, são exemplos de processos relacionados África. O orangotango e gibão vivem nas florestas
aos mundos interno e externo. chuvosas da ilha de Java, Sumatra, etc.
Como podemos ver aqui, seus crânios e cérebros
Finalmente, ser capaz de se comunicar e coorde- são anatomicamente muito similares: órbitas ocula-
nar a caça com outros seres humanos, delinear uma res grandes situadas no mesmo plano frontal, cristas
estratégia para caçar mais efetivamente, e desenvol- ósseas frontais e/ou laterais no crânio, fossas nasais
ver e sustentar todo o processo de caça por meio da triangulares grandes, mandíbula superior avançada,
cognição, percepção e ação, são exemplos da inte- maxila pesada e dentes fortes com caninos grandes.
gração entre os mundos interno e externo.
O quanto da inteligência humana, pensamento, Chimpanzë
raciocínio, imaginação e planejamento são devidos (Pan troglodytes)
à linguagem? Praticamente tudo, poderíamos dizer.
De fato, esses processos são uma espécie de “proces- Gorila
samento interno da linguagem”, como já foi afirma- (Gorilla gorilla)
do. Um dos mais importantes especialistas em evolu-
ção humana, Ian Tattersall, da Inglaterra, propôs que Orangotango
o sucesso da humanidade foi largamente o resultado (Pongo pygmaeus)
A capacidade interna do crânio é grande e seus e depois se espalhou para o resto do mundo). Eles
cérebros são altamente evoluídos e complexos, sen- são chamados de hominídeos, e estão incluídos na
do apenas inferiores aos do homem moderno. Chim- superfamília de todos os antropóides, os Hominoidea,
panzés e gorilas têm um tamanho cerebral médio de cujos membros são chamados de hominóides.
400 a 500 cm3, respectivamente. Em conseqüência, A árvore evolucionária do homem não é uma
os antropóides são muito inteligentes e capazes de linha única e contínua ao longo do tempo, como
manipulação simbólica similar à linguagem, capaci- muitas pessoas pensam. Os cientistas têm muitas evi-
dade de resolução de problemas, comportamentos dências da existência de muitos “troncos mortos”, ou
altamente complexos, aprendizagem, emoções, etc. seja, muitas espécies de hominídeos que se extingüi-
Um jovem chimpanzé usa duas pedras para que- ram sem deixar descendentes. É muito difícil deter-
brar cascas de nozes minar nossa linha evolucionária direta, e existe ainda
A Dra. Savage-Rumbaugh ensinando linguagem vários elos faltantes, sem mencionar que algumas ve-
simbólica a um macaco usando blocos de imagens. zes existe discordância entre cientistas sobre o que
Por exemplo, o uso de ferramentas para muitos constitui a melhor probabilidade.
tipos de tarefas tem sido bem documentado entre A “árvore familiar” dos antropóides e seres huma-
os antropóides, incluindo o uso de pequenos ramos, nos. Não existe registro fóssil para os grandes antro-
pedras, galhos, cordas, ganchos, etc. Entretanto, eles póides, de modo que o ponto exato de ramificação
nunca foram observados inventando ou construindo pode ser estimado apenas com base na análise da
ferramentas (embora pelo menos um biólogo ousado biologia molecular. A linhagem exata dos ramos ex-
tenha ensinado um chimpanzé a fabricar ferramen- tintos dos Australopitecos (tais como A. bosei, A. ae-
tas de pedra como um ser humano pré-histórico). thiopicus, A. robustus) e o papel do A. africanus na
De todos os primatas superiores, apenas os seres hu- linhagem direta do homem ainda estão em aberto.
manos e os chimpanzés caçam e comem carne em Entretanto, nós sabemos que nossa linha evolu-
bases regulares. Da mesma forma, muitos grupos de cionária teve dois momentos principais: o primeiro e
pesquisa foram capazes de demonstrar que os antro- mais antigo foi aquele do hominídeo africano, que
póides são capazes de aprender linguagem simbóli- abrange o gênero Australopithecus. O segundo e
ca para se comunicar entre eles e com os humanos. mais recente é do gênero Homo, incluindo as espé-
Os antropóides estão intimamente relacionados cies extintas que foram quase que certamente nossos
376 ancestaris diretos: Homo habilis and Homo erectus.
aos seres humanos em termos de evolução. Eles fo-
ram separados de nós cerca de 36 milhões de anos Eles viveram cerca de 2 a 2.5 milhões de anos atrás e
seus restos foram descobertos na Ravina de Olduvai,
atrás, a partir de um ancestral comum que ainda não
na atual Tanzânia, e no lago Turkana, no Quênia. O
foi encontrado. Portanto, eles podem ser considera-
Homo habilis, como diz seu nome, foi a primeira espé-
dos um ramo paralelo da árvore evolutiva dos seres
cie a manufaturar ferramentas e usar o fogo.
humanos. Os antropóides extintos que são os mais
Esquerda. Locais no mundo onde foram encon-
antigos que os primeiros hominídeos, tais como o Ra-
trados restos de esqueletos de hominídeos e Homo
mapithecus ardinus (5 a 6 milhões de anos atrás) não
pré-históricos. Direita: Fluxos migratórios globais das 3
são considerados hominídeos. Estudos de biologia
espécies de Homo.
molecular mostraram que o Ramapithecus era mais
Observe como as regiões do leste e do sul da Áfri-
similar aos orangotangos.
ca abrigam a maior parte dos achados mais antigos.
As seqüências de DNA dos grandes antropóides
O Homo erectus foi o primeiro a sair da África
são 96,4% similar àqueles dos humanos. Em outras
para o resto do mundo, incluindo Europa, Oriente
palavras, todas as nossas diferenças com relação ao
Médio e Ásia. Esta espécie tornou-se extinta em to-
cérebro, inteligência, destreza manual, linguagem dos os locais exceto na África, onde deu origem ao
simbólica, etc, são codificadas em somente 3,6% de chamado Homo sapiens arcaico (ainda falta um elo
todos os genes que constituem nossos genomas. perdido entre o H. erectus e o H. sapiens). Portanto, a
África meridional parece ter sido o verdadeiro “ber-
A Evolução da Inteligência ço da humanidade”.
A Evolução dos Primatas Humanos Esquerda: Reconstrução do Homo habilis. Facial-
Começando pelos ancestrais comuns que os se- mente, ficava em um meio termo entre o Australopi-
res humanos compartilham com os antropóides, o thecus sediba, o hominídeo atualmente considerado
ramo dos primatas humanos começou também na como seu antecessor direto, e o Homo erectus.
África, provavelmente há 6 a 8 milhões de anos, e A evolução do Homo sapiens arcaico ocorreu
chegou até o homem moderno (que apareceu pro- a partir do Homo ergaster, e foi incrementada pelo
vavelmente cerca de 150.000 a 200.000 anos atrás isolamento causado pelos desertos e montanhas na-
Muitos cientistas acreditam que a “caça oportu- mem sejam determinados pela capacidade única
nísticas” na savana africana, ou veld, foi o fator mais do nosso cérebro para a representação simbólica.
importante do desenvolvimento da bipedalidade Segundo o autor Derek Bickerton, a linguagem não
humana. E qual a razão? É por que, ao explorar a é apenas um meio de comunicação, mas é a base
savana, os proto-hominídeos encontravam fontes essencial da consciência humana.
de alimento na forma de animais mortos por preda- Pela representação simbólica, queremos dizer
dores, assim como animais muito jovens ou doentes, que certos sons (e mais tarde alguns elementos gráfi-
que eles capturavam. De modo a levar essa comi- cos) são associados pelo cérebro para os elementos
da de volta para seus locais de habitação e famí- do mundo físico. Por exemplo: o complexo sonora
lias, era necessário dispor de mãos livres e uma loco- “bola “está associada a um objeto que aprendemos
moção ereta por longas distâncias, pois eles não ti- a reconhecer como um
nham mandíbulas e dentes fortes como os leões e as Redes neurais (mesmo simples) são capazes de
hienas. Esta hipótese, primeiramente formulada por generalização poderosas. Assim, somos capazes de
Owen Lovejoy, explica também como levar comida extrair os pontos em comum de todas estas coisas di-
e compartilhá-la com o grupo social eventualmente ferentes: e e ainda chamá-las de “bola”.
levou ao desenvolvimento do núcleo familiar, e ao Muitos animais podem fazer isso. Psitacídeos fa-
desenvolvimento de diferentes papéis para homens lantes, como o famoso papagaio africano cinzento,
e mulheres (dimorfismo sexual e comportamental), constroem vocabulários com facilidade. Os cães fa-
que é tão importante para nossa biologia reproduti- zem isso o tempo todo, é claro (existem evidências
va. Isso permitiu que as fêmeas da espécie procrias- que podem reconhecer auditivamente dezenas de
sem mais vezes e tivessem um número muito maior palavras faladas por seres humanos), e vários maca-
de filhos que os chimpanzés, levando a uma rápida cos antropóides, como gorilas, chimpanzés e orango-
expansão da população. Marcas de ferramentas tangos foram treinados para reconhecer as palavras
achadas em ossos de animais encontrados próximos faladas para literalmente centenas de objetos e si-
dos fósseis hominídeos indicam que o H. habilis comia tuações.
carne. Não sabemos se ele tinha a capacidade de O próximo nível de complexidade, porém, é
caça em grupo, mas como os chimpanzés têm al- aprender palavras para coisas que não têm uma con-
guma forma de caçar animais para se alimentar, é trapartida física, tais como sentimentos, abstrações,
possível que eles também o fizessem. etc (exemplo: “amor”, “futuro”), ou mesmo conceitos 379
que não existem todos, exceto no nosso cérebro (por
A Evolução da Inteligência exemplo, operações matemáticas). Isso, nenhum
Linguagem e Evolução animal, exceto o Homo sapiens sapiens pode fazer
de forma significativa, embora seja reivindicado por
Embora existam muitas diferenças entre os seres alguns cientistas que chimpanzés treinados no uso da
humanos e outros animais, especialmente primatas linguagem simbólica são capazes de representar al-
não-humanos, é a capacidade para a linguagem gumas construções mentais e descrição de emoções
simbólica que realmente nos coloca exclusivamente e sentimentos que tendemos a pensar que seriam ex-
à parte. Muitas diferenças que temos em relação aos clusivamente humanas, e que também eles são ca-
outros primatas são relativamente pequenas, e incre- pazes de usá-las para fins práticos.
mentais em sua natureza, mas não há nada, tanto Os aspectos mais elevados e complexos da lin-
qualitativamente quanto quantitativamente, como guagem, que são a semântica e a gramática, pa-
a nossa capacidade para a linguagem, em todas recem ser exclusivamente humanos, no entanto. Eles
as suas formas. Segundo os autores Terrence Deacon estão intimamente relacionados entre si, e usam o
(em “A Espécie Simbólica”) e Ian Tattersal (em “Tor- vocabulário (léxica) como base. Vários autores, co-
nando-se Humanos”), o nosso cérebro deve ter uma meçando com o famoso lingüista americano Noam
diferença fundamental em relação aos cérebros de Chomsky, propuseram que, ao contrário do que
outros primatas, porque, embora eles pareçam ter al- acontece com outros primatas, os seres humanos
guma capacidade de uso de símbolos e para a co- têm uma capacidade inata, ou um cérebro geneti-
municação através de sinais e vocalizações, existem camente preparado em seus circuitos neurais, para
enormes diferenças na complexidade da linguagem a aquisição de línguas. Esta conclusão foi alcançada
simbólica humana, que não pode ser explicada por por Chomsky quando estudou a maneira como to-
um simples aumento no volume de tecido neural. das as línguas humanas são intrinsecamente organi-
A linguagem é tão importante que é provável zadas, e que o levou ao revolucionário modelo teóri-
que a consciência, pensamento, planejamento e co da chamada “gramática transformacional gene-
muitas outras funções cognitivas superiores no ho- rativa”. Apesar da enorme variação entre os milhares
de línguas e dialetos que estão presentes nas raças gea e glótica de chimpanzés e de seres humanos,
humanas, Chomsky e outros lingüistas têm sido capa- vemos que estes últimos desenvolveram várias ca-
zes de detectar elementos comuns que poderiam ser racterísticas anatômicas, como palato em forma de
atribuídas a esta capacidade cerebral básica. A evi- abóboda e sem uma crista central, lingua maciça,
dência científica, até agora, dá credibilidade à sua redonda e altamente móvel em sua ponta e dorso,
hipótese, porque as crianças são capazes de apren- com capacidade de encostar totalmente no pala-
der a falar e entender muito cedo na vida, sempre to, possibilidade de bloquear a comunicação direta
da mesma maneira, e em praticamente qualquer das narinas com a faringe, uma faringe mais longa,
idioma que esteja presente em seu meio de desen- cordas vocais robustas e extremamente móveis, etc.,
volvimento, sejam naturais ou artificiais. que são essenciais para a fala.
Assim, há uma série de perguntas intrigantes so- Os crânios humanos modernos têm um aspecto
bre as origens da linguagem e sua relação com a in- muito característico, que é uma flexão da base do
teligência humana, que até agora não foram com- crânio achatada e girada em quase 90 graus em
pletamente respondidas: relação à coluna vertebral, que tem a função de
• Quando os primeiros hominídeos desenvolve- criar um espaço maior no pescoço para as estruturas
ram a linguagem? anatômicas responsáveis pela fala articulada, nos-
• Quais foram os fatores determinantes para essa sa “caixa de voz”. Primatas não-humanos têm uma
aquisição? base de crânio mais inclinada para trás nesta área,
• Quais foram as funções primitivas da lingua- mostrando sinais de uma flexão menos pronunciada,
gem? assim como um aparelho vocal incapaz de elabo-
• Como a linguagem e o cérebro co-evoluíram? rar as modulações sutis exigidas pela fala articulada.
• Por que a linguagem humana é tão diferente Hominídeos primitivos, como as várias espécies de
de outras formas de comunicação animal? Australopithecus, também não apresentam a carac-
terística de flexão, por isso, é altamente improvável
Evolução e Linguagem que eles tivessem fala articulada. Começando com
A linguagem através da voz, ou fala (a primeira o Homo erectus, no entanto (a evidência de seu
forma a ser adquirida pelos humanos, mas que é a antecessor, o Homo habilis, não está clara a partir
base de todas as outras formas), é o resultado de do registro fóssil), há sinais iniciais de flexão da base
380 uma complexa interação entre milhares de áreas do crânio. Então, provavelmente esta espécie e sua
do cérebro e as estruturas e mecanismos neurais de sucessores (Homo ergaster, Homo sapiens antigos
percepção e ação, atividade muscular, respiração, e Homo sapiens neanderthalensis) tinham algumas
etc. No entanto, pouco se sabe sobre como ela formas primitivas de expressão. Parece claro que a
funciona e como ela surgiu ao longo do curso da flexão de quase 90 graus do crânio em relação à
evolução humana. Claramente, a linguagem tinha coluna vertebral foi causada pela postura ereta por
originalmente, uma função adaptativa (provavel- alguns milhões de anos, portanto essa é mais uma
mente de melhor comunicação entre os integrantes consequência do bipedalismo sobre o desenvolvi-
do grupo social), mas posteriormente ela se transfor- mento da inteligência.
mou em uma “ferramenta” tão geral e poderosa, Outra evidência é fornecida pelo relevo endo-
que se tornou independente de funções puramen- craniana do cérebro (impressões negativas deixa-
te evolutivas, Poesia, por exemplo, e muitas outras das pelas convoluções corticais sobre a superfície in-
conseqüências abstratas de se ter uma linguagem, terna dos ossos do crânio). Embora os resultados não
certamente não são necessárias para a sobrevivên- sejam conclusivos, o Homo erectus, por exemplo,
cia! Derek Bickerton expressa isso claramente quan- mostra sinais de que ela tinha bem desenvolvidas
do escreveu que a linguagem é uma “adaptação áreas corticais responsáveis pelo comando da fala
evolucionária que nos permite formar padrões de (área de Broca). Isto não é mostrado, mais uma vez,
informação que podemos agir sem ter que esperar em outras espécies de hominídeos antecessores.
para a experiência para nos ensinar”.
Foram os primeiros hominídeos capazes de ex- Destreza Manual e Linguagem
pressão vocal simbólica? Não sabemos ao certo, Uma teoria intrigante propõe que a linguagem
porque os restos fossilizados não preservam os teci- simbólica começou com gestos de mão. O primeiro
dos moles que poderiam nos dar uma pista, como passo na evolução da humanidade foi o bipedalis-
a laringe, cordas vocais, a língua, e as estruturas do mo ou seja, andando na postura ereta na maioria
cérebro que sabemos que são responsáveis pelo das vezes. Este foi provavelmente causado por uma
comando de articulação da fala (a assim chama- mudança drástica no ambiente e clima do ambien-
da área de Broca, situada no terço inferior da con- te onde viveram os proto-hominídeos, na África Oci-
volução frontal), etc. Comparando a área orofarin- dental. Como vimos, “Lucy” (o apelido dado a um
fóssil de Australopithecus afarensis, que viveu na Áfri- são da fala), a área de Wernicke (entendimento da
ca mais de 2,5 milhões de anos atrás) tinha um esque- fala), e o lado dominante de destreza manual (des-
leto semelhante ao do homem moderno em relação tros ou canhotos) ocorrem ambos no mesmo hemis-
à capacidade de marcha ereta. Isto liberou os mem- fério cerebral. do lado oposto (os destros as têm do
bros anteriores, que se tornaram superiores, e princi- lado esquerdo, e os canhotos do lado direito) Esse
palmente as mãos, para o transporte, manipulação e fato também dá apoio à hipótese de uma origem
outras tarefas úteis, Assim, ao longo de um milhão de neural comum à linguagem gestual e falada. Este
anos, os hominídeos desenvolveram gradativamen- grau de assimetria é evidente nas impressões endo-
te uma destreza manual surpreendente (chegando cranianas de hominídeos, assim como nos ossos do
assim à fabricação de ferramentas). O próximo pas- braço e da mão dita dominante, que são até 10%
so foi, então, especulam alguns cientistas, o uso das maiores e mais fortes do que do lado não dominante,
mãos para uma série de gestos comunicativos, e as devido à intensidade de uso.
primeiras representações simbólicas. Eles foram usa- De acordo com Corballis (1999), a sequência
dos, provavelmente, para comunicação entre os ca- temporal do surgimento da comunicação simbólica
çadores e entre homens e mulheres, que até então em humanos poderia ter acontecido de acordo com
eram altamente diferenciados em seus papéis na or- o seguinte esquema::
ganização social dos hominídeos. Tudo isso lentamen-
te aumentou o número de neurônios e consequen- 6-7 milhões de anos atrás
temente o tamanho do cérebro, e, eventualmente, Proto-hominideos
o aparelho vocal começou a ser usado para a re- Simples gestos manuais. Vocalizações de alarme,
presentação simbólica. Eventualmente, também, os emoções, etc. Um pouco mais avançado do que os
gestos manuais foram combinados com expressões chimpanzés
faciais (que também se tornaram bem mais móveis
e variadas nos seres humanos quando comparadas 4-5 mihões de anos atrás
com o chimpanzé) e, em seguida, as vocalizações Australopithecus
(idem). As estruturas anatômicas do aparato vocal e Advento do bipedalismo, o aparecimento de
gestos manuais de sinalização mais sofisticados
das áreas cerebrais envolvidas evoluiram então ao
longo do tempo para permitir agilidade e complexi-
1-2 millhões de anos atrás 381
dade da coordenação, justamente porque este tipo
Homo habilis e Homo erectus
de comunicação conferiu vantagens adaptativas e
Gestos com as mãos tornam-se sintáticos, as vo-
de sobrevivência enormes para aqueles hominídeos
calizações começam a se tornar simbólicas, marca-
que, em virtude de mutações, exibiram esse diferen-
do aumento no tamanho do cérebro
cial de melhorias no relacionamento social.
A extensa mobilidade e flexibiidade do punho e
100,000 anos atrás
dos dedos da mão humana formam um grande con-
Homo sapiens
traste em relação às mãos de outros primatas. Suas
Uso da linguagem vocal, auge do desenvolvi-
articulações e ações musculares as tornaram alta-
mento do cérebro, gestos com as mãos desempe-
mente adaptáveis para fabricação de ferramentas, nham papel secundário
manipulação delicada e também para gestos ex-
pressivos (nós ainda as usamos hoje para isso: é só ver Cérebro e linguagem co-evoluíram em ciclo au-
como uma pessoa gesticula, mesmo quando está to-alimentado, de tal forma que um aumento da
apenas falando no telefone!). Por exemplo, as mãos eficiência e da complexidade de um levava aos
humanas são as únicas a terem um polegar opositor mesmos aumentos no outro. Bickerton diz que os se-
(o polegar é bem mais longo e se flexiona completa- res humanos tornaram-se inteligentes porque eles de-
mente na direção da palma da mão, o que permite senvolveram a capacidade de fala. Representações
agarrar e manipular objetos com muito mais destre- mentais do mundo e de nós mesmos foram desenvol-
za) e esta é uma “invenção” evolutiva fundamental vidos como resultado (alguém já descreveu o pen-
no desenvolvimento da inteligência. samento como uma espécie de “linguagem interna”
... em outras palavras, a habilidade de linguagem é
Mãos de um chimpanzé e de um ser humano mo- também uma habilidade de pensamento)
derno O neurofisiologista William Calvin e o lingüista De-
A lateralidade característica das funções do cé- rek Bickerton especulam em seu novo livro “Lingua
rebro humano, tanto na linguagem falada e ouvida Ex Machina”, que a linguagem evoluiu em duas fa-
quanto na destreza manual, deve ter surgido mais ou ses, por pressão de um “cálculo social”. Na primeira
menos na mesma época. A área de Broca (expres- fase, os seres humanos usavam palavras individuais
(representações fonéticas de objetos), mas com uma cimentos importantes para a sobrevivência, como
sintaxe muito rudimentar (a forma como as palavras para a fabricação de ferramentas, armas, abrigos
são usadas em conjunto para expressar a estrutura e roupas, dar nomes a objetos e características do
e significado). Na segunda fase assistimos ao desen- mundo, etc.
volvimento de estruturas sintáticas mais complexas, Mas, provavelmente nunca saberemos a razão
permitindo a formação de frases e a expressão de ou razões exatas, porque todos os seres humanos
mais conceitos abstratos (incluindo mentiras!), e o sur- sobreviventes são Homo sapiens modernos, com a
gimento do pensamento lógico. Muitas adaptações capacidade inata da linguagem.
neurais evoluíram, de modo a permitir o surgimento
da linguagem estruturada. Nós ainda não sabemos A “Explosão Simbólica”
exatamente quais são elas e como funcionam no cé- A “explosão simbólica” é o nome bem apro-
rebro, mas certamente seremos em breve capazes priado dado paleoantropólogo Ian Tattersal à revo-
de ler o código para isso em nosso genoma. lução cultural que ocorreu no Paleolítico Superior,
principalmente na Europa e Oriente Médio. Chamou
As Funções da Linguagem a atenção de cientistas de que a arte maravilhosa
Por que a linguagem se desenvolveu em seres nas caverna, esculturas, fabricação de ferramentas,
humanos? Como podemos constatar nas extensas e instrumentos musicais, roupas, adornos corporais, o
abrangentes funções da linguagem nos seres huma- enterro de mortos, e muitas outras indicações de um
nos modernos, nem precisamos fazer esta pergunta: sofisticado e complexo tecido econômico e social e
é bastante claro que a linguagem está na base de as habilidades de comunicação sofisticada entre os
tudo o que somos hoje, incluindo as artes, ferramen- Homo sapiens sapiens pareceu aparecer de forma
tas e armas, a organização e a estrutura social, o se- mais ou menos abrupta nestes lugares, menos de 70
dentarismo e a urbanização, a agricultura, a indústria mil anos atrás. Os antecessores dos humanos moder-
e o comércio, a escrita, a matemática, e assim por nos na África, Europa, Ásia e Oceania não deixaram
vestígios de uma atividade simbólica tão intensa. Os
diante.
neandertais, por exemplo, embora tenham coexisti-
No entanto, ainda é um mistério quais eram as
do com os humanos modernos por milhares de anos,
funções primitivas da linguagem: por que ela apa-
pareciam ter uma inteligência simbólica muito rudi-
382 receu e qual foi o seu uso nas sociedades dos Homo
mentar (tão pequena, na verdade, que alguns es-
primitivos. Uma coisa é absolutamente clara: a lin-
tudiosos têm proposto que eles ainda se comunica-
guagem era (e ainda é, em grande parte) um “dis-
vam predominantemente através de vocalizações
positivo social”, uma capacidade única que só tem
grosseiras, expressões faciais e gestos com as mãos
sentido quando relacionada à organização social do
e braços).
homem e sua relação com o meio ambiente para a
Durante a era que sucedeu a explosão simbólica
sobrevivência.
do paleolítico superior, que foi o neolítico (chama-
Uma teoria interessante propõe que a linguagem
da de a Idade da Pedra Polida), pela primeira vez
foi desenvolvida pela primeira vez como um meio de
vemos o surgimento e o desenvolvimento de uma
comunicação entre os bebês e suas mães. Outra vê cultura real, com o início de todos os elementos da
a linguagem como uma ferramenta de comunica- nossa própria cultura. Há pouca dúvida de que o
ção muito importante entre os caçadores (para o desenvolvimento da linguagem estruturada com-
planejamento da caça e da coordenação entre os pletamente foi o responsável por isso, e porque ele
eles, por exemplo, ou ainda para comunicar o local apareceu em uma subespécie do Homo e não em
e o caminho até onde a caça se encontra), entre outras, ainda é um grande mistério. Teorias, porém,
guerreiros, e entre os membros da família humana. não faltam.
Nas tribos caçadoras-coletoras que viviam na sava-
na árida e implacável da Africa do Pleistoceno, assim A Evolução da Inteligência
diz a hipótese, os homens deixavam suas habitações Fabricação de Ferramentas, Caça e Guerra Jun-
por longos periodos de tempo, para caçar, coletar tamente com a linguagem, a capacidade de inven-
carniça deixada por outros predadores, com o obje- tar e fazer novas ferramentas é considerada uma
tivo de proporcionar alimento às mulheres e crianças, das características mais distintas do gênero Homo.
que haviam sido deixados para trás nas moradias do Nenhum animal vivo têm essas habilidades e, pro-
grupo. A comunicação de necessidades, planeja- vavelmente, os hominídeos extintos tinha-nas ape-
mento, resultados de incursões, etc, criaram os re- nas em um estágio primitivo e inicial, estabelecendo
quisitos para o surgimento da linguagem simbólica. uma grande diferença com outros primatas não-hu-
Finalmente, temos a transmissão cultural de conhe- manos.
necessárias para a partilha estratégica de carne bilidade inata ou instintiva e não pode se propagar
com companheiros de grupo..” De fato, até os chim- através de genes, a única maneira de passá-lo de
panzés machos utilizam a carne caçada em troca geração a geração é através da tradição cultural, o
de favores sexuais das fêmeas, por exemplo, e há ensino e o aprendizado por imitação, o que também
uma clara vantagem seletiva na seleção sexual por pressupôe alguma forma eficaz de comunicação
causa disso. Provavelmente os seres humanos fizeram entre mestres e aprendizes. Esta pode ser vista como
uso extensivo de carne não só como alimento, mas uma das origens pragmáticas da linguagem! Muitas
também para influenciar a estrutura social, o sucesso outras espécies de macacos podem aprender desta
reprodutivo, etc. forma, também (como foi comprovado pelo estudo
As armas de caça foram rapidamente adotadas agora famoso de macacos Rhesus na ilha japonesa
pelos humanos para matar sua própria espécie. A de Hokkaido, que espalharam entre si a “cultura” de
impressionante sequência de abertura “A aurora do lavar batatas, ensinadas a eles pelos pesquisadores),
homem” do filme de 1968 de Stanley Kubrick “2001: mas a ausência de linguagem deles certamente limi-
A Space Odissey” “, mostra como os hominídeos po- ta o âmbito e profundidade de aprendizagem cul-
deriam ter descoberto acidentalmente a utilidade tural.
das ferramentas, primeiro para a caça e depois para
garantir a dominação e a auto-defesa em relação a A Evolução da Inteligência
inimigos. Religião, Arte e Cultura
A guerra usada como uma forma de dominar e O advento da inteligência simbólica avança-
aniquilar outros grupos humanos também é muito an- da trouxe para os seres humanos muitos presentes
tiga. De acordo com diversas teorias, a “sub-especia- e conseqüências. Um deles, o auto-conhecimento,
ção”, ou seja, a dominação de um grupo de animais nos permite interpretar a realidade de uma maneira
em relação a outros grupos da mesma espécie atra- subjetiva e conceituar nossa existência, em compa-
vés da competição, foi muito importante para a rá- ração com outros animais e outros seres humanos.
pida evolução dos seres humanos modernos. O zoó- A auto-realização também permitiu que os seres hu-
logo da Universidade Harvard, Dr. Edward O. Wilson,
manos pré-históricos fossem capazes de desenvolver
autor do influente livro “Sociobiology” argumentou
estratégias, planejar e antecipar o futuro. Outra ha-
que o genocídio sistemático, tal como é praticado
bilidade impressionante é a capacidade de produzir 385
ainda hoje, foi uma forma encontrada pela espécie
símbolos e abstrações, isto é, representações men-
humana para acelerar o trabalho da Natureza e pro-
tais internas da realidade, “invenções do pensamen-
mover a propagação do conjunto de genes de um
to” e crenças não fundamentadas na realidade. A
grupo particular. A incidência de guerra da história
linguagem nos deu também a capacidade de nos
humana é mais que suficiente para documentar essa
comunicarmos através de um sistema aberto e com
característica permanente da inteligência humana e
flexibilidade literalmente infinita de símbolos sono-
da cultura.
ros (palavras), portanto, permitindo-nos passar es-
Matar outros seres humanos como comida tam-
sas realizações, crenças, invenções, entendimentos
bém foi importante e existiram tribos canibais em to-
e conhecimentos para os outros seres humanos do
dos os continentes até recentemente. A ocorrência
de canibalismo entre neandertais, por exemplo, foi nosso grupo social, de geração a geração.
demonstrada recentemente pela descoberta de os- Tudo isso produziu três das características mais
sos humanos com marcas de corte e raspagem por distintivas da humanidade: a religião, a arte e a cul-
ferramentas de pedra, muito semelhantes às encon- tura. Todas elas apareceram pela primeira vez no
trados em presas animais. Paleolítico superior, e estavam presentes, há cerca
Em conclusão, podemos dizer que, sem ferra- de 80.000 anos atrás, nas duas espécies de Homo sa-
mentas de pedra, osso, madeira e chifre, os seres piens, os cro-magnons e os neandertais.
humanos não teriam evoluído para uma inteligência O seu maior desenvolvimento, no entanto ocor-
superior, e vice-versa, ou seja, estas alavancaram o reu de uma forma muito rápida, cerca de 30.000
desenvolvimento cerebral, em uma espécie de ciclo anos atrás, e apenas no Homo sapiens sapiens (daí
auto-alimentado relativamente rápido, do ponto de essa sub-espécie ter recebido esse nome), no Neolíti-
vista evolutivo. Essas habilidades evoluíram a partir de co Superior. O número e a variedade das invenções
bipedalismo, que liberou as mãos para estas tarefas do intelecto humano a partir dessa época, foi tão
de manuseio, transporte e fabricação, bem como o grande e surpreendente, que ela foi chamada de
desenvolvimento de um tipo especial de dedo pole- “O Grande Salto para a Frente”, ou ainda, de “A Re-
gar, encontrado apenas em primatas não humanos. volução do Neolítico”. Ela levou, de uma forma ou
Como a fabricação de ferramentas não é uma ha- outra, em apenas 20.000 anos, à agricultura e à do-
mesticação dos animais, às civilizações urbanas, ao Por que a religião evoluiu para o que é hoje, ou
dominio dos metais e às grandes mudanças tecnoló- seja, um sistema organizado e fielmente transmitido
gicas que caracterizam a chamada “modernidade de crenças e de fé? Ela existe nos povos neolíticos
do comportamento”. Por enquanto, sabemos muito mais primitivos ainda existentes, na forma de um sis-
pouco do que causou essa explosão táo rápida de tema de mitologias cosmogônicas (de como surgiu
modernidade, mas parece ter sido alguma reorgani- o mundo natural e os seres humanos), rituais e supers-
zação fundamental do cérebro humano, principal- tições, intermediadores das divindades como os pa-
mente quanto ao papel dos lobos prefrontais. jés, xamãs e sacerdotes, oferendas e sacrifícios aos
deuses, animismo, etc.. O melhor palpite é que ela
Religião é a resposta do homem às forças incontroláveis da
Vamos fazer um exame da religião. A capacida- natureza. O autor Gregory J. Rosmaita expressou isso
de de auto-reconhecimento nos levou muito cedo à de forma clara:
compreensão de que todos os seres humanos aca- “Os rituais de sepultamento dos povos pré-histó-
bam por morrer, um feito que nenhum outro animal ricos é um testemunho mudo da vontade humana
é capaz. A constatação da mortalidade, então, se- universal de manter a ilusão de controle sobre as for-
para os seres humanos do resto do reino animal. Isso, ças naturais incontroláveis. Enquanto uma ilusão de
como veremos, levou, eventualmente, aos rituais de controle não puder ser lançada sobre a assustadora
sepultamento, ao culto dos mortos, à crença na vida extensão física selvagem que se estende entre o nas-
após a morte, nos espíritos, nos deuses e outras enti- cimento e a morte, nem a psique e nem o intelecto
dades abstratas e não diretamente observáveis, mas podem enfrentar a morte com total confiança. So-
que são relacionados com a Natureza, e à qual de- mente através da fé a humanidade poderá enfren-
nominamos genericamente de religião. tar o mistério último da existência, sem desespero.
Os especialistas concordam que enterrar os [...]. Pego entre o nascimento e a morte, o homem
mortos é o primeiro sinal que podemos observar no desenvolveu ritos funerários sofisticados, não só para
registro histórico da humanidade como algo seme- o benefício dos mortos, mas como um meio com o
lhante à religião. Enterros dos corpos dos mortos no qual ele pode afastar o fantasma sempre presente
Paleolítico Superior (40.000 a 10.000 anos atrás) re- da morte “
386 fletem o surgimento de um lado espiritual humano,
pois, além da elaborada preparação e a seleção Arte e Cultura
de locais especiais para o enterro, estes primeiros H. Outra dádiva da inteligência, a capacidade de
sapiens sapiens claramente faziam oferendas mor- observar a natureza ao nosso redor e tentar enten-
tuárias de objetos da vida diária, tais como flores, dê-la, levou à arte, como sua expressão simbólica,
enfeites corporais, ferramentas, armas e utensílios de para fins rituais, mágicos ou estéticos. Ela parece ter
cozinha, bebidas, alimentos, etc, que eram coloca- começado com as gravações em relevo e as pintu-
das no túmulo do falecido. Isto marcava, evidente- ras ruprestes, realizadas nos tetos e paredes das ca-
mente, a existência de uma crença na vida após a vernas onde o H. sapiens sapiens vivia. Estas formas
morte. como ocorre em todas as religiões de origem de expressão apareceram pela
neolítica, e nas modernas também. Nas espécies an- primeira vez na África há cerca de 75,000 anos
tecessoras do Homo e nos australopitecos isso não atrás (claramente observadas na caverna de Blom-
pode ser demonstrado, pois eles não enterravam ri- bo, por exemplo), ou até mais antigas ainda (um tipo
tualmente seus mortos, embora podemos imaginar de marcação artefatual humana, as chamadas cú-
que reconheciam a morte de seus semelhantes e os pulas, que são depressões simétricas escavadas na
“pranteassem”, como acontece em macacos an- rocha, e marcas sinuosas, em X e em zigue-zague,
tropóides, que manifestam comportamento seme- entalhadas em ossos, claramente com uma função
lhante ao luto. simbólica, foram encontradas em cavernas na India,
Porém, evidências arqueológicas de sites de datadas de 100.000 anos atrás). .
neanderthis, como Shanidar, no Iraque, e Le Ferras-
sie, na França, têm dado provas de que o Homo sa- Pinturas rupestres nas paredes das cavernas de
piens neanderthalensis, aparentemente enterravam Lascaux, datadas de
seus mortos em posições específicas. No entanto, os 18,000 anos AC
neandertais não pareciam depositar oferendas, por
isso, provavelmente eles eram desprovidas de rituais Escultura pré-histórica de pedra
e outras atividades simbólicas similares ao culto mor- (“Vênus de Willendorf”) 24.000 AC
tuário.
trado experimentalmente que a memória de curto Existem limites biológicos para o aumento do
prazo de jovens chimpanzés é bem melhor do que crânio, como a largura do canal do parto (que não
a nossa). No entanto, é somente o Homo sapiens sa- pode aumentar muito pois levaria à instabilidade da
piens, desde sua aurora como uma nova espécie, marcha da mulher; Existem evidências de que a lar-
que tem desenvolvido e apresentado uma combina- gura da pelve está diminuindo).
ção única de funções neurais que podemos legitima- Outro limite sério é o custo metabólico do cére-
mente chamar de inteligência (provavelmente com bro, que está no seu limite e não poderia mais ser
um «I» maiúsculo). Esta certeza fez do homem um ani- mantido durante a gestação, assim como pelo ta-
mal que se auto-atribuiu o título de «rei da criação». manho do nosso corpo.
Todas as religiões tentam nos colocar nesta posição Finalmente, um cérebro maior a partir do que já
superior e única na Natureza, desde as sofisticadas temos não implica em maior inteligência, na reali-
mitologias cosmogônicas dos índios brasileiros até a dade existem evidências que a relação massa ce-
Bíblia e o Alcorão. Talvez não seja justificável, mas rebral/massa corporal tem até diminuido um pouco
sabemos com certeza que algo estranho aconteceu desde os neandertais. A eficiência e velocidade das
cerca de 100.000 anos atrás, quando um pequeno conexões intracorticais parece ser o fator mais corre-
grupo de primitivos e peludos descendentes de ho- lacionado com o QI
mens-macaco na África tenham se ransfigurado, Argumenta-se que o volume cerebral total dos
através da evolução natural, em um ser fisicamente bebês tem aumentado progressivamente nas últimas
frágil, mas com uma mente ultra-poderosa. décadas. É verdade, mas isso parece ser mais o re-
sultado de mães hiper-alimentadas na gestação e
O resto é história. fatores nutricionais durante o desenvolvimento infan-
O Futuro da Inteligência Humana til, que têm levado a uma maoior massa corporal ao
Como será a evolução do cérebro e da inteligên- longo das gerações, do que um aumento de inteli-
cia humana no futuro? Bem, em primeiro lugar, evolu- gência. Infelizmente.
ção biológica é um fenômeno extremamente lento, O que parece ser verdade, é que nossa inteligên-
na melhor das hipóteses só pode ser notado ao longo cia continuará a aumentar, mas através de três me-
de dezenas de milhares de anos, abrangendo de 2 canismos epigenéticos e artificiais:
a 5.000 gerações humanas. Evolução sempre ocorre, Intervenções fenotípicas, como drogas cogniti-
388 como mostram vários estudos da frequência e das vas (também chamadas de nootrópicas ou drogas
mutações dos genes relacionados aos cérebros, que inteligentes), estimulação cerebral interna e externa,
são a maioria dos 25.000 genes do genoma codifi- e até neurocirurgias
cado do homem. O que não sabemos é em qual Intervenções genéticas diretas, como mutações
direção nos levará essa evolução. Teremos cérebros genéticas induzidas, engenharia genética, etc., que
enormes, como nos querem sugerir os adeptos dos alteração nossa arquitetura cerebral, sem aumentar
ETs e da ficção científica? Seremos, em virtude disso, o volume. Todos nós poderemos ser gênios
bem mais inteligentes do que hoje? Simbiose entre cérebros, computadores e robôs.
A chamada singularidade final (a inteligência artifi-
Do ponto de vista biológico, várias evidências in- cial ultrapassará a natural) deverá ocorrer por volta
dicam que não! de 2020, e os computadores e os seres humanos po-
Não existem mais pressões seletivas que confiram derão se fundir em seres biônicos com inteligências
maior diferencial reprodutivo ou maior sobrevivência ultra-especializadas
aos mais inteligentes. Ao contrário, o diferencial re- Tudo isso é especulação, é claro. Mas bem longe
produtivo indica que as pessoas menos inteligentes de ser ficção científica, está no domínio das possibi-
estão tendo mais filhos do que os mais lidades, e já estamos rumando a esse ponto ômega.
A medicina, a assistência social e outros fatores
equalizadores impedem que os menos inteligentes Impactos da transformação do ambiente e da
sejam eliminados antes da idade reprodutiva adaptação das espécies animais e vegetais aos in-
A diversidade dos seres humanos está diminuin- teresses da espécie humana.
do, e a variação é a base sobre a qual trabalha a É frequente dizer-se que as espécies se adaptam.
seleção natural Por exemplo, mamíferos como os golfinhos, adapta-
O isolamento de sub-espécies, necessária para ram-se às circunstâncias da vida marinha. Os bicos
produzir espécies diferenciadas, como aconteceu dos tentilhões das Galápagos adaptaram-se às ca-
há 300.000 anos com as duas sub-espécies do Homo racterísticas peculiares de cada uma das ilhas. Os
sapiens, tornou-se improvável,, com as comunica- membros do morcego adaptaram-se ao voo. Em teo-
ções, transportes e migrações modernas ria, perante os novos cenários climáticos é provável
que muitas espécies se adaptem às novas circunstân- Na atmosfera: a eliminação de poluentes desta
cias ecológicas. É provável que o urso polar reduza forma só é possível quando os resíduos estão no es-
a espessura da sua camada de gordura, ou então tado gasoso.
que as orelhas dos elefantes se tornem maiores para Em áreas isoladas: essas áreas são previamente
uma mais eficaz dissipação do calor. A adaptação escolhidas, em geral são aterros sanitários.
das espécies é para nós quase uma banalidade. Em
diferentes contextos, as espécies adaptam-se. Classificação dos resíduos:
Adaptar significa qualquer coisa como “tornar
apto”. Neste sentido, quando se diz que uma es- Resíduos tóxicos: são os mais perigosos e podem
pécie se adapta, então estamos a dizer que uma provocar a morte conforme a concentração, são ra-
espécie está a tornar-se apta. E, como nos ensinou pidamente identificados por provocar diversas rea-
Darwin, apenas os mais aptos são selecionado, so- ções maléficas no organismo. Exemplos de gerado-
brevivem e se reproduzem. No entanto, aqui o verbo res desses poluentes: indústrias produtoras de resíduos
“tornar” alude à ideia de “mudar para”. Ou seja, as de cianetos, cromo, chumbo e fenóis.
espécies ao adaptarem-se, estão ao fim e ao cabo
a mudar para uma condição que as torne mais ap- Resíduos minerais: são relativamente estáveis,
tas naquele contexto. E essa condição agora pode correspondem às substâncias químicas minerais, elas
ser morfológica ou fisiológica ou até comportamen- alteram as condições físico-químicas e biológicas do
tal. E, no entanto, fica a ilusão que essa adaptação meio ambiente. Exemplos de indústrias: mineradoras,
é intencional e em resposta a um estímulo quando metalúrgicas, refinarias de petróleo.
na verdade ela é casual e estritamente espontânea.
Resíduos orgânicos: as principais fontes desses
Impactos ambientais poluentes são os esgotos domésticos, os frigoríficos,
Impacto ambiental é a alteração no meio am- laticínios, etc. Esses resíduos correspondem à matéria
biente por determinada ação ou atividade. Atual- orgânica potencialmente ativa, que entra em de-
composição ao ser lançada no meio ambiente.
mente o planeta Terra enfrenta fortes sinais de tran-
sição, o homem está revendo seus conceitos sobre
Resíduos mistos: possuem características químicas
natureza. Esta conscientização da humanidade está 389
associadas às de natureza biológica. As indústrias
gerando novos paradigmas, determinando novos
têxteis, lavanderias, indústrias de papel e borracha,
comportamentos e exigindo novas providências na
são responsáveis por esse tipo de resíduo lançado na
gestão de recursos do meio ambiente.
natureza.
