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Universidade Federal do Piauí

Centro de Educação Aberta e a Distância

FÍSICA
FUNDAMENTAL I
Mônica Mª. Machado Ribeiro Nunes de Castro
Maria de Nazaré Bandeira dos Santos
Ministério da Educação - MEC
Universidade Aberta do Brasil - UAB
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Universidade Aberta do Piauí - UAPI
Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD

FÍSICA FUNDAMENTAL I

Mônica Maria Machado Ribeiro Nunes de Castro


Maria de Nazaré Bandeira dos Santos
PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad
GOVERNADOR DO ESTADO Wilson Nunes Martins
REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Luiz de Sousa Santos Júnior
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC Carlos Eduardo Bielshowsky
PRESIDENTE DA CAPES Jorge Almeida Guimarães
COORDENADORIA GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL Celso Costa
DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA A DISTÂNCIA DA UFPI Gildásio Guedes Fernandes

CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro ( Presidente )


Des. Tomaz Gomes Campelo
Prof. Dr. José Renato de Araújo Sousa
Profª. Drª. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz
Profª. Francisca Maria Soares Mendes
Profª. Iracildes Maria de Moura Fé Lima
Prof. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho

COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Cleidinalva Maria Barbosa Oliveira


PROJETO GRÁFICO Samuel Falcão Silva
DIAGRAMAÇÃO Jhayson Phillipe Santos Soares de Lima
REVISÃO Djanes Lemos Ferreira Gabriel
REVISOR GRÁFICO Genuvina de Lima Melo Neta

C355f Castro, Mônica Maria Machado Ribeiro Nunes de. Santos,


Maria de Nazaré Bandeira dos.
Física fundamental I: Texto básico em mecânica, ondu-
latória e termologia / Mônica Maria Machado Ribeiro Nunes
de Castro, Maria de Nazaré Bandeira dos Santos - Teresina:
EDUFPI/UAPI
2010
206 p.

1- Física. 2 - Vetores. 3 - Educação Aberta a Distância


I. Título

C.D.D. - 530

A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é das autoras. O conteúdo desta obra foi licenciado
temporária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através
da UFPI. O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a
reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos
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expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sansões previstas no
Código Penal.
Estudar Física é participar da aventura de “conhecer” a natureza
ou, mais simplesmente, de compreender os mecanismos pelos quais a
percebemos. Ao iniciar esta aventura, como qualquer outra, devemos
estar motivados não apenas para tirar proveito do que outros fizeram,
mas também para assumir um papel participativo, para o qual devemos
estar preparados.
Pensando dessa forma, elaboramos este texto que integra os
recursos instrucionais da disciplina Física Fundamental I, do Curso
de Licenciatura em Química na modalidade a distância, oferecido
pela Universidade Federal do Piauí, e tem como objetivo proporcionar
fundamentos teóricos para o estudo da Física, necessários às atividades
acadêmicas e profissionais.
O conteúdo aqui apresentado, abrangendo mecânica, ondulatória
e termologia, está distribuído em oito unidades que correspondem às
unidades do plano de ensino da disciplina. Em cada uma delas, além dos
textos que exploram os conteúdos e das atividades de aprendizagem,
sempre que necessário, foram inseridas seções complementares.
A Unidade 1, introduz a física como uma ciência de natureza
experimental e trata de conceitos básicos como grandezas físicas,
padrões de unidades e medidas físicas. Na Unidade 2, especificaremos
as grandezas vetoriais e abordaremos as operações básicas com vetores:
soma vetorial pelos métodos gráfico e analítico e produtos vetoriais.
A cinemática da partícula é objeto da Unidade 3 em que, partindo
das definições de posição, velocidade e aceleração, descreveremos
os movimentos uni, bi e tridimensionais. A Unidade 4 traz o estudo
da dinâmica da partícula. Nela exporemos as Leis de Newton para o
movimento e desenvolveremos várias de suas aplicações. Em seguida
trataremos de trabalho e energia, assunto da Unidade 5 em nosso Curso.
Primeiramente, abordamos o trabalho realizado por forças constantes
e por forças variáveis, enunciaremos o Teorema do Trabalho-Energia e
definiremos potência; em seguida, após discutirmos o conceito de energia
potencial, sistemas conservativos e não conservativos, enunciaremos o
Princípio da Conservação da Energia.
A hidrostática é o assunto da Unidade 6. Nela discutiremos os
estados da matéria, conceitos básicos como pressão e densidade;
apresentaremos os princípios de Pascal e de Arquimedes e suas
aplicações e abordaremos o fenômeno da tensão superficial. Na Unidade
7 introduzimos os conceitos básicos da ondulatória, estudaremos
as ondas progressivas e ondas harmônicas simples, o Princípio da
Superposição e as ondas estacionárias. Por último, na Unidade 8,
iniciamos com a descrição dos sistemas termodinâmicos, definiremos
temperatura e equilíbrio térmico, estudaremos termometria, dilatação
térmica e finalizaremos com noções básicas sobre calor.
Para concluir, chamamos atenção de todos que fizerem uso
deste texto para o fato de que seu estudo não se esgota aqui. Você deve
procurar sempre outras fontes de consulta para aprofundamento, pois
este é um texto introdutório. Isto se refere tanto ao texto em si, como aos
exercícios, atividades e problemas a serem resolvidos. Não guarde suas
dúvidas, discuta-as sempre com seus colegas e, principalmente, com
seu tutor.

Mônica Castro e Nazaré Bandeira.


UNIDADE 1
09 MEDIDAS FÍSICAS
O que é Física? 11
Grandezas físicas, padrões e unidades de medida 14
Medidas físicas 23

UNIDADE 2
37 VETORES
O que são vetores? 39
Operações básicas com vetores 41
Produtos de vetores 48

UNIDADE 3
57 CINEMÁTICA DA PARTÍCULA
Introdução 59
Descrição geral do movimento de uma partícula 61
Movimento de uma partícula com velocidade constante 76
Movimento de uma partícula com aceleração constante 78
Movimentos combinados 86

UNIDADE 4
91 DINÂMICA DA PARTÍCULA
Aristóteles explica o movimento 93
Ptolomeu e o movimento do sol 94
Copérnico e o movimento da Terra 95
Galileu e a torre inclinada 95
Newton e as leis do movimento dos corpos 96
UNIDADE 5
111 TRABALHO E ENERGIA
Os conceitos de trabalho e energia 113
Trabalho de uma força constante 113
Trabalho resultante 116
Trabalho de uma força variável 117
Trabalho e energia cinética 122
Potência 125
Forças conservativas e forças não conservativas 126
Energia potencial 129
Conservação da energia mecânica 131
Forças não conservativas e energia mecânica 134
O Princípio da Conservação da Energia 134
Aplicações 135

UNIDADE 6
143 HIDROSTÁTICA
Estados físicos da matéria 145
Fluidos: conceitos básicos 146
Princípio geral da hidrostática 149
Princípio de Pascal 153
Princípio de Arquimedes 154
Tensão superficial 155

UNIDADE 7
159 MOVIMENTO ONDULATÓRIO
Ondas: conceituação 161
Tipos de ondas 161
Ondas progressivas 163
Princípio da superposição e interferência 170
Ondas estacionárias 172
Ressonância 174

UNIDADE 8
177 TEMPERATURA E CALOR
Descrição de sistemas termodinâmicos 179
Temperatura e equilíbrio térmico 179
Medição da temperatura 181
Dilatação térmica 185
Calor 189
Transferência de calor 193
UNIDADE 01

Medidas Físicas
Mônica Maria Machado Ribeiro Nunes Castro
10 UNIDADE 01
MEDIDAS FÍSICAS

O QUE É FÍSICA?

Comumente encontramos em livros textos básicos a seguinte


afirmativa: “Física é a ciência que estuda a natureza.” Porém, esta
definição não é muito esclarecedora, pois nela está envolvido o conceito
de “ciência”. E o que é ciência? Aqui recorremos, por simplicidade, à
definição: “Ciência é a acumulação de conhecimentos sistemáticos” que,
por sua vez, nos remete à questão do que é “conhecimento”, que neste
sentido pode ser entendido como o “produto do ato de conhecer”, ou seja,
o “saber adquirido pelo homem”. Seguindo adiante neste encadeamento
de ideias chegamos às reflexões próprias da filosofia.
Isto não ocorre por acaso. Na realidade, a física como a
conhecemos hoje faz parte de um corpo de conhecimentos, a ciência,
que nos primórdios da civilização humana era denominado de filosofia
natural. A necessidade de conhecer o mundo em que vive é inerente ao
homem. Conhecer para dominar, para ter melhores condições de vida,
para poder mudar o que lhe é desfavorável. A busca de explicação para
cada fenômeno observado é inevitável; faz com que o homem possa
dar uma ordem às coisas, sem a qual a vida seria cheia de sobressaltos
diante do desconhecido. Essa busca do saber propiciou o surgimento
gradativo de vários tipos de conhecimento que hoje são denominados de
conhecimento do senso comum, conhecimento religioso, conhecimento
filosófico e conhecimento científico, que propriamente configuram
diferentes visões do mundo. Cada um desses tipos de conhecimento está
ligado diretamente ao modo de vida do sujeito que o vivencia e demonstra
uma relação diferente entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
A ciência, em sentido amplo, surgiu e se desenvolveu voltada
para interesses acadêmicos, produzindo os conhecimentos científicos

FÍSICA FUNDAMENTAL I 11
que hoje fundamentam nossa cultura. Inicialmente, a filosofia natural
abrangia todos os estudos a respeito dos fenômenos naturais
observáveis. Porém, pouco a pouco, com a expansão e sistematização
dos conhecimentos adquiridos, foram surgindo diversas divisões,
baseadas nas especificidades dos objetos de estudo e nos métodos
empregados.

Uma primeira divisão denominava de ciências naturais as que


Aristóteles (384-322 tratavam de fatos ocorridos na natureza, e ciências humanas as que
a.C.) tratavam de fatos relacionados ao homem. Posteriormente, foram sendo
incorporadas novas divisões. Por exemplo, as ciências naturais se
subdividiram em: ciências vivas - as que tratavam de fatos relacionados
com a vida, e ciências físicas - as que tratavam de fatos relacionados a
coisas inanimadas. Com o crescimento dos conhecimentos específicos
as “ciências vivas” subdividiram-se em Biologia, Zoologia, Botânica, etc.,
e as “ciências físicas” subdividiram-se em Física, Geologia, Química, etc.
Por sua vez, as ciências humanas também se subdividiram dando origem
à Sociologia, Psicologia, Linguística, História e outras. Encontramos,
ainda, muitas outras classificações, tais como: ciências políticas, ciências
da saúde, ciências do ambiente, etc.
Isaac Newton (1642-
1727)
A Física e seu Estudo

A física estuda os fenômenos naturais e os descreve por meio


de teorias. Sua evolução não se dá de forma linear, mas através das
chamadas “revoluções”, quando a comunidade dos físicos abandona
uma teoria que lhe tem servido de paradigma, para adotar outra.
Historicamente podemos distinguir três períodos na evolução da física:
• FÍSICA ANTIGA – tem início na Grécia pré-socrática e sua
figura principal é o grande filósofo Aristóteles. Deste período
Galileu Galilei (1564 – a grande lição é a de que a razão humana pode fornecer uma
1642) interpretação coerente do fenômeno percebido através dos
sentidos (BEN-DOV, 1996).
• FÍSICA CLÁSSICA – estende-se do século XVI ao final do
século XIX e tem como ponto central a mecânica de Newton.
Destaca-se neste período, o sucesso da descrição matemática
dos fenômenos naturais, presente no método científico surgido
nas obras de Galileu, que impôs a visão científica do mundo
na cultura ocidental.

12 UNIDADE 01
• FÍSICA MODERNA - inicia com os trabalhos de Einstein,
publicados na primeira década do século XX, e propicia
transformações conceituais radicais com a expansão dos limites
de nossa percepção do mundo, no âmbito do infinitamente
pequeno dos constituintes da matéria ao infinitamente grande
do espaço cósmico. Surgem aqui sérios questionamentos
sobre a possibilidade de uma descrição completa e coerente
da natureza.

O estudo dos vastos conhecimentos acumulados por esta


ciência hoje em dia é feito formalmente nas escolas e universidades,
de modo sistemático e gradual, tendo em vista objetivos específicos
pré-estabelecidos pela sociedade. Isto porque, além de ser uma ciência
básica, a Física desempenha um papel muito importante na esfera
tecnológica que domina o nosso dia a dia, sendo quase impossível para
qualquer cidadão viver alheio às suas ideias. Para avaliar até que ponto
somos dependentes dos conhecimentos produzidos pela física, basta
tentar imaginar como seria nossa vida sem a eletricidade ou sem os
componentes eletrônicos ou, ainda, sem os plásticos.

Relações da Física com Outras Ciências

Nos cursos de graduação das áreas de ciências exatas das


universidades brasileiras, de modo geral, são revistos os conteúdos da
física clássica à luz de um formalismo matemático e conceitual mais
rigoroso. Também são adquiridos conhecimentos relativos à física
moderna, quando são estudadas a Teoria da Relatividade, a Teoria
Quântica, a Física dos fenômenos não-lineares etc. Isto porque, neste
nível de ensino é necessário estudar mais claramente as relações entre
a física e as outras ciências, estudadas, particularmente, nos mais
diversos cursos, sejam eles de uma ciência específica ou não. Com isso
queremos dizer que neste nível de ensino tornam-se mais explícitas as
relações entre Física e Química, entre Física e Biologia, entre Física e
Economia etc.
Assim, vemos que o estudo da física não deve ser feito de
maneira estanque. Sempre que possível ele deve ser associado aos
conhecimentos proporcionados por outras ciências. Mesmo porque, por
ser uma ciência que trata das coisas fundamentais da natureza, a física
permeia os conhecimentos produzidos por muitas outras ciências. Dos

FÍSICA FUNDAMENTAL I 13
estudos de assuntos correlatos da Física com a Química, a Biologia,
a Economia, por exemplo, surgiram a Físico-química, a Biofísica, a
Econofísica. E assim é com muitas outras ciências. Neste sentido, pode-
se mesmo entender que a ciência é uma só.

GRANDEZAS FÍSICAS, PADRÕES E UNIDADES DE MEDIDA

Grandezas físicas: definição e classificação

A física estuda de modo qualitativo e quantitativo as propriedades


físicas da matéria. Utilizando a linguagem matemática em seu estudo
quantitativo da natureza, ela tem como base as chamadas grandezas
físicas - propriedades físicas que podem ser associadas a um número
através de um processo bem definido, a medição.
São exemplos de grandezas físicas: o comprimento, a massa,
o tempo, a velocidade, a força, a pressão, o volume, a densidade, a
área, a temperatura, a frequência, o trabalho, a energia, a potência, a
intensidade de corrente elétrica e o impulso.
As grandezas físicas são definidas pelo estabelecimento de um
padrão ao qual é atribuída uma unidade de medida. No entanto, não
é necessário o estabelecimento de um padrão para cada grandeza
física, pois podemos eleger um pequeno conjunto de grandezas físicas
fundamentais através das quais todas as outras, denominadas grandezas
físicas derivadas, podem ser descritas. Por exemplo, todas as grandezas
físicas mecânicas podem ser expressas em termos do comprimento, da
massa e do tempo.

Sistemas de unidades físicas

Face à grande variedade de grandezas físicas e da diversidade


de unidades utilizadas para medi-las (uma grandeza pode ser medida
tomando por base diversas unidades), verificou-se a necessidade de
agrupá-las em sistemas. Para definição desses sistemas são escolhidos
os padrões para as unidades das grandezas fundamentais e a partir
destas tem-se as unidades para as grandezas derivadas. Esta escolha,
embora arbitrária, obedece às seguintes condições: a) as unidades
fundamentais devem ser independentes entre si; e b) o valor de uma
unidade fundamental deve ser invariável. É ainda desejável que as
unidades fundamentais possam ser representadas por padrões que

14 UNIDADE 01
permitam uma fácil medição direta das grandezas, ou seja, que sejam
acessíveis.
Quadro 1.1 - Sistemas de Unidades
Um sistema de unidades físicas reúne Mecânicas
unidades geométricas, cinemáticas, dinâmicas,
térmicas, eletromagnéticas e óticas. Por razões
históricas e/ou técnicas, existem sistemas de
unidades físicas específicas, como por exemplo, os
chamados Sistemas de Unidades Mecânicas. Estes
utilizam como unidades fundamentais apenas as
unidades geométricas, cinemáticas e dinâmicas.
De acordo com o tipo de unidades escolhidas
como fundamentais, os sistemas de unidades
mecânicas são classificados em LMT e LFT, onde
são representados em termos dimensionais,
simbolicamente, o comprimento por L, a massa
por M, o tempo por T e a força por F. Os sistemas
do tipo LMT, também denominados de inerciais ou
físicos, usam o comprimento, a massa e o tempo
como grandezas fundamentais, enquanto os do
tipo LFT, também denominados de gravitacionais ou técnicos, usam o
comprimento, a força e o tempo. São apresentados no Quadro 1.1 alguns
sistemas de unidades mecânicas.

O Sistema Internacional de Unidades

O Sistema Internacional de Unidades (SI) foi adotado pelo Comitê


Internacional de Pesos e Medidas (CIPM), na 11ª. Conferência Geral de
Pesos e Medidas (CGPM) no ano de 1960, considerando as vantagens
de se adotar um sistema prático único, a ser utilizado mundialmente
nas relações internacionais, nos trabalhos científicos, no ensino etc.
O CIPM fiscaliza o Bureau Internacional des Poids et Mesures (BIPM),
órgão responsável pela padronização das unidades de medida criado
pela Convenção do Metro, assinada em Paris, a 20 de maio de 1875,
por ocasião da última sessão da Conferência Diplomática do Metro. No
Brasil, a adoção oficial do SI se deu através do Decreto N° 63.233, de 12
de setembro de 1968.
Distinguem-se duas classes de unidades SI: as unidades
de base ou fundamentais e as unidades derivadas. As unidades
de base ou fundamentais, perfeitamente definidas e consideradas

FÍSICA FUNDAMENTAL I 15
como independentes sob o ponto de vista dimensional, são: o metro,
o quilograma, o segundo, o ampère, o kelvin, o mol e a candela. Ver
Quadro 1.2.

Quadro 1. 2 – Definição das unidades de base ou fundamentais do SI

* O protótipo do quilograma fica no Bureau Internacional de Pesos e Medidas.

A classe de unidades derivadas abrange as unidades que podem


ser formadas pela combinação de unidades fundamentais segundo

16 UNIDADE 01
expressões algébricas, que relacionam as grandezas correspondentes
utilizando símbolos matemáticos de multiplicação e divisão. O Quadro
1.3 traz exemplos de unidades derivadas.

Quadro 1.3 – Exemplos de Unidades derivadas SI

Foram adotados os seguintes princípios gerais referentes à grafia


dos símbolos das unidades SI:
• os símbolos das unidades são expressos em caracteres
romanos e, em geral, minúsculos;
• se o nome da unidade deriva de um nome próprio, a primeira
letra do símbolo é maiúscula;
• os símbolos das unidades permanecem invariáveis no plural; e
• os símbolos das unidades não são seguidos por pontos.

É importante lembrar que utilizamos uma série de prefixos para


a formação de múltiplos e submúltiplos decimais das Unidades SI (ver

FÍSICA FUNDAMENTAL I 17
Quadro 1.4) e que entre as unidades de base do SI, por motivos históricos,
a unidade de massa, o quilograma, é a única cujo nome contém prefixo.
Neste caso, os nomes dos múltiplos e submúltiplos
Quadro 1.4 – Prefixos SI decimais são formados pelo acréscimo dos prefixos à
palavra “grama”.
Diante da necessidade do emprego de certas
unidades que não fazem parte do SI, mas que estão
amplamente difundidas no seio da sociedade, como o
minuto (min), a hora (h) e o litro (L), o CIPM reconhece
o seu uso, recomendando apenas que a combinação
destas unidades para formar unidades compostas
não deve ser praticada senão em casos limitados, de
modo a não perder as vantagens da coerência das
unidades SI. Existem também algumas unidades que
são admitidas temporariamente, como o angstron (Å)
o are (a) e, ainda, unidades cujos valores em unidades
SI têm que ser obtidos experimentalmente, não sendo
exatamente conhecidos, como o elétron-volt (eV) e a
unidade unificada de massa atômica (u).

Padrões de comprimento, massa e tempo

Os padrões das unidades das grandezas


físicas evoluem em razão do aumento na precisão das
medidas. Para o estudo da mecânica, as grandezas
físicas fundamentais são o comprimento, a massa e o
tempo que têm, respectivamente, o metro, o quilograma
e o segundo como padrões. Ver definições no Quadro
1.2.
A primeira definição de metro é de 1792.
Cientistas da Academia de Ciências da França, ante as
notáveis necessidades da navegação, da cartografia e
das relações comerciais, definiram o padrão de medida
de comprimento como sendo 10-7 da distância do Polo
Norte ao Equador ao longo do meridiano de Paris. Com
base nesta definição introduziu-se, no final do século
XIX, o metro padrão – distância entre dois traços numa
barra de platina-irídio mantida no BIPM sob condições
especiais, que foi substituído em 1960 por um padrão atômico que usava

18 UNIDADE 01
o comprimento de onda da luz vermelho-laranja emitida por átomos de
Criptônio (86Kr) em um tubo de descarga luminescente. Atualmente o
metro é definido com base na velocidade da luz no vácuo.
O padrão de massa, o quilograma, definido como a massa de um
cilindro de platina-irídio feito em 1887 e mantido até hoje no BIPM, não
tem sofrido alterações.
O padrão de tempo, o segundo, também tem sofrido alterações.
Até a década de 1960 era medido com base no dia solar médio, intervalo
de tempo entre duas passagens sucessivas do Sol pelo meridiano de um
lugar, do ano de 1900. Em 1967, foi redefinido em função da precisão dos
relógios atômicos.

Relações entre Grandezas Físicas

A física tem como objetivo fundamental o estabelecimento das leis


físicas. As leis físicas – generalizações de observações e de resultados
obtidos experimentalmente – demonstram as relações de dependência
entre grandezas físicas ou entre fenômenos físicos e são, em geral,
expressas através de equações matemáticas.
As equações matemáticas que expressam leis físicas podem ter
caráter escalar ou vetorial, de acordo com as grandezas envolvidas.
Denominamos de grandezas físicas escalares aquelas cuja definição
não é necessário o estabelecimento de direção e sentido, como massa,
trabalho e frequência. Ao contrário, são denominadas de grandezas físicas
vetoriais aquelas que necessariamente envolvem direção e sentido em
sua definição como o deslocamento, a força e o momento angular.

As grandezas físicas derivadas são também expressas através


de equações. Denominamos equação ou fórmula de definição de uma
grandeza a fórmula que estabelece a correlação da grandeza considerada
com outras, em função das quais a primeira foi definida. Ou seja, a fórmula
de definição de uma grandeza exprime, em linguagem matemática, a
definição dada para a grandeza. Por exemplo, considerando o movimento
de um móvel qualquer, a fórmula de definição da grandeza velocidade

média ( vm ) pode ser escrita, de modo geral, como:

(1.1)


onde ∆x denota variação na posição e ∆t denota variação de

FÍSICA FUNDAMENTAL I 19
tempo. Quando as unidades de velocidade, espaço percorrido e tempo
são dadas em um mesmo sistema (coerente) de unidades, temos k=1.
Sendo assim, vê-se que é aconselhável escrever sempre as unidades
das grandezas envolvidas em uma equação em um mesmo sistema, de
modo a evitar o aparecimento de constantes de proporcionalidade.

Análise Dimensional
Quadro 1.5 – Símbolos dimensionais das
grandezas fundamentais O conceito de dimensão de uma
grandeza está relacionado à natureza física da
grandeza. É o que a distingue aquela grandeza
perante as outras. Por exemplo, seja medida em
centímetros ou em quilômetros, uma distância
é sempre uma distância, sua dimensão é
comprimento; a duração de um evento, medida
em segundos ou em minutos é sempre uma
duração e sua dimensão é tempo; etc.
Por outro lado, para calcularmos a área
de uma figura plana temos que multiplicar um
comprimento por outro comprimento. Por ser a
medida da área o produto de dois comprimentos,
dizemos que ela tem dimensões de comprimento
vezes comprimento, isto é, comprimento ao
quadrado. Por exemplo, a área de um retângulo
cujos lados são A e B é dada pelo produto A.B;
a dimensão desta área, se representarmos a
dimensão dos comprimentos A e B por L, é dada
por L2.
A ideia de dimensão exposta acima pode ser estendida a outras
grandezas. É costume representar as dimensões das grandezas físicas
fundamentais por símbolos dimensionais específicos, conforme o Quadro
1.5 e, particularmente, as dimensões das grandezas mecânicas em
termos do comprimento (L), da massa (M) e do tempo (T), que são as
grandezas fundamentais para os sistemas de unidades mecânicas.
As grandezas derivadas podem ser expressas por uma constante
que multiplica potências das grandezas fundamentais. Estas potências
são chamadas de dimensões das grandezas em questão. A equação
que relaciona o símbolo dimensional de uma grandeza com os símbolos
dimensionais das grandezas de que a primeira depende é denominada

20 UNIDADE 01
de Equação Dimensional da grandeza considerada.
Por exemplo, se a grandeza G é definida em função das grandezas
A, B e C, podemos escrever
[G] = [A]a [B]b [C]c (1.2)

em que a, b e c são as dimensões de G em relação às grandezas


A, B e C, respectivamente. Em particular, se a = b = c = 0 dizemos que a
grandeza é adimensional.

Atenção!

Em geral, usamos colchetes [ ] para denotar “a dimensão de”.


Deste modo, para as grandezas fundamentais de tempo e comprimento
temos:
[ t ] = T e [x] = L.

Assim, a equação dimensional da velocidade, uma grandeza


derivada, é dada por:

Partindo da noção intuitiva de que quantidades de tipos diferentes


não podem ser adicionadas ou igualadas, Fourier estabeleceu o Princípio
da Homogeneidade Dimensional pelo qual podemos dizer que todos os
termos das equações físicas devem ter as mesmas dimensões. O uso
deste princípio permite aplicar as equações dimensionais para verificar
a homogeneidade e fazer a previsão de fórmulas físicas. Além disso, as
equações dimensionais são usadas na transformação de unidades e na
construção de modelos físicos.

Exemplo 1.1 - Determinar as equações dimensionais da força nos


sistemas LMT e LFT.
Para o sistema LMT: A fórmula de definição da força é F = m a.
Como F é dado em função da aceleração, que é uma grandeza derivada,
precisamos primeiramente determinar sua dimensão. Assim tomamos
sua fórmula de definição, a = ∆v/∆t, onde ∆v é a velocidade e ∆t é tempo
e escrevemos:

FÍSICA FUNDAMENTAL I 21

Então podemos escrever:


[F] = [m][a] = [M][L][T] -2

Assim, [F] = LMT- 2

Para o sistema LFT: No sistema LFT a força é uma grandeza


fundamental, portanto a equação dimensional será apenas: [F] = F

Exemplo 1.2 - Verificar a homogeneidade da fórmula v2 = v02 + 2 a x,
onde v e v0 são velocidades, a é aceleração e x é comprimento.
Basta determinar a equação dimensional de cada termo
e comparar:
[v2] = [v]2 = (LT - 1 )2 = L2 T - 2
[v02] = [v0]2 = (LT - 1 )2 = L2 T - 2
[2 ax] = [a] [x] = (LT - 2 )(L) = L2 T - 2
Logo, a fórmula é homogênea.

Exemplo 1.3 - Sabendo que o período de oscilação (T) de um pêndulo


simples, para pequenas amplitudes, é função monômia de um coeficiente
adimensional (k), do comprimento (L) do pêndulo e da aceleração da
gravidade local (g), determine, a menos da constante adimensional k, a
fórmula que relaciona T, L e g.

A fórmula é do tipo T = k La gb. Devemos determinar a e b.
Sabendo que a fórmula deve ser homogênea, a equação
dimensional do primeiro membro deve ser igual à do segundo, de modo
que:
[T ] = [k La gb ]
onde
T = (L)a (LT - 2 )b = La Lb T - 2b
T = La+ b T - 2b

Como os expoentes de L e T devem ser os mesmos nos dois


membros, obtemos o sistema:
0 = a + b (para L)
1 = -2b (para T)

22 UNIDADE 01
Encontramos então a = ½ e b = - ½ .
Logo, podemos escrever a equação:

T= k L1/2 g -1/2
ou .

Exemplo 1.4 - Determine a relação entre as unidades newton e dina.


A equação dimensional de força é [F] = LMT-2. Podemos então
escrever o newton como N = m.kg.s-2 e, também, o dina como dyn =
cm.g.s-2. Dividindo membro a membro estas equações, obtemos:

ou

onde,

ou seja,

Isto significa que temos:


N = 10 5 dyn e dyn = 10 -5
N.

MEDIDAS FÍSICAS

Sendo uma ciência essencialmente natural, a física estuda os


fenômenos que ocorrem à nossa volta, no nosso dia a dia. Este estudo é
feito de modo qualitativo - quando se limita à observação dos fenômenos,
e de modo quantitativo - quando a esta observação associamos resultados
numéricos decorrentes de medições.
O estudo quantitativo utilizando a medição – operação através
da qual associamos um número a uma propriedade física – nos
proporciona um conhecimento mais exato dos fenômenos e permite que

FÍSICA FUNDAMENTAL I 23
os reproduzamos para novos estudos.
Medida física: definição e tipos

Medir é comparar duas grandezas de mesma espécie, sendo a


comparação feita através de um padrão ao qual associamos a unidade
de medida.
Dizemos que uma medição é direta quando efetuamos diretamente
a comparação entre as duas grandezas. Por exemplo, colocamos uma
régua sobre um pedaço de papel e comparamos os comprimentos do
papel e do centímetro padronizado da régua. Quando, ao invés disso,
chegamos ao valor numérico para uma grandeza através de um conjunto
de duas ou mais medições diretas seguidas de operações matemáticas,
dizemos ser esta uma medição indireta.

Precisão de um instrumento de medida

Ao efetuarmos uma medição direta nos servimos de instrumentos.


O instrumento de medida pode ser simples como uma régua ou tão
sofisticado quanto o relógio atômico e ter uma menor ou maior precisão.
A precisão de um instrumento de medida é o valor da grandeza medida
que corresponde à menor divisão deste instrumento. Por exemplo, a
precisão de uma régua graduada em milímetros é de um milímetro.
Quando necessitamos de uma precisão maior que a do instrumento
utilizado, podemos fazer uso de uma escala auxiliar, como o nônio. No
entanto, é preciso notar que toda e qualquer medição, não importa quão
bem-feita seja, inclui sempre um erro. Ou seja, não podemos medir uma
grandeza física com precisão absoluta.

Erros de medida: classificação

Os erros de medida são classificados em:


• Erros grosseiros - geralmente decorrentes de falta de cuidado,
atenção ou prática do experimentador. Exemplos: erros de
leitura; erros de cálculo; erro no manuseio do instrumento;
erros de paralaxe; engano na hora de anotar o resultado da
medida, etc. Este tipo de erro pode ser evitado pela repetição
cuidadosa das medidas.
• Erros sistemáticos - são decorrentes de imperfeições do
experimentador, do instrumento de medida ou do método

24 UNIDADE 01
utilizado na medição e têm como características aparecerem
em todas as medidas feitas, ocorrerem sempre num mesmo
sentido e conservarem o mesmo valor. Exemplos: atraso ou
adiantamento ao acionar um cronômetro; erro por deficiência
de visão; utilização de uma escala em temperatura diferente
daquela em que a mesma foi aferida. Os erros pessoais
podem ser evitados substituindo-se o observador humano
por um mecânico, ou elétrico, ou fotoelétrico etc.; os erros
instrumentais podem ser evitados fazendo-se tabelas ou
curvas de correção; e os erros oriundos do método podem ser
calculados, o que possibilita a correção dos resultados.
• Erros acidentais ou aleatórios - decorrem de causas
imprevisíveis ou desconhecidas. Não podem ser evitados.
Exemplo: uma alteração momentânea da corrente elétrica
ocasionando uma mudança temporária das características do
instrumento.

Medição direta

Ao medirmos uma grandeza física diretamente podemos realizar


apenas uma ou várias medidas repetidas.

Realização de apenas uma medida

Quando o experimentador realiza apenas uma medida, o valor


encontrado é, evidentemente, o resultado a ser apresentado. A incerteza
desta única medida depende de vários fatores, tais como: o instrumento
utilizado, as condições em que a medida foi efetuada, o método utilizado,
a habilidade do experimentador, etc. Neste caso, é costume adotar para
estimativa de erro a metade da menor divisão da escala do instrumento,
denominada desvio avaliado. Assim, o resultado da medição pode ser
expresso como
x ± ∆x
onde: x é a medida efetuada e ∆x é o desvio avaliado.

Realização de uma série de medidas

Como sabemos que os erros de medida são inerentes ao processo


de medição, podemos tentar diminuir o efeito destes erros efetuando uma

FÍSICA FUNDAMENTAL I 25
série de medidas. Neste caso, o valor medido é expresso pela média
aritmética dos valores obtidos, ou seja, o resultado →que apresentamos
é o chamado valor mais provável ou valor médio ( x ) do conjunto de
medidas, as quais devem merecer a mesma confiança.

Assim, considerando os valores x1, x2,..., xn para n medidas
efetuadas, o valor mais provável ( x ) é dado por:

(1.3)

Ao apresentarmos o resultado de
_ uma série de medidas, podemos
explicitar o seu índice de precisão (estimativa de erro) de várias formas.
Aqui apresentamos o desvio médio ( d ) e o desvio padrão (σ), tomado
quando o número de medidas é muito grande. Estes índices são definidos
através dos desvios individuais de cada resultado da medida e a escolha
de um ou de outro é feita em função do grau de precisão requerido.

Definimos então, para uma série de n medidas de uma grandeza


física:
• Desvio (di) de um resultado xi qualquer - diferença entre este
_
resultado e o valor
_ mais provável da medida.
di =xi−x , onde i = 1, 2, . . ., n. (1.4)
• Desvio médio ( d ) - razão entre o somatório dos módulos dos
desvios individuais das medidas efetuadas e o número total de
medidas, ou seja, é a média dos desvios absolutos.

, onde i = 1, 2, . . ., n. (1.5)

• Desvio padrão ( σ ):

, onde i = 1, 2, . . ., n. (1.6)

Assim, o resultado de uma medição obtida de uma série de n


medidas pode ser dado
_ _pela expressão:
x=(x±d) (1.7)
ou _
x = (x ± σ ) (1.8)

26 UNIDADE 01
Em qualquer dos casos, ao apresentar o resultado da medida
devemos sempre usar apenas algarismos significativos, além de
incluir a estimativa de erro cometido no processo. De modo geral, para
obtermos o número de algarismos significativos do valor mais provável,
consideramos primeiramente o desvio médio ou o desvio padrão com
apenas um algarismo significativo; deste teremos o número de algarismos
significativos que deverá ter o valor médio da grandeza.
Apresentamos a seguir outras definições importantes:
• Desvio absoluto - diferença entre o valor medido e o valor
exato (o valor mais provável) da grandeza medida, tomada em
módulo. _
d i= | x i − x | (1.9)
• Desvio relativo - quociente do erro absoluto pelo valor exato
da grandeza medida._
|xi−x|
dRi = _ (1.10)
x
• Desvio relativo porcentual - erro relativo expresso em
porcentagem.
dR%= dRi .100 (1.11)
• Desvio médio relativo ou desvio relativo parcial ( δP ) - obtido
pela relação entre o desvio médio e o valor médio da grandeza
medida.