Um dos fatores mais preocupantes é o que diz
respeito aos recursos hídricos. Problemas como a es-
Resíduos atômicos: esse tipo de poluente contém
cassez e o uso indiscriminado da água estão sendo
isótopos radioativos, é um lixo atômico capaz de emi-
considerados como as questões mais graves do sé-
tir radiações ionizantes e altamente nocivas à saúde
culo XXI. É preciso que tomemos partido nesta luta
humana.
contra os impactos ambientais, e para isso é impor-
tante sabermos alguns conceitos relacionados ao Interação e adaptação das espécies
assunto. Os estudos da ciência concluem, cada vez mais,
Poluição é qualquer alteração físico-química ou que a relação entre as espécies vivas é muito maior
biológica que venha a desequilibrar um ecossiste- de que imaginávamos no passado. À medida que
ma, e o agente causador desse problema é deno- os nossos conhecimentos sobre os seres vivos avan-
minado de poluente. çam, chegamos cada vez mais à conclusão de que
Como já era previsto, os principais poluentes têm todo o sistema vivo da Terra, aquilo que no passado
origem na atividade humana. A Indústria é a princi- chamávamos de “natureza”, só consegue se man-
pal fonte, ela gera resíduos que podem ser elimina- ter devido a uma intensa interdependência entre as
dos de três formas: diversas espécies. Como exemplo da interação das
Na água: essa opção de descarte de dejetos é espécies, citamos o caso de três tipos de urubus, que
mais eram muito comuns na Índia e em outras partes da
barata e mais cômoda, infelizmente os resíduos Ásia: o urubu de bico longo, o de bico estreito e o de
são lançados geralmente em recursos hídricos utili- cabeça branca. Através de estudos científicos reali-
zados como fonte de água para abastecimento pú- zados há poucos anos, ficamos sabendo que estas
blico. espécies de urubus estavam em rápido processo de
extinção, sem que se encontrasse sua causa. Depois
de muitas pesquisas, os cientistas descobriram que a nós dominamos completamente 36% da superfície
morte das aves era provocada por um tipo de anti bioprodutiva. Metade do escoamento natural de
-inflamatório, utilizado nas vacas, de cujos cadáveres água doce é hoje desviada para uso humano. Ati-
os urubus se alimentavam. Nos bovinos e nos seres hu- vidades econômicas humanas estão convertendo
manos o medicamento atenua a dor, mas nos urubus mais nitrogênio em suas formas reativas do que todos
causa falência renal. Como consequência do rápido os processos naturais do planeta juntos. Processos
desaparecimento das aves, milhares de carcaças industriais e agrícolas estão causando um acúmulo
de vacas apodreciam ao sol, onde incubavam an- contínuo de gases estufa na atmosfera, alcançando
traz (doença infecciosa causada por bactérias) e níveis sem precedentes nos últimos 800.000 anos, e
serviam de alimento para cães. Além disso, com a possivelmente muito mais.
fartura de carne que não era consumida, dada a re- O domínio humano já se estende por todo o pla-
dução na quantidade de urubus, houve um grande neta, e é evidente que isso tem conseqüências para
aumento na população de cães selvagens e, com a biodiversidade. De fato, um relatório recente sobre
isto, a ameaça de propagação da raiva. Assim, a este assunto, o 2005 Millennium Ecosystem Assessment
quase extinção de três espécies de urubus, aumen- report (um relatório ambiental de escala similar aos
tou a probabilidade de disseminação de epidemias do IPCC), chegou a algumas conclusões sombrias -
perigosas ao homem. 60% dos ecossistemas do mundo estão degradados
e as extinções estão ocorrendo num ritmo 100 a 1000
Animais e plantas podem se adaptar ao aqueci- vezes mais rápido que o normal (média de extinção
mento global? em longos períodos geológicos). Por exemplo, um es-
tudo feito em 2003 mostrou que até 42% das espécies
O que a ciência diz... do sudeste asiático podem ser levados à extinção
Um grande número de extinções em massa do até 2100 apenas devido ao desmatamento e frag-
passado foram atribuídas com grande certeza a mu- mentação de habitats.
danças climáticas globais. Devido à grande rapidez Extinções em Cingapura e Sudeste Asiático - Fig.
da atual mudança do clima, torna-se simplesmente 1 - Projeção de extinções no sudeste da Ásia devi-
impossível para a maioria das espécies adaptar-se do à perda de habitat. Tendo em vista estas pressões
pelas maneiras usuais (migrando, por exemplo). As e perturbações já existentes, é razoável se pergun-
390 mudanças globais são abrangentes demais e estão tar se o aquecimento global contribuiria ainda mais
ocorrendo muito rapidamente. para esta confusão. Alguns, como os “céticos” Fred
Singer e Dennis Avery, não vêem problema algum,
Argumento cético... afirmando que o aquecimento será benéfico para o
Animais e plantas podem se adaptar ao aqueci- ser humano e outras espécies, e que “corais, recifes,
mento global. Corais, árvores, pássaros, mamíferos e pássaros, mamíferos e borboletas estão se adaptan-
borboletas estão se adaptando bem à rotina de um do bem à rotina de um clima em transição”.
clima em transição. (fonte: Hudson Institute) Apesar do aquecimento global ser motivo de
preocupação para biólogos da área de conserva-
Os seres humanos estão modificando o meio am- ção ambiental, esse não é o foco da maioria dos
biente de todo o mundo. No passado, áreas enormes pesquisadores, no momento. Isso se deve, imagino,
de florestas temperadas foram derrubadas na Euro- principalmente à severidade dos danos de outras
pa, Ásia e América do Norte para se produzir madei- ameaças mais imediatas.
ra, ou dar lugar a agricultura e urbanização. Hoje, a O aquecimento global já afeta a distribuição
linha de frente está nas florestas tropicais. Introduzi- geográfica de espécies e a sua época de procria-
das pelo homem, espécies invasoras concorrentes e ção, migração, floração, entre outros. Entretanto, ex-
predadoras estão aumentando exponencialmente; trapolar estes impactos observados para prever con-
a superexploração de peixes e a caça de animais seqüências futuras é uma tarefa complexa. O estudo
para alimentação, a ponto de exauri-los, continua mais completo feito até hoje, de um grupo britâni-
sendo a regra o invés da exceção. co, estimou que 18 a 35% das espécies de animais
O que tem determinado isso é o fato da popula- e plantas estarão condenadas à extinção em 2050.
ção ter crescido a ponto de ser hoje 6 vezes maior, Este estudo, que usou uma abordagem simples de
e a economia ser hoje 50 vezes maior que em 1800. estimar as áreas de ocorrência das espécies depois
Os grandes avanços modernos do ser humano fo- de ajustá-las às condições atuais bioclimáticas, cau-
ram conquistados às custas da exploração do meio sou uma torrente de debates. Alguns argumentaram
ambiente. Hoje, cerca de 83% da área continental que ele era otimista demais, ou tinha incertezas muito
da Terra está sob influência direta do ser humano, e amplas, porque deixou de fora muitos detalhes eco-
lógicos, enquanto outros disseram que ele seria exa- B) Uma estimativa otimista de um aquecimento
geradamente pessimista, em vista do que sabemos pequeno de apenas 2ºC neste século levariam o pla-
sobre as reações das espécies e a aparente resiliên- neta a condições que não existiram desde o meio
cia às mudanças climáticas observadas nos registros do período Plioceno, há 3 milhões de anos. Se aque-
fósseis - veja abaixo. cermos mais de 4ºC, o planeta chegaria, em menos
De fato, um grande número de eventos de ex- de um século, à temperatura da última vez que em
tinção em massa têm fortes evidências de estarem não havia geleira nenhuma na Terra, há 35 milhões
associados a mudanças climáticas globais, incluindo de anos. A média de duração das espécies é de 1 a
a mais avassaladora de todas, que encerrou a era 3 milhões de anos. Portanto, é bastante possível que
Paleozóica há 250 milhões de anos, e a menos cata- no período geologicamente curto de um século, as
clísmica, mas ainda assim danosa, do Máximo Térmi- condições planetárias sejam transformadas em algo
co do Paleoceno-Eoceno, há 55 milhões de anos. Já que a maioria das espécies modernas nunca viveu.
no passado mais recente, durante os ciclos glaciais
do Quaternário dos últimos milhões de anos, houve C) Como observado acima, é importante com-
aparentemente poucas extinções relacionadas com preender que os ecossistemas no século XXI já estão
o clima. Este paradoxo curioso de poucas extinções sob grande pressão por outras formas de agressão
nas eras glaciais até ganhou um nome: o “Enigma do humana, e por isso perderam resiliência. A maior par-
Quaternário”. te dos habitats já estão degradados, com suas popu-
Neste período, a diferença entre as temperaturas lações dizimadas em maior ou menor medida pela
globais no frio das eras glaciais e no calor das inter- ação humana. Por milênios, nossos impactos foram
glaciais foi de 4 a 6ºC - comparável ao que é pre- apenas de alcance local, ainda que por vezes te-
visto com o aquecimento antrópico até o fim deste nham sido severos. Entretanto, nos últimos séculos nós
século, no cenário que mantém as tendências atuais desencadeamos transformações físicas e biológicas
de consumo intenso de combustíveis fósseis. A maior em escala global. Neste contexto, interações entre
parte das espécies parece ter sobrevivido a estes ci- o aquecimento global, acidificação dos oceanos,
clos e Eras Glaciais e Interglaciais. Isso pode ser dedu- perda e fragmentação de habitats, espécies invaso-
zido dos registros fósseis, e das evidências genéticas ras e poluição provavelmente provocarão uma se-
das espécies modernas. Na Europa e na América do qüência de extinções. Por exemplo, o sobreuso dos
Norte, as populações se deslocaram para o sul quan- recursos naturais, a perda de habitats e a mudança 391
do as calotas polares avançaram, e reinvadiram as dos regimes de fogo vão, muito provavelmente, in-
regiões do norte quando elas recuaram. Algumas es- tensificar os efeitos diretos das mudanças climáticas
pécies podem ter sobrevivido em trechos localmente e tornar difícil para as espécies moverem-se para
favoráveis, isoladas no meio da tundra as paisagens áreas não afetadas ou manterem populações “de
geladas. Na Austrália, uma caverna descoberta re- reserva”. Uma ameaça reforça a outra e múltiplos im-
centemente mostrou que grandes mamíferos (mega- pactos agem uns sobre os outros, fazendo com que
fauna) foram capazes de sobreviver mesmo em re- o impacto geral seja maior do que seriam se cada
giões áridas como Nullarbor, em condições similares uma das agressões ocorresse isoladamente (Brook et
às atuais. al 2008).
Entretanto, mesmo sendo os registros geológicos
essenciais para entender como as espécies respon- D) As adaptações das espécies às mudanças cli-
dem às mudanças naturais de clima, há várias razões máticas no passado ocorreu principalmente através
para crer que os futuros impactos na biodiversidade do deslocamento de sua área de ocorrência para
serãos particularmente severos: latitudes mais altas ou mais baixas (dependendo se
o clima estava esquentando ou esfriando), ou subin-
A) O aquecimento causado pelos seres humanos do e descendo as encostas das montanhas. Houve
é rápido, e é esperado que se acelere ainda mais. também respostas evolutivas - os indivíduos mais to-
Os cenários do IPCC como o A1F1 e A2 implicam lerantes às novas condições sobreviveram e assim
em uma velocidade de aquecimento de 0,2 a 0,6 tornaram a geração seguinte intrinsecamente mais
ºC por década. Para comparar, o aquecimento que resiliente. Já agora, por causa dos fatores A até C
levou à última deglaciação foi de cerca de 0,0005 expostos acima, esse tipo de adaptação será impos-
ºC por década, embora isso tenha sido pontuado sível na maioria dos casos. O aquecimento global é
por alguns saltos curtos (e possivelmente de âmbito abrangente demais ou ocorrendo muito rápido. O
regional) tais como os eventos do Dryas recente, de tempo acabou, e não existe lugar para as espécies
Dansgaard-Oeschger e de Heinrich. fugirem ou se esconderem.
O futuro da espécie humana plantas e outros seres vivos. Estas características po-
O planeta Terra está sob sérias ameaças: polui- dem ser, por exemplo, um aumento da produção de
ção, aumento da temperatura global, destruição da carne, leite, lã, seda ou frutas. Para esse fim foram,
camada de ozônio, esgotamento de recursos natu- e são, produzidas diversas raças domésticas, como
rais, extinção de espécies etc. Tudo isso é decorrên- cães, gatos, pombos, bovinos, peixes e plantas orna-
cia do crescimento da população humana e do de- mentais. É uma seleção em que a luta pela vida, ou
senvolvimento industrial e tecnológico, implementa- seleção natural, foi substituída pela escolha humana
dos pelo progresso científico. Felizmente, nas últimas dos indivíduos que melhor atendem aos seus objeti-
duas décadas, muitas pessoas têm percebido a ne- vos.
cessidade de empenhar-se em um uso mais racional O processo de seleção artificial ajudou na cria-
dos recursos naturais, sob o risco de deixar aos nossos ção de um modelo que pudesse explicar a variação
descendentes um mundo inabitável. natural dos seres vivos, a seleção natural.
Todas as espécies exploram recursos do ambien- Os processos de seleção artificial são o endo-
te, causando algum tipo de “impacto” sobre eles, e cruzamento e formação de híbridos. Através do
a espécie humana não é exceção. Algumas culturas endocruzamento o homem promove uma seleção
antigas já tinham consciência desse problema, em- direcional escolhendo os indivíduos portadores das
bora não tivessem conhecimentos científicos. No Bra- características que pretende selecionar e promove
sil, por exemplo, algumas tribos da região amazônica o cruzamento entre os indivíduos selecionados; nas
ocupavam temporariamente uma região, exploran- gerações seguintes faz o mesmo tipo de seleção.
do-a durante certo período. Aos primeiros sinais de Desta forma, os genes responsáveis pelas característi-
esgotamento dos recursos ambientais, mudavam-se cas escolhidas têm aumentado sua frequência e ten-
para uma nova região da floresta, deixando que a dem a entrar em homozigose. A população selecio-
área antiga se recuperasse do impacto causado nada tem a variabilidade genética reduzida através
pela ocupação prévia. da semelhança cada vez maior entre os indivíduos
Nos últimos dois séculos, o desenvolvimento da que a compõem. É desta maneira que são produzi-
sociedade industrial e o crescimento explosivo da das linhagens puro-sangue de cavalos, cães etc. Ao
população humana têm causado impactos ambien- mesmo tempo, o criador evita a reprodução de in-
392 tais sem precedentes. Muitos recursos naturais estão divíduos que não possuam as qualidades desejadas.
se esgotando e os resíduos produzidos pela atividade Desse modo, a seleção feita por criadores apresenta
humana acumulam-se no ambiente, degradando-o aspectos positivos e negativos.
seriamente. Mas, se somos nós mesmos os causado- A seleção de genitores e a caracterização da
res dos problemas, não teríamos também a capaci- variabilidade genética existente são decisivas para
dade de resolvê-los? As respostas para esse dilema o incremento de eficiência em programas de me-
não são simples. O aumento da população humana lhoramento, pois uma das principais necessidades
e o progresso tecnológico têm levado a uma explo- do melhorista é a identificação de plantas que pos-
ração cada vez maior dos recursos naturais e estes suam genes superiores em uma progênie segregas-
não são inesgotáveis. A pergunta, então, é: o que es- te. O processo genético mediante da seleção em
perar para o futuro? populações segregastes é diretamente proporcional
O grande desafio da humanidade, no século XXI, à variabilidade genética disponível e à frequência
é modificar o antigo conceito desenvolvimentista de de genótipos superiores existentes nas populações.
progresso, isto é, de aumento da qualidade de vida O estreito relacionamento genético entre varieda-
sem levar em conta os limites da capacidade de su- des cultivadas, como trigo, aveia e cevada, assim
porte do ambiente em que a espécie humana se in- como a dificuldade de se efetuar grande número de
sere. É necessário refletir sobre o impacto que cada cruzamentos, especialmente em espécies autóga-
um de nós causa sobre o ambiente, quanto aos re- mas, sugere a necessidade de cruzar genótipos que
cursos que utilizamos e à destinação do lixo que pro- apresentam divergência genética. Desse modo, a
duzimos. Só assim será possível amenizar o impacto classificação de genitores em grupos heteróticos e a
da espécie humana sobre o ambiente terrestre e ga- realização de cruzamento entre tipos geneticamen-
rantir um local habitável para as gerações futuras. te distintos podem contribuir para a ampliação da
variância genética em populações segregastes.
Seleção animal e vegetal Portanto, no processo evolutivo das espécies uti-
Seleção artificial é o processo conduzido pelo lizadas pelo homem para a produção agrícola ou
ser humano de cruzamentos seletivos com o objetivo obtenção de características desejadas de cavalos,
de selecionar características desejáveis em animais, cães e pombos, a variabilidade genética é funda-
Noções de Higiene e Limpeza correntes dos baixos padrões de higiene, por vezes
relacionados com o baixo padrão cultural e social
Definição Higiene local, atualmente, são de certa forma contidas com
H
a implementação de padrões de higiene, através
igiene é um conjunto de conhecimentos e da conscientização da população e instrução de
394
técnicas para evitar doenças infecciosas novas metodologias que ensinam como a socieda-
usando desinfecção, esterilização e outros de deve comportar-se nesses momentos em relação
métodos de limpeza com o objetivo de conservar e à sua Higiene, quanto ao aspecto pode ser:
fortificar a saúde. De origem grega que significa “hy-
geinos”, ou o que é saudável. É derivada da deusa Tipos
grega da saúde, limpeza e sanitariedade, “Hígia’’.
Pessoal
Preceito Básico: consiste na prática do uso cons- É um conjunto de hábitos de limpeza e asseio
tante de elementos ou atos que causem benefícios com que cuidamos do nosso corpo, por ser um fa-
para os seres humanos. Em seu sentido mais comum, tor de importância no nosso dia a dia, acaba por in-
podemos dizer que significa limpeza acompanhada fluenciar no relacionamento inter social, pois implica
do asseio. Sanitização advém de Sanidade que em na aplicação de hábitos, que viram normas de vida
amplo sentido significa ordem perfeita de funciona- em carácter individual, como:
mento. A higiene compreende hábitos que visem - Banho - Tomar banho diariamente - Devemos
preservar o estado original do ser, que é o bem-estar utilizar sabonete neutro.
e a saúde perfeita. Às técnicas de manutenção e
- Assepsia - O uso de desodorante é bastante
preservação do bem-estar, saúde perfeita e harmo-
útil, especialmente no verão. No entanto devem ser
nia funcional do organismo damos o nome de hábi-
evitados os que inibem a produção de suor, poden-
tos sanitizantes, ou hábitos higiênicos.
do assim aumentar a transpiração em outros locais
Com o aumento dos padrões de higiene e es-
do corpo – transpiração compensatória.
tudos sócios epidemiológicos têm demonstrado que
- Lavar as mãos - sempre que necessário, es-
as medidas de maior impacto na promoção da saú-
pecialmente antes das refeições, antes do contato
de de uma população estão relacionadas à melho-
com os alimentos e depois de utilizar o banheiro.
ria dos padrões de higiene e nutrição da mesma.
Além disso, é importante manter as unhas bem cor-
Muitas das doenças infectocontagiosas existentes
tadas e limpas.
que são encontradas, em locais inadequados de-
- Higiene oral - Os dentes e a boca devem ser la- - Se o banheiro é coletivo o problema é ainda
vados depois da ingestão de alimentos, usando um maior, os homens devem respeitar as mulheres e as
creme dental com flúor. Uma higiene inadequada necessidades fisiológicas, lavar as mãos com sabo-
dos dentes dá origem à cárie dentária, que pode ser nete, secá-las, erguer a tampa do vaso sanitário e
causa de inúmeras doenças. não deixar seus “rastros” por onde passar e devem
- Água potável - Beber água mineral ou filtrada. ser hábitos básicos;
- Alimentação equilibrada – com menos alimen- - A hora do café também é um momento deli-
tos gordurosos e mais alimentos nutritivos e naturais cado em que as pessoas sempre se esquecem de
(se possível) e que se encontrem em melhores condi- alguns hábitos como lavar as mãos antes de se ali-
ções de conservação. mentar, falar com a boca cheia ou mesmo utilizar o
copo dos outros;
Coletiva - Se você sofre com caspas tome muito cuidado,
É o conjunto de normas de higiene implantadas não é algo higiênico e as pessoas a sua volta não
pela sociedade de forma a direcioná-las a um con- precisam saber disso, evite mexer nos cabelos para
ceito geral de higiene, especificando em normas es- não piorar o problema, nos casos mais extremos é ne-
peciais, o manuseio de produtos de higiene e suas cessário buscar ajuda médica;
interações com o Ser Humano. A higiene coletiva é - Roer as unhas pode ser até uma doença, mas
também um conjunto de normas para evitar nossas no trabalho é inadmissível, um ato completamente
doenças e de outras pessoas também, para preser- anti-higiênico;
var a vida de todos. - Não se esqueça da higiene pessoal, tomar ba-
É claro que cada um não se pode preocupar só nho antes de ir para o trabalho, usar uma colônia
com a sua higiene. A higiene do meio que nos rodeia suave ou um desodorante, usar talco antisséptico
também é muito importante. para os pés além de fazer bem para seu corpo ga-
rante que mais pessoas o admirem;
Mental - Se for mulher mantenha as unhas sempre bem
É a necessidade que temos de verbalizar. Ela evi- feitas;
ta conflitos sociais e doenças psicossomáticas. - O cabelo no caso os homens deve estar sempre
penteados e mulheres com os cabelos limpos e pre-
Ambiental sos de preferência; 395
Consiste na limpeza dos ambientes naturais pou- - Cuidado, se estiver com gripe ou resfriado evite
co interferidos pelos homens, produtos abióticos e o contato com os demais e não se esqueça de as-
bióticos e natureza morta (presente nas paisagens suar o nariz somente no banheiro;
naturais). E “a limpeza dos produtos que interferem - Tenha sempre um chiclete ou bala, caso des-
ou vão interferir na natureza”. confie que esteja com mau hálito, não se esqueça
de escovar os dentes após o almoço e o café, nes-
É no ambiente de trabalho que devemos de- tas horas a boca exala temperos fortes e o cheiro de
monstrar todas as qualidades e uma maneira de café na boca pode ser desagradável na hora de
demonstrar alguns valores é por meio da higiene conversar com o chefe ou o colega de trabalho;
pessoal. Ter higiene é muito mais que um atributo, é - Sempre que tossir espirrar ou bocejar não se es-
um meio de se manter saudável, é necessário para queça de levar a mão à boca.
o convívio com outras pessoas inclusive no ambien- - Tenha sempre um álcool em gel ou antisséptico
te de trabalho onde você está todo o dia com as por perto para usar sempre que manusear dinheiro,
mesmas pessoas, muitas vezes passa maior parte do cumprimentar alguém ou depois do expediente en-
tempo junto a eles do que com a família, então para tre outras ocasiões.
isto é preciso ter muito mais que higiene, é preciso Estes hábitos são muito comuns, mas muitas pes-
respeito com quem se trabalha. soas se esquecem, no ambiente de trabalho é mui-
Ter higiene é necessário para estar saudável, mas to importante causar uma boa impressão nos outros,
é uma questão sociável então veja algumas dicas porém mais que isso é o seu bem estar que está em
para não cometer erros com os colegas de trabalho: jogo, cuide de sua higiene pessoal e garanta um
- Muitas pessoas têm o hábito de levar qualquer convívio social melhor, as pessoas da sociedade
coisa à boca, inclusive canetas, lápis, copos descar- atual admiram quem se cuida e se preocupa com
táveis entre outros, pode até ser uma mania, mas a saúde e com a aparência e isto está ligado direta-
no ambiente de trabalho é algo que pode chamar mente com sua higiene pessoal que começa dentro
a atenção, além de poder levar microorganismos a de sua casa.
seu organismo, não sendo legal;
- É importante prevenir a entrada e controlar a temperatura, pulso, pressão sanguínea, altura, peso,
proliferação de agentes como fungos, bactérias e acuidade visual e auditiva etc. Como esses critérios
parasitas no interior das instalações - 24 Horas por dia; biológicos de normalidade baseiam-se em concei-
- É fundamental garantir protecção a todos quan- tos estatísticos, deve-se considerar a possibilidade
tos apresentam o sistema imunitário diminuído e aos de variação, porque uma característica anormal
que ainda não tem o seu sistema imunitário desen- não necessariamente significa doença. Os atletas,
volvido; por exemplo, embora geralmente desfrutem de saú-
- É prioritário melhorar a consciência cívica relati- de excelente, costumam apresentar um coração
vamente ao papel e importância da Higiene. Cabe maior do que as medidas estabelecidas como nor-
aos decisores dar o primeiro passo, estabelecer o mais, porque o exercício contínuo requer uma irriga-
exemplo, imprimir o ritmo da mudança. ção sanguínea maior dos tecidos, demanda que o
coração atende aumentando de tamanho.
Sem dúvida que a Saúde e Segurança, passam
Uma definição mais exata de saúde pode ser,
também pela obtenção de elevados níveis de Higie-
portanto, a capacidade que o organismo apresenta
ne nas instalações sanitárias, sendo aconselhável a
de funcionar em completa harmonia com seu am-
implementação das seguintes medidas de preven-
biente, o que envolve a aptidão para enfrentar físi-
ção:
ca, emocional e mentalmente as tensões cotidianas.
- Limpeza regular estabelecida em função do flu-
De acordo com essa definição, a saúde é interpre-
xo de utentes;
- Instalação de sistemas de Higiene que garantam tada em função do ambiente individual. O conceito
soluções adequadas de actuação permanente; de saúde difere, por exemplo, para o operário e o
- Contratação de empresas que assegurem pro- empregado que trabalha num escritório. O operário
fissionais dedicados à manutenção do bom funcio- saudável deve ser capaz de realizar trabalhos ma-
namento dos equipamentos instalados e assegurem nuais durante todo o dia, enquanto o empregado
uma logística de serviço que aposte no rigor e na ga- que trabalha num escritório, embora perfeitamente
rantia de regular reposição dos consumíveis. capaz de realizar suas atividades sedentárias, pode
estar totalmente despreparado para o trabalho pe-
As tarefas de limpeza não são suficientes. Para se sado e até mesmo sucumbir ao desgaste físico. Os
396 conseguir atingir elevados níveis de Higiene, exclusi- dois indivíduos, no entanto, podem ser considerados
vamente através das operações de limpeza, seria inteiramente saudáveis segundo seus meios de vida.
necessária mão de obra permanente, morosa e mais O conceito de saúde envolve mais do que con-
especializada. Seria necessário adoptar práticas de dicionamento físico, já que implica também bem
limpeza meticulosas, profundas, extensas. Essas práti- -estar mental e emocional. Uma pessoa revoltada,
cas não poderiam limitar-se ao óbvio e superficial; de- frustrada, emocionalmente instável, mas em exce-
veriam incidir nas superfícies que não estão acessíveis, lente condição física não pode ser considerada sau-
que raramente são sujeitas a operações de limpeza dável, porque não está em perfeita harmonia com
como, por exemplo, os interiores de sanitas e urinóis. seu ambiente. Um indivíduo nesse estado é incapaz
Deveriam ser extensíveis aos puxadores das portas, e de emitir juízos corretos e de ter reações racionais.
outros em geral, aos manípulos das torneiras, aos bo- Uma pessoa também pode desconhecer que está
tões dos elevadores, interruptores, corrimões, etc. doente. Nesse caso se diz que a doença é latente,
O organismo só pode se manter sadio com a pois não há manifestação de sintomas. As vítimas do
aquisição e manutenção de hábitos saudáveis de câncer podem ignorar seu estado de saúde por vá-
vida, que incluem alimentação equilibrada, sono re- rios anos até que o tumor maligno cresça e comece
gular, exercícios, higiene e lazer. Diferentemente da
a produzir sintomas. Infelizmente, muitas doenças,
doença, em geral tangível, reconhecível e facilmen-
como a AIDS, permanecem ocultas por longos pe-
te identificável, a saúde é uma condição obscura e
ríodos antes de produzirem indisposição ou distúrbios
difícil de definir. Uma pessoa pode ser forte, resistente
funcionais, o que impede sua detecção precoce e
a infecções, apta a enfrentar o desgaste físico e ou-
uma possível cura.
tras pressões da vida cotidiana, mas ainda assim ser
A saúde não é, portanto, uma condição estáti-
considerada doente se seu estado mental, avaliado
de acordo com o comportamento que apresenta, for ca. Representa, na verdade, uma condição variá-
julgado frágil. vel de bem-estar físico e emocional continuamente
Saúde é a capacidade física, emocional, men- sujeita a pressões internas e externas, como preocu-
tal e social que o indivíduo tem de interagir com seu pações, excesso de trabalho, variações das condi-
ambiente. Pode ser determinada, em certas situa- ções ambientais e infecções por bactérias e vírus.
ções, por meio de alguns valores mensuráveis como Esses fatores constantemente mutáveis requerem a
Cuidados na esterilização pela fervura: Devem-se saturado a 750 mmHg e temperatura de 121ºC são
eliminar as bolhas, pois estas protegem as bactérias suficientes para destruir os esporos mais resistentes,
- no interior da bolha impera o calor seco, e a tem- em 30 minutos. Essa é a combinação mais usada, ser-
peratura de fervura (100°C), este calor é insuficiente vindo para todos os objetos que não estragam com
para a esterilização; Devem-se eliminar as substâncias a umidade e temperatura alta como panos meios
gordurosas e protéicas dos instrumentos, pois estas bacteriológicos, soluções salinas, instrumentais (não
impedem o contacto direto do calor úmido com as os de corte), agulhas, seringas, vidraria (não as de
bactérias. precisão ) etc.
Usando-se vapor saturado a 1150 mmHg e 128º C,
Esterilização pelo vapor sob pressão (autocla- o tempo cai para 6 minutos, podendo se assim evitar
ve): Age através da difusão do vapor d’água para a ação destruidora do calor sobre panos e borracha.
dentro da membrana celular (osmose), hidratando o Em casos de emergência, usamos durante 2 minutos
protoplasma celular, produzindo alterações químicas a temperatura de 132ºC e 1400 mmHg. Para testar
(hidrólise) e coagulando mais facilmente o protoplas- a eficiência da esterilização em autoclave lançamos
ma, sob ação do calor. O autoclave é uma caixa me- mão de indicadores, que pode ser tintas que mudam
tálica de paredes duplas, delimitando assim duas câ- de cor quando submetidas a determinada tempe-
maras; uma mais externa que é a câmara de vapor, ratura durante certo tempo, ou tiras de papel com
e uma interna, que é a câmara de esterilização ou esporos bacterianos, que são cultivados em caldos
de pressão de vapor. A entrada de vapor na câmara após serem retirados do autoclave. Como exemplo
de esterilização se faz por uma abertura posterior e citamos tubinho contendo ácido benzóico mais eo-
superior, e a saída de vapor se fazem por uma aber- sina, que tem ponto de fusão de 121ºC. Anidrido fta-
tura anterior e inferior, devido ao fato de ser o ar mais lico mais verde metila tem ponto de fusão de 132ºC.
pesado que o vapor. Ácido salicilico mais violeta de genciana tem ponto
O vapor é admitido primeiramente na câmara de fusão de 156ºC.
externa com o objetivo de aquecer a câmara de es-
terilização, evitando assim a condensação de vapor Bioindicadores: Podemos usar ampolas contendo
em suas paredes internas. Sabe-se que 1 grama de 2 ml de caldo de cultura com açúcares mais um indi-
vapor saturado sob pressão, libera 524 calorias ao se cador de pH e esporos de bacilo Stearo thermophilus 401
condensar. Ao entrar em contacto com as superfícies (espécie não patogênica), esporo estes que morrem
frias o vapor saturado se condensa imediatamente, quando submetidos a 121ºC por 15 minutos. Incuba-
molhando e aquecendo o objeto, fornecendo as- se por 24 a 48 horas a 55ºC, e se a esterilização foi sufi-
sim dois fatores importantes para a destruição dos ciente a cor violeta não se altera. Podemos também
micro-organismos. O vapor d’água, ao ser admitido usar cadarços embebidos com suspensão salina de
na câmara de esterilização é menos denso que o ar, cultura de Bacilo subtilis (em esporulação acentua-
e portanto empurra este para baixo, até que sai da da) colocados no interior de um campo cirúrgico
câmara, e através de correntes de convecção, retira dobrado, que será colocado no centro dos pacotes,
todo o ar dos interstícios dos materiais colocados na caixas ou tambores. Findo o prazo de esterilização,
câmara. Ao condensar-se, reduz de volume, surgindo o cadarço é enviado para cultura no laboratório. (o
assim áreas de pressão negativa, que atraem novas Bacilo subtilis não é patogênico e é um dos mais re-
quantidades de vapor. Desse modo, as disposições sistentes ao calor)
dos materiais a serem esterilizados dentro da auto-
clave devem obedecer a certas regras, formando es- Éter cíclico - Óxido de etileno: É um gás incolor,
paços entre eles e facilitando o escoamento do ar e inflamável, tóxico, altamente reativo, é completa-
vapor, tendo-se em mente a analogia com o escoa- mente solúvel em água, álcool, éter e muitos solven-
mento de água de um reservatório, evitando assim a tes orgânicos, borracha, couro e plásticos. É bacteri-
formação de “bolsões” de ar seco (onde agiria ape- cida esporicida e virucida. Eficaz em temperatura re-
nas o calor seco, insuficiente para esterilizar nas tem- lativamente baixa, penetra em substâncias porosas,
peraturas atingidas habitualmente pelo autoclave. não corroe ou danifica materiais, age rapidamente,
A quantidade efetiva de água sob a forma de removível rapidamente.
vapor dentro da câmara de pressão pode ser reduzi-
da, de modo que, ao retirar-se os objetos esterilizados, Esterilização pelo óxido de etileno: Autorizado
estes estejam quase secos. A ação combinada de pelo Ministério da Saúde como agente químico para
temperatura, pressão e da umidade são suficientes esterilização, portaria 930/1992. Necessita de três uni-
para uma esterilização rápida, de modo que vapor dades: aparelho de autoclave combinado, gás e va-
por; aparelho de comando que vai misturar o gás, e - O gás etileno possui efeito tóxico.
o freon na concentração pré-estabelecida e o apa- - O processo é demorado.
relho aerador. Existem quatro condições que são pri- - A utilização do aparelho é limitada a estabele-
mordiais e que guardam relação entre si para que o cimentos grandes.
óxido de etileno se torne um agente esterilizante:
- Tempo - o tempo de exposição ao gás varia de Flambagem: O Ministério da Saúde, através da
acordo com a temperatura do aparelho, portaria 930 de 27 de agosto de 1992, relaciona a
- Temperatura - Geralmente utiliza a temperatura flambagem como meio possível de esterilização nas
de 55oC e a exposição em 2 horas. Em temperaturas laboratórios de microbiologia para a manipulação
mais baixas necessitamos de exposições maiores e de material biológico ou transferencia de massa
vice-versa. bacteriana pela alça bacteriológica e para a esteri-
- Umidade relativa - usa de 20 a 40%, lização de agulhas, na vacina de BCG intradérmico.
- Concentração do gás - usa a concentração de
450 mg/L de espaço da câmara esterilizadora. Por Radiação: A radiação é uma alternativa na es-
ser altamente inflamável quando puro, usamos mis- terilização de artigos termossensíveis, (seringa de
turar com dióxido de carbono (90%) ou freon (80%). plástico, agulha hipodérmicas, luvas, fios cirúrgicos),
por atuar em baixas temperaturas, é um método
Técnica
disponível em escala industrial devido aos elevados
- Preparo do material - deverão estar completa-
custos de implantação e controle.
mente limpos e secos. O material que os empacota
deve ser permeável, flexível e forte para aguentar a
Radiações ionizantes: (raios beta, gama, (cobal-
manipulação normal do processo de esterilização.
to), X, alfa ). Tem boa penetrabilidade nos materiais
Usar fitas adesivas para identificação e indicadores
de óxido de etileno dentro dos pacotes. mesmos já empacotados o que justifica a sal como-
- Não sobrecarregar o esterilizador para evitar didade.
bolsões isoladores e também o rompimento e aber-
tura dos pacotes durante o aumento de pressão da Radiações não ionizantes: (raios ultravioleta, on-
câmara. das curtas e raios infravermelhos) devido a sua baixa
402 - Aeração - o objetivo é ventilar para remover o eficiência está vetado o seu uso pelo Ministério da
gás contido no material esterilizado e sendo execu- Saúde desde 1992. Filtração é usada como contro-
tado a 50ºC, o tempo varia de acordo com o tipo le ambiental, criando áreas limpas e áreas estéreis,
de material, assim: Borracha e material plástico fino = podendo inclusive lançar utilizar se do fluxo laminar.
6 horas; Borracha e material plástico grosso = 24 ho-
ras; Marca passos internos = 4 dias; Luvas, cateteres Aldeído: Agente químico autorizado pelo Minis-
e outros materiais em invólucros de plásticos = 7 dias; tério da Saúde, (portaria 930/1992). Glutaraldeido a
Qualquer tubo de cirurgia cardíaca = 7 dias. 2%, associada a um antioxidante, por 8 a 12 horas, é
usado para esterilizar material de acrílica, cateteres,
Vantagens drenos, nylon, silicone, teflon, pvc, laringoscópicos e
- É bactericida, esporocida e virucida; outros); Formaldeído, usado tanto na forma líquida
- Agente esterilizante em temperatura relativa- ou gasosa por 18 horas. Paraformaldeído, as pasti-
mente baixa; lhas tem ação esterilizante na concentração de 3
- Facilmente removível; gramas por 100 centímetros cúbico de volume do
- Fácil de obter, armazenar e manusear; recipiente onde o material é esterilizado por um pe-
- Penetra em qualquer material permeável e po- ríodo de 4 horas a 50°C.
roso;
- Esteriliza uma grande variedade de instrumentos Fonte de infecção relacionada a artigos hospi-
e equipamentos sem danificar a maioria; talares
- É método simples, eficaz econômico e seguro;
- O material esterilizado pode ser estocado por
Denominam-se artigos hospitalares os materiais
período prolongado.
empregados com o objetivo de prevenir danos à
saúde das pessoas ou de restabelecê-la, neces-
Desvantagens
sários aos cuidados dispensados. Eles têm grande
- Necessita de controle cuidadoso da concentra-
ção de gás, temperatura e umidade. variedade e as mais diversas finalidades, podendo
- A aparelhagem é cara e requer supervisão téc- ser descartáveis ou permanentes, e esterilizáveis ou
nica especializada. não.
A equipe de enfermagem tem importante pa- - os procedimentos só devem ser feitos por pro-
pel na manutenção dos artigos hospitalares de sua fissionais devidamente capacitados e em local apro-
unidade de trabalho, seja em ambulatórios, unida- priado (expurgo);
des básicas ou outros setores em que esteja atuan- - sempre utilizar sapatos fechados, para prevenir a
do. Para sua previsão e provisão, deve-se levar em contaminação por respingos;
consideração as necessidades de consumo, as con- - quando do manuseio de artigos sujos, estar de-
dições de armazenamento, a validade dos produtos vidamente paramentado com equipamentos de pro-
e o prazo de esterilização. Os artigos permanentes teção: avental impermeável, luvas de borracha anti-
devem ter seu uso assegurado pela limpeza, desin- derrapantes e de cano longo, óculos de proteção e
fecção, descontaminação e esterilização. máscara ou protetor facial;
- utilizar escovas de cerdas macias, evitando a
Classificação de artigos hospitalares: Os artigos aplicação de materiais abrasivos, como palhas de
utilizados nos serviços de saúde são classificados aço e sapólio;
em três categorias, propostas pela primeira vez por - as pinças devem estar abertas quando de sua
Spaulding, conforme o grau de risco de provocar in- imersão na solução;
fecção nos pacientes. - desconectar os componentes acoplados, para
uma efetiva limpeza;
Processamento de artigos hospitalares: Descon- - enxaguar os materiais em água corrente potá-
taminação, segundo Rutala, é o processo que visa vel;
destruir microrganismos patogênicos, utilizado em ar- - secar os materiais com tecido absorvente limpo,
tigos contaminados ou em superfície ambiental, tor- atentando para o resultado da limpeza, principal-
nando-os, conseqüentemente, seguros ao manuseio. mente nas ranhuras das pinças;
Pode ser realizada por processo químico, no qual os - armazenar o material ou encaminhá-lo para de-
artigos são imersos em solução desinfetante antes de sinfecção ou esterilização.
se proceder a limpeza; por processo mecânico, uti-
lizando-se máquina termodesinfectadora ou similar; Desinfecção é o processo de destruição de mi-
ou por processo físico, indicando-se a imersão do ar- crorganismos em estado vegetativo (com exceção
tigo em água fervente durante 30 minutos, método
das formas esporuladas, resistentes ao processo) uti- 403
não indicado por Padoveze, pois, segundo ele, há
lizando-se agentes físicos ou químicos. O termo desin-
impregnação de matéria orgânica quando aplica-
fecção é aplicado tanto no caso de artigos quanto
do a artigos sujos.
de superfícies ambientais. A desinfecção pode ser de:
A limpeza é o ato de remover a sujidade por meio
de fricção e uso de água e sabão ou soluções de-
- alto nível: quando há eliminação de todos os mi-
tergentes. Há várias fórmulas de detergentes dispo-
crorganismos e de alguns esporos bacterianos;
níveis no mercado, variando do neutro à específicos
- nível intermediário ou médio: quando há elimi-
para lavadoras. Ainda nesta classificação, podemos
nação de micobactérias (bacilo da tuberculose),
apontar os enzimáticos utilizados para limpeza de
bactérias na forma vegetativa, muitos vírus e fungos,
artigos por imersão, bastante recomendados, atual-
porém não de esporos;
mente, por sua eficácia na limpeza, são capazes de
- baixo nível: quando há eliminação de bactérias
remover a matéria orgânica da superfície do ma-
terial em tempo inferior a 15 minutos (em média, 3 e alguns fungos e vírus, porém sem destruição de mi-
minutos), não danificam os artigos e são atóxicos e crobactérias nem de esporos.
biodegradáveis.