(1.12)

Como referido acima, quando efetuamos medidas diretas de


uma dada grandeza física, estas medidas são afetadas por desvios.
Evidentemente as medidas das grandezas físicas obtidas de modo
indireto, baseadas nestas medidas diretas, também serão afetadas por
desvios.
Para determinar os desvios correspondentes às medidas das
grandezas que são obtidas indiretamente, devemos investigar como os
desvios se propagam através das operações efetuadas. Apresentamos a
seguir como encontrar os desvios decorrentes das operações do cálculo
indireto do valor de uma grandeza, mas em razão de sua complexidade
não fazemos as demonstrações correspondentes.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 27
Sejam as medidas das grandezas G1 e G2 dadas por
_ _
G1 = G1 ± d1 e G2 = G2 ± d2 .

Em operações de:
ADIÇÃO - somamos os valores médios das grandezas e também
os desvios médios. _ _
GSOMA = ( G1 + G2 ) ± ( d1 + d2 ) (1.13)
_ _
SUBTRAÇÃO - subtraímos os valores médios das grandezas e
somamos os desvios médios.
GDIFERENÇA = (G1 − G2 ) ± ( d + d ) (1.14)

MULTIPLICAÇÃO - primeiramente calculamos os desvios médios


relativos de cada fator e escrevemos o resultado como segue.
GPRODUTO = G1 . G2 ± G1 . G2 ( δ P1 + δ P2 ) (1.15)

DIVISÃO - procedemos de modo análogo e escrevemos o


resultado como segue.
GQUOCIENTE = (G1 / G2 ) ± (G1 / G2 ) . (δ P1 + δ P2 ) (1.16)

Algarismos significativos de uma medida

Ao efetuarmos uma medida, precisamos ler, no instrumento


utilizado, o número que decorre da comparação efetuada. Em geral
verificamos que este é um número completo de unidades acrescido de
uma fração dessa unidade.
Por exemplo, consideremos a comparação mostrada na Figura
1.6, que representa a medição do comprimento L de um objeto utilizando
uma régua graduada em centímetros. Observando a figura vemos que
o comprimento L tem 5 cm mais uma fração do centímetro. Esta fração
deve então ser avaliada para que possamos expressar o resultado da
operação.

Figura 1.4 – Medida direta de comprimento

28 UNIDADE 01
Vemos na escala do instrumento de medida, a régua centimetrada,
que o objeto com certeza tem 5, cm mas, se apresentarmos o resultado
como sendo 5 cm, sabemos que estamos cometendo um erro, pois
a medida é um pouco maior. Para minimizar este erro usualmente
tomamos uma estimativa da fração restante fazendo uma interpolação,
ou seja, imaginando que entre as divisões da escala existam subdivisões
decimais. Deste modo, podemos estimar o resultado como 5,3 cm ou
5,4 cm. Em qualquer caso o erro absoluto máximo cometido não excede
a metade da menor divisão da escala, o centímetro. Assim, na medida
de comprimento do objeto, o dígito 5 é isento de dúvida pois foi lido no
instrumento, ou seja, a dúvida ou incerteza da medida está na avaliação
do dígito correspondente à fração avaliada da menor divisão da escala.
Definimos então algarismos significativos de uma medida os
algarismos corretos lidos no instrumento de medida, e o primeiro
algarismo duvidoso obtido por estimativa do observador.
Assim, de acordo com esta definição, o resultado da medição
mostrada na Figura 1.4 pode ser expresso como
L = ( 5,3 ± 0,5 ) cm,
onde 0,5 cm é o desvio avaliado.
Da definição acima se depreende que um algarismo significativo
é um algarismo diretamente relacionado com o processo de medição
tendo, pois, um significado físico. E ainda, que o número de algarismos
significativos que podemos obter em uma medição depende do grau de
precisão do instrumento de medida.
Embora existam sérias divergências entre os autores quanto à
interpretação deste assunto, na determinação do número de algarismos
significativos de uma medida, seguiremos as seguintes regras:
1. todo algarismo diferente de zero é significativo;
2. zero entre algarismos significativos ou à direita de algarismos
significativos é algarismo significativo;
3. zero à esquerda do primeiro algarismo diferente de zero não é
algarismo significativo;
4. a potência de 10 não é contada como algarismo significativo.

Exemplos:
• 34,60 m tem quatro algarismos significativos;
• 0,0025 cm tem dois algarismos significativos;
• 509 g tem três algarismos significativos;
• 8,0910 dg tem cinco algarismos significativos;

FÍSICA FUNDAMENTAL I 29
• 3,7 x 104 km tem dois algarismos significativos.

Tendo em vista estes exemplos, fica fácil entender que para


transformarmos de uma unidade para outra o resultado de uma medida,
por exemplo, de metro para milímetro, não devemos simplesmente
acrescentar casas decimais. Estaríamos, neste caso, alterando a precisão
da medida. Para evitar que isto aconteça devemos nos acostumar a
escrever os números sempre em notação científica.

Exemplo 1.5 - Suponha que um experimentador realizou 10 medidas


para o comprimento L de uma mesma barra de ferro. As medidas foram
efetuadas com uma régua centimetrada. A tabela abaixo mostra os
valores obtidos e os respectivos desvios das dez medidas realizadas.


Calculando a média aritmética das medidas obtidas encontramos

30 UNIDADE 01
o valor mais provável ou valor médio.

10
1 57
L
n
L
i 1
i 
10
 5,7

Assim, L  5,7 cm.



A incerteza que afeta o valor mais provável pode ser calculada
pelo desvio médio, como segue:
10
1 1,0
d d i   0,1 cm
n i 1 10

Ou pelo desvio padrão da média:


10
1 0,16
 d 2
i   0,04 cm
n 10
i 1

Em geral, por segurança, faz-se a opção pelo maior desvio.


Assim, o resultado da medição é dado por:

L = ( 5,7 ± 0,1) cm.

Por último, chamamos atenção para quando a incerteza não é


apresentada explicitamente, ou seja, quando a incerteza da medida é
indicada apenas pelo número de algarismos significativos. Este é o caso
deste texto. Uma medida cujo resultado é expresso como sendo 34 m
tem a incerteza de 1 m, enquanto uma medida expressa por 7,5 m tem a
incerteza de 1 dm (0,1 m).

É bom lembrar!

Regra de arredondamento – Quando precisamos arredondar um


número, examinamos o algarismo situado imediatamente à direita do
último algarismo a ser conservado, ou seja, o primeiro algarismo da parte
a ser desprezada. Se este for inferior a 5, o suprimimos e a todos os
seus subsequentes; se, porém, for igual ou superior a 5, o suprimimos e
a todos os seus subsequentes e aumentamos de uma unidade o último
algarismo conservado. Exemplos:
3,4270 cm  3,4 cm

FÍSICA FUNDAMENTAL I 31
5,18 m  5,2 m
7,959 mm  8,0 mm

Assim, devemos atentar também para as operações que fazemos


com estas medidas. Quando multiplicamos ou dividimos grandezas
físicas, o número de algarismos significativos do resultado não deve ser
maior do que o menor número de algarismos significativos dos fatores
envolvidos. Por exemplo, ao multiplicarmos 184 m por 2,5 m o resultado
deve ser expresso como 4,6 x 102 m2 (2 algarismos significativos).
Por outro lado, em operações de adição ou subtração devemos
atentar não para o número de algarismos significativos, mas para o
número de casas decimais. O resultado da operação deverá apresentar
o número de casas decimais da parcela que tem o menor número de
casas decimais. Por exemplo, ao adicionarmos 43,785 cm com 1,6 cm o
resultado deve ser expresso por 45,4 cm. Para todos os casos, quando
necessário, usamos a regra usual de arredondamento.

A ordem de grandeza de um número é a potência de dez mais


próxima deste número. Assim, dizemos que a ordem de grandeza de 128
é 102, pois 128 está mais próximo de 100 do que de 1000. Dizemos que
a ordem de grandeza de 0,00136 é 10-3, pois esse número está mais
próximo de 0,001 do que de 0,01 ou 0,0001.

Quando expressamos um número em notação científica, ou seja,
na forma N x 10n, onde 1 ≤ N < 10 e n é inteiro, dizemos que sua ordem
de grandeza é:

10n, quando N ≤ 10 e 10 n+1


, quando N 10 .

A apresentação de resultados pela estimativa da ordem de


grandeza é bastante comum entre cientistas; é uma prática desejável
que deve ser treinada, pois muitos problemas são satisfatoriamente
resolvidos pelo cálculo da ordem de grandeza.

32 UNIDADE 01
1. Conceitue ou comente:
a) física;
b) grandeza física.

2. O que você entende por:


a) sistema de unidades;
b) lei física;
c) fórmula de definição de uma grandeza;
d) equação dimensional de uma grandeza;
e) grandeza adimensional.

3. Faça uma pesquisa e


I - escreva a definição das unidades relacionadas abaixo.
a. newton
b. joule
c. watt
d. radiano

II - identifique as grandezas físicas que são medidas em:


a. coulomb por quilograma
b. roentgen
c. candela por metro quadrado
d. siemens por metro

4. Determine as equações dimensionais das grandezas abaixo:


a) volume
b) potência
c) densidade
d) aceleração angular

5. Verifique se as equações abaixo são homogêneas.


a) T = 2π L/g , onde T é o período de oscilação de um pêndulo simples
de comprimento L sujeito à aceleração da gravidade local g.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 33
b) v = vo + at 2, onde v e vo são velocidades, a é aceleração e t é tempo.

6. Estabeleça a relação entre as unidades quilômetro por hora e metro


por segundo.

7. Nas equações abaixo, a distância x está em metros, o tempo t em


segundos e a velocidade v em metros por segundo. Quais as unidades
SI das constantes C1 e C2?
a) x = C1 + C2 t
b) x = (1/2) C1 t 2
c) x = C1 cos C2 t

8. Quais as dimensões das constantes C1 e C2 em cada expressão da


questão anterior?

9. Determine a fórmula que relaciona a grandeza pressão (p) com as


grandezas superfície (S), potência (P) e velocidade (v).

10. Responda às seguintes questões:


a) O que é medir?
b) O que chamamos de precisão de um instrumento de medida?
c) O que caracteriza a medição direta?
c) E a medição indireta?

11. Cite cinco instrumentos de medida e indique a grandeza física


relacionada a cada um deles.

12. Quando o experimentador realiza apenas uma medida da grandeza,


qual a estimativa de erro geralmente adotada?

13. Quando o experimentador realiza uma série de medidas de uma


grandeza como deve ser apresentado o resultado?

14. O que são “algarismos significativos” de uma medida?

15. Medindo-se várias vezes, com uma mesma régua e usando-se a


mesma técnica, a distância entre dois pontos fixos, foram encontrados
os seguintes valores: 21,28 cm; 21,32 cm; 21,27 cm; 21,29 cm; 21,31 cm;
21,28 cm; 21,24 cm. Determine:

34 UNIDADE 01
a) o valor mais provável da medição efetuada;
b) a menor divisão da régua utilizada;
c) o desvio médio da medição;
d) o desvio médio relativo;
e) o desvio padrão da medição;
f) o resultado da série de medidas.

16. As medidas dos lados de um retângulo são dadas por: A = (30,3 ± 0,3)
cm e B = (20,8 ± 0,1) cm. Determine para esse retângulo:
a) a diferença dos lados;
b) a área.

17. Calcule o valor da grandeza G dada pela expressão:


G=a+ b2 , sabendo que a = 1,23 x 106 cm/s; b = 2,00 x 108 cm/s;
c−d
c = 4,70 x 103 km/s e d = 6,51 x 105 m/s

FÍSICA FUNDAMENTAL I 35
36 UNIDADE 02
UNIDADE 02

Vetores
Mônica Maria Machado Ribeiro Nunes Castro

FÍSICA FUNDAMENTAL I 37
38 UNIDADE 02
VETORES

O QUE SÃO VETORES?

Já vimos que, quanto à sua natureza, as grandezas físicas podem


ser escalares ou vetoriais. As grandezas escalares, tais como massa e
tempo, ficam perfeitamente definidas por um número e uma unidade.
Assim, se alguém diz “Esta saca tem 60 quilogramas de café”, todos
compreendem o que foi dito. Por outro lado, se alguém disser “O carro
está se movendo a 60 quilômetros por hora”, logo vem a pergunta: “Para
onde?” Isto porque a grandeza envolvida – a velocidade – é uma grandeza
vetorial e, para ficar perfeitamente definida é necessário que além do
número e da unidade, indiquemos também sua direção e sentido.

Vetores: conceitos básicos e representação

As grandezas físicas vetoriais, como a velocidade, o deslocamento


e a força, são representadas por vetores – entidades matemáticas
capazes de, simultaneamente, representarem a intensidade ou módulo,
a direção e o sentido necessários para que este tipo de grandeza seja
bem definido.
Geometricamente um vetor é representado por um segmento
de reta com uma flecha em uma das extremidades. O comprimento do
segmento de reta nos dá o módulo do vetor, a orientação do segmento é
a direção do vetor e o sentido indicado pela flecha é o sentido do vetor.
Comumente uma grandeza vetorial é representada nos textos impressos
por uma única letra, por exemplo, a , grafada em negrito. Assim faremos
também neste texto. Em textos manuscritos devemos colocar uma flecha

sobre a letra designativa do vetor, por exemplo, a .
Para representarmos o módulo ou intensidade de uma grandeza

FÍSICA FUNDAMENTAL I 39
vetorial usamos a mesma letra dada ao vetor que a representa, grafada
em itálico, sem negrito e sem a flecha. São utilizadas também barras
verticais laterais, como segue.
Módulo de a = a = I I (2.1)

Dizemos que:
• são paralelos os vetores que possuem mesma direção e
sentido;
• são antiparalelos os vetores que possuem mesma direção e
sentidos contrários;
• são iguais os vetores que têm mesmo módulo, mesma direção
e mesmo sentido.

E, ainda, que um vetor é o negativo de outro quando um possui o


mesmo módulo e direção do outro vetor, mas tem sentido contrário.

Atenção!
O vetor nulo é aquele que tem módulo zero e direção e sentido
indeterminados.

Convém notar que ao desenhar vetores em diagramas devemos


adotar uma escala, de modo que se um vetor for desenhado com 1 cm
para representar, por exemplo, um vetor cuja intensidade corresponda a
4 unidades de uma grandeza, devemos desenhar com 2 cm um vetor de
intensidade igual a 8 unidades.

Figura 2.1 – Os vetores a , c e d são paralelos; os vetores a , c e d são antiparalelos


ao vetor b ; os vetores a e c são iguais.

40 UNIDADE 02
OPERAÇÕES BÁSICAS COM VETORES

O comportamento dos sistemas físicos é melhor descrito na


linguagem matemática. Quando nesta descrição estão envolvidas
somente grandezas físicas escalares, são usadas apenas as operações
aritméticas usuais. Quando também estão envolvidas as grandezas
vetoriais, fazemos uso das operações vetoriais.

Adição de vetores: método gráfico

Podemos adicionar grandezas vetoriais fazendo uso do método


gráfico. Este método consiste em desenhar os vetores em escala, tantos
quantos se queira adicionar, colocando sempre um na extremidade do
outro. A resultante ou soma vetorial será o vetor com origem na origem do
primeiro vetor e extremidade na extremidade do último vetor desenhado.
Sua direção e sentido, assim como seu módulo em escala, são obtidos
no próprio desenho. Veja os exemplos abaixo.

Figura 2.2 – Adição de vetores

Mas, atenção! Como você pode observar na Figura 2.2, o módulo


do vetor soma, em geral, não é a soma algébrica dos módulos dos vetores
somados. Somente quando somamos vetores paralelos, o módulo do
vetor soma é igual à soma dos módulos dos vetores somados. Quando
somamos vetores antiparalelos, o módulo do vetor soma é a diferença
dos módulos dos vetores somados (ver Figura 2.3).

Figura 2.3 – Adição de vetores paralelos (a) e antiparalelos (b).

FÍSICA FUNDAMENTAL I 41
Você pode observar (e demonstrar!) que a adição vetorial é
comutativa e também associativa, ou seja, podemos fazer:
a+b=b+a (2.2)
e
(a+b)+c=a+(b+c) (2.3)
Podemos, ainda, estabelecer a diferença entre dois vetores
e (veja Figura 2.4). Fazemos isso somando o primeiro vetor com o
vetor negativo do segundo:
a−b=a+ (−b) (2.4)

Componentes de um vetor
Figura 2.4 –
Subtração de vetores
Os vetores também podem ser representados através de seus
componentes relativos a um determinado sistema de coordenadas. Por
simplicidade, aqui usaremos o sistema cartesiano de coordenadas para
fazê-lo.
Posicionamos, no sistema cartesiano, os eixos x e y no plano da
página; deste modo, o eixo z, perpendicular ao plano da página, estará
apontando para fora desta. Tomamos o vetor no plano xy com início na
origem O dos eixos, fazendo um ângulo θ com o eixo Ox das abcissas,
como na Figura 2.5. Construindo retas perpendiculares aos eixos
coordenados que passam pela extremidade do vetor , determinamos,
nos eixos Ox e Oy, as quantidades vx e vy, projeções do vetor nestes
eixos, chamadas de componentes do vetor .

Figura 2.5 – Componentes do vetorv

Reflita!

Na Figura 2.6 os componentes vx e vy do vetor v são positivos,


pois seus sentidos coincidem com o sentido positivo dos eixos +Ox e
+Oy, respectivamente.

42 UNIDADE 02
Como ficariam os componentes de vetores localizados no segundo,
no terceiro e no quarto quadrantes dos eixos cartesianos?

Observe que, como o vetor v está no plano xy, seu componente


ao longo do eixo z é nulo. Da Figura 2.5 podemos escrever:
vx = v cos θ e vy = v sen θ (2.5)
de modo que, dependendo do valor do ângulo θ, podemos ter
componentes positivos, negativos ou nulos.
Também da Figura 2.5, aplicando o Teorema de Pitágoras,
podemos notar que o módulo do vetor é dado por:

2 2
vx  vy
v = (2.6)
e vy
tg θ = . (2.7)
vx

Observe que podemos representar qualquer vetor no plano xy


como a soma de um vetor paralelo ao eixo Ox com um vetor paralelo
ao eixo Oy (ver Figura 2.6). Esses vetores são chamados de vetores
componentes. Assim, um vetor pode ser escrito em função de seus
vetores componentes ortogonais como segue:

v = vx + vy (2.8)

Figura 2.6 – Vetores componentes de v.

Exemplo 2.1 – Determine os componentes dos vetores B e D,


mostrados na figura abaixo, cujos módulos são, respectivamente, 3,0 m
e 2,5 m.
2 Para o vetor B

FÍSICA FUNDAMENTAL I 43
Pela figura podemos ver que o vetor B forma com o eixo +Ox o
ângulo de 135º. Assim podemos escrever:

Bx = B cos 135º = B cos (90º + 45º) = B ( − sen 45º)


= − B sen 45º = − 3,0 ( 2 / 2) = − 2,1 m
By = B sen 135º = B sen (90º + 45º) = B cos 45º = 3,0 ( 2 / 2) =
+ 2,1 m

3 Para o vetor D
O ângulo formado entre o vetor D e o eixo +Ox é 60º, porém
este ângulo é medido no sentido negativo do eixo Oy. Então, devemos
escrever:

Dx = D cos (− 60º) = D cos 60º = 2,5 (1 / 2) = + 1,3 m


Dy = D sen (− 60º) = D (− sen 60º) = − 2,5 ( 3 / 2) = − 2,2 m

Observe os sinais dos componentes dos vetores; eles estão no


segundo e quarto quadrantes.

Adição de vetores: método analítico

Agora podemos usar, para adicionar vetores, o método dos


componentes ou método analítico. Observe a Figura 2.7 em que
representamos o vetor soma S dos vetores A e B e também cada um dos
componentes destes vetores.

44 UNIDADE 02
Figura 2.7 – Componentes dos vetores A, B e S (A + B).

Podemos escrever os componentes do vetor soma como:


Sx = Ax + Bx e Sy = Ay + By. (2.9)

Este resultado pode ser estendido para qualquer número de


vetores que estejamos somando. Deste modo, se S é a soma dos vetores
A, B, C, D, E, F, ..., seus componentes são dados por:
Sx = Ax + Bx + Cx + Dx + Ex + Fx + ... (2.10)
Sy = Ay + By + Cy + Dy + Ey + Fy + ... (2.11)

Embora tenhamos usado apenas vetores do plano xy, o método


dos componentes é válido também para vetores no espaço. Em geral, um
vetor A qualquer no espaço (x, y, z) tem três componentes Ax, Ay e Az e
seu módulo é dado por
A = Ax2+ Ay2+ Az2 (2.12)
Então, quando somamos vetores no espaço o vetor soma S tem
mais um componente, o Sz, dado por:
Sz = Az + Bz + Cz + Dz + Ez + Fz + ... (2.13)

Exemplo 2.2 – Um garoto brincando de “caça ao tesouro” anda,


após sair do portão de sua casa, 7,0 m para o leste; 5,2 m para o sul e
2,5 m para o oeste e encontra o tesouro. Onde está o tesouro?

Tomemos o eixo +Ox orientado de oeste para leste e o eixo +Oy


orientado do sul para o norte, como é usual nos mapas. Chamemos
de A o primeiro deslocamento do garoto, B o segundo e C o terceiro.
Para localizarmos o tesouro precisamos saber a distância do portão ao
ponto onde termina a caminhada do garoto. Essa distância é o módulo

FÍSICA FUNDAMENTAL I 45
do seu deslocamento total. Fazendo um diagrama em escala para os
deslocamentos efetuados, podemos encontrar o deslocamento resultante
R, do portão ao tesouro, dado pela soma vetorial dos deslocamentos A, B
e C, e medir seu módulo e o ângulo que faz com o eixo +Ox.

Figura – exemplo 2.2

Para resolvermos analiticamente este problema devemos calcular


o módulo do vetor resultante e o ângulo que este vetor faz com a direção
de referência. O cálculo do módulo do vetor resultante (que dá a distância
do portão ao tesouro) pode ser feito utilizando os componentes dos
deslocamentos efetuados pelo garoto. Veja o quadro abaixo.

y
Então, podemos escrever:

R = Rx2+ Ry2 = (4,5)2 + (−5,2)2 = 6,9 m


j
Assim, a distância do portão ao tesouro é
de 6,9 m. k x
i
Observe que somente esta informação z
não expressa a localização do tesouro. Então Figura 2.8 – Vetores unitários.

46 UNIDADE 02
calculamos o ângulo que o deslocamento resultante faz com o eixo +Ox.

Ry (−5,2)
Θ = arctg = arctg = − 49º
Rx (+ 4,5)

Note que o ângulo é negativo, o que comprova o sentido de leste


para sul observado na figura.

Vetores unitários

Para cálculos que envolvem componentes de vetores, é


conveniente utilizar os vetores unitários. Um vetor unitário é um vetor
que possui módulo igual a 1 e não possui nenhuma unidade; seu objetivo
é apenas descrever uma direção e um sentido no espaço. Quando
trabalhamos no sistema de coordenadas cartesiano definimos um vetor
unitário apontando no sentido positivo do eixo Ox, um vetor unitário
apontando no sentido positivo do eixo Oy e um vetor unitário K apontando
no sentido positivo do eixo Oz (ver Figura 2.8). Nesta notação podemos
escrever os vetores A e B no espaço xyz como:

A = A x i + Ay j + A z k (2.14)
B = B xi + B yj + B zk (2.15)

e sua soma será dada por:

S=A +B =
= A x i + Ay j + A z k + B x i + B y j + B z k =
= (Ax + Bx)i + (Ay + By)j + (Az + Bz)k =
= S x i + S y j + S zk (2.16)
sendo:
Sx = Ax + Bx ;
Sy = Ay + By ; (2.17)
Sz = Az + Bz

Exemplo 2.3 – Escrever os vetores A, B, C e R do Exemplo 2.2, utilizando


os vetores unitários.

Os vetores são: A = 7,0 i ; B = − 5,2 j ; C = − 2,5 i e o vetor


resultante é dado por:
R = 7,0 i – 5,2 j – 2,5 i = 4,5 i – 5,2 j

FÍSICA FUNDAMENTAL I 47
Multiplicação de um escalar por um vetor

Uma grandeza escalar pode ser multiplicada por uma grandeza


vetorial. Essa grandeza escalar pode ser um número comum ou uma
grandeza física escalar, como a massa ou o tempo. De qualquer modo
teremos para esse produto, como resultado, um vetor com as mesmas
características do vetor que foi multiplicado. Então vejamos.
Multiplicando o vetor A pelo escalar k obtemos o vetor kA cujo
módulo é kA, a direção é a mesma do vetor A e o sentido é o mesmo de
A se k for positivo e contrário ao de A se k for negativo. Veja a Figura 2.9
abaixo.
A 2A

3A

Figura 2.9 – Multiplicação de um escalar por um vetor.

Analiticamente podemos escrever:


A = A x i + Ay j + A z k
➜ 2A = 2 (Ax i + Ay j + Az k ) = 2Ax i + 2Ay j + 2Az k
➜ −3A = − 3 (Ax i + Ay j + Az k ) = − 3Ax i − 3Ay j − 3Az k

Exemplo 2.4 – Seja o vetor A dado por A = i + 3j – 2k. Determine os


vetores: a) 5A e b) – A / 2.

a) O vetor 5A é dado por:


5A = 5 (i + 3j – 2k) = 5 i + 15j – 10k

b) O vetor – A / 2 é dado por:


A 1 1 3
− = − 2 (i + 3j – 2k ) = − 2 i − 2 j + k
2

PRODUTOS DE VETORES

Podemos efetuar o produto de dois ou mais vetores. Mas como os


vetores não são números comuns, o produto de vetores também não é o
produto comum. Para os vetores podemos definir o produto escalar, que
nos dá como resultado uma grandeza escalar e o produto vetorial, cujo

48 UNIDADE 02
resultado é uma grandeza vetorial.

Produto escalar

O produto escalar de dois vetores A e B, também chamado produto


interno, é representado por A ∙ B. Sua definição é melhor compreendida
observando, primeiramente, sua representação geométrica. Para isso
desenhamos os dois vetores com origem comum e tomamos o menor
ângulo entre eles. Veja a Figura 2.10.

B cos A
Figura 2.10 – Representação do produto escalar.

Definimos o produto escalar A ∙ B como sendo o módulo do vetor A


multiplicado pelo módulo do vetor B multiplicado pelo cosseno do ângulo
θ, ou seja:
A ∙ B = A B cos θ (2.18)

Reflita!
O produto escalar obedece à lei comutativa da multiplicação.
Assim temos:
A∙B=B∙A
Como você poderia demonstrar essa igualdade?

Pela Figura 2.10 você pode notar que A ∙ B pode ser interpretado
como sendo o produto do módulo do vetor A pelo componente do vetor
B paralelo ao vetor A. E ainda, como o produto do módulo do vetor B
pelo componente do vetor A paralelo ao vetor B. Deste modo podemos
escrever:
A ∙ B = A (B cos θ) = B (A cos θ)
Observe que este produto é um número positivo, negativo ou nulo,
dependendo do ângulo θ. Quando θ é um ângulo entre 0º e 90º o produto
escalar é positivo; quando é um ângulo entre 90º e 180º o produto escalar

FÍSICA FUNDAMENTAL I 49
é negativo; e quando θ é igual a 90º, ou seja, os vetores são ortogonais,
o produto escalar é zero.
Quando os componentes dos vetores são conhecidos, podemos
calcular o produto escalar A ∙ B diretamente. Veja como é feito.

Atenção!
Várias grandezas físicas são definidas como o produto escalar de
duas outras grandezas, dentre elas o trabalho realizado por uma força.

A ∙ B = (Axi + Ayj + Azk ) ∙ ( Bxi + Byj + Bzk)


= A xi ∙ B xi + A xi ∙ B yj + A xi ∙ B zk
+ Ay j ∙ B x i + Ay j ∙ B y j + Ay j ∙ B z k
+ A zk ∙ B xi + A zk ∙ B yj + A zk ∙ B zk
= A xB xi ∙ i + A xB yi ∙ j + A xB zi ∙ k
+ Ay B x j ∙ i + Ay B y j ∙ j + Ay B z j ∙ k
+ A zB xk ∙ i + A zB yk ∙ j + A zB zk ∙ k

Calculando os produtos escalares para os vetores unitários,


temos:
i ∙ i = j ∙ j = k ∙ k = (1) (1) cos 0º = 1 (2.19)
i ∙ j = j ∙ i = i ∙ k = k ∙ i = j ∙ k = k ∙ j = (1) (1) cos 90º = 0 (2.20)

de modo que,
A ∙ B = AxBx + AyBy + AzBz (2.21)

Exemplo 2.5 – Sejam os vetores A = 2i – j + 5k e B = i + 3j – 3k .


Determine o produto escalar A ∙ B.

Temos que A ∙ B = (2i – j + 5k) ∙ (i + 3j – 3k) = 2i ∙ i + 6i ∙ j −


6i ∙ k
– j ∙ i – 3 j ∙ j + 3 j ∙ k + 5k ∙ i + 15k ∙ j – 15k ∙ k=
= 2 – 3 – 15 = – 16

Produto vetorial
Figura 2.11 - Representação
do produto vetorial.
O produto vetorial de dois vetores A e B, também chamado produto
externo, é representado por A x B. A Figura 2.11 mostra dois vetores
quaisquer A e B desenhados com início em um mesmo ponto, situados

50 UNIDADE 02
em um mesmo plano. Definimos o produto vetorial A x B como uma
grandeza vetorial C perpendicular ao plano dos vetores A e B, portanto
perpendicular tanto ao vetor A quanto ao vetor B, que tem módulo dado
por
C = A B sen θ (2.22)
e sentido dado pela Regra da mão direita, também representada na
Figura 2.11.

Atenção!
O torque e o momento angular são grandezas físicas definidas por
um produto vetorial.

Para seguir esta regra imagine uma rotação do primeiro vetor (A)
em torno de um eixo ortogonal ao plano que contém os vetores, indicada
pelos dedos mínimo, anular, médio e indicador da mão direita, até que
ele se superponha ao segundo vetor (B) no sentido do menor ângulo
entre eles. O dedo polegar, então, indicará o sentido de A x B.
Geometricamente, podemos observar que o módulo do produto
vetorial de dois vetores pode ser interpretado como sendo o produto
entre o módulo de um vetor e o componente do outro vetor na direção
perpendicular à direção do primeiro. No caso aqui mostrado, A x B, temos
o módulo do vetor A multiplicado pelo componente do vetor B na direção
perpendicular à direção de A; ou ainda, o módulo do vetor B multiplicado
pelo componente do vetor A na direção perpendicular à direção de B.
Observe que para determinar o sentido do vetor B x A, que tem o
mesmo módulo e direção do vetor A x B, você deve fazer uma rotação de
B para A. Você vai obter então um vetor no sentido oposto ao do vetor A
x B. Isso significa que o produto vetorial não é comutativo, de modo que:
A x B = − B x A. (2.23)
Quando os vetores forem dados em termos de seus componentes
ortogonais, podemos calcular o produto vetorial diretamente. Desta forma
temos:
A x B = (Ax i + Ay j + Az k) x ( Bx i + By j + Bz k)
= Ax i x Bx i + Ax i x By j + Ax i x Bz k
+ Ay j x B x i + Ay j x B y j + Ay j x B z k
+ Az k x Bx i + Az k x By j + Az k x Bz k
= A xB x i x i + A xB y i x j + A xB z i x k
+ Ay B x j x i + Ay B y j x j + Ay B z j x k
+ A zB x k x i + A zB y k x j + A zB z k x k

FÍSICA FUNDAMENTAL I 51
onde:
i x i = j x j = k x k = 0 (vetor nulo) (2.24)
e
i x j = − j x i = k
j x k = − k x j = i (2.25)
k x i = − i x k = j
Assim, podemos escrever:
A x B = A x B y k − A x B z j − Ay B x k + Ay B z i + A z B x j − A z B y i
= (AyBz − AzBy) i + (AzBx − AxBz) j + (AxBy − AyBx) k (2.26)

Certamente, se já estudou determinantes, você deve ter percebido


que o produto vetorial também pode ser expresso sob a forma que segue:

i j k
A x B = Ax A y A z (2.27)
Bx B y Bz

Então, você pode utilizar uma ou outra forma para calcular o


produto vetorial entre duas grandezas físicas vetoriais.

Exemplo 2.6 – Considere o vetor A de módulo igual a 4 unidades e


contido no eixo +Ox e o vetor B de módulo igual a 3 unidades, contido no
plano +xy e formando um ângulo de 60º com o eixo +Ox, como mostrado
na figura abaixo. Determine o produto vetorial A x B.

Figura – exemplo 2.6

Para ilustrar, vamos resolver este exemplo de duas maneiras.


5. 1º método
Usamos a definição para determinar o módulo do vetor C, resultado

52 UNIDADE 02
do produto vetorial A x B e a regra da mão direita para determinar seu
sentido. Assim temos:
C = A B sen60º = 4.3( 3 /2) = 6. 3 unidades
De acordo com a regra da mão direita, o sentido de C é o sentido
de +Oz. Então:
C = A x B = 6. 3 k

6. 2º método
Escrevemos primeiramente os componentes dos vetores A e B:
Ax = 4 ; Ay = 0 ; Az = 0 ;
Bx = B cos60º = 3(1/2) = 1,5
By = B sen60º = 3( 3 /2)
Bz = 0

Podemos escrever então:


a componente na direção i ➜ AyBz – AzBy = 0.0 – 0. 3( 3 /2) = 0
a componente na direção j ➜ AzBx – AxBz = 0.1,5 – 4.0 = 0
a componente na direção k ➜ AxBy – AyBx = 4. 3( 3 /2) – 0.0 = 6. 3
Logo,
C = A x B = 6. 3 k

Portanto, vemos que o produto vetorial tem apenas o componente


z, ou seja, está sobre o eixo +Oz.

Podemos calcular o ângulo entre dois vetores A e B cujos


componentes sejam conhecidos, utilizando o produto escalar. Temos:

A ∙ B = A B cos θ
e
A ∙ B = A x B x + Ay B y + A z B z

Então podemos escrever:


A B cos θ = AxBx + AyBy + AzBz
De modo que:
cos θ = (Ax Bx + Ay By + Az Bz) / A B

FÍSICA FUNDAMENTAL I 53
Exemplo 2.7 – Determine o ângulo entre os vetores A = 2 i – j +5 k e
B = i + 3 j – 3 k dados no Exemplo 2.5.

Pela definição do produto escalar temos A • B = A B cos θ


onde, A∙B
cos θ =
AB

Do Exemplo 2.5 temos A • B = –16. Falta determinarmos os


módulos dos dois vetores. Assim, fazemos:

A= A x 2 + Ay 2 + A z 2 = (2)2+ (-1)2+ (5)2 = 30

B = B x2+ B y2+ B z2 = (1)2+ (3)2+ (-3)2 = 19


Logo:
−16
cos θ = = − 0,672
30 19
donde:
θ = arccos (− 0,672) = 132º.

Para conferir, veja que, como A • B é negativo, θ deve estar entre


90º e 180º, o que está de acordo com o resultado encontrado.

Para tratarmos grandezas físicas vetoriais fazemos uso dos vetores.


Nesta Unidade você aprendeu algumas propriedades gerais dos vetores,
fará operações de adição e subtração vetorial pelos métodos gráfico e
analítico e também produtos vetoriais. Dominar o uso das operações
vetoriais vai permitir a você uma melhor compreensão do significado
físico dos conceitos da mecânica apresentados nesta disciplina.

54 UNIDADE 02
1. Conceitue ou comente:
a) vetor;
b) grandeza física vetorial.
2. O que você entende por:
a) vetor resultante;
b) componentes de um vetor;
c) vetores componentes;
d) vetores unitários;
e) produto escalar de dois vetores;
f) produto vetorial de dois vetores.
3. Faça uma pesquisa e cite pelo menos duas grandezas físicas definidas
através do:
a) produto de um escalar por um vetor;
b) produto escalar de dois vetores; e
c) produto vetorial de dois vetores.
4. Utilizando uma escala de 1 unidade para 0,5 cm, represente os
seguintes vetores:
a) A ➔ módulo de 3 unidades e sentido nordeste;
b) B ➔ módulo de 5 unidades e sentido de sul para norte;
c) C ➔ módulo de 8 unidades e sentido de leste para oeste;
d) D ➔ módulo de 2 unidades e sentido de noroeste para sudeste;
e) E ➔ módulo de 4 unidades e sentido de oeste para leste.
5. Considere um vetor qualquer V com módulo diferente de zero.
a) Calcule o módulo, a direção e o sentido do vetor dado por V/V.
b) Se θ é o ângulo entre V e o eixo +Ox, determine (V/V) • i
Considere os vetores dados na figura abaixo, para as questões de 6 a 9.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 55
6. Use diagramas em escala para determinar:
a) a soma vetorial A + B;
b) a diferença vetorial B – A;
c) a diferença vetorial 2 A – B + C.
7. Use o método das componentes para determinar o módulo, a direção
e o sentido dos vetores:
a) A + B;
b) B – A;
c) 2 A – B + C.
8. Escreva cada um dos vetores indicados na figura em termos dos
vetores unitários i e j.
9. Para os vetores indicados na figura determine os produtos:
a) A • B;
b) B • C;
c) A x B (módulo, direção e sentido);
d) B x A (módulo, direção e sentido);
e) A x C (módulo, direção e sentido);
f) A x (B x C) (módulo, direção e sentido).
10. Sejam os vetores U = –2i + 3j + 4 k e V = 3 i + j – 3 k. Determine:
a) o módulo de cada vetor;
b) uma expressão para a diferença vetorial U – V, usando vetores unitários;
c) o ângulo entre os dois vetores.

Atenção!
Procure resolver mais exercícios e problemas sobre esse
conteúdo. Para isso, procure os livros referenciados no próximo item.

56 UNIDADE 02
UNIDADE 03

Cinemática da Partícula
Maria de Nazaré Bandeira dos Santos
58 UNIDADE 02
CINEMÁTICA DA PARTÍCULA

SAIBA MAIS!
INTRODUÇÃO
Começaram o
estudo sobre
Desde a mais remota Antiguidade, o homem preocupou-se em movimentos:
explicar os fenômenos que a natureza punha à sua frente. O movimento Aristóteles (384
dos corpos foi o alvo das primeiras atenções. Aristóteles, Arquimedes, a 322 a. C.) foi
Ptolomeu, Copérnico, Galileu, Kepler, Newton e Einstein são alguns dos um dos mais
importantes filósofos
grandes expoentes que contribuíram para a evolução dos conhecimentos da Antiguidade,
estudados pela Mecânica. Assim, a Mecânica é um dos mais antigos dedicando-se
ramos da Física que tem como objeto de estudo o movimento e o também à política,
repouso dos corpos. Mas veja que a Mecânica, mais precisamente a à crítica e à ética.
Particularmente na
Mecânica Clássica, estuda o movimento dos corpos, sem levar em conta
Física, sua obra
os movimentos microscópicos que acontecem no seu interior, tais como, refere-se ao estudo
oscilações de núcleos atômicos e movimentos de elétrons. Por exemplo, dos movimentos,
a Mecânica estuda o movimento de um automóvel numa estrada, no incluindo o dos
corpos celestes.
entanto, não se preocupa com a agitação dos átomos e moléculas da
Arquimedes (287-
estrutura do automóvel. 212 a. C.) foi
Por conveniência didática, o estudo da Mecânica é dividido em considerado o pai da
três partes: Cinemática, Estática e Dinâmica. ciência mecânica.
A Cinemática é a parte da Mecânica que trata do repouso e do Ptolomeu (87-150
d.C.) foi um grande
movimento, apenas descrevendo-os, isto é, sem considerar as causas astrônomo grego
que determinam o estado de repouso ou as características do estado da Antiguidade;
de movimento. As grandezas físicas envolvidas neste estudo são as desenvolveu um
fundamentais, comprimento e tempo, e as derivadas destas, tais como modelo para o
mundo no qual a
posição, deslocamento, velocidade e aceleração.
Terra ocupava o
A Estática é a parte da Mecânica que investiga o equilíbrio dos centro, modelo esse
corpos sujeitos a forças, portanto, trata-se das forças aplicadas às que predominou até
massas. o início do século
XVI.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 59
Copérnico (1473-1543) Foi um grande astrônomo, matemático, sacerdote,
diplomata, médico e economista. Em seu livro: Sobre as Revoluções dos Corpos
Celestes, apresentou a Teoria Heliocêntrica, que proporcionou uma visão
completamente nova do universo.
Galileu (1564 - 1642) fez sucessivos aperfeiçoamentos na luneta, então recém-
inventada na Holanda. Com o uso deste instrumento, Galileu fez observações
astronômicas, o que lhe ajudou a defender o Modelo Heliocêntrico.
Newton (1642 - 1727) promoveu o início de uma verdadeira revolução na
ciência física, ao formular as três leis básicas da mecânica, isto é, os princípios
fundamentais que são usados até hoje para analisar o movimento dos corpos.

A Dinâmica é a parte da Mecânica que relaciona os movimentos


com as forças a eles associadas e com as propriedades dos objetos que
se deslocam, pois o movimento é determinado pela natureza e disposição
de outros corpos que constituem sua vizinhança. Assim as grandezas
físicas utilizadas na Dinâmica são as envolvidas em Cinemática e as
envolvidas na Estática, isto é, deslocamento, velocidade, aceleração,
tempo, massa e força.
Esta unidade será dedicada ao estudo dos movimentos dos corpos,
do ponto de vista da Cinemática, ou seja, iremos aqui apenas fazer uma
descrição dos movimentos dos corpos sem levar em consideração a
influência da vizinhança (forças) sobre os mesmos.
Em Cinemática podemos tratar um corpo em movimento de três
formas diferentes, com grau de complexidade crescentes, a saber:
- podemos fazer um tratamento idealizado, considerando-o como
partícula, ou seja, utilizando o modelo físico de partícula;
- podemos tratar o corpo como um conjunto de partículas, que
guardam relações fixas entre si e considerar o movimento de todas elas
simultaneamente. Neste caso, o corpo é um corpo rígido;
- podemos tratar um corpo como um conjunto de partículas que
se movimentam entre si, enquanto o corpo se desloca. Este é o caso do
movimento de corpos deformáveis.
Assim sendo, a maneira mais simplificada de se estudar o
movimento de um corpo é considerando-o como partícula, ou seja,
consideramos um objeto complexo, sem dimensões como se fosse um
único ponto com massa.

Reflita!
O estudo dos fenômenos mecânicos é um dos pilares da
compreensão física da natureza, pois o movimento está presente em todos
os fenômenos, de alguma forma. Relembre alguns desses fenômenos.

60 UNIDADE 03
Sabemos da experiência diária que, uma bola, por exemplo, ao
se deslocar (movimento de translação), pode também girar em torno de
seu próprio eixo (movimento de rotação) ou mesmo vibrar. Entretanto, se
considerarmos a bola como uma partícula, estas complicações poderão
ser evitadas. Matematicamente, uma partícula é tratada como um ponto,
um objeto sem dimensões, de tal maneira que rotações e vibrações não
estão envolvidas em seu movimento, mas apenas translações.
Na realidade, um objeto sem dimensões não existe na natureza,
entretanto, mesmo que um corpo seja muito grande, em um problema
particular, ele poderá sempre ser considerado como constituído de um
grande número de partículas. Se estas partículas fazem parte de uma
estrutura rígida que constitui o corpo, o estudo do movimento de uma das
partículas substitui o estudo do movimento de translação do corpo como
um todo. E assim, um corpo não precisa ser "pequeno", para ser tratado
como partícula.
Por outro lado, mesmo que o corpo apresente outros movimentos
além do de translação, em uma dada situação particular, desprezando
estes movimentos este corpo pode ser considerado uma partícula.
Outra análise bastante comum, feita ao se considerar um corpo como
partícula, é a que considera as dimensões do corpo em estudo, realmente
desprezíveis, comparadas com as dimensões envolvidas no problema,
por exemplo, no estudo do movimento da Terra em torno do Sol, as
dimensões destes astros comparadas com as distâncias que os separa
são tais que podemos considerá-los como partículas, e podemos, sem
erro apreciável, descobrir muitas coisas sobre o movimento do Sol e dos
planetas.
O modelo físico de partículas tem uma implicação que contribui
para sua simplicidade, a de reduzir os movimentos do corpo, apenas
para o de translação, pois uma partícula possui apenas movimento
de translação. Observe que um carrinho descendo um plano inclinado
satisfaz este requisito, ou seja, pode ser estudado satisfatoriamente por
este modelo, no entanto, uma roda-gigante não satisfaz esta exigência,
pois um ponto da periferia da roda move-se diferentemente de um ponto
de seu eixo.

DESCRIÇÃO GERAL DO MOVIMENTO DE UMA PARTÍCULA

Estudaremos, aqui, os conceitos básicos relacionados aos

FÍSICA FUNDAMENTAL I 61
movimentos dos corpos, tais como os conceitos de posição, referencial,
trajetória, deslocamento, caminho percorrido, velocidades e acelerações.
Estes conceitos, como já vimos, constituem a base da Cinemática, e são
gerais, válidos para todo tipo de movimento.

O movimento é relativo: posição e referencial

Tudo na natureza se move, mesmo o que parece estar em


repouso move-se relativamente ao Sol e às estrelas. Enquanto você
está lendo este texto, está se movendo aproximadamente a 107.000
km/h em relação ao Sol. E está se movendo ainda mais rapidamente
em relação ao centro de nossa galáxia. Quando discutimos o movimento
de um corpo, descrevemos relativamente a alguma outra coisa. Por
exemplo, se você caminha no corredor de um ônibus em movimento,
sua rapidez ou velocidade em relação ao piso do ônibus provavelmente
é completamente diferente de sua velocidade em relação a uma pessoa
numa posição fixa da estrada. Quando dizemos que um carro de Fórmula
1 alcança a velocidade de 400 km/h, queremos dizer que tal velocidade
é relativa à estrada. Assim, podemos dizer que o movimento é relativo,
isto é, depende do que você toma como referencial.

Reflita!
Podemos generalizar o conceito de referencial, como um conjunto
indeformável de sólidos dotados de um sistema de eixos coordenados
mutuamente ortogonais, orientados por seus respectivos vetores
unitários, e um relógio. Dê exemplos de corpos em movimento com seus
respectivos referenciais.

Em todos os casos em que você percebe que um objeto está em


DESAFIO movimento, a posição do objeto em relação a você está variando com o
decorrer do tempo. Da mesma forma, você identifica que uma lâmpada
Com as ideias do teto de seu quarto está em repouso em relação às paredes, porque
discutidas até agora, ela continua sempre na mesma posição com o passar do tempo.
construa o conceito
Então, para definir movimento e repouso de um dado corpo,
de movimento e
repouso. necessitamos ter noção de sua posição ou posições ocupadas em relação
a um dado referencial.

62 UNIDADE 03
Figura 3.1: A posição da lâmpada está definida em relação ao referencial Oxyz no
canto inferior esquerdo.

Você deve ter observado que, para definir a posição de uma


partícula precisamos tomar algo como referência. Formalmente
podemos considerar este referencial como um sólido ou conjunto de
sólidos indeformáveis, por exemplo, as paredes, o chão e o teto da sala,
conjunto esse dotado de um sistema de eixos coordenados mutuamente
ortogonais, orientados por seus respectivos vetores unitários, como
mostra a Fig. 3.1, onde é dada a posição de uma lâmpada em relação
a um canto da sala, que constitui o referencial Oxyz. Para descobrir se
essa partícula está em repouso ou em movimento, precisamos ainda
medir o intervalo de tempo, de modo que, junto ao sólido de referência,
deverá existir um relógio.

Assim, de fato, podemos generalizar o conceito de referencial como


um conjunto indeformável de sólidos dotados de um sistema de eixos
coordenados mutuamente ortogonais orientados por seus respectivos
vetores unitários, e um relógio.
Agora você está preparado para entender melhor os movimentos
de translação e rotação. Um corpo move-se em translação pura em
relação a um referencial Oxyz, se os eixos Ox’, Oy’ e Oz’, supostos
rigidamente ligados ao corpo e inicialmente paralelos, respectivamente
aos eixos Ox, Oy e Oz, mantiverem-se durante o movimento sempre
paralelos. A Fig. 3.2 mostra o movimento de translação puro, de uma taça
(corpo rígido) que se desloca de A para B e daí a C.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 63
Figura 3.2: Movimento de translação de um objeto (corpo rígido) no referencial
O’x’y’z’ em relação ao referencial Oxyz.

Figura 3.3: Movimento de rotação pura de um corpo rígido no referencial O’x’y’z’ em


relação ao referencial Oxyz.

Observe que os deslocamentos de todos os pontos da taça,


considerada um corpo rígido, são iguais em qualquer intervalo de tempo
considerado.
O movimento de rotação é aquele no qual todas as partículas de
um corpo rígido descrevem num mesmo intervalo de tempo, arcos de
circunferências, cujos centros estão sobre a mesma reta que constitui o
eixo de rotação, como mostrado na Fig. 3.3.
Assim, dizemos que a taça da Fig. 3.3 move-se em rotação pura

64 UNIDADE 03
em relação a um referencial Oxyz, se as coordenadas Ox’, Oy’ e Oz’
supostas rigidamente ligadas à taça descreverem trajetórias circulares
em torno da origem O’, denominado centro de rotação.
O movimento mais geral de um corpo rígido é, contudo, uma
combinação dos movimentos de translação e rotação, pois normalmente
o corpo gira enquanto translada, veja o movimento da taça na Fig. 3.4.

Figura 3.4: Um corpo rígido em movimento de translação e rotação combinados,


em relação ao referencial Oxyz.

Trajetória

Outro conceito envolvido no estudo dos movimentos é o de


trajetória. Quando fotografamos um carro em movimento, à noite, com
os faróis acesos, vemos na foto uma linha luminosa que mostra as
posições sucessivas ocupadas pelo carro ao longo de todo o
seu percurso. Esta linha é a chamada trajetória, seguida pelo
carro em movimento. De modo semelhante, a linha traçada
pela ponta de uma caneta que é deslocada sobre um papel
representa a trajetória do movimento dessa ponta, veja a
Fig.3.5.

De acordo com a forma da trajetória os movimentos


podem ser classificados em diversos tipos, tais como:
Figura 3.5: Trajetória da ponta
- movimento retilíneo: quando a trajetória é uma reta,
de uma caneta sobre a folha de
veja Fig. 3.6a; papel.
- movimento circular: quando a trajetória é um círculo,

FÍSICA FUNDAMENTAL I 65
veja Fig. 3.6b;
- movimento parabólico: quando a trajetória é uma
parábola, veja Fig. 3.6c;
- movimento elipsoidal: quando a trajetória é uma
elipse, veja Fig. 3.6d;
- movimento helicoidal ou espiralado: quando a
trajetória é uma espiral, veja Fig. 3.6e;
- movimento cicloidal: quando a trajetória é uma
cicloide, veja Fig. 3.6f.

E assim, por diante.

Veja que algumas trajetórias podem estar


contidas num plano, pois podem ser descritas em duas
Figura 3.6: Diferentes tipos de movimentos dimensões (2D), outras são trajetórias no espaço ou
definidos pela forma da trajetória.
3D, pois são descritas em termos de três coordenadas
e outras podem ser unidimensionais como o caso de uma trajetória
retilínea.

Reflita!
Sobre exemplos reais de movimentos que podem ilustrar os
diferentes tipos de trajetórias que acabamos de discutir.

Grandezas físicas gerais da cinemática

Julgamos útil apresentar inicialmente a Cinemática na sua forma


mais geral, isto é, em três dimensões (3D), para lembrar sempre o
caráter vetorial de todas as grandezas que descrevem o movimento. Em
seguida faremos a simplificação para os casos bidimensionais (2D) e
unidimensionais (1D) mais comuns.
O movimento de uma partícula é caracterizado cinematicamente,
de maneira geral, pelas grandezas vetoriais: posição, deslocamento,
velocidade média e instantânea, e aceleração média e instantânea. Estas
são grandezas medidas sempre em relação a um referencial (conjunto
indeformável de sólidos dotados de um sistema de eixos coordenados
mutuamente ortogonais orientados por seus respectivos vetores unitários,
e um relógio). É este referencial que nos permite afirmar se um dado
corpo está em repouso ou em movimento, com que velocidade e com que

66 UNIDADE 03
aceleração.

Consideremos uma partícula


em movimento no espaço em
relação a um referencial Oxyz,
descrevendo a trajetória mostrada
na Fig 3.7. Podemos descrever
cinematicamente seu movimento,
determinando as grandezas físicas:
posição, deslocamento, velocidade e
aceleração no tempo.
Esse procedimento permite
lembrar sempre o caráter vetorial de
Figura 3.7: Uma partícula move-se de A
todo o movimento. para B no intervalo de tempo, efetuando um
deslocamento.

• Posição da partícula – é caracterizada pelo vetor posição,


traçado da origem do referencial ao ponto ocupado pela
partícula. Por exemplo, a Fig. 3.7 mostra a trajetória de uma
partícula que no instante estava na posição , e no instante
estava na posição , ambas em relação ao referencial Oxyz,
estas posições são dadas pelos vetores

r1 = x 1i + y 1j + z 1k
e (3.1)
r2 = x 2i + y 2j + z 2k

• Deslocamento – é o vetor que descreve a mudança de posição


, da partícula quando ela vai do ponto A, posição , ao ponto
B, posição . Veja que na Fig. 3.7 também podemos facilmente
ver que
∆r = r2 - r1
∆r = (x2 - x1)i + ( y2 - y1)j + (z2 - z1)k
∆r = ∆xi + ∆yj + ∆zk (3.2)

FÍSICA FUNDAMENTAL I 67
onde temos o vetor deslocamento total Δr , dado em função de
suas projeções Δx, Δy e Δz em cada uma das direções x, y e z.
• Velocidade – é a medida da rapidez de um corpo, ou mudança
de sua posição com o tempo. Podemos encontrar a velocidade
média e a velocidade instantânea de um corpo em movimento.

Velocidade média ( v ) refere-se ao comportamento médio da


velocidade durante o intervalo de tempo Δt . Se um automóvel, em uma
viagem, faz um deslocamento resultante de módulo 560 km em 8 h, você
provavelmente dirá:
“O automóvel desenvolveu, em média, uma velocidade de módulo
70 km/h, com direção e sentido iguais ao do deslocamento realizado”.

Reflita!
Se encontrássemos para as velocidades médias entre dois
pontos quaisquer, os mesmos valores (em módulo, direção e sentido), o
que poderíamos concluir sobre o movimento?

Assim, o vetor velocidade média é dado por

r
v
t

ou (3.3)
x y z
v i j  k  vx i  v y j  vz k
t t t

Como você deve ter observado, a velocidade média não nos dá


pormenores do movimento no intervalo de tempo considerado. Assim, o
movimento da partícula entre os pontos A no tempo t1 e B no tempo t2 ,
como mostra a Fig. 3.7, poderia ter sido retilíneo, parabólico ou helicoidal,
bem como poderia ter sido acelerado ou não.

Velocidade instantânea ( v ) é a velocidade de um corpo em cada


ponto do movimento, isto é, a cada instante. A velocidade pode variar
sofrendo alterações em seu módulo, em sua direção ou em ambos. Ao
observar o velocímetro de um carro em movimento você verá, em geral,
seu ponteiro indicar a cada instante um valor diferente para o módulo da
velocidade. Esta velocidade é a instantânea.

68 UNIDADE 03
Figura 3.8: Quando fazemos o ponto B aproximar-se do ponto A, a velocidade
média aproxima-se da velocidade instantânea v em A.

Suponha que tentemos calcular a velocidade média, conforme


mostra a Fig. 3.8, quando o intervalo de tempo se torna cada vez menor,
assim
r r` r``
v AB  v AB `  v AB `` 
t t t
Veja que a velocidade média é diferente, tanto em módulo como em
direção, nos diferentes intervalos de tempo. Continuando sucessivamente
aproximar o ponto B do ponto A, verificamos que a relação correspondente
se aproxima de um valor limite bem definido, tal que

r
v  Lim (3.4)
t 0 t DESAFIO
Usando o método
No caso limite de, o segmento que liga os pontos A e B aproxima-
geométrico de
se da tangente à curva naquele ponto, e a velocidade média aproxima- adição de vetores,
se da inclinação de , o que define a velocidade instantânea nesse ponto, faça as operações
como a derivada de em relação a t, ou seja vetoriais:
Qual a relação
dr dx dy dz geométrica (direção
v  i j k e sentido) entre o
dt dt dt dt
vetor velocidade
ou (3.5) média e o vetor
v = v xi + v yj + v zk deslocamento?
Então, veja que a direção de v será a direção limite que Δr toma
quando B se aproxima de A, ou quando Δt tende a zero, como já dissemos
acima.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 69
Desafio
Usando o método geométrico de adição de vetores, faça as
operações vetoriais:
Qual a relação geométrica (direção e sentido) entre o vetor
velocidade média e o vetor deslocamento?

Reflita
O que poderíamos concluir sobre um movimento no qual a
velocidade média permanece constante para qualquer intervalo de
tempo?

• Aceleração – mede o quanto a velocidade varia num intervalo


de tempo . Sempre que a velocidade de um corpo sofre uma
variação, quer seja em módulo, direção e/ou sentido, dizemos
que este corpo possui aceleração. Veja que, quando o
SAIBA MAIS! velocímetro de um automóvel em movimento marca diferentes
velocidades com o passar do tempo, isso corresponde a uma
Sobre velocidade e aceleração que foi aplicada neste automóvel. Assim, a ideia
aceleração. Acesse
de aceleração está sempre ligada à variação da velocidade,
o site
http://br.geocities. seja em módulo, direção e/ou sentido. Podemos encontrar a
com/saladefisica3/ aceleração média e a instantânea de um corpo em movimento.
laboratório/ Veja:
movimentos/
movimentos/html
e execute os Aceleração média ( a ) refere-se ao comportamento médio da
applets: aceleração durante o intervalo de tempo Δt . Suponha que no instante t1 ,
posição X uma partícula, como mostra a Fig. 3.9, esteja no ponto A, deslocando-se
velocidade e
no espaço Oxyz, com uma certa velocidade instantânea v1, e que num
velocidade e
aceleração instante posterior t2 ela esteja em B, deslocando-se com a velocidade
instantânea v2.

Figura 3.9: Uma partícula tem velocidade no ponto A e move-se para B onde sua
velocidade é . O triângulo mostra a variação vetorial da velocidade da partícula de
A para B.

70 UNIDADE 03
A aceleração média a , durante o movimento de A para B, é definida
pelo quociente da variação da velocidade pelo intervalo de tempo, ou
seja,
v
a
t
ou

v x v y v
a i j z k (3.6)
t t t

ou
a= a xi + a yj + a zk

Veja ainda na Fig. 3.9, que a adição vetorial pelo método


geométrico, resulta em Δv , dado por
v2 = v1 + ∆v
ou (3.7)
∆v = v2 - v1

O vetor a é chamado aceleração média porque ele não informa


como a velocidade varia com o tempo, durante o intervalo Δt .

Aceleração Instantânea (a) é a aceleração de um corpo em cada


ponto do movimento, isto é, a cada instante. Analogamente ao que foi feito
para encontrar a velocidade instantânea, podemos fazer para encontrar
a aceleração instantânea. Assim, temos a aceleração instantânea dada
pelo limite do quociente entre a variação de velocidade e a variação de
tempo, quando este intervalo de tempo fica cada vez menor, ou seja,

v
a  Lim (3.8)
t 0 t
e portanto,
dv dv x dv y dv
a  i j z k
dt dt dt dt
ou (3.9)
a = a xi + a yj + a zk
Note que todas as grandezas gerais que descrevem
cinematicamente um movimento são grandezas vetoriais e portanto
possuem módulo, direção e sentido. Então, uma mudança no tempo,
mesmo que seja apenas na direção, de algumas dessas grandezas,

FÍSICA FUNDAMENTAL I 71
resulta numa nova grandeza. Relembre que num movimento circular e
uniforme (MCU), por exemplo, o módulo da velocidade não varia, no
entanto, sua direção e sentido mudam a todo instante para que seja
possível a descrição da trajetória circular do corpo. Isto é, para que este
movimento seja possível, é necessário uma aceleração centrípeta que é
resultante da variação da direção e sentido da velocidade, embora tenha
seu módulo constante.

Atividade de aprendizagem

Considere que na sala onde você se encontra, uma mosca se


movimenta aleatoriamente, seguindo a trajetória mostrada na Fig. 3.10.

Figura 3.10

Se no instante t1 = 2s , a mosca se encontra na posição dada pelo


vetor r1 , e no instante t2 = 7s ela se encontra na posição r2 . Encontre:
• os vetores posição da mosca nos instantes t1 e t2 ;
• o deslocamento da mosca no intervalo de tempo ∆t ;
• a velocidade média da mosca neste intervalo de tempo;
• é possível saber a velocidade instantânea da mosca? Explique.

Como já dissemos anteriormente, todos os conceitos vistos acima


são gerais, válidos para qualquer tipo de movimento e foram mostrados
acima, para movimentos quaisquer no espaço (3D). Podemos reescrevê-

72 UNIDADE 03
las, facilmente, todas essas equações, de 3.1 a 3.9, em duas e em uma
dimensão.
Com o conhecimento das variáveis cinemáticas discutidas acima,
para 3D, podemos reduzi-las para o movimento em 2D, por exemplo, no
plano xy, da seguinte forma:

i) Posição da partícula
r 1 = x 1i + y 1j (3.10)
ii) Deslocamento
∆r = r2 - r1
∆r = (x2 - x1)i + (y2 - y1)j (3.11)
ou
∆r = ∆xi + ∆yj
onde temos o vetor deslocamento total ∆r , dado em função de
suas projeções ∆x e ∆y em cada uma das direções x e y.

iii) Velocidade média


r
v 
ou t (3.12)
x y
v  i  j  vxi  vy j
t t
iv) Velocidade instantânea (v)

r
v  Lim .
t  0 t
(3.13)
dr dx dy
v   i  j
dt dt dt
v = v xi + v yj
• Aceleração média (a)
v
a 
t
ou
v x v y (3.14)
a  i  j
t t
ou
a = a xi + a yj
vi) Aceleração Instantânea (a)

v
a  Lim (3.15)
t  0 t

FÍSICA FUNDAMENTAL I 73
e portanto,
dv dv x dv y
a   i  j
dt dt dt
ou (3.16)
a= a xi + a yj

Veja na Fig. 3.11 uma ilustração de algumas das variáveis


cinemáticas do movimento de uma partícula, no plano xy.

Fig 3.11: Uma partícula que se movimenta em 2D tem velocidade v1 no ponto r1 e


velocidade v2 no ponto r2 . O triângulo mostra a variação vetorial da velocidade da
partícula de r1 para r2 .

Desafio
A partir da Fig. 3.11 encontre, pelo método geométrico de adição
de vetores, o vetor velocidade média e o vetor aceleração média entre
os instantes e.

O movimento em uma dimensão é obtido pela redução das grandezas


anteriormente definidas, para apenas um dos três eixos cartesianos. Por
exemplo, para uma partícula em movimento unidimensional na direção x,
podemos reduzir as Eq(s) de 3.1 a 3.9 a:
i) Posição da partícula
r 1 = x 1i (3.17)

ii) Deslocamento
∆r = r2 - r1
∆r = (x2 - x1)i

74 UNIDADE 03
∆r = ∆xi (3.18)
onde temos o vetor deslocamento total ∆r , dado em função de sua
projeção ∆x .

iii) Velocidade média

r x
v  ou v  i  vxi (3.19)
t t

iv) Velocidade instantânea (v)


r
v  Limt  0 t
(3.20)
dr dx
v   i
dt dt
v = v xi
v) Aceleração média (a)
v
a 
t
ou
v x (3.21)
a  i
t
ou
a= a xi

vi) Aceleração Instantânea (a)

v
a  Lim t  0 t
(3.22)
e portanto,
dv dv x
a   i
dt dt
ou
a= a xi (3.23)

Desafio
Analogamente ao que foi mostrado na Fig. 3.11, faça uma figura
do movimento de uma partícula na direção x. Defina o vetor posição r1 ,

FÍSICA FUNDAMENTAL I 75
no tempo t1, e a posição no tempo t2 . Desenhe os vetores velocidades
instantâneas. A partir das velocidades, encontre o vetor aceleração média
pelo método geométrico de adição de vetores.

Você deve ter observado que no movimento unidimensional só


existe uma direção possível, x ou y ou z, para todos os vetores, e duas
opções para o seu sentido, que pode ser designado de positivo (+), o
sentido de crescimento de x, por exemplo; e negativo (-) o sentido de
decrescimento de x. Isso constitui uma boa razão para a não utilização
do formalismo vetorial, nos casos em que o movimento é unidimensional,
bastando trabalhar apenas com a componente escalar na direção
adotada. Por exemplos:

8 A velocidade instantânea: v = vxi pode ser escrita apenas como


v = vx , quando está no sentido de crescimento de x ou v = - vx , quando
está no sentido de decrescimento de x.
9 A aceleração instantânea: a = axi pode ser escrita apenas como
a = ax, quando está no sentido de crescimento de x ou a = - ax , quando
está no sentido de decrescimento de x.

MOVIMENTO DE UMA PARTÍCULA COM VELOCIDADE CONSTANTE

Quando encontramos os mesmos valores (em módulo, direção


e sentido) para as velocidades médias entre dois pontos quaisquer, do
movimento de uma partícula, podemos concluir que a mesma está se
deslocando com velocidade constante, isto é, a velocidade não muda,
nem em módulo, nem em direção e nem em sentido. Observa-se, portanto,
que a partícula está se deslocando em linha reta (direção constante).
Neste caso, a velocidade média coincide com a velocidade instantânea,
logo, das Eq(s) 3.3 e 3.5, temos

Reflita!
Um movimento unidirecional é necessariamente unidimensional?
Pense, por exemplo, no caso do movimento descrito pela Eq. 3.25.

r r  r1
v   2  v
t t 2  t1

76 UNIDADE 03
ou (3.24)
v=v= v xi + v yj + v zk

Assim, podemos encontrar de , a equação r2 - r1 =


v(t2 - t1) fazendo r2 = r a posição final no tempo t , e r1 = r0 a posição inicial
no tempo t0 = 0 , encontraremos r2  r1
 v
t 2  t1
r = r0 + vt (3.25) SAIBA MAIS!

Sobre MRU,
Veja que a Eq. 3.25 é a equação horária da posição para o acesse o site:
Movimento Retilíneo e Uniforme, pois se a partícula não muda de direção http://efisica.if.usp.
sua trajetória será retilínea, e se o módulo da velocidade também não br/mecanica/
varia, o movimento será uniforme. Observe que ∆v será nulo, para basico/movimento
Sobre MRU,
qualquer intervalo de tempo, e portanto, a aceleração será nula.
acesse o site:
http://br.geocities.
Conclusão com/saladefisica3/
Se uma partícula se deslocar com velocidade constante, ela laboratorio/
movimento/
estará se deslocando em linha reta (direção constante) e em movimento
movimento
uniforme (módulo constante), assim, temos um movimento retilíneo e Faça o applet MRU
uniforme, o conhecido MRU.

Observe, ainda, que a Eq. 3.25 é uma equação vetorial, que


descreve o movimento ao longo de uma linha reta em qualquer direção.
Esta direção, no entanto, poderá ser decomposta nas direções das
coordenadas cartesianas xyz, neste caso, temos um MRU em 3D. Assim,
esta equação vetorial corresponde a três equações escalares, pois sendo,

r  xi  yj  zk

r0  x0 i  y 0 j  z 0 k (3.26)
v  v i  v j  v k
 x y z

temos xi + yj + zk = (x0i + y0j + z0k) + (vxi + v yj + vzk)t


 x  x 0  v0 x t
daí, encontramos 
 y  y0  v0 y t (3.27)

 z  z 0  v0 z t
Então, um MRU numa direção qualquer em 3D poderá ser
decomposto nas direções componentes, e em cada uma dessas direções,
ele terá sempre as mesmas características, isto é, as componentes

FÍSICA FUNDAMENTAL I 77
da velocidade permanecem constantes. Um exemplo deste tipo de
movimento é o de uma mosca ao longo da diagonal de uma sala, é um
movimento unidirecional mas, em 3D, que pode ser representado por um
cubo, como foi mostrado na Fig. 3.10.
Se o movimento da mosca ocorre no plano, por exemplo, ao longo
da diagonal de uma mesa, ele é unidirecional, mas ocorrerá em 2D, e
assim a equação horária da posição será:
r = r0 + vt
se o plano for o plano xy, teremos
r  xi  yj

r0  x0 i  y 0 j
v  v i  v j
 x y

consequentemente,
xi + yj = (x0i + y0j) + (vxi + v yj) t (3.28)

e as equações escalares são

 x  x 0  v0 x t
 (3.29)
 y  y 0  v0 y t

Atenção!
Você deve ter observado que um movimento unidirecional não
é, necessariamente, unidimensional, pois se adotamos uma direção
qualquer, ela poderá ser decomposta nas direções Ox, Oy e Oz, teremos
um movimento unidirecional, mas no espaço. No entanto, na maioria dos
casos, é conveniente para simplificação, adotarmos a única direção do
movimento como sendo a direção Ox, ou Oy, ou Oz, e assim, o MRU
se torna unidimensional, dispensando o formalismo vetorial para seu
tratamento, sendo suficiente apenas identificar os módulos da posição e
velocidade e o seu sinal (+) ou (-), para indicar o sentido.

MOVIMENTO DE UMA PARTÍCULA COM ACELERAÇÃO CONSTANTE

Suponha agora que uma partícula esteja em um movimento, cuja


velocidade média, calculada para intervalos de tempo diferentes, não
tenha se mantido constante. Dizemos que a partícula se desloca com
velocidade variável, consequentemente, a partícula possui aceleração.
Como já vimos, a aceleração de uma partícula é a razão segundo a qual

78 UNIDADE 03
sua velocidade varia com o tempo.
Se a aceleração média permanecer constante para qualquer
intervalo de tempo, teremos um movimento com aceleração constante,
consequentemente, a aceleração instantânea coincide com a aceleração
média. Aceleração constante significa, pois, que a velocidade sofre
variações (em módulo, direção e/ou sentido) iguais em intervalos
de tempos iguais. Neste caso, temos um movimento uniformemente
acelerado.
Dois casos especiais ilustram que a aceleração pode surgir
tanto da variação do módulo da velocidade, como da variação em sua
direção. No primeiro caso, teremos um movimento ao longo de uma
linha reta, com a velocidade mantendo a direção e sentido, porém, o
módulo variando uniformemente com o tempo. Esse é o Movimento
Retilíneo Uniformemente Variado (MRUV). No segundo caso, teremos
um Movimento Circular Uniforme (MCU), onde a direção e sentido da
velocidade variam a todo instante, porém, seu módulo permanece sempre
constante.
Um terceiro caso ilustra que a aceleração pode surgir das variações
tanto do módulo como da direção e sentido, simultaneamente, é o caso
do Movimento Circular Uniformemente Variado (MCUV).
Em seguida, discutiremos, em detalhes, cada um dos casos
citados acima.