Limpar é procedimento que deve sempre pre- Os processos físicos de desinfecção são a pasteu-
ceder a desinfecção e a esterilização; quanto mais rização e a água em ebulição ou fervura. A pasteu-
limpo estiver o material, menor a chance de falhas rização é uma desinfecção realizada em lavadoras
no processo. A matéria orgânica, intimamente aderi- automáticas, com exposição do artigo em água a
da ao material, como no caso de crostas de sangue temperaturas de aproximadamente 60 a 90 graus
e secreções, atua como escudo de proteção para centígrados por 10 a 30 minutos, conforme a instru-
os microrganismos, impedindo que o agente desinfe- ção do fabricante. É indicada para a desinfecção de
tante/esterilizante entre em contato com a superfície circuitos de respiradores.
do artigo, tornando o procedimento ineficaz. A água em ebulição ou fervura é utilizada para
Para a realização da descontaminação e limpe- desinfecção de alto nível em artigos termorresistentes.
za dos materiais, recomenda-se adotar as seguintes Consiste em imergir totalmente o material em água
medidas: fervente, com tempo de exposição de 30 minutos,
após o que o material é retirado com o auxílio de pin- Os cuidados com o ambiente estão centrados
ça desinfetada e luvas de amianto de cano longo. principalmente nas ações de limpeza realizadas
Em seguida, deve ser seco e guardado em recipiente pelo Serviço de Higiene Hospitalar. Há uma estreita
limpo ou desinfetado . ressalve-se que esse procedi- relação deste com o Serviço de Prevenção e Contro-
mento é indicado apenas nas situações em que não le de Infecção Hospitalar, cabendo-lhe as seguintes
se disponha de outros métodos físicos ou químicos. incumbências: padronizar produtos a serem utilizados
A desinfecção de artigos hospitalares por pro- na limpeza; normatizar ou indicar o uso de germici-
cesso químico é feita por meio de imersão em solu- das para as áreas críticas ou para as demais, quando
ções germicidas. Para garantir a eficácia da ação necessário; participar de treinamentos e dar orienta-
faz-se necessário: que o artigo esteja bem limpo, pois ção técnica à equipe de limpeza; participar da ela-
a presença de matéria orgânica reduz ou inativa a boração ou atualização de manuais a respeito do
ação do desinfetante; que esteja seco, para não assunto.
alterar a concentração do desinfetante; que esteja
totalmente imerso na solução, sem a presença de Classificação das áreas hospitalares: A frequên-
bolhas de ar; que o tempo de exposição recomen- cia da limpeza varia de acordo com as áreas do
dado seja respeitado; que durante o processo o re- hospital. Da mesma maneira que os artigos, as áreas
cipiente seja mantido tampado e o produto esteja hospitalares também foram classificadas de acordo
dentro do prazo de validade. com os riscos de infecção que possam oferecer aos
Esterilização é o processo utilizado para destruir pacientes:
todas as formas de vida microbiana, por meio do uso
de agentes físicos (vapor saturado sobre pressão, au- Métodos e frequência da limpeza, desinfecção e
toclave e vapor seco, estufa) e químicos (óxido de descontaminação
etileno, plasma de peróxido de hidrogênio, formal-
deído, glutaraldeído e ácido peracético). A esterili- De maneira geral, a limpeza é suficiente para re-
zação pelo vapor saturado sob pressão é realizada duzir os microrganismos existentes nas superfícies hos-
em autoclave, que conjuga calor, umidade, tempo pitalares, reservando-se os processos de desinfecção
e pressão para destruir os microrganismos. Nela po- e descontaminação para as áreas onde há deposi-
dem ser esterilizados artigos de superfície como ins- ção de matéria orgânica.
404 Para a descontaminação, indica-se a aplicação
trumentais, baldes e bacias e artigos de espessura
de desinfetante sobre a matéria orgânica; em segui-
como campos cirúrgicos, aventais e compressas, e
da, aguardar o tempo de ação, remover o conteúdo
artigos críticos e semicríticos termorresistentes e líqui-
descontaminado com papel absorvente ou tecidos
dos.
e realizar a limpeza com água e solução detergente.
Na estufa, o calor é produzido por resistências
Na desinfecção, remover a matéria orgânica
elétricas e propaga-se lentamente, de maneira que
com papel absorvente ou tecidos, aplicar o desinfe-
o processo é moroso e exige altas temperaturas, vá-
tante sobre a área atingida, aguardar o tempo de
rios autores indicam a esterilização por esse método
ação, remover o desinfetante com papel absorven-
apenas quando haja impossibilidade de submeter o
te ou pano e realizar a limpeza com água e solução
material à autoclavação, como no caso de pós e
detergente. O desinfetante habitualmente utilizado
óleos.
para a descontaminação e desinfecção de superfí-
O material a ser processado em estufa deve ser
cies é o cloro orgânico (clorocide) ou inorgânico (hi-
acondicionado em caixas metálicas e recipientes
poclorito de sódio a 1%), com tempo de exposição
de vidro refratário. Frise-se que a relação tempo- de 10 minutos.
temperatura para a esterilização de materiais por A limpeza das áreas hospitalares é um procedi-
esse método é bastante controvertida e as opiniões mento que visa remover a sujidade e detritos orgâni-
muito divergentes entre os diversos autores. cos de superfícies inanimadas, que constituem ótimo
habitat para a sobrevivência de microrganismos no
Fonte de infecção relacionada ao ambiente âmbito hospitalar. O agente químico utilizado na lim-
peza é o detergente, composto de substância ten-
O ar, a água e as superfícies inanimadas verticais soativa que facilita a remoção da sujeira.
e horizontais fazem parte do meio ambiente de uma A limpeza pode ser do tipo concorrente e termi-
instituição de saúde. Particularmente no hospital, o nal. O primeiro tipo é feito diariamente e consiste na
ambiente pode tornar-se foco de infecção hospita- limpeza do piso, remoção de poeira do mobiliário,
lar, embora estudos tenham demonstrado não ser limpeza completa do sanitário, reposição de material
esse o principal meio de transmissão. de higiene e recolhimento do lixo, repetido confor-
me a necessidade; o segundo, é realizado periodica- cimento de microrganismos em tecidos vivos são de-
mente, de acordo com a área de risco do hospital, e nominadas antissepsia. A adesão da equipe às me-
consiste na limpeza de paredes, pisos, tetos, janelas, didas gerais de prevenção e controle de infecção
portas e sanitários. ainda dependem da conscientização e mudança
Os métodos de limpeza podem ser classificados de hábitos dos profissionais. Entretanto, sua adoção
em varredura úmida, que visa a remoção da sujeira implica a realização de atos simples e de fácil execu-
do chão, sem que ocorra suspensão de partículas no ção, tais como:
ar, realizada com o MOP ou pano úmido envolto no - lavar sempre as mãos antes de realizar qualquer
rodo, e lavagem, que visa remover a sujidade pelo procedimento - um dos mais importantes meios para
uso de água e detergente neutro, feita manual ou prevenir a infecção cruzada;
mecanicamente, utilizando-se máquinas lavadoras. - manter os cabelos longos presos durante o tra-
É atribuição do Serviço de Higiene realizar a lim- balho, pois quando soltos acumulam sujidades, poei-
peza do piso, paredes, teto e mobiliário da unidade, ra e microrganismos, favorecendo a contaminação
como mesas, telefones, extintores de incêndio. Ao do paciente e do próprio profissional;
Serviço de Enfermagem cabem as tarefas de limpe- - manter as unhas curtas e aparadas, pois as lon-
za e desinfecção de equipamentos e artigos relacio- gas facilitam o acúmulo de sujidades e microrganis-
nados à assistência do paciente, como bombas de mos;
infusão, monitores, aspiradores, comadre, bacias. - evitar o uso de jóias e bijuterias, como anéis, pul-
seiras e demais adornos, que podem constituir-se em
Fonte de infecção relacionada à equipe de saú- possíveis fontes de infecção pela facilidade de alber-
de: A equipe de saúde tem importante papel na garem microrganismos em seus sulcos e reentrâncias,
cadeia de transmissão da infecção hospitalar ou do- bem como na pele subjacente;
miciliar. As práticas adotadas para sua prevenção vi- - não encostar ou sentar-se em superfícies com
sam controlar a propagação de microrganismos que potencial de contamina ção, como macas e camas
habitam o ambiente hospitalar e diminuir os riscos de pacientes, pois isto favorece a disseminação de
do paciente vir a adquirir uma infecção. Por outro microrganismos.
lado, tanto as medidas gerais como as específicas
de prevenção e controle de infecção implantadas Lavando as mãos: No dia-a-dia de nosso trabalho
na instituição também direcionam-se para proteger executamos grande variedade de procedimentos, 405
o próprio trabalhador que ali desempenha sua fun- muitos deles repetidas vezes. Em geral, a importância
ção, quer seja prestando assistência direta ao pa- que lhes é conferida associa-se ao grau de comple-
ciente, como no caso do auxiliar de enfermagem ou xidade, à tecnologia envolvida, à capacidade de
do enfermeiro, quer seja indiretamente, como o fun- provocar danos ou complicações ao paciente e à
cionário da higiene hospitalar, da lavanderia ou da frequência de realização. A pouca adesão dos pro-
nutrição e dietética. fissionais da área de saúde à prática de lavagem das
Toda a equipe de saúde tem responsabilidade mãos reflete em parte essa situação, pois é procedi-
com relação à prevenção da infecção hospitalar, mento simples, comum na esfera social como hábi-
devendo fazer correto uso das técnicas assépticas, to de higiene, o que certamente não lhe confere o
dos equipamentos de proteção individual (EPI) e ou valor e o status de alta tecnologia. E muitas são as
coletivo (EPC), quando necessário. Por sua vez, o em- justificativas usadas pela equipe para não fazê-lo,
pregador tem a responsabilidade de disponibilizar os como, dentre outras: falta de pias e degermantes
recursos necessários à efetivação desses cuidados. A adequados, sobrecarga de serviço, situações de
prevenção e o controle da infecção fundamentam- emergência. Em contrapartida, os especialistas são
se nos princípios de assepsia, mediante a utilização unânimes em afirmar que este é um dos procedimen-
de medidas para impedir a penetração de microrga- tos mais significativos para a prevenção e o controle
nismos (contaminação) em local onde não estejam da infecção hospitalar, sendo-lhe atribuída a possibi-
presentes. lidade de redução acentuada da carga microbiana
As técnicas de assepsia devem ser utilizadas por quando as mãos são lavadas com água e sabão e
todos os profissionais de saúde em todos os proce- com degermantes como povidine ou clorhexidine.
dimentos, e são agrupadas sob a denominação de
assepsia médica e cirúrgica. A primeira, refere-se às Luvas esterilizadas e de procedimento: Outra
medidas adotadas para reduzir o número de micror- barreira utilizada para o controle da disseminação
ganismos e evitar sua disseminação; a segunda, para de microrganismos no ambiente hospitalar são as
impedir a contaminação de uma área ou objeto es- luvas, esterilizadas ou não, indicadas para proteger
téril. As medidas que visam reduzir e prevenir o cres- o paciente e o profissional de contaminação. As lu-
vas esterilizadas, denominadas luvas cirúrgicas, são não sejam realizados de maneira automatizada e im-
indicadas para a realização de procedimentos inva- pessoal, como se o paciente fosse uma máquina a
sivos ou manipulação de material estéril, impedindo ser analisada e manipulada nas suas diferentes pe-
a deposição de microrganismos no local. Exemplos: ças. Apesar de estar doente, ele não perde a con-
cirurgias, suturas, curativos, cateterismo vesical, den- dição de sujeito e cidadão. Sua autonomia deve ser
tre outros. resguardada. Ele tem total direito de ser esclarecido
As luvas de procedimento são limpas, porém não sobre os objetivos e natureza dos procedimentos de
esterilizadas, e seu uso é indicado para proteger o enfermagem, sua invasibilidade, duração dos trata-
profissional durante a manipulação de material, mentos, benefícios, prováveis desconfortos, inconve-
quando do contato com superfícies contaminadas nientes e possíveis riscos físicos, psíquicos, econômi-
ou durante a execução de procedimentos com risco cos e sociais, ou seja, sobre tudo o que possa funda-
de exposição a sangue, fluidos corpóreos e secre- mentar suas decisões. É muito comum o profissional
ções. Não há nenhum cuidado especial para calçá de saúde argumentar que boa parte dos pacientes
-las, porém devem ser removidas da mesma manei- não compreende as informações prestadas. Esque-
ra que a luva estéril, para evitar que o profissional se cem que, na maioria das vezes, isto é causado pela
contamine. inadequação de como são passadas, e não na pre-
tensa incapacidade de compreensão do paciente.
Fonte de infecção relacionada ao paciente: Na O natural pudor e intimidade dos pacientes de-
maioria das vezes, a pessoa hospitalizada tem seus vem ser sempre respeitados, pois espera-se que os
mecanismos de defesa comprometidos pela própria profissionais de enfermagem lhes assegurem ao má-
doença, tornando-se mais susceptível às infecções. ximo a privacidade. A intimidade deve ser preser-
Além disso, a infecção hospitalar pode ser predispos- vada mesmo quando são feitas perguntas pessoais,
ta por fatores tais como: por ocasião do exame físico e do tratamento, lem-
- idade - os idosos são mais susceptíveis às infec- brando que o conceito de intimidade tem diferen-
ções porque apresentam maior incidência de doen- tes significados para cada pessoa e fatores como
ças básicas que acabam debilitando e afetando seu idade, sexo, educação, condições socioeconômica
sistema imunológico, e pelas alterações de estrutura e culturais têm influência no mesmo. Os pacientes
e funcionamento do organismo; sempre esperam que o enfermeiro, técnico ou auxi-
406 - condições de higiene - a integridade da pele liar de enfermagem que lhe presta cuidados seja um
e da mucosa funciona como barreira mecânica aos profissional competente, com habilidade e seguran-
microrganismos. A camada externa da pele é consti- ça. Para que isto seja uma realidade e os resultados
tuída por células que se renovam e descamam con- eficazes, todos os cuidados devem ser previamente
tinuamente; como consequência, diversos tipos de planejados e organizados. Os materiais necessários à
sujidades a ela aderem com facilidade e microrga- execução dos procedimentos devem ser reunidos e
nismos multiplicam-se intensamente em toda a sua levados numa bandeja para junto do paciente, e o
superfície; ambiente devidamente preparado para evitar idas
- movimentação - a imobilidade no leito, causa- e vindas desnecessárias e a impressão de desleixo.
da por distúrbios neurológicos ou fraqueza, torna o Para a segurança do paciente, do próprio profissio-
paciente mais susceptível às infecções. Nessas con- nal e das pessoas que com ele trabalham, indica-se,
dições, apresenta maiores chances de desenvolver mais uma vez, lavar sempre as mãos antes e logo
úlceras de pressão, que causam ruptura na pele e após os cuidados dispensados.
facilitam a penetração de microrganismos; Para diminuir os riscos de o paciente vir a desen-
- certas enfermidades - como a Aids, em conse- volver infecção durante sua internação, a enferma-
qüência da diminui ção da defesa orgânica causa- gem implementa cuidados bastante diversificados,
da pela própria doença; de acordo com as condições e necessidades que
- estado de nutrição - a carência de proteínas e cada um apresenta. Dentre eles, os que visam à ma-
de outros nutrientes prejudica a formação e renova- nutenção da integridade cutâneomucosa, através
ção das células do nosso corpo, causando diminui- de cuidados de higiene, mobilização e alimentação
ção da resistência e retardamento do processo de adequada, são os que causam grande impacto nos
cicatrização de feridas. resultados do tratamento.
- Lavar os olhos, limpando o canto interno para o - Recompor a unidade do paciente, colocando
externo, usando gaze; tudo no lugar;
- Lavar, enxaguar e enxugar o rosto, orelhas e - Retirar as luvas e lavar as mãos;
pescoço; - Anotar no prontuário o que foi feito e as anorma-
- Remover a camisola ou camisa do pijama, man- lidades detectadas, se houver.
tendo o tórax protegido com o lencol, descansando
os braços sobre o mesmo; Banho de Aspersão (chuveiro): Material: Roupa
- Lavar e enxugar os braços e mãos do lado opos- pessoal (pijama, camisola, shorts - fornecidos pelo
to ao que se está trabalhando, depois o mais pró- Hospital); Toalha de banho; Sabonete (individual);
ximo, com movimentos longos e firmes, do punho a Pente; Luva de banho (opcional).
axila;
- Trocar a água; Técnica
- Lavar e enxugar o tórax e abdome, com movi- - Lavar as mãos;
mentos circulares, ativando a circulação, observan- - Explicar ao paciente o que vai ser feito;
do as condições da pele e mamas; - Reunir o material e levar ao banheiro;
- Cobrir o tórax com lençol limpo, abaixando o - Encaminhar o paciente ao banheiro (portas e
lençol em uso, até a região genital; janelas fechadas);
- Lavar, enxaguar e enxugar as pernas e coxas, - Abrir o chuveiro e regular a temperatura da
do tornozelo até a raiz da coxa, do lado oposto ao água e orientar o paciente sobre o manuseio da tor-
que se está trabalhando, depois o mais próximo; neira;
- Colocar bacia sob os pés e lavá-la, principal- - Ajudar o paciente a se despir, caso não consiga
mente nos interdígitos, observando as condições dos fazer sozinho;
mesmos e enxugar bem; - Iniciar o banho se a situação permitir, deixando
- Trocar a água da bacia e a luva de pano, obri- o paciente sozinho;
- Enxugar ou ajudar o paciente a fazê-lo, obser-
gatoriamente;
vando as condições da pele e a reação do banho;
- Encaixar a comadre no paciente;
- Vestir e pentear o paciente caso não consiga
- Fazer higiene íntima do paciente, de acordo
fazê-lo sozinho;
com a técnica;
- Conduzir o paciente a sua unidade, colocando 409
- Trocar, obrigatoriamente, a água da bacia e a
-o em posição confortável na cadeira;
luva de banho, retirando a comadre, deixando-a ao
- Arrumar o leito e deixar a unidade em ordem;
lado do leito;
- Colocar tudo no lugar e chamar o pessoal da
- Virar o paciente em decúbito lateral, colocando
limpeza para proceder a limpeza do banheiro;
a toalha sob às costas e nádegas, mantendo esta
- Lavar as mãos;
posição com o auxílio de outra pessoa;
- Anotar no prontuário.
- Lavar e enxugar as costas, massageando-as, in-
cluindo nádegas e cóccix do paciente; Obs: Sentar na cadeira embaixo do chuveiro é
- Deixar o paciente em decúbito lateral, empur- muito mais seguro para os pacientes idosos ou para
rando a roupa úmida para o meio do leito, enxugan- os pacientes que ainda estão muito fracos, facili-
do o colchão; tando para que lavem as pernas e pés, com menor
- Trocar de luvas ou lavar as mãos enluvadas, probabilidade de escorregarem; Durante o banho
para não contaminar a roupa limpa; deve-se assegurar a privacidade ao paciente, mas
- Proceder a arrumação do leito, com o paciente pedir-lhe para não trancar a porta e chamar se pre-
em decúbito lateral; cisar de assistência. Manter-se perto do local.
- Virar o paciente sobre o lado pronto do leito;
- Retirar a roupa suja e desprezá-la no hamper; Higiene Íntima Feminina: Material: 01 balde; 01
- Calçar outras luvas ou lavar as mãos enluvadas jarra; Pacote de gazes; Comadre; Toalha de banho;
e terminar a arrumação do leito; Sabão líquido o P.V.P.I. degermante; Luvas para pro-
- Fazer os cantos da cama: cabeceira e pés; cedimento; Hamper; Pinça auxiliar (Cheron); Biombo;
- Vestir o paciente; Forro e saco plástico.
- Pentear os cabelos do paciente;
- Trocar a fronha; Técnica
- Utilizar travesseiros para ajeitar o paciente no - Lavar as mãos;
decúbito mais adequado; - Explicar o procedimento ao paciente;
- Limpar balde, bacia, comadre com água e sa- - Reunir o material e colocá-los sobre a mesa de
bão; cabeceira;
- Colocar o paciente em posição diagonal, com - Dividir os cabelos em partes, aplicando a solu-
a cabeça próxima ao funcionário; ção com gaze, fazendo fricção no couro cabeludo
- Proteger os ouvidos do paciente com algodão; e no final embeber os cabelos;
- Colocar outra toalha ao redor do pescoço do - Prender o cabelo e colocar a faixa de crepe ao
paciente, afrouxando a camisola, no caso de mu- redor da cabeca, formando um gorro e fixando com
lher, ou retirando a camisa no caso de homem, co- esparadrapo no final;
brindo-o com o lençol; - Conservar o travesseiro com forro;
- Sustentar a cabeça do paciente com uma das - Retirar as luvas;
mãos, sobre a bacia com água; - Lavar as mãos;
- Pentear os cabelos, inspecionando o cou- - Deixar o paciente confortável e a unidade em
ro cabeludo, cabelos e observando condições de ordem;
anormalidade; - Levar a bandeja com o material para o local de
- Umedecer os cabelos com um pouco de água, origem;
- Fazer anotações no prontuário do paciente.
aplicando o shampoo evitando que o líquido escorra
nos olhos;
Obs: Deixar a solução no cabelo por 03 a 06 ho-
- Massagear o couro cabeludo com as pontas
ras pela manhã e lavá-la à tarde, passando vinagre
dos dedos;
após e penteando; Repetir o procedimento durante
- Lavar os cabelos;
03 dias ou mais, se necessário.
- Enxaguar os cabelos do paciente até sair toda
espuma, com o auxílio de uma jarra; Como colocar e retirar comadre do paciente
- Despejar a água da bacia, quantas vezes forem acamado: Material: Comadre; Papel higiênico; Biom-
necessário; bos; Bacia com água morna; Toalha de banho; Sa-
- Elevar a cabeça do paciente e espremer os ca- bonete.
belos com cuidado, fazendo escorrer água;
- Retirar a bacia que está sob a cabeça do pa- Técnica
ciente; - Lavar as mãos;
- Descansar e envolver a cabeça do paciente na - Identificar o paciente;
toalha; - Cercar a cama com biombos; 411
- Secar os cabelos com toalha de banho ou forro; - Explicar ao paciente o que vai ser feito;
- Pentear os cabelos do paciente; - Reunir o material necessário junto a unidade;
- Recolocar o travesseiro e voltar o paciente a po- - Colocar as luvas de procedimento;
sição inicial; - Aquecer a comadre (fazendo movimentos de
- Retirar a toalha, recompor o material no carro fricção em sua superfície, com a extremidade so-
de banho, deixando paciente em posição confortá- bre o lençol ou colocando-a em contato com água
vel; quente;
- Lavar as mãos; - Pedir ao paciente para levantar os quadris e se
- Anotar na prescrição do paciente. ele estiver impossibilitado, levantar por ele, com a
ajuda de outro funcionário da Enfermagem;
Tratamento de Pediculose e Remoção de Len- - Colocar a comadre sob os quadris;
deas: Material: Solução indicada para pediculose; - Deixar o paciente sozinho, sempre que possível;
Luvas para procedimento; Atadura de crepe; Espa- - Ficar por perto e voltar tão logo ele o chame;
radrapo; Forro e saco plástico; Pente fino; Biombo; - Entregar papel higiênico ao paciente, orien-
tando-o sobre a higiene íntima e se necessário, faça
Vaselina Líquida.
por ele;
- Pedir novamente ao paciente que levante o
Técnica
quadril ou, se necessário, levante por ele;
- Lavar as mãos;
- Retirar a comadre;
- Trazer a bandeja com o material e colocá-los na
- Fornecer bacia com água para que o paciente
mesa de cabeceira ou carro de banho;
lave as mãos;
- Explicar o procedimento ao paciente; - Fornecer toalha para que ele enxugue as mãos;
- Colocar biombo; - Lavar o material;
- Colocar o forro protegido com plástico sobre o - Colocar o material restante no lugar;
travesseiro; - Deixar o paciente em posição confortável;
- Aplicar vaselina nas bordas do couro cabeludo, - Desprezar as luvas e lavar as mãos;
para evitar que a solução queime o rosto; - Anotar no prontuário.
Obs: Não deixar um paciente esperando pela co- Medidas importantes para proporcionar conforto
madre, por se tratar de um ato fisiológico e a espera ao paciente:
pode levar a angústia física e emocional, podendo - Ambiente limpo, arejado, em ordem, com tem-
ocorrer diminuição do tônus dos esfíncteres. Por se peratura adequada e leito confortavel;
tratar de um momento íntimo, muitos pacientes tem - Boa postura, movimentação ativa ou passiva;
que ficar sozinhos, pois sentem-se inibidos, não con- - Mudança de decúbito;
seguindo evacuar perto de outras pessoas. - Respeito quanto a individualidade do paciente;
- Inspiração de sentimento de confiança, segu-
Massagem de Conforto rança e otimismo;
- Recreação através de TV, grupos de conversa-
É a massagem corporal realizada durante o ba- ção, trabalhos manuais, leituras.
nho de leito, e aconselhável ainda, após o uso de
comadre e durante a mudança de decúbito. Estimu- Prevenção de Escaras e Deformações: Pacientes
la a circulação local; Preveni escaras de decúbito; que permanecem muito tempo acamados requerem
Proporciona conforto e bem estar; Possibilita relaxa- uma atenção especial; os inconscientes geralmente
mento muscular. Material: Álcool 70%, ou creme ou apresentam reflexos alterados, com diminuição ou
ainda talco. abolição de movimentos voluntários. A imobilização
pode facilitar complicações traqueobronquicas; a
Técnica circulação pode-se tornar deficiente em determina-
- Aproximar o paciente na lateral do leito, onde dos pontos da área corporea, onde sofrem maior
se encontra a pessoa que irá fazer a massagem; pressão, provocando ulcerações (escaras de decúbi-
- Virar o paciente em decúbito ventral ou lateral; to); o relaxamento muscular e a posição incorreta dos
- Após lavar às costas, despejar na palma da mão vários segmentos do corpo pode provocar deformi-
pequena quantidade de álcool, creme ou talco; dades. A mudança de decúbito, exercícios passivos
- Aplicar nas costas do paciente massageando e massagem de conforto, são medidas utilizadas para
prevenir deformidades e escaras de decúbito.
com movimentos suaves e firmes, seguindo a seguin-
te orientacao:
Posição para Exames
a) Deslizar as mãos suavemente, começando
412 pela base da espinha e massageando em direção
Fowler: Paciente fica semi sentado. Usado para
ao centro, em volta dos ombros e dos lados das cos-
descanso, conforto, alimentação e patologias respi-
tas por quatro vezes;
ratórias.
b) Realizar movimentos longos e suaves pelo cen-
tro e para cima da espinha, voltando para baixo
SIMs: Lado direito: deitar o paciente sobre o lado
com movimentos circulares por quatro vezes;
direito flexionando-lhe as pernas, ficando a direita
c) Realizar movimentos longos e suaves pelo cen-
semi flexionada e a esquerda mais flexionada, che-
tro da espinha e para cima, retornando para baixo
gando próxima ao abdômen. Para o lado esquerdo,
massageando com a palma da mão, executando basta inverter o lado e a posição das pernas. Posição
círculos pequenos; usada para lavagem intestinal, exames e toque.
d) Repatir os movimentos longos e suaves que
deram início a massagem por três a cinco minutos e Genu-Peitoral: Paciente se mantém ajoelhado e
continuar com o banho ou mudança de decúbito. com o peito descansando na cama, os joelhos de-
vem ficar ligeiramente afastados. Posição usada para
Medidas de conforto e segurança do paciente: O exames vaginais, retais e cirurgias.
conforto e a segurança tem uma concepção ampla
e abrangem aspectos físicos, psicossociais e espiri- Ginecológica: A paciente fica deitada de costas,
tuais, constituindo necessidade básica do ser huma- com as pernas flexionadas sobre as coxas, a planta
no. Na admissão, se suas condições físicas permiti- dos pés sobre o colchão e os joelhos afastados um do
rem, deve-se apresentar o paciente para os compa- outro. É usado para sondagem vesical, exames vagi-
nheiros da enfermaria e a equipe de saúde. Mostrar nais e retal.
as dependências e orientá-lo quanto a equipe de
saúde. Mostar as dependências e orientá-lo quanto Litotomia: A paciente é colocada em decúbito
a rotina da unidade. Todas as condutas terapêuticas dorsal, as coxas são bem afastadas uma das outras e
e assistência de enfermagem devem ser precedidas flexionadas sobre o abdôme; para manter as pernas
de orientação, esclarecimento de dúvidas e encora- nesta posição usam-se suportes para as pernas (per-
jamento. neiras). Posição usada para parto, toque, curetagem.
Tredelemburg: O paciente fica em decúbito dor- - Colocar o braço esquerdo do paciente sobre
sal, com as pernas e pé acima do nível da cabeça, o tórax, o direito semiflexionado e abduzido sobre o
posição usada para retorno venoso, cirurgia de vari- leito e flexionar o joelho esquerdo;
zes, edema. - Colocar uma das mãos sobre o quadril do pa-
ciente e virá-lo delicadamente para o lado direito;
Ereta ou Ortostática: O paciente permanece em - Colocar um travesseiro apoiando a cabeça,
pé com chinelos ou com o chão forrado com um len- pescoço e ombro, outro amparando as costas e um
çol. Posição usada para exames neurológicos e cer- terceiro entre os membros inferiores;
tas anormalidades ortopédicas. - Colocar o braço esquerdo do paciente de
modo que não pressione o tórax;
Movimentação e Transporte de Paciente - Cobrir o paciente;
- Deixar a unidade em ordem.
É mover, e levantar ou transportar o paciente
para um determinado local através da utilização de Obs: Para as mudanças de decúbito inverso se-
movimentos planejados. guir os mesmos passos, mudando o posicionamento
dos executantes e do paciente.
Objetivos:
- Proporcionar conforto e segurança ao pacien- Duas Pessoas com Lençol
te; - Dobrar em leque a colcha e o sobre lençol;
- Evitar esforços desnecessários e lesões corporais; - Ficar uma pessoa de cada lado do paciente;
- Aliviar a pressão de determinada área (evitar - Soltar o lençol móvel;
escaras). - Enrolar as extremidades laterais do lençol bem
próximo do paciente;
O primeiro fator importante ao se mover ou levan- - Executar a técnica da seguinte maneira: ambos
seguram o lençol na altura do ombro e do terço su-
tar o paciente, é o emprego de uma boa mecânica
perior da coxa;
corporal por parte da enfermagem e de outra pes-
- Colocar o paciente para o lado esquerdo com
soa que ajude. Devem-se evitar esforços desneces-
movimentos sincronizados;
sários, prevenindo danos para si e para o paciente. 413
- Colocar o braço esquerdo do paciente sobre
Os movimentos devem ser planejados. É bom fazer
o tórax, deixando o outro semiflexionado e abduzido
uma pequena contagem para todos agirem juntos,
sobre o leito e flexionar o joelho esquerdo;
somando forças, empregando princípios de ergono-
- Colocar uma das mãos sobre o ombro e a outra
mia. Por exemplo, contar 1 – 2 – 3 – já!
sobre o quadril do paciente e virá-lo delicadamente
para o lado direito;
Procedimentos comuns:
- Colocar um travesseiro apoiando a cabeça,
- Lavar as mãos antes e após qualquer procedi-
pescoço e ombro, outro amparando as costas e ou-
mento;
tro entre os membros inferiores;
- Calçar luvas de procedimentos; - Colocar o braço esquerdo de modo que não
- Orientar o paciente sobre o procedimento; pressione o tórax;
- Registrar no prontuário todos os procedimentos - Prender o lençol;
realizados com o paciente; - Cobrir o paciente.
- Deixar a unidade em ordem;
OBS: Para movimentar o paciente do decúbito
Decúbito Dorsal para Lateral Direito ou Esquerdo dorsal para a lateral esquerda, seguir as mesmas re-
gras, mudando o posicionamento do paciente;
Duas Pessoas
- Dobrar em leque o sobrelençol até a altura dos Movimentação do Paciente para a Cabeceira
pés;
- As duas pessoas executantes devem colocar-se Quando o paciente auxilia
à esquerda do paciente; - Dobrar em leque a colcha e sobre lençol até
- 1ª pessoa: colocar o braço direito sob o ombro altura dos pés;
do paciente, apoiando a cabeça. Em seguida colo- - Proteger as grades de cabeceira com travessei-
car o braço esquerdo sob a região lombar; ros;
- 2ª pessoa: colocar o braço direito sob a região - Solicitar ao paciente, que flexione os joelhos,
lombar e o esquerdo sob o terço superior da coxa; apoiando firmemente as pernas e pés no colchão;
não aparece nos prontuários dos doentes. Refere-se vista como “lugar para a cura”; portanto, a morte é
aqui às expressões SPP – se parar, parou – ou SIR – sem como fracasso da instituição, e também dos profissio-
indicação para reanimação – ambos indicadores nais que ali atuam. Então, percebe-se que o procedi-
para não mais investir nesse paciente. mento supracitado é utilizado como um mecanismo
A resistência em diagnosticar um paciente como de “formação reativa” frente ao desejo de se afastar
terminal concerne também ao fato de se tratar de e de ignorar o paciente – fonte geradora de ansieda-
um diagnóstico definitivo que, no entanto, pode não de. Mediante isso, a equipe de saúde esconde seu
se confirmar com a evolução do caso. Assim, acre- desejo de que esse sujeito desapareça o mais rápi-
dita-se que, após considerar um paciente como ter- do possível através de uma luta para mantê-lo vivo,
minal, o profissional de saúde fique em uma situação o que, por sua vez, o coloca também numa prisão,
paradoxal, em que a sua melhora assinalaria a falha amarrando-o a uma situação de desnecessário sofri-
do profissional na realização do prognóstico. mento.
Com efeito, ser o diagnóstico de paciente ter- Considera-se, então, que o paciente terminal sig-
minal sem volta é o que o torna angustiante para o nifica a marca da perda da onipotência da equipe
profissional de saúde. A falta de exatidão frente ao de saúde, principalmente do médico, uma vez que
prognóstico de morte foi assinalada por Pitta, que as angústias suscitadas frente a ele e à morte se rela-
afirma que os progressos da terapêutica e da cirurgia cionam com a ‘exposição’ de uma ferida narcísica
tornam difícil saber quando uma doença grave será na prepotência médica. Ainda que o mal-estar ge-
mortal ou não. rado frente ao paciente terminal se apresente tanto
Evidenciou-se a quase inexistência de pacientes em médicos como em enfermeiros, nos primeiros ele
identificados como terminais. O que se encontrou, aparece com mais intensidade. Compreende-se que
mais frequentemente, foram registros informais em a justificativa para tanto se deve, em parte, ao fato
que não mais se pretende investir em determinados de que a expectativa do médico se concentra em
doentes, sendo eles identificados como SPP (se parar, conseguir salvar o paciente grave enquanto a do
parou) ou SIR (sem indicação de reanimação). Veri- enfermeiro está focalizada no cuidado do doente.
ficou-se ainda, nas observações e nos depoimentos, Assim sendo, esse posicionamento do profissional de
medicina tem repercussões problemáticas: se por um
que a decisão de não mais investir no paciente nun-
lado, quanto maior a gravidade do paciente, maior
ca é tomada por um profissional isolado; ela sempre é
é a sensação de poder ao salvá-lo; por outro lado,
feita pela equipe de saúde, incluindo também o posi- 415
quando não atinge esse objetivo, também é grande
cionamento da família.
a sensação de fracasso.
O significado do paciente terminal
A comunicação do diagnóstico
Ao acompanhar o paciente hospitalizado, a equi-
No que se refere à comunicação do diagnóstico
pe de saúde se empenha em lutar contra a doença.
ao paciente verifica-se que na Infectologia ela não
Dessa forma, pode-se perceber que esse seria defini-
parece tão conflitante como na Hemato-Oncolo-
do como um fator marcante que eleva a dificuldade
gia. De fato, o médico infectologista sente-se mais
de lidar com os terminais, pois a impossibilidade de à vontade na hora de dar o diagnóstico. Isso estaria
cura passa a ser sentida como sinal de fracasso. As- relacionado a duas situações: a primeira é que em
sim, atuar junto ao paciente terminal é estar no cen- se tratando de doenças contagiosas, como é o caso
tro de uma batalha. A literatura a respeito, tanto da do HIV/AIDS, a obrigação do profissional de comuni-
formação médica, quanto da enfermagem revela car o diagnóstico ao paciente se torna imperativa. A
que desde cedo o estudante é “moldado” para con- segunda situação que pode influenciar na maior faci-
siderar a morte como “o maior dos adversários”. Ela lidade de dar o diagnóstico por parte da equipe de
deverá ser sempre combatida e, se possível, vencida saúde do setor de Infectologia é que atualmente o
graças à melhor ciência, ou competência disponível. HIV/AIDS, em função do aperfeiçoamento dos trata-
Contudo, a equipe de saúde já entra na luta com o mentos e, por conseguinte, a melhora dos resultados,
ônus da derrota, pois esquece que a morte é maior e não é mais vista como sinônimo de morte.
mais evidente do que todo o tecnicismo do saber mé- Outra diferença notada é que a comunicação
dico. Estar na condição de lutar é uma tarefa exausti- do HIV/AIDS segue um processo inverso à do câncer.
va, em que as derrotas acontecem. Enquanto esta doença é falada primeiro aos familia-
No entanto, parece que admitir que não se tenha res, que decidem se a passam ou não ao paciente,
nada mais para fazer pelo paciente daria uma ima- no caso do HIV/AIDS geralmente é o contrário: a co-
gem negativa do profissional, mostrando que ele não municação se faz primeiramente ao paciente que
se preocupa com o paciente, que o abandonou. De por sua vez, decide se transmite ou não a informação
acordo com Torres e Gurgel, a instituição hospitalar é à família.
Não obstante existam essas diferenças entre os doente. Assim, esse deslocamento da problemática
dois setores, as mesmas desaparecem quando o pa- faz com que o profissional sinta-se liberado de sua
ciente do setor de infectologia é identificado como responsabilidade de contar. Não obstante, Klafke
sendo terminal. Ainda que, anteriormente, o diag- afirma que aqueles pacientes de médicos que não
nóstico do HIV/AIDS fosse primeiramente informado querem falar tendem a não perguntar, ou seja, os
ao paciente, agora a falta de possibilidades de cura que os médicos têm mais resistência em abordar o
será notificada à família, que decidirá se dá ou não diagnóstico de uma doença terminal, têm a tendên-
a notícia ao doente. cia a também não questionar sobre o seu estado.
Esse procedimento evidencia que não se consi- Como se afirmou anteriormente, frente à morte de
dera o paciente um sujeito responsável ainda que o um paciente, o profissional de saúde não consegue
mesmo seja maior de idade. De certa forma, a con- ficar incólume, carregando sempre um “resto”, um
dição do terminal parece implicar na perda dos seus mal-estar do qual não pode se livrar.
direitos, passando este a depender da família para Quando o profissional se defronta com um pa-
saber de sua condição, já que a equipe de saúde ciente terminal, o mesmo passa a ser visto como
delega a esta a responsabilidade de contar ou ocul- aquele que vem anunciar o desfecho inevitável; as-
tar essa informação. sim, ele põe o profissional de saúde antecipadamen-
te frente a esse mal-estar, sendo portanto alguém
O que não deve ser nomeado que incomoda, pela consciência de finitude suscita-
da em tal relação, demonstrando que a equipe de
Nos casos com prognóstico desfavorável se esta- saúde não possui um suporte adequado para lidar
belece uma aliança entre a família e o profissional de com o fim da vida, uma das tarefas do seu dia-a-dia.
saúde no que se refere à restrição da informação ao A inexistência de um protocolo claro que defina
paciente. Sendo que o compromisso de comunicar de maneira objetiva a partir de que momento um
o diagnóstico cabe ao profissional, a negativa da fa- paciente passa a ser considerado “terminal” é um fa-
mília de repassar essa noticia ao doente se constitui tor que incentiva a equipe de saúde a que, quando
num alívio para aquele que passa a ser dispensado assim identifica um paciente, somente o faça num
de uma tarefa para a qual não se sente capacitado. caráter informal, levando a tomar uma atitude am-
Esses procedimentos quanto à informação que deve bivalente para com o paciente, dificultando ainda
416 ou não ser transmitida ao paciente não constam dos mais o relacionamento com ele
registros oficiais, sendo a passagem de plantão o mo- No que tange à situação de terminalidade, esta
mento em que são repassadas entre a equipe. é, de fato, muito difícil para a equipe de saúde. Crê-
Na literatura, a aliança com a família é apontada se que o pouco espaço dado à expressão de senti-
como o primeiro passo no trabalho com o pacien- mentos frente à morte e a escassez de recursos que a
te. De fato, ela é de grande relevância para o trata- mesma sente possuir para enfrentar a problemática
mento ao permitir que equipe e familiares trabalhem do fim da vida sejam alguns dos fatores que se apre-
juntos objetivando, cada um de seu lugar, o melhor sentam como fundamentais para a existência do mal
para o enfermo. No entanto, verificou-se nesse estu- -estar que o paciente terminal gera na equipe. Assim,
do que essa aliança adquiriu um viés em que o pa- o paciente terminal deixa marcas no profissional que
ciente fica excluído das decisões. A equipe de saúde dele se ocupa. Contudo, segundo as características
e o familiar tornam-se cúmplices de um mesmo se- pessoais desse profissional, surgem distintas possibili-
gredo em relação a ele. É nesse sentido que se crê dades de lidar com tais problemáticas.
que a escolha de se comunicar com o familiar seja A primeira consiste em ele se utilizar de mecanis-
motivada pela dificuldade da equipe em lidar com a mos de defesa contra a dor e o sofrimento, protegen-
morte e, portanto, com o paciente terminal. do-se da aflição que nele é gerada. Uma segunda
Ficou evidente que o paciente não deve ter as opção referir-se-ia àqueles que convivem com a dor
mesmas informações que a equipe, pois ele faria mal e com uma ferida sempre aberta. Se a primeira for-
uso delas e as interpretaria de forma inadequada. ma de abordagem impede um relacionamento com
Assim, é passada uma informação filtrada através da o paciente e, muitas vezes, produz manifestações so-
qual se espera que ele pense aquilo que a equipe máticas ou psicológicas no profissional, a segunda,
avalia como benéfico. em função de gerar uma angústia constante, impos-
A equipe parece cega a suas resistências em sibilitaria a ele de realizar a sua tarefa. Entretanto,
se comunicar abertamente com o paciente e mes- existe uma terceira possibilidade que é a do profis-
mo nos casos em que a comunicação é valorizada, sional ter espaços em que essa angústia e dor sejam
sua ausência nunca é atribuída às dificuldades dos elaboradas e, assim, construir técnicas que lhe ofe-
profissionais, mas projetada na família ou no próprio reçam uma forma de trabalho com esses pacientes.