Movimento Retilíneo Uniformemente Variado – MRUV

Como já vimos, no MRUV o módulo da velocidade varia


uniformemente com o tempo, mantendo a direção e o sentido. A
aceleração é, portanto, constante. Consequentemente, a aceleração
média para qualquer intervalo de tempo é igual à instantânea, ou seja,

v v  v1
a   2  a
t t 2  t1
Fazendo v2 = v a velocidade final no tempo t , e v1 = v0 a posição
inicial no tempo t0 = 0 , encontraremos

v = v0 + at (3.30)

Veja, como mostra a Eq. (3.30), a velocidade v cresce


uniformemente com t (lembre-se seu módulo), pois sua inclinação é

FÍSICA FUNDAMENTAL I 79
constante. Quando a velocidade v varia uniformemente com o tempo,
SAIBA MAIS!
seu valor médio em qualquer intervalo de tempo é igual a média dos
Sobre a Equação valores de v no início e no final do intervalo. Isto é, a velocidade média v
de Torricelli no site: entre t = 0 e t = t , é v0 + v
http://www.scite.
v= (3.31)
pro.br/tudo/busca. 2
php?key=fisica&mi-
dia=que&pag=3 Se a posição da partícula no instante t = 0 é r0 , sua posição r em
Faça o applet sobre t = t pode ser obtida da Eq.(3..32), como
MRU
r = r0 + vt (3.32)
que, combinada com a Eq.(3.31), nos fornece

v  v
r  r0   0
2 t (3.33)
 
Veja que as Eq(s) 3.30, 3.31 e 3.33, surgiram das condições do
MRUV. Substituindo 3.30 na Eq. 3.33, obteremos

t2
r = r 0 + v 0t + a (3.34)
2
é a famosa equação horária vetorial para o MRUV.

Veja ainda que, isolando o


tempo na Eq.(3.30) e substituindo este
na Eq. (3.33), obteremos
v.v = v0 .v0 +
2a (r - r0) (3.35)
que é a conhecida Equação de Torricelli,
na forma vetorial, para o MRUV.
Lembre-se que cada uma dessas
equações vetoriais corresponde a três
equações escalares.
TABELA 3.1: Equações que
descrevem o movimento retilíneo com
aceleração constante (A posição r0 e a
velocidade v0 são as condições iniciais
no instante t0 = 0).
O exemplo mais comum de
movimento com aceleração constante
é o de um corpo em queda livre, ou
de uma forma aproximada, um corpo

80 UNIDADE 03
caindo na superfície da Terra. Desprezando a resistência do ar, verifica-
se que todos os corpos caem com a mesma aceleração, em um mesmo
ponto da superfície terrestre, não importando seu peso, seu tamanho ou
sua constituição. Se a altura de queda não for muito grande, a aceleração
permanecerá constante durante todo o movimento.

Desafio
Considerando a queda dos corpos na superfície terrestre um
MRUV na direção vertical, selecione, da Tab. 3.1, as equações que
descrevem este movimento.

Movimento Circular e Uniforme – MCU

Vimos que a aceleração tem sua origem em variações do vetor


velocidade. No caso simples de queda livre, tínhamos variação apenas
no módulo da velocidade, pois sua direção e sentido permaneciam
constantes.
No movimento de uma partícula em uma circunferência com
módulo da velocidade constante, por exemplo o movimento dos ponteiros
de um relógio, o vetor velocidade varia, uniformemente, em direção e
sentido, apesar de não variar em módulo. Assim, neste movimento, existe
aceleração devido à variação apenas da direção e sentido da velocidade,
que a todo instante é um vetor tangente à trajetória no ponto em que a
partícula se encontra. Este é o Movimento Circular e Uniforme.
Vamos determinar agora a aceleração no MCU, como mostrado
na Fig 3.12.

Fig 3.12: Movimento Circular Uniforme. a) A partícula se move em torno de um


círculo com a velocidade variando apenas em direção e sentido. b) A variação da
velocidade ao ir de P1(t1) a P2(t2), isto é, de para .

FÍSICA FUNDAMENTAL I 81
Seja P1, a posição da partícula no instante t1, com velocidade v1
tangente à curva neste ponto; e P2, a posição da partícula no instante t2,
que está com velocidade v2 , tangente à curva no ponto P2. Observe que
os vetores velocidades, v1 e v2, são iguais em módulo, mas diferem em
direção e sentido. O comprimento da trajetória percorrido durante o tempo
∆t = t1 - t2 é o comprimento do arco P1P2, igual a v∆t, onde v representa
o módulo da velocidade da partícula. Utilizando o método geométrico
para adicionar os vetores v1 e v2, como mostrado na Fig. 3.12b, vemos
que o vetor variação de velocidade ∆v = v2 - v1 está dirigido para dentro
da curva, apontando aproximadamente para o centro da circunferência.
Observe ainda que o triângulo OQ 1Q 2 (Fig.3.12 b) formado pelos vetores
v1 , v2 e ∆v é semelhante ao triângulo CP1P2 (Fig.3.12a). Isto é verdade,
porque ambos são triângulos isósceles cujos ângulos dos vértices são
iguais. Podemos, portanto, escrever

ou (3.36)

Veja que ∆v se aproxima cada vez mais de uma direção


perpendicular a v1 e v2 , à medida que ∆t diminui e, portanto, aproxima-
se cada vez mais de uma direção na qual ele aponta exatamente para o
centro da circunferência. Das relações 3.36 segue-se que

(3.37)

é o valor do módulo da aceleração. O vetor aceleração a está em


cada instante dirigido ao longo do raio e apontando para o centro da
circunferência, é, portanto, uma aceleração radial e centrípeta. Veja
ainda, na mesma Fig 3.12a, as orientações relativas dos vetores v e
a em vários pontos da trajetória. São apenas as variações em direção
e sentido, que originam a aceleração, também constante em módulo
e diferente de zero, mas de direção e sentido continuamente variável.
O vetor velocidade é sempre tangente à circunferência, apontando no
sentido do movimento e a aceleração tem sempre a direção radial e
apontando para o centro da trajetória.
Você deve ter percebido que a Eq. 3.37 expressa apenas o módulo
da aceleração. Podemos fazer uma análise mais completa e obter a
expressão geral da aceleração, com seu módulo, direção e sentido.
Consideremos a Fig. 3.13, que mostra uma partícula em movimento
circular uniforme em torno da origem O de um sistema de referência.

82 UNIDADE 03
Fig 3.13: Movimento Circular Uniforme. a) A partícula se move no sentido anti-
SAIBA MAIS!
horário em um círculo de raio r. b) Os vetores unitários e suas relações com os
Sobre movimento
vetores unitários e .
circular em:
http://www2.
Para este movimento em 2D, as coordenadas polares r e θ são fc.unesp.br/
mais úteis do que as coordenadas retangulares x e y, pois r permanece experimentos
defisica
constante durante todo o movimento e θ cresce linearmente com tempo.
Experimente: Gira-
Os dois conjuntos de coordenadas estão relacionados pelas equações: gira I, II e III

e (3.38)

ou pelas relações recíprocas


x = r cos θ e y = r sen θ (3.39)

Já sabemos que no sistema de coordenadas retangulares os


vetores unitários nas direções x e y são, respectivamente, i e j. No
sistema de coordenadas polares r e θ, os vetores unitários são ur e uθ.
O vetor unitário ur , em qualquer ponto, aponta na direção e sentido de
crescimento de r naquele ponto, ele é orientado radialmente e no sentido
de afastamento da origem. O vetor unitário uθ, em qualquer ponto, aponta
na direção e sentido de crescimento de θ naquele ponto; ele é sempre
tangente a uma circunferência passando pelo ponto, no sentido anti-
horário. Como mostra a Fig. 3.13a, ur e uθ são perpendiculares entre
si. Observe que os vetores unitários ur e uθ, ao contrário dos vetores
unitários i e j, variam de ponto pra ponto no plano; assim os vetores ur e
uθ não são vetores constantes.
Em termos de ur e uθ, o movimento de uma partícula que se move
no sentido anti-horário em uma circunferência, em torno da origem,
Fig.3.13a , com módulo constante v, pode ser descrito pela equação
vetorial:

FÍSICA FUNDAMENTAL I 83
v = u θv (3.40)

Esta relação nos diz, corretamente, que a direção de v, que é a


mesma direção de uθ, é tangente à circunferência e que o módulo de v
tem um valor constante igual a v, pois o módulo de uθ é unitário.

Para encontrar a aceleração, fazemos


(3.41)

veja que é constante, mas não é, pois sua direção varia à medida que
a partícula se move. Assim, a aceleração é dada por
dv du (3.42)

a   v
dt dt
du 
Para calcularmos dt , consideremos a Fig. 3.13b, que mostra os
vetores unitários uθ1 e uθ2 , correspondente ao intervalo de tempo ∆t = t2 -
t1 para a partícula móvel. O vetor ∆u = uθ2 - uθ1 possui módulo ∆θ(ângulo
varrido por uma linha radial, desde a origem à partícula, durante o tempo
∆t) e aponta radialmente para dentro, voltado para a origem, no caso
limite, quando ∆t → 0. Em outras palavras, duθ tem direção e sentido do
vetor _ u em qualquer ponto. Assim, podemos dizer que

du   d
 u r lim  u r (3.43)
dt t  0 t dt
consequentemente
du d (3.44)
a  v  u r v
dt dt
em que representa a taxa de revolução angular da partícula, e é dada
por d v
  
dt r (3.45)
substituindo a Eq. 3.45 em 3.44, obteremos
v2 (3.46)
a  u r
r v2
que nos diz que a aceleração no movimento circular uniforme tem módulo
r
e está dirigida radialmente para dentro da circunferência. Observe, como
já dissemos algumas vezes, que a aceleração tem módulo constante,
mas varia continuamente de direção e sentido.

84 UNIDADE 03
Movimento Circular Uniformemente Variado – MCUV

Consideremos agora um caso mais geral de movimento circular,


no qual o módulo v da velocidade da partícula não é constante. Usaremos
métodos vetoriais em coordenadas polares, como mostrado na Fig. 3.14.

Fig 3.14: a) Movimento circular não-uniforme, cuja velocidade varia em módulo,


direção e sentido. b) A variação da velocidade da partícula ao ir de P1 para P2.
c) A variação da velocidade, causada pela mudança de sua direção e a variação
causada pela variação módulo da velocidade.

Como anteriormente, o vetor velocidade é dado pela equação


3.40, no entanto, neste caso, tanto uθ quanto v variam com o tempo, e
SAIBA MAIS!
consequentemente, os dois termos da Eq. 3.41 são diferentes de zero,
assim teremos a aceleração instantânea do MCUV dada por Sobre a dedução
da Eq. 3.47 em:
v2
u r ou a = aTuθ - aRuT HALLIDAY, D.;
dv du  dv (3.47)
a  u  v  u 
dt dt dt r RESNICK, R.;
KRANE, K. S.
dv Física 1, 4. ed. Rio
aT 
onde dt é o módulo da aceleração tangencial, aceleração sempre de Janeiro: LTC,
tangente à trajetória da partícula, é devida à variação do módulo da 1996.
velocidade; e v 2 é o módulo da aceleração radial ou centrípeta,
aR 
r
aceleração dirigida radialmente para o centro da circunferência e que
provém da variação da direção do vetor velocidade do movimento circular
ver Fig. 3.14.

Assim, você mesmo deve concluir que o módulo da aceleração


instantânea é dado por
a  aT2  a R2 (3.48)

Conclusão
No MCUV, a velocidade é variável em módulo, direção e sentido.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 85
Da variação no módulo resulta a aceleração tangencial, e da variação
na direção e sentido, resulta a aceleração radial ou centrípeta. Essas
variações deverão ser uniformes no tempo, para que o movimento seja
variado, mas uniformemente.

MOVIMENTOS COMBINADOS

Nesta seção, vamos considerar a combinação de diferentes


movimentos do tipo dos que acabamos de estudar, resultando numa
composição de movimentos. O movimento de uma bola de futebol, de
SAIBA MAIS! uma bola de golfe ou de uma bala é exemplo de movimentos compostos,
também chamados de movimento de projéteis. Admitiremos que os efeitos
Sobre movimentos da resistência do ar sobre seus movimentos possam ser desprezados.
combinados em: Nesta classe de movimento podemos incluir os lançamentos de projéteis
http://www.
em geral, tanto lançamentos oblíquos como horizontais.
adorofisica.com.
br/comprove/ O movimento é chamado de composto, porque, por exemplo, se
mecanica/mec_ considerarmos um lançamento do projétil no plano xy, a componente
cine_veto.html vertical do movimento é um MRUV, enquanto que a componente horizontal
Faça os applets:
deste movimento é um MRU. Vejamos os movimentos: lançamento
Lançamento
oblíquo; oblíquo e lançamento horizontal.
movimento de
um projétil e a Lançamento oblíquo
física do jogo de
basquete.
Consideremos uma bola de vôlei (a partícula) sendo lançada
com velocidade inicial v0, obliquamente, seguindo uma trajetória
aproximadamente parabólica, onde os efeitos da atmosfera são
desprezados. Observe que podemos estudar este movimento num plano
que contém a trajetória sendo, portanto, um movimento bidimensional de
uma partícula lançada obliquamente no ar. Veja que este movimento se
realiza com aceleração constante g, dirigida para baixo. Faça o desenho
que representa este movimento.
Embora exista uma componente horizontal da velocidade, não há
componente horizontal da aceleração. Para estudar esse movimento, no
plano xy por exemplo, é mais simples decompor o vetor velocidade inicial
v0, em seus componentes:
v0 x  v0 cos 
 (3.49)
v0 y  v0 sen 
e trabalhar com cada um deles separadamente, já que em cada direção

86 UNIDADE 03
temos um movimento independente, tendo como única variável em comum
o tempo. Deste modo, dividimos o nosso problema de duas dimensões,
em dois problemas separados e mais fáceis de uma dimensão.
No movimento horizontal, como a velocidade permanece inalterada
com o passar do tempo (a = 0), temos um MRU, cujas equações que o
descrevem são:
 dr
v  v 
 dt (3.50)
r  r0  v 0 t
que podem ser aplicadas sem o formalismo vetorial, pois o movimento é
unidimensional (horizontal), reduzindo-se a

v x  v0 x  v  v0 cos  0  const.
 (3.51)
 x  x0  v0 x t  x0  (v0 cos  0 )t
No movimento vertical, a velocidade varia uniformemente, no
tempo, temos um MRUV, cujas equações que o descrevem são:
 v  v 0  at
 (3.52)
r  r0  v 0 t  at
 v.v  v .v  2a.r
 0 0

que podem ser aplicadas sem o formalismo vetorial, pois o movimento é


unidimensional (vertical), reduzindo-se a
v y  v0 y  a y t  (v 0 sen  0 )  ( g )t
 (3.53)
 t2 t2
 y  y 0  v 0y t  a y  y 0  ( v 0 sen  0 )t  (  g )
 2 2
v 2  (v 0 sen  0 ) 2  2 g ( y  y 0 )

Observe que o movimento na vertical se comporta exatamente
como uma bola lançada diretamente para cima. A velocidade vertical
aponta inicialmente para cima, e seu valor decresce continuamente
até chegar a zero, definindo a altura máxima da bola. Daí, então, o seu
sentido é revertido e a velocidade torna-se cada vez maior à medida que
o tempo passa.
O módulo do vetor velocidade resultante da bola, em qualquer
instante, é dado por
v  v x2  v 2y (3.54)

O ângulo θ que o vetor velocidade faz com a horizontal naquele


instante é dado por

FÍSICA FUNDAMENTAL I 87

vy (3.55)
tan g 
vx
pois o vetor velocidade é tangente à trajetória da partícula em todos os
pontos.
Para determinar a equação da trajetória do projétil, no caso da bola,
usamos as duas equações das posições, horizontal e vertical. Eliminando
o tempo (variável comum aos dois movimentos) na equação das posições
horizontais e substituindo na equação das posições verticais, obtemos:

g
y  (tan  0 ) x  x2 (3.56)
2(v0 cos  0 )

Observe que y é função quadrática de x, y = y (x2) , logo a trajetória


é, de fato, parabólica.
Podemos encontrar o alcance horizontal A do projétil, que é
definido como a distância ao longo da horizontal desde “0” ao ponto
onde o projétil retorna ao nível do qual foi lançado, isto é, y = 0. Assim,
encontramos: 2v 02 v2
A  sen  0 cos  0  0 sen 2 0
g g (3.57)
Note da Eq.3.57, que o alcance atingido pela partícula (projétil),
num lançamento oblíquo, depende de dois fatores:
- do módulo da velocidade inicial (v0), pois para um mesmo ângulo
de elevação θ, o valor de A é tanto maior quanto maior for v0;
- do valor do ângulo de elevação θ, pois para um dado valor de v0,
o alcance A aumenta gradualmente quando θ é aumentado, a partir de
θ= 0, atingindo um valor máximo quando θ = 45º, portanto sen 2θ0 = 1 .

Desafio
Demonstre o que afirmamos no segundo item acima, com relação
ao valor máximo do alcance (A) quando o ângulo.

As soluções obtidas representam uma visão idealizada do


movimento de projéteis, pois não consideramos a resistência do ar.

Reflita!
Sobre um lançamento horizontal real que você já presenciou no
seu dia a dia.
Qual a relação entre este e um lançamento oblíquo correspondente?
Analise.

88 UNIDADE 03
Lançamento horizontal

O lançamento horizontal de uma bola ou de uma flecha, por


exemplo, é exatamente quando cada um desses corpos é arremessado
horizontalmente para a direita ou para esquerda. Note que esse
movimento tem as mesmas características da parte do movimento de
lançamento oblíquo a partir de sua altura máxima.

Nesta unidade fizemos um estudo descritivo do movimento


dos corpos, considerando-os como partículas. Para isso, inicialmente,
discutimos as definições básicas e gerais válidas para qualquer movimento.
Na sequência, analisamos movimentos com velocidade constante,
movimentos com aceleração constante e finalmente, combinações deste,
estudando lançamento de projéteis. O estudo dos movimentos partiu do
geral para o particular, isto é, fizemos inicialmente um tratamento em
3D e em seguida, reduziremos para os casos bidimensionais (2D) e
unidimensionais (1D). A intenção aqui será, além de exercitar um pouco
o formalismo vetorial estudado no capitulo anterior, o de nunca esquecer
que as variáveis associadas ao movimento dos corpos são grandezas
vetoriais, isto é, posição, deslocamento, velocidade e aceleração, são
grandezas que para serem totalmente definidas exigem a definição de
seu módulo, direção e sentido.

1)A posição de uma partícula que se move em um plano xy é dada por


r = (2t3 - 5t)i + (6 - 7t4)j, com r em m e t em s. Calcule a) r, b) v e c) a,
quando t = 2s .
2)Uma partícula se move de modo que sua posição em função do tempo,
em unidades SI, é r(t) = i + 4t2j + tk . Escreva expressões em função do
1

tempo para: a) sua velocidade e b) sua aceleração. c) Qual é a forma da


trajetória da partícula?
3)Uma bola rola para fora de uma mesa horizontal, de um 1,3 m de altura
e atinge o chão em um ponto horizontalmente situado a 1,6 m além da

FÍSICA FUNDAMENTAL I 89
borda da mesa. a) Por quanto tempo a bola ficou no ar? b) Qual era o
módulo de sua velocidade no instante que deixou a mesa?
Uma pedra é projetada com velocidade inicial de módulo 37 m/s, inclinada
de 620 acima da horizontal, para um penhasco de altura h. A pedra
atinge o penhasco 5,5 s após o lançamento. Encontre: a) a altura h do
penhasco; b) a velocidade escalar da pedra logo antes do impacto em A,
e c) a altura máxima H alcançada pela pedra acima do chão. d) o alcance
que a pedra atingiria se não tivesse encontrado o penhasco.

Experimente!
I) Cálculo de velocidade média
Determine sua velocidade escalar média nas seguintes situações:
• caminhando;
• correndo, o máximo que puder, durante 10 minutos;
• andando de bicicleta.
II) Execute os applets:
•http://br.geocities.com/saladefisica3/laboratorio/uniforme/uniforme.html
• h t t p : / / b r. g e o c i t i e s . c o m / s a l a d e f i s i c a 3 / l a b o r a t o r i o / l a n ç a m e n t o /
lançamento.html

90 UNIDADE 03
UNIDADE 04

Dinâmica das Partículas


Maria de Nazaré Bandeira dos Santos
92 UNIDADE 04
DINÂMICA DA PARTÍCULA

ARISTÓTELES EXPLICA O MOVIMENTO

Um dos primeiros a estudar, formalmente, o movimento foi


Aristóteles (384-322a.C.), o mais proeminente filósofo-cientista da Grécia
antiga. Aristóteles tentou explicar os movimentos classificando-os em
movimento natural e movimento violento.
Aristóteles afirmava que o movimento natural era aquele
decorrente da natureza do objeto, dependendo de qual combinação dos
quatro elementos, terra, água, ar e fogo, ele fosse feito. Para ele, cada
objeto do universo tem seu lugar natural, determinado por sua “natureza”.
Qualquer objeto que não estivesse em seu lugar natural faria um esforço
para alcançá-lo. Este fato justificava por que um pedaço de barro cai ao
chão. Por ser de ar, uma baforada de fumaça apropriadamente sobe.
Aristóteles afirmava ainda que um objeto mais pesado deveria esforçar-se
mais fortemente. Portanto, argumentava Aristóteles, os objetos deveriam
cair com velocidade (rapidez) proporcional aos seus pesos, isto é, quanto
mais pesado fosse um objeto, mais rápido ele deveria cair.
O movimento natural poderia ser diretamente para cima ou para
baixo, no caso de todas as coisas na Terra, ou poderia ser circular, no
caso dos objetos celestes. Ao contrário do movimento para cima e para
baixo, não possuía começo ou fim, repetindo-se sem desvio.
A outra classe de movimento era o movimento violento, que
segundo Aristóteles, resultava de “forças” que puxavam ou empurravam.
O movimento violento era o movimento imposto. Uma pessoa empurrando
um carro de mão ou sustentando um objeto pesado impunha movimento,
como faz alguém quando atira uma pedra ou vence um cabo-de-guerra. O
vento impõe movimentos aos navios, e assim por diante. O fato essencial
sobre o movimento violento é que ele tinha uma causa externa e era

FÍSICA FUNDAMENTAL I 93
comunicado aos objetos; eles se moviam não por si mesmo nem por sua
“natureza”, mas por causa de puxões e empurrões (forças).
Aristóteles foi um astuto observador da natureza e, portanto,
tratou mais com problemas reais de seu ambiente. Para ele o movimento
sempre envolvia um meio resistivo, tal como o ar ou a água. Ele acreditava
ser impossível a existência de um vácuo. Por isso era fundamental que
sempre fosse necessário empurrar ou puxar um objeto para mantê-lo
em movimento. Por exemplo, sobre um corpo lançado no ar, Aristóteles
imaginou que o ar expulso do caminho do corpo em movimento originava
um efeito de compressão sobre a parte traseira do mesmo (antiperístase
de Aristóteles), a fim de evitar a formação de um vácuo. O corpo era
propelido para frente pelo ar como um sabonete é propelido na banheira
quando se aperta uma de suas extremidades.
Enfim, Aristóteles pensava que todos os movimentos ocorressem
devido à natureza do objeto movido ou devido a empurrões ou puxões
mantidos. Para Aristóteles, a Terra ocupava seu lugar apropriado, e
desde que era inconcebível uma força capaz de mover a Terra, parecia
completamente claro que a Terra realmente não se movesse.
As afirmações de Aristóteles a respeito do movimento constituíram
um início do pensamento científico, e embora ele não as considerasse
como palavras finais sobre o assunto, seus seguidores encararam-nas
como além de qualquer questionamento por quase 2000 anos.

PTOLOMEU E O MOVIMENTO DO SOL

Cláudio Ptolomeu (87–150 d.C.), astrônomo grego, desenvolveu


o Modelo Geocêntrico (centrado na Terra) para o sistema solar no qual,
como sugere o nome, a Terra permanecia estacionária no centro enquanto
os planetas, incluindo o Sol e a Lua, descreveriam órbitas em torno dela.
Modelo esse que predominou até o século XVI. Esta dedução não deve
causar surpresa. Para nós a Terra parece ser um corpo firme. Até mesmo
hoje em dia, na astronomia de navegação, utilizamos um referencial
geocêntrico e, na conversação normal, empregamos expressões tais
como “o nascer do Sol”, que implica um referencial deste tipo.

Reflita!
Sobre os epiciclos de Ptolomeu.
Com base no que você aprendeu sobre movimentos na unidade
anterior, analise estes movimentos.

94 UNIDADE 04
O movimento dos planetas em torno da Terra, segundo Ptolomeu,
não era apenas em órbitas circulares simples, era um movimento mais
complicado. Ptolomeu teve que utilizar o conceito de epiciclos, em que
um planeta se move num círculo cujo centro se move em torno de outro
círculo centrado na Terra. Ele precisou também recorrer a muitas outras
construções geométricas, cada uma das quais preservava a santidade do
círculo como uma característica fundamental dos movimentos planetários.

COPÉRNICO E O MOVIMENTO DA TERRA

No século XVI, Nicolau Copérnico (1473-1543), astrônomo


polonês, propôs um Modelo Heliocêntrico (centrado no Sol), no qual a
Terra, assim como os outros planetas, se movia em torno do Sol.
Embora o modelo de Copérnico parecesse ser mais simples que
o de Ptolomeu, ele não foi aceito imediatamente, pois era contrário às
convicções religiosas da época.
Como as opiniões de Aristóteles haviam se tornado uma parte
significativa da doutrina da Igreja, negá-las era questionar a própria
Igreja. Para muitos de seus líderes, a ideia de uma Terra móvel atentava
não apenas contra suas autoridades, mas contra os próprios alicerces
da fé e da civilização. O livro no qual Copérnico publicou sua teoria
causou grandes polêmicas e terminou sendo colocado na lista dos livros
proibidos pela Igreja.

GALILEU E A TORRE INCLINADA

Foi o matemático italiano Galileu (1564-1642), o mais importante


cientista do século XVI / XVII, quem deu prestígio às ideias de Copérnico
sobre o movimento da Terra. Embora não tenha sido o primeiro a apontar
dificuldades nas concepções de Aristóteles, Galileu foi o primeiro a
fornecer uma refutação definitiva delas através da observação e dos
experimentos. Introduziu o método experimental na física, ele acreditava
que qualquer afirmativa referente ao comportamento da natureza somente
deveria ser aceita após sua comprovação por meio de experiências
cuidadosas.
Conta-se que Galileu deixou cair de uma torre inclinada em Pisa,
na Itália, vários objetos com pesos diferentes e comparou suas quedas.
Ao contrário da afirmativa de Aristóteles, Galileu comprovou que uma
pedra duas vezes mais pesada que outra não caía, realmente, duas

FÍSICA FUNDAMENTAL I 95
vezes mais rápido. Exceto pelo pequeno efeito da resistência do ar ele
descobriu que objetos de vários pesos, abandonados ao mesmo tempo,
caíam juntos e atingiam o chão ao mesmo tempo.
Essas observações levaram Galileu a formular o princípio físico
que descreve um corpo em queda livre da seguinte forma:

Quando dois corpos quaisquer são abandonados de uma mesma altura


e caem no vácuo ou no ar com resistência desprezível (queda livre), o tempo de
queda é igual para ambos, mesmo que seus pesos sejam diferentes.

Realizando outra série de experimentos com corpos em movimento


Galileu concluiu, por exemplo, que sobre um livro que é empurrado sobre
uma mesa na horizontal, atua também uma força de atrito aplicada pela
superfície da mesa, que tende a contrariar o seu movimento. Assim,
concluiu Galileu, se não houvesse atrito nas superfícies em contato livro-
mesa, o livro não pararia quando cessasse o empurrão, ao contrário do
que pensava Aristóteles.
Essas conclusões levaram Galileu a enunciar o Princípio da
Inércia, assim sintetizado:

Se um corpo estiver em repouso, é necessária a ação de


uma força sobre ele para colocá-lo em movimento. Uma
vez iniciado o movimento, cessando a ação das forças,
o corpo continuará a se mover indefinidamente em linha
reta, com velocidade constante.

Como se vê o problema dos movimentos e suas causas foi o tema


central da Filosofia Natural, hoje chamada Física, por vários séculos.

NEWTON E AS LEIS DO MOVIMENTO DOS CORPOS

No ano da morte de Galileu, em 1642, nascia na Inglaterra o


famoso físico e matemático Isaac Newton. Deve-se a ele o início de uma
verdadeira revolução na ciência física, ao formular as três leis básicas
da Mecânica, isto é, os princípios fundamentais que são usados até hoje
para analisar os movimentos. Newton desenvolveu de forma completa
as ideias de Galileu e de outros que o precederam, formalizando e
arquitetando o que hoje chamamos de Mecânica Clássica.
No século XX, novas teorias, a Relatividade Especial e Geral e a
Mecânica Quântica indicaram certos contextos, naquela época, distantes

96 UNIDADE 04
da experiência diária, mas que hoje já fazem parte da tecnologia usual,
nos quais a Mecânica Clássica falha em dar predições concordantes
com os experimentos. Problemas que a Mecânica Clássica não fornece
respostas corretas são aqueles relacionados a partículas de altas
velocidades (frações apreciáveis da velocidade da luz), que já estão no
domínio da Teoria da Relatividade, e problemas na escala da estrutura
atômica, como o movimento dos elétrons nos átomos, spins eletrônicos
etc, que já estão no domínio da Mecânica Quântica. Assim, a Mecânica
Clássica é vista agora como um caso especial destas duas outras teorias
mais abrangentes. No entanto, apenas com a Mecânica Clássica é
possível construir grandes arranha-céus e estudar as propriedades de
seus materiais de construção; construir aviões; enviar sondas espaciais
em complexas missões aos cometas, planetas etc.

Reflita!
Para cada um dos questionamentos feitos ao lado, tente distinguir:
o corpo em movimento, sua vizinhança e a relação entre estes.

Para iniciar nosso estudo de Dinâmica, vamos refletir sobre as


seguintes situações físicas:
- Por que uma fruta, quando madura, cai da árvore?
- Por que uma bola de bilhar rebate na outra?
- Por que um esquiador desliza montanha abaixo?
- Por que uma bola rola?
- Por que um livro fica apoiado sobre uma mesa?
- Por que a lua orbita em torno da Terra?
- Como é focalizado um feixe de elétrons num tubo de televisão?

Devemos focalizar a atenção no corpo em movimento e na sua


vizinhança. O movimento de um corpo é determinado pela natureza e
disposição de outros corpos, que constituem sua vizinhança. O problema
central da Mecânica Clássica de uma partícula pode ser resumido da
seguinte forma:
a) É dada uma partícula, da qual conhecemos as características
(massa, volume, carga elétrica etc.);
b) Colocamos essa partícula em uma posição inicial conhecida, e
com uma certa velocidade inicial, em uma vizinhança da qual temos uma
descrição completa;
c) Qual é o movimento subsequente da partícula?

FÍSICA FUNDAMENTAL I 97
Este problema foi resolvido, ao menos para uma grande variedade
OBSERVE!
de vizinhanças, por Isaac Newton, quando ele estabeleceu as Leis de
As leis do Movimento e formulou a Lei de Gravitação Universal. O procedimento
movimento proposto para se resolver problemas dessa natureza foi o seguinte.
e as leis de d) Introduz-se o conceito de força F (considerada, por enquanto,
força, tomadas
como um puxão ou um empurrão) definida em termos da aceleração a de
em conjunto,
constituem as leis um corpo padrão particular.
da Mecânica. e) Desenvolve-se um procedimento para atribuir massa m à
partícula ou ao corpo em movimento, de modo que possamos compreender
o fato de diferentes corpos experimentarem acelerações diferentes na
mesma vizinhança.
SAIBA MAIS!
f) Finalmente tenta-se encontrar meios de calcular as forças que
Sobre as unidades atuam sobre os corpos a partir de suas propriedades e de sua vizinhança.
de força no SI e Portanto, procuram-se as leis de força. A força é basicamente um meio
no sistema CGS. de relacionar a vizinhança ao movimento de um corpo.
Consulte o livro
FISICA. Vol. 1,
Resnick, Halliday Trataremos os corpos físicos como partículas, isto é, como corpos
e Krane, editora cujas estruturas ou movimentos internos podem ser ignorados e cujas
LTC, Rio de partes se movem todas exatamente do mesmo modo. Lembra-se do
Janeiro, 1996. capítulo anterior? Com esta hipótese não importa onde a vizinhança
atue sobre o corpo, a principal preocupação é com o “efeito final” da
vizinhança.

Força e massa

A ideia de força é bastante relacionada com a experiência diária


de qualquer pessoa. Sempre que puxamos ou empurramos um objeto,
dizemos que estamos aplicando uma força sobre ele, isto é, a vizinhança
do corpo está atuando sobre o mesmo. Você já deve ter percebido que,
desde o início desta unidade, estamos sempre relacionando força sobre
um dado corpo com o que existe na sua vizinhança.
Há forças que se manifestam somente com o contato do corpo
com a vizinhança, são as chamadas forças de contato, tais como a força
de uma mesa sobre um bloco que repousa sobre ela, a força de atrito
entre duas superfícies em contato que se movimentam entre si. Outras
forças se manifestam pela ação a distância da vizinhança, são as forças
de campo, por exemplo a força de atração gravitacional entre a Terra
e objetos próximos à sua superfície; a força magnética entre um ímã e
pregos a distância; a força elétrica entre um pente eletrizado e os cabelos

98 UNIDADE 04
de uma pessoa, sem necessariamente estar em contato.
Veremos, na segunda Lei de Newton, uma definição mais precisa
de força sobre um dado corpo, onde a força aplicada sobre um corpo
será dada em função da aceleração que a massa desse corpo adquire.

Reflita!
O que é a massa de um corpo? Qual a diferença entre massa e
peso? Em que circunstâncias a massa de um corpo pode variar?

Então, precisamos também entender o que é a massa de um


corpo. É comum encontrarmos, principalmente nos livros de Química, a
definição de massa de um corpo da seguinte forma: “massa de um corpo
é a quantidade de matéria que ele possui”. Esta é uma primeira ideia da
noção de massa, no entanto, fisicamente necessitamos de uma definição
mais precisa para essa grandeza.
A observação de movimentos a nossa volta, tais como os que
já citamos, bem como muitos outros que nos deparamos no dia a dia,
tem nos ensinado que a vizinhança de um determinado corpo de massa
M contribui para parar, mudar ou mantê-lo em movimento. Ou seja, um
dado corpo sofre a ação da vizinhança, esta interação entre o corpo e a
vizinhança é o que chamamos de força, que por sua vez pode acelerar
o corpo que possui uma dada massa. A massa é, então, identificada,
como a propriedade de um corpo que determina a resistência que
o mesmo oferece ao ser acelerado por uma força, propriedade essa,
frequentemente, denominada inércia. Na segunda Lei de Newton, ficará
mais clara a definição de massa do ponto de vista da Física.