O despreparo da equipe de saúde para lidar com de de subtipos designados de -A a -J. Esses dois gru-
situações de terminalidade tem duas consequências pos tem diferenças consideráveis, sendo o HIV-2 mais
para os profissionais. A primeira representa a sensa- comum na África Subsaariana e bem incomum em
ção de fracasso do que seria a sua missão: curar o todo o resto do mundo. Portugal é o país da Europa
doente, do qual decorre o abandono do paciente com maior número de casos de HIV-2, provavelmen-
a seu próprio destino. A segunda consequência se te pelas relações que mantém com diversos países
manifesta no afastamento que impede o profissional africanos. É estimado que 45% dos portadores de HIV
de conhecer o universo desse paciente, suas queixas, em Lisboa tenham o vírus HIV-2. Em 2008, a OMS es-
suas esperanças e desesperanças, em suma, tudo o timou que existam 33,4 milhões de infectados, sendo
que ele sente e pensa nesse período de sua vida e 15,7 milhões mulheres e 2,1 milhões jovens abaixo de
cujo conhecimento o ajudaria a se aproximar do ter- 15 anos. O número de novos infectados neste ano
minal. (2009) foi de 2,6 milhões. O número de mortes de pes-
Grande parte das dificuldades de lidar com o soas com AIDS é estimado em 1,8 milhões.
paciente terminal está relacionada à da equipe de Já dentro do corpo, o vírus infecta principalmen-
saúde de se confrontar com a morte, que se reco- te uma importante célula do sistema imunológico,
menda um preparo das mesmas através de grupos designada como linfócito T CD4+ (T4). De uma forma
de discussão baseados na metodologia de Balint geral, o HIV é um retrovírus que ataca o sistema imu-
como estratégia para diminuir a ansiedade da equi- nológico causando eventualmente a síndrome da
pe. Diversos estudos já apontaram a importância de imunodeficiência adquirida em casos não tratados.
incluir nos currículos dos cursos da saúde discussões a
respeito desses processos promovendo maior huma- História: o HIV-1 foi descoberto e identificado
nização da saúde. Kovács faz referência a existência como causador da AIDS por Luc Montagnier e Fran-
de várias iniciativas nesse sentido. çoise Barré-Sinoussi da França e Odete Ferreira de
Recomenda-se, assim, que o preparo para tra- Portugal em 1983 no Instituto Pasteur na França. O
balhar com pacientes terminais se inicie nos próprios HIV-2 foi descoberto por Odete Ferreira de Portugal
cursos de graduação, uma vez que isto faz parte das em Lisboa em 1985. Sua descoberta envolveu uma
grande polêmica, pois cerca de um ano após Mon-
habilidades que os profissionais da saúde deveriam
tagnier anunciar a descoberta do vírus, chamando-o
ter; e possibilitaria deixar de ver o paciente terminal
de LAV (vírus associado à linfoadenopatia), Robert 417
como uma derrota, um caso perdido para enxergá
Gallo publicou a descoberta e o isolamento do HTLV-
-lo como um ser humano que pode e necessita ser
3. Posteriormente se descobriu que o vírus de Gallo
ajudado nessa etapa de sua vida.
era geneticamente idêntico ao de Montagnier, e
Uma melhora na forma como a equipe de saúde
que possivelmente uma amostra enviada pelo fran-
lida com o fim da vida possibilitaria não somente di-
cês havia contaminado a cultura de Gallo.
minuição de estresse, como também melhor desem-
O último boletim da UNAIDS projeta cerca de 33,2
penho no seu trabalho ao deixar de ser necessária a
milhões de pessoas que vivem com o HIV em todo o
utilização de medidas defensivas como as apresen-
mundo no final de 2007, a maioria na África. Segun-
tadas nas dificuldades de comunicação do diagnós-
do a UNAIDS (2008), dois terços dos infectados estão
tico. Nota-se, assim, a necessidade de criar espaços na África sub-saariana. Nos Estados Unidos, infectar
que deem sustentação ao lado afetivo dos profissio- voluntariamente outro indivíduo configura transmis-
nais que lidam com a morte e com o paciente termi- são criminosa do HIV. Acontece o mesmo em muitos
nal no seu cotidiano. Para tanto, sugere-se que sejam países ocidentais, inclusive no Brasil.
propiciados momentos para discutir as questões da O vírus do HIV adaptou-se à espécie humana a
morte e do morrer, tanto no meio acadêmico quanto partir de símios SIV.Ver artigo principal: Vírus da imu-
hospitalar, proporcionando a elaboração dos medos nodeficiência símia. Nas pessoas com HIV, o vírus
e fantasias da equipe de saúde frente ao desconhe- pode ser encontrado no sangue, no esperma, nas se-
cido que essa questão envolve. creções vaginais e no leite materno. Assim, uma pes-
soa pode adquirir o HIV por meio de relações sexuais,
HIV sem proteção - camisinha -, com parceiros portado-
res do vírus, transfusões com sangue contaminado e
O vírus da imunodeficiência humana (VIH), tam- injeções com seringas e agulhas contaminadas. Mu-
bém conhecido por HIV (sigla em inglês para human lheres grávidas portadoras de HIV podem transmitir
immunodeficiency virus), é da família dos retrovírus e o vírus para o feto através da placenta, durante o
o responsável pela SIDA (AIDS). Esta designação con- parto ou até mesmo por meio da amamentação. A
tém pelo menos duas sub-categorias de vírus, o HIV-1 transmissão de doenças de mãe para filho é chama-
e o HIV-2. No grupo HIV-1 existe uma grande varieda- da de transmissão vertical.
Reprodução em laboratório do genoma viral: em Fatores de risco: no contato sexual, pode ser
2010, pesquisadores da Universidades Federais de qualquer tipo de sexo, como oral, vaginal e anal. A
Pernambuco e do Rio de Janeiro, da equipa do pro- transmissão do HIV durante o contacto sexual pode
fessor do Departamento de Genética da UFPE, Sergio ser facilitada por vários fatores, incluindo:
Crovella, divulgaram trabalho de investigação dirigi-
do à obtenção de uma vacina terapêutica de vírus - Penetração sem camisinha;
recombinante, tendo reproduzido artificialmente o - Ser o receptor (passivo) na relação sexual;
genoma do vírus. - Presença concomitante de doenças sexual-
mente transmissíveis, especialmente aquelas que le-
Transmissão: Dois modelos sobre a entrada do ví- vam ao aparecimento de feridas genitais;
rus no linfócito TO vírus é mais frequentemente trans- - Lesões genitais durante a relação sexual;
mitido pelo contacto sexual (característica que faz - Elevado número de parceiros sexuais e relações
da AIDS uma doença ou infecção sexualmente trans- desprotegidas;
missível), pelo sangue (inclusive em transfusões), du- - Carga viral elevada da pessoa infectada;
rante o parto (mãe para o filho), durante a gravidez - Hemorróida avançada;
ou no aleitamento. Por isso é importante que todas as - Uso de drogas injetáveis;
mulheres grávidas façam testes para HIV. No Brasil, é - Transtornos psicológicos associados a descaso
uma prática comum aconselhar gestantes que che- com a própria saúde;
gam ao hospital a fazer todos os testes de doenças - Falta de conhecimento.
transmissíveis verticalmente. - Outro dado observado é o aumento na propor-
418 No Brasil, em 2002, a cobertura de exames de ção de pessoas com escolaridade mais baixa e em
HIV em grávidas foi estimada em 52%, sendo pior no adultos com mais de 30 anos.
Nordeste com 24% e melhor no Sul com 72% de co-
bertura. Somente 27% seguiram todas as recomenda-
Fatores de proteção: o uso de camisinha evita a
ções do Ministério da Saúde. Ter maior escolaridade
transmissão do HIV em casais heterossexuais onde um
e morar em cidades com mais de 500 mil habitantes
dos parceiros é HIV positivo. Alguns dos fatores que
foram os melhores preditores de grávidas que fazem
diminuem a probabilidade da transmissão são:
todos os exames. Ainda relativo ao Brasil, o Ministério
da Saúde oferece gratuitamente o leite substituto em
- Usar sempre preservativo masculino ou preserva-
alguns postos de saúde, hospitais e farmácias cadas-
tivo feminino corretamente;
trados.
- Usar lubrificante (pois resulta em menos microfe-
No caso de transmissão pelo sangue, é mais pro-
rimentos);
vável por seringas compartilhadas entre usuários de
- Baixa quantidade de vírus no portador;
drogas ou caso seja feita reutilização. Algumas pes-
- Tomar os medicamentos antirretrovirais correta-
soas consideram a possibilidade de transmissão pelo
beijo, porém é altamente improvável, pois o vírus é mente;
danificado por 10 substâncias diferentes presentes - Circuncisão masculina. (porém há estudos com
na saliva. Além disso existem poucas células CD4 na resultados controversos)
boca. Ter boa higiene oral e tomar os medicamentos
diminui as possibilidades ainda mais. Mesmo em pes- Em um estudo longitudinal de 20 meses de du-
soas com AIDS (carga viral no sangue por volta de ração com casais heterossexuais sorodiferentes, de
100.000/ml) é difícil encontrar HIV na saliva. 124 casais que usaram sempre camisinha nenhum
contaminou seu parceiro, enquanto 12 dos 121 que
Características: no Brasil, nos últimos anos a trans- usavam camisinha inconsistentemente foram infec-
missão do HIV que antes era predominantemente tados. Também são raros os casos de transmissão por
masculina, mais frequente entre os homossexuais e ferimentos, pois apesar de haver relatos esporádicos,
afetando todas as classes sociais, agora caracteriza- o vírus não resiste muito tempo fora do corpo e é ne-
se por quatro processos: cessário que haja contato com o sangue tanto por
parte do portador como do receptor. É pouco pro- são temporários. Os pacientes poderão ficar assinto-
vável que o sangue contaminado em contato com máticos por um período variável entre 3 e 20 anos
uma pele saudável (sem ferimentos) contamine ou- e alguns nunca desenvolverão doença relacionada
tra pessoa, apesar de ser possível, pois existem muitos ao HIV. Este fato relaciona-se com a quantidade e
fatores envolvidos. qualidade dos receptores de superfície dos linfóci-
O uso da terapia antirretroviral diminui em 96% o tos e outras células do sistema imune. Tais receptores
risco de transmissão do HIV. Por isso os remédios po- (os principais são o CD4, CCR5 e CXCR4) funcionam
dem ser receitados aos parceiros não infectados de como fechaduras que permitem a entrada do vírus
soropositivos. No caso de profissionais de saúde, é no interior das células: quanto maior a quantidade
possível tomar os medicamentos antirretrovirais para e afinidade dos receptores com o vírus,maior será a
prevenir a infecção por 28 dias caso o contágio te- sua penetração nas células, maior a replicação viral
nha ocorrido em menos de 72h. O risco estimado de e maior velocidade de progressão para doença.
contaminação por contato com uma agulha conta-
minada é de 0,3%. No Brasil, pacientes que tenham Foi criada então uma classificação não muito rí-
experienciado situação com alto nível de contágio gida:
(como sexo anal sem camisinha com pessoa de so- - Rápido progressor (adoece em até 3 anos)
rologia desconhecida) há menos de 72h podem so- - Médio progressor (adoece entre 4 e 7 anos)
licitar ao médico que prescreva antirretrovirais para - Longo progressor (entre 8 e mais anos)
prevenir a contaminação.
Estas características são determinadas por fato-
Sinais e sintomas res genéticos e outros fatores desconhecidos. Não
obstante, os hábitos e a qualidade de vida podem
Infecção aguda inicial: assim que se adquire o ser determinantes da velocidade de progressão
HIV, o sistema imunológico reage na tentativa de eli- da doença, tendo em conta o impacto de fatores
minar o vírus. Cerca de 15 a 60 dias depois, pode sur- como tabagismo, alcoolismo, toxicodependência,
gir um conjunto de sinais e sintomas semelhantes ao estresse, alimentação irregular e outros. A velocida-
estado gripal, o que é conhecido como síndrome da de de progressão está relacionada com a queda
soroconversão aguda. A infecção aguda pelo HIV
da contagem de linfócitos T CD4 no sangue (a con- 419
é uma síndrome inespecífica, que não é facilmente
tagem normal dos linfócitos varia de 1.000 a 2.500
percebida devido à sua semelhança com a infec-
células/ml de sangue) e com a contagem da carga
ção por outros agentes virais como a mononucleose,
viral do HIV (a contagem da carga viral é conside-
gripe, até mesmo dengue ou muitas outras infecções
rada alta acima de 100.000 cópias/ml de sangue. A
virais. Mas os sintomas mais comuns da infecção agu-
escala para carga viral é habitualmente logarítmica.
da são:
Com o tratamento adequado, a carga viral tende a
- Febre persistente
ficar abaixo de 50 cópias/ml.
- Cansaço e Fadiga
O HIV destrói os linfócitos CD4 gradativamente
- Erupção cutânea
(em média a contagem declina 80-100 células/ml/
- Perda de peso rápida
ano). A contagem relaciona-se inversamente com a
- Diarreia que dure mais de uma semana
gravidade da doença. Para fins de tratamento com
- Dores musculares
- Dor de cabeça as drogas antirretrovirais consideram-se os seguintes
- Tosse seca prolongada parâmetros:
- Lesões roxas ou brancas na pele ou na boca - Abaixo de 200 células/ml: Muito vulnerável, tra-
- Além disso, muitos desenvolvem linfadenopatia. tar imediatamente;
Faringite, mialgia e muitos outros sintomas também - Entre 200 e 350 células/ml: Vulnerável, deve ser
ocorrem. iniciado o tratamento para evitar riscos;
- Entre 350 e 500 células/ml: Pouco vulnerável,
Em geral esta fase é auto-limitada e não há se- pode começar a critério médico;
quelas. Por ser muito semelhante a outras viroses, - Acima de 500: Saudável, não precisa começar
dificilmente os pacientes procuram atendimento o tratamento.
médico e raramente há suspeita da contaminação - Porém todos os pacientes com doença oportu-
pelo HIV, a não ser que o paciente relate ocorrên- nista relacionada ao HIV devem ser tratados mesmo
cia de sexo desprotegido ou compartilhamento de com CD4 alto.
seringas, por exemplo. Entretanto, na fase aguda ini-
cial, mesmo sem tratamento adequado, os sintomas
Doenças oportunistas: Os sinais e sintomas das Mães soropositivas que tomem o antirretroviral
doenças relacionadas ao HIV são extremamente va- durante a gravidez tem apenas de 1 a 2% de chance
riáveis. Uma característica importante é a contagem de transmitir o HIV ao filho. Muitas grávidas ainda tem
de linfócitos T CD4. As doenças oportunistas mais co- medo de fazer o teste e/ou se recusam por não se
muns que podem sinalizar a contaminação por HIV identificarem como possíveis portadoras mesmo sem
são: saber a sorologia do parceiro. Por isso, campanhas
- Tuberculose de conscientização estão sendo feitas em vários hos-
- Neurotoxoplasmose pitais públicos no Brasil desde 2000.
- Candidíase Após situação de riscoCaso um dos parcei-
- Pneumocistose recorrente ros seja diagnosticado como HIV positivo e o outro
- Sarcoma de Kaposi como HIV negativo, é possível, a critério médico,
- Histoplasmose prescrever os antirretrovirais para o parceiro sorone-
- Linfomas gativo também, para prevenir a infecção. De forma
- Câncer cervical semelhante, em vários países inclusive no Brasil, é
- Infecções bacterianas severas possível solicitar antirretrovirais gratuitamente a um
médico até 72h após uma situação de risco (como
Geralmente apenas pessoas que desconhecem
sexo anal sem camisinha). Esse tratamento preven-
que estão com o vírus adoecem e só descobrem
tivo dura aproximadamente um mês e é eficaz na
que estão contaminadas por causa das coinfec-
prevenção de HIV em mais de 80% dos casos. É uma
ções. Tomar os antirretrovirais retorna a imunidade a
opção do médico prescrever ou não, mas o pacien-
níveis saudáveis, prevenindo essas e outras doenças.
te pode procurar outros médicos em caso de recusa.
Quando uma dessas doenças é diagnosticadas al-
Em uma pesquisa em uma parada gay nos Estados
guns médicos recomendam que sejam feitos testes
para verificar a presença do HIV. Apesar de correla- Unidos 7% dos entrevistados já tomaram antirretrovi-
cionadas ao HIV, é importante lembrar que é possível rais preventivamente. (Mais informações no site da
que essas doenças estejam presentes mesmo sem o sociedade brasileira de infectologia)
vírus do HIV, geralmente relacionado a outro fator
que leve a uma queda grave da imunidade. O HIV tem muitos genes que codificam proteínas
420 estruturais.
Prevenção: com o surgimento das Terapias Antir-
retrovirais (TAR), foram desenvolvidas estratégias de Genes retrovírus gerais
prevenção primária (antes da infecção), secundária - gag. proteínas derivadas do gag sintetizam o
(após a doença) e terciária (após agravamento). capsídeo viral em forma de cone (p24, i.e. proteína
Entretanto a epidemia continua a contaminar anual- de 24 Quilo[[dáltons, CA) a proteína do núcleocapsí-
mente 2,7 milhões de pessoas, segundo dados da deo (p17, NC) e um proteína da matriz (MA).
OMS de 2008. Em 2006, o médico da OMS Brian G. - pol. O gene pol codifica as proteínas enzimati-
William defendeu a circuncisão masculina na África camente ativas do vírus. A mais importante é a cha-
como método eficaz de prevenção (60% de eficá- mada transcriptase reversa (RT) que realiza a única
cia). O mesmo médico em fevereiro de 2010 defen- transcrição reversa do RNA viral em uma cadeia
deu em San Diego o uso de antirretrovirais com bai- dupla de DNA. O último é integrado ao genoma do
xos efeitos colaterais por pessoas sem o vírus como hospedeiro, ou seja, em um cromossomo de uma
meio de frear a epidemia. célula infectada de uma pessoa HIV-positiva pela
Segundo a Organização Não-Governamental integrase (IN) pol-codificadora. Além disso, a pol co-
sem fins lucrativos IAVI (International AIDS vaccine difica uma protease viral específica (PR). Essa enzima
iniciative) o HIV infecta quase 7.400 pessoas por dia cliva o gag e as proteínas derivadas de gag e pol em
e uma vacina com 50% de eficácia distribuída para pedaços funcionais.
30% da população mundial poderia proteger 5.6 mi- - env. env, abreviação para “envelope”. As pro-
lhões de indivíduos. Em conjunto com 40 laboratórios, teínas derivadas de env são uma membrana de
o grupo trabalha na vacina desde 1996. Até agora superfície (gp120) e uma proteína transmembrana
nenhuma vacina teve mais de 33% de eficácia. Em (gp41). Elas estão localizadas na parte externa da
um estudo recente que incluiu o Brasil, o uso de um partícula viral, formando um envelope viral o qual
comprimido de antirretroviral (tenofovir) por homens permite que o vírus se anexe e incorpore às células
saudáveis preveniu 44% de novas infecções, chegan- -alvo para então iniciar o ciclo infeccioso. A gp possui
do a 72% nos pacientes que tomaram o remédio em uma estrutura semelhante a uma maçaneta.
mais de 90% dos dias.
Muitas questões importantes estão envolvidos no Mesmo com o desenvolvimento da terapia antir-
estabelecimento de um curso de tratamento para retroviral altamente eficaz (HAART) a não-adesão ao
o HIV como a tolerância ao medicamento e efeitos tratamento ainda é frequente. É recomendado que
colaterais apresentados. Efeitos colaterais comuns in- os profissionais de saúde trabalhem em equipe, de-
cluem náusea e diarréia, dano e falência do fígado e senvolvendo programas específicos para lidar com
icterícia. Qualquer tratamento requer testes regulares essa demanda e dediquem mais tempo e atenção
de sangue para avaliar a eficácia através da conta- aos pacientes com dificuldade de adesão para evi-
gem de linfócitos T CD4+ no sangue total e a carga tar o desenvolvimento de AIDS e doenças oportunis-
viral) no plasma, além de averiguar efeitos colaterais. tas nesses pacientes.
Alterações de medicamentos são feitas para que
o paciente tenha um mínimo de efeitos colaterais, Imunidade: após a infecção inicial, o sistema imu-
ou mesmo que não apresente nenhum, o que é fre- nológico inicia uma série de reações para tentar con-
quente após o primeiro mês de tratamento. Não exis- ter a multiplicação do vírus no corpo. Elas incluem a
te nenhum caso conhecido no qual a terapia antivi- produção de anticorpos e o desenvolvimento de cé-
ral tenha eliminado a infecção pelo HIV, porém com lulas capazes de identificar e eliminar outras células
o tratamento é possível ter uma vida perfeitamente que foram infectadas pelo HIV, chamadas linfócitos
saudável e assintomática por mais de três décadas T CD8+ citotóxicos. Infelizmente, a resposta imuno-
(não se sabe por quanto tempo o tratamento conti- lógica não é capaz de controlar o vírus na grande
nua eficaz pois a TARV só existe há desde 94). maioria das pessoas que se infectam pelo vírus. O
HIV passa, então, a destruir cada vez mais as células
HIV e estupro: em caso de estupro, como a vio- T CD4+. Quando as células T CD4+ estão em núme-
lência do ato aumenta a probabilidade de contá- ro muito baixo no sangue (em geral, quando ficam
gio, um médico pode prescrever antirretrovirais para abaixo de 200 células por microlitro de sangue), o
diminuir a probabilidade de o vírus conseguir entrar paciente fica mais predisposto a desenvolver doen-
no CD4 e se reproduzir. Geralmente são receitados ças que se aproveitam de sua fragilidade imunológi-
junto com pílulas do dia seguinte. O mesmo procedi- ca, daí o nome de doenças oportunistas. Cerca de
mento pode ser prescritos para profissionais que tive-
10% de todos os europeus carregam um polimorfis-
ram contato com o sangue de pacientes contami-
mo do CCR5, um receptor de superfície celular que
422 nados, por exemplo através de cirurgia ou de agulha
participa nas infecções por HIV-1 M-trófico. Segun-
contaminada. Se o TARV for tomado em menos de
do Grimaldi (2002), na população brasileira, cerca
72h, é eficaz na prevenção da infecção por HIV.
de 5,3% carregam essa mutação. O HIV-1 M-trófico
usa os receptores CCR5 e CD4 para entrar nas cé-
HIV e Saúde mental: pacientes com transtornos
lulas-alvo, diferentemente do HIV T-trófico que usa o
psicológicos são mais vulneráveis a serem infectados
CXCR4 com o CD4. Pessoas com essa mutação (uma
com HIV. Portadores de HIV tem altos índices de de-
deleção de 32 pares de bases) têm um risco muito
pressão maior, alcoolismo e tendência ao suicídio.
baixo de infecção pelo HIV-1, já que o HIV M-trófico
Em outro estudo também identificaram correlação
geralmente inicia a infecção. De fato, 1% de todos os
com transtornos de ansiedade, transtornos sexuais e
abuso de substâncias. Um antirretroviral ITRNN muito europeus homozigotos para o polimorfismo podem
usado no mundo, o Efavirenz, também tem como ter uma proteção adicional (apesar de incompleta).
possível efeito colateral transtornos neuropsiquiátri-
cos crônicos, principalmente na forma de transtornos Mitos comuns a respeito do HIV
de ansiedade e de sono. A revelação do diagnósti-
co de HIV positivo é considerado um evento muito - “AIDS e HIV são a mesma coisa” - O HIV é um ví-
estressante e com impacto em várias áreas da vida rus que pode levar ao desenvolvimento da AIDS. Que
do portador, de modo semelhante a outras doenças ocorre quando o sistema imune fica comprometido
que ameaçam a vida. A maioria dos portadores rea- pela ação do vírus. Alguns tipos de doenças oportu-
giu ao diagnóstico como um evento traumatizante, nistas do HIV podem estar presentes em uma pessoa
porém conseguiram lidar com a situação sem muitos que possa ser diagnosticada como tendo AIDS. Uma
problemas psicossociais. Os portadores que desen- pessoa pode estar infectada por anos sem ter desen-
volveram transtornos psicológicos beneficiaram de volvido a AIDS. Alguém que seja HIV positivo pode
psicoterapia de longo prazo, principalmente da tera- não ter AIDS.
pia interpessoal em conjunto com remédios psiquiá- - “O HIV afeta apenas homossexuais e usuários
tricos. A Terapia cognitivo-comportamental também de drogas” - O HIV pode afetar qualquer um. Bebês,
demonstrou ser uma intervenção benéfica e aumen- mulheres, idosos, adolescentes, e pessoas de qual-
tar a adesão ao tratamento. quer etnia, classe social e país podem contrair o HIV.
Alguns religiosos disseram e ainda dizem que a AIDS para o bebê; Quando esses tratamentos estão dispo-
é uma punição divina aos homossexuais ou a promis- níveis e a futura mãe é diagnosticada o mais cedo
cuidade, porém se isso fosse verdade não deveriam possível, apenas cerca de 2% das mães HIV-positivas
haver contaminados pela mãe durante o nascimen- que estão prestes a dar à luz, terão filhos infectados.
to, em transplantes de órgãos, por doação de san- As infecções podem ocorrer também através do leite
gue ou ferimentos. materno sendo recomendado usar aleitamento arti-
- “Homossexuais, prostitutas e usuários de drogas ficial para evitar que isso ocorra. No Brasil o substituto
são os grupos de risco” - O termo grupos de risco é de leite materno em pó está disponível gratuitamen-
evitado atualmente por razões éticas, para não estig- te em alguns hospitais da rede pública.
matizar este ou aquele grupo, e também para que as - “Uma única pessoa identificada trouxe o HIV
pessoas fora do grupo de risco mantenham-se cau- para a América do Norte” - Ver verbete Paciente
telosas. Prefere-se usar o termo comportamento de Zero.
risco (como não usar preservativo, manter sexo com - A expectativa de vida de vida de uma portador
mais de um parceiro(a), compartilhar seringas). Ape- de HIV é de alguns anos - Sem tratamento a expec-
sar disso a ONU faz referência a uma maior vulnerabi- tativa média é de 9 a 11 anos. E caso só seja detec-
lidade à infecção pelo HIV por algumas populações tada quando o quadro de AIDS já está instalado e
como profissionais do sexo e seus clientes, população não for feito o tratamento adequado, a expectativa
carcerária e homens que fazem sexo com homens. é de apenas 6 a 19 meses. Mas com o avanço dos
Ainda segundo a ONU, em 2008, os jovens eram os retrovirais a expectativa aumentou para 20-50 anos.
mais vulneráveis já que representavam 45% do total É possível que seja maior pois o HIV só começou a ser
de novas infecções. No Brasil, entre os homens infec- estudado mais intensamente por volta de 1985 e a
tados 20,1% são homossexuais e 11,5% bissexuais, mas terapia antirretroviral eficaz só chegou ao Brasil por
a maioria dos infectados são heterossexuais. Dentre volta de 1996. Como vários laboratórios do mundo
os infectados, segundo dados do SUS de 2009, cerca estão procurando novos tratamentos é provável que
de 37,5% eram mulheres. O mesmo ocorre na maioria a expectativa aumente cada vez mais e tenha cada
dos outros países. vez menos efeitos colaterais.
- “Não há risco para duas pessoas já infectadas
ao ter sexo sem proteção” - Há anos a reinfecção - Picada de mosquito transmite HIV? - Não há re-
por HIV (ou superinfecção como é às vezes chama- latos conhecidos de infecção por mosquitos no mun- 423
da) tem sido vista como a consequência de relações do.
sexuais sem proteção entre pessoas infectadas pelo - Beijo transmite HIV - Existe um risco teórico, po-
HIV. A reinfecção ocorre quando uma pessoa com rém é quase nulo. Não há nenhum caso confirma-
HIV infecta-se pela segunda vez ao ter uma relação do de infecção pelo beijo no mundo. Mesmo em
sexual sem proteção com outra pessoa que também pacientes com AIDS (carga viral média acima de
tem o HIV. A reinfecção tem sido demonstrada em es- 100.000) e com doenças na cavidade oral menos de
tudos laboratoriais, bem como em modelos animais. 1/3 tinham vestígios do vírus na boca. Em um pacien-
Por anos, as provas de que isso poderia acontecer te seguindo o tratamento retro-viral corretamente
em situações da vida real tem sido difíceis de serem (carga viral menor que 100) é tão improvável que em
obtidas, mas uma evidência recente tem emergido 2009 o ministério da saúde brasileiro começou uma
em estudos de casos humanos que confirmou que a campanha contra esse preconceito. Existem 10 subs-
reinfecção pelo HIV pode ocorrer e pode ser muito tâncias na saliva que destroem o vírus. [46]
problemática para pessoas com o HIV. - Quem tem HIV pegou fazendo sexo desprote-
- “Pessoas acima dos 50 anos não contraem HIV” - gido - Provavelmente pela forte campanha de pre-
Pessoas acima dos 50 anos podem contrair HIV. O nú- venção focalizada no uso da camisinha muita gente
mero de pessoas acima dos 50 diagnosticadas com pense isso. Mas não necessariamente, até 1996, nem
infecção pelo HIV está aumentando. Em geral, pes- todo sangue ou órgão era examinado corretamente
soas mais velhas tendem a desenvolver deficiência antes da transfusão. Além disso, até 2000 menos da
imunológica mais rápido que os adultos mais jovens. metade das mães faziam todos os exames pré-natal
- “Uma mulher HIV positivo não pode dar à luz indicados e tanto complicações durante a gestação,
um bebê saudável” - o HIV é às vezes transmitido da durante o parto ou no leite podem transmitir o HIV.
mãe para o bebê no útero, mas nem sempre. O risco Mesmo quem foi contaminado sexualmente pode ter
é pelo menos de 20 a 30% para a transmissão ma- sido vítima de estupro (a violência do ato aumenta o
terno-fetal do HIV. O parto por cesárea e a ingestão risco de transmissão) ou pode ter sido contaminado
de medicamentos antiretrovirais durante a gravidez antes das campanhas de conscientização terem se
pode reduzir as chances de a mãe passar a infecção popularizado nos anos 90.
- Quem tem HIV é mais vulnerável a infecções célula torna-se altamente infectada, mas não produ-
oportunistas - Com o tratamento antirretroviral (TARV) zindo ativamente proteínas do HIV. Esse é o estágio
é possível o portador ter uma vida perfeitamente sau- latente do HIV, uma infecção durante a qual a célula
dável, sem qualquer sintomas nem efeitos colaterais infectada pode ser uma “bomba não explodida” po-
e com um sistema imunológico normal. E a quantida- tencialmente por um longo tempo. O vírus pode ficar
de do vírus geralmente fica centenas de milhares de escondido na medula óssea, onde fica protegido do
vezes menor que o de um paciente com AIDS. Caso efeito de medicamentos e dormente, conforme estu-
o paciente tome os remédios corretamente ele não do publicado na revista Nature Medicine. Descobrir
tem nenhuma restrição. onde o vírus latente se esconde é o primeiro passo
- Depois de beber não se deve ingerir os medica- para eliminá-lo.
mentos antirretrovirais - O álcool faz mal por diversos
outros motivos, então é bom evitar para não desgas- Dengue
tar o organismo e a saúde, porém ele não interage
medicamentosamente com a maioria dos tratamen- Dengue é a enfermidade causada pelo vírus da
tos antirretrovirais. Portanto mesmo após consumir ál- dengue, um arbovírus da família Flaviviridae, gênero
cool deve-se ingerir os medicamentos normalmente! Flavivírus, que inclui quatro tipos imunológicos: DEN-
Uma exceção é a interação com o efavirenz que 1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A infecção por um deles
tem seus possíveis efeitos colaterais como depressão, dá proteção permanente para o mesmo sorotipo e
insonia e dor de cabeça potencializados pelo álcool. imunidade parcial e temporária contra os outros três.
- Assim que a pessoa descobrir que é portador A dengue tem, como hospedeiro vertebrado, o ho-
ela deve começar o tratamento - Apenas caso os mem e outros primatas, mas somente o primeiro apre-
sintomas da AIDS já tenham aparecido. Mas caso fei- senta manifestação clínica da infecção e período de
tos antes dos sintomas podem demorar anos antes viremia de aproximadamente sete dias. Nos demais
de começar o tratamento. O tratamento só começa primatas, a viremia é baixa e de curta duração.
quando a imunidade está seriamente comprome- Nos países tropicais, a dengue é um sério pro-
tida. Existem alguns casos de pacientes que foram blema de saúde pública, pois as condições do meio
contaminados há mais de 12 anos e ainda não preci- ambiente favorecem o desenvolvimento e a prolife-
saram tomar o antirretroviral mas geralmente leva de ração do Aedes aegypti, principal mosquito transmis-
424 4 a 7 anos desde a infecção inicial. sor da doença.
O vírus da dengue, provavelmente, se originou de
Ciclo de vida do HIV: o HIV usa a membrana da vírus que circulavam em primatas na proximidade da
própria célula para se proteger enquanto se loco- península da Malásia. O crescimento populacional
move para outra célulaO HIV entra no linfócito auxi- aproximou as habitações da região à selva e, assim,
liar(Helper) T CD4+ ao ligar-se à molécula CXCR4 ou mosquitos transmitiram vírus ancestrais dos primatas
às moléculas CXCR4 e CCR5, dependendo do está- aos humanos que, após mutações, originaram nossos
gio no qual a infecção pelo HIV se encontra. Uma quatro diferentes tipos de vírus da dengue. Provavel-
proteína cofator (fusina) é requerida para auxiliar na mente, o termo dengue é derivado da frase swahili
ligação do vírus à membrana da célula T. Durante “ki dengupepo”, que descreve os ataques causados
as fases iniciais de uma típica infecção pelo HIV, as por maus espíritos e, inicialmente, usado para descre-
duas moléculas CCR5 e CXCR4 estão ligadas, en- ver a enfermidade que acometeu os ingleses duran-
quanto que um estágio mais avançado da infecção te a epidemia que afetou as Índias Ocidentais Espa-
geralmente envolve mutações do HIV que apenas nholas em 1927-1928. Foi trazida para o continente
ligam-se à molécula CXCR4. Uma vez que o HIV está americano a partir do Velho Mundo, com a coloniza-
ligado ao linfócito T CD4+, uma estrutura viral conhe- ção no final do século XVIII. Entretanto, não é possível
cida como GP41 penetra na membrana celular e o afirmar, pelos registros históricos, que as epidemias
RNA do HIV e várias enzimas, incluindo (mas não li- foram causadas pelos vírus da dengue, visto que seus
mitada) à transcriptase reversa, integrase e protea- sintomas são similares aos de várias outras infecções,
se são injetadas na célula. Uma vez que a célula T em especial, a febre amarela.
hospedeira não processa o RNA em proteínas, o pró- Atualmente, a dengue é a arbovirose mais co-
ximo passo é gerar um DNA a partir do RNA do HIV mum que atinge o homem, sendo responsável por
usando a enzima transcritase reversa para que ocor- cerca de 100 milhões de casos/ano em população
ra a transcripção reversa. Se bem sucedida, o DNA de risco de 2,5 a 3 bilhões de seres humanos. A febre
pró-viral deve ser então integrado ao DNA da célu- hemorrágica da dengue (FHD) e síndrome de cho-
la hospedeira usando a enzima integrase. Se o DNA que da dengue (SCD) atingem pelo menos 500 mil
pró-viral é integrado ao DNA da célula hospedeira, a pessoas/ano, apresentando taxa de mortalidade de
até 10% para pacientes hospitalizados e 30% para e o avanço da doença. Essa reintrodução não con-
pacientes não tratados.A dengue é endêmica no seguiu ser controlada com os métodos tradicional-
sudeste asiático e tem originado epidemias em vá- mente empregados no combate às doenças trans-
rias partes da região tropical, em intervalos de 10 a mitidas por vetores em nosso país e no continente.
40 anos. Uma pandemia teve início na década dos Programa essencialmente centrados no comba-
anos 50 no sudeste asiático e, nos últimos 15 anos, te químico, com baixíssima ou mesmo nenhuma par-
vem se intensificando e se propagando pelos países ticipação da comunidade, sem integração interse-
tropicais do Sul do Pacífico, África Oriental, Ilhas do torial e com pequena utilização do instrumental epi-
Caribe e América Latina. demiológico mostraram-se incapazes de conter um
Epidemias da forma hemorrágica da doença vetor com altíssima capacidade de adaptação ao
têm ocorrido na Ásia, a partir da década de 1950, e novo ambiente criado pela urbanização acelerada
no sul do Pacífico, na dos anos 80. Entretanto, alguns e pelos novos hábitos. Nos primeiros seis meses deste
autores consideram que a doença não seja tão re- ano, 84.535 pessoas tiveram dengue, enquanto que,
em 2003, as notificações chegaram a 299.764.
cente, podendo ter ocorrido nos EUA, África do Sul
e Ásia, no fim do século XIX e início do XX. Durante
Vetores e transmissão
a epidemia que ocorreu em Cuba, em 1981, foi re-
latado o primeiro de caso de dengue hemorrágica,
A transmissão se faz pela picada da fêmea con-
fora do sudeste da Ásia e Pacífico. Este foi considera-
taminada do mosquito Aedes aegypti ou Aedes al-
do o evento mais importante em relação à doença bopictus, pois o macho se alimenta apenas de seiva
nas Américas. Naquela ocasião, foram notificados de plantas. No Brasil, ocorre na maioria das vezes por
344.203 casos clínicos de dengue, sendo 34 mil ca- Aedes aegypti. Após um repasto de sangue infecta-
sos de FHD,10.312 das formas mais severas, 158 óbitos do, o mosquito está apto a transmitir o vírus, depois
(101 em crianças). O custo estimado da epidemia foi de 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A transmis-
de US$ 103 milhões. são mecânica também é possível, quando o repas-
Entre 1995 e o início de 2001, foram notificados à to é interrompido e o mosquito, imediatamente, se
Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS, por alimenta num hospedeiro susceptível próximo. Um
44 países das Américas, 2.471.505 casos de dengue, único mosquito desses em toda a sua vida (45 dias
dentre eles, 48.154 da forma hemorrágica e 563 óbi- em média) pode contaminar até 300 pessoas. Não 425
tos. O Brasil, o México, a Colômbia, a Venezuela, a há transmissão por contato direto de um doente ou
Nicarágua e Honduras apresentaram número eleva- de suas secreções com uma pessoa sadia, nem de
do de notificações, com pequena variação ao lon- fontes de água ou alimento. Na Ásia e África alguns
go do período, seguidos por Costa Rica, El Salvador, macacos silvestres podem contrair dengue e assim
Guatemala, Panamá, Porto Rico, Guiana Francesa, serem usados como vetores, porém na América do
Suriname, Jamaica e Trinidad & Tobago. Nota-se a Sul os macacos demonstraram baixa viremia, prova-
quase ausência de casos nos EUA, que notificaram velmente insuficiente e não há estudos comprovan-
somente sete, em 1995. A Argentina compareceu a do eles como vetores.
partir de 1998 e o Paraguai, a partir de 1999. Os ca-
sos de dengue hemorrágica e óbitos acompanham Casos de dengue no Brasil
a distribuição descrita acima, e parece não terem
relação com os sorotipos circulantes. No Brasil, os so- No Brasil, existem registros de epidemias de den-
rotipos registrados foram o 1 e o 2. Somente no ano gue no Estado de São Paulo, que ocorreram nos anos
de 2000 registrou-se o sorotipo 3. A Guatemala noti- de 1851/1853 e 1916 e no Rio de Janeiro, em 1923. En-
tre essa data e os anos 80, a doença foi praticamente
ficou a circulação dos quatro sorotipos, com baixo
eliminada do país, em virtude do combate ao vetor
número de casos graves e óbitos.
Aedes aegypti, durante campanha de erradicação
A dengue é um dos principais problemas de saú-
da febre amarela. Observou-se a reinfestação desse
de pública no mundo. A Organização Mundial da
vetor em 1967, provavelmente originada a partir dos
Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100 milhões de
países vizinhos, que não obtiveram êxito em sua erra-
pessoas se infectem anualmente, em mais de 100
dicação. Na década dos anos 80, foram registrados
países, de todos os continentes, exceto a Europa. novos casos de dengue: em 1981 - 1982 em Boa Vista
Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitaliza- (RR); em 1986 - 1987 no Rio de Janeiro (RJ); em 1986,
ção e 20 mil morrem em consequência da dengue. em Alagoas e Ceará; em 1987, em Pernambuco,
Em nosso país, as condições socioambientais favorá- Bahia, Minas Gerais e São Paulo; em 1990, no Mato
veis à expansão do Aedes aegypti possibilitaram a Grosso do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro; em 1991,
dispersão do vetor desde sua reintrodução em 1976 em Tocantins e, em 1992, no estado de Mato Grosso.
No período de 1986 a outubro de 1999, foram A cidade de Ilha Solteira lidera o ranking da epi-
registrados, no Brasil, 1.104.996 casos de dengue em demia de dengue no estado de São Paulo. Segundo
dezenove dos vinte e sete Estados. Observou-se flu- dados não oficiais, Ilha Solteira com pouco mais de
tuação no número de casos notificados entre 1986 26 mil habitantes conta com mais de 13 mil casos da
e 1993, seguido de aumento acentuado no número doença com 3 mortes até o mês de março de 2007. A
de notificações no período de 1994 a 1998, com que- prefeitura da cidade não manifestou preocupação
da em 1999. A média anual, após 1986, foi de 78.928 alguma e divulga na imprensa que no máximo 200
casos/ano, ficando acima desse valor em 1987, com pessoas tiveram dengue e que não houve qualquer
82.446 casos; em 1990, com 103.336; em 1995, com caso de morte. Tal situação causa preocupação,
81.608; em 1996, com 87.434; em 1997, com 135.671; pois a cidade conta com mais de três mil universitá-
em 1998, com 363.010 e 1999, com 104.658 casos. rios de diversas partes do país e devido a movimenta-
Observou-se a falta de uniformidade quanto ao ção destes, espalha à doença mais ainda.
modo de notificação da distribuição do número de Em 2008, a doença volta a assustar os cariocas.
casos, por estado. Alguns não têm dados disponíveis, Nessa epidemia, foram registrados quase 250 mil ca-
enquanto outros, como Mato Grosso, apresenta re- sos da doença e 174 mortes em todo o Estado (e ou-
gistros fragmentados, não incluindo todas as regiões. tras 150 em investigação), sendo 100 mortes e 125 mil
Quanto ao estado de São Paulo, verificou-se que casos somente na cidade do Rio de Janeiro. A epide-
foram notificados os casos confirmados por exames mia de 2008 superou, em número de vítimas fatais, a
de laboratório e, dentre os municípios, não constava epidemia de 2002, onde 91 pessoas morreram.
o da capital. No Estado de São Paulo, a dengue foi Recentemente, houve uma epidemia de Dengue
incluída no rol das doenças de notificação compul- no estado do Pará, sendo que das 7000 ocorrências
sória, em 1986. Em 1987, foram detectados dois focos no estado, 400 se deram na capital Belém. No esta-
da doença na região de Araçatuba, os quais foram do, 3 pessoas se encontram sob suspeita de dengue
controlados. Na região de Ribeirão Preto, a epidemia hemorrágica, sendo que uma é do município de Tu-
alcançou o pico em 1991, estendendo-se pelas re- curuí e duas são da capital Belém. Entre 1º de janeiro
giões de São José do Rio Preto, Araçatuba e Bauru, e 13 de fevereiro de 2010, foram notificados 108.640
confirmando as previsões de risco crescente de ocor- pacientes com a doença, 109% a mais que no mes-
rência da arbovirose. mo período de 2009. Os estados Mato Grosso do Sul,
426 Em resumo, agrupando por regiões, a Sudeste foi Acre, Rondônia, Goiás e Mato Grosso respondem por
a que registrou o maior número de casos, sendo tam- 71% desses casos. As altas temperaturas, grande vo-
bém a de maior população e disponibilidades de lume de chuvas e o retorno do tipo 1 do vírus expli-
recursos para diagnóstico e notificação. Seguem-se cam parte da epidemia.
em relação à incidência de dengue as regiões Nor- Como se pôde observar, a doença foi reconhe-
deste, Centro-Oeste, Sul e Norte. cida há aproximadamente 200 anos e tem apresen-
Em 2002, novamente o Rio de Janeiro foi casti- tado caráter epidêmico e endêmico variado. As
gado por uma epidemia de dengue, agora com a mudanças na dinâmica de transmissão da dengue
entrada do vírus tipo 3. Quase 290 mil pessoas con- podem ser explicadas pela baixa prevalência do
traíram a doença no Estado e 91 morreram em todo vírus até recentemente, quando houve maior dispo-
o Estado, sendo 65 mortes e 138 mil casos somente nibilidade de hospedeiros humanos. O aumento da
na capital. Foi o ano com mais casos de dengue na concentração humana em ambiente urbano propi-
história do país, concentrados no Rio de Janeiro. Em ciou crescimento substancial da população viral. As
10 anos, dobrou o número de Municípios infestados linhagens, que surgiram antes das aglomerações e
pelo mosquito transmissor da dengue. movimentações humanas terem início, tinham pou-
Segundo dados do Ministério da Saúde, entre ja- cas chances de causar grandes epidemias e termi-
neiro e setembro de 2006 foram registrados 279.241 navam por falta de hospedeiros susceptíveis. Entre-
casos de dengue o equivalente a 1 caso (não fatal) tanto, as alterações ambientais de natureza antró-
para cada 30 km ² do território desse país. Um cresci- pica têm propiciado o deslocamento e/ou dano à
mento de 26,3% em relação ao mesmo período em fauna e flora, bem como o acúmulo de detritos e de
2005. A maior incidência foi na Região Sudeste do recipientes descartáveis. Paralelamente, as mudan-
Brasil. Apesar dos números, para o Governo Federal ças nas paisagens têm promovido alterações micro-
não ocorre uma nova epidemia da doença no Bra- climáticas que parecem ter favorecido algumas es-
sil. No entanto, medidas para combater o mosquito pécies vetoras, em detrimento de outras, oferecendo
foram tomadas – como mapeamento de focos do abrigos e criadouros, bem como a disponibilidade de
Aedes aegypti e orientação à população das áreas hospedeiros. A dengue é uma doença muito grave.
com maior risco de infestação.
A síndrome de choque hemorrágico da dengue ocorre quando pessoas imunes a um sorotipo devido a
infecção passada já resolvida são infectadas por outro sorotipo. Os anticorpos produzidos não são específicos
suficientemente para neutralizar o novo sorotipo, mas ligam-se aos virions formando complexos que causam da-
nos endoteliais, produzindo hemorragias mais perigosas que as da infecção inicial. A febre é o principal sintoma..
Pacientes que apresentarem um ou mais dos sinais de alerta, acompanhados de evidências de hemocon-
centração e plaquetopenia, devem ser reidratados e permanecer sob observação médica até melhora do
quadro.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito clinicamente e por meio de exames laboratoriais. As pessoas em áreas endêmicas que
têm sintomas como febre alta devem consultar um médico para fazer análises sendo que o diagnóstico normal-
mente é feito por isolamento viral através de inoculação de soro sanguíneo (IVIS) em culturas celulares ou por
sorologia esse procedimento é essencial para saber se o paciente é portador do vírus da dengue. A definição da
Organização Mundial de Saúde de febre hemorrágica de dengue tem sido usada desde 1975. Todos os quatro
critérios devem ser preenchidos:
mas são necessários para matar a larva do mosquito venção é feita sobre o mosquito transmissor – Aedes
transmissor, sendo sugerida a utilização de 2 colheres aegypti – e o tratamento da doença é apenas sobre
dessa borra para cada meio copo d’água.Um dos os sintomas, com medicamentos para aliviar a febre
principais problemas no combate ao mosquito é lo- e as dores no corpo. A conclusão de que uma va-
calizá-lo. Atualmente, o Ministério da Saúde Brasileiro cina está mais perto de ser lançada veio depois de
utiliza o Índice Larvário, um método antigo, do início testes feitos com mais de 4 mil crianças na Tailândia.
do século XX, cujas informações são pouco confiá- Foi a terceira fase de testes de uma vacina candi-
veis e demoradas. data desenvolvida por pesquisadores do laboratório
O Ministério da Saúde indica que em algumas re- Sanofi Pasteur, e os resultados foram publicados pela
giões brasileiras foi detectada resistência do mosqui- revista médica “Lancet”. Essa é última etapa de exa-
to a larvicidas e inseticidas. Por isso, tem crescido a mes pela qual um medicamento precisa passar antes
idéia de utilizar mosquitos transgênicos. A estratégia de entrar no mercado. Antes disso, ele deve ter bons
possui vantagens ecológicas pela diminuição do uso resultados em animais e em etapas menores com
de inseticidas que costumam afetar outras espécies humanos. A Tailândia foi escolhida porque é uma re-
e prejudicar o ambiente. Recentemente, cientistas gião onde a doença é endêmica – a mesma vacina
da Universidade Federal de Minas Gerais desenvolve- também está sendo testada no Brasil. Embora os pes-
ram um método de monitoramento do mosquito uti- quisadores estejam animados, a vacina ainda não é
lizando armadilhas, produto atraente, computadores capaz de prevenir a dengue de uma forma geral. Um
de mão e mapas georreferenciados. O sistema, cha- dos grandes desafios do combate ao vírus da dengue
mado M.I. Dengue, permite localizar rapidamente são suas variações. Existem quatro subtipos do vírus, e
mosquitos nas áreas urbanas, permitindo ações de para cada um deles é preciso fazer uma vacina espe-
combate apenas nas áreas afetadas, com aumento cífica. Os quatro têm o mesmo potencial de provocar
da eficiência e economia de recursos. a doença e o mesmo perigo.
A vacina candidata testada na Tailândia contém
Desenvolvimento de vacina em uma única dose a mistura das quatro vacinas con-
tra cada subtipo do vírus. Contra os vírus tipo 1, 3 e 4, a
Ainda não há vacinas comercialmente disponí- taxa de imunização ficou entre 60% e 90% – o que os
veis para a dengue, mas a comunidade científica in- médicos consideram uma vacina eficaz. Além disso,
430 ternacional e brasileira está trabalhando firme neste não foram registrados efeitos colaterais significativos.
propósito. A dengue, com quatro vírus identificados No entanto, foi registrado um número relativamente
até o momento, é um desafio para os pesquisadores, alto de casos de dengue provocados pelo vírus tipo 2,
pois a sua vacina é mais complexa que as demais. um sinal de que a vacina não funcionou contra esse
É necessário fazer uma combinação de todos os ví- alvo específico. Os produtores da vacina ainda espe-
rus para que se obtenha um imunizante realmente ram pelos resultados da pesquisa na América Latina,
eficaz contra a doença. Pesquisadores da Tailân- com mais de 30 mil voluntários, para saber se a va-
dia estão testando uma vacina para a dengue em cina poderá ser aprovada. Esses estudos devem ser
3.000-5.000 voluntarios humanos após terem obtido concluídos em 2014.
sucesso em testes com animais e em um pequeno
grupo de voluntários humanos. Diversas outras vaci- Programa Nacional
nas candidatas estão entrando na fase I ou fase II das Com as dificuldades enfrentadas nas diversas ten-
pesquisas. Atualmente, existem vacinas de primeira, tativas de erradicação da doença, a ideia é garantir
segunda e terceira geração sendo testadas. As de uma forte campanha de mobilização social, em 2002
primeira geração contem vírus atenuados e tetrava- o objetivo passa a ser a redução do dano causado
lentes (para os 4 tipos de vírus) ou inativados. As de pela doença. A dengue é um dos principais proble-
segunda possuem proteínas recombinantes em dife- mas de saúde pública no mundo. A Organização
rentes sistemas e as de terceira geração são as de Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100
DNA. As de primeira geração foram testadas em ma- milhões de pessoas se infectem anualmente, em mais
cacos produzindo baixa viremia e neurovirulência.O de 100 países, de todos os continentes, exceto a Euro-
Instituto Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro anunciou pa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitali-
que em 2012 estará disponível uma vacina para os zação e 20 mil morrem em consequência da dengue.
quatro tipos de dengue. Em nosso país, as condições socioambientais fa-
Uma pesquisa publicada mostra, pela primeira voráveis à expansão do Aedes aegypti possibilitaram
vez, que é possível desenvolver uma vacina segura a dispersão do vetor desde sua reintrodução em 1976
e eficaz contra a dengue. Hoje, não existe nenhuma e o avanço da doença. Essa reintrodução não con-
vacina ou remédio contra o vírus da dengue. A pre- seguiu ser controlada com os métodos tradicional-
Verifica-se que quase 70% dos casos notificados A vigilância da dengue já conta com recursos
da dengue no país se concentram em municípios necessários, como sistemas de informação (Sistema
com mais de 50.000 habitantes que, em sua grande Nacional de Agravos de Notificação (Sinan) e o de
maioria, fazem parte de regiões metropolitanas ou Febre Amarela e Dengue - FAD) e profissionais treina-
pólos de desenvolvimento econômico. Os grandes dos na utilização dessas ferramentas. Uma análise do
centros urbanos, na maioria das vezes, são respon- sistema de vigilância indicou que a detecção pre-
sáveis pela dispersão do vetor e da doença para os coce dos casos, um dos mais importantes aspectos
municípios menores. Nesse cenário, o PNCD propõe- para o controle da doença, não estava sendo alcan-
se a implantar a estratégia de controle em todos os çada.
municípios brasileiros, com ênfase em alguns consi- No ano de 2001, foram realizadas cinco oficinas
derados prioritários, assim definidos: de treinamento para aprimoramento em análise de
1- Capital de estado e sua região metropolitana; dados de vigilância com o objetivo de otimizar o uso
2- Município com população igual ou superior a das informações produzidas pelos sistemas. Nessas
50.000 habitantes; e. oficinas foram apresentados os indicadores prioritá-
3- Municípios receptivos à introdução de novos rios que devem ser produzidos pelo menos a cada
15 dias para acompanhamento da situação epide-
sorotipos de dengue (fronteiras, portuários, núcleos
miológica, permitindo uma sinalização precoce da
de turismo, etc.).
mudança do padrão de ocorrência dos casos.
As atividades de vigilância não substituem as de-
Objetivos
mais atividades de controle da doença, devendo,
Os objetivos do PNCD são:
sim, ser desenvolvidas de forma concomitante e in-
• Reduzir a infestação pelo Aedes aegypti;
tegradas às demais ações. A vigilância epidemioló-
• Reduzir a incidência da dengue; gica da dengue no PNCD está baseada em quatro
• Reduzir a letalidade por febre hemorrágica de subcomponentes:
dengue.
- Vigilância de casos;
Metas O objetivo desse subcomponente é a detecção
• Reduzir a menos de 1% a infestação predial em em momento oportuno dos casos e orientar as medi-
432 todos os municípios; das de controle apropriadas.
• Reduzir em 50% o número de casos de 2003 em Ações
relação a 2002 e, nos anos seguintes, 25% a cada - Manter o Sinan como único sistema de infor-
ano; mações de notificação de casos. Nos períodos de
• Reduzir a letalidade por febre hemorrágica de epidemia, poderá ser adotado sistema de notifica-
dengue a menos de 1%. ção simplificado para o envio de informações. O uso
desta alternativa, quando necessário será autorizado
Componentes pela FUNASA e não substitui a obrigatoriedade de
O Programa Nacional de Controle da Dengue notificação posterior pelo Sinan;
(PNCD) será implantado por intermédio de 10 com- - Produzir quinzenalmente os indicadores prioritá-
ponentes. Em cada unidade federada deverão ser rios de acompanhamento da situação epidemioló-
realizadas adequações condizentes com as espe- gica;
cificidades locais, inclusive com a possibilidade da - Capacitar técnicos das secretarias de saúde de
elaboração de planos sub-regionais, em sintonia estado e dos municípios prioritários na análise dos da-
com os objetivos, metas e componentes do PNCD dos coletados;
apresentados a seguir. - Elaborar mapas municipais para monitoramento
das situações epidemiológicas e entomológicas.
• Vigilância Epidemiológica:
- Vigilância Laboratorial
O objetivo da vigilância epidemiológica da den-
O objetivo desse subcomponente é o aprimora-
gue é reduzir o número de casos e a ocorrência de
mento da capacidade de diagnóstico laboratorial
epidemias, sendo de fundamental importância que
dos casos para detecção precoce da circulação vi-
a implementação das atividades de controle ocorra
ral, e monitoramento dos sorotipos circulantes. A vigi-
em momento oportuno. Nesse caso, oportunidade é
lância laboratorial será empregada para atender às
entendida como detecção precoce da circulação
demandas inerentes da vigilância epidemiológica,
viral e adoção de medidas de bloqueio adequadas não sendo o seu propósito o diagnóstico de todos os
para interromper a transmissão. casos suspeitos, em situações de epidemia.
Ações Ações
- Descentralizar, sob a coordenação dos Labora- - Realizar a alimentação diária do FAD e proce-
tórios Centrais de Saúde Pública (Lacen), o diagnósti- der à análise dos dados de vigilância e controle de
co laboratorial (sorologia) para laboratórios públicos vetores em todos os municípios;
de saúde, localizados nas capitais e cidades polos; - Manter o sistema FAD como única fonte de in-
- Implantar novo kit diagnóstico (kit ELISA) para so- formações vetoriais para a vigilância da dengue.
rologia da dengue nos Laboratórios Centrais de Saú- A utilização de outros sistemas já existentes só será
de Pública, laboratórios de capitais e de municípios aceita após validação pela FUNASA, uma vez com-
polos, que possibilitará a realização do exame labo- provada a sua compatibilidade com o FAD;
ratorial em até quatro horas; - Realizar a consolidação e análise dos indica-
- Divulgar, para os médicos e para a rede assis- dores de acompanhamento da situação entomoló-
tencial, as indicações das diversas técnicas labora- gica, em todos os estados, para a identificação de
toriais na vigilância e no diagnóstico da dengue, em municípios de maior risco;
parceria com as sociedades de especialistas e con- - Implantar nova metodologia para realizar le-
selhos regionais e federal de Medicina;
vantamento rápido de índices de infestação, a ser
- Ampliar a rede de diagnóstico para isolamento
implementado pela FUNASA nos municípios de maior
viral para todos os Lacen;
risco.
- Implantar unidades sentinelas de coleta de
amostras de sangue para isolamento viral em muni-
Combate ao Vetor
cípios estratégicos;
- Implantar, em cinco laboratórios de referência As operações de combate ao vetor têm como
regional, a detecção viral por técnica de biologia objetivo a manutenção de índices de infestação in-
molecular (PCR). feriores a 1%.
Ações
- Vigilância em Áreas de Fronteiras - Estruturar as secretarias estaduais e municipais
O objetivo é a detecção precoce da introdução de Saúde com equipamentos necessários para as
de novos vírus/cepas nas regiões de fronteiras. A cir- ações de combate ao vetor, incluindo a disponibi-
culação do sorotipo 4 e de diferentes cepas dos de- lização de veículos e computadores para as SES e
mais sorotipos do vírus da dengue tem sido identifica- SMS de municípios prioritários; 433
da em alguns países que fazem fronteira com o Bra- - Implantar o FAD em todos os municípios;
sil: Guiana, Suriname, Bolívia, Venezuela, Colômbia, - Realizar a atualização do número de imóveis
Peru e Paraguai. Os municípios brasileiros que fazem em todos os municípios;
fronteira com esses países são, consequentemente, - Manter reserva nacional estratégica de equipa-
potenciais portas de entrada dessas cepas/sorotipos mentos para ações contingenciais de combate ao
no país. A adoção de barreiras sanitárias não é uma vetor;
estratégia factível de ser implantada, tornando ne- - Reduzir os índices de pendência a menos de
cessário um permanente monitoramento da circula- 10% em todos os municípios;
ção viral. O intercâmbio oportuno e regular de infor- - Promover a unificação da base geográfica de
mações epidemiológicas com os países de fronteira trabalho entre as vigilâncias epidemiológica, ento-
será realizado com o apoio da Organização Pan-A- mológica, operações de campo e Pacs/PSF (nas
mericana de Saúde (Opas). áreas cobertas pelos programas);
Ações - Supervisionar, por intermédio da FUNASA e das
- Implantar unidades sentinelas de vigilância para SES, a correta utilização dos equipamentos disponibi-
monitoramento da circulação viral e possível intro- lizados para as ações de combate ao vetor;
dução de novos sorotipos/cepas em municípios de
- Monitorar junto às SES e aos municípios o quanti-
fronteira selecionados;
tativo de pessoal envolvido na execução das ações
- Implantar o monitoramento virológico, em arti-
de combate ao vetor;
culação com a Agência Nacional de Vigilância Sani-
- Avaliar periodicamente a efetividade dos larvi-
tária, em portos, aeroportos e municípios de fronteira.
cidas e adulticidas utilizados no combate ao vetor;
- Assegurar que os equipamentos utilizados nas
- Vigilância Entomológica
Este subcomponente tem como objetivo princi- ações de combate ao vetor obedeçam aos pa-
pal o monitoramento dos índices de infestação por drões técnicos definidos para sua operação;
Aedes aegypti para subsidiar a execução das ações - Implantar o combate ao vetor, em articulação
apropriadas de eliminação dos criadouros de mos- com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em
quitos. portos, aeroportos e fronteiras;
- Promover ações conjuntas de combate ao ve- hábito da comunidade que contribuam para manter
tor em municípios de fronteira estadual, com a coor- o ambiente doméstico livre do Aedes aegypti. Além
denação da FUNASA; dessa ação educativa, os Agentes Comunitários de
- Promover ações conjuntas de controle vetorial Saúde (ACS) contribuirão para aumentar a sensibili-
em municípios de fronteira internacional, em articula- dade do sistema de vigilância por meio da notifica-
ção com a Opas. ção imediata da ocorrência de casos, bem como as
equipes de saúde da família atuarão para realizar o
Assistência aos Pacientes diagnóstico oportuno e o tratamento adequado das
Este componente tem como objetivo garantir a formas graves e hemorrágicas, resultando na redu-
assistência adequada aos pacientes e, consequen- ção da letalidade.
temente, reduzir a letalidade das formas graves da Para a maior efetividade dessas ações é im-
doença. Compreendem as ações de organização portante que se estabeleça, em cada município, a
do serviço, a melhoria na qualidade da assistência unificação das áreas geográficas de trabalho dos
e a elaboração de planos de contingência nos esta- Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e dos Agentes
dos e municípios para fazer frente ao risco da ocor- de Controle de Endemias (ACE), possibilitando uma
rência de epidemias de Febre Hemorrágica da Den- ação mais oportuna quando ocorrer à detecção de
gue (FHD). focos do mosquito e/ou de casos de dengue.
Organização dos Serviços Sociais As atribuições dos ACS, de acordo com a Portaria
Ações MS n°. 44, de 3/1/2002, são as seguintes:
- Organizar a rede assistencial, identificando uni- a) atuar junto aos domicílios informando os seus
dades de saúde de referência e o fluxo de atendi- moradores sobre a doença - seus sintomas e riscos - e
mento aos pacientes; o agente transmissor;
- Implantar, em municípios prioritários, o Sistema b) informar o morador sobre a importância da ve-
de Regulação de Leitos (SIS-REG), para orientação rificação da existência de larvas ou mosquitos trans-
do fluxo de pacientes; missores da dengue na casa ou redondezas;
- Elaborar nas três esferas de governo, planos de c) vistoriar os cômodos da casa, acompanhado
contingência para situações de epidemia (planeja- pelo morador, para identificar locais de existência de
mento de necessidades de leitos e instalações de UTI, larvas ou mosquito transmissor da dengue;
434 insumos, veículos, equipamentos e pessoal).
d) orientar a população sobre a forma de evitar
e eliminar locais que possam oferecer risco para a
Qualidade da Assistência
formação de criadouros do Aedes aegypti;
Ações
e) promover reuniões com a comunidade para
- Divulgar, para 310.000 médicos, protocolo pa-
mobilizá-la para as ações de prevenção e controle
dronizado de assistência ao paciente com dengue;
da dengue;
- Capacitar profissionais de saúde dos diferentes
f) comunicar ao instrutor supervisor do Pacs/PSF
níveis de complexidade (equipes de PSF, unidades
a existência de criadouros de larvas e ou mosquitos
básicas de saúde, pronto atendimento) com enfo-
transmissores da dengue, que dependam de trata-
ques específicos às suas esferas de atuação;
mento químico, da interveniência da vigilância sani-
- Implantar, em municípios prioritários, um sistema
tária ou de outras intervenções do poder público;
de registro - o cartão de acompanhamento - con-
g) encaminhar os casos suspeitos de dengue à
tendo as informações necessárias para assistência
adequada; unidade de saúde mais próxima, de acordo com as
- Assegurar, por intermédio da Agência Nacional orientações da Secretaria Municipal de Saúde.
de Saúde Suplementar, o atendimento dos casos de O Ministério da Saúde repassará aos municípios
dengue, pelos planos de saúde, para seus segurados; um recurso adicional, no valor de R$ 240,00 anuais,
- Viabilizar a realização de exames laboratoriais, por todos os ACS, para estimular essa integração nas
hematócrito e contagem de plaquetas, para o moni- ações de prevenção e controle de doenças, particu-
toramento dos casos de dengue. larmente a malária e a dengue.
Ações
Integração com a Atenção Básica - Capacitar os agentes comunitários de saúde
Esse componente tem como objetivo principal nas ações de prevenção e controle da dengue;
consolidar a inserção do Programa de Agentes Co- - Capacitar às equipes de saúde da família nas
munitários de Saúde e do Programa de Saúde da Fa- ações assistenciais adequadas para diagnóstico e
mília nas ações de prevenção e controle da dengue, tratamento das formas graves e hemorrágicas de
visando, principalmente, promover mudanças de dengue.
- Elaborar relatório periódico de avaliação da Em diversos países houve a ideia de que por volta
implantação do PNCD e enviar ao Conselho Na- de 2010 a doença estaria praticamente controlada e
cional de Saúde, a Comissão Intergestores Tripartite, inexistente. No entanto, o advento do HIV e da AIDS
bem como disponibilizar na página da FUNASA na mudaram drasticamente esta perspectiva. No ano
Internet; de 1993, em decorrência do número de casos da
- Manter grupo tarefa de 30 técnicos de nível doença, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
superior para assessorar as SES na implantação do decretou estado de emergência global e propôs
PNCD; o DOTS (Tratamento Diretamente Supervisionado)
- Constituir grupo executivo do Ministério da Saú- como estratégia para o controle da doença.
de para acompanhamento e avaliação das ativida-
des com representantes da FUNASA, Secretaria de Sintomas mais comuns: Entre seus sintomas, po-
Assistência à Saúde (SAS) e Secretaria de Políticas
de-se mencionar tosse com secreção, febre (mais
de Saúde (SPS), Agência Nacional de Vigilância Sa-
comumente ao entardecer), suores noturnos, falta
nitária (ANVISA) e Agência Nacional de Saúde Suple-
de apetite, emagrecimento, cansaço fácil e dores
mentar (ANS).
musculares. Dificuldade na respiração, eliminação
Referências: de sangue e acúmulo de pus na pleura pulmonar
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secre- são característicos em casos mais graves.
tarias/saude/vigilancia_em_saude/dengue/index.
php?p=4069 Contágio e evolução: A tuberculose se disse-
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2012/09/ mina através de aerossóis no ar que são expelidas
pesquisa-mostra-que-vacina-contra-dengue-pode- quando pessoas com tuberculose infecciosa tossem,
ser-segura-e-eficaz.html espirram. Contactos próximos (pessoas que tem
contato freqüente) têm alto risco de se infectarem.
Tuberculose A transmissão ocorre somente a partir de pessoas
com tuberculose infecciosa activa (e não de quem
A tuberculose - chamada antigamente de “pes- tem a doença latente). A probabilidade da trans-
te cinzenta”, e conhecida também em português missão depende do grau de infecção da pessoa
como tísica pulmonar ou “doença do peito” - é uma com tuberculose e da quantidade expelida, forma 437
das doenças infecciosas documentadas desde mais e duração da exposição ao bacilo, e a virulência. A
longa data e que continua a afligir a Humanidade cadeia de transmissão pode ser interrompida isolan-
nos dias atuais. É causada pelo Mycobacterium tu- do-se pacientes com a doença ativa e iniciando-se
berculosis, também conhecido como bacilo-de-ko-
uma terapia antituberculose eficaz.
ch. Estima-se que a bactéria causadora tenha evo-
luído há 40.000 anos, a partir de outras bactérias do
Notificação: A tuberculose é uma doença de
gênero Mycobacterium.
A tuberculose é considerada uma doença social- notificação obrigatória (compulsória), ou seja, qual-
mente determinada, pois sua ocorrência está direta- quer caso confirmado tem que ser obrigatoriamente
mente associada à forma como se organizam os pro- notificado.
cessos de produção e de reprodução social, assim
como à implementação de políticas de controle da Infecção: A infecção pelo M. tuberculosis se ini-
doença. Os processos de produção e reprodução cia quando o bacilo atinge os alvéolos pulmonares
estão diretamente relacionados ao modo de viver e e pode se espalhar para os nódulos linfáticos e daí,
trabalhar do indivíduo. através da corrente sanguínea para tecidos mais dis-
A tuberculose pulmonar é a forma mais frequente tantes onde a doença pode se desenvolver: a parte
e generalizada da doença. Porém, o bacilo da tu- superior dos pulmões, os rins, o cérebro e os ossos. A
berculose pode afetar também outras áreas do nos- resposta imunológica do organismo mata a maioria
so organismo, como, por exemplo, laringe, os ossos e dos bacilos, levando à formação de um granuloma.
as articulações, a pele (lúpus vulgar), os glânglios lin- Os “tubérculos”, ou nódulos de tuberculose são pe-
fáticos (escrófulo), os intestinos, os rins e o sistema ner- quenas lesões que consistem em tecidos mortos de
voso. A tuberculose miliar consiste num alastramento cor acinzentada contendo a bactéria da tubercu-
da infeção a diversas partes do organismo, por via lose. Normalmente o sistema imunológico é capaz
sanguínea. Este tipo de tuberculose pode atingir as de conter a multiplicação do bacilo, evitando sua
meninges (membranas que revestem a medula espi-
disseminação em 90% dos casos.
nhal e o encéfalo), causando infecções graves de-
nominadas de “meningite tuberculosa”.
Exame físico: Um exame físico é feito para avaliar cultivado, apesar de crescer lentamente e então, ou
a saúde geral do paciente e descobrir outros fatores imediatamente após colheita da amostra corado
que podem afetar o plano de tratamento da tuber- (com a técnica de Ziehl-Neelsen) e observado ao mi-
culose. Não pode ser usado como diagnosticador da croscópio óptico.
Tuberculose.
Prova Tubberculínica (Teste Tuberculínico ou de
Radiografia do tórax: A tuberculose cria cavi- Mantoux): Dentre a gama de testes disponíveis para
dades visíveis em radiografias como esta, na parte avaliar a possibilidade de TB, o teste de Mantoux en-
superior do pulmão direito. Uma radiografia postero volve injeção intradérmica de tuberculina e a medi-
-anterior do tórax é a tradicionalmente feita; outras ção do tamanho da envuração provocada após 72
vistas (lateral ou lordótico) ou imagens de tomografia horas (48 a 96 horas). O teste intradérmico de Man-
computadorizada podem ser necessárias. toux é usado no Brasil, nos EUA e no Canadá. O teste
de Heaf é usado no Reino Unido. Um resultado positi-
Em tuberculose pulmonar ativa, infiltrações ou vo indica que houve contato com o bacilo (infecção
consolidações e/ou cavidades são frequentemente latente da tuberculose), mas não indica doença, já
vistas na parte superior dos pulmões com ou sem lin- que, após o contágio, o indivíduo apresenta 5% de
fadenopatia (doença nos nódulos linfáticos) medias- chances de desenvolver a doença nos primeiros 2
tinal ou hilar. No entanto, lesões podem aparecer em anos. Este teste é utilizado para fins de controle epide-
qualquer lugar nos pulmões. Em pessoas com HIV e miológico e profilaxia em contactantes de pacientes
outras imuno-supressões, qualquer anormalidade com tuberculose. Em situações específicas, como no
pode indicar a TB, ou o raio-x dos pulmões pode até caso do diagnóstico da doença em crianças, pode
mesmo parecer inteiramente normal. Em geral, a tu- auxiliar no diagnóstico. O derivado de proteína pu-
berculose anteriormente tratada aparece no raio-x rificada (ou PPD), que é um precipitado obtido de
como nódulos pulmonares na área hilar ou nos lóbu- culturas filtradas e esterilizadas, é injetado de forma
los superiores, apresentando ou não marcas fibróticas intradérmica (isto é, dentro da pele) e a leitura do
e perda de volume. Bronquiectastia (isto é, dilatação exame é feita entre 48 e 96 horas (idealmente 72 ho-
dos brônquios com a presença de catarro) e marcas ras) após a aplicação do PPD. Um paciente que foi
pleurais podem estar presentes. exposto à bactéria deve apresentar uma resposta
Nódulos e cicatrizes fibróticas podem conter ba- imunológica na pele, a chamada “enduração”. 439
cilos de tuberculose em multiplicação lenta, com
potencial para progredirem para uma futura tuber- Classificação da reação à tuberculina: Os resulta-
culose ativa. Indivíduos com estas características em dos são classificados como Reator Forte, Reator Fraco
seus exames, se tiverem um teste positivo de reação ou Não Reator. Um endurecimento de mais de 5–15
subcutânea à tuberculina, devem ser consideradas mm (dependendo dos fatores de risco da pessoa) a
candidatos de alta prioridade ao tratamento da 10 unidades de Mantoux é considerado um resultado
infecção latente, independente de sua idade. De positivo, indicando infecção pelo M. tuberculosis.
modo oposto, lesões granulares calcificadas (granu-
lomas calcificados) apresentam baixíssimo risco de 5 mm ou mais de tamanho são positivos para a
progressão para uma tuberculose ativa. Anormali- TB em:
dades detectadas em radiografias do tórax podem - pacientes positivos para o HIV
sugerir, porém, nunca são exatamente o diagnóstico, - contatos com casos recentes de TB
de tuberculose. Entretanto, estas radiografias podem - pessoas com mudanças nodulares ou fibróticas
ser usadas para descartar a possibilidade de tuber- em raios-x do tórax, consistentes com casos antigos
culose pulmonar numa pessoa que tenha reação po- de TB curada
sitiva ao teste de tuberculina mas que não tenha os - Pacientes com órgãos transplantados e outros
sintomas da doença. pacientes imuno-suprimidos
Um teste negativo não exclui tuberculose ativa, especialmente se o teste foi feito entre 6 e 8 semanas após
adquirir-se a infecção; se a infecção for intensa, ou se o paciente tiver comprometimento imunológico. Um
teste positivo não indica doença ativa, apenas que o indivíduo teve contato com o bacilo. Não há relação
entre a eficácia da vacina BCG e um teste de Mantoux positivo. Uma BCG é suficiente; a revacinação não é
útil. Uma vacinação prévia por BCG dá, por vezes, resultados falso-positivos. Isto torna o teste de Mantoux pou-
co útil em pessoas vacinadas por BCG. A fim de melhorar o Teste de Mantoux, outros testes estão sendo de-
senvolvidos. Um dos considerados promissores observa a reação de linfócitos-T aos antígenos ESAT6 e CFP10.
Teste de Heaf
O Teste de Heaf é usado no Reino Unido, e também injeta a proteína purificada (PPD) na pele, observando-
se a reação resultante. Quando alguém é diagnosticado com tuberculose, todos os seus contatos próximos
devem ser investigados com um teste de Mantoux e, principalmente, radiografias de tórax, a critério médico.
Sistema de classificação
O sistema de classificação para a tuberculose mostrado abaixo é baseado no grau de patogenia da
doença. Os agentes de saúde devem obedecer às leis de cada país no tocante à notificação de casos de
440 tuberculose. As situações descritas em 3 ou 5 na tabela abaixo devem ser imediatamente notificadas às au-
toridades de saúde locais.
Tratamento: Pessoas com infecção de Tuberculo- neste caso, todas as bactérias sensíveis a ela morrem,
se (classes 2 ou 4), mas que não têm a doença (como e, três meses depois, o paciente sofrerá infecção de
nas classes 3 ou 5), não espalham a infecção para bactérias que conseguiram resistir a esta primeira
outras pessoas. A infecção por Tuberculose numa droga. Alguns medicamentos matam a bactéria, ou-
pessoa que não tem a doença não é considerada tros agem contra a bactéria infiltrada em células, e
um caso de Tuberculose e normalmente é relatada outros, ainda, impedem a sua multiplicação. Ressal-
como uma infecção latente de Tuberculose. Esta dis- ve-se que o tratamento deve seguir uma continuida-
tinção é importante porque as opções de tratamen- de com acompanhamento médico, e não suspenso
to são diferentes para quem tem a infecção latente pelo paciente após uma simples melhora. Com isto
e para quem tem a doença ativa. evita-se que cepas da bactéria mais resistentes so-
brevivam no organismo, e retornem posteriormente
Tratamento de infecção latente de tuberculose: com uma infecção mais difícil de curar. O tratamen-
O tratamento da infecção latente é essencial para to pode durar até 5 anos.
o controle e eliminação da TB, pela redução do ris-
co de a infecção vir a tornar-se doença ativa. Uma Prevenção: A imunização com vacina BCG dá
avaliação para descartar TB ativa é necessária an- entre 50% a 80% de resistência à doença. Em áreas
tes que um tratamento para tuberculose latente seja tropicais onde a incidência de mycobactérias atípi-
iniciado. Candidatos ao tratamento de tuberculose cas é elevada (a exposição a algumas “mycobac-
latente são aqueles grupos de muito alto risco, com terias” não transmissoras de tuberculose dá alguma
reação positiva à tuberculina de 5 mm ou mais, as- proteção contra a TB), a eficácia da BCG é bem
sim como aqueles grupos de alto risco com reações menor. No Reino Unido adolescentes de 15 anos são
cutâneas de 10 mm ou mais. Veja em inglês na Wiki- normalmente vacinadas durante o período escolar.
pédia,classification of tuberculin reaction.
Poliomielite
Há vários tipos de tratamento disponíveis, a crité-
rio médico. Poliomielite, ou paralisia infantil, é uma doença
contagiosa aguda causada pelo poliovírus (sorotipos
- Contatos próximos: são aqueles que dividem a
1, 2, 3), que pode infectar crianças e adultos por via
mesma habitação ou outros ambientes fechados. 441
fecal-oral (através do contato direto com as fezes ou
Aqueles com riscos maiores são as crianças com
com secreções expelidas pela boca das pessoas in-
idade inferior a 4 anos, pessoas imuno-deprimidas e
fectadas) e provocar ou não paralisia.
outros que possam desenvolver a TB logo após uma
A multiplicação desse vírus começa na gargan-
infecção. Contatos próximos que tenham tido uma
ta ou nos intestinos, locais por onde penetra no or-
reação negativa ao teste de tuberculina (menos de
ganismo. Dali alcança a corrente sanguínea e pode
5 mm) devem ser novamente testados 10 a 12 sema-
atingir o cérebro. Quando a infecção ataca o siste-
nas após sua última exposição à TB. O tratamento da
ma nervoso, destrói os neurônios motores e provoca
tuberculose latente pode ser descontinuado a crité-
paralisia flácida em um dos membros inferiores. A
rio médico.
doença pode ser mortal, se forem infectadas as cé-
- Crianças com menos de 4 anos de idade têm
grande risco de progressão de uma infecção para lulas dos centros nervosos que controlam os músculos
a doença, e de desenvolverem formas de TB poten- respiratórios e da deglutição.
cialmente fatais. Estes contatos próximos normalmen- A poliomielite foi praticamente erradicada nas
te devem receber tratamento para tuberculose la- áreas desenvolvidas do mundo com a vacinação sis-
tente mesmo quando não os testes de tuberculina ou temática das crianças, mas o vírus ainda está ativo
o raio-x do tórax não sugere TB. em alguns países da África e da Ásia. Para evitar que
seja reintroduzido nas regiões que não registram mais
Um segundo teste de tuberculina normalmente é casos da doença, as campanhas de imunização de-
feito de 10 a 12 semanas após a última exposição à vem ser repetidas todos os anos.
TB infecciosa, para que se decida se o tratamento
será descontinuado ou não. Sintomas
cubação da doença varia de dois a trinta dias sen- municipal de saúde e durante as campanhas nacio-
do, em geral, de sete a doze dias. A maior parte das nais de vacinação. A vacina contra a poliomielite
infecções apresenta poucos sintomas (forma subclí- oral trivalente deve ser administrada aos dois, quatro
nica) ou nenhum e estes são parecidos com os de e seis meses de vida. O primeiro reforço é feito aos 15
outras doenças virais ou semelhantes às infecções meses e o outro entre quatro e seis anos de idade.
respiratórias como gripe - febre e dor de garganta Também é necessário vacinar-se em todas as cam-
- ou infecções gastrintestinais como náusea, vômito, panhas.
constipação (prisão de ventre), dor abdominal e, ra-
ramente, diarréia. Cerca de 1% dos infectados pelo Sarampo
vírus pode desenvolver a forma paralítica da doen-
ça, que pode causar sequelas permanentes, insufi- Doença infecciosa, altamente contagiosa, faz
ciência respiratória e, em alguns casos, levar à morte. parte do grupo das doenças que se manifestam por
Em geral, a paralisia se manifesta nos membros infe- alterações marcantes da pele, exantema eritema-
riores de forma assimétrica, ou seja, ocorre apenas toso (pele avermelhada, com placas tendendo a se
em um dos membros. As principais características são unirem) e com comprometimento de vários órgãos.
a perda da força muscular e dos reflexos, com manu- O sarampo é causado por um vírus chamado morbili
tenção da sensibilidade no membro atingido. vírus.
Transmissão Sintomas
Uma pessoa pode transmitir diretamente para O sarampo é uma doença infecciosa aguda, vi-
a outra. A transmissão do vírus da poliomielite se dá ral, transmissível, extremamente contagiosa e muito
através da boca, com material contaminado com comum na infância. Os sintomas iniciais apresenta-
fezes (contato fecal-oral), o que é crítico quando dos pelo doente são: febre acompanhada de tos-
as condições sanitárias e de higiene são inadequa- se persistente, irritação ocular e corrimento do nariz.
das. Crianças mais novas, que ainda não adquiriram
Após estes sintomas, geralmente há o aparecimento
completamente hábitos de higiene, correm maior
de manchas avermelhadas no rosto, que progridem
risco de contrair a doença. O Poliovírus também
442 em direção aos pés, com duração mínima de três
pode ser disseminado por contaminação da água e
dias. Além disso, pode causar infecção nos ouvidos,
de alimentos por fezes. A doença também pode ser
pneumonia, ataques (convulsões e olhar fixo), lesão
transmitida pela forma oral-oral, através de gotículas
cerebral e morte. Posteriormente, as bactérias po-
expelidas ao falar, tossir ou espirrar. O vírus se multi-
dem atingir as vias respiratórias, causar diarreias e até
plica, inicialmente, nos locais por onde ele entra no
infecções no encéfalo. Acredita-se que estas com-
organismo (boca, garganta e intestinos). Em seguida,
plicações sejam desencadeadas pelo próprio vírus
vai para a corrente sanguínea e pode chegar até o
do Sarampo que, na maior parte das vezes, atinge
sistema nervoso, dependendo da pessoa infectada.
mais gravemente os desnutridos, os recém-nascidos,
Desenvolvendo ou não sintomas, o indivíduo infecta-
as gestantes e as pessoas portadoras de imunodefi-
do elimina o vírus nas fezes, que pode ser adquirido
por outras pessoas por via oral. A transmissão ocorre ciências.
com mais frequência a partir de indivíduos sem sin-
tomas. Transmissão
mais acentuados, câimbras, perda de peso intensa Vacinas possuem restrições de uso, sendo reque-
e olhos turvos. Causada pela bactéria Vibrio chole- ridas apenas como medida complementar, em ca-
rae, é uma doença com grande facilidade de dissi- sos de risco de infecção elevado, em pessoas cujas
pação. secreções ácidas estomacais são reduzidas.
O período de incubação é de aproximadamente Coleta de lixo rigorosa, a fim de evitar a prolife-
cinco dias. Vencendo a acidez estomacal, multipli- ração de vetores; enterrar as fezes longe de fontes
ca-se no intestino delgado de forma bastante rápida de água, quando não houver saneamento básico
e, em razão de seus sintomas, pode causar desidrata- adequado na região; reaquecimento dos alimentos
ção, perda de sais minerais e diminuição acentuada já cozidos; lavar as mãos constantemente; e evitar
da pressão sanguínea em curto espaço de tempo, alimentos de ambiente aquático de região onde
com possibilidades de causar a morte das pessoas houve surto da cólera, são medidas necessárias.
afetadas. O diagnóstico consiste no isolamento e identi-
É transmitida pela ingestão da água, alimentos, ficação do vibrião nas fezes do paciente. Para tra-
peixes, frutos do mar e animais de água-doce con- tamento, a reidratação é essencial e é, na maioria
taminados por fezes ou vômito de indivíduo portador dos casos, o único método necessário. Entretanto, a
da doença, sem o devido tratamento. Mãos que ti- visita ao médico é indispensável, já que só ele será
veram contato com a bactéria ou mesmo moscas e capaz de analisar o caso e, caso seja necessário,
baratas podem provocar a infecção por este pató- prescrever antibióticos. Medicamentos antidiarreicos
geno. Esses últimos podem funcionar como vetores não são indicados, já que facilitam a multiplicação
mecânicos, transportando o vibrião para a água e da bactéria por diminuírem o peristaltismo intestinal.
para os alimentos.
Na maioria dos casos, manifesta-se de forma as- Tétano
sintomática e este é um dos principais motivos que Causas
facilitam sua propagação, já que este portador
é capaz de transmitir a doença sem ao menos ter Esporos da bactéria C. tetani vivem no solo e po-
conhecimento deste fato. Apenas 10% das pessoas dem ser encontrados em todo o mundo. Na forma
afetadas desenvolvem o quadro sintomático. Os pa- de esporo, a C. tetani pode permanecer inativa no
cientes liberam os vibriões em suas fezes por cerca solo, mas continuar sendo infecciosa por mais de 40
444 de vinte dias. anos.
Essa doença ocasionou sete pandemias (epide- A infecção começa quando os esporos entram
mia simultânea em muitos países ou continentes), no corpo através de uma ferida ou de um ferimen-
sendo dois de seus sorotipos, o V. cholerae O1 e o V. to. Esses esporos liberam bactérias que se espalham
cholerae O139, os responsáveis. Estes são os únicos e formam um veneno chamado tetanospasmina.
tipos desta bactéria que liberam toxinas: as entero- Esse veneno bloqueia os sinais neurológicos da colu-
toxinas. na vertebral para os músculos, causando espasmos
A cólera afeta, principalmente, locais onde o musculares intensos. Os espasmos podem ser tão for-
saneamento básico é precário. A bactéria sobrevi- tes que rompem os músculos ou causam fraturas na
ve por até cinco dias em temperatura ambiente e é coluna.
resistente ao congelamento. No ambiente marinho, O tempo entre a infecção e os primeiros sinais dos
vive bem em temperaturas entre 10 e 30°C. Entretan- sintomas é geralmente de 7 a 21 dias. A maioria dos
to, não resiste a temperaturas acima de 80°C e tam- casos de tétano nos Estados Unidos ocorre em indiví-
pouco à exposição ao cloro. duos que não foram devidamente vacinados contra
Assim, a fervura ou cloração de água e alimen- a doença.
tos antes de sua ingestão e evitar o uso de gelo em
bebidas, salvo quando este tiver sido feito com água Exames
tratada, são algumas das principais medidas para
impedir a manifestação da doença. Seu médico realizará uma exame físico e fará
A Organização Mundial de Saúde recomenda perguntas sobre seu histórico médico. Não existe um
a proporção de seis mL de cloro para cada litro de teste de laboratório específico disponível para deter-
água, adicionado no mínimo meia hora antes da minar o diagnóstico do tétano.
sua utilização como bebida ou para o preparo de
alimentos. Recomenda ainda, para desinfecção de Imunização ativa x passiva
frutas e verduras, a imersão destas, por meia hora,
em dois mL para cada litro de água, sendo depois A imunização ativa ocorre quando o próprio sis-
lavadas com água tratada. tema imune da criança, ao entrar em contato com
uma substância estranha ao organismo, responde A razão desse destaque internacional é o Progra-
produzindo HU anticorpos UH e células imunes (linfó- ma Nacional de Imunizações, nascido em 18 de se-
citos T). Esse tipo de imunidade geralmente dura por tembro de 1973, chega aos 30 anos em condições
vários anos, às vezes, por toda uma vida. de mostrar resultados e avanços notáveis. O que foi
Os dois meios de se adquirir imunidade ativa são alcançado pelo Brasil, em imunizações, está muito
contraindo uma doença infecciosa e a HU vacina- além do que foi conseguido por qualquer outro país
ção UH. de dimensões continentais e de tão grande diversi-
A imunização passiva é obtida pela transferência dade socioeconômica.
à criança de anticorpos produzidos por um animal No campo das imunizações, somos vistos com
ou outro homem. Esse tipo de imunidade produz uma respeito e admiração até por países dotados de con-
rápida e eficiente proteção, que, contudo, é tempo- dições mais propícias para esse trabalho, por terem
rária, durando em média poucas semanas ou meses. população menor e ou disporem de espectro social
A imunidade passiva natural é o tipo mais comum de e econômico diferenciado. Desde as primeiras vaci-
imunidade passiva, sendo caracterizada pela passa- nações, em 1804, o Brasil acumulou quase 200 anos
gem de anticorpos da mãe para o feto através da de imunizações, sendo que nos últimos 30 anos, com
placenta. Essa transferência de anticorpos ocorre a criação do PNI, desenvolveu ações planejadas e
nos últimos 2 meses de gestação, de modo a conferir sistematizadas. Estratégias diversas, campanhas, var-
uma boa imunidade à criança durante seu primeiro reduras, rotina e bloqueios erradicaram a febre ama-
ano de vida. A imunidade passiva artificial pode ser rela urbana em 1942, a varíola em 1973 e a poliomie-
adquirida sob três formas principais: a HU imunoglo- lite em 1989, controlaram o sarampo, o tétano neo-
bulina humana combinada UH, a HU imunoglobulina natal, as formas graves da tuberculose, a difteria, o
humana hiperimune UH e o HU soro heterólogo UH. A tétano acidental, a coqueluche. Mais recentemente,
transfusão de sangue é uma outra forma de se ad- implementaram medidas para o controle das infec-
quirir imunidade passiva, já que, virtualmente, todos ções pelo Haemophilus influenzae tipo b, da rubéola
os tipos de produtos sanguíneos (i.e. sangue total, e da síndrome da rubéola congênita, da hepatite B,
plasma, concentrado de hemácias, concentrado de da influenza e suas complicações nos idosos, tam-
plaquetas, etc) contêm anticorpos.
bém das infecções pneumocócicas.