A Primeira Lei de Newton – Lei da Inércia

Se você empurrar um livro sobre uma mesa, perceberá que ele só


se movimenta enquanto você exercer uma força sobre ele. Experimente!
Se você deixar de empurrá-lo, ele vai parar quase instantaneamente.
Percebeu? Nossas observações da vida diária parecem indicar que
um corpo só está em movimento enquanto uma força atua sobre ele.
Observações como esta levaram o grande filósofo grego Aristóteles,
como já vimos, a estabelecer a seguinte conclusão: “Um corpo só pode
permanecer em movimento se existir uma força atuando sobre ele.”
Sabemos que desde o século XVII, Galileu já esclareceu este
problema, com a formulação do Princípio da Inércia. Várias experiências

FÍSICA FUNDAMENTAL I 99
de nosso cotidiano comprovam as afirmações de Galileu. Por exemplo,
você já deve ter presenciado uma pessoa em repouso sobre um cavalo,
quando este repentinamente entra em movimento. A pessoa tende
a permanecer onde estava; por outro lado, um garoto em movimento
junto a um esqueite é lançado para frente quando o esqueite pára
repentinamente.
Esses exemplos, entre muitos outros que você já deve ter
observado, mostram que os corpos têm a tendência de permanecer em
seu estado de repouso, se já estavam em repouso, ou de permanecer em
seu estado de movimento, se já estavam em movimento. Esta propriedade
dos corpos de se comportarem dessa maneira, Galileu denominou de
inércia. Então, por inércia, um corpo em repouso tende a permanecer em
repouso; e por inércia, um corpo em movimento tende a permanecer em
movimento.
Reflita!
É possível você aplicar uma força sobre um livro que está sobre
uma mesa e o mesmo se movimentar em MRU? Explique.

Vários anos mais tarde depois de Galileu, Isaac Newton, através


de observações experimentais, fazendo um corpo deslizar sobre
superfícies cada vez mais lisas, concluiu que não precisamos de força
alguma para manter o corpo movendo-se com velocidade constante. Isto
levou à primeira das três leis de Newton para o movimento.

Na ausência de forças, um corpo em repouso continua


em repouso, e um corpo em movimento continua em
movimento em linha reta e com velocidade constante.

Então, tanto Galileu como Newton perceberam que um corpo pode


estar em movimento sem que nenhuma força atue sobre ele. Lembre-se
que, quando isto ocorre, o movimento é, de fato, retilíneo e uniforme.
A primeira Lei de Newton, na verdade, é uma afirmação a respeito
dos sistemas de referência, pois define o tipo de referencial nos quais as
Leis da Mecânica Newtoniana são verdadeiras. Nesse sentido, a primeira
Lei de Newton pode assim ser expressa:

Sendo nula a resultante das forças que agem sobre um


corpo, é possível encontrar um conjunto de sistemas de
referência, ou família de referenciais, em que o corpo
não possui aceleração.

100 UNIDADE 04
O fato de os corpos permanecerem em repouso (equilíbrio estático)
ou em MRU (equilíbrio dinâmico), na ausência de forças aplicadas,
é frequentemente descrito atribuindo à matéria uma propriedade
denominada inércia. Assim, a primeira Lei de Newton é denominada
Lei da Inércia, e os referenciais aos quais ela se aplica são, por isso,
chamados de referenciais inerciais.
Note que, na primeira lei, não existe diferença entre um corpo em
repouso e outro que se move com velocidade constante. Tal fato torna-se
claro quando um corpo, em repouso num dado referencial inercial, é visto
de um segundo referencial inercial, isto é, de um referencial que se move
com velocidade constante em relação ao primeiro. Um observador no
primeiro referencial supõe que o corpo está em repouso, um observador
no segundo referencial julga que o mesmo corpo está em movimento
com velocidade constante. O mais importante é que ambos observadores
percebem que o corpo não possui aceleração, isto, é não modifica sua
velocidade, e ambos concluem que de acordo com a primeira lei de
Newton, não há forças atuando no corpo.
Observe ainda que, se você empurra um livro sobre uma mesa
e ele continua em repouso, então a força que você está aplicando é
exatamente igual em módulo e direção, porém de sentido contrário, a
uma outra força que faz o papel da resistência ao movimento. Então,
neste caso, existem forças aplicadas ao corpo, no entanto, a resultante
delas é nula. Assim, a ausência de forças é equivalente à presença de
forças cuja resultante seja nula.

Reflita!
A força altera a velocidade de um corpo?

Se existe interação resultante, entre um corpo e sua vizinhança,


o efeito pode ser o de alterar seu estado de repouso ou seu estado de
movimento. Para explicar esta situação precisamos compreender a
segunda lei de Newton.

A Segunda Lei de Newton – Princípio Fundamental da Dinâmica

Como você deve ter observado, na linguagem cotidiana, sempre


associamos força com empurrar ou puxar. Em Física, necessitamos
de uma definição mais precisa. Newton teve a preocupação de refinar
o conceito de força, definindo-a, operacionalmente, em termos da

FÍSICA FUNDAMENTAL I 101


aceleração que um dado corpo padrão adquire, quando colocado em
uma vizinhança adequada.
Vamos fazer o seguinte exercício mental: considere um corpo
apoiado sobre um plano liso, sem atrito. Se num dado instante você
aplica uma força F horizontal, sobre o mesmo, tirando-o do estado de
repouso e em seguida cessando a ação dessa força, você observará que
o corpo ficará em MRU. Lembre-se que já vimos na 1ª. Lei de Newton
que se nenhuma força atua sobre um corpo, ou ele está em repouso
(equilíbrio estático), ou em movimento retilíneo e uniforme (equilíbrio
dinâmico). Uma força externa é necessária para iniciar o movimento do
corpo, mas nenhuma força externa é necessária para manter o corpo
em movimento com velocidade constante. Por outro lado, se você aplica
continuamente a mesma força F sobre o corpo, sem cessar, o mesmo
terá sua velocidade alterada a cada instante, resultando, portanto, numa
variação de velocidade no tempo caracterizando uma aceleração (a).
Foi esta observação realizada por Newton, em suas experiências,
quando observou que qualquer corpo ou objeto somente será acelerado,
se for submetido à ação de um empurrão ou de um puxão, isto é, de uma
força. Pode ser um empurrão súbito, como o de um chute de uma bola de
futebol, ou a atração contínua da gravidade. A aceleração (a) é causada
por uma força (F).
Com frequência mais de uma única força atua sobre um objeto.
Lembre-se que a combinação de forças que atuam sobre um objeto é
a força resultante e a aceleração adquirida por este objeto depende da
força resultante aplicada. Assim, fazendo variar o módulo da força F
aplicada sobre o mesmo objeto, o módulo da aceleração adquirida pelo
mesmo também variará, de maneira mais detalhada, verifica-se que:

- duplicando o módulo da força F, o valor da aceleração a também


duplica;
- triplicando o módulo de F, o valor de a também triplica, e assim
sucessivamente.

Assim, Newton concluiu:

“O valor da força F que atua num corpo é diretamente


proporcional à aceleração a que ela produz”.

Ou operacionalmente,

102 UNIDADE 04
F∝a (4.1)
Outra questão importante observada por Newton foi: que efeito
terá a mesma força sobre diferentes objetos? Após inúmeras observações
experimentais, Newton concluiu que, para uma dada força aplicada num
corpo, quanto maior for a massa do mesmo, menor será aceleração
adquirida por este corpo.
Uma outra forma de enunciar esta conclusão é: a massa de um
corpo é inversamente proporcional à aceleração que ele adquire pela
aplicação de uma determinada força. A massa de um corpo, como já
dissemos, pode ser assim considerada como uma medida quantitativa
da resistência de um corpo à aceleração sob a ação de uma determinada
força.
Esta observação nos permite comparar as massas de diferentes
corpos, simplesmente comparando os módulos das acelerações medidas,
quando aplicamos a mesma força (F) a cada um dos corpos. Pois
F = m 1a 1
(4.2)
F = m 2a 2
como a força F é a mesma aplicada aos dois corpos, podemos fazer o
quociente das equações 4.5 e obter a relação entre as massas
m1 a2
= (4.3)
m2 a1
ou seja, a razão das massas dos dois corpos é igual ao inverso da razão
dos módulos das acelerações destes corpos devido àquela força.
Podemos agora resumir todas as definições e experimentos
descritos anteriormente em um única equação, a equação fundamental
da Mecânica Clássica, ou Princípio Fundamental da Dinâmica, que
expressa a segunda lei de Newton

σ F = ma (4.4)
onde ∑ F é a soma vetorial de todas as forças ou força resultante, que
atua sobre o corpo, m é a massa do corpo e a é a aceleração adquirida
pelo corpo. Veja que a aceleração tem a mesma direção e sentido da
força.
Note que a segunda lei de Newton é consistente com a primeira,
pois um caso especial da segunda lei é

σF=0 (4.5)

FÍSICA FUNDAMENTAL I 103


Em outras palavras, se a força resultante sobre um corpo for
nula, a aceleração do corpo também será nula e o corpo se moverá com
velocidade constante, como estabelece a primeira lei.

Reflita!
É possível existir uma única força isolada atuando sobre um dado
corpo?

Ao analisar situações mediante a segunda lei de Newton, é muito


útil desenhar um diagrama que mostre o corpo em questão como uma
partícula e todas as forças que atuam sobre ela. Tal diagrama é chamado
diagrama de corpo livre e é um primeiro passo essencial, tanto na análise
de um problema, como na visualização da situação física.

A Terceira Lei de Newton – Lei da Ação e Reação

Já deu para perceber, com o estudo que fizemos até o momento


sobre as causas do movimento de um corpo, que as forças que atuam
no mesmo originam-se em outros corpos que constituem sua vizinhança.
Uma força é apenas um aspecto de uma interação mútua entre dois
corpos. Verifica-se experimentalmente que, quando um corpo exerce
uma força sobre outro, o segundo corpo sempre exerce uma força sobre
o primeiro. Além disso, verifica-se que essas forças têm mesmo módulo
e mesma direção, mas sentidos opostos.
Se uma das duas forças envolvidas na interação entre dois corpos
for denominada “ação”, a outra será chamada “reação”. Qualquer delas,
indistintamente, pode ser considerada a “ação” ou a “reação”. Não existe
relação de causa e efeito, verifica-se apenas uma interação simultânea
mútua.
Esta propriedade das forças foi enunciada originalmente por
Newton em sua terceira lei do movimento:

A cada ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja,


as ações mútuas de dois corpos, um sobre o outro, são
sempre iguais e dirigidas para partes contrárias.

Em outras palavras, se um corpo 1 exerce uma força sobre o corpo


2, este exercerá sobre o 1 uma força igual, mas de sentido contrário;
ação e reação têm a direção da reta que une o centro dos dois corpos.
Note que as forças de ação e de reação, que sempre ocorrem aos pares,

104 UNIDADE 04
atuam sempre em corpos diferentes.
Veja nas situações reais bem conhecidas por todo mundo,
descritas abaixo, explicadas pela da 3a. Lei de Newton:

• Nadar ou remar!

Uma pessoa, ao nadar ou remar, empurra a água para trás (ação),


que por sua vez empurra o nadador ou o barco para frente (reação).
Observe que as forças de ação e reação atuam em corpos diferentes.
Quanto mais água é jogada para trás, mas rapidamente o nadador ou o
barco avança.

• Como uma pessoa pode se deslocar no gelo usando patins, a


partir do repouso?

Uma saída é, por exemplo, a pessoa lançar uma pedra na direção


contrária à que deseja se movimentar. Quanto maior for a força aplicada
pela pessoa à pedra (ação), maior será a velocidade de recuo desta
pessoa devido a reação da pedra sobre a mesma (reação), no sentido
contrário do movimento da pedra, porém na mesma direção.

• Canhão desfreado!

Um canhão desfreado que atira balas para um lado passa a se


movimentar para o lado oposto com velocidade bem menor que a da
bala, por causa de suas diferentes massas.

• O foguete subiu?

No lançamento de um foguete seu movimento também é obtido por


causa das forças de ação e reação. Os gases resultantes da combustão
são impulsionados para fora (explosão) da câmara do foguete (ação),
por consequência, o foguete é impulsionado na mesma direção, porém,
em sentido oposto (reação). Veja que as forças de ação e reação têm
mesmos módulos, mas isso não significa que os gases e o foguete sofram
o mesmo efeito (aceleração). Isto se deve ao fato de suas massas serem
diferentes.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 105


• Bateu, levou!

Quando um carro colide frontalmente com um muro, em geral


ele recua um pouco. Você sabe explicar por quê? Que força atua nesta
situação? Por que o carro pode ficar totalmente destruído e o muro não?

Desafio
Em cada um dos exemplos acima, da 3a. Lei de Newton, faça o
diagrama de corpo livre identificando cada uma das forças presentes em
cada situação.

Como você pode observar, inúmeros sistemas de locomoção,


com que nos deslocamos sobre a Terra, na água, no ar e no espaço, se
fundamentam na terceira lei de Newton. Quando caminhamos empurramos
o chão para trás e dele recebemos um empurrão para frente, que é na
verdade a força de atrito, entre o chão e o solado de nossos calçados, que
faz com que nos movamos. Um automóvel para se movimentar empurra
o solo para trás com as rodas, para ser empurrado para frente. Andando
de barco pressionamos a água com o remo, do modo a receber uma força
SAIBA MAIS que nos mova para frente. Os foguetes expelem gás a alta velocidade,
de modo a serem empurrados para frente. Enfim, para conseguirmos
Sobre força de entender o mínimo do que ocorre a nossa volta, precisamos conhecer as
atrito. leis Newton.
Consulte o livro
FISICA. Vol. 1,
Resnick, Halliday Aplicações das Leis de Newton
e Krane, editora
LTC, Rio de Vimos, no texto acima, que as forças que atuam sobre uma partícula
Janeiro, 1996. (objeto simplificado) podem ser definidas a partir das propriedades da
partícula e de sua vizinhança. A força pode ser elástica, pode ser de
atrito, pode ser de tração, pode ser de natureza elétrica, de natureza
magnética ou gravitacional etc., e cada uma dessas manifestações de
interação possui suas leis de força específicas.
Vamos discutir alguns casos de situações-problema à luz das leis
de Newton que acabamos de expor.
- Considere que você queira puxar horizontalmente, por meio de
uma corda muito leve e inextensível, uma mala (na forma de um bloco
paralelepípedo) cheia de roupas, cuja massa total M = 40 kg, sobre o
piso da sala. É claro que o piso da sala oferece um atrito dificultando o
deslocamento da mala. Faça um diagrama de corpo livre incluindo todas

106 UNIDADE 04
as forças presentes nesse sistema físico.
a) Considerando que você aplicou uma força que não consegue
deslocar a mala. Qual a força resultante no sistema físico? Discuta sobre
a força de atrito que atuou sobre a mala.
b) Considerando que você aplicou uma força que desloca a mala
com velocidade constante, qual a força resultante no sistema? Discuta
sobre a força de atrito que atuou sobre a mala.
c) Considerando que você aplicou uma força que desloca a mala
com uma aceleração constante, qual a força resultante no sistema?
Discuta sobre a força de atrito que atuou sobre a mala.
d) Encontre, através de pesquisa no livro texto ou na internet, um
coeficiente de atrito mais apropriado para o piso. Você decide se o seu
piso é de cimento liso ou áspero, ou de cerâmica etc.
e) Com esses dados encontre a força que você aplicou em cada
caso.
- Considere que você deseja em um automóvel (cujo peso é W),
fazer uma curva de uma estrada horizontal de raio de curvatura R. Que
velocidade máxima você pode fornecer ao carro para que seja possível
você fazer a curva sem derrapar, sendo o coeficiente de atrito estático da
estrada dado por μest? Considere o carro como uma partícula de massa
M. Não se pode confiar completamente que esta força de atrito seja
sempre tão grande o suficiente, pois há sempre os desgastes com o
tempo. Portanto, é mais seguro quando a estrada tem o leito inclinado
lateralmente. Agora encontre a inclinação necessária para você fazer a
mesma curva com uma velocidade v’. Esta velocidade v’ é menor, igual
ou maior que v? Faça uma comparação entre as duas situações. Analise
os casos limites v = 0 e v → ∞; e para v grande e R pequeno?

Esta unidade tem como objetivo analisar, interpretar e aplicar as


Leis de Newton a situações físicas do cotidiano. As Leis de Newton nos
permitem estudar os movimentos levando em consideração suas causas,
isto é, as forças; que por sua vez produzem velocidade, aceleração,
realização de trabalho e tranformações de energia. Apresentamos,
portanto, o Princípio Fundamental da Dinâmica, expresso pela segunda
Lei de Newton. Inicialmente, fizemos uma breve revisão das ideias de
movimento desenvolvidas pelos filósofos e cientistas que arquitetaram

FÍSICA FUNDAMENTAL I 107


os princípios da Mecânica Clássica, desde Aristóteles passando por
Ptolomeu, Copérnico, Galileu e culminando com a discussão e aplicação
das leis Newton, para várias situações de movimento de nosso dia a dia.
Enfim, nesta unidade expomos o tratamento da dinâmica, indipensável
para uma base de conhecimentos, necessária à continuação dos estudos
da Física nos outros ramos da Física Clássica e da Física Moderna.

1. Analise e explique a relação entre vizinhança-força-corpo-aceleração;


o que esse fato tem a ver com as leis de Newton?
2. Distinga peso e massa. Explique em que situações um corpo se
encontra em estado de imponderabilidade.
3. Que procedimentos você realizaria para calibrar um dinamômetro de
mola?
4. Um passageiro de massa 72 kg encontra-se de pé em uma balança no
interior de um elevador. Desejamos determinar a leitura da balança para
várias acelerações do acelerador.
• Quanto marcará a balança se o elevador estiver em repouso ou em
movimento retilíneo e uniforme?
• Quanto marcará a balança se o elevador tiver uma aceleração dirigida
para cima a 3,2m/s2?
• Quanto marcará a balança se o elevador tiver uma aceleração para
baixo igual a 3,2m/s2?
• Quanto marcaria a balança se o cabo se rompesse, fazendo com que o
elevador caísse em queda livre?
5. Um bloco é largado do repouso no alto de um plano inclinado sem
atrito, de 16m de comprimento. Ele alcança a base do plano 4,2s mais
tarde. Um segundo bloco é projetado para cima do plano a partir da base,
no mesmo instante em que o primeiro bloco é largado, de tal forma que
ambos chegam juntos à base do plano. A) Ache a aceleração de cada
bloco no plano inclinado. B)Qual é a velocidade inicial do segundo bloco?
C) A que distância ele sobe no plano? D) Que ângulo o plano faz com a
horizontal?
6. Qual é a aceleração máxima alcançada por um corredor, se o coeficiente
de atrito estático entre os seus sapatos e a estrada for 0.97?

108 UNIDADE 04
Experimente!

I - Execute os applets
<http://br.geocities.com/saladefisica3/laboratorio/foguetes/foguetes.
html>
<http://br.geocities.com/saladefisica3/laboratorio/newton2/ newton2.
html>
<http://br.geocities.com/saladefisica3/laboratorio/inclinado/inclinado.
html>
<http://br.geocities.com/saladefisica3/laboratorio/polias/polias.html>

FÍSICA FUNDAMENTAL I 109


110 UNIDADE 05
UNIDADE 05

Trabalho e Energia
Mônica Maria Machado Ribeiro Nunes Castro
112 UNIDADE 05
TRABALHO E ENERGIA

OS CONCEITOS DE TRABALHO E ENERGIA

Nas unidades anteriores você aprendeu a resolver problemas


sobre o movimento de corpos considerando apenas forças constantes.
Existem, no entanto, várias situações presentes em nosso dia a dia
que envolvem forças variáveis. Para estas é mais adequado utilizar um
método proporcionado pelas relações entre as grandezas trabalho e
energia. Mas, o que são estas grandezas?
A palavra “trabalho” é bem frequente em nosso vocabulário, não
é? Ela é usada, em geral, para denominar atividades que demandam
esforço físico e/ou mental. Da mesma forma, a palavra “energia” é
largamente empregada em nosso cotidiano, quase sempre ligada à
ideia de que para fazer algo é preciso ter energia. Talvez por isso seja
bem comum a conceituação de uma em função da outra. Simplificando,
dizemos que “energia é a capacidade de realizar trabalho” e que “trabalho
é a capacidade de produzir energia”.
Em Física, essas grandezas têm conceitos mais precisos que
se inter-relacionam e proporcionam um método poderoso que pode
ser aplicado para estudar uma grande variedade de fenômenos físicos,
fazendo uso do Princípio da Conservação da Energia. É o que vamos
estudar agora.

TRABALHO DE UMA FORÇA CONSTANTE

Para introdução deste novo método, iniciamos definindo o trabalho


realizado por uma força constante.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 113


Consideremos um corpo (uma partícula, para que possamos
ignorar qualquer rotação ou mudança de forma) que se desloca em linha
reta por uma distância s, sob a ação de uma força F constante que tem
mesma direção e sentido do deslocamento sofrido pelo corpo (ver Figura
5.1). Nestas condições, definimos o trabalho W realizado pela força
constante F sobre o corpo como sendo o produto do módulo desta força
pelo módulo do deslocamento, como expresso pela equação

Figura 5.1
W = F s (5.1)
Desta equação você pode observar que quanto maior a força ou o
deslocamento, maior o trabalho realizado sobre o corpo.
Observando a Equação 5.1 podemos ver que a unidade de
trabalho é dada pelo produto de uma unidade de força por uma unidade de
deslocamento. Particularmente, no Sistema Internacional de Unidades a
unidade para a grandeza trabalho é o joule (J), equivalente a um newton.
metro (N.m), ou seja:
1 joule = (1 newton) (1 metro) ou 1J = 1N.m

Consideremos agora o corpo sofrendo um deslocamento linear s


sujeito a uma força constante F que não está na mesma direção e sentido
que o deslocamento do corpo, ou seja, F e s têm direções diferentes e
constantes durante o movimento (ver Figura 5.2). Neste caso, definimos
o trabalho W como o produto da componente de F na direção do
deslocamento pelo módulo do deslocamento s, W = (F cos θ) s, ou ainda

Figura 5.2
114 UNIDADE 05
Atenção!
O trabalho é uma grandeza escalar, embora oriunda de um produto
de grandezas vetoriais.

W = F s cos θ (5.2)
Você pode notar que a Equação 5.2 tem a forma do produto
escalar entre os vetores F e s, de modo que podemos escrever esta
equação como
W = F • s (5.3)
Convém ressaltar aqui que o trabalho pode ser positivo, negativo
ou nulo. Para compreender isto basta estudar o ângulo formado entre os
vetores força e deslocamento, o que corresponde a estudar o sinal do
cos θ na Equação 5.2 (F e s são positivos por definição). Assim,
• o trabalho será positivo se o ângulo θ entre os vetores F e s
estiver entre 0º e 90º pois, nesse caso, o cos θ será positivo;
• o trabalho será negativo se o ângulo θ entre os vetores F e s
estiver entre 90º e 180º pois, nesse caso, o cos θ será negativo;
• o trabalho será zero quando a força F for perpendicular ao
deslocamento s (θ = 90º) pois, nesse caso, cos θ = 0.
Exemplo 5.1 – Um estudante desloca uma caixa de livros que
tem massa de 10 kg do piso de seu quarto para o topo de uma estante de
2 m de altura. Considerando a aceleração da gravidade constante igual
a 9,8 m/s2, calcule o trabalho feito pela força peso neste deslocamento.
A força peso P tem direção vertical, sentido para baixo e módulo
dado por
P = mg = 10 . 9,8 = 98 N
O trabalho realizado por ela sobre a caixa de livros é dado então
por
W = P h cos 180º
pois o deslocamento da caixa é vertical e para cima, fazendo um
ângulo de 180º com a força peso. Logo,
W = 98 . 2 (- 1) = - 196 J
É interessante notar que se a força aplicada não tem componente
na direção do deslocamento o trabalho é zero. Por exemplo: é zero o
trabalho da força normal sobre um corpo que desliza ao longo de uma
superfície; é zero o trabalho da força aplicada para sustentar uma criança
no colo durante um passeio e, é zero o trabalho da força aplicada para
segurar a mochila de livros e levá-la à escola.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 115


TRABALHO RESULTANTE

Quando sobre um corpo que se desloca atuam diversas forças,


cada uma delas sendo constante, podemos calcular o trabalho resultante
sobre o corpo de dois modos distintos, a saber:
• calculando, primeiramente, o trabalho de cada força
individualmente e depois somando algebricamente todos os trabalhos;
• achando, primeiramente, a força resultante (no caso, uma soma
vetorial) e depois calculando o trabalho desta força.
Usar um ou outro modo fornece o mesmo resultado.

Exemplo 5.2 – Um garoto puxa uma caixa de brinquedos para


o quintal de sua casa, com uma força constante de 60 N que faz com
a horizontal um ângulo de 30º, através de um corredor lateral de piso
horizontal, deslocando-a de 8 m (veja a figura abaixo). A caixa de
brinquedos pesa 150 N e está sujeita a uma força de atrito de 36 N que
se opõe ao movimento. Calcule o trabalho que cada força realiza sobre a
caixa de brinquedos no deslocamento de 8 m e o trabalho total realizado
sobre a caixa.

Vejamos o diagrama de corpo livre para a caixa de brinquedos.

116 UNIDADE 05
Começando pelo mais fácil, temos a observar que, como o Que tal conferir o
deslocamento é horizontal que dissemos sobre
um outro método
- o trabalho da força peso é zero, pois sua direção é perpendicular
para calcular o
ao deslocamento. Ou seja: WP = P s cos 90º = 0; e trabalho resultante?
- o trabalho da força normal, pelo mesmo motivo, também é zero.
Ou seja: WN = N s cos 90º = 0.
Calculemos agora os trabalhos que faltam. O trabalho da força F
feita pelo garoto é dado por:
WF = F s cos 30º = 60. 8. ( 3 /2) = 408 J
e o trabalho da força de atrito por:
Wf = f s cos 180º = 36. 8. (- 1) = - 288 J
O trabalho total (ou resultante) sobre a caixa de brinquedos é
dado por:
WTOTAL = WP + WN + WF + Wf = 0 + 0 + 408 + (- 288) = 120 J

TRABALHO DE UMA FORÇA VARIÁVEL

Consideremos agora um corpo (novamente uma partícula) em


movimento retilíneo se deslocando sob a ação de uma força variável
com respeito à posição, tomando aqui, para simplificar, uma variação
apenas no módulo dessa força. O deslocamento se dá sobre o eixo Ox
da posição inicial xinicial = xi até xfinal = xf (ver Figura 5.3). Como a força varia
em módulo, não podemos usar a relação W = (F cos θ) s para calcular o
trabalho realizado. O que fazemos é imaginar que o corpo descreve uma
infinidade de deslocamentos muito pequenos (∆x) que somados nos dão
o deslocamento total s (= xfinal – xinicial).

Figura 5.3

Para obtermos o trabalho realizado em todo esse deslocamento


pela força variável Fx calculamos, primeiramente, o trabalho realizado
em cada um dos pequenos deslocamentos ∆x1, ∆x2, etc. Fazemos isso

FÍSICA FUNDAMENTAL I 117


tomando o trabalho realizado pela força no deslocamento ∆x1 como sendo
a força média Fx1, nesse intervalo, multiplicada pelo deslocamento ∆x1;
o trabalho realizado pela força no deslocamento ∆x2 como sendo a força
média Fx2, nesse intervalo, multiplicada pelo deslocamento ∆x2; e assim
por diante. O trabalho total, ou seja, o trabalho no deslocamento de xi a xf
será dado, então, aproximadamente, por:
xfinal
W ≅ Fx1 ∆x1 + Fx2 ∆x2 + ... = σ Fx ∆x
xinicial
Observe que se fizermos os pequenos deslocamentos tenderem
a zero, seu número crescerá de modo que esta soma fornecerá, neste
limite, a integral de Fx de xinicial a xfinal. Assim teremos:
xfinal xfinal
W= lim σ Fx ∆x = ∫ Fx dx (5.4)
xinicial xinicial
Como você já aprendeu no cálculo, a integral definida é igual,
numericamente, à área sob a curva de Fx contra x, entre os limites xinicial
e xfinal.

Atenção!
Em um gráfico da força em função da posição, o trabalho total
realizado pela força é representado pela área sob a curva entre as
posições inicial e final.

Assim, podemos escrever para um deslocamento total de x1 a x2


que o trabalho realizado pela força variável Fx é dado por:
x2
W = ∫ Fx dx (5.5)
x1
Convém
∆x → 0salientar que a Equação 5.5 também se aplica ao caso
de uma força constante. No caso de Fx = F obtemos:
x2 x2 x2
W = ∫ Fx dx = ∫ Fx dx = F ∫ dx = F (x2 - x1) = Fs
x1 x1 x1
onde s = x2 – x1 é o deslocamento total da partícula. Este resultado
concorda com o fornecido na Equação 5.1.

Exemplo 5.3 – Um corpo sofre a ação de uma força Fx que varia


com a posição conforme mostra a figura abaixo. Determine:

118 UNIDADE 05
a) o trabalho feito pela força sobre o corpo quando este se desloca
da posição x = 0 até x = 4 m;
b) o trabalho feito pela força sobre o corpo quando este se desloca
da posição x = 4 m até x = 8 m;
c) o trabalho feito pela força sobre o corpo quando este se desloca
da posição x = 8 m até x = 12 m;
d) o trabalho total realizado pela força sobre o corpo no
deslocamento de 16 m.

Podemos calcular os trabalhos para cada um desses deslocamentos


através da área correspondente sob o gráfico. Assim temos:

4.6
a) W1 = A1 = = 12J
2

b) W2 = A2 = 4 . 6 = 24J

8.6
c) W3 = A3 =
2

d) O trabalho total é dado pela soma algébrica dos trabalhos em


cada deslocamento, de modo que:
W = W1 + W2 + W3 = 12 + 24 + 24 = 60 J

Exemplo 5.4 – Considere uma força que varia com a posição


conforme a equação Fx = 3 x2 – 1, onde x é dado em metros e Fx em
newtons. Que trabalho esta força realiza quando desloca um corpo de x
= 2 m até x = 10 m?
O trabalho, neste caso, é dado pela Equação 5.5. Assim temos:
x2 x = 10 x = 10 x = 10
W = ∫ Fx dx = ∫ (3 x - 1) dx = ∫ 3 x dx - ∫ dx = 984 J
2 2

x1 x=2 x=2 x=2

FÍSICA FUNDAMENTAL I 119


Trabalho realizado por uma mola

Na Figura 5.4 está representado um sistema físico bastante


comum, o sistema massa-mola. Ele consiste de um corpo de massa m
sobre uma superfície horizontal sem atrito, preso em uma mola helicoidal
que obedece à Lei de Hooke para pequenas deformações. Ou seja, se
for esticada ou comprimida em relação à sua posição de equilíbrio, ela
exercerá no corpo uma força de módulo dado por
Fx = - k x (5.6)
onde x é o deslocamento do corpo em relação à posição da
mola sem deformação (x = 0) e k é uma constante positiva chamada de
“constante de força” ou “constante elástica” da mola, que expressa sua
rigidez. O sinal negativo na Equação 5.6 significa que a força da mola
sempre se opõe ao deslocamento de sua posição de equilíbrio sendo,
por isso, chamada de força restauradora.

Figura 5.4
Supondo que o corpo seja comprimido contra a mola até a posição
x = - x1 em relação à posição de equilíbrio e solto em seguida, podemos
calcular o trabalho realizado pela força da mola, a força restauradora,
quando o corpo se desloca de xinicial = - x1 até xfinal = 0 aplicando a Equação
5.5, de modo que

x 0
W= ∫final
Fx dx = ∫ (- k x)dx
= - k x 0 = - k 0-(-x1)2 = 1 k x12
2

xinicial -x1 2 -x1 2 2


Da mesma maneira, podemos calcular o trabalho realizado quando
o corpo se desloca de xinicial = 0 até xfinal = x1. Obtemos:

x x
W= ∫ final
Fx dx = ∫ 1(- k x)dx = - k x2 x1 = - k (x12 - 0)= - k x12
xinicial 0 2 0 2
Observe que no primeiro deslocamento o trabalho é positivo

120 UNIDADE 05
porque a força e o deslocamento têm o mesmo sentido; já no segundo, o
trabalho é negativo, pois a força e o deslocamento têm sentidos opostos.
Se tomarmos o deslocamento de xinicial = - x1 até xfinal = x1 o trabalho será
zero.
Podemos generalizar estes resultados para um deslocamento
arbitrário da posição inicial x = xi até a posição final x = xf. Neste caso o
trabalho realizado pela força da mola é dado por:
xf xf
1 1
W = ∫ Fx dx = ∫ (- k x)dx = k x i2 - k xf2 (5.7)
2 2
xi xi
Convém ressaltar que se xi = xf (um deslocamento que termina
onde começou) o trabalho efetuado é nulo.

Atenção!
Estes resultados podem ser obtidos no gráfico que representa Fx
contra x para o sistema massa-mola (o trabalho é dado pela área sob o
gráfico).

Exemplo 5.5 – Um bloco que se encontra sobre uma superfície


perfeitamente lisa e horizontal está comprimindo uma mola de constante
elástica igual a 80 N/m de 3,5 cm em relação à sua posição de equilíbrio.
Qual o trabalho feito pela força restauradora da mola quando o bloco se
move desta posição até a posição de equilíbrio?
Façamos, primeiramente, uma representação gráfica da situação.

Da Equação 5.7, com xi = -3,5 cm = -3,5 x 10-2 m e xf = 0, podemos


escrever:

1 1 1 1
W= k x i2 - k x f2 = k (xi2 - 02) = 80 (- 3,5 x 10-2)2
2 2 2 2

W = 4,9 x 10-2 J

FÍSICA FUNDAMENTAL I 121


TRABALHO E ENERGIA CINÉTICA

Além de estar relacionado às variações da posição do corpo, o


trabalho total realizado pelas forças externas que agem sobre um corpo
relaciona-se com a velocidade do corpo. Podemos verificar que quando
uma partícula sofre um deslocamento sua velocidade:

• aumenta, se WResultante > 0;


• diminui, se WResultante < 0; e
• permanece constante, se WResultante = 0.

Consideremos uma partícula de massa m em movimento retilíneo,


ao longo do eixo Ox, sob a ação de uma força resultante constante F
orientada no sentido positivo deste eixo, como representado na Figura
5.1.
De acordo com a 2ª Lei de Newton a aceleração da partícula é
constante e dada pela equação F = ma. Supondo que para o deslocamento
s = x2 – x1 a partícula passe da velocidade v1 (em x1) para a velocidade
v2 (em x2), podemos usar a equação do movimento com aceleração
constante para escrever:
v22 = v 12 + 2 a s
onde,
v22 - v12
a=
2s

Multiplicando esta equação por m, fica:

v22 - v12
ma = m
2s
de modo que,

v22 - v12
F=m
2s

que podemos escrever na forma

v22 - v12
F=m
2

Então,
1 1
F = mv22 - mv12 (5.8)
2 2

122 UNIDADE 05
O produto que aparece no primeiro membro da Equação 5.8 é
o trabalho da força resultante F que atua sobre a partícula durante o
deslocamento s. O semiproduto da massa pela velocidade ao quadrado,
a grandeza ½ mv2, é a energia cinética (K) da partícula. Assim, por
definição, temos:
1
k= mv2 (5.9)
2

Deste modo podemos dizer que ½ mv22 é a energia cinética da


partícula na posição x2 e ½ mv12 é a energia cinética da partícula na
posição x1.

Importante!
O Teorema do Trabalho-Energia é válido para qualquer sistema
de referência inercial, mas os valores do trabalho e da energia cinética
podem diferir de um para outro sistema.

A energia cinética é, então, uma grandeza escalar, pois depende


apenas da massa e do módulo da velocidade da partícula em um instante
considerado. A Equação 5.8 nos diz que o trabalho realizado pela força
resultante sobre a partícula é a variação da energia cinética desta
partícula. Esse resultado pode ser expresso como
WResultante = K2 – K1 = ∆K (5.10)
e é conhecido como Teorema do Trabalho – Energia Cinética ou,
simplesmente, Teorema do Trabalho - Energia.

Novamente aqui podemos ver que:

• se WResultante > 0 ⇒ K2 > K1 e v2 > v1 (velocidade aumenta);


• se WResultante < 0 ⇒ K2 < K1 e v2 < v1 (velocidade diminui);
• se WResultante = 0 ⇒ K2 = K1 e v2 = v1 (velocidade constante).

Da Equação 5.10 também podemos ver que as grandezas trabalho


e energia cinética possuem as mesmas unidades. Assim, a unidade para
energia cinética (e também para outras formas de energia) no SI é o joule
(J).
Convém ressaltar que, embora tenhamos deduzido o Teorema do
Trabalho – Energia utilizando uma força constante, podemos demonstrar
sua validade também para forças variáveis. Para isso, consideremos que
a resultante das forças que atuam sobre um corpo na direção Ox seja

FÍSICA FUNDAMENTAL I 123


dada por σ Fx . Pela 2ª Lei de Newton podemos escrever σ Fx = ma , de
SAIBA MAIS
modo que o trabalho realizado para deslocar este corpo de xi a xf é dado
No Sistema por xf xf
Internacional, W = ∫ (σ Fx) dx = ∫ ma dx (5.11)
pela definição de xi xi
energia cinética Usando a regra da cadeia (vista no cálculo), podemos expressar
temos que
a aceleração como
1 J = 1 kg . m2/s2. dv dv dx dv
a= = =v
dt dx dt dx

e substituir este valor no integrando. Assim, considerando que em xi a


velocidade do corpo é vi e em xf a velocidade é vf, temos:
xf vf
dv 1
W = ∫ mv dx = m ∫ vdv = m (vf2 - vi2)
dx 2
Ou seja, xi vi
1 1
W= mvf2 - mvi2 (5.12)
2 2

Podemos ainda generalizar o Teorema do Trabalho – Energia


para o caso da força variar tanto em módulo como em direção enquanto
a partícula tem um deslocamento arbitrário em três dimensões. Neste
caso o trabalho é expresso por Sf
W = ∫ F.ds (5.13)
Si
onde os limites si e sf representam as coordenadas iniciais (xi,yi,zi) e
finais (xf,yf,zf) da partícula e a integral é a chamada integral de linha.
Sabendo que ds = dxi + dyj + dzk e F = Fxi + Fyj + Fzk podemos efetuar
o produto escalar na Equação 5.13 e escrever:
xf , yf , zf
W = ∫ (Fx dx + Fy dy + Fz dz) (5.14)
xi , yi , zi
que é a expressão geral para o cálculo do trabalho realizado por uma
força quando a partícula a ela sujeita é deslocada do ponto (xi,yi,zi) ao
ponto (xf,yf,zf). Repetindo, para cada dimensão (x,y,z), os passos dados
da Equação 5.11 a 5.12, obtemos
W = ∆K (5.15)
um resultado geral, qualquer que seja a trajetória e qualquer que seja a
força aplicada.

124 UNIDADE 05
POTÊNCIA

Um outro conceito físico importante, principalmente na atualidade,


quando o tempo é tão “curto”, é o conceito de potência. A potência é
definida como a taxa temporal da realização de um trabalho, ou seja, ela
é uma grandeza escalar que expressa a rapidez com que é realizado um
determinado trabalho.
Para um trabalho ∆W realizado durante o intervalo de tempo ∆t,
definimos potência média (Pm), ou trabalho médio realizado por unidade
de tempo, como
∆W
Pm = (5.16)
∆t

Quando a taxa de realização do trabalho varia, definimos a


potência instantânea P como o limite da Pm quando ∆t tende a zero:

∆W dW
P= lim =
dt
(5.17)
∆t → 0 ∆t

A unidade de potência no SI é o watt (W) que equivale a um joule


por segundo (1 W = 1 J/s). Os múltiplos, quilowatt (1 kW = 103 W) e
megawatt (1 MW = 106 W), são também muito usados.

Atenção!
O quilowatt-hora (kWh), unidade comercial de energia elétrica, é
o trabalho total realizado em 1 h (3600 s) quando a potência é de 1 kW
(103 J/s). Assim, 1 kWh = 3,6 MJ

Por vezes, é conveniente escrever a potência em função da


força e da velocidade. Podemos exprimir o trabalho feito por uma força
constante F em um deslocamento ds por dW = F • ds (ver Equação 5.3).
Assim a potência instantânea é dada por:
dW ds
P= =F. =F.v (5.18)
dt dt
pois v = ds/dt.

Exemplo 5.6 – Qual a potência média desenvolvida por uma


pessoa de massa igual a 65 kg que se eleva a uma altura de 10 m (subindo
as escadas até o topo de uma catedral, por exemplo) em 12 minutos?
Consideremos a pessoa como uma partícula e força constante. O
trabalho realizado pela pessoa para se elevar contra a gravidade é igual
ao seu peso mg multiplicado pela altura h alcançada, ou seja:

FÍSICA FUNDAMENTAL I 125


W = mgh = 65.9,8.10 = 6,4 x 103 J
Se esse trabalho é feito em 12 min = 720 s, a potência média é:

∆W 6,4 x 103
Pm = = = 8,9 W
∆t 720

FORÇAS CONSERVATIVAS E FORÇAS NÃO CONSERVATIVAS

Utilizamos até aqui diversos tipos de forças. Estas forças podem


ser classificadas em conservativas e não conservativas segundo o
trabalho que realizam sobre uma partícula enquanto esta se desloca em
uma trajetória fechada, ou seja, quando o ponto de chegada é a própria
origem do deslocamento efetuado.
Para definir o que são forças conservativas e não conservativas
vamos analisar, primeiramente, três situações envolvendo forças distintas.

1ª situação: força gravitacional

Consideremos como sistema uma pequena bola de massa m


sujeita à ação da gravidade terrestre. Um agente externo (você, por
exemplo) joga a bola verticalmente para cima com velocidade inicial
vi (K = ½ mvi2) e, à medida que ela sobe, a Terra realiza um trabalho
sobre ela, fazendo com que diminua sua velocidade gradativamente
e alcance o repouso (v=0) na altura h. Este trabalho no deslocamento
de subida (de yi=0 a yf=h) é dado por Wsubida= - mgh (negativo porque
a força gravitacional e o deslocamento têm sentidos opostos). No
movimento de queda, ou seja, no deslocamento de yi=h a yf=0, a força
gravitacional e o deslocamento têm o mesmo sentido e o trabalho,
então, é positivo e dado por Wqueda= mgh. O trabalho total realizado
pela força no movimento de subida e descida é nulo.
Figura 5.5
2ª situação: força elástica de uma mola

Tomemos agora, como sistema um bloco de massa m ligado a


uma mola de constante elástica k, que se encontra sobre uma superfície
horizontal sem atrito. Um agente externo (novamente você?) comprime
a mola empurrando o bloco contra ela de modo que este passa a ocupar
a posição x = - d em relação à posição de equilíbrio, x = 0. Quando
o bloco é solto, a força restauradora da mola realiza trabalho sobre o
bloco fazendo com que ele se desloque até a posição x = + d e volte, em

126 UNIDADE 05
um primeiro ciclo, à posição inicial x = + d. Podemos calcular o
trabalho realizado, no ciclo, por partes. Para o deslocamento de
x = - d a x = 0, temos a força e o deslocamento em um mesmo
sentido; assim o trabalho é dado por
xf 0
1
W = ∫ Fx dx = ∫ (- kx)dx = kd2
2
xi -d
Este trabalho aparece, segundo o Teorema do Trabalho-
Energia, sob a forma de energia cinética do bloco e, como já
visto, sendo positivo se traduz em um aumento de velocidade. No
entanto, ao passar por x = 0, a força elástica (que é restauradora,
lembra?) muda de sentido de modo que o trabalho realizado no
deslocamento de x = 0 até x = + d é dado por
xf +d
W = ∫ Fx dx = ∫ (- kx)dx = - 1 kd2
2 Figura 5.6
xi 0
que, sendo negativo, traduz uma diminuição de velocidade e
consequentemente de energia cinética. Deste modo, o bloco chega em
x = + d com velocidade zero e o movimento do bloco muda de sentido.
No deslocamento de x = + d a x = 0 temos novamente a força e o
deslocamento com mesmo sentido; o trabalho é dado por
xf 0 1
W = ∫ Fx dx = ∫ (- kx)dx = kd2
2
xi +d
E para o deslocamento de x = 0 a x = - d, completando o ciclo,
temos:
xf -d
1
W = ∫ Fx dx = ∫ (- kx)dx = - kd2
2
xi 0
Assim, somando estes trabalhos obtemos o trabalho total para o
ciclo completo realizado pela força da mola sobre o bloco como sendo
nulo.

3ª situação – força de atrito

Aqui tomamos para sistema um bloco lançado para cima por um


agente externo em um plano inclinado. Após ser arremessado, o bloco
sofre, na direção do deslocamento e em sentido oposto, a ação da força
de atrito fa. O bloco sobe até uma altura máxima e depois desce. Para o

FÍSICA FUNDAMENTAL I 127


movimento de subida a força de atrito e o deslocamento têm mesma
direção e sentidos contrários, logo o trabalho é dado por
Wsubida = - fa d
Para o movimento de descida a força de atrito e o
deslocamento têm, também, mesma direção e sentidos contrários
(a força de atrito se opõe ao movimento do corpo), então novamente
o trabalho é dado por
Wdescida = - fa d
O trabalho total para o deslocamento realizado, de subida
até a altura máxima e descida até a posição inicial ocupada pelo
Figura 5.7 bloco é dado por - 2 fa d.

Atenção!
Para forças conservativas podemos escrever:
b a
∫ F . ds + ∫ F . ds = 0
a b

ou ainda:
b a
∫ F . ds = ∫ F . ds
a b

Analisando o ciclo completo do movimento descrito em cada um


dos sistemas, vemos que nas duas primeiras situações, correspondentes
às forças peso e da mola, o trabalho total realizado é nulo. Para a força
de atrito, no entanto, quando o bloco volta à sua posição inicial o trabalho
total realizado não é nulo.
Forças que se comportam como a força gravitacional e a força
restauradora da mola são chamadas de forças conservativas. Por outro
lado, forças que se comportam como a força de atrito são chamadas de
forças não conservativas. Assim, dizemos que uma força é conservativa
se o trabalho total realizado por ela sobre uma partícula, enquanto esta
descreve um percurso fechado, é nulo. E dizemos que uma força é não
conservativa se o trabalho total realizado por ela sobre uma partícula,
enquanto esta descreve um percurso fechado, não é nulo.
Uma outra forma de determinar se uma força é ou não conservativa
é comparar os trabalhos realizados por ela para levar um corpo por
diferentes caminhos de um ponto inicial a um ponto final. Dizemos
que uma força é conservativa se o trabalho realizado por ela sobre um

128 UNIDADE 05
corpo que se desloca de uma posição inicial para uma posição final é o
mesmo para qualquer percurso fechado escolhido arbitrariamente. Se os
trabalhos forem diferentes, dizemos que a força é não conservativa.

Energia potencial

Em um sistema físico em que atuam várias forças, pode acontecer


de o trabalho realizado por uma força sobre um corpo não provocar
aumento na energia cinética do corpo; para isto basta que outras forças
atuantes nesse corpo realizem um trabalho negativo de mesma grandeza
que o positivo.
Consideremos a seguinte situação: um corpo é puxado muito
lentamente para cima, com velocidade constante, em um plano inclinado
sem atrito, por uma força F// paralela à superfície do plano. Naturalmente,
sobre o corpo atua também a força gravitacional P e, como o corpo sobe
à velocidade constante, a força F// é equilibrada pela componente do
peso paralela ao plano (ver Figuras 5.8 e 5.9). Então o módulo da força
F// é igual ao módulo de P//, ou seja, F// = P// = mg senθ. O trabalho da
força F// sobre o bloco para um deslocamento s (de P1 a P2) pode ser
expresso por:
WF// = F// s = P// s = mg senθ s
onde senθ s (= h) é a altura de elevação do bloco quando
atinge a posição P2, de modo que podemos escrever:
WF// = m g h.
Calculando o trabalho da força peso sobre este corpo
para o mesmo deslocamento, obtemos:
WP// = P// s cos180º = - m g senθ s = - mgh
Note que o trabalho das outras forças que atuam no
bloco, componente perpendicular do peso e força normal,
é zero, pois estas são perpendiculares ao deslocamento
efetuado. Assim o trabalho resultante é zero e pelo Teorema Figura 5.8
do Trabalho-Energia, podemos ver que, neste caso, não há
aumento da energia cinética, embora tenha sido feito um
trabalho positivo sobre o bloco. No entanto, observamos que
se soltarmos o corpo após sua chegada ao ponto P2, ele vai
escorregar plano abaixo sob a ação da gravidade; a força
peso realiza o trabalho +mgh sobre o corpo convertendo o
trabalho realizado sobre ele pela força F// em energia cinética.
Deste fato, verificamos que podemos usar a força
Figura 5.9

FÍSICA FUNDAMENTAL I 129


de atração gravitacional da Terra para armazenar trabalho que,
posteriormente, pode ser convertido em energia cinética. Assim, é útil
definir um outro tipo de energia, a energia potencial, quando apenas
forças conservativas atuam em um sistema físico.
A energia potencial U está associada à disposição dos componentes
do sistema em relação aos demais. Quando um trabalho W é realizado
por uma força conservativa (força peso ou força elástica da mola, por
exemplo), os componentes do sistema alteram sua configuração e, por
isso, a energia potencial varia de um valor inicial Ui para um valor final Uf.
Para uma única força definimos a variação da energia potencial como:
∆U = Uf – Ui = - W (5.19)
onde W é o trabalho realizado pela força conservativa enquanto o sistema
passa da configuração inicial para a final.
No entanto, quando queremos avaliar apenas o trabalho realizado
sobre um componente do sistema, a coordenada deste componente é
tudo o que precisamos para definir a configuração do sistema. Para o
caso do trabalho realizado por uma força unidimensional Fx(x) que leva
uma partícula a se deslocar da posição xi até uma posição xf, podemos
obter, da Equação 5.19, a diferença de energia potencial correspondente,
como: xf
∆U = U (xf) – U (xi) = - W = - ∫ Fx (x) dx (5.20)
x i

Para o caso da energia potencial associada a uma configuração


arbitrária x em relação a uma configuração particular x0, temos:
x
U (x) – U (x0) = - ∫ Fx (x) dx (5.21)
x0
Por definição, o que nos interessa são as variações na energia
potencial de modo que podemos escolher o ponto de referência (x0)
no local mais conveniente, definir o valor da energia potencial U(x0) e,
então, determinar a energia potencial em qualquer local no sistema.
Convém notar que podemos calcular a força a partir da energia potencial
escrevendo a Equação 5.21 na forma diferencial:

dU(x)
Fx(x) = - (5.22)
dx

Para ilustrar, podemos calcular a energia potencial para os
sistemas analisados anteriormente:

130 UNIDADE 05
• Sistema massa-Terra – Como o movimento se dá na vertical,
tomamos o eixo Oy ao invés do eixo Ox e adotamos o sentido positivo
para cima. Para referência tomamos o ponto y0=0 na superfície da Terra
e definimos U(y0)=0. A força envolvida é Fy(y)= - mg, constante quando
consideramos pequenos deslocamentos, e assim podemos calcular a
energia potencial U(y) do sistema a partir da Equação 5.21 como:
y y
U(y) – U(y0) = - ∫ Fy (y) dy = - ∫ (- mg) dy
que nos dá: y0 0
U(y) = mgy (5.23)
denominada de energia potencial gravitacional.

• Sistema massa-mola – Para este sistema podemos tomar como


referência a posição de relaxamento da mola, x0=0, e definir a energia
potencial U(x0)=0. Assim, podemos substituir este valor e a força da
mola, Fx(x) = - kx, na Equação 5.21 e resolver a integral para encontrar a
energia potencial do sistema em uma posição qualquer x a partir de sua
posição de referência. Temos
x x x
U (x) – U (x0) = - ∫ Fx (x) dx = - ∫ (- kx)dx = k ∫ x dx
de modo que: x0 x0 0

1
U (x) = k x2 (5.24)
2

é a chamada energia potencial elástica da mola.


Observe que diferenciando a Equação 5.24 encontramos a força
da mola:
dU(x) d 1
= ( k x2) = k x
dx dx 2

ou seja,
dU(x)
- = - k x = Fx (x)
dx

conforme a Equação 5.22.

CONSERVAÇÃO DA ENERGIA MECÂNICA

Consideremos agora uma partícula que se desloca na direção


positiva do eixo Ox sob a ação de uma única força conservativa Fx
de modo que podemos, com base no Teorema do Trabalho-Energia,

FÍSICA FUNDAMENTAL I 131


escrever:
Wc = ∆K
e também, pela Equação 5.19,
Wc = - ∆U.
Então, temos para forças conservativas:
∆K = - ∆U.
Este resultado pode ser estendido para o caso mais geral de um
sistema de muitas partículas que interagem entre si apenas através de
forças conservativas, significando que a variação total na energia cinética
de todas as partículas do sistema é igual em intensidade, mas de sinal
oposto à variação total na energia potencial. Isto pode ser representado
por ∆Kt = - ∆Ut de modo que
Kt + ∆Ut = 0. (5.25)
A interpretação desta equação nos diz que, em um sistema isolado
onde atuam apenas forças conservativas, uma mudança na energia
cinética total do sistema corresponde a uma variação de igual valor e
sinal contrário na energia potencial total, de modo que a soma dessas
variações é nula.
Podemos escrever a Equação 5.25 na forma
∆ (Kt + Ut) = 0 (5.26)
e definir a quantidade Kt + Ut como a energia mecânica total (Et)
do sistema. Deste modo, Kt + Ut = Et e podemos reescrever a Equação
5.26 como
∆ (Kt + Ut) = ∆ Et = 0.

Observando que se a variação é nula, a quantidade deve
permanecer constante, temos que
E i = E f, ou ainda, Ki + Ui = Kf + Kf (5.27)
onde os índices i e f referem-se, respectivamente, aos estados
inicial e final do sistema. Esta conclusão é conhecida como Lei de
Conservação da Energia Mecânica e significa que em um sistema isolado
em que atuam apenas forças conservativas, a energia mecânica total
permanece constante.
Note que dentro do sistema pode haver transformação de energia
cinética em potencial e vice-versa, ou ainda, de energia potencial de um
tipo em outro, desde que a energia mecânica total permaneça constante.
Para exemplificar a conservação da energia mecânica, podemos
considerar novamente os sistemas de forças conservativas vistos
anteriormente.

132 UNIDADE 05
• Sistema massa-Terra – No ponto de lançamento a energia cinética,
K0 = ½ m vm2, é máxima e igual à energia mecânica E, pois a energia
potencial U(x0) = 0. Enquanto a bola sobe a energia potencial cresce e a
energia cinética decresce (velocidade diminui); em uma altura qualquer y PARA REFLETIR
temos E = ½ mv2 + mgy. Em sua altura máxima, y=h, a velocidade é zero
e, portanto, a energia cinética é zero e a energia potencial, Uh = mgh, é Energia mecânica
máxima e igual a E. No movimento de descida o sistema perde energia de uma partícula
potencial enquanto a bola ganha energia cinética (velocidade aumenta), é a soma de suas
energias potencial
mas a energia mecânica total do sistema permanece constante.
e cinética.

• Sistema massa-mola – Para um ponto qualquer do movimento


do bloco a mola está distendida ou comprimida de uma distância x com
relação ao ponto de referência x0 = 0 (ponto de relaxamento) e temos
E = ½ mv2 + ½ kx2. Quando a mola ocupa a posição de distensão ou
compressão máxima (xm) ela para (v = 0), consequentemente a energia
cinética é zero e, neste instante, temos a energia mecânica dada pela
energia potencial máxima, E = Um = ½ kxm2. No movimento de retorno
à posição de relaxamento, a energia potencial decresce e a energia
cinética aumenta até que, ao alcançar o ponto x0 = 0, a energia potencial
vai a zero e a energia mecânica é dada pela energia cinética máxima, E
= ½ mvm2.

Exemplo 5.7 – Uma bola de massa m cai livremente de uma


altura H como mostra a Figura 5.10. Desprezando a resistência do ar,
determine: a) a velocidade vf da bola a uma altura qualquer y acima
do solo; b) a velocidade vf da bola na altura y, se sua velocidade
inicial for vi na altura inicial H.
Podemos usar a Lei da Conservação da Energia Mecânica,
pois a bola está em queda livre, sujeita apenas à força gravitacional
que é conservativa.
a) Quando a bola cai a partir do repouso, na posição inicial
temos sua energia cinética Ki=0 e sua energia potencial dada por
Ui=mgH. Quando a bola se encontra na altura y acima do solo, sua
energia cinética é Kf= ½ mvf2 e sua energia potencial é dada por Figura 5.10
Uf=mgy, em relação ao solo. Da conservação da energia mecânica,
podemos escrever:
Ei = Ef
Ki + Ui = Kf + Uf

FÍSICA FUNDAMENTAL I 133


0 + mgH = ½ mvf2 + mgy
Vf2 = 2 g (H - y)
E, então:
Vf = 2g(H - y)

b) Agora, a energia inicial é dada por Ki = ½ mvi2. Da conservação


da energia mecânica temos:
Ei = Ef
Ki + Ui = Kf + Uf
½ mvi2 + mgH = ½ mvf2 + mgy
Vf2 = vi2 + 2 g (H - y)
Assim, fica:
Vf = v 2 + 2g(H - y)
i

FORÇAS NÃO CONSERVATIVAS E ENERGIA MECÂNICA

Usualmente, em sistemas físicos reais, forças não conservativas


estão presentes, de modo que a energia mecânica total não é constante.
Considerando um sistema em que as interações entre partículas se
efetivem através de forças conservativas e não conservativas, podemos
expressar o trabalho realizado sobre uma partícula pelas forças
conservativas por Wc e pelas forças não conservativas por Wnc e
PARA REFLETIR escrever o Teorema do Trabalho-Energia na forma
Wc + Wnc = ∆K
Os resultados Como, por definição, Wc = - ∆U, podemos escrever:
encontrados no Wnc = ∆K + ∆U = ∆ (K + U) = ∆E = Ef - Ei (5.28)
Exemplo 5.7
são válidos para
Isto significa que o trabalho realizado por todas as forças não
movimentos
oblíquos? conservativas é igual à variação da energia mecânica total do sistema.

O PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DA ENERGIA

Vimos que quando somente forças conservativas atuam em


um sistema, a energia mecânica total desse sistema se conserva. O
mesmo não acontece quando no sistema estão presentes forças não
conservativas. Ou seja, quando atuam forças não conservativas há perda
de energia mecânica. No entanto, se considerarmos sistemas isolados,
essa perda devido às interações de forças não conservativas pode ser
interpretada como uma transformação de energia de uma forma para

134 UNIDADE 05
outra, por exemplo, energia interna. Ou seja, quando consideramos todas
as formas de energia, a energia total de um sistema isolado não varia.
Outra forma de expressar este fato é dizendo que a energia não
pode ser criada nem destruída, mas apenas transformada de uma para
outra forma.
Ou ainda, mais simplesmente:
A energia total de um sistema isolado é constante.

APLICAÇÕES

O pêndulo simples

O pêndulo simples é um sistema físico muito interessante. Ele


consiste em um fio muito leve, de comprimento L, preso na extremidade
superior a um suporte fixo e tendo, na extremidade inferior, um corpo
de massa m (ver Figura 5.11). Quando afastado de sua posição vertical
de um ângulo θ0 e libertado, ele fica oscilando. Se desprezarmos a
resistência do ar, qual é a velocidade da massa do pêndulo no ponto
mais baixo de sua trajetória?
As forças que atuam na massa são: a tensão T no fio,
que é sempre perpendicular à trajetória e não realiza trabalho,
e o peso, dado por mg, sempre vertical e dirigido para baixo,
que é uma força conservativa. Deste modo a energia mecânica
total é conservada, pois a única força que realiza trabalho é
conservativa.
Tomemos, no ponto mais baixo da trajetória, a energia
potencial gravitacional igual a zero, U(h0)=0. Na posição Figura 5.11 - Pêndulo Simples
inicial, quando a massa se encontra em repouso (antes de
ser solta) a uma altura h acima deste nível de referência, sua energia
potencial é U(h)=mgh e a energia cinética é zero, pois v=0. Quando a
massa é solta e oscila para baixo, ela perde energia potencial e ganha
energia cinética. Ao atingir o ponto mais baixo da trajetória, a massa
tem energia cinética máxima e podemos escrever, pela conservação da
energia mecânica, que
1
mv2 = mgh
2
onde v é o módulo da velocidade da massa do pêndulo ao passar nesta
posição. Deste modo,
v2 = 2gh.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 135


Mas, da Figura 5.11 temos que a distância h é dada por:
h = L – L cosθ0 = L (1 – cosθ0)
e, então, obtemos:
v2 = 2 g L (1 – cosθ0) (5.29)
Podemos também calcular a tensão no fio na base da trajetória.
Para isso é necessário lembrar que neste ponto a massa tem aceleração
centrípeta dada por v2/L e que as forças que agem sobre ela são: a tensão
T, para cima, e o peso mg, para baixo. Aplicando a 2ª Lei de Newton,
obtemos:
mv2
T – mg = ma = = 2gm (1 – cosθ0)
L

de modo que
T = mg + 2gm (1 – cosθ0). (5.30)

Sistemas conservativos unidimensionais

Podemos utilizar o método da energia para descrever o movimento


de uma partícula como função do tempo. No caso unidimensional, quando
a força depende apenas da posição, podemos utilizar a Equação 5.27 na
forma
1
mv2 + U(x) = E (5.31)
2

a qual fornece a relação entre posição e velocidade. Desta, determinamos


a velocidade, que é dada por

2
v= ± [E - U(x)] (5.32)
m

onde U(x) é a energia potencial associada à força que atua no sistema


e E a energia mecânica (constante) que lhe foi fornecida. Como a
energia cinética não pode ser negativa e nem a velocidade pode ter valor
imaginário, temos E – U(x) ≥ 0 e, para um dado valor de E, o movimento
fica restrito a regiões do eixo x onde temos E ≥ U(x).
Para exemplificar, consideremos a função energia potencial de um
sistema conservativo representada na Figura 5.12. Ali podemos observar
que, como devemos ter E ≥ U(x), a mais baixa energia mecânica possível
para esse sistema é E0, de modo que temos, em x0, E = E0 = U. Nesse
ponto então a energia cinética é zero e a partícula deve estar em repouso.

136 UNIDADE 05
Figura 5.12

Para uma energia mecânica ligeiramente maior, como E1, a


partícula se moverá entre x1 e x2; neste intervalo, sempre que a partícula
se aproxima de x1 ou de x2 diminui a velocidade de modo que ao atingir
esses pontos (chamados pontos de retorno), ela para e inverte o sentido
do movimento. Quando a energia tiver o valor E2, existirão quatro pontos
de retorno; a partícula poderá ficar oscilando em um dos dois “poços de
potencial” do sistema. Se a energia tiver o valor E3, existe apenas um
ponto de retorno, em x3, de modo que se a partícula, inicialmente, se
desloca no sentido negativo do eixo x, ela vai até x3, para e retorna no
sentido positivo do eixo x. Quando o sistema tem energias superiores a
E3, não existem pontos de retorno e a partícula se deslocará sempre em
um mesmo sentido.

Desafio!
Construa o gráfico para F(x) correspondente a U(x) representada
na Figura 5.12.

Também pelo gráfico da Figura 5.12 podemos observar que quando
a energia potencial U(x) tem um valor mínimo, como em x=x0 (ou x=x4),
a inclinação da curva é nula e também a força, pois F(x0) = - [dU(x0)/dx]
= 0. Assim, neste ponto, se estiver em repouso, a partícula permanece
em repouso. Diz-se que em equilíbrio estável, pois se for ligeiramente
afastada de sua posição de equilíbrio, para qualquer dos lados, tenderá
a voltar à sua posição por ação da força F(x) = - dU/dx que faz com que
a partícula fique oscilando em torno desse ponto.
Quando a energia potencial U(x) tem um valor máximo, como em
x=x5, a inclinação da curva e a força também são nulas, ou seja, temos
F(x5) = - [dU(x5)/dx] = 0. Uma partícula em repouso neste ponto também
permanece em repouso mas, nesse caso, em equilíbrio instável, pois

FÍSICA FUNDAMENTAL I 137


se for afastada de sua posição, para qualquer dos lados, a força F(x)
tenderá a afastá-la ainda mais de sua posição.
Quando temos um intervalo em que a energia potencial U(x) é
constante, novamente temos inclinação da curva e força nulas; nesse
caso, a partícula pode deslocar-se de sua posição sem sofrer ação de
nenhuma força, seja restauradora ou seja de repulsão, e dizemos que
está em equilíbrio indiferente.
Esta análise mostra quanto podemos saber sobre o movimento do
corpo, conhecendo a U(x) na região em que o corpo se desloca.
Da Equação 5. podemos obter x(t) fazendo:

dx 2 dx
=± [E - U(x)] ou (5.33)
dt m 2 [E - U(x)]
±
m

Integrando esta equação desde a posição inicial x0 (em t0) até a


posição final x (no instante t), fica:

x dx t
∫ = ∫ dt = t - t0 (5.34)
x0 ± 2 [E - U(x)] t0
m

A princípio, efetuada a integração do primeiro membro, podemos


resolver a equação resultante para x(t).

Lembre que...
A derivada parcial ∂∂x significa que devemos calcular a derivada
de U(x, y, z) em relação a x como se y e z fossem constantes. De modo
análogo, ∂∂y significa que devemos calcular a derivada em relação a y
tomando x e z como constantes e ∂∂z significa que devemos calcular a
derivada em relação a z tomando x e y como constantes.

Podemos generalizar o que discutimos para sistemas conservativos


unidimensionais para o caso de movimentos tridimensionais. Imagine que
uma partícula se move ao longo de uma trajetória qualquer sob a ação de
uma força conservativa interna ao sistema. Nesse caso o trabalho dessa
força depende apenas dos pontos inicial e final do movimento e independe

138 UNIDADE 05
da trajetória descrita. A energia potencial é definida de modo análogo ao
caso unidimensional e é uma função das coordenadas espaciais, isto é,
pode ser escrita como U(x, y, z).
A generalização da Equação 5.20 para o movimento tridimensional
é x y z
∆U = ∫ Fx dx - ∫ Fy dy - ∫ Fz dz
x0 y0 z0

ou, em notação vetorial: r


∆U = - ∫ F(r) . dr
r0

onde ∆U é a variação da energia potencial do sistema quando a partícula


se desloca da posição r0, em (x0, y0, z0), até a posição r, em (x, y, z) e F(r)
= F(x, y, z) é a força conservativa de componentes Fx, Fy e Fz.
A generalização da Equação 5.27 é

1 1
mv2 + U(x, y, z) = mv02 + U(x0 , y0 , z0)
2 2

que, em notação vetorial, fica:


1 1
2 mv . v + U (r) = 2 mv0 . v0 + U(r0)

onde v . v = vx2 + vy2 + vz2 = v2 e v0 . v0 = v0x2 + v0y2 + v0z2 = v02. E, em


termos da energia mecânica pode ser escrita como:
1
mv2 + U(x, y, z) = E
2

Por último, a generalização para a Equação 5.22 em três


dimensões é:
∂U ∂U
F(r) = - i -j - k ∂U
∂x ∂y ∂z
ou seja, podemos dizer que F é o negativo do gradiente da energia
potencial U(x, y, z).

Um dos conceitos físicos mais presentes em nosso dia a dia


é o da energia. Nesta unidade usamos os conceitos de trabalho e

FÍSICA FUNDAMENTAL I 139


energia na descrição do movimento de sistemas mecânicos abordando,
primeiramente, o trabalho realizado por forças constantes e por forças
variáveis. Em seguida, enunciamos o Teorema do Trabalho-Energia e
definimos potência. Após discutirmos os conceitos de energia potencial,
forças conservativas e não conservativas, enunciamos o Princípio da
Conservação da Energia e, ao final, expomos algumas aplicações.

1. Conceitue ou comente:
a) trabalho;
b) energia;
c) energia cinética;
d) energia potencial;
e) energia mecânica.
2. O que você entende por:
a) Teorema do Trabalho-Energia;
b) força conservativa;
c) força não conservativa.
3. Faça uma pesquisa e estabeleça a relação entre, pelo menos, três
unidades usuais da grandeza energia.
4. Responda, justificando, às seguintes questões:
a) Por que uma pessoa fica cansada ao empurrar uma parede sem
conseguir movê-la?
b) A força responsável pela aceleração de um corpo em movimento
circular uniforme efetua trabalho sobre ele?
c) O trabalho feito por uma força não conservativa é sempre negativo?
d) Quando uma única força externa atua sobre uma partícula, altera,
necessariamente, sua energia cinética?
5. Explique as transformações de energia que ocorrem durante um salto
com vara.
6. A que altura deve ser elevado um corpo para que sua energia potencial
tenha o mesmo valor de sua energia cinética quando possui a velocidade
de 80 km/h?
7. Um corpo está sujeito a uma força dada por F(x) = A/x2, sendo A = 4
N.m2. Calcule o trabalho realizado por esta força para deslocar o corpo

140 UNIDADE 05
desde x = 1 m até x = 10 m.
8. Um carro de 1.000 kg tem um motor que libera a potência máxima de
90 kW. Qual o menor intervalo de tempo para que este carro, acelerando
a partir do repouso, alcance 80 km/h?
9. Um corpo de massa igual a 2,00 kg é lançado de uma altura de 120
m com velocidade inicial de 50 m/s com inclinação de 30º acima da
horizontal. Ignorando a resistência do ar, calcule: a) a energia cinética do
corpo imediatamente após o lançamento; b) sua energia potencial ao ser
lançado; c) a velocidade do corpo imediatamente antes de tocar o solo.
10. Um bloco de 5,0 kg inicia um movimento de subida numa rampa
inclinada de 25º, com uma velocidade de 7 m/s. Que distância ele
percorrerá se perder 20 J de energia mecânica devido ao atrito?
11. A Figura 5.13 mostra uma função energia potencial U(x) contra x.
a) Avalie, para cada ponto assinalado, se a força atuante é positiva,
negativa ou nula. b) Determine em que ponto a força tem maior módulo.
c) Identifique, caso existam, os pontos de equilíbrio estável, equilíbrio
instável ou indiferente.