Hoje, os quase 180 milhões de cidadãos brasileiros
Conceito e Tipo de Imunidade 445
convivem num panorama de saúde pública de redu-
Programa de Imunização
zida ocorrência de óbitos por doenças imunopreve-
níveis. O País investiu recursos vultosos na adequação
Programa de imunização e rede de frios, conser-
de sua Rede de Frio, na vigilância de eventos adver-
vação de vacinas
sos pós-vacinais, na universalidade de atendimento,
nos seus sistemas de informação, descentralizou as
PNI: essas três letras inspiram respeito internacio-
ações e garantiu capacitação e atualização técni-
nal entre especialistas de saúde pública, pois sabem
co-gerencial para seus gestores em todos os âmbitos.
que se trata do Programa Nacional de Imunizações,
As campanhas nacionais de vacinação, voltadas em
do Brasil, um dos países mais populosos e de território
mais extenso no mundo e onde nos últimos 30 anos cada ocasião para diferentes faixas etárias, propor-
foram eliminadas ou são mantidas sob controle as cionaram o crescimento da conscientização social a
doenças preveníveis por meio da vacinação. respeito da cultura em saúde.
Na Organização Pan-Americana da Saúde Antes, no Brasil, as ações de imunização se vol-
(OPAS), braço da Organização Mundial de Saúde tavam ao controle de doenças específicas. Com o
(OMS), o PNI brasileiro é citado como referência PNI, passou a existir uma atuação abrangente e de
mundial. Por sua excelência comprovada, o nosso rotina: todo dia é dia de estar atento à erradicação
PNI organizou duas campanhas de vacinação no Ti- e ao controle de doenças que sejam possíveis de
mor Leste, ajudou nos programas de imunizações na controlar e erradicar por meio de vacina, e nas cam-
Palestina, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Nós, os panhas nacionais de vacinação essa mentalidade é
brasileiros do PNI, fomos solicitados a dar cursos no intensificada e dirigida à doença em foco. O objetivo
Suriname, recebemos técnicos de Angola para se- prioritário do PNI, ao nascer, era promover o controle
rem capacitados aqui. Estabelecemos cooperação da poliomielite, do sarampo, da tuberculose, da dif-
técnica com Estados Unidos, México, Guiana France- teria, do tétano, da coqueluche e manter erradica-
sa, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Bolívia, da a varíola.
Colômbia, Peru, Israel, Angola, Filipinas. Fizemos doa- Hoje, o PNI tem objetivo mais abrangente. Para
ções para Uruguai, Paraguai, República Dominicana, os próximos cinco anos, estão fixadas as seguintes
Bolívia e Argentina. metas:
- ampliação da auto-suficiência nacional dos mente lançados nestes 30 anos, o maior deles sendo
produtos adquiridos e utilizados pela população bra- a difícil tarefa de manejar um programa que traba-
sileira; lha articulado com os 26 estados, o Distrito Federal e
- produção da vacina contra Haemophilus in- os 5.560 municípios, numa vasta extensão territorial,
fluenzae b, da vacina combinada tetravalente (DTP cobrindo uma população de 174 milhões de habi-
+ Hib), da dupla viral (contra sarampo e rubéola) e tantes, entre crianças, adolescentes, mulheres, adul-
tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba), tos, idosos, indígenas e populações especiais.
da vacina contra pneumococos e da vacina contra Enquanto diversidades culturais, demográficas,
influenza e da vacina anti-rábica em cultivo celular. sociais e ambientais são suplantadas para a realiza-
ção de atividades de vacinação de campanha e ro-
As competências do Programa, estabelecidas no tina, novas iniciativas e desafios vão sendo lançados.
Decreto nº 78.231, de 12 de agosto de 1976 (o mesmo Desses, vale a pena citar alguns: Programas regionais
que o institucionalizou), são ainda válidas até hoje: do continente americano – Os programas de erradi-
- implantar e implementar as ações relacionadas cação da poliomielite, eliminação do sarampo, con-
com as vacinações de caráter obrigatório; trole da rubéola e prevenção da síndrome da rubéo-
- estabelecer critérios e prestar apoio técnico a la congênita e a prevenção do tétano neonatal são
elaboração, implantação e implementação dos programas regionais que requerem esforços conjun-
programas de vacinação a cargo das secretarias de tos dos países da região, com definição de metas, es-
saúde das unidades federadas; tratégias e indicadores, envolvendo troca contínua e
- estabelecer normas básicas para a execução oportuna de informações e realização periódica de
das vacinações; avaliações das atividades em âmbito regional.
- supervisionar, controlar e avaliar a execução O PNI tem desempenhado papel de destaque,
das vacinações no território nacional, principalmente sendo pioneiro na implementação de estratégias
o desempenho dos órgãos das secretarias de saúde, como a vacinação de mulheres em idade fértil con-
encarregados dos programas de vacinação; tra a rubéola e o novo plano de controle do tétano
- centralizar, analisar e divulgar as informações re- neonatal. Além disso, em 2003 foi iniciada a estraté-
ferentes ao PNI. gia de multivacinação conjunta por todos os países
da América do Sul, durante a Semana Sul-Americana
446 de Vacinação. Atividades de busca ativa de casos,
A institucionalização do Programa se deu sob in-
vigilância epidemiológica e vacinação nas fronteiras
fluência de vários fatores nacionais e internacionais,
de todo o Brasil foram executadas com sucesso. Essa
entre os quais se destacam os seguintes:
iniciativa se repetirá nos próximos anos, contando já
- fim da Campanha da Erradicação da Varíola
com a participação de um número ainda maior de
(CEV) no Brasil, com a certificação de desapareci-
países da América Central, América do Norte e Es-
mento da doença por comissão da OMS;
panha.
- a atuação da Ceme, criada em 1971, voltada
para a organização de um sistema de produção na-
Quantidades de imunobiológicos: A cada ano
cional e suprimentos de medicamentos essenciais à
são incorporados novos imunobiológicos ao calen-
rede de serviços públicos de saúde;
dário do PNI, que são oferecidos gratuitamente à
- recomendações do Plano Decenal de Saúde população, durante campanhas ou na rotina do
para as Américas, aprovado na III Reunião de Minis- programa, prezando pelos princípios do SUS de uni-
tros da Saúde (Chile, 1972), com ênfase na necessi- versalidade, eqüidade e integralidade.
dade de coordenar esforços para controlar, no con- Campanhas de vacinação: São extremamente
tinente, as doenças evitáveis por imunização. complexas a coordenação e a logística das campa-
nhas de vacinação. As campanhas anuais contra a
Torna-se cada vez mais evidente, no Brasil, que a poliomielite conseguem o feito de vacinar 15 milhões
vacina é o único meio para interromper a cadeia de de crianças em um único dia. A campanha de vaci-
transmissão de algumas doenças imunopreveníveis. nação de mulheres em idade fértil conseguiu vacinar
O controle das doenças só será obtido se as cober- mais de 29 milhões de mulheres em idade fértil em
turas alcançarem índices homogêneos para todos os todo o País, objetivando o controle da rubéola e a
subgrupos da população e em níveis considerados prevenção da síndrome da rubéola congênita.
suficientes para reduzir a morbimortalidade por essas Rede de Frio: A rede de frio do Brasil interliga os
doenças. Essa é a síntese do Programa Nacional de municípios brasileiros em uma complexa rede de ar-
Imunizações, que na realidade não pertence a ne- mazenamento, distribuição e manutenção de vaci-
nhum governo, federal, estadual ou municipal. É da nas em temperaturas adequadas nos níveis nacional,
sociedade brasileira. Novos desafios foram sucessiva- estadual e municipal e local.
Rede de Frio
Sistema de Refrigeração: é composto por um
conjunto de componentes unidos entre si, cuja finali-
A Rede de Frio ou Cadeia de Frio é o processo de
dade é transferir calor de um espaço, ou corpo, para 447
recebimento, armazenamento, conservação, mani-
outro. Esse espaço pode ser o interior de uma câma-
pulação, distribuição e transporte dos imunobiológi-
ra frigorífica de um refrigerador, ou qualquer outro es-
cos do Programa Nacional de Imunizações e devem
paço fechado onde haja a necessidade de se man-
ser mantidos em condições adequadas de refrige-
ter uma temperatura mais baixa que a do ambiente
ração, desde o laboratório produtor até o momento
que o cerca.
de sua utilização.
O primeiro povo a utilizar a refrigeração foi o chi-
O objetivo da Rede de Frio é assegurar que todos
nês, muitos anos antes de Cristo. Os chineses colhiam
os imunobiológicos mantenham suas características
o gelo nos rios e lagos durante a estação fria e o con-
iniciais, para conferir imunidade.
servavam em poços cobertos de palha durante as
Imunobiológicos são produtos termolábeis, isto é, estações quentes.
se deterioram depois de determinado tempo quan- Este primitivo sistema de refrigeração foi também
do expostos a temperaturas inadequadas (inativa- utilizado de forma semelhante por outros povos da
ção dos componentes imunogênicos). O manuseio antiguidade. Servia basicamente para deixar as be-
inadequado, equipamentos com defeito ou falta de bidas mais saborosas. Até pelo menos o fim do século
energia elétrica podem interromper o processo de XVII, esta seria a única aplicação do gelo para a hu-
refrigeração, comprometendo a potência e eficá- manidade.
cia dos imunobiológicos. Em 1683, Anton Van Leeuwenhoek, um comer-
São componentes da Rede de Frio: equipe quali- ciante de tecidos e cientista de Delft, nos Países Bai-
ficada e equipamentos adequados. xos, que muito contribuiu para o melhoramento do
microscópio e para o progresso da biologia celular,
detectou microorganismos em cristais de gelo e a
partir dessa observação constatou-se que, em tem-
peraturas abaixo de +10ºC, estes microorganismos
não se multiplicavam, ou o faziam mais vagarosa-
mente, ocorrendo o contrário acima dessa tempe-
ratura.
A observação de Leeuwenhoek continuou sendo da energia se dá a partir do corpo com maior tem-
alvo de pesquisa no meio científico e no século 18, des- peratura para o de menor temperatura. Um corpo,
cobertas científicas relacionaram o frio à inibição do ao receber ou ceder calor, pode sofrer dois efeitos
processo dos alimentos. Além da neve e do gelo, os re- diferentes: variação de temperatura ou mudança de
cursos eram a salmoura e o ato de curar os alimentos. estado físico (fase). A quantidade de calor recebida
Também havia as loucas de barro que mantinham a ou cedida por um corpo que sofre uma variação
frescura dos alimentos e da água, fato este já observa- de temperatura é denominada calor sensível. E, se
do pelos egípcios antes de Cristo. Mas as dificuldades ocorrer uma mudança de fase, o calor é chamado
para obtenção de gelo na natureza criava a necessi- latente (palavra derivada do latim que significa es-
dade do desenvolvimento de técnicas capazes de pro- condido).
duzi-lo artificialmente. Diz-se que um corpo é mais frio que o outro quan-
Apenas em 1824, o físico e químico Michael Fara- do possui menor quantidade de energia térmica ou,
day descobriu a indução eletromagnética – o princípio temperatura inferior ao outro. Com base nesses prin-
da refrigeração. Esse princípio seria utilizado dez anos cípios são, a seguir, apresentadas algumas experiên-
depois, nos Estados Unidos, para fabricar gelo artificial- cias onde os mesmos são aplicados à conservação
mente e, na Alemanha em 1855. de imunobiológicos.
Mesmo com o sucesso desses modelos experimen-
tais, a possibilidade de produção do gelo para uso do- Transferência de Calor: É a denominação dada à
méstico ainda era um sonho distante. passagem da energia térmica (que durante a trans-
Enquanto isso não ocorria, a única possibilidade ferência recebe o nome de calor) de um corpo com
de utilização do frio era tentando ampliar ao máximo temperatura mais alta para outro ou de uma parte
a durabilidade do gelo natural. No início do século XIX, para outra de um mesmo corpo com temperatura
surgiram, assim, as primeiras “geladeiras” – apenas um mais baixa. Essa transmissão pode se processar de
recipiente isolado por meio de placas de cortiça, onde três maneiras diferentes: condução, convecção e
eram colocadas pedras de gelo. Essa geladeira ga- radiação.
nhou ares domésticos em 1913.
Em 1918, após a invenção da eletricidade, a Kelvi- Condução: É o processo de transmissão de calor
nator Co. introduziu no mercado o primeiro refrigerador em que a energia térmica passa de um local para
448 elétrico com o nome de Frigidaire. Esses primeiros pro- outro através das partículas do meio que os separa.
dutos foram vendidos como aparelhos para serem co- Na condução a passagem da energia de uma lo-
locados dentro das “caixas de gelo”. cal para outro se faz da seguinte maneira: no local
Uma das vantagens era não precisar tirar o gelo mais quente, as partículas têm mais energia, vibran-
derretido. O slogan do refrigerador era “mais frio que o do com mais intensidade; com esta vibração cada
gelo”. Na conservação dos alimentos, a utilização da partícula transmite energia para a partícula vizinha,
refrigeração destina-se a impedir a multiplicação de mi- que passa a vibrar mais intensamente; esta transmite
croorganismos e sua atividade metabólica, reduzindo, energia para a seguinte e assim sucessivamente.
consequentemente, à taxa de produção de toxinas e
enzimas que poderiam deteriorar os alimentos, manten- Convecção: Consideremos uma sala na qual se
do, assim, à qualidade dos mesmos. liga um aquecedor elétrico em sua parte inferior. O
Com a criação do Programa Nacional de Imuniza- ar em torno do aquecedor é aquecido, tornando-se
ções no Brasil surge a necessidade de equipamento de menos denso. Com isso, o ar aquecido sobe e o ar
refrigeração para a conservação dos imunobiológicos frio que ocupa a parte superior da sala, e portanto,
e inicia-se o uso do refrigerador doméstico para este mais distante do aquecedor, desce. A esse movi-
fim, adotando-se algumas adaptações e/ou modifica- mento de massas de fluido chamamos convecção
ções que serão demonstradas no capítulo referente aos e as correntes de ar formadas são correntes de con-
equipamentos da rede de frio. vecção. Portanto, convecção é um movimento de
Para os imunobiológicos, a refrigeração destina-se massas de fluido, trocando de posição entre si. Note-
exclusivamente à conservação do seu poder imunogê- mos que não tem significado falar em convecção no
nico, pois são produtos termolábeis, isto é, que se dete- vácuo ou em um sólido, isto é, convecção só ocorre
rioram sob a influência do calor. nos fluidos. Exemplos ilustrativos:
- Os aparelhos condicionadores de ar devem
Princípios Básicos de Refrigeração sempre ser instalados na parte superior do recinto
a ser resfriado, para que o ar frio refrigerado, sendo
Calor: é uma forma de energia que pode ser trans- mais denso, desça e force o ar quente, menos denso,
mitida de um corpo a outro em virtude da diferença para cima, tornando o ar de todo o ambiente mais
de temperatura existente entre eles. A transmissão frio e mais uniforme.
Fatores que interferem na manutenção da tem- - a temperatura no interior da caixa nem sempre
peratura no interior das caixas térmicas: é uniforme. Num determinado momento podemos
- Temperatura ambiente: Quanto maior for a tem- encontrar temperaturas diferentes em vários pontos
peratura ambiente, mais rapidamente a temperatu- (a, b e c). O procedimento de envolver os imunobio-
ra do interior da caixa térmica se elevará, em virtude lógicos com bobinas de gelo reutilizável é entendido
da entrada de ar quente pelas paredes da caixa. como uma proteção ao avanço do calor, que parte
- Material isolante: O tipo, a qualidade e a espes- sempre do mais quente para o mais frio, mas que afe-
sura do material isolante utilizado na fabricação da ta a temperatura dos corpos pelos quais se propaga;
caixa térmica interferem na penetração do calor. - no acondicionamento de imunobiológicos em
Com paredes mais grossas, o calor terá maior dificul- caixas térmicas é possível manter ou reduzir a tempe-
dade para atravessá-las. Com paredes mais finas, o ratura das mesmas durante um tempo determinado
calor passará mais facilmente. Com material de bai- utilizando-se, para tal, bobinas de gelo reutilizável em
xa condutividade térmica (exemplo: poliuretano ao diferentes temperaturas e quantidade.
invés de poliestireno expandido), o calor não pene-
trará na caixa com facilidade. Tipos de Sistema
- Bobinas de Gelo Reutilizável – Quantidade e
Temperatura: A quantidade de bobinas de gelo reu- Compressão: São sistemas que utilizam a com-
tilizável colocada no interior da caixa é importante pressão e a expansão de uma substância, denomi-
para a correta conservação. A transferência do calor nada fluido refrigerante, como meio para a retirada
recebido dos imunobiológicos, do ar dentro da caixa de energia térmica de um corpo ou ambiente. Esses
e através das paredes fará com que o gelo derreta sistemas são normalmente alimentados por energia
(temperatura próxima de 0ºC, no caso de as bobinas elétrica proveniente de centrais hidrelétricas ou tér-
de gelo serem constituídas de água pura). Otimizar micas. Alternativamente, em regiões remotas, tem-se
o espaço interno da caixa para a acomodação de usado o sistema fotovoltaico como fonte geradora
maior quantidade de bobinas de gelo fará com que de energia elétrica.
a temperatura interna do sistema permaneça baixa
por mais tempo. Dispor as bobinas de gelo reutilizável
Componentes e elementos do sistema de refrige-
nos espaços vazios no interior da caixa, de modo que
ração por compressão: Componentes: compressor,
450 circundem os imunobiológicos serve ao propósito
condensador e controle do líquido refrigerante. Ele-
mencionado acima. Ao dispor de certa quantidade
mentos: evaporador, filtro desidratador, gás refrige-
de bobinas de gelo reutilizável nas paredes laterais
rante e termostato. Os componentes acima descritos
da caixa térmica, formamos uma barreira para dimi-
estão unidos entre si por meio de tubulações, den-
nuir a velocidade de entrada de calor, por um pe-
tro das quais circula um fluido refrigerante ecológico
ríodo de tempo. O calor vai continuar atravessando
(R-134a - tetrafluoretano, é o mais comum). A com-
as paredes, e isso ocorre porque não existe material
pressão e a expansão desse fluido refrigerante, den-
perfeitamente isolante. Contudo, o calor que aden-
tro de um circuito fechado, o torna capaz de retirar
tra a caixa atinge primeiro as bobinas de gelo reutili-
zável, aumentando inicialmente sua temperatura, e, calor de um ambiente. Esse circuito deve estar her-
somente depois, altera a temperatura do interior da meticamente selado, não permitindo a fuga do refri-
caixa. gerante. Nos refrigeradores e freezers, o compressor
A temperatura das bobinas de gelo reutilizável e o motor estão hermeticamente fechados em uma
também deve ser rigorosamente observada. Caso mesma carcaça
sejam utilizadas bobinas de gelo reutilizável, em tem-
peraturas muito baixas (-20ºC) e em grande quanti- Compressor: É um conjunto mecânico constituí-
dade, há o risco de, em determinado momento, que do de um motor elétrico e pistão no interior de um
a temperatura dos imunobiológicos esteja próxima à cilindro. Sua função é fazer o fluido refrigerante cir-
dessas bobinas. Por conseqüência, os imunobiológi- cular dentro do sistema de refrigeração.. Durante o
cos serão congelados, o que para alguns tipos, pode processo de compressão, a pressão e a temperatura
comprometer a qualidade, por exemplo: a vacina do fluido refrigerante se elevam rapidamente
contra DTP.
Além desses fatores, as experiências citadas per- Condensador: É o elemento do sistema de re-
mitem lembrar alguns pontos importantes: frigeração que se encontra instalado e conectado
- o calor, decorrido algum tempo, passará atra- imediatamente após o ponto de descarga do com-
vés das paredes da caixa com maior ou menor fa- pressor. Sua função é transformar o fluido refrigeran-
cilidade, em função das características do material te em líquido. Devido à redução de sua tempera-
utilizado e da espessura das mesmas; tura, ocorre mudança de estado físico, passando
de vapor superaquecido para líquido saturado. São Evaporador: É a parte do sistema de refrigeração
constituídos por tubos metálicos (cobre, alumínio ou no qual o fluido refrigerante, após expandir-se no
ferro) dispostos sobre chapas ou fixos por aletas (ara- tubo capilar ou na válvula de expansão, evapora-se
me de aço ou lâminas de alumínio), tomando a for- a baixa pressão e temperatura, absorvendo calor do
ma de serpentina. meio. Em um sistema de refrigeração, a finalidade
A circulação do ar através do condensador pode do evaporador é absorver calor do ar, da água ou
se dar de duas maneiras: a) Por circulação natural (sis- de qualquer outra substância que se deseje baixar
temas domésticos) b) Por circulação forçada (sistemas a temperatura. Essa retirada de calor ou esfriamento
comerciais de grande capacidade). Como o conden- ocorre em virtude de o líquido refrigerante, a baixa
sador está exposto ao ambiente, cuja temperatura é pressão, se evaporar, absorvendo calor do conteú-
inferior à temperatura do refrigerante em circulação, o do e do ambiente interno do refrigerador. À medida
calor vai sendo dissipado para esse mesmo ambiente. que o líquido vai se evaporando, deslocando-se pe-
Assim, na medida em que o fluido refrigerante perde las tubulações, este se converte em vapor, que será
calor ao circular pelo condensador, ele se converte aspirado pelo compressor através da linha de baixa
em líquido. pressão (sucção). Posteriormente, será comprimido e
Nos refrigeradores tipo doméstico e freezers utili- enviado pelo compressor ao condensador fechando
zados pelo PNI, são predominantemente utilizados os o ciclo.
condensadores estáticos, nos quais o ar e a tempera-
tura ambiente são os únicos fatores de interferência. Alimentação elétrica dos sistemas de refrigera-
As placas, ranhuras e pequenos tubos incorporados ção por compressão: Pode ser convencional, quan-
aos condensadores, visam exclusivamente facilitar a do é proveniente de centrais hidrelétricas ou térmi-
dissipação do calor, aumentando a superfície de res- cas, ou fotovoltaica, quando utiliza a energia solar. A
friamento. alimentação elétrica convencional dispensa maiores
Olhando-se lateralmente um refrigerador tipo do- comentários, pois é de uso muito comum e conheci-
méstico verifica-se que o condensador está localizado da por todos.
na parte posterior, afastado do corpo do refrigerador.
Atualmente, muitos países em desenvolvimento
O calor é dissipado para o ar circulante que sobe em
estão usando o sistema fotovoltaico na rede de frio
corrente, dos lados do evaporador. Para que este ciclo
para conservação de imunobiológicos. É, algumas
seja completado com maior facilidade e sem interfe- 451
vezes, a única alternativa em áreas onde não exis-
rências desfavoráveis, o equipamento com sistema de
te disponibilidade de energia elétrica convencional
refrigeração por compressão (geladeira, freezers, etc.)
confiável. A geração de energia elétrica provém de
deve ficar afastado da parede, instalado em lugar
células fotoelétricas ou fotovoltaicas, instaladas em
ventilado, na sombra e longe de qualquer fonte de ca-
painéis que recebem luz solar direta, armazenando-a
lor, para que o condensador possa ter um rendimento
em baterias próprias através do controlador de car-
elevado. Não colocar objetos sobre o condensador.
ga para a manutenção do funcionamento do siste-
Periodicamente, limpar o mesmo para evitar acúmulo
ma, inclusive no período sem sol.
de pó ou outro produto que funcione como isolante.
Alguns equipamentos (geladeiras comerciais, câ- O sistema utilizado em refrigeradores para con-
maras frigoríficas, etc.) utilizam o conjunto de motor, servação de imunobiológicos é dimensionado para
compressor e condensador, instalado externamente. operação contínua do equipamento (carregado e
incluindo as bobinas de gelo reutilizável) durante os
Filtro desidratador: Está localizado logo após o con- períodos de menor insolação no ano. Se outras car-
densador. Consiste em um filtro dotado de uma subs- gas, como iluminação, forem incluídas no sistema,
tância desidratadora que retém as impurezas ou subs- elas devem operar através de um banco de baterias
tâncias estranhas e absorve a umidade residual que separado, independente do que fornece energia ao
possa existir no sistema. refrigerador. O projeto do sistema deve permitir uma
autonomia de, no mínimo, sete dias de operação
Controle de expansão do fluido refrigerante: A se- contínua.
guir está localizado o controlador de expansão do flui- Em ambientes com temperaturas médias entre
do refrigerante. Sua finalidade é controlar a passagem +32ºC e +43ºC, a temperatura interna do refrigera-
e promover a expansão (redução da pressão e tem- dor, devidamente carregado, quando estabilizada,
peratura) do fluido refrigerante para o evaporador. não deve exceder a faixa de +2ºC a +8ºC. A carga
Este dispositivo, em geral, pode ser um tubo capilar recomendada de bobinas de gelo reutilizável con-
usado em pequenos sistemas de refrigeração ou uma tendo água a temperatura ambiente deve ser aque-
válvula de expansão, usual em sistemas comerciais e la que o equipamento é capaz congelar em um pe-
industriais. ríodo de 24 horas.
Em virtude de seu alto custo e necessidade de ponto, o calor aplicado permitirá novamente a libe-
treinamento especializado dos responsáveis pela ração da amônia até o condensador, fechando o
manutenção, alguns critérios são observados para a ciclo continuamente.
escolha das localidades para instalação desse tipo Os sistemas de absorção apresentam algumas
de equipamento: desvantagens:
- remotas e de difícil acesso, isoladas com inexis- - os equipamentos que utilizam combustível líqui-
tência de fonte de energia convencional; do na alimentação apresentam irregularidade da
- que por razões logísticas se necessite dispor de chama e acúmulo de carvão ou fuligem, necessitan-
um refrigerador para armazenamento; do regulagem sistemática e limpeza periódica dos
- que, segundo o Ministério de Minas e Energia, queimadores;
não serão alcançadas pela rede elétrica conven- - a manutenção do equipamento em operação
cional em, pelo menos, 5 anos; satisfatória apresenta maior grau de complexidade
em relação aos sistemas de compressão;
Absorção: Funciona alimentado por uma fonte - a qualidade e o abastecimento constante dos
de calor que pode ser uma resistência elétrica, gás combustíveis dificulta o uso de tal equipamento.
ou querosene. Em operação com gás ou eletricida-
de, a temperatura interna é controlada automatica- Controle de temperatura conforme o tipo de sis-
mente por um termostato. Nos equipamentos a gás, tema, proceder das seguintes maneiras: a) aqueles
o termostato dispõe de um dispositivo de seguran- que funcionam com combustíveis líquidos. O con-
ça que fecha a passagem deste quando a chama trole é efetuado através da diminuição ou aumen-
se apaga; com querosene, a temperatura é con- to da chama utilizada no aquecimento do sistema,
trolada manualmente através do ajuste da chama por meio de um controle que movimenta o pavio do
do querosene. O sistema por absorção não é tão queimador; b) aqueles que funcionam com combus-
eficiente e difere da configuração do sistema por tíveis gasosos. Nestes sistemas, o controle é feito por
compressão. Seu funcionamento depende de uma um elemento termostático que permite aumentar ou
mistura de água e amoníaco, em presença de um diminuir a vazão do gás que alimentará a chama do
gás inerte (hidrogênio). Requer atenção constante queimador, provocando as alterações de tempera-
para garantir o desempenho adequado. tura desejadas; c) aqueles que funcionam com eletri-
452 cidade. O controle é feito através de um termostato
para refrigeração simples, que conecta ou desco-
Funcionamento do sistema por absorção: A água
necta a alimentação da resistência elétrica, do mes-
tem a propriedade de absorver amônia (NH3) com
mo tipo utilizado nos refrigeradores à compressão.
muita facilidade e através desta, é possível reduzir e
manter baixa a temperatura nos sistemas de absor-
Temperatura: controle e monitoramento
ção. A aplicação de calor ao sistema faz com que
a solubilidade da amônia na água, libere o gás da
O controle diário de temperatura dos equipa-
solução. Assim, a amônia purificada, em forma gaso-
mentos da Rede de Frio é imprescindível em todas
sa, se desloca do separador até o condensador, que
as instâncias de armazenamento para assegurar a
é uma serpentina de tubulações com um dispositivo
qualidade dos imunobiológicos. Para isso, utilizam-se
de aletas situado na parte superior do circuito. Nesse
termômetros digitais ou analógicos, de cabo exten-
elemento, a amônia se condensa e, em forma líqui-
sor ou não. Quando for utilizado o termômetro analó-
da, desce por gravidade até o evaporador, locali-
gico de momento, máxima e mínima, a leitura deve
zado abaixo do condensador e dentro do gabinete. ser rápida, a fim de evitar variação de temperatura
O esfriamento interno do equipamento ocorre no equipamento. O termômetro de cabo extensor é
pela perda de calor para a amônia, que sofre uma de fácil leitura e não contribui para essa alteração
mudança de fase da amônia, passando do estado porque o visor permanece fora do equipamento.
líquido para o gasoso.
A presença do hidrogênio mantém uma pressão Termômetro digital de momento, máxima e míni-
elevada e uniforme no sistema. A mistura amônia-hi- ma: É um equipamento eletrônico de precisão cons-
drogênio varia de densidade ao passar de uma par- tituído de um visor de cristal líquido, com cabo exten-
te do sistema para outra, o que resulta em um dese- sor, que mensura as temperaturas (do momento, a
quilíbrio que provoca a movimentação da amônia máxima e a mínima), através de seu bulbo instalado
até o componente absorvente (água). Ao sair do no interior do equipamento, em um período de tem-
evaporador, a mistura amônia-hidrogênio passa ao po. Também existe disponível um modelo deste equi-
absorvedor, onde somente a amônia é retida. Nesse pamento que permite a leitura das temperaturas de
Termômetro a laser: É um equipamento de alta O PNI utiliza equipamentos que garantem a qua-
tecnologia, utilizado principalmente para a verifica- lidade dos imunobiológicos: câmara frigorífica, free-
ção de temperatura dos imunobiológicos nos volu- zers ou congeladores, refrigeradores tipo doméstico
mes (caixas térmicas), recebidos ou expedidos em ou comercial, caminhão frigorífico entre outros. Con-
grandes quantidades. Tem a forma de uma pistola, siderando as atividades executadas no âmbito da
com um gatilho que ao ser pressionado aciona um cadeia de frio de imunobiológicos, algumas delas
feixe de raio laser que ao atingir a superfície das bo- podem apresentar um potencial de risco à saúde do
binas de gelo, registra no visor digital do aparelho a trabalhador. Neste sentido, a legislação trabalhista
temperatura real do momento. Para que seja obtido vigente determina o uso de Equipamentos de Pro-
um registro de temperatura confiável é necessário tecão Individual (EPI), conforme estabelece a Por-
que sejam observados os procedimentos descritos taria do Ministério do Trabalho e Emprego n. 3.214,
pelo fabricante quanto à distância e ao tempo de de 08/06/1978 que aprovou, dentre outras normas,
pressão no gatilho do termômetro a Norma Regulamentadora nº 06 - Equipamento de
Proteção Individual - EPI. Segundo esta norma, consi-
dera-se EPI, “todo dispositivo ou produto, de uso indi- As prateleiras metálicas podem ser substituídas por
vidual utilizado pelo trabalhador, destinado á proteção estrados de plástico resistente (paletes), em função do
de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saú- volume a ser armazenado. Os lotes com menor prazo de
de no trabalho”. validade devem ter prioridade na distribuição, Cuidados
básicos para evitar perda de imunobiológicos:
Câmaras Frigoríficas: Também denominadas câ- - na ausência de controle automatizado de tempe-
maras frias. São ambientes especialmente construídos ratura, recomenda-se fazer a leitura diariamente, no início
para armazenar produtos em baixas temperaturas, tan- da jornada de trabalho, no início da tarde e no final do
to positivas quanto negativas e em grandes volumes. dia, com equipamento disponível e anotar em formulário
Para conservação dos imunobiológicos essas câmaras próprio;
funcionam em temperaturas entre +2ºC e +8ºC e -20°C, - testar os alarmes antes de sair, ao final da jornada de
de acordo com a especificação dos produtos. Na ela- trabalho;
boração de projetos para construção, ampliação ou - usar equipamento de proteção individual;
reforma, é necessário solicitar assessoria do PNI conside- - não deixar a porta aberta por mais de um minuto ao
rando a complexidade, especificidade e custo deste colocar ou retirar imunobiológico e somente abrir a câma-
equipamento. ra depois de fechada a antecâmara;
O seu funcionamento de uma maneira geral obe- - somente entrar na câmara positiva se a tempera-
dece aos princípios básicos de refrigeração, além de tura interna registrada no visor externo estiver ≤+5ºC. Essa
princípios específicos, tais como: conduta impede que a temperatura interna da câmara
- paredes, piso e teto montados com painéis em po- ultrapasse +8ºC com a entrada de ar quente durante a
liuretano injetado de alta densidade revestido nas duas abertura da porta;
faces em aço inox/alumínio; - verificar, uma vez ao mês, se a vedação da porta
- sistema de ventilação no interior da câmara, para da câmara está em boas condições, isto é, se a borracha
(gaxeta) não apresenta ressecamento, não tem qualquer
facilitar a distribuição do ar frio pelo evaporador;
reentrância, abaulamento em suas bordas e se a trava de
- compressor e condensador dispostos na área ex-
segurança está em perfeito funcionamento. O formulário
terna à câmara, com boa circulação de ar;
para registro da revisão mensal encontra-se em manual
- antecâmara (para câmaras negativas), com tem-
específico de manutenção de equipamentos;
peratura de +4°C, objetivando auxiliar o isolamento do
- observar para que a luz interna da câmara não per-
454 ambiente e prevenir a ocorrência de choque térmico
maneça acesa quando não houver pessoas trabalhando
aos imunobiológicos;
em seu interior. A luz é grande fonte de calor;
- alarmes audiovisual de baixa e alta temperaturas
- ao final do dia de trabalho, certificar-se de que a luz
para alertar da ocorrência de oscilação na corrente
interna foi apagada; de que todas as pessoas saíram e de
elétrica ou de defeito no equipamento de refrigeração;
que a porta da câmara foi fechada corretamente;
- alarme audiovisual indicador de abertura de porta;
- a limpeza interna das câmaras e prateleiras é feita
- dois sistemas independentes de refrigeração ins- sempre com pano úmido, e se necessário, utilizar sabão.
talados: um em uso e outro em reserva, para eventual Adotar o mesmo procedimento nas paredes e teto e fi-
defeito do outro; nalmente secá-los. Remover as estruturas desmontáveis
- sistema eletrônico de registro de temperatura do piso para fora da câmara, lavar com água e sabão,
(data loggers); enxaguar, secar e recolocar. Limpar o piso com pano úmi-
- Lâmpada de cor amarela externamente à câma- do (pano exclusivo) e sabão, se necessário e secar. Limpar
ra, com acionamento interligado à iluminação interna, as luminárias com pano seco e usando luvas de borracha
para alerta da presença de pessoal no seu interior e evi- para prevenção de choques elétricos. Recomenda-se a
tar que as luzes internas sejam deixadas acesas desne- limpeza antes da reposição de estoque.
cessariamente. - recomenda-se, a cada 6 (seis) meses, proceder a
desinfecção geral das paredes e teto das câmaras frias;
Algumas câmaras, devido ao seu nível de complexi- - semanalmente a Coordenação Estadual recebe-
dade e dimensões utilizam sistema de automação para rá do responsável pela Rede de Frio o gráfico de tem-
controle de temperatura, umidade e funcionamento. peratura das câmaras e dará o visto, após análise dos
mesmos.
Organização Interna: As câmaras são dotadas de
prateleiras vazadas, preferencialmente metálicas, em A manutenção preventiva e corretiva é indispensá-
aço inox, nas quais os imunobiológicos são acondicio- vel para a garantia do bom funcionamento da câmara.
nados de forma a permitir a circulação de ar entre as Manter o contrato atualizado e renovar com antece-
mesma e organizados de acordo com a especificação dência prevenindo períodos sem cobertura. As orien-
do produto laboratório produtor, número do lote, prazo tações técnicas e formulários estão descritos no ma-
de validade e apresentação. nual específico de manutenção de equipamentos.
Calendários de Vacinação
455
Nas campanhas a VOP (Sabin) continuará a ser utilizada (idade menor que cinco anos) e a vacina contra
gripe estará disponível para crianças de seis meses a menos de dois anos.
Observações
- A BCG-ID (intradérmica) deve ser administrada ao nascimento ou o mais precocemente possível. Nos
prematuros com menos de 36 semanas, administrar a vacina após 1 mês de vida e 2 kg de peso. Administrar
uma dose em crianças menores de cinco anos de idade sem cicatriz vacinal. Contactantes intradomiciliares
de portadores de hanseníase, menores de 1 ano de idade, comprovadamente vacinados (presença de ci-
catriz), não necessitam de dose adicional. Administrar 1 dose em contactantes menores de 1 ano de idade
sem cicatriz vacinal (ou se não existir certeza da presença da cicatriz). Administrar 1 dose em contactantes
com mais de 1 ano de idade, com ou sem sem cicatriz vacinal. O intervalo mínimo entre as doses da vacina
é de seis meses. Não administrar dose adicional em contactantes que tenham comprovadamente (presença
de cicatrizes) recebido duas doses. A vacina é contraindicada em gestantes, portadores de HIV, neoplasias
malígnas e imunodeficiências congênitas ou adquiridas.
- O esquema básico de vacinação contra a hepatite B é feito com 3 doses. A primeira dose será feita
com a vacina isolada e deve ser administrada nas primeiras 12 horas de vida do recém nascido. A segunda
e a terceira doses serão feitas com a vacina pentavalente (DPT + Hib + HB) e devem ser aplicadas, respecti-
vamente, 30 e 180 dias após a primeira. Em prematuros ou em recém-nascidos à termo de baixo peso (menor
de 2 Kg), utilizar esquema de quatro doses (0, 1, 2 e 6 meses de vida). Nos recém-nascidos de mães portado-
ras da hepatite B administrar a vacina e a imunoglobulina humana contra hepatite B (HBIG - disponível nos
CRIE) nas primeiras 12 horas ou no máximo até sete dias após o nascimento, em locais anatômicos diferentes.
456 A amamentação não traz riscos adicionais ao recém-nascido que tenha recebido a primeira dose da vacina
e a HBIG.
- A vacina pentavalente (DTP+Hib+HB) protege contra Difteria, Tétano, Pertussis (coqueluche), infecções
graves pelo Haemophilus influenzae tipo b (inclusive meningite) e hepatite B. Os reforços, o primeiro aos 15
meses e o segundo entre 4 e 6 anos (idade máxima), são feitos com a DTP.
- A vacina inativada contra a poliomielite (Salk) é injetável e será utilizada para as duas primeiras doses,
quando os riscos de eventos adversos da Sabin (vírus atenuado) é maior. As doses subsequentes serão feitas
com a vacina oral (Sabin), que também continuará a ser utilizada em campanhas. Tanto para a inativada
(Salk), quanto para a atenuada (Sabin), o intervalo entre as doses é de no mínimo 30 dias. Considerar o inter-
valo mínimo de 6 meses após a última dose para o reforço que é feito aos 15 meses.
- A primeira dose da VORH deve ser administrada entre 1 mês e 15 dias e 3 meses e 7 dias de vida e a
segunda entre 3 meses e 7 dias e 5 meses e 15 dias. Os limites de faixa etária devem ser estritamente obser-
vados. O intervalo mínimo recomendado entre a primeira e a segunda dose é de 30 dias. Não repetir a dose
se a criança regurgitar, cuspir ou vomitar após a vacinação.
- O intervalo mínimo entre as doses da vacina antipneumocócica (conjugada) é de 30 dias. O esquema
de vacinação para crianças de 7-11 meses de idade é feito com duas doses.
- O intervalo mínimo entre as doses da vacina antimeningocócica C (conjugada) é de 30 dias. Crianças a
partir dos 9 meses de idade, que residam ou que irão viajar para áreas de risco de febre amarela, no Brasil e
no exterior. Para não vacinados, em caso de viagem para áreas de risco, inclusive no exterior, a vacina deve
ser feita 10 dias antes da partida. Os reforços devem ser administrados a cada dez anos.
- A vacina contra sarampo, caxumba e rubéola deve ser administrada em duas doses. A primeira dose
aos 12 meses de idade e a segunda aos 4 (quatro) anos de idade. Em situação de circulação viral, antecipar
a administração da vacina para os 6 (seis) meses de idade, porém deverá ser mantido o esquema vacinal
de duas doses e a idade preconizada no calendário. Considerar o intervalo mínimo de 30 dias entre as doses
(1) vacina hepatite B (recombinante): Administrar em adolescentes não vacinados ou sem comprovante
de vacinação anterior, seguindo o esquema de três doses (0, 1 e 6) com intervalo de um mês entre a primei-
ra e a segunda dose e de seis meses entre a primeira e a terceira dose. Aqueles com esquema incompleto,
completar o esquema. A vacina é indicada para gestantes não vacinadas e que apresentem sorologia ne-
gativa para o vírus da hepatite B a após o primeiro trimestre de gestação. 457
(2) vacina adsorvida difteria e tétano - dT (Dupla tipo adulto): Adolescente sem vacinação anteriormente
ou sem comprovação de três doses da vacina, seguir o esquema de três doses. O intervalo entre as doses é
de 60 dias e no mínimo de 30 (trinta) dias. Os vacinados anteriormente com 3 (três) doses das vacinas DTP, DT
ou dT, administrar reforço, a cada dez anos após a data da última dose. Em caso de gravidez e ferimentos
graves antecipar a dose de reforço sendo a última dose administrada há mais de 5 (cinco) anos. A mesma
deve ser administrada pelo menos 20 dias antes da data provável do parto. Diante de um caso suspeito de
difteria, avaliar a situação vacinal dos comunicantes. Para os não vacinados, iniciar esquema de três doses.
Nos comunicantes com esquema de vacinação incompleto, este dever completado. Nos comunicantes
vacinados que receberam a última dose há mais de 5 (cinco) anos, deve-se antecipar o reforço.
(3) vacina febre amarela (atenuada): Indicada 1 (uma) dose aos residentes ou viajantes para as seguin-
tes áreas com recomendação da vacina: estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima,
Tocantins, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais e alguns muni-
cípios dos estados do Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para informações
sobre os municípios destes estados, buscar as Unidades de Saúde dos mesmos. No momento da vacinação
considerar a situação epidemiológica da doença. Para os viajantes que se deslocarem para os países em
situação epidemiológica de risco, buscar informações sobre administração da vacina nas embaixadas dos
respectivos países a que se destinam ou na Secretaria de Vigilância em Saúde do Estado. Administrar a va-
cina 10 (dez) dias antes da data da viagem. Administrar dose de reforço, a cada dez anos após a data da
última dose. Precaução: A vacina é contra indicada para gestante e mulheres que estejam amamentando.
Nestes casos buscar orientação médica do risco epidemiológico e da indicação da vacina.
(4) vacina sarampo, caxumba e rubéola – SCR: considerar vacinado o adolescente que comprovar o
esquema de duas doses. Em caso de apresentar comprovação de apenas uma dose, administrar a segunda
dose. O intervalo entre as doses é de 30 dias.