Figura 5.13
12. A interação entre dois átomos idênticos para formar uma molécula
diatômica pode ser expressa, aproximadamente, pela função energia
potencial

a b
U(x) = -
x12
x6
ATENÇÃO
onde a e b são constantes positivas e x a distância entre os núcleos dos
átomos. Determine: a) a distância de equilíbrio entre os átomos; b) a
Procure resolver
força existente entre os átomos; c) energia de dissociação da molécula, mais exercícios e
ou seja, a energia mínima necessária para separar os átomos até a problemas sobre
distância x = ∞; d) faça um esboço para o gráfico do potencial dado. esse conteúdo.
Para isso,
procure os livros
referenciados no
próximo item.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 141


142 UNIDADE 06
UNIDADE 06

Hidrostática
Mônica Maria Machado Ribeiro Nunes Castro

FÍSICA FUNDAMENTAL I 143


144 UNIDADE 06
HIDROSTÁTICA

ESTADOS FÍSICOS DA MATÉRIA

Embora hoje saibamos da existência de outros estados físicos,


como o plasma e o condensado de Bose-Einstein, a matéria que nos
rodeia pode ser classificada como sólida, líquida ou gasosa. Nossa
experiência diária nos habilita a diferençar cada um destes estados, pois
conhecemos muitas de suas características gerais. Dizemos que:
. sólidos – têm forma e volume definidos, pois suas moléculas
são organizadas de modo ordenado e as forças intermoleculares
são relativamente intensas; em geral, têm densidade constante, são
incompressíveis e capazes de suportar e transmitir tensões (tração,
compressão e cisalhamento);
. líquidos – as forças entre suas moléculas são menos intensas que
nos sólidos, não têm forma, mas têm volume definido; são relativamente
incompressíveis e capazes de suportar e transmitir compressões, suportar
trações de certo modo, mas não de suportar tensões de cisalhamento,
pois suas camadas podem deslizar facilmente umas sobre as outras;
. gases – as forças intermoleculares são muito fracas; não têm
forma própria nem têm volume definido; são facilmente compressíveis e
incapazes de transmitir tensões estáticas de tração ou de cisalhamento.
Nas unidades anteriores estudamos leis mecânicas que nos
permitiram analisar a dinâmica das partículas individuais, e mesmo de
corpos extensos considerados perfeitamente rígidos. Nesta unidade
vamos aplicar as leis da mecânica newtoniana para estudar as
propriedades dos fluidos (líquidos e gases) em situação de equilíbrio e
os princípios que a eles se aplicam. Esta parte da mecânica dos fluidos
é denominada de hidrostática.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 145


FLUIDOS: CONCEITOS BÁSICOS
PARA REFLETIR

Irving Langmuir Os fluidos estão presentes e desempenham um importante papel
introduziu a palavra em nossa vida cotidiana. Para comprovar esta afirmativa basta lembrar
plasma em 1928 para que respiramos (ar) e bebemos (água) fluidos e, ainda, que em nosso
descrever um gás
corpo circulam fluidos que nos são vitais. Por isso, o conhecimento dos
ionizado. O plasma é
um gás formado por conceitos e princípios básicos da física dos fluidos nos é essencial.
íons positivamente A palavra ‘fluido’ deriva da palavra latina “fluidu” que significa fluir,
carregados e escoar... A propriedade de escoamento é comum em líquidos e gases de
elétrons. Ele é o
modo que, desta perspectiva, eles podem ser designados indistintamente
estado em que se
encontra a matéria como fluidos.
que compõe as Mais comumente caracterizamos fluidos pela relativa mobilidade
estrelas sendo, entre suas moléculas, de modo que definimos, mais precisamente, como
talvez, o estado da
fluido, toda substância que se deforma continuamente quando sofre
matéria mais comum
e abundante do a aplicação de uma força ou tensão de cisalhamento – força aplicada
universo; é criado tangencialmente à superfície do material considerado. Dizemos então
sob condições que fluidos são incapazes de suportar forças de cisalhamento.
especiais nos Mas a classificação de uma substância como fluido não é sempre
laboratórios.
uma coisa fácil. Uma determinada substância pode apresentar-se na forma
de fluido (líquida ou gasosa) dependendo da temperatura e da pressão
a que está sujeita. O caso mais óbvio e conhecido é o da água, que
apresenta na natureza, nos intervalos comuns de temperatura e pressão,
as formas sólida (gelo), líquida e gasosa (ver Figura 6.1). É interessante
citar também o vidro, substância que aparentemente mantém sua forma,
mas, que em um período de tempo muito grande, flui. É fato que janelas
de vidro que estejam, há muito tempo, colocadas na posição vertical são
mais espessas na sua parte inferior.

Figura 6.1 - Fonte:http://upload.wikimedia.org/wi

Para dar início ao estudo dos fluidos devemos atentar, também,


para alguns conceitos físicos como os de densidade e pressão, abordados
na sequência.

146 UNIDADE 06
Densidade

Atenção!
Muitas vezes é conveniente expressar a densidade de um material
com relação à densidade da água, medida a 4ºC, que é 1,0 x 10 3 kg/m3.
Essa é a chamada densidade relativa de um material.

A densidade é uma propriedade importante para a caracterização


de qualquer material. Definida como a massa por unidade de volume,
a densidade é também denominada de massa específica e, na maioria
das vezes, é representada pela letra grega ρ (lê-se “rô”). Assim, para
um material homogêneo de massa m e volume V podemos escrever a
densidade como
m
ρ = (6.1)
V

Desta definição podemos ver que a unidade SI para densidade é
o quilograma por metro cúbico (1 kg/m3). A unidade CGS para densidade,
grama por centímetro cúbico (1 g/cm3), é muito utilizada. Temos que 1 g/
cm3 = 103 kg/m3 = 1 kg/L.
Para materiais não homogêneos a Equação 6.1 descreve apenas
uma densidade média, pois a densidade pode variar de um ponto a outro DESAFIO
do material. É o caso do corpo humano e da atmosfera terrestre, por
exemplo. Convém ressaltar que a densidade de um material depende de Você sabe qual
fatores ambientais como a temperatura e a pressão e sua medida é feita é o material mais
com o densímetro. denso encontrado
na superfície
Exemplo 6.1 – Considere um ambiente que tem altura de 4,0 m e
terrestre?
piso com área de 5,0 m x 6,0 m. Dada a densidade do ar igual a 1,20 kg/
m3, determine: a) a massa e o peso do ar no interior deste ambiente; b) a
massa e o peso de um volume igual de água.

a) Da Equação 6.1, temos a massa dada por:


mar = ρar V = 1,20 (4,0 x 5,0 x 6,0) = 144 kg
Então, o peso será dado por:
Par = mar g = 144 x 9,8 = 1,41 x 103 N
b) Considerando o mesmo volume de água teremos:
mágua = ρágua V = 1,0 x 103 (4,0 x 5,0 x 6,0) = 1,2 x 105 kg
Então o peso da água será:
Págua = mágua g = 1,2 x 105 x 9,8 = 1,2 x 106 N
Observe que, muito provavelmente, um piso comum como o de

FÍSICA FUNDAMENTAL I 147


uma casa afundaria com o peso dessa massa d’água.

Pressão

Os fluidos em repouso exercem, sobre qualquer superfície com


a qual estejam em contato, uma força perpendicular à superfície. Isto
acontece porque, embora o fluido esteja, como um todo, em repouso, suas
moléculas constituintes estão em constante movimento, o que provoca
colisões entre as moléculas do próprio fluido e entre as moléculas do
fluido e das superfícies vizinhas.

Consideremos uma região qualquer de um fluido em repouso


(ver Figura 6.2) e imaginemos uma superfície em seu interior. O fluido
exerce forças iguais e contrárias sobre os dois lados da superfície, pois
como o fluido está em repouso, esta superfície também está em repouso.
Representando por dA uma pequena área nesta superfície localizada em
um ponto qualquer do fluido e por dF⊥ o módulo da força normal exercida
pelo fluido sobre cada lado da superfície, definimos a pressão P neste
ponto como o módulo da força normal por unidade de área, ou seja:

dF⊥
P= (6.2)
Figura 6.2 dA

Para uma superfície plana de área A em que todos os pontos


estejam a uma mesma pressão, podemos escrever
F⊥
P= (6.3)
A

onde F⊥ é o módulo da força normal resultante sobre um dos lados da


superfície.

Da Equação 6.3 verificamos que a unidade SI para a pressão é o
pascal (Pa), dado por 1 Pa = 1 N/m2.
Exemplo 6.2 – Uma caixa d’água com dimensões de 1,0 m x 2,0

148 UNIDADE 06
m x 1,0 m está totalmente cheia. Determine a pressão exercida no fundo
da caixa d’água devida apenas à água. (Considere a densidade da água
ρ = 1,0 x 103 kg/m3)
Da Equação 6.3 e usando a definição de densidade, temos:

F⊥ mg ρVg 1,0 x 103 (1,0 x 2,0 x 1,0) 9,8


P= = = = = 9,8 x 103 Pa
A A A 1,0 x 2,0

PRINCÍPIO GERAL DA HIDROSTÁTICA

Em situações reais, em que estudamos fluidos cujo peso não é


desprezível, a pressão no interior do fluido varia com a profundidade.
Sabemos disso por experiência. Por exemplo: quando mergulhamos
fundo numa piscina, sentimos a pressão aumentar em nossos ouvidos,
não é mesmo?
Primeiramente vamos deduzir uma expressão geral que relaciona
a pressão P em um dado ponto do interior de um fluido em repouso
e a altura h desse ponto. Para isso vamos supor que permaneçam
constantes, em todos os pontos do fluido, a densidade ρ e a gravidade
g. Dentro do fluido vamos considerar um
pequeno elemento de volume, dV, dado por
dV = A dy, onde A é a área de sua seção reta e
dy sua altura (ver Figura 6.3). Este elemento
de fluido tem massa
dm = ρ dV = ρ A dy
e peso
dp = dm g = ρ A dy g
que podemos escrever como
dp = ρ g A dy. Figura 6.3

Consideremos agora as forças que atuam neste elemento de


fluido. Chamando de P a pressão na superfície inferior e P +dP a pressão
na superfície superior do elemento de fluido considerado, da Equação
6.3 temos que a força exercida pelo fluido sobre a superfície inferior tem
módulo PA e é dirigida para cima e a força sobre a superfície superior
tem módulo (P + dP)A e é dirigida para baixo. Como o elemento de fluido
está, juntamente com o fluido, em repouso, podemos escrever que a
resultante das forças que atuam na direção vertical (incluindo o peso) é
zero. Ou seja:
σ Fy = 0

FÍSICA FUNDAMENTAL I 149


Deste modo temos,
PA – (P + dP)A – ρ g A dy = 0
que nos dá
- dP = ρ g dy
e então obtemos:
dP
= - ρg (6.4)
dy

O sinal desta equação significa que quando y aumenta P diminui,


ou seja, à medida que subimos no fluido (y cresce) a pressão diminui.

Para dois pontos quaisquer dentro do fluido que tenham as


pressões P1 e P2 nas alturas y1 e y2, respectivamente, e tomando a
densidade do fluido e a gravidade como constantes, podemos escrever:
P2 y2
∫ dP = - ρg ∫ dy
P1 y1

Integrando, obtemos
P2 – P1 = – ρg (y2 – y1) (6.5)

Agora, podemos expressar também a pressão em um fluido em


termos da profundidade abaixo da superfície do fluido. Na Figura 6.4
estão representados: o ponto 1 situado dentro do fluido, a uma altura y1
com relação ao nível de referência y = 0, em um nível onde a pressão é
P, e o ponto 2, situado na superfície do fluido, a uma altura y2 com relação
ao nível de referência y = 0, onde a pressão é P0.

Figura 6.4

Nestes termos, podemos escrever a Equação 6.5 como:


P0 – P = – ρg (y2 – y1)
onde y2 – y1 = h. Assim, fica
P0 – P = – ρgh

150 UNIDADE 06
a qual pode ser escrita na forma
P = P0 + ρgh (6.6)
onde P é a pressão absoluta medida em um ponto à profundidade
h e P – P0 é a pressão manométrica. Esta equação expressa o princípio
geral da hidrostática, também conhecido como Lei de Stevin:
A pressão no interior do fluido aumenta linearmente com a
profundidade.
Da Equação 6.6 podemos ver que:

• a pressão dentro de um fluido é sempre maior do que a pressão


na sua superfície;
• a diferença entre a pressão na superfície e a pressão em um
ponto qualquer dentro do fluido é diretamente proporcional à
profundidade desse ponto;
• pontos de igual altura, ou seja, que estão à mesma profundidade
dentro do fluido, têm pressões iguais.

Variação da pressão na atmosfera terrestre

Atenção!
Para um fluido com densidade constante, se pudermos considerar
g constante, a relação entre as pressões em dois pontos quaisquer do
fluido independe do formato do recipiente que contém o fluido.

Chamamos de pressão atmosférica, Patm, a pressão exercida pela


atmosfera terrestre, sobretudo o que nela está imerso. Ela varia de acordo
com as condições do tempo e com a altitude e foi medida pela primeira
vez por Evangelista Torricelli (1608-1647), físico e matemático italiano,
em 1643. Em média, a pressão atmosférica normal, ao nível do mar, é de
1atm (atmosfera) que equivale aproximadamente a 1,01x105 Pa.
Podemos obter uma expressão para a variação da pressão com a
altitude em nossa atmosfera supondo que sua densidade é proporcional
à pressão. Esta expressão é uma aproximação já que, para simplificar
os cálculos tomamos tanto a temperatura do ar como a aceleração da
gravidade constantes.
Da Equação 6.4 temos

dP
= - ρg
dy

FÍSICA FUNDAMENTAL I 151


Como estamos considerando a densidade proporcional à
pressão, podemos escrever

ρ P P
= ⇒ ρ = ρ0
ρ0 P0 P0

onde ρ0 e P0 são, respectivamente, os valores, ao nível do mar,


para a densidade e a pressão do ar. Assim, substituindo
estes valores na Equação 6.4, podemos escrever:

dP P
Figura 6.5 - Torricelli = - g ρ0
Fonte:www.biografiasyvidas.com dy P0

de modo que, separando as variáveis, obtemos:

dP ρ0
=-g dy
P P0

Integrando esta equação da pressão P0 em y=0, ao nível do mar,


até a pressão P à altitude y, fica:
P y y
dP gρ0 ρ0
∫ =- ∫ =-g ∫ dy
P0 P 0 P0 P0 0
de modo que:

P ρ0
ln =-g y
P0 P0 ρ0
P = P0 e - (g )y (6.7)
P0

Esta equação nos diz que, numa atmosfera isotérmica, a pressão


decresce exponencialmente com a altitude (ver esboço na Figura 6.6).

Figura 6.6
Exemplo 6.3 – Determine a pressão em um ponto do oceano a 25 m de
profundidade. Considere ρágua do mar=1,03x103 kg/m3 e Patm=1,01x105 Pa.

152 UNIDADE 06
Da Equação 6.6, temos:
P = Patm + ρágua do mar g h = 1,01x105 + 1,03x103 x 9,8 x 25 = 3,53x105 Pa

PRINCÍPIO DE PASCAL

Um fato muito interessante e útil foi observado pelo cientista e


matemático francês Blaise Pascal (1623-1662) e descrito em 1652:

uma variação de pressão aplicada a um fluido confinado


em um recipiente é transmitida integralmente a todos os
pontos do fluido e para as paredes do recipiente.

Este é o enunciado do que chamamos hoje Princípio de Pascal.


Este princípio tem aplicações importantes; ele é a base para a utilização
dos mecanismos hidráulicos de transmissão de força como os encontrados
em sistemas de freios de automóveis e cadeiras de dentistas.

O elevador hidráulico
Figura 6.7 - Blaise Pascal
Fonte: www.geocities.com

Figura 6.8
Fonte: www.kalipedia.com/fisica-quimica/tema/grafico

O elevador hidráulico, uma aplicação do Princípio de Pascal, é


ilustrado na Figura 6.8. Quando é aplicada uma força F1 sobre o pistão de
área A1, uma pressão P = F1/A1 passa a atuar no líquido e é transmitida,
segundo o Princípio de Pascal, integralmente ao líquido e às paredes do
elevador. Desse modo ela também passa a atuar na outra extremidade
do sistema, onde se encontra o pistão de área A2, de modo que podemos
escrever P = F2/A2. Assim,
F1 F2
=
A1 A2
de onde obtemos que
A2
F2 = F1 (6.7)
A1

ou seja, este dispositivo multiplica a força F1 por um fator dado pela


razão entre as áreas dos dois pistões.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 153


Desafio!
Você pode demonstrar para fluidos incompressíveis, ρ constante,
que o trabalho realizado pela força externa sobre o pistão menor é igual
ao executado pelo fluido sobre o pistão maior.

PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES

Você certamente já observou que seu corpo, quando imerso na


água (em uma piscina, por exemplo) parece pesar menos. Por que isso
acontece?
A explicação para este fato é conhecida desde a Antiguidade,
quando o sábio grego Arquimedes (287a.C.-212a.C.) enunciou o seguinte
princípio:

Todo corpo total ou parcialmente imerso em um fluido


sofre a ação de uma força dirigida para cima, de módulo
igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo.

Para entender este princípio e suas


implicações, consideremos uma porção de líquido
em equilíbrio estático contido em um recipiente,
como mostra a Figura 6.10. O peso da porção de
líquido mostrada é equilibrado pela resultante das
forças exercidas sobre ela pelo líquido. Da figura
podemos ver que esta resultante deve apontar
para cima, pois as forças que atuam na parte
Figura 6.9 - Arquimedes inferior da porção de líquido, dirigidas para cima,
Fonte:www.biografiasyvidas. têm intensidade maior que as que atuam na parte
com
superior, que apontam para baixo, em razão da
pressão que, como já sabemos, aumenta com a profundidade. Esta força,
resultante da diferença de pressão, que é dirigida para cima e equilibra o
peso da porção de líquido, é denominada de empuxo (E).
Como a pressão exercida sobre um objeto submerso não depende
do material/substância de que este é feito, podemos imaginar que o
que foi descrito para uma porção do líquido também acontece para um
objeto de mesma forma e tamanho que substitua a porção considerada.
A intensidade da força para cima exercida pelo líquido sobre o objeto é
ainda igual à intensidade do peso do volume de líquido, como na situação
anterior. Assim se confirma o Princípio de Arquimedes, pois o empuxo
que atua no objeto é igual ao empuxo que atuava sobre a porção de

154 UNIDADE 06
líquido de mesmas dimensões. Ou seja,
E = Pfluido deslocado (6.8)

Então, se colocamos um objeto de massa m0 e


densidade ρ0 no interior de um fluido de densidade ρfluido
temos
m0 mfluido deslocado
V0 = Vfluido deslocado ∴ = (6.9)
ρ0 ρfluido

e podemos verificar que:

• se ρ0 > ρfluido ⇒ m0 > mfluido deslocado ∴ P0 > Pfluido deslocado=


E e o objeto, quando solto, afunda;
• se ρ0 < ρfluido ⇒ m0 < mfluido deslocado ∴ P0 < Pfluido deslocado=
E e o objeto, quando solto, sobe até a superfície e flutua em
equilíbrio quando atinge a posição em que o volume de sua
porção submersa é o necessário para deslocar o fluido cujo
peso é igual ao seu peso total;
• se ρ0 = ρfluido ⇒ m0 = mfluido deslocado ∴ P0 = Pfluido deslocado=
E e o objeto, quando solto, fica no interior do fluido onde foi
colocado. Figura 6.10

TENSÃO SUPERFICIAL

O Princípio de Arquimedes aplica-se, como explicitado


anteriormente, a corpos que flutuam parcialmente submersos na superfície
dos fluidos. Entretanto, alguns corpos, como folhas secas e pequenos
insetos, podem ser vistos flutuando na água, por exemplo, sem que
tenham parte alguma submersa. Isto é, eles flutuam por sobre a água.
Nesses casos a flutuação se deve ao fenômeno da tensão superficial do
líquido, ou seja, ao fato de que a superfície do líquido se comporta como
uma membrana submetida à tensão.
Isso ocorre em razão das forças moleculares que atuam de forma
que sobre qualquer molécula no interior do líquido a força resultante é nula;
porém, sobre uma molécula na superfície do líquido há uma resultante
não nula dirigida para dentro do líquido (ver Figura 6.11). Desta forma
o líquido tende a se comportar como uma membrana, minimizando sua
área superficial. Devido a este comportamento é que as gotas de chuva
em queda livre são esféricas.
A tensão superficial γ é definida como a razão entre a força Figura 6.11

FÍSICA FUNDAMENTAL I 155


superficial F e a unidade de comprimento L sobre a qual ela atua, ou

F
γ= (6.10)
L

Como a força superficial é uma força conservativa, podemos


associar sua ação a uma variação da energia potencial ∆U e escrever:
∆U = F ∆x = γ L ∆x (6.11)
onde L é o comprimento da camada superficial e o produto L ∆x é
a variação ∆A que ocorre com a água da superfície quando a esticamos.
Podemos então escrever:
F
∆U = γ ∆A ∴ γ = (6.12)
L

Convém notar que a tensão superficial é desprezível se comparada


às forças de pressão, quando a razão entre a área superficial e o volume
é relativamente pequena.
Por isso, quando lidamos com fluidos em grandes quantidades
desprezamos os efeitos da tensão superficial.

Figura 6.14 - Esfignomanômetro


Figura 6.13 - Manômetro de Fonte: www.omronpf.com.br
tubo
Fonte: www.fisica.ufs.br/Corpo

Figura 6.12 - Barômetro de mercúrio


Fonte:www.guiapescadepraia.com.br/
barometro.htm

156 UNIDADE 06
É bom lembrar!
Você deve complementar suas informações sobre este assunto
nos livros citados nas referências bibliográficas.
Consulte também o site www.if.ufrgs.br/mpef/ para ver algumas
simulações.

A hidrostática, parte da mecânica que tem por objeto de estudo


os fluidos em repouso, é o assunto desta unidade. Inicamos seu estudo
caracterizando os estados físicos da matéria, no intuito de conceituar o
que denominamos de fluido, e apresentamos os conceitos de densidade
e pressão. Em seguida, demonstramos o Princípio Geral da Hidrostática
e discutimos os princípios de Pascal e Arquimedes e algumas de suas
aplicações. Concluímos com algumas noções sobre tensão superficial.

1. Conceitue ou comente:
a) estados físicos da matéria;
b) fluido;
c) densidade;
d) pressão.
2. O que você entende por:
a) Princípio geral da hidrostática;
b) Princípio de Pascal;
c) Princípio de Arquimedes;
d) tensão superficial.

3. Faça uma pesquisa


a. Sobre a vida e a obra dos personagens da história da física citados
nesta unidade;
b. Identifique pelo menos cinco unidades de pressão e dê a definição de
cada uma delas;

FÍSICA FUNDAMENTAL I 157


c. Descubra que tipo de instrumento se usa para medir a pressão: a)
da corrente sanguínea; b) do pneu de uma bicicleta; c) de uma bola de
futebol; d) no compressor de um aparelho de ar-condicionado.
d. Explique por que a água forma glóbulos sobre uma superfície
engordurada, mas não sobre uma limpa.
e. Explique por que fazemos bolhas de sabão e não de água, se o sabão
reduz a tensão superficial da água.
4. Um cubo de gelo flutua em um copo d’água. O nível da água no copo,
quando o gelo derrete totalmente, aumenta, diminui ou permanece igual?
Justifique sua resposta.
5. Os três vasos mostrados na figura abaixo têm a mesma área na base
e água a uma mesma altura. Compare: a) as pressões no fundo de cada
vaso; b) as forças exercidas na base de cada vaso; c) os pesos dos
vasos. Explique seu raciocínio, em cada caso.
6. Dois corpos cúbicos de mesmo tamanho, um de alumínio
e outro de madeira, são postos dentro de um tanque de água
suspensos por dois fios inextensíveis de comprimentos diferentes
(ver Figura 6.15). a) Qual cubo sofre maior força de empuxo? b)
Qual fio sofre maior tensão? c) Qual cubo sofre maior força em
sua face inferior? d) Qual cubo sofre maior diferença de pressão
entre as faces superior e inferior?
7. Um submarino emerge, submerge e se mantém a uma
Figura 6.15 profundidade fixa. Explique.
8. Um tubo em U simples contém mercúrio. Se derramarmos 10 cm de
água no ramo esquerdo, de quanto sobe o mercúrio no lado direito, com
relação ao nível inicial?
9. Considere o elevador hidráulico de um posto de gasolina. O pistão
menor tem área de 16 cm2 e o maior tem área de 2.025 cm2. Determine:
a) a força necessária para sustentar um carro de 15.000 N; b) a distância
percorrida pelo pistão de menor área quando o carro é elevado de 1,50
m.
10. Um bloco de madeira flutua na água com 60% de seu volume
submerso. Quando no óleo, este mesmo bloco fica 90% submerso.
Determine a densidade da madeira e do óleo.

Atenção!
Procure resolver mais exercícios e problemas sobre esse
conteúdo. Para isso, procure os livros referenciados no próximo item.

158 UNIDADE 06
UNIDADE 07

Movimento Ondulatório
Mônica Maria Machado Ribeiro Nunes Castro

FÍSICA FUNDAMENTAL I 159


160 UNIDADE 07
MOVIMENTO
ONDULATÓRIO

ONDAS: CONCEITUAÇÃO

Na natureza existe uma grande variedade de


fenômenos físicos de caráter ondulatório. Vivemos
imersos em um ‘mundo’ de ondas sonoras, luminosas,
de rádio, microondas... Nesta unidade, vamos estudar
alguns desses tipos de ondas e descobrir que embora
sejam muitos, os diferentes tipos de ondas podem ser
descritos de forma semelhante.
O que é uma onda? Seguindo o exemplo da Fonte : www.
maioria das pessoas, que tomam a imagem das ondas ensinofisicaquimica.
que se formam na superfície da água (de um lago, do mar blogspot.com/
etc.) para visualizar este fenômeno, podemos partir desta
imagem para conceituar onda. Quando vemos uma onda na superfície da
água o que observamos na realidade é uma deformação em movimento,
a que chamamos ondulação, do meio líquido que é a água. Ou seja, por
esta imagem, podemos considerar a onda como uma perturbação que se
propaga em um dado meio. Possivelmente esta perturbação teve origem
em uma pedrinha atirada na água.
Assim, formalizando esta imagem, podemos dizer que a onda é uma
perturbação originada quando um sistema é deslocado de sua posição de
equilíbrio que se transmite de uma região a outra deste sistema. De modo
mais amplo, podemos dizer que onda é uma perturbação transmitida
através de um meio ou do vácuo, levando energia e momento de um
ponto a outro do espaço sem transportar matéria.

TIPOS DE ONDAS

Podemos classificar as ondas em relação a diversos aspectos.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 161


Atenção!
As ondas que se propagam na superfície da água não são
longitudinais e nem transversais, mas uma combinação dos dois tipos.

Quanto ao meio de propagação, as ondas podem ser:


Mecânicas – quando precisam de um meio para se propagar.
Nesse caso, a propagação se dá através da vibração das partículas do
meio que oscilam em torno de suas posições de equilíbrio. Exemplos:
ondas sonoras e ondas em uma corda.
Não mecânicas – quando não precisam de um meio para sua
propagação. Exemplos: ondas eletromagnéticas (luminosas, micro-
ondas etc.).
Quanto à relação entre a direção da perturbação e a direção de
propagação as ondas são classificadas em:
Longitudinais – quando a perturbação no meio tem a mesma
direção de propagação da onda. Exemplos: ondas sonoras e ondas em
molas.
Transversais – quando a perturbação tem direção perpendicular
à direção de propagação da onda. Exemplos: ondas em uma corda e
ondas eletromagnéticas.
Quanto ao número de dimensões em que há transmissão de
energia podemos ter ondas unidimensionais, como as ondas que se
propagam em uma corda; bidimensionais, como as que se propagam
na superfície da água de um lago; e tridimensionais,
como as ondas de luz, que se propagam radialmente
a partir da chama de uma vela.
Quanto à duração da perturbação do meio,
podemos ter:
. um pulso – se é produzida uma única
perturbação, por exemplo uma única sacudidela em
Fonte:www.materiaprima.pro.br/
ondas1/introdu1.htm uma corda tensionada;
. um trem de ondas – se é produzido um
número definido de sacudidelas em uma corda tensionada; e
. uma sucessão contínua de ondas – se são produzidas sacudidelas
periódicas de forma contínua.
Por último, dizemos que uma onda é progressiva quando cada
partícula do meio de propagação vibra com a mesma amplitude em
contraposição ao que chamamos de onda estacionária, onde a amplitude

162 UNIDADE 07
é função da posição da partícula. Tomamos esta classificação para
PARA REFLETIR
fazermos uma descrição mais completa do comportamento das ondas
mecânicas. As ondas não mecânicas não são objeto de estudo desta
As ondas sonoras
disciplina. são mecânicas,
longitudinais e
ONDAS PROGRESSIVAS tridimensionais. E
as micro-ondas?

Ondas progressivas: descrição geral

Para o estudo das ondas mecânicas progressivas tomamos


como exemplo uma onda transversal produzida em uma corda ‘ideal’
esticada, na qual a perturbação mantém sua forma e está propagando-
se na direção x com velocidade v (ver Figura 7.3). Desprezamos, assim,
qualquer forma de dissipação de energia.

Figura 7.3

A forma da onda é descrita pela função f(x) = y(x,t) em um dado


instante, no referencial Oxy. A Figura 7.3a mostra um pulso de forma
arbitrária no instante t=0 que, então, podemos representar por
f(x) = y(x, 0) (7.1)
Em um instante posterior t, o pulso deslocou-se para a posição
vt mostrada na Figura 7.3b. Como a forma da onda não muda durante
a propagação, podemos representar a onda neste instante pela mesma
função f(x).
Observe que se tomarmos um novo referencial O’x’y’, coincidente
com o referencial Oxy no instante t=0 e que se move com a velocidade
v acompanhando o pulso, podemos descrever, nesse novo referencial, a
forma do pulso pela função f(x’). Sabendo que a relação entre as abcissas
nos dois referenciais é x’ = x – vt (ver Figura 7.3), no instante t a onda é
descrita por f(x’) = f(x – vt) = y(x,t) (7.2)
de modo que a função f(x – vt) tem a mesma forma em relação ao
ponto x=vt, no instante t, que a função f(x) tem com relação ao ponto x=0
no instante t=0.
Ou seja, para a descrição completa da onda temos que especificar

FÍSICA FUNDAMENTAL I 163


a função de onda, a qual representa a coordenada y de qualquer ponto
em qualquer tempo e, num tempo t fixo, a função y, como f(x), define a
curva que representa a forma real do pulso nesse instante.
Podemos ainda analisar o movimento de um ponto P qualquer do
pulso. Se a onda mantém sua forma ao se propagar, a coordenada yP
também não muda. Para que isso aconteça a coordenada xP deve variar
no tempo de modo que
x – vt = constante (7.3)
Este resultado é válido para qualquer ponto da onda e para todo
instante t.
Diferenciando a Equação 7.3 com respeito ao tempo, obtemos
dx
-v=0
dt
onde
dx
= v (7.4)
dt

Esta velocidade, denominada de velocidade de fase, é a velocidade


da onda. Ela independe de qualquer propriedade da onda, mas depende,
em geral, das propriedades do meio.

Convém notar que quando a onda se move no sentido negativo de


x devemos substituir v por – v. Nesse caso temos
y(x,t) = f(x + vt) (7.5)

Então, se tivermos uma onda progressiva numa corda ela pode se
propagar num único sentido (para a direita ou para a esquerda) enquanto
não atingir a extremidade da corda; quando a extremidade é alcançada,
a onda, em geral, é refletida e passamos a ter duas ondas se propagando
em sentidos opostos. Assim, geralmente temos numa corda finita ondas
progressivas se propagando nos dois sentidos, o que nos leva a ter
y(x,t) = f(x – vt) + g(x + vt) (7.6)
Em situações ideais podemos considerar ondas em um único
sentido se tomarmos uma corda suficientemente longa ou mesmo de
comprimento infinito.

Ondas harmônicas simples

Consideremos agora, o caso particular de uma onda mecânica


transversal que se propaga em uma corda esticada de modo que cada

164 UNIDADE 07
ponto da corda oscila executando um movimento harmônico simples de
mesma frequência e amplitude. As ondas desse tipo são denominadas de
ondas harmônicas e seu perfil é dado por uma função senoidal de forma
que o trem de onda é definido, para o instante t=0, por


y(x,0) = ymax. sen x (7.7)
λ

e encontra-se ilustrado na Figura 7.4. Observa-se que o deslocamento


transversal y tem o mesmo valor nos pontos x, x+λ, x+2λ, etc., ymax é o
deslocamento máximo, chamado de amplitude da onda senoidal, e λ é o
comprimento de onda do trem de ondas e compreende, conforme mostra
a figura, a distância entre dois pontos adjacentes quaisquer na onda que
têm a mesma fase.


Figura 7.4

Se a onda se propaga no sentido positivo do eixo x com velocidade


v, a equação da onda é dada conforme a Equação 7.2, por:


y(x,t) = ymax. sen (x-vt) (7.8)
λ

O tempo necessário para que um ponto qualquer de abcissa x
complete um ciclo do movimento transversal é o período T da onda.
Durante o período a onda percorre a distância vT que corresponde a um
comprimento de onda λ, ou seja
λ = vT (7.9)
Chamamos de frequência (f) da onda o inverso do período, isto é

1
f = (7.10)
T

e sua unidade no SI é o hertz (Hz) ou ciclos por segundo.

Substituindo a Equação 7.9 na Equação 7.8, obtemos:



x t
y(x,t) = ymax. sen 2π ( - ) (7.11)
λ T

FÍSICA FUNDAMENTAL I 165


Definindo as grandezas número de onda (k) por


k = (7.12)
λ

e frequência angular (ω) por


ω = (7.13)
T

podemos escrever a Equação 7.11 na forma mais compacta


y(x,t) = ymax sen (kx – ωt) (7.14)

De modo análogo encontramos a equação para a onda senoidal


que se propaga no sentido negativo do eixo x que é dada por
y(x,t) = ymax sen (kx + ωt) (7.15)

Podemos expressar as equações da onda senoidal numa forma


mais geral. Para a onda que se propaga no sentido positivo escrevemos:
DESAFIO y(x,t) = ymax sen (kx – ωt – ϕ) (7.16)
onde o argumento do seno, (kx – ωt – ϕ), é denominado de fase da
Você saberia onda e ϕ é a constante de fase. Dizemos que duas ondas estão “em
mostrar que a fase” quando têm a mesma fase ou têm fases que diferem por um
velocidade de fase
múltiplo inteiro de 2π. Isto significa que estas ondas executam o mesmo
é dada por
movimento ao mesmo tempo.
ω
v= ? Observe que a constante de fase ϕ desloca a onda para frente, se
K
positiva, ou para trás, se negativa, no espaço ou no tempo, como pode
ser visto se reescrevermos a Equação 7.16 nas formas:

ϕ
y(x,t) = ymax sen [k(x - ) - ωt]
k

ou (7.17)

ϕ
y(x,t) = ymax sen [k x - ω (t + )]
ω

Velocidade de grupo e dispersão

Nos exemplos de ondas já vistos usamos a velocidade de fase na


descrição do movimento de um pulso que mantém sua forma enquanto se
propaga e no movimento de ondas senoidais puras. No caso de termos
pulsos ondulatórios que mudam de forma enquanto se movem (ver Figura

166 UNIDADE 07
7.5), devemos usar a velocidade de grupo – velocidade de transmissão
da energia ou informação numa onda real.