458 Nota: Mantida a nomenclatura do Programa Nacional de Imunização e inserida a nomenclatura segun-
do a Resolução de Diretoria Colegiada – RDC nº 61 de 25 de agosto de 2008 – Agência Nacional de Vigilân-
cia Sanitária - ANVISA
(1) vacina hepatite B (recombinante): oferecer aos grupos vulneráveis não vacinados ou sem compro-
vação de vacinação anterior, a saber: Gestantes, após o primeiro trimestre de gestação; trabalhadores
da saúde; bombeiros, policiais militares, civis e rodoviários; caminhoneiros, carcereiros de delegacia e de
penitenciarias; coletores de lixo hospitalar e domiciliar; agentes funerários, comunicantes sexuais de pessoas
portadoras de VHB; doadores de sangue; homens e mulheres que mantêm relações sexuais com pessoas
do mesmo sexo (HSH e MSM); lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, (LGBT); pessoas reclusas (pre-
sídios, hospitais psiquiátricos, instituições de menores, forças armadas, dentre outras); manicures, pedicures e
podólogos; populações de assentamentos e acampamentos; potenciais receptores de múltiplas transfusões
de sangue ou politransfundido; profissionais do sexo/prostitutas; usuários de drogas injetáveis, inaláveis e pipa-
das; portadores de DST. A vacina esta disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais
(CRIE) para as pessoas imunodeprimidas e portadores de deficiência imunogênica ou adquirida, conforme
indicação médica.
(2) vacina adsorvida difteria e tétano - dT (Dupla tipo adulto): Adultos e idosos não vacinados ou sem
comprovação de três doses da vacina, seguir o esquema de três doses. O intervalo entre as doses é de 60
(sessenta) dias e no mínimo de 30 (trinta) dias. Os vacinados anteriormente com 3 (três) doses das vacinas
DTP, DT ou dT, administrar reforço, dez anos após a data da última dose. Em caso de gravidez e ferimentos
graves antecipar a dose de reforço sendo a última dose administrada a mais de cinco (5) anos. A mesma
deve ser administrada no mínimo 20 dias antes da data provável do parto. Diante de um acaso suspeito de
difteria, avaliar a situação vacinal dos comunicantes. Para os não vacinados, iniciar esquema com três doses.
Nos comunicantes com esquema incompleto de vacinação, este deve ser completado. Nos comunicantes
vacinados que receberam a última dose há mais de 5 anos, deve-se antecipar o reforço.
(3) vacina febre amarela (atenuada): Indicada aos residentes ou viajantes para as seguintes áreas com
recomendação da vacina: estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mara-
nhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais e alguns municípios dos estados
do Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para informações sobre os municípios
destes estados, buscar as Unidades de Saúde dos mesmos. No momento da vacinação considerar a situação
epidemiológica da doença. Para os viajantes que se deslocarem para os países em situação epidemiológica
de risco, buscar informações sobre administração da vacina nas embaixadas dos respectivos países a que
se destinam ou na Secretaria de Vigilância em Saúde do Estado. Administrar a vacina 10 (dez) dias antes
da data da viagem. Administrar dose de reforço, a cada dez anos após a data da última dose. Precaução:
A vacina é contra indicada para gestantes e mulheres que estejam amamentando, nos casos de risco de
contrair o vírus buscar orientação médica. A aplicação da vacina para pessoas a partir de 60 anos depende
da avaliação do risco da doença e benefício da vacina.
(4) vacina sarampo, caxumba e rubéola – SCR: Administrar 1 (uma) dose em mulheres de 20 (vinte) a
49 (quarenta e nove) anos de idade e em homens de 20 (vinte) a 39 (trinta e nove) anos de idade que não
apresentarem comprovação vacinal.
(5) vacina influenza sazonal (fracionada, inativada): Oferecida anualmente durante a Campanha Na-
cional de Vacinação do Idoso.
Nova nomenclatura das vacinas em itálico, segundo Resolução de Diretoria Colegiada - RDC Nº 61 de 25
de agosto de 2008 - Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA
*Ano de introdução 2010.
(1) BCG: deve ser administrada o mais precocemente possível, preferencialmente logo após o nascimen-
to. Nos prematuros com menos de 36 semanas, administrar a vacina após a criança atingir 2 Kg e ao com- 461
pletar 1 mês de vida. Administrar uma dose em crianças menores de cinco anos de idade (4 anos 11 meses e
29 dias) sem cicatriz vacinal. Contatos íntimos de portadores de hanseníase, contatos menores de 1 ano de
idade, comprovadamente vacinados, não necessitam da administração de outra dose de BCG. Contatos a
partir de 1 ano de idade: sem cicatriz, administrar uma dose; os comprovadamente vacinados com a primei-
ra dose, administrar outra dose de BCG, mantendo o intervalo mínimo de 6 meses entre a cicatriz e a dose;
e os vacinados com duas doses não administrar nenhuma dose adicional. Na incerteza da existência de ci-
catriz vacinal nos contatos íntimos de portadores de hanseníase, aplicar uma dose, independentemente da
idade. Portadores de HIV - em crianças HIV positivo deve ser administrada ao nascimento ou mais precoce-
mente possível; a vacina está contraindicada na existência de sinais ou sintomas de imunodeficiência; não se
indica a revacinação de rotina. Para adulto HIV positivo a vacina está contraindicada em qualquer situação.
(2) vacina Hepatite B (recombinante): deve ser aplicada preferencialmente nas primeiras 12 horas, ou no
primeiro contato com o serviço de saúde. Esta primeira dose deve ser feita com a vacina monovalente. Nas
doses subsequentes, deverá ser utilizada a vacina Pentavalente, até 6 anos, 11 meses e 29 dias. Nos prema-
turos, menores de 36 semanas de gestação ou de baixo peso (< 2Kg) ao nascer, seguir esquema de quatro
doses: 0, 1, 2 e 6 meses de vida. Na prevenção da transmissão vertical em recém-nascido (RN) de mães por-
tadoras de hepatite B administrar a vacina e a imunoglobulina humana anti-hepatite B (HBIG) nas primeiras
12 horas ou no máximo até 7 dias após o nascimento. A vacina e a HBIG devem ser administradas em locais
anatômicos diferentes. A amamentação não traz riscos adicionais aos RN que tenham recebido a primeira
dose da vacina e a imunoblobulina.
(3) vacina adsorvida difteria, tétano, pertussis, hepatite B (recombinante) e Haemophilus influenzae b
(conjugada): o esquema de vacinação primária é feito aos 2, 4 e 6 meses de idade. O intervalo entre as
doses é de 60 dias, podendo ser de 30 dias, se necessário. São realizados dois reforços com vacina adsorvida
difteria, tétano e pertussis (DTP). O primeiro reforço é dado a partir de 12 meses de idade (6 a 12 meses após a
terceira dose da pentavalente) e o segundo reforço entre 4 e 6 anos. A idade máxima para aplicação desta
vacina é de 6 anos 11meses e 29 dias.
Não-
Vacinas Esquemas Gestante Puérpera
Gestante
A vacina HPV deve ser indicada
para a prevenção de infecções por
papilomavírus. Duas vacinas estão
disponíveis no Brasil: uma contendo os
tipos 6, 11, 16, 18 de HPV com esquemas
de intervalos de 0-2-6 meses, indicada
HPV (3) Sim Contraindicada Sim
para meninas e mulheres de nove a
26 anos de idade; outra, contendo os
tipos 16 e 18 de HPV com esquemas
de intervalos de 0-1-6 meses, indicada
para meninas e mulheres de dez a 25
anos de idade.
Uma ou duas doses (com intervalo
mínimo de 30 dias) para mulheres com
Tríplice viral
até 49 anos de idade, de acordo com
( s a r a m p o ,
histórico vacinal, de forma que todas Sim Contraindicada Sim
caxumba e
recebam no mínimo duas doses na
rubéola) (1)
vida. Dose única para mulheres com
mais de 49 anos de idade.
A ser considerada
Hepatite A: duas doses, no esquema
Sim em situações de Sim
0-6 meses.
risco especiais
463
Hepatite B: três doses, no esquema 0-1-
Sim Recomendada Sim
Hepatites A, B ou 6 meses.
A e B (2) Hepatite A e B: três doses, no esquema
0-1-6 meses. A vacinação combinada A ser considerada
contra as hepatites A e B é uma opção Sim em situações de Sim
e pode substituir a vacinação isolada risco especiais
contras as hepatites A e B.
Com esquema de vacinação básica
completo: reforço com dTpa (tríplice
Sim
bacteriana acelular do tipo adulto) ou Sim
dT (dupla do tipo adulto).
Com esquema de vacinação básica
incompleto (que tenha recebido
menos de três doses do componente
Vacinas contra tetânico
Sim Sim
difteria, durante a vida): uma dose de dTpa,
dT ou dTpa
tétano e seguida por uma ou duas doses de
coqueluche (4) dT para completar o esquema 0-2-6
meses.
Durante a gestação(4): para a gestante,
mesmo que esteja com o esquema de
vacinação contra o tétano em dia,
Sim Sim
mas que tenha recebido a última dose
há mais de cinco anos: uma dose de dT
(dupla bacteriana do tipo adulto).
Sempre que possível, evitar a aplicação de vacinas no primeiro trimestre de gravidez. Vacinas de vírus
vivos (tríplice viral, varicela e febre amarela), se possível e de preferência, devem ser aplicadas pelo menos
um mês antes do início da gravidez.
Comentários
- Vacina de vírus atenuados de risco teórico para o feto, portanto, contraindicada em gestantes.
- A vacina contra hepatite A é vacina inativada, portanto, sem evidências de riscos teóricos para a ges-
464 tante e o feto. Deve ser preferencialmente aplicada fora do período da gestação, mas em situações de risco
a exposição ao vírus não está contraindicada em gestantes.
- A vacinação de mulheres com mais de 26 anos é considerada segura e efi caz por órgãos regulatórios
de alguns países do mundo. A melhor época para vacinar é a adolescência, mas, a critério médico, mulheres
com mais de 25 ou 26 anos, mesmo que previamente infectadas, podem ser vacinadas.
- A vacina dTpa (tríplice bacteriana acelular do tipo adulto) é vacina inativada, portanto, sem evidências
de riscos teóricos para a gestante e o feto e não contraindicada nessa fase. O uso de dTpa em gestantes é
recomendado após a 20ª semana de gestação. No entanto, devemos ressaltar que não há dados que des-
cartem a possibilidade de interferência na resposta imune à vacina tríplice bacteriana aplicada na criança.
Recomenda-se:
- A gestante inclui-se no grupo de risco para as complicações da infecção pelo vírus da in. uenza. A
vacina de in. uenza está indicada nos meses da sazonalidade do vírus, mesmo no primeiro trimestre de ges-
tação.
- A vacina contra a febre amarela, apesar de vacina de vírus atenuado de risco teórico para o feto (e
por isso contraindicada para gestantes), nos locais em que a doença seja altamente endêmica e os riscos 465
de adquirir febre amarela superem os riscos de eventos adversos graves pela vacina antiamarílica, esta
deve ser aplicada mesmo durante a gravidez. Essa vacina está contraindicada durante a lactação até que
o bebê complete seis meses de idade.
- As vacinas meningocócicas conjugadas são inativadas, portanto sem evidências de riscos teóricos
para a gestante e o feto. No entanto, na gestação está indicada apenas nas situações de surtos da doen-
ça. A vacina meningocócica conjugada quadrivalente (tipos A.C,W135 e Y) deve ser considerada opção
para a imunização das adolescentes e mulheres adultas.
Assunto: Recomendação da Vacina Febre Amarela VFA (atenuada) em mulheres que estão amamen-
tando
A Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações – CGPNI e o Comitê Técnico
Assessor em Imunização – CTAI, em virtude da possível transmissão do vírus vacinal pelo leite materno
registrada no Rio Grande do Sul, fazem as seguintes considerações e recomendações:
1. A Vacina Febre Amarela - VFA (atenuada) é uma das mais antigas utilizadas no mundo. A vacinação
é seguida de viremia com início em torno de 3 a 6 dias e duração de 1 a 5 dias na maioria dos indivíduos
vacinados após a primeira dose da vacina.
2. A vacina é bem tolerada, mas podem ocorrer eventos adversos associados à sua aplicação. Entre
2 e 7 dias após a vacinação cerca de 2% a 5% das pessoas podem apresentar sintomatologia leve, como
mialgia, mal-estar, dor de cabeça e febre, com duração de 1 a 3 dias.
3. Apesar de serem raros, eventos adversos graves (EAG) e até mesmo fatais, têm sido observados e a
sua causa ainda não está esclarecida. Entretanto, admite-se que fatores de predisposição individual, embo-
ra desconhecidos, estejam relacionados, pois não se encontraram mutações no vírus vacinal ou problemas
ligados à qualidade das vacinas.
A(H1N1) e Pneumo-10 no terço médio do vasto late- Eventos adversos: é uma vacina bem tolerada;
ral E, o que torna possível uma melhor avaliação de manifestações locais como dor, edema e eritema em
possíveis eventos adverso locais. Ou aplicar as vaci- cerca de 40% das crianças vacinadas. Na dose de
nas contra Influenza A(H1N1) no terço médio do vas- reforço essas manifestações ocorreram em cerca de
to lateral D e a vacina Pneumo-10 no terço médio do 50% dos vacinados, em intensidade leve a modera-
vasto lateral E, e agendar as da rotina (Hepatite B e da; manifestações sistêmicas como febre ≥ 38oC em
Tetra) para 30 dias após, juntamente com a 2ª dose cerca de 80% das crianças vacinadas e 14,7% ≥ a
da influenza. 39oC. E mais raramente convulsão febril.
Esquema de aplicação
Uso de antitérmico profilático: observou-se em um
estudo realizado que o paracetamol quando aplica-
Número de do de modo profilático pode reduzir a resposta va-
Idade Reforço
doses cinal, no entanto, ainda há a manutenção de níveis
2-4- 6 ou protetores; recomenda-se que o paracetamol não
3-5-7 ou 3 doses com seja aplicado de modo profilático; o uso de antitér-
1 dose aos 15 me-
4-6-8 ou intervalo de mico profilático está indicado para as pessoas com
ses de idade
5-7-9 ou 2 meses história pessoal ou familiar de convulsão febril.
6-8-10
7-9 ou 2 doses com 1 dose de reforço Orientações para o registro das doses aplicadas: a
8-10 ou intervalo de aos 15 meses de informação oportuna e de qualidade permitirá traçar
9-11 2 meses idade ajustes e correções nas estratégias utilizadas; a cader-
nesta faixa etária neta de vacinação e a ficha de Registro não apre-
2 doses com
10-12 ou não será neces- sentam ainda o campo específico para o registro da
intervalo de
11-13 sário a dose de vacina Pneumo-10. Para a anotação da aplicação
2 meses
reforço dessa vacina recomenda-se que seja utilizado o es-
12-23 me- paço destinado como “Outras Vacinas” escrevendo
1 dose - “Pneumo-10” e fazendo as anotações pertinentes.
ses
467
- a idade mínima para aplicação é de 6 semanas; As Atividades Físicas e os Exercícios Físicos: Impli-
- o intervalo mínimo entre as doses é de 30 dias; cações na Obesidade e no Emagrecimento
- a dose de reforço para as crianças que inicia-
ram o esquema vacinal com menos de 6 meses de A Obesidade
idade é de pelo menos 6 meses após a última dose;
- a dose de reforço para as crianças que inicia- É “uma enfermidade crônica, que se caracteriza
ram o esquema vacinal entre 7 e 9 meses de idade é pelo acúmulo excessivo de gordura a um nível tal que
no segundo ano de vida, com intervalo de pelo me- a saúde esteja comprometida”. A obesidade é ca-
nos 2 meses;
racterizada por excesso de peso corpóreo devido ao
- as crianças que já receberam alguma dose da
acúmulo de tecido adiposo regionalizado ou em todo
vacina contra o Pneumococo 7-valente (Prevenar®),
o corpo causado por doenças genéticas, endócrino-
poderá completar o esquema vacinal com a vacina
10-valente. metabólicas ou por alterações nutricionais. A impor-
tância de distinguir os termos obesidade e sobrepeso,
Conservação: a vacina deverá ser conservada caracterizando obesidade como uma condição na
entre +20C e +80C. Não deve ser congelada. qual a quantidade de gordura corporal ultrapassa os
níveis desejáveis, enquanto no sobrepeso, o peso cor-
Contra Indicações: antecedente de reação poral total é que excede determinados limites.
anafilática aos componentes da vacina; reação A obesidade tem se caracterizado como a disfun-
anafilática em dose anterior. ção orgânica que mais apresenta aumento em seus
números, não apenas em países industrializados, mas
Situações de adiamento para aplicação: durante particularmente nos países em desenvolvimento. Evi-
a evolução de doenças agudas febris graves dências mostram que a adoção de vida inadequada
vem favorecendo este tipo de acontecimento, sobre-
Uso simultâneo com outras vacinas: poderá ser
tudo no que se refere ao sedentarismo e aos hábitos
aplicada simultâneamente com qualquer vacina do
alimentares. O aumento excessivo de peso costuma
Programa Nacional de Imunizações.
manter paralelismo muito mais com uma atividade ço muscular pré-determinado, destinado a executar
física reduzida do que com a ingestão alimentar. Exis- uma tarefa, seja ela um “piscar dos olhos”, um deslo-
tem no mundo mais de um bilhão de pessoas com so- camento dos pés, e até um movimento complexo de
brepeso e delas trezentos milhões são obesas e que finta em alguma competição desportiva. Moderna-
esta doença não distingue classe social ou raça. mente, o termo refere-se em especial aos exercícios
executados com o fim de manter a saúde física, men-
Obesidade infanto-juvenil tal e espiritual; em outras palavras a “boa forma”. No
dia 6 de abril a Organização Mundial da Saúde (OMS)
Nas últimas décadas o número de crianças e celebra o Dia Mundial da Atividade Física.
adolescentes obesos tem aumentado de tal maneira
que tem se tornado um problema de saúde pública. Benefícios: Atividade física em geral regular con-
Tem-se dado grande ênfase ao estudo da gordura trolada por profissionais da Educação Física, está as-
corporal e aos índices de adiposidade em crianças e sociada diretamente a melhorias da saúde e condi-
adolescentes devido a sua associação com o desen- ções físicas dos praticantes. A redução dos níveis de
volvimento orgânico e funcional do corpo, e também ansiedade, stress, um sistema imunológico fortaleci-
hábitos alimentares mais saudáveis, para conquistar do, tornando o organismo menos sujeito a doenças
melhor qualidade de vida. Ao contrário do que ocor- como o câncer e causar ao seu tratamento redução
ria até recentemente, quando a preocupação bási- das náuseas e a dor. Sendo que a inatividade física
ca em relação à criança obesa era o risco de ela se associada a dietas inadequadas, ao tabagismo, ao
tornar um adulto obeso, atualmente cresce a cada uso do álcool e outras drogas são determinantes na
dia o receio quanto às repercussões da obesidade ocorrência e progressão de doenças crônicas que
ainda durante a infância. trazem vários prejuízos ao ser humano, como, por
É necessário controlar a obesidade desde a in- exemplo, redução na qualidade de vida e morte
fância, principalmente as que mostram predisposi- prematura nas sociedades contemporâneas, princi-
ção para o desenvolvimento da doença, a fim de palmente nos países industrializados e também nas
tomar medidas efetivas para o controle de risco, im-
cidades grandes.
pedindo que o prognóstico seja desfavorável, a lon-
Atividade física adaptada por vezes, torna-se, ne-
go prazo. A obesidade não era considerada condi-
cessária aos sujeitos que apresentem algumas contra
468 ção que necessitasse ser tratada, pois era atribuída a
indicações médicas ou dificuldades físicas momentâ-
maus hábitos alimentares, sedentarismo e até mesmo
neas ou definitivas, mas tendo em conta o diagnósti-
descuido por parte do indivíduo. Atualmente a obesi-
co feito pelos médicos, o profissional da educação fí-
dade é considerada como um dos principais proble-
sica deverá ser capaz de criar ao paciente atividade
mas de saúde pública em países desenvolvidos, pois
física adaptada sem prejudicar a saúde do paciente
tem aumentado de forma significante, geralmente
melhorando-a, havendo uma interação de conheci-
em coexistência com a desnutrição. Nos países in-
mentos com as ciências médicas. Atividade física de
dustrializados, os gastos com doenças relacionadas
recuperação é usada como um meio de melhorar as
à obesidade na idade adulta consomem entre 1% e
5% de todo o orçamento de saúde. condições físicas de um sujeito momentaneamente
Portanto intervenções na infância e adolescên- debilitado, sendo tratada pelos profissionais da fisiote-
cia, por serem períodos críticos para o desenvolvi- rapia e educação física. Tendo em vista uma esque-
mento da obesidade, têm sido recomendadas como matização, classificamos as atividades em:
forma de evitar os desfechos desfavoráveis na ida- - Exercício aeróbico;
de adulta, a incidência de doenças cardiovascula- - Exercício anaeróbico.
res como hipertensão na adolescência tem relação
com a crescente aparição da obesidade. Evidencia- A atividade física quando é feita de forma conti-
se que uma criança ao se tornar obesa no período nua e programada resulta no ganho de força física,
da pré puberdade, mantendo-se neste estado du- incremento da capacidade cardiorrespiratório, da
rante a adolescência, terá mais chance de se tornar flexibilidade entre outros fatores responsáveis pela
um adulto obeso. melhoria da qualidade de vida de um indivíduo no
que diz respeito à performance humana.
Atividade Física
Exercício aeróbico: O exercício aeróbico é aque-
A atividade física é qualquer movimento corporal, le que refere-se ao uso de oxigênio no processo de
produzido pelos músculos esqueléticos, que resulte geração de energia dos músculos. Esse tipo de exer-
em gasto energético maior que os níveis de repouso. cício trabalha uma grande quantidade de grupos
Podemos acrescentar que é também qualquer esfor- musculares de forma rítmica. Andar, correr, nadar e
pedalar, são alguns dos principais exemplos de exer- Benefícios dos exercícios
cícios aeróbicos. Os exercícios aeróbicos típicos são
contínuos e prolongados, realizados com movimen- Aumentando o Metabolismo: Algumas pessoas
tos não muito rápidos. Esta categoria de exercício é erroneamente acreditam que exercícios não valem
a que traz mais benefícios ao organismo, diminuindo a pena o esforço por causa do pequeno número de
a chance de doenças cardiovasculares e melhoran- calorias gastas. Por exemplo, andar queima aproxi-
do qualidade e expectativa de vida, pois somente os madamente 5 calorias por minuto. Devido ao fato de
exercícios aeróbicos de longa duração queimam as ter 7700 calorias em um quilo de gordura, iria parecer
reservas de gordura do corpo humano. que você teria que andar 25 horas e 36 minutos para
perder 1 quilo de gordura. Porém a verdade é que
Como o exercício aeróbico atua na queima de mesmo os exercícios moderados aumentam seu me-
gorduras tabolismo (queimando calorias) 3 a 8 vezes, durante
horas depois do exercício. O efeito residual do exercí-
Quando se pratica exercícios aeróbicos, ocorre cio, e não o próprio exercício, é o maior responsável
que as células musculares consomem mais oxigênio pela queima de calorias.
para produzir energia. Comparando com o exercí-
cio anaeróbico, que são de maior intensidade e de Mantendo os Músculos Ativos: Já que cada quilo
menor duração ocorre que, neste caso, nos primeiros de músculo requer 110-220 calorias para se sustentar
segundos o organismo quebra o ATP (molécula que e que a gordura é queimada quase que exclusiva-
armazena energia) que existe em estoque dentro mente nos músculos, manter seus músculos torna-se
das células musculares e só depois passa a transfor- crucial se você deseja perder gordura. Os exercí-
mar a glicose existente no corpo em ATP para poder cios requerem que você use seus músculos, o que
continuar a usá-la. Em exercícios aeróbicos, que são te permite manter (ou ainda aumentar) a quantida-
de menos intensidade porém de grande duração, o de de massa muscular que você tem. Não fazendo
corpo irá exigir muito mais energia porém terá mais exercício, você irá perder massa muscular e reduzir
tempo para produzi - lá. Neste caso a glicose se trans-
sua habilidade de queimar gordura. Lembre-se que
forma em ácido pirúvico que entra na mitocôndria
exercícios podem lhe permitir aumentar sua massa
(uma estrutura da célula) e produz a enzima Aacetil-
muscular ao mesmo tempo em que você está per- 469
coA que por fim reage com o oxigênio da respira-
dendo gordura, e seu peso pode não alterar. Você
ção e produz em torno de dezoito vezes mais ATP do
irá aproveitar todos os benefícios (visuais e de saúde)
que os exercícios anaeróbicos. Mas, como a glicose
de uma melhor proporção gordura/músculo, e é isso
é uma substância vital para o funcionamento do cé-
o que importa.
rebro, o corpo evita utilizá-la em grande quantida-
de e então passa a utilizar às moléculas de gordura
Aumentando as enzimas que oxidam gorduras:
no lugar da glicose para produzir energia. Por isso, o
Você não pode perder gordura sem que a queime
exercício aeróbico consome não só a gordura dos
em seus músculos. Os músculos têm enzimas muito
músculos como também a de outras partes do cor-
específicas que queimam apenas gordura. Pesqui-
po. E assim é feito o esquema dos músculos.
sas demonstram que pessoas que se exercitam re-
Benefícios para a saúde gularmente tem muito mais enzimas que queimam
gordura nos músculos do que pessoas que não se
Entre os benefícios para a saúde de fazer regular- exercitam. Em outras palavras, os exercícios aumen-
mente exercícios aeróbicos estão: tam a habilidade do corpo queimar gordura mais efi-
- Fortalecimento dos músculos envolvidos na res- cientemente. Isto significa que quanto mais você se
piração. exercitar, quanto mais você usar seus músculos, mais
- Fortalecimento e aumento do músculo cardía- enzimas que queimam gordura seus músculos irão
co. desenvolver para queimar mais gordura.
- Tonificação da musculatura.
- Diminuição da pressão arterial. Exercício anaeróbico: O exercício anaeróbico é
- Elevação do número de células vermelhas do qualquer atividade física que trabalhe diversos gru-
sangue. pos musculares durante um determinado e constan-
- Melhoria da circulação sanguínea. te período de tempo, de forma contínua e ritmada.
- Elevação das reservas de energia nos músculos, O treino aeróbico melhora significativamente o fun-
o que aumenta a resistência. cionamento do coração, pulmões e todo o sistema
- Aumento do fluxo sanguíneo nos músculos. cardiovascular contribuindo para uma entrega de
oxigênio mais rápida por todo o corpo. São ativida- Entretanto, indivíduos que realizam dieta por um
des breves de alta intensidade nas quais o metabo- período prolongado diminuem o metabolismo de re-
lismo anaeróbico acontece nos músculos. Durante pouso, e há perda de massa magra, podendo assim
períodos de tempo mais longos de exercício físico, o “estacionar” seu peso e até mesmo voltar a engor-
metabolismo aeróbico provê a energia, o que é cha- dar. Assim, sugere-se que crianças obesas realizem
mado de exercício aeróbico. atividades leves e moderadas, as quais propiciam
Exemplos de exercícios anaeróbicos incluem vias metabólicas oxidátivas e conseqüentemente uti-
musculação, sprints, saltos; qualquer exercício que lização da gordura como predominância de substra-
consista de movimentos rápidos de alta intensidade. to energético, podendo, com isso, aumentar o tem-
Exercícios anaeróbios são geralmente usados por po de realização das sessões de exercício. Portanto,
atletas para desenvolver força e bodybuilders para a prática regular de atividade física pode interferir
construir massa muscular. Músculos que são treina- positivamente no balanço energético, como tam-
dos sob condições anaeróbias desenvolvem melhor bém prevenir e tratar o quadro de fatores de risco
performance em atividades de curta duração e alta associados à obesidade.
intensidade. Exercícios aeróbicos, por outro lado, in- O papel da Educação Física na promoção de
cluem atividade realizadas por longos períodos de qualidade de vida Tratando de crianças e adoles-
tempo em menor intensidade. Exercícios como ca- centes, constata-se com as aulas de Educação Física
minhar, correr, nadar e pedalar requerem grande escolar utilizam pouco tempo de esforço físico, o que
quantidade de oxigênio para gerar energia por pe- impossibilita o aparecimento de adaptações orgâni-
ríodo prolongado de tempo. cas benéficas a essa população. Em compensação,
Há dois tipos de sistema de geração de energia estas aulas criam à consciência de que as atividades
anaeróbica: o ATP-CrP, que tem a creatina fosfata- físicas são e devem ser praticadas. A promoção da
da como principal fonte de energia, e o ácido lático saúde no âmbito escolar poderá estar incluída na
(ou glicólise anaeróbia), que usa glicose na ausência proposta político-pedagógica das escolas, já que
de oxigênio. O segundo é um uso ineficiente da gli- esta tem papel relevante em relação à educação
cose e produz sub-produtos que, acredita-se, sejam da personalidade e, como consequência, no estilo
prejudiciais ao funcionamento muscular. O sistema de vida das pessoas
de ácido lático é o dominante durante exercícios de Neste sentido, faz-se necessário proporcionar aos
470 intensidade alta a máxima, durante curto período de adolescentes a aquisição de conhecimentos e es-
tempo (em torno de um minuto), mas ele também é timular atitudes positivas em relação aos exercícios
responsável por uma parte da energia durante exer- físicos. Conscientizar a comunidade escolar de que
cício aeróbio, uma vez que o organismo é capaz de a aptidão física, a prática de atividade física e bons
livrar-se dos sub-produtos anaeróbios até um certo ní- hábitos alimentares são importantes a todos os indiví-
vel. A eficiência da remoção dos sub-produtos pelos duos em todas as idades, principalmente para os que
músculos melhora através do treinamento. mais necessitam: os sedentários e os obesos.
Propiciar independência e oportunizar expe-
A Importância da Informação riências de atividades físicas agradáveis, sem gran-
des habilidades motoras que estimulem a prática
A atividade física prescrita para o indivíduo obe- continuada, com isto, resguardando a percepção
so em processo de tratamento deverá ser ao máxi- de competência nos alunos. Se o objetivo é que os
mo, fonte de prazer, de forma que o mesmo venha adolescentes, que mais precisam da atividade física
adotar hábitos de vida saudáveis. Estimular atividade (sedentários e obesos), adotem uma atividade física
física no meio infantil, uma vez que é a partir desta em seu estilo de vida e se as atividades praticadas
fase que se tem maior possibilidade de desenvolvi- neste programa exigirem grandes habilidades, esses
mento de hábitos saudáveis durante a vida adulta, alunos poderão se inibir e não praticar a atividade,
além de reduzir o nível de desenvolvimento da obe- nem durante as aulas e nem além dos anos escola-
sidade nesta fase. A dieta isolada propicia um ba- res. Nenhum exercício físico será incorporado aos há-
lanço energético negativo para controle de peso bitos regulares se este não trouxer alguma forma de
quando comparada ao exercício físico isolado, visto prazer ou recompensa. Toda a atividade física quan-
que a criança pode estar reduzindo sua ingestão ca- do iniciada com sacrifício ou obrigação será, possi-
lórica em 1.000 kcal (por exemplo) durante as vinte velmente abandonada, por mais consciente que o
e quatro horas do dia, mas ficaria muito difícil essa indivíduo possa estar do seu benefício para a saúde.
mesma criança aumentar seu gasto energético com Texto adaptado de Colaço, N.S. e Santos, S.L.C.
atividade física em 1.000 kcal por dia. Portanto, a cur-
to prazo a restrição calórica favorece a perda peso.
momento histórico. Tornou-se costume desdobrar a quanto por parte dos senhores, que apesar de livres
cidadania em direitos civis, políticos e sociais, como e de participarem como eleitores e candidatos fal-
Marshall propôs na sua teoria. O cidadão pleno seria tavam-lhes o sentido de cidadania com a noção de
aquele que fosse titular dos três direitos. Cidadãos in- igualdade de todos perante a lei.
completos seriam os que possuíssem apenas alguns O período Colonial chegou ao fim com a gran-
dos direitos. Os que não se beneficiassem de nenhum de maioria da população excluída dos direitos civis e
dos direitos seriam não cidadãos. políticos e sem a existência de um sentido de nacio-
Maria Cristina Seixas Vilani, no seu artigo sobre nalidade e ainda na visão do autor, a independência
cidadania, compara com o conceito entre antigos não introduziu uma mudança radical no panorama
e modernos. Entre os antigos o exercício da cidada- descrito, talvez em função de que a independência
nia não era direito de todos porque nem todos eram do Brasil foi relativamente pacífica, isto é, negociada.
iguais, somente eram considerados cidadãos os ho- A separação foi feita mantendo-se a monarquia e a
mens livres, ficando a margem da comunidade cívi- casa de Bragança.
ca as mulheres e os escravos. A sociedade era con- Na constituição imperial de 1824, a cidadania
siderada como um todo uno e indivisível, com suas veio com limites. Do ponto de vista dos direitos civis, a
próprias leis que independem da vontade humana. população escrava não era considerada como sujei-
O individuo era parte do todo social, diferente da tos de direitos. Do ponto de vista dos direitos políticos,
modernidade que concebe a sociedade como uma havia uma separação entre cidadãos, como sendo
associação de indivíduos que amoldam de acor- aqueles portadores apenas dos direitos civis, e cida-
do com suas vontades. Nesta perspectiva moderna dãos ativos, portadores também de direitos políticos.
o ser humano particular, com suas necessidades e O sistema eleitoral era baseado no voto censitá-
carências tornaram-se referencial das instituições e rio, ou seja, no critério da renda. Havia um limite míni-
o ordenamento da vida social passou a respeitar o mo de renda para que o indivíduo tivesse acesso aos
individuo como sujeito de direitos. A maturação do direitos políticos, o que limitava a cidadania política
individualismo foi lenta, fruto de uma acumulação apenas àqueles indivíduos dotados de posses consi-
deráveis. Outro ponto negativo advindo da Constitui-
histórica que teve um ponto fundamental no mundo
ção de 1824 foi a criação de um Poder Moderador,
medievo passando pelas esteiras do renascimento e
exercido pelo imperador, e responsável pela manu-
da reforma e ganhou corpo com o jusnaturalismo dos
472 tenção do equilíbrio entre os poderes Executivo, Le-
séculos XIII e XIX e ganhou sistematização doutrinaria
gislativo e Judiciário. Na prática, o poder mantinha-se
no liberalismo. Jose Luiz Quadros de Magalhaes nos
concentrado nas mãos de uma só pessoa.
lembra de que a primeira fase do liberalismo no sécu-
Se formalmente a independência brasileira repre-
lo XIII veio junto ao constitucionalismo e era incompa-
sentou um avanço, pelo menos no que diz respeito
tível com a democracia majoritária. A essência desse
aos direitos políticos, do ponto de vista material a po-
liberalismo era a segurança nas relações jurídicas e
pulação não possuía consciência do valor do voto,
a proteção do individuo conta o estado. A ideia de
e as eleições não tinham o caráter de exercício da
liberdade estava vinculada a ideia de propriedade
cidadania, mas sim de submissão a um chefe político
privada e só os homens proprietários podiam votar. A local. Já os direitos sociais ainda não haviam apareci-
segunda fase do liberalismo no século XIX trata-se da do de forma explícita.
fusão do liberalismo com a democracia majoritária, Mesmo após o lento processo de abolição da es-
dando início aos direitos políticos. Sua grande con- cravidão o preconceito ainda estava presente.
quista foi o sufrágio masculino. Na terceira fase já há A primeira república é instalada em 1889, mas os
nova legislação, e uma fase de transição do estado aspectos negativos herdados do período imperial e
liberal para o social, pois começa a aparecer na le- presentes até 1930 impediram o progresso da cida-
gislação os primeiros direitos sociais. dania no país. A federalização introduzida fortaleceu
o poder das elites locais e estimulou a formação das
4) Construção da cidadania brasileira oligarquias estaduais. A proibição do voto do analfa-
Para avaliar a evolução da cidadania na história beto e a determinação do voto facultativo e desco-
do Brasil devemos começar pela colonização, com berto contribuíram para o controle da população por
a qual os portugueses garantiram um país dotado parte dos coronéis e chefes políticos locais.
de unidade territorial, linguística, cultural e religiosa. O desenvolvimento da cidadania encontrava
Porém, deixaram também uma população analfa- obstáculos também no campo dos direitos civis, uma
beta, escravocrata, baseada em uma economia vez que o legado negativo do período escravocrata,
latifundiária e monocultora. O autor Murilo Carvalho a grande propriedade rural coronelista e um Estado
vê nessa fase uma ausência de cidadãos, tanto por comprometido com o poder privado desconstruíam
parte dos escravos (por falta de direitos civis básicos) as noções de igualdade entre todos e respeito às leis.
Juntamente à situação precária dos direitos civis a jornada de 8 horas, regulamentado o trabalho fe-
e políticos, nos deparamos com os direitos sociais em minino e criada a carteira de trabalho e as Juntas de
uma situação igualmente negativa. No campo des- Conciliação e Julgamento; em 1933, foi regulado o
tes direitos sociais o operariado industrial dos grandes direito de férias; em 1940, adotado o salário mínimo;
centros urbanos, formado por ex-escravos e imigran- em 1941, foi criada a justiça do trabalho, e em 1943,
tes, influenciados pelo anarquismo europeu, organi- foi implantada a Consolidação das Leis do Trabalho.
zava-se e começava a se levantar em favor de uma O aspecto negativo de toda essa legislação so-
legislação trabalhista, direito de férias, regulamenta- cial era a exclusão de certas categorias de trabalha-
ção de jornadas de trabalho entre outras. dores, como os autônomos, os domésticos e os traba-
A Constituição Republicana de 1891, de forte lhadores rurais, e também a vinculação dos direitos
tradição liberal, impedia uma maior interferência do trabalhistas a uma legislação sindical. Certos bene-
Estado na regulamentação das relações trabalhistas, fícios eram reservados apenas aos sindicalizados, e
que deviam ser resolvidas inicialmente em âmbito pri- essa não universalização dos direitos trabalhistas re-
vado. A assistência social ficava a cargo de irman- presentava um limite ao pleno exercício da cidada-
dades religiosas e associações particulares, e só em nia.
1919, por ocasião do ingresso do Brasil na Organiza- Mediante uma postura populista o governo inver-
ção Mundial do Trabalho, foi regulamentada a res- teu a ordem lógica dos direitos de cidadania, que
ponsabilidade dos empregadores pelos acidentes de passaram a ser considerados privilégios ofertados a
trabalho. determinadas categorias ao invés de verdadeira-
A partir de então alguns avanços foram notados. mente direitos decorrentes de uma ação política in-
Contudo, os direitos sociais conquistados não foram dependente, colocando os cidadãos numa posição
efetivados na prática, sobretudo pelo boicote por de dependência frente ao Estado, uma posição de
parte do patronato. cidadania passiva.
Até 1930 não havia cidadãos brasileiros organi- Com a queda de Vargas em 1945 e a convoca-
ção de eleições presidenciais e legislativas o Brasil
zados politicamente, nem tampouco um sentimento
entra numa primeira experiência democrática. A
nacionalista consolidado. Os movimentos que se su-
Constituição de 1946 manteve as conquistas sociais
cederam desde o início do período imperial possuíam
do Estado Novo e assegurou os direitos civis e polí-
características eminentemente reativas e não propo- 473
ticos. Até 1964 viu-se uma intensa participação po-
sitivas estimuladas por identidades locais. É o que Car-
lítica dos mais diversos setores da sociedade. Nesse
valho denomina como cidadania em negativo.
período, foram criadas foram criadas várias organi-
O marco no desenvolvimento da cidadania brasi-
zações como a União Nacional dos Estudantes, a Es-
leira foi o movimento revolucionário de 1930, que cor-
cola Superior de Guerra, o Movimento de Educação
responde a única tentativa de manifestação popular
de Base, o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais e
ativa, organizada e de amplitude nacional da história
o Comando Geral dos Trabalhadores. No campo, os
do Brasil. A participação das massas populares e o
pequenos produtores rurais organizam-se em Ligas
sentimento nacionalista dos cidadãos deu ao movi-
Camponesas em defesa da reforma agrária e do re-
mento um caráter diverso da proclamação da repú- conhecimento de uma série de direitos civis, políticos
blica, representando assim uma maior ampliação na e sociais. O embate político entre as massas rurais
noção de cidadania. Nesse período, multiplicaram-se e urbanas, impulsionado pelos movimentos de seg-
os sindicatos e os partidos políticos, e o cenário políti- mentos hierarquicamente inferiores das Forças Arma-
co brasileiro atingia vários grupos sociais, como ope- das leva a uma reação golpista das classes dominan-
rários, classe média, militares, industriais e oligarquias tes voltado à manutenção do pacto populista. Vem
dissidentes. o golpe militar de 1964 e com ele novo retrocesso no
O regime ditatorial de Vargas no ano de 1937 re- desenvolvimento da cidadania brasileira.
presenta um avanço nos direitos sociais, porém ao Os governos militares tinham como suporte ideo-
mesmo tempo um retrocesso nos direitos políticos e lógico a ideia do desenvolvimento e da segurança
civis, pois é um momento onde os direitos individuais nacional, e para tanto, lançaram no país um regime
são violados. autoritário e discricionário que restringiu ao máximo
O projeto nacional-desenvolvimentista do gover- os direitos civis e políticos na tentativa de enfrentar os
no Getúlio Vargas baseado num modelo de desen- “movimentos subversivos”. Uma série de Atos Institu-
volvimento econômico que privilegiava a industriali- cionais com força superior às disposições constitucio-
zação fomentou uma séria de mecanismos de fortale- nais estabeleceu o novo ordenamento jurídico-polí-
cimento do trabalhador urbano-industrial. Em 1930 foi tico do país e representou a radicalização máxima
criado o Ministério do Trabalho; em 1932, foi instituída do período ditatorial repressivo. Foram instituídas as
penas de morte e de banimento, a tortura tornou-se judiciárias. Esse processo culmina na modernidade,
um costume, e os meios de comunicação passaram onde o conceito de cidadania torna-se um dos prin-
a sofrer com a imposição da censura. Os direitos civis cípios fundamentais do Estado Democrático de Direi-
e políticos foram reduzidos à zero. to. Nessa mesma modernidade, a sociedade passa
Nesse momento sombrio para a cidadania bra- a ser uma associação de indivíduos, com leis que
sileira alguns avanços no campo dos direitos sociais amoldam de acordo com suas vontades e não mais
funcionaram como uma leve segurança. Em 1966 foi como um todo uno e indivisível, com suas próprias leis
criado o Instituto Nacional de Previdência Social e o alheias a vontade humana como era na antiguida-
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço; em 1974 de.
foi criado o Ministério da Previdência e Assistência Através desta linha temporal, começando com
Social. os gregos antigos e chegando ao mundo ocidental
A partir 1974, pode-se notar um lento retorno à moderno, percebemos o quanto a cidadania evoluiu
democracia onde Brasil iniciou um processo gradual e se metamorfoseou, inclusive a cidadania brasileira,
em direção a esta. De um lado, o governo ocupa- que se iniciou com a colonização portuguesa, pas-
va-se em eliminar os mecanismos restritivos vigentes sou por períodos turbulentos como a ditadura militar
em todo o período militar, de outro, a sociedade civil de 1964 (período em que os direitos políticos e civis
começava a se reorganizar e os movimentos popula- foram suprimidos, e os direitos sociais supervaloriza-
res voltavam a atuar. O auge desse novo período foi dos, uma postura paternalista do estado), e atingiu
a campanha pelas eleições presidenciais diretas, em os dias atuais, nos quais percebemos uma amplitude
1984, que entrou para a história como o movimento de direitos civis e políticos nunca antes presenciada
das “Diretas Já”. No ano seguinte, temos oficialmente na história do país.
o fim do regime ditatorial com a vitória de Tancredo Percebemos pois, que a cidadania em seu está-
Neves. gio atual torna o indivíduo um ser individual, passível
A partir daí o país se colocou definitivamente nos de necessidades e carências, e acima de tudo de
rumos da democracia política, e em 1988 foi elabo- direitos (civis, político, e sociais) que devem ser res-
rada a mais avançada carta constitucional da his- peitados ainda que para que isso ocorra uma série
tória brasileira no que tange ao reconhecimento e de empecilhos devam ser subjulgados.
garantia dos direitos de cidadania, uma Constituição
474 Cidadã. Em 1989 o novo presidente da república foi QUESTÃO 01
eleito pelo voto direto e dois anos e meio depois de Na agricultura, a busca por uma produtividade
sua posse, foi submetido a um processo de impedi- cada vez maior leva os agricultores a instalarem ono-
mento que representou uma das manifestações cívi- culturas frequentemente com apenas uma linhagem
cas mais importantes da nossa história. De lá pra cá geneticamente melhorada. A desvantagem é que
os direitos civis e políticos adquiriram uma amplitude tais cultivos são muito suscetíveis ao ataque de pra-
nunca antes atingida, no entanto, a efetivação dos gas e doenças. Quando isto acontece, os melhoristas
direitos sociais permaneceu num mar de incertezas, desenvolvem novas variedades a partir de
deixando à cidadania plena no Brasil um conjunto (A) genes de resistência encontrados nas popula-
problemático de obstáculos a serem superados. ções nativas da espécie.
A cidadania sempre esteve ligada a noções de (B) proteínas de resistência projetadas por enge-
direito, em especial ao exercício do direito político, nharia genética.
mas na realidade ela abrange muito mais do que (C) agentes mutagênicos que induzem resistên-
somente este, incluindo assim o pleno exercício dos cia em culturas de tecidos.
direitos sociais e também dos direitos civis. Cidada- (D) outras espécies resistentes nos arredores da
nia é o envolvimento na vida pública, referindo-se ao plantação.
conjunto das ações que vão desde o ato do voto, à (E) mecanismos moleculares que induzem a resis-
participação na vida pública, e também outros com- tência.
portamentos sociais e morais, não apenas os direitos
e deveres que as sociedades esperam dos cidadãos. QUESTÃO 02
A cidadania tal como conhecemos é resultan- Em uma célula que produz proteínas para serem
te de um processo lento e gradual que se iniciou na exportadas, o caminho percorrido pelos polipeptí-
antiguidade com os gregos, onde o povo (homens deos, do local de síntese até o meio extracelular é
livres, deixando à margem da comunidade cívica (A) cromossomos, envoltório nuclear, complexo
as mulheres e os escravos) detinha a autoridade su- golgiense e matriz extracelular.
prema, ou seja, estava inserido em uma democracia (B) vacúolo contrátil, retículo endoplasmático ru-
direta, na qual lhe competia as funções legislativas e goso e proteoma.
QUESTÃO 12 QUESTÃO 17
Dentre as funções do fígado humano está a Ao observar uma fotografia de um pôr-do-sol, o
(A) detoxificação de substâncias. professor comentou que, no momento em que a foto
(B) destruição de glóbulos brancos. foi tirada, o Sol já havia se posto a pelo menos 8 minu-
(C) síntese de amido. tos. O comentário do professor é correto pois
(D) síntese de adrenalina. (A) a distância entre o Sol e a Terra é de cerca de
(E) estocagem de bile. 8 anos-luz.
(B) a luz do Sol leva cerca de 8 minutos para che-
QUESTÃO 13 gar à Terra.
Cloroplastos e mitocôndrias têm em comum (C) ele quis ressaltar a relação entre tempo e ta-
(A) vias metabólicas idênticas. manho do Sol.
(B) a forma e o tamanho. (D) o filme demora cerca de 8 minutos para fixar
(C) a sua presença em todas as células vivas. a exposição.
(D) a provável origem endossimbiótica. (E) a velocidade da luz é de cerca de 8 Km/min.
(E) o tamanho de seus genomas.
QUESTÃO 18
QUESTÃO 14 Em 1643 Torricelli conduziu um experimento no
A poluição térmica consiste no aquecimento das qual encheu um tudo de vidro com mercúrio, tam-
águas naturais pela introdução da água quente uti- pou a extremidade aberta e inverteu o tubo colocan-
lizada na refrigeração de centrais elétricas, usinas do-o num vaso também cheio de mercúrio. Consta-
nucleares, refinarias, siderúrgicas e indústrias diversas. tou que o mercúrio no tubo baixou, mas permanecia
Esta elevação da temperatura afeta o meio sempre aproximadamente 76 cm mais alto do que a
(A) diminuindo a concentração do O2 na água. superfície de mercúrio fora do tubo, em contato com
(B) aumentando a concentração do CO2 na o ar. Com este experimento o cientista
água. (A) propôs a lei da conservação da massa.
(C) diminuindo a concentração de sais na água. (B) inferiu a compressão dos gases.
(D) aumentando a pressão da água. (C) descobriu a pressão do ar.
(E) diminuindo o pH da água.
476 (D) inventou o anemômetro de mercúrio.
(E) desvendou a composição da atmosfera.
QUESTÃO 15
Galileu Galilei é considerado um dos criadores da
QUESTÃO 19
ciência moderna por
Os australopitecos foram descobertos na África,
(A) incorporar o método de análise cartesiano.
na década de 20. Na época muitos cientistas se re-
(B) introduzir o raciocínio matemático na física.
cusaram a aceitá-lo como integrante da linhagem
(C) divulgar o pensamento aristotélico-ptolomai-
do Homo sapiens, cujo cérebro tem cerca de 1.500
co.
mL, enquanto o do chimpanzé tem apenas 500 mL.
(D) ter inventado o telescópio e o sextante.
Dentre as características do gênero Australopithecus
(E) ter refutado as teses de Copérnico.
encontram-se o
(A) bipedalismo e um cérebro de 500 mL.
QUESTÃO 16
Um observador na Terra, percebe que a conste- (B) quadrupedalismo e um cérebro de 1.000 mL.
lação do Cruzeiro do Sul muda de lugar ao longo do (C) uso do fogo e uma indústria lítica primitiva.
ano em relação à sua posição. Ele percebe, tam- (D) uso da linguagem e de pinturas nas cavernas.
bém, que esta constelação (E) polegar oponível e escrita incipiente.
(A) se aproxima da constelação de Sagitário do
início do verão. QUESTÃO 20
(B) indica o centro de referência para estudos as- A evolução biológica é um processo de
tronômicos. (A) geração de mutações.
(C) é aquela que brilha mais em todo o céu no- (B) competição interespecífica.
turno, principalmente no verão. (C) eliminação de mutações hereditárias.
(D) mantém sempre a mesma posição em rela- (D) manutenção da variabilidade genética.
ção às demais constelações. (E) descendência com modificações.
(E) se afasta da constelação de Ursa Maior du-
rante o outono e o inverno.
QUESTÃO 26
Na espécie humana, comparando-se um zigoto
com um óvulo, o zigoto
(A) tem mais cromossomos.
(A) I, II, III e IV. (B) é menor.
(B) I, III, II e IV. (C) tem mais de uma célula.
(C) II, IV, I e III. (D) é muito maior.
(D) II, I, IV e III. (E) divide-se por meiose.
(E) IV, II, III e I.
QUESTÃO 27
QUESTÃO 22 Alguns biólogos acreditam que metade das es-
A inclinação do eixo terrestre tem, como conse- pécies da Terra podem ser exterminadas neste sécu-
quência, lo. Extinções em massa já ocorreram antes, mas esta
(A) o dia de 24 horas. seria diferente pois
(B) o ano de 365 dias. (A) as espécies estão ameaçadas por uma mu-
(C) a oscilação das marés. dança climática.
(D) as estações do ano. (B) está acontecendo a uma velocidade muito
(E) os eclipses lunares. maior.
(C) uma porção muito maior da Terra será afe- 477
QUESTÃO 23 tada.
Se um mesmo objeto cair de uma altura de 10 m (D) toda a vida na Terra poderá ser extinta.
nos diferentes planetas do sistema solar, ele atingirá o (E) é muito mais gradual e difícil de se notar.
solo mais rapidamente em
(A) Mercúrio. QUESTÃO 28
(B) Marte. Algumas salamandras apresentam um fenôme-
(C) Júpiter. no chamado neotenia no qual animais sexualmente
(D) Saturno. maduros
(E) Netuno. (A) reproduzem assexuadamente.
(B) não mais se reproduzem.
QUESTÃO 24 (C) são partenogenéticos.
Várias medições sucessivas têm verificado que a (D) retêm características larvais.
camada de ozônio está ficando cada vez mais rare- (E) fazem auto-fecundação.
feita em alguns locais. A camada de ozônio é impor-
tante pois ela QUESTÃO 29
(A) reduz a incidência de chuvas ácidas. Considere os seguintes eventos: origem da agri-
(B) impede o efeito estufa. cultura, formação do planeta Terra, origem dos pri-
(C) filtra os raios ultravioleta do Sol. meiros mamíferos e origem dos primeiros tetrápodes.
(D) diminui as inversões térmicas. Em número de anos, as ordens de grandeza respecti-
(E) mantém as calotas polares. vamente usadas para os eventos são
(A) centenas, bilhões, milhões e bilhões.
QUESTÃO 25 (B) milhões, trilhões, bilhões e milhões.
A necessidade diária de carboidratos de um ho- (C) dezenas, milhões, milhares e milhões.
mem adulto é de centenas de gramas enquanto a (D) centenas, milhões, milhares e milhares.
de vitaminas é de miligramas. As vitaminas são ne- (E) milhares, bilhões, milhões e milhões.
cessárias em quantidades tão pequenas porque
QUESTÃO 30 QUESTÃO 33
O atual Plano de Educação para a Ciência, do Discutir o desenvolvimento sustentável, analisan-
MEC, é uma iniciativa que tem, dentre seus objetivos: do soluções tecnológicas possíveis na agricultura, na
– Incentivar projetos curriculares voltados para a diminuição do lixo e no controle da poluição requer
educação científica e mudanças curriculares que in- um ensino que
corporem abordagens práticas e problematizadoras (A) considere a importância do convívio social na
das Ciências; construção de conhecimento.
– Implantar as oficinas de Ciências, Cultura e Arte (B) verifique a validade das propostas e projetos
em instituições de ensino e científicas, como espa- governamentais.
ços de ensino-aprendizagem e de formação inicial e (C) valorize o desenvolvimento econômico como
continuada de professores. gerador de igualdade social.
(D) analise criticamente o ambiente e a comuni-
Estes objetivos permitem identificar um movimen- dade escolares.
to para um ensino de ciências que prioriza (E) reconheça o impacto ambiental do desenvol-
(A) o positivismo e o processo de investigação. vimento econômico.
(B) a psicologia da instrução e o behaviorismo.
(C) o enfoque multidisciplinar e contextualizado. QUESTÃO 34
(D) a exposição de conteúdos, memorização e No ensino fundamental os conteúdos relaciona-
repetição. dos à saúde devem enfatizar
(E) o construtivismo e a experimentação. (A) os parasitas e seus vetores.
(B) a manutenção da saúde.
QUESTÃO 31 (C) os ciclos das doenças.
Os PCNs apresentam quatro grandes blocos de (D) as doenças endêmicas regionais.
conteúdos. (E) a importância da medicina alternativa.
I. Recursos tecnológicos.
II. Ser humano e saúde. QUESTÃO 35
Um dos riscos de um processo ensino-aprendiza-
III. Terra e universo.
gem contextualizado está em considerar que a sim-
IV. Ambiente.
478 ples sistematização do conhecimento cotidiano seja
suficiente para a aprendizagem. Assim, um dos pa-
Todos os ciclos do ensino fundamental devem
péis do professor de Ciências deve ser
trabalhar conteúdos dos blocos
(A) incentivar a investigação científica e o méto-
(A) I e II, apenas.
do empírico.
(B) I e III, apenas.
(B) incorporar métodos alternativos de busca de
(C) I, II e IV, apenas.
conhecimento.
(D) II e III, apenas.
(C) mostrar que a ciência encontra-se além das
(E) I, II, III e IV.
motivações históricas e sociais.
(D) discutir os limites do senso comum para expli-
QUESTÃO 32 car os fenômenos.
Segundo os PCNs, as propostas para o ensino de (E) partir do contexto em direção à busca da ver-
Ciências devem considerar dade.
(A) suas relações com a tecnologia e com as de-
mais questões sociais e ambientais. QUESTÃO 36
(B) o método científico, da maneira como é utili- Considere as características abaixo.
zado pelos cientistas. I. A importância do envolvimento ativo do aluno.
(C) a assimilação de conteúdos, para formar II. O respeito pelo aluno e por suas próprias ideias.
uma base teórica bem consolidada. III. O entendimento da ciência enquanto criação
(D) o uso do livro didático como o norteador do humana.
processo ensino-aprendizagem.
(E) a busca da verdade e de explicações incon- Aplicam-se ao construtivismo educacional as ca-
testáveis para os fenômenos naturais. racterísticas
(A) I, apenas.
(B) I e II, apenas.
(C) I e III, apenas.
(D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.
QUESTÃO 37 QUESTÃO 41
O ensino do método científico é fundamental (Uel 97) A anemia falciforme ou siclemia é uma
para o desenvolvimento de atitudes e habilidades doença hereditária que leva à formação de hemo-
que propiciem ao aluno a aquisição de uma postura globina anormal e, consequentemente, de hemácias
de questionamento. NÃO é um aspecto do método que se deformam. É condicionada por um alelo mu-
tante s. O indivíduo SS é normal, o Ss apresenta ane-
científico:
mia atenuada e o ss geralmente morre.
(A) observação.
1. Supondo populações africanas com incidência
(B) falseabilidade. endêmica de malária, onde a anemia falciforme não
(C) elaboração de hipóteses. sofra influência de outros fatores e onde novas muta-
(D) comprovação da verdade. ções não estejam ocorrendo, a freqüência do gene:
(E) descrição de um fenômeno. a) S permanece constante.
b) S tende a diminuir.
QUESTÃO 38 c) S tende a aumentar.
Com relação ao uso de imagens pelo professor d) s permanece constante.
de Ciências foram feitas as afirmações abaixo. e) s tende a aumentar
I. Neste nível deve-se explorar diversos tipos de
QUESTÃO 42
imagens, como fotografias, esquemas e mapas.
Verificou-se que empopulações de regiões onde
II. A produção de imagens pelos alunos é impor-
a malária é endêmica, os heterozigotos (Ss) são mais
tante para desenvolver a sua competência leitora. resistentes à malária do que os normais (SS). Nesse
III. As imagens devem ser apresentadas apenas caso são verdadeiras as afirmações a seguir, EXCETO:
depois do entendimento do texto. a) A malária atua como agente seletivo.
b) O indivíduo ss leva vantagem em relação ao SS.
É correto o que se afirma APENAS em c) O indivíduo Ss leva vantagem em relação ao SS.
(A) I. d) Quando a malária for erradicada, ser heterozi-
(B) II. goto deixará de ser vantagem.
(C) I e II. e) Quando a malária for erradicada, haverá mu-
(D) I e III. dança na frequência gênica da população
(E) II e III. 479
QUESTÃO 43
(Ufu 2001) De acordo com a Teoria de HardyWeim-
QUESTÃO 39 berg, em uma população em equilíbrio genético as
A concepção de educação que se relaciona ao frequências gênicas e genotípicas permanecem
método tradicional de ensino vê a escola como constantes ao longo das gerações. Para tanto, é ne-
(A) reprodutora do modelo social dominante, re- cessário que
ferendando-o. a) a população seria infinitamente grande, os cru-
(B) um dos instrumentos de transformação efetiva zamentos ocorram ao acaso e esteja isenta de fatores
da sociedade. evolutivos, tais como mutação, seleção natural e mi-
(C) modificadora das relações de produção e grações.
das diferenças entre classes sociais. b) o tamanho da população seja reduzido, os cru-
(D) uma instituição que estimula o aprofunda- zamentos ocorram ao acaso e esteja sujeita a fatores
evolutivos, tais como mutação, seleção natural e mi-
mento do pensamento crítico.
grações.
(E) necessária para a formação da cidadania,
c) a população seria infinitamente grande, os
através de uma abordagem multidisciplinar. cruzamentos ocorram de modo preferencial e esteja
isenta de fatores evolutivos, tais como mutação, sele-
QUESTÃO 40 ção natural e migrações.
(Fuvest 94) Considere uma população em que d) a população seja de tamanho reduzido, os cru-
metade dos indivíduos mantém-se heterozigota para zamentos ocorram de modo preferencial e esteja su-
um dado gene (Aa), enquanto que a outra meta- jeita a fatores evolutivos, tais como mutação, seleção
de é composta por indivíduos duplo-recessivos (aa). natural emigrações.
Nessa população a freqüência do alelo A é
a) impossível de se determinar. Respostas: 01-A / 02-D / 03-A / 04-E / 05-D / 06-A /
07-C / 08-B / 09-E / 10-E / 11-D / 12-A / 13-D / 14-A / 15-B
b) 1,00.
/ 16-D / 17-B / 18-C / 19-A / 20-E / 21-B / 22-D / 23-C /
c) 0,75.
24-C / 25-D / 26-A / 27-B / 28-D / 29-E / 30-C / 31-C /
d) 0,50.
32-A / 33-E / 34-B / 35-D / 36-E / 37-D / 38-C / 39-A / 40-E
e) 0,25.
/ 41- C / 42-B / 43- A
QUESTÃO 48
Hipóxia ou mal das alturas consiste na diminuição
de oxigênio (O2) no sangue arterial do organismo.
Por essa razão, muitos atletas apresentam mal-estar
480 (dores de cabeça, tontura, falta de ar etc.) ao prati-
carem atividade física em altitudes elevadas. Nessas
condições, ocorrerá uma diminuição na concentra-
ção de hemoglobina oxigenada (HbO2) em equilí-
brio no sangue, conforme a relação:
QUESTÃO 55 QUESTÃO 57
Será que uma miragem ajudou a afundar o Ti- O aproveitamento de resíduos florestais vem se
tanic? O fenômeno ótico conhecido como Fata tornando cada dia mais atrativo, pois eles são uma
Morgana pode fazer com que uma falsa parede de fonte renovável de energia. A figura representa a
água apareça sobre o horizonte molhado. Quando queima de um bio-óleo extraído do resíduo de ma-
as condições são favoráveis, a luz refletida pela água deira, sendo ∆H1 a variação de entalpia devido à
fria pode ser desviada por uma camada incomum queima de 1 g desse bio-óleo, resultando em gás car-
de ar quente acima, chegando até o observador, bônico e água líquida, e ∆H2, a variação de entalpia
vinda de muitos ângulos diferentes. De acordo com envolvida na conversão de 1 g de água no estado
estudos de pesquisadores da Universidade de San gasoso para o estado líquido.
Diego, uma Fata Morgana pode ter obscurecido os
icebergs da visão da tripulação que estava a bordo
do Titanic. Dessa forma, a certa distância, o horizon-
te verdadeiro fica encoberto por uma névoa escu-
recida, que se parece muito com águas calmas no
escuro.
Disponível em: http://apod.nasa.gov. Acesso em: 6 set.
2012 (adaptado).
limpa. Após três minutos, caso surja uma mancha ainda permanece restrita a ambientes úmidos ou
avermelhada no local da aplicação, afirma-se que aquáticos, devido à manutenção de algumas ca-
a calda bordalesa ainda não está com a basicidade racterísticas fisiológicas relacionadas à água.
necessária. O quadro apresenta os valores de poten- Uma das características a que o texto se refere é
ciaispadrão de redução (E0) para algumas semirrea- a a) a reprodução por viviparidade.
ções de redução. b) respiração pulmonar nos adultos.
c) regulação térmica por endotermia.
d) cobertura corporal delgada e altamente per-
meável.
e) locomoção por membros anteriores e posterio-
res desenvolvidos.
QUESTÃO 65
Hidrocarbonetos podem ser obtidos em laborató-
rio por descarboxilação oxidativa anódica, processo
conhecido como eletrossíntese de Kolbe. Essa rea-
ção é utilizada na síntese de hidrocarbonetos diver-
MOTTA, I. S. Calda bordalesa: utilidades e preparo. Doura- sos, a partir de óleos vege tais, os quais podem ser
dos: Embrapa, 2008 (adaptado). empregados como fontes alter nativas de energia,
em substituição aos hidrocarbonetos fósseis. O es-
QUESTÃO 63 quema ilustra simplificadamente esse processo.
Em um experimento, um professor levou para a
sala de aula um saco de arroz, um pedaço de ma-
deira triangular e uma barra de ferro cilíndrica e ho-
mogênea. Ele propôs que fizessem a medição da
massa da barra utilizando esses objetos. Para isso, os
alunos fizeram marcações na barra, dividindo-a em
484 oito partes iguais, e em seguida apoiaram-na sobre a AZEVEDO. D. C.: GOULART. M. O. F. Estereosseletividade
base triangular, com o saco de arroz pendurado em
em reações eletródicas. Química Nova. n. 2. 1997 (adaptado).
uma de suas extremidades, até atingir a situação de
equilíbrio.
Com base nesse processo, o hidrocarboneto pro-
duzido na
eletrólise do ácido 3,3-dimetil-butanoico é o
a) 2,2,7,7 -tetrametil-octano.
b) 3,3,4,4-tetrametil-hexano.
c) 2,2,5,5-tetrametil-hexano.
d) 3,3,6,6-tetrametil-octano.
e) 2,2,4,4-tetrametil-hexano.
QUESTÃO 66
Nessa situação, qual foi a massa da barra obtida A definição de queimadura é bem ampla, po-
pelos rém, basicamente, é a lesão causada pela ação
alunos? direta ou indireta produzida pela transferência de
a) 3,00 kg calor para o corpo. A sua manifestação varia des-
b) 3,75 kg de bolhas (flictenas) até formas mais graves, capazes
c) 5,00 kg de desencadear respostas sistêmicas proporcionais à
d) 6,00 kg gravidade da lesão e sua respectiva extensão. Mui-
e)15,00 kg
tas vezes, os primeiros socorros prestados à vítima, ao
invés de ajudar, acabam agravando ainda mais a
QUESTÃO 64
situação do paciente.
Os anfíbios representam o primeiro grupo de ver- Disponlvel em: www.bombeiros-bm.rs.gov.br.Acesso em:
tebrados que, evolutivamente, conquistou o ambien-
28 tev. 2012 (adaptado).
te terrestre. Apesar disso, a sobrevivência do grupo
Ao se deparar com um indivíduo que sofreu quei- tação é manter as plantas com suas raízes suspensas
madura com formação de flictena, o procedimento em meio líquido, de onde retiram os nutrientes essen-
de primeiros socorros que deve ser realizado antes de ciais. Suponha que um produtor de rúcula hidropô-
encaminhar o paciente ao hospital é nica precise ajustar a concentração de íon nitrato
a) colocar gelo sobre a flictena para amenizar o (NO3–) para 0,009 mol/L em um tanque de 5000 litros
ardor. e, para tanto, tem em mãos uma solução comercial
b) utilizar manteiga para evitar o rompimento da nutritiva de nitrato de cálcio 90 g/L.
flictena. As massas molares dos elementos N, O e Ca são
c) passar creme dental para diminuir a ardência iguais a 14 g/mol, 16 g/mol e 40 g/mol, respectiva-
da flictena. mente.
d) perfurar a flictena para que a água acumula- Qual o valor mais próximo do volume da solução
da seja liberada. nutritiva, em litros, que o produtor deve adicionar ao
e) cobrir a flictena com gazes molhadas para evi- tanque?
tar a desidratação. a) 26
b) 41
QUESTÃO 67 c) 45
As altas temperaturas de combustão e o atrito d) 51
entre suas peças móveis são alguns dos fatores que e) 82
provocam o aquecimento dos motores à combustão
interna. Para evitar o superaquecimento e conse- QUESTÃO 70
quentes danos a esses motores, foram desenvolvidos Algumas raças de cães domésticos não conse-
os atuais sistemas de refrigeração, em que um fluido guem copular entre si devido à grande diferença em
arrefecedor com seus tamanhos corporais. Ainda assim, tal dificuldade
propriedades especiais circula pelo interior do reprodutiva não ocasiona a formação de novas es-
motor, absorvendo o calor que, ao passar pelo radia- pécies (especiação).
dor, é transferido para a atmosfera. Essa especiação não ocorre devido ao(a)
Qual propriedade o fluido arrefecedor deve pos- a) oscilação genética das raças.
suir para b) convergência adaptativa entre raças.
cumprir seu objetivo com maior eficiência? c) isolamento geográfico entre as raças. 485
a) Alto calor específico. d) seleção natural que ocorre entre as raças.
b) Alto calor latente de fusão. e) manutenção do fluxo gênico entre as raças.
c) Baixa condutividade térmica.
d) Baixa temperatura de ebulição. QUESTÃO 71
e) Alto coeficiente de dilatação térmica. O ar atmosférico pode ser utilizado para armaze-
nar o excedente de energia gerada no sistema elétri-
QUESTÃO 68 co, diminuindo seu desperdício, por meio do seguinte
Pesticidas são substâncias utilizadas para pro- processo: água e gás carbônico são inicialmente re-
mover o controle de pragas. No entanto, após sua movidos do ar atmosférico e a massa de ar restante é
aplicação em ambientes abertos, alguns pesticidas resfriada até –198°C. Presente na proporção de 78%
organoclorados são arrastados pela água até lagos dessa massa de ar, o nitrogênio gasoso é liquefeito,
e rios e, ao passar pelas guelras dos peixes, podem ocupando um volume 700 vezes menor. A energia
difundir-se para seus tecidos lipídicos e lá se acumu- excedente do sistema elétrico é utilizada nesse pro-
larem. cesso, sendo parcialmente recuperada quando o
A característica desses compostos, responsável nitrogênio líquido, exposto à temperatura ambiente,
pelo processo descrito no texto, é o(a) entra em ebulição e se expande, fazendo girar tur-
a) baixa polaridade. binas que convertem energia mecânica em energia
b) baixa massa molecular. elétrica.
c) ocorrência de halogênios. MACHADO, R. Disponível em www.correiobraziliense.com.
d) tamanho pequeno das moléculas. br Acesso em: 9 set. 2013 (adaptado).
e) presença de hidroxilas nas cadeias.
No processo descrito, o excedente de energia
QUESTÃO 69 elétrica é armazenado pela
A hidroponia pode ser definida como uma técni- a) expansão do nitrogênio durante a ebulição.
ca de produção de vegetais sem necessariamente b) absorção de calor pelo nitrogênio durante a
a presença de solo. Uma das formas de implemen- ebulição.
a) QUESTÃO 77
c)
QUESTÃO 78
e) Euphorbia mili é uma planta ornamental ampla-
mente disseminada no Brasil e conhecida como co-
roa-de-cristo.
O estudo químico do látex dessa espécie forne-
ceu o mais potente produto natural moluscicida, a
miliamina L.
MOREIRA. C. P. s.; ZANI. C. L.; ALVES, T. M. A. Atividade
moluscicida do látex de Synadenium carinatum boiss.
(Euphorbiaceae) sobre Biomphalaria glabrata e isolamen-
to do constituinte majoritário. Revista Eletrônica de Farmácia.
n. 3. 2010 (adaptado).
O uso desse látex em água infestada por hospe- “O circuito deve ser tal que as tomadas e a lâm-
deiros intermediários tem potencial para atuar no pada devem estar submetidas à tensão nominal da
controle da rede elétrica e a lâmpada deve poder ser ligada ou
a) dengue. desligada por um interruptor sem afetar os outros dis-
b) malária. positivos” — pensou.
c) elefantíase. Símbolos adotados:
d) ascarídiase.
e) esquistossomose.
QUESTÃO 79
A química verde permite o desenvolvimento tec-
nológico com danos reduzidos ao meio ambiente, e a)
encontrar rotas limpas tem sido um grande desafio.
Considere duas rotas diferentes utilizadas para a ob-
tenção de ácido adípico, um insumo muito importan-
te para a indústria têxtil e de plastificantes.
b)
488
c)
LENARDAO, E.J. et al. Greon chemistry - Os doze Princípios
da Química Verde e sua inserção nas atividades de ensino e
pesquisa.
Química Nova n.1 2003 (adaptado).
Que fator contribui positivamente para que a se-
gunda rota de síntese seja verde em comparação à
primeira?
a) Etapa única na síntese.
b) Obtenção do produto puro.
c) Ausência de reagentes oxidantes.
d) Ausência de elementos metálicos no processo.
e) Gasto de energia nulo na separação do pro-
duto.
QUESTÃO 80
Um estudante, precisando instalar um compu-
tador, um monitor e uma lâmpada em seu quarto,
verificou que precisaria fazer a instalação de duas
tomadas e um interruptor na rede elétrica. Decidiu
esboçar com antecedência o esquema elétrico.
d) QUESTÃO 82
Uma garrafa térmica tem como função evitar a
troca de calor entre o líquido nela contido e o am-
biente, mantendo a temperatura de seu conteúdo
constante. Uma forma de orientar os consumidores
na compra de uma garrafa térmica seria criar um
selo de qualidade, como se faz atualmente para in-
formar o consumo de energia de eletrodomésticos.
O selo identificaria cinco categorias e informaria a
variação de temperatura do conteúdo da garrafa,
depois de decorridas seis horas de seu
e) fechamento, por meio de uma porcentagem do
valor inicial da temperatura de equilíbrio do líquido
na garrafa.
O quadro apresenta as categorias e os intervalos
de variação percentual da temperatura.
QUESTÃO 81
Normalmente, as células do organismo humano
realizam a respiração aeróbica, na qual o consumo
de uma mólecula de glicose gera 38 moléculas de
ATP. Contudo em condições anaeróbicas, o consu-
mo de uma mólecula de glicose pelas células é ca- Para atribuir uma categoria a um modelo de gar- 489
paz de gerar apenas duas moléculas de ATP. rafa térmica, são preparadas e misturadas, em uma
garrafa, duas amostras de água, uma a 10°C e outra
a 40°C, na proporção de um terço de água fria para
dois terços de água quente. A garrafa é fechada.
Seis horas depois, abrese a garrafa e mede-se a tem-
peratura da água, obtendo-se 16°C.
Qual selo deveria ser posto na garrafa térmica
testada?
a) A
b) B
c) C
d)D
e) E
QUESTÃO 83
A cariotipagem é um método que analisa células
de um indivíduo para determinar seu padrão cromos-
Qual curva representa o perfil de consumo de
sômico.
glicose, para manutenção da homeostase de uma
Essa técnica consiste na montagem fotográfica,
célula que inicialmente está em uma condição
em sequência, dos pares de cromossomos e permite
anaeróbica e é submetida a um aumento grandual
identificar um indivíduo normal (46, XX ou 46, XY) ou
de concentração de oxigênio?
com alguma alteração cromossômica. A investiga-
a) 1
ção do cariótipo de uma criança do sexo masculino
b) 2
com alterações morfológicas e comprometimento
c) 3
cognitivo verificou que ela apresentava fórmula ca-
d) 4
riotípica 47, XY, +18.
e) 5
A alteração cromossômica da criança pode ser As funções orgânicas que caracterizam os fero-
classificada como mônios de trilha e de alarme são, respectivamente,
a) estrutural, do tipo deleção. a) álcool e éster.
b) numérica, do tipo euploidia. b) aldeído e cetona.
c) numérica, do tipo poliploidia. c) éter e hidrocarboneto.
d) estrutural, do tipo duplicação. d) enol e ácido carboxílico.
e) numérica, do tipo aneuploidia. e) ácido carboxílico e amida.
QUESTÃO 84 QUESTÃO 86
Durante uma expedição, um grupo de estudan- O permanganato de potássio (KMnO4) é um
tes perdeuse de seu guia. Ao longo do dia em que agente oxidante forte muito empregado tanto em
esse grupo estava perdido, sem água e debaixo de nível laboratorial quanto industrial. Na oxidação de
sol, os estudantes passaram a sentir cada vez mais alcenos de cadeia normal, como o 1-fenil-1-prope-
sede. no, ilustrado na figura, o KMnO4 é utilizado para a
Consequentemente, o sistema excretor desses in- produção de ácidos carboxílicos.
divíduos teve um acréscimo em um dos seus proces-
sos funcionais.
Nessa situação o sistema excretor dos estudantes
a) aumentou a filtração glomerular.
b) produziu maior volume de urina.
c) produziu urina com menos ureia.
d) produziu urina com maior concentração de
sais.
e) reduziu a reabsorção de glicose e aminoáci-
dos.
QUESTÃO 90
A soda cáustica pode ser usada no desentupi-
mento de encanamentos domésticos e tem, em sua
composição, o hidróxido de sódio como principal
Para selecionar um filtro solar que apresente ab- componente, além de algumas impurezas. A soda
sorção máxima na faixa UV-B, uma pessoa analisou normalmente é comercializada na forma sólida, mas
os espectros de absorção da radiação UV de cinco que apresenta aspecto “derretido” quando exposta
filtros solares:
ao ar por certo período.
O fenômeno de “derretimento” decorre da
a) absorção da umidade presente no ar atmos-
férico.
b) fusão do hidróxido pela troca de calor com o
ambiente.
c) reação das impurezas do produto com o oxi-
gênio do ar.
d) adsorção de gases atmosféricos na superfície
do sólido.
e) reação do hidróxido de sódio com o gás nitro-
gênio presente no ar.
491
RESOLUÇÃO
Considere: QUESTÃO 46
velocidade da luz = 3,0 x 108 m/s e 1 nm = 1,0 x Como a reflexão na interface óleo/água ocorreu
10–9 m. sem inversão de fase (dado no texto) e a reflexão na
O filtro solar que a pessoa deve selecionar é o interface ar/óleo ocorreu com inversão de fase (tam-
a) V bém dado no texto), isso implica uma defasagem de
b) IV π rad entre os raios (2)e (5).
c) III Por outro lado, há uma defasagem por diferença
d) II de caminhos entre os raios (2)e (5).
e) I O caminho do raio que penetra no óleo, e sofre
reflexão na interface óleo/água, é mais extenso de
QUESTÃO 89 uma distância 2E.
Um grupo de pesquisadores desenvolveu um mé- Para que ocorra interferência construtiva (refor-
todo imples, barato e eficaz de remoção de petró- ço), a diferença de caminhos deve provocar uma
leo contaminante na água, que utiliza um plástico outra defasagem de π rad e, portanto:
produzido a partir do líquido da castanha-de-caju 2E = → E =
(LCC). A composição química do LCC é muito pa- RESPOSTA “A”
recida com a do petróleo e suas moléculas, por suas
características, interagem formando agregados com
QUESTÃO 47
o petróleo. Para retirar os agrega dos da água, os
O principio contestado e o de que as nossas cé-
pesquisadores misturam ao LCC nanopartículas mag-
lulas corporais provem de um único zigoto. O texto
néticas.
KIFFER, D. Novo método para remoção de petróleo usa
revela o fato de que mulheres, que tiveram filhos ho-
óleo de mamona e castanha-de-caju. Disponivel em: www. mens, podem apresentar o cromossomo y em diver-
faperj.br.Acessoem: 31 jul. 2012 (adaptado). sos tecidos.
RESPOSTA “E”
QUESTÃO 48 QUESTÃO 53
Quanto maior a altitude de uma região, menor Na bomba atômica de urânio, ocorre uma rea-
e a pressão parcial de oxigênio, o ar e rarefeito e, ção “em cadeia” com a fissão do 235U, liberando
consequentemente, a saturação da oxiemoglobina nêutrons, que bombardeiam outros núcleos.
diminui, ocasionando os sintomas características da A equação simplificada do processo é:
Hipóxia.
RESPOSTA “D”
QUESTÃO 49
O escurecimento das águas provoca uma redu- RESPOSTA “C”
ção na taxa de fotossíntese.
RESPOSTA “C” QUESTÃO 54
As bactérias transgênicas modificadas por Her-
QUESTÃO 50 bert Boyer passaram a produzir o hormônio regulador
Ao adicionar fenolftaleína na solução aquosa de da glicemia porque receberam a sequência de DNA
bicarbonato de sódio, a cor ficou rosa devido a hi- codificante de insulina humana.
drolise do NaHCO3 que produz meio básico. RESPOSTA “A”
HCO–3 (aq) + HOH⇆H2CO3 (aq) + OH– (aq)
A combustão do palito de fósforo produz óxidos QUESTÃO 55
ácidos como CO2 e SO2. O fenômeno citado ocorre depois que a luz sofre
A reação química que ocorre entre o CO2 e a sucessivas refrações com subsequente reflexão total.
água presente no meio pode ser representada da No esquema abaixo, representamos uma situa-
seguinte forma: ção análoga à proposta.
CO2 (g) + H2O (l) ⇆H2CO3 (aq) ⇆H+ (aq) + HCO–3
(aq)
Desta forma, ocorre a formação de íons H+ (aq),
o que resulta em um meio acido, condição em que
a fenolftaleína se torna incolor em solução aquosa.
492 RESPOSTA “A”
QUESTÃO 51
O ar confinado no interior da geladeira é resfriado
a volume constante, o que produz redução na T = temperatura (aumenta com a altitude)
pressão desse ar. n = índice absoluto de refração (diminui com a
Com isso, a pessoa, para abrir novamente a altitu de)
geladeira, deve exercer uma força capaz de vencer Na ocorrência da Fata Morgana os fenômenos
a força resultante proveniente da diferença entre as óticos envolvidos são a refração da luz na atmosfera
forças de pressão do ar externo e interno. e a reflexão.
Resposta “D” Não há como priorizar a importância de um de-
les, de modo que as opções d e b são possíveis.
QUESTÃO 52 A banca examinadora do ENEM optou pela al
O trabalho total realizado é medido pela variação ternativa b.
da energia cinética do atleta: RESPOSTA “B”
QUESTÃO 56
Cálculo da massa de ZnS na amostra:
Resposta “B”
RESPOSTA “C”
QUESTÃO 57
RESPOSTA “B”
QUESTÃO 58
1) Conservação da energia mecânica na trans-
formação de energia elástica em cinética:
493
Resposta “B”
Resposta “E”
QUESTÃO 63
As forças atuantes na barra são:
494
Resposta “B”
QUESTÃO 61
A obtenção de uma vacina capaz de propiciar
uma eficaz resposta imunológica, depende principal- Para o equilíbrio rotacional em relação ao polo
mente da ausência da variabilidade antigênica do (O), temos:
vírus.
Resposta “B”
QUESTÃO 62
A calda bordalesa é uma mistura aquosa de sul-
fato de cobre (II) com óxido de cálcio. O óxido de
cálcio é um óxido básico produzindo hidróxido de
cálcio em meio aquoso.
Resposta “E”
QUESTÃO 64
A sobrevivência do grupo dos anfíbios permane-
ce restrita a ambientes úmidos ou aquáticos porque
sua cobertura corporal é delgada, pouco queratini-
zada e altamente permeável.
Resposta “D”
Com base nesse processo, o hidrocarboneto pro- Como cada litro da solução nutritiva contém 90 g
duzido na eletrólise do ácido 3,3 – dimetilbutanoico de Ca(NO3)2, temos:
é:
Resposta “B”
QUESTÃO 67 QUESTÃO 71
O líquido de arrefecimento do motor deve ter alto No processo descrito, o excedente de energia
calor específico sensível para absorver muito ca- elétrica é armazenado pela realização de trabalho
lor e variar pouco sua temperatura, evitando-se o ris- sobre o nitrogênio durante a liquefação.
co de ocorrer-lhe a ebulição. Essa energia armazenada é devida ao trabalho
Resposta “A” que é realizado para liquefazer o nitrogênio. Essa
energia será usada para girar as turbinas que conver-
QUESTÃO 68
tem energia mecânica em energia elétrica.
A característica desses compostos, responsável
Resposta “C”
pelo processo descrito no texto, é a baixa polarida-
de, por isso esses compostos se dissolvem nos tecidos
QUESTÃO 72
lipídicos (apolares) dos peixes.
Comprar uma lata de conserva amassada no su-
Resposta “A”
permercado é desaconselhável porque o amassado
pode romper a camada de estanho permitindo a
QUESTÃO 69
corrosão do ferro e alterações do alimento.
Dissolução do nitrato de cálcio em água:
QUESTÃO 73
A mesma nota musical emitida pela flauta e pelo
piano, supostamente com a mesma intensidade,
será diferenciada pelo timbre associado a cada som.
Para cada uma dessas duas ondas sonoras, haverá
uma forma da onda característica, que dependerá
do número e intensidade dos harmônicos que acom
panham o som fun da mental.
Resposta “D”
QUESTÃO 74
Em um mesmo organismo, a diferenciação celu-
lar ocorre por expressão de porções distintas de seu
genoma.
Resposta “D”
496
QUESTÃO 75
Como temos o tempo de resposta do aparelho
em relação à torre e sabemos que a velocidade da
onda eletromagnética é constante, podemos deter-
minar a distância do celular em relação à antena.
QUESTÃO 77 QUESTÃO 79
1) Cálculo da potência total: • A química verde permite o desenvolvimento
tecnológico com danos reduzidos ao meio ambien-
te.
• Três fatores muito importantes a serem conside-
rados são:
– Uso de fontes renováveis ou recicláveis.
– Aumento da eficiência de energia ou utilização
de menos energia para produzir a mesma ou maior
quantidade de produto.
– Evitar o uso de substâncias persistentes, bioacu-
mulativas e tóxicas.
2) Cálculo da potência útil: O fator que contribui positivamente para que a
segunda rota de síntese, seja verde em comparação
à primeira é ocorrer em uma única etapa.
A temperatura necessária para a ocorrência da
segunda reação é inferior, não gera subproduto tó-
xico e não utiliza substância corrosiva no processo.
• A redução do tempo total da reação, ocorrên-
cia de uma única etapa, é um fator importante que
3) Cálculo do trabalho realizado: dife rencia o primeiro processo (marrom) do segundo
(verde).
Resposta “A”
QUESTÃO 80
As duas tomadas devem ficar em paralelo e tal
que a chave não as desligue. A lâmpada deverá
estar em série com a chave e esse conjunto deverá
estar em paralelo com as tomadas. 497
QUESTÃO 81
Em condições anaeróbicas o consumo de glico-
Resposta “D” se é alta porque ocorre, apenas, a produção de 2
ATP. O aumento progressivo na concentração de O2
QUESTÃO 78 reduz o consumo de glicose uma vez que a célula
O hospedeiro intermediário da esquistossomose passa a produzir mais ATP (38 moléculas).
(barriga d’água) é um caramujo (molusco). Resposta “E”
A miliamina , como diz o enunciado, é um molus-
cicida, produto que pode matar moluscos. QUESTÃO 82
Resposta “E” I. Cálculo da temperatura de equilíbrio térmico
no momento em que as duas porções de água são
misturadas.
QUESTÃO 86
A oxidação do composto 1-fenil-1-propeno, na
presença de permanganato de potássio (KMnO4)
produz ácidos carboxílicos, segundo a equação:
QUESTÃO 84 QUESTÃO 88
O sistema excretor dos estudantes aumentou a (I) Cálculo dos comprimentos de onda associa-
produção do ADH, hormônio anti-diurético, que ele- dos às frequências limítrofes do UV-B.
vou a reabsorção de água nos túbulos renais, produ-
zindo uma urina com maior concentração de sais e,
menor volume líquido.
Resposta “D”
QUESTÃO 85
A função orgânica que carcteriza o feromônio
que indica a trilha percorrida pelas abelhas (com-
posto A) é:
QUESTÃO 89
A adição do plástico gera a floculação com o
petróleo. Esse agregado (plástico + petróleo) é retira-
do por separação magnética, em função da intera-
ção do campo magnético externo com as nanopar-
tículas magnéticas presentes no plástico.
Resposta “C”
QUESTÃO 90
O hidróxido de sódio (NaOH) é um composto hi-
groscópico, ou seja, possui a capacidade de reter
vapor d’água da atmosfera.
A intensidade de absorção é tamanha, que se
forma água líquida, a qual dissolve parcialmente o
composto, gerando
Resposta “A”.
499