Você sabia que ...


• as cores do arco-íris resultam da dispersão das ondas luminosas
num meio real – gotículas d’água na atmosfera?
• as ondas de luz no vácuo são não dispersivas?

Também usamos velocidade de grupo quando


consideramos ondas periódicas compostas, ou seja,
ondas formadas pela soma ou superposição de uma
série de ondas senoidais de diferentes frequências
ou comprimentos de onda. Nesse caso, cada onda
componente se desloca com sua própria velocidade
de fase, que na maioria dos meios depende da sua
frequência ou do seu comprimento de onda. Quando
a onda se propaga pode haver mudança na relação
entre as fases das ondas componentes ocasionando Figura 7.5

uma correspondente mudança na forma da onda resultante e originando


a dispersão.
Em meios não dispersivos as componentes da onda complexa se
movem todas com a mesma velocidade de fase que, nesse caso, é igual
à velocidade de grupo com a qual se move a própria onda complexa.
Note que somente neste caso podemos nos referir a uma velocidade de
fase para toda a forma de onda.

Determinação da velocidade da onda em meios elásticos

Aplicando os princípios básicos da mecânica newtoniana podemos


calcular a velocidade de uma onda mecânica a partir das propriedades
do meio em que ela se propaga quando o meio é não dispersivo. Neste
caso, como referido anteriormente, podemos considerar a velocidade
da onda como sendo a velocidade de fase de uma onda senoidal, por
exemplo, que não dependerá nem da frequência e nem do comprimento
de onda.
Como ilustração, vamos calcular a velocidade de uma onda
transversal em uma corda esticada utilizando um método geral, a análise
dimensional, já visto na Unidade 1. Para isso, vamos considerar, de
acordo com nossa experiência com cordas, que a velocidade da onda

FÍSICA FUNDAMENTAL I 167


numa corda esticada depende somente da massa de um elemento da
corda e da força entre os elementos vizinhos, que resulta na tração F
a que a corda está submetida. Deste modo, se aumentarmos a tração,
a força entre os elementos da corda aumenta e a velocidade da onda
também deve aumentar. Tomando a densidade linear de massa μ, ou
seja, a massa por unidade de comprimento, podemos usar a análise
dimensional e escrever
v α Fa μb
onde a e b são expoentes a determinar. Expressando esta relação
em termos dos símbolos dimensionais da massa M, do comprimento L e
do tempo T, fica
[v] = [Fa] [μb]
L T – 1 = (M L T – 2 )a (M L- 1)b
L T – 1 = Ma + b La – b T – 2 a
Igualando as potências de M, L e T e resolvendo o sistema, obtemos
a = ½ e b = - ½ . Então, introduzindo a constante de proporcionalidade C,
podemos escrever:
v = C F½ μ–½= C
ou, na forma de apresentação mais comum:

F
v=C
μ

A constante C pode ser obtida pela experimentação ou pela


análise mecânica (que você encontra nos livros referenciados ao final
da Unidade). Ambos os métodos dão o valor de C igual à unidade. Então

F
v = (7.18)
μ

Velocidade transversal das partículas do meio

Considerando ainda ondas transversais em uma corda esticada,


temos a observar que a velocidade da onda não caracteriza o movimento
transversal das partículas da corda. Para determinar a velocidade
transversal de uma partícula da corda em particular, devemos lembrar
que a partícula descreve um movimento na direção de y (perpendicular
à direção de propagação da onda), ou seja, precisamos da variação da
coordenada y com o tempo.
Supondo que a onda na corda seja senoidal com a forma da
Equação 7.16 e representando a velocidade da partícula por u(x,t),

168 UNIDADE 07
podemos escrever:

∂y ∂
u(x,t) = = [ymax sen (kx - ωt - ϕ)]
∂t ∂t

u(x,t) = ymax ω cos (kx - ωt - ϕ) (7.19)


A aceleração transversal da partícula é, então:

∂2 y ∂u ∂
a(x,t) = = = [- ymax ω cos (kx - ωt - ϕ)
∂t 2
∂t ∂t

a(x,t) = - ymax ω2 sen (kx - ωt - ϕ)


a(x,t) = - ω2 y (7.20)

Assim, confirmamos que cada partícula da corda percorrida pela
onda senoidal executa um Movimento Harmônico Simples na direção
perpendicular à propagação da onda.
Exemplo 7.1 – Uma onda senoidal transversal é gerada em uma
corda aplicando-se em uma de suas extremidades um movimento contínuo
e repetido regularmente 130 vezes por segundo, para cima e para baixo,
que percorre a distância total de 1,5 cm. A corda tem densidade linear
de 0,20 kg/m e está sujeita a uma tração de 90 N. Determine, para este
movimento ondulatório: a) amplitude; b) frequência; c) velocidade; d)
comprimento de onda; e) a equação da onda, considerando que ela se
move no sentido positivo de x e que em t=0, o elemento da corda em x=0
está em sua posição de equilíbrio y=0 movendo-se para baixo.
a) Se o deslocamento transversal total é de 1,5 cm, a corda afasta-
se de ½ (1,5 cm) = 0,75 cm, para cima e para baixo, de sua posição de
equilíbrio; ou seja, sua amplitude ymáx é 0,75 cm.
b) Como o movimento se repete 130 vezes por segundo, temos
que a frequência f é 130 Hz.
c) A velocidade da onda é dada pela Equação 7.18,

F 90
v= = = 21 m/s
μ 0,20

d) Como temos v = λ f, o comprimento de onda é dado por:


v 21
λ= = = 0,16 m = 16 cm
f 130

e) A expressão geral para a onda senoidal transversal que se


move no sentido positivo de x é dada pela Equação 7.16

FÍSICA FUNDAMENTAL I 169


y(x,t) = ymax sen (kx – ωt – ϕ). ∂y
Pelas condições de contorno iniciais (y = 0 e < 0 para x = 0 e
∂t
t = 0), obtemos:
ymax sen (– ϕ) = 0 e – ymax ω cos (– ϕ) < 0
de modo que a fase ϕ pode ser considerada nula ou qualquer inteiro
múltiplo de 2π. Deste modo esta onda é descrita pela equação:
y(x,t) = ymax sen (kx – ωt).
Substituindo os valores que temos,
ymax = 0,75 cm; k = 2 π/ λ = 0,39 rad/cm; ω = 2 π f = 816 rad/s,
podemos escrever:
y(x,t) = 0,75 sen (0,39 x – 816 t)
onde x e y estão em centímetros e t está em segundos.

PRINCÍPIO DA SUPERPOSIÇÃO E INTERFERÊNCIA

Você já percebeu, certamente, que nós ouvimos várias pessoas


falarem ao mesmo tempo. Embora não seja agradável. Com certa
atenção somos capazes de, inclusive, reconhecer, dentre todas, uma em
particular!
Isso acontece porque, quando duas ou mais ondas progressivas
passam por um dado ponto em um determinado instante, a função de
onda resultante é a soma algébrica das funções de onda de cada onda
individual. Esse é o Princípio da Superposição.
Para duas ondas que percorrem simultaneamente uma mesma
corda esticada e que têm, quando se movimentam sozinhas
nessa mesma corda, as funções de onda dadas por y1(x, t) e
y2(x,t), podemos expressar o Princípio da Superposição por
y(x,t) = y1(x, t) + y2(x,t). (7.21)

Em geral, ondas com pequenas amplitudes obedecem a
esse Princípio e são chamadas de ondas lineares. Quando há
superposição de ondas, dizemos que ocorre o fenômeno da
interferência (ver Figura 7.6).
Para estudar este fenômeno consideremos duas ondas
Figura 7.6
senoidais, de mesma amplitude e mesmo comprimento de onda,
que se propagam no sentido positivo de x com a mesma velocidade. Para
uma das ondas a constante de fase é ϕ1 e para a outra é ϕ2. Escrevemos
as equações de onda como:
y1(x,t) = ymax sen (kx – ωt – ϕ1)

170 UNIDADE 07
e (7.22)
y2(x,t) = ymax sen (kx – ωt – ϕ2)

Aplicando o Princípio da Superposição a onda resultante é dada


por:
y(x,t) = y1(x, t) + y2(x,t)
= ymax sen (kx – ωt – ϕ1) + ymax sen (kx – ωt – ϕ2)

Usando a identidade trigonométrica para a soma dos senos de


dois ângulos,
sen a + sen b = 2 sen ½ (a + b) cos ½ (a – b) (7.23)
obtemos:
∆ϕ
y(x,t) = 2 ymax cos sen (kx - ωt - ϕ') (7.24)
2
ϕ2 + ϕ1
onde: ∆ϕ = ϕ 2 - ϕ1 é a diferença de fase entre as duas ondas e ϕ ’=
2

Esta nova onda tem a mesma frequência das componentes, mas


amplitude de 2ymax cos (∆ϕ/2). Quando a diferença de fase entre as
ondas componentes é zero (∆ϕ = 0), suas cristas e vales coincidem e
a amplitude da nova onda é o dobro da amplitude de cada onda; temos
uma interferência construtiva total (Figura 7.7a). Quando a diferença de
fase entre as ondas componentes é 0), suas cristas e vales coincidem e
a amplitude da nova onda é o dobro da amplitude de cada onda; temos
uma interferência construtiva total (Figura 7.7a). Quando a diferença de
fase entre as ondas componentes é 0), suas cristas e vales coincidem e
a amplitude da nova onda é o dobro da amplitude de cada onda; temos
uma interferência construtiva total (Figura 7.7a). Quando a diferença de
fase entre as ondas componentes é ∆ϕ = 180º, a crista de uma onda
coincide com o vale da outra e a amplitude da onda resultante é nula;
temos então uma interferência destrutiva total (ver Figura 7.7b).
Observe que quando adicionamos ondas de mesmo
comprimento de onda que têm amplitudes diferentes, a onda
resultante terá o mesmo comprimento de onda, mas a amplitude
resultante não tem forma simples como no caso anterior (Equação
7.24); não acontecerá interferência destrutiva total, somente
parcial.

Figura 7.7

FÍSICA FUNDAMENTAL I 171


ONDAS ESTACIONÁRIAS

Quando produzimos uma onda progressiva em um espaço


confinado, como numa corda esticada fixa nas duas extremidades, a onda
se reflete ao atingir uma das extremidades e obtemos, na corda, ondas
que se propagam em sentidos opostos. Como se dá a superposição
destas ondas?
A Figura 7.8 mostra a representação gráfica de duas ondas
progressivas em uma mesma corda e que se movem em
sentidos opostos. Também está representado o padrão da
onda resultante. São mostradas as configurações para os
instantes t = 0, t = ¼ T, t = ½ T, t = ¾ T e t = T. É possível
observar pontos na corda onde o deslocamento é sempre nulo;
estes pontos são chamados de nós e estão indicados como
pontos na figura. Entre os nós existem pontos, chamados
de antinós ou ventres, onde o deslocamento oscila com
amplitude máxima. Ao padrão de nós e antinós chamamos de
onda estacionária.
Para encontrar a expressão matemática que
representa a função de onda de uma onda estacionária,
tomamos duas ondas de mesma frequência, mesmo
comprimento de onda e mesma amplitude, mas que se
propagam em sentidos opostos em um meio, representadas
pelas equações:
y1(x,t) = ymax sen (kx – ωt) e y2(x,t) = ymax sen (kx + ωt).

Figura 7.8 Pelo Princípio da Superposição a onda resultante pode


ser escrita como y(x,t) = y1(x, t) + y2(x,t)
= ymax sen (kx – ωt) + ymax sen (kx + ωt).
Novamente usando a relação trigonométrica dada pela Equação
7.23, obtemos:
y(x,t) = (2 ymax sen kx) cos ωt . (7.25)
Esta é a expressão da função de onda de uma onda estacionária.
Da Equação 7.25 podemos observar que:
• toda partícula da corda vibra com um MHS de mesma frequência
(ω);
• a amplitude varia com a coordenada x de cada partícula,
tendo valor máximo igual a 2ymax nos pontos onde sen kx = ± 1, que
correspondem a

172 UNIDADE 07
π 3π 5π
kx = , , ,...
2 2 2

de modo que

λ 3λ 5λ λ
x= , , ,... = n onde n=1, 2, 3,... (7.26)
4 4 4 4

são os antinós; e tendo valor mínimo igual a zero nos pontos onde sen kx
= 0 que correspondem a
kx = π, 2π, 3π, ...
de modo que

λ 3λ λ
x= , λ, ,... n onde n=1, 2, 3,... (7.27)
2 2 2

são os nós.

Atenção!
A separação entre nós e antinós de uma onda estacionária é de
¼ λ.

Observemos que como os nós estão em repouso (y = 0) não há


transmissão de energia, ao longo da corda, nesses pontos. Porém a
energia permanece “estacionária” na corda, alternando-se entre energia
cinética de vibração, quando as partículas da corda estão com velocidade
máxima, passando pela posição de equilíbrio simultaneamente, ou
seja, a corda está esticada, e energia potencial elástica, quando a
corda está momentaneamente em repouso, todos os antinós estão com
deslocamento máximo.

Exemplo 7.2 – Duas ondas cujas funções de onda são


y1 = 2 sen (3x – 2t) e y2 = 2 sen (3x + 2t),
onde x e y estão em centímetros e t em segundos, dão origem a uma
onda estacionária. Determine: a) o deslocamento máximo do movimento
em x = 3 cm; b) as posições dos nós e antinós da onda formada.
a) Quando duas ondas se superpõem, resulta uma onda
estacionária cuja função é dada pela Equação 7.25, com ymáx = 2 cm e k
= 3 cm – 1.
y(x,t) = (2 ymax sen kx) cos ωt = (4 sen 3x) cos ωt
Então, o deslocamento máximo em x= 3,0 cm é dado por

FÍSICA FUNDAMENTAL I 173


ymáx = 4 sen 3x]x=3,0 = 1,65 cm
b) Para encontrar as posições dos nós e antinós temos que ter o
comprimento de onda. Como temos
k = 2π/ λ = 3 cm – 1, obtemos λ = (2π/3) cm.
Então, pela Equação 7.26, vemos que os antinós localizam-se em:

π
x=n =n( ) cm (n = 1, 2, 3, …)
6

E pela Equação 7.27 vemos que os nós localizam-se em:

π
x=n =n( ) cm (n = 1, 2, 3, …)
3

RESSONÂNCIA

Tomemos novamente, para exemplo, uma onda estacionária


produzida em uma corda presa em suas extremidades. Na Figura 7.9
são mostrados quatro diferentes padrões que podem ocorrer, produzidos
com a mesma velocidade de fase.
Da relação v = λ f podemos inferir que se v é constante e λ varia
(como visto na figura), também f deve ser diferente para cada um dos
padrões mostrados. Para encontrar as frequências que correspondem
à produção dos padrões possíveis observemos que a distância entre os
nós em uma onda estacionária é meio comprimento de onda; de modo
que para termos uma onda estacionária em uma corda é necessário que
o comprimento da corda (L) seja igual a um número inteiro de meios
comprimentos de onda, isto é:

λ 2L
L=n ou λn = (7.28)
2 n

onde n=1, 2, 3,..., que em termos de frequência fica:


v v
fn = =n = n f1 (7.29)
λn 2L

Estas são as frequências naturais da corda; frequências que


devem ser aplicadas para a produção de ondas estacionárias nesse
sistema oscilatório. As configurações mostradas na Figura 7.9 são os
modos normais de vibração para as frequências f1, f2, f3 e f4. A frequência
mais baixa, n=1, é chamada de frequência fundamental e as demais,
Figura 7.9 múltiplas de f1, são os harmônicos; o conjunto se chama série harmônica.

174 UNIDADE 07
Sempre que é aplicada a um sistema oscilatório como uma corda,
por exemplo, uma força com frequência igual a uma das frequências
naturais do sistema, uma onda estacionária é produzida e o sistema
começa a se mover com grande amplitude. Dizemos então que o sistema
está em ressonância.

Desafio!
Você poderia citar exemplos de como utilizamos a ressonância em
nosso cotidiano?

A ressonância foi descoberta por Galileu Galilei no início do


século XVII, quando estudava o movimento dos pêndulos. Ela ocorre
em todos os tipos de vibrações ou ondas, sejam elas mecânicas ou
eletromagnéticas, e tem aplicação sempre que há possibilidade de troca
de energia em sistemas oscilantes. O fenômeno da ressonância, além de
muito importante na produção dos sons musicais, tem grande aplicação
nas telecomunicações e, muitas vezes, acontece naturalmente.

Nesta uniade abordamos algumas noções necessárias ao


estudo dos fenômenos ondulatórios. Após discutirmos o que são ondas,
apresentamos as classificações que são ondas, apresentamos as
classificações que são mais comuns e exemplificamos os diversos tipos
de ondas. Tomando as ondas mecânicas para ilustração, estudamos o
comportamento das ondas progressivas em geral, das ondas harmônicas
simples e das ondas estacionárias. Discutimos ainda o Principio da
superposição, a interferência em ondas mecânicas e o fenômeno da
ressonância.

1. Conceitue ou comente:
a) onda;
b) onda progressiva;
c) onda estacionária.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 175


2. O que você entende por:
a) Princípio da superposição?
b) ressonância?
3. Faça uma pesquisa e dê exemplos de situações naturais ou artificiais
onde está presente o fenômeno da ressonância.
4. Dois pulsos de larguras iguais a 3 cm e alturas de 3 cm e 6 cm se
propagam ao longo de uma corda em sentidos opostos, como mostra a
Figura 7.10. Se a velocidade da onda é de 3 cm/s e os pulsos encontram-
se inicialmente a 9 cm um do outro, esboce a configuração da corda após
1,5 s; 2,0 s; 2,5 s; 3,0 s; 3,5 s.

5. A equação de uma onda transversal progressiva numa corda é: y = 15


sen [π (0,02 x – 2,00 t)] onde x e y são medidos em centímetros e t em
segundos. Determine para essa onda: a) a amplitude; b) o comprimento
de onda; c) a velocidade; d) a frequência.

Atenção!
Procure resolver mais exercícios e problemas sobre esse
conteúdo. Para isso, procure os livros referenciados no próximo item.

6. Escreva a equação para uma onda progressiva no sentido negativo ao


longo do eixo x, que tem amplitude de 1,15 cm, frequência de 630 Hz e
velocidade 315 m/s.
7. De quanto deve aumentar a tração em uma corda para que a velocidade
de uma onda que se propaga a 225 m/s passe a se propagar com 260
m/s?
8. Uma corda de comprimento 4,18 m e massa igual a 61 g está vibrando
presa pelas duas extremidades e sujeita a uma tração de 80,0 N.
Determine: a) a velocidade das ondas nessa corda; b) o comprimento
de onda da onda estacionária de maior comprimento possível; c) a
frequência dessa onda.

176 UNIDADE 07
UNIDADE 08

Temperatura e Calor
Mônica Maria Machado Ribeiro Nunes Castro
178 UNIDADE 08
TEMPERATURA E CALOR

DESCRIÇÃO DE SISTEMAS TERMODINÂMICOS

Você saberia dizer quantas moléculas tem um copo d’água?


Embora você não saiba exatamente, sabe que é um número muito grande,
não é mesmo? Se tivéssemos que dar uma descrição microscópica para
um sistema como esse, tratando-o como a um sistema mecânico, ou seja,
aplicando as Leis de Newton, teríamos que especificar em um instante t=0
a posição e a velocidade de cada molécula (tratada como partícula) para
podermos, resolvendo as equações de movimento, determinar a posição
e a velocidade de cada uma delas em um instante posterior. Daí seria
possível determinar outras informações para o estudo das propriedades
mensuráveis do sistema. Como o número de moléculas é muito grande,
este tratamento seria muito extenso e complexo.
Por outro lado, podemos tratar este sistema como um sistema
termodinâmico e fazer dele o que chamamos de descrição macroscópica,
que envolve um número bem pequeno de parâmetros, como a pressão, o
volume e a temperatura, que são grandezas físicas macroscópicas cujos
valores médios representam grandezas físicas microscópicas. Essa
descrição se aplica somente a sistemas com um número suficientemente
grande de partículas e é particularmente adequada ao estudo dos gases.

TEMPERATURA E EQUILÍBRIO TÉRMICO



Em geral, consideramos como sistema termodinâmico uma
porção de matéria contida em um recipiente cujas paredes, fixas ou
móveis, podem permitir ou não sua interação com o meio externo que o
cerca, sua vizinhança. Denominamos de sistema isolado ao sistema que
não troca nem energia nem matéria com sua vizinhança; este sistema

FÍSICA FUNDAMENTAL I 179


deve então estar contido em um recipiente de paredes adiabáticas. Essa
SAIBA MAIS
é uma situação ideal, mas podemos tomar como adiabáticas paredes
constituídas por placas de isopor ou madeira que sejam espessas, rígidas
Equilíbrio térmico
– estado em e impermeáveis.
que nenhuma Quando as paredes do recipiente permitem trocas de energia
das variáveis são ditas não adiabáticas. Particularmente, quando permitem trocas de
macroscópicas calor são chamadas diatérmicas. Quando dois ou mais sistemas estão
do sistema muda
separados por paredes diatérmicas dizemos que estão em contato
com o passar do
tempo. térmico.
Um sistema isolado sempre tende a um estado em que nenhuma
das variáveis macroscópicas muda com o passar do tempo. Quando
ele atinge esse estado dizemos que ele está em equilíbrio térmico.
Isto não quer dizer que microscopicamente o sistema esteja estático,
ou seja, que cesse o movimento de suas moléculas. Na realidade, num
gás em equilíbrio térmico, por exemplo, as moléculas se encontram em
constante movimento desordenado (agitação térmica). Isto faz com que
vários estados microscópicos do sistema corresponda a um único estado
macroscópico.
Consideremos dois sistemas isolados A e B. Após
algum tempo, os dois atingem o equilíbrio térmico (ver Figura
8.1a), independentemente um do outro. Se colocarmos os
sistemas A e B em recipientes diatérmicos, permitindo o contato
térmico entre eles, em geral eles evoluirão para um novo
estado de equilíbrio térmico, onde as variáveis macroscópicas
de A e de B não mais mudarão. Dizemos então que A está em
equilíbrio térmico com B (ver Figura 8.1b).
Consideremos agora três sistemas: A, B e C. Sabemos
que A e B estão separados por uma parede adiabática; que
A está em equilíbrio térmico com C e que B também está
em equilíbrio térmico com C. O que será que acontece se
permitirmos o contato térmico entre A e B? O que se observa
Figura 8.1 é que quando fazemos isso os sistemas A e B não mudam suas variáveis

macroscópicas, isto é, A e B também estão em equilíbrio térmico.


Este resultado é conhecido como Lei Zero da Termodinâmica e
pode ser expresso como:
dois sistemas em equilíbrio térmico com um terceiro estão em
equilíbrio térmico entre si.
A compreensão da Lei Zero da Termodinâmica nos leva à definição
de temperatura de um sistema termodinâmico, pois se verifica, através

180 UNIDADE 08
da experimentação, que sempre que dois sistemas estão em equilíbrio
térmico eles têm a mesma temperatura. Isto nos leva a pensar na
temperatura como uma propriedade determinante do equilíbrio térmico
entre sistemas, de modo que podemos afirmar que :
dois sistemas que estão em equilíbrio térmico estão à mesma
temperatura.

Atenção!
O tempo necessário para que dois sistemas atinjam o equilíbrio
térmico depende de suas propriedades e das formas pelas quais eles
podem trocar energia.

MEDIÇÃO DA TEMPERATURA

Como propriedade de um sistema físico, a temperatura precisa


SAIBA MAIS
ser medida. A Lei Zero da Termodinâmica nos permite pensar em um
meio de criar um instrumento de medida para esta grandeza. No entanto,
Termômetro
o estabelecimento de uma escala de medição para a temperatura não
– instrumento
obedece ao procedimento usual onde definimos primeiramente uma para medir
unidade de base e depois criamos um modo de comparação com essa temperatura.
medida (veja a Unidade 1). O que fazemos é escolher uma substância Exemplos:
termômetro
(chamada substância termométrica) que tenha uma propriedade
clínico,
(chamada propriedade termométrica) que varie quando a temperatura termômetro
varia e medimos essa propriedade. bimetálico,
Várias são as propriedades físicas que variam com a temperatura. pirômetro óptico.
São exemplos: o comprimento de uma lâmina de metal, a cor do filamento
de uma lâmpada, a resistência elétrica de um condutor, a pressão
de um gás mantido a volume constante e o volume de um líquido. E
vários, então, foram os termômetros construídos, pois a escolha de
uma substância termométrica e propriedade correspondente leva a uma
escala de temperatura específica para aquela substância, que em geral
não concorda com outras escalas definidas independentemente.
Para sanar esta dificuldade de ter vários instrumentos dando
valores diferentes para uma mesma temperatura, é necessário usar
padrões para a escolha da substância termométrica, da propriedade
termométrica e da relação entre esta propriedade termométrica e uma
escala de temperatura que seja aceita por todos. Tomando uma escala
padrão, podemos fazer, por comparação, a calibração de qualquer escala
particular construída.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 181


Escalas termométricas

Mas, como construirmos uma escala para medida


da temperatura? De modo geral, tomamos um sistema que
tenha uma propriedade termométrica X que possa ser medida
e expressamos a temperatura como uma função desta
propriedade através de uma relação linear dada por:
T(X) = a X + b (8.1)
Figura 8.2 onde a e b são constantes a determinar. Esta relação
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/ demonstra o fato de que um intervalo de temperatura ∆T
Term%C3%B4metro
corresponde à mesma variação ∆X no valor da propriedade
termométrica. Em seguida escolhemos dois pontos para calibração da
escala, definimos suas temperaturas T1 e T2 e medimos os valores X1 e
X2 correspondentes para a propriedade termométrica.
O termômetro clínico comum (ver Figura 8.2), constituído por um
bulbo e um capilar de vidro que contém uma quantidade fixa de mercúrio,
toma por substância termométrica o mercúrio e como propriedade
termométrica o volume de mercúrio contido no tubo capilar de vidro. No
Brasil, a escala comumente utilizada neste tipo de termômetro é a escala
Celsius.
A escala Celsius, utilizada na maioria dos países do mundo para
medidas domiciliares, comerciais e grande parte das medidas científicas,
é um exemplo de escala linear. Nela, os pontos fixos de calibração são:
o ponto de congelamento normal da água, definido como 0ºC, e o ponto
de ebulição normal da água, definido como 100ºC. O intervalo entre as
marcas dos pontos de gelo e vapor é dividido em 100 partes iguais, ou
graus, de forma que as outras temperaturas da escala são obtidas por
interpolação ou extrapolação.
Uma outra escala, ainda muito utilizada nos países de cultura
inglesa, é a escala Fahrenheit. Esta escala tem os pontos fixos de 32ºF
e 212ºF para o congelamento e ebulição da água, respectivamente.
Note que o ‘grau Fahrenheit’ é menor que o ‘grau Celsius’. Você sabe
demonstrar isso?
A relação entre as escalas Celsius e Fahrenheit é dada por

9
T F= Tc + 32 (8.2)
5

onde TF é a temperatura lida na escala Fahrenheit e TC é a temperatura


lida na escala Celsius. Esta relação é encontrada quando fazemos

182 UNIDADE 08
corresponder as temperaturas dos pontos fixos definidos para cada
escala.
Devemos observar que, embora bastante usados, os termômetros
calibrados dessa maneira apresentam discrepâncias entre suas
medidas. É desejável a adoção de um termômetro que utilize uma escala
independente da substância termométrica usada.

A escala de temperatura absoluta

Verificou-se experimentalmente que as temperaturas medidas com


termômetros a gás têm boa concordância e são quase independentes
da substância usada, particularmente o termômetro de gás a volume
constante. No termômetro de gás a volume constante a propriedade
termométrica utilizada é a variação de pressão (P) com a temperatura (T)
de um volume fixo de gás.

Figura 8.3
Fonte: www.ufsm.br/gef/Termodinamica04.htm

Como mostra a Figura 8.3, no termômetro de gás a volume


constante o gás é colocado em um bulbo ligado por um tubo capilar a um
manômetro de mercúrio de tubo aberto. O tubo flexível permite manter o
nível do ramo esquerdo em uma marca fixa definindo o volume constante
ocupado pelo gás. O bulbo com o gás é colocado em contato térmico com
o sistema cuja temperatura se quer medir para que se faça a medida da
pressão do gás no manômetro. Quando aquecemos o gás, provocamos
uma elevação da pressão que faz com que a altura da coluna de mercúrio
aumente. Quando ao contrário, resfriamos o gás, reduzimos sua pressão
e, portanto, a altura da coluna de mercúrio diminui. Assim podemos
escrever a Equação 8.1 como
T(P) = a P + b (8.3)
onde a e b são constantes que podem ser determinadas
experimentalmente.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 183


Atenção!
No ponto tríplice, o gelo, a água e o vapor coexistem em equilíbrio.

Para calibrar um termômetro de gás a volume constante medimos


as pressões em duas temperaturas diferentes (0ºC e 100ºC), assinalamos
estes pontos sobre um gráfico e desenhamos uma linha reta, ligando-
os. Repetições desse procedimento para diferentes gases permitiram a
observação de que para uma pressão absoluta do gás muito próxima
de zero, deve existir uma temperatura hipotética igual a – 273,15ºC.
Esse valor depende somente das propriedades dos gases e não das
propriedades de um gás em particular.
Essa temperatura, encontrada por extrapolação, é usada como
base para a definição de uma escala cujo zero corresponde a essa
temperatura, que foi denominada escala Kelvin de temperatura ou escala
de temperatura termodinâmica. Assim, na escala Kelvin, um dos pontos
de calibração corresponde ao valor zero da propriedade termométrica
(b=0) na Equação 8.3 e o outro é a temperatura do ponto tríplice da
água, fixada por acordo internacional em Ttríplice= 273,16 K. Deste
modo temos:

P
T(P) = (273,16 K) (8.4)
Ptríplice

O kelvin (K) é a unidade SI de base para temperatura, como visto


na Unidade 1, sendo definido como a fração 1/273,16 da temperatura
termodinâmica correspondente ao ponto tríplice da água.
A relação da escala Kelvin de temperatura com a escala Celsius é
TK = TC + 273,15 (8.5)
onde TK é a temperatura lida na escala Kelvin e TC é a temperatura
lida na escala Celsius. Podemos perceber que a temperatura 0 K = -
273,15 ºC e que 273,15 K = 0 ºC.

Figura 8.4
A Figura 8.4 traz a relação entre as escalas Celsius, Fahrenheit e
Kelvin. Nela, as frações dos graus das temperaturas foram aproximadas
para os graus inteiros mais próximos. Observando os valores estabelecidos
para os pontos fixos de congelamento e ebulição da água dessas escalas,
podemos ver que as escalas Celsius e Kelvin são centígradas e têm o
mesmo tamanho para o grau. Também podemos estabelecer, tomando
as temperaturas TC, TF e TK para um dado corpo nas escalas Celsius,
Fahrenheit e Kelvin, respectivamente, as seguintes proporções:

184 UNIDADE 08
Tc - 0ºC TF - 32ºF TK - 273 K
= =
100ºC - 0ºC 212ºF - 32ºF 373 K - 273 K

e, de forma simplificada:

Tc TF - 32ºF TK - 273 K
= = (8.6)
5ºC 9ºF 5K

Com o fim de conseguir uma maior praticidade e precisão nas


medidas de temperatura foi adotada, em 1927, pela 7ª. Conferência Geral
dos Pesos e Medidas, uma escala baseada em fenômenos de mudança
de estado físico de substâncias puras. Esta escala, denominada de
Escala Internacional de Temperatura, além de estabelecer um conjunto
de pontos fixos e instrumentos de medida, compreende um conjunto
de procedimentos visando fornecer a melhor aproximação possível da
escala Kelvin. A Escala Internacional de Temperatura que está em vigor
foi adotada em 1990.

DILATAÇÃO TÉRMICA

Nossa experiência cotidiana ensina que a maior parte dos
materiais, quando aquecidos, sofre expansão ou dilatação térmica em
suas dimensões e que essa dilatação não ocorre na mesma medida
para todos os materiais. Fazemos uso disso quando abrimos um pote
de vidro com tampa de metal que não quer desenroscar, simplesmente
colocando-o sob uma corrente de água quente; a tampa de metal dilata
um pouco mais em relação ao vidro. O mesmo acontece nos termômetros
clínicos comuns já descritos; o líquido em seu interior, o mercúrio, dilata
mais do que os recipientes de vidro de que são feitos.
A dilatação térmica em sólidos pode ser compreendida mais
facilmente se imaginarmos a matéria como um arranjo de átomos mantidos
em uma rede cristalina como se estivessem presos por molas. Os átomos
vibram em torno de sua posição de equilíbrio a qualquer temperatura.
Quando a temperatura por algum motivo é aumentada, a amplitude do
movimento de vibração dos átomos também aumenta, resultando em um
aumento de suas posições médias que leva ao aumento das dimensões
do sólido como um todo.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 185


Dilatação linear

Atenção!
Para um dado material, α depende da temperatura.

Embora a dilatação ocorra em todas as dimensões


do sólido simultaneamente, dependendo da forma do objeto
pode ser de interesse tomarmos a dilatação em apenas uma
dimensão, como no caso de barras metálicas ou formas
semelhantes (ver Figura 8.5).
Suponhamos que uma barra de comprimento L0
quando à temperatura T0, seja aquecida até a temperatura
Figura 8.5 T, passando a ter o comprimento L. Observamos,
Fonte: http://br.geocities.com experimentalmente, que quando esta variação de temperatura
∆T (= T – T0) não é muito grande (< 100 ºC) a variação ∆L (= L – L0)
correspondente no comprimento da barra é diretamente proporcional a
∆T e, também, ao comprimento inicial da barra, L0. Podemos expressar
este fato através da equação
∆L = α L0 ∆T (8.7)
onde α, a constante de proporcionalidade, é característica do
material da barra e dependente da temperatura. Mais propriamente, α
descreve as propriedades de expansão de um material em particular, e
é chamada de coeficiente de dilatação linear. Explicitando α na Equação
8.6, temos:

∆L/L0
α = (8.8)
∆T
de modo que podemos interpretar o coeficiente de dilatação linear α
como uma variação fracionária do comprimento por grau de variação na
temperatura e notar que tem por unidades K – 1 ou (ºC) – 1.
Podemos também reescrever a Equação 8.6 para explicitar o novo
comprimento da barra. Tomamos
L – L0 = α L0 ∆T ∴ L = L0 + α L0 ∆T
então:
L = L0 (1 + α ∆T). (8.9)

No Quadro 8.1 estão listados os valores médios de α para
diferentes materiais.

186 UNIDADE 08
Quadro 8.1 - Coeficiente de dilatação linear

MATERIAL COEFICIENTE DE
DILATAÇÃO LINEAR
α(10-6 por ºC-1)
Chumbo 29
Alumínio 24
Bronze/Latão 19
Cobre 17
Concreto 12
Vidro (comum) 9
Vidro (pyrex) 3,2

Fonte: Serway (1996)

Dilatação volumétrica

Os sólidos isotrópicos dilatam-se igualmente em todas as suas


dimensões. Experimentalmente, também se observa que se o volume
do sólido à temperatura T0 é V0 (= L03) e este sólido sofre uma variação
de temperatura ∆T não muito grande, de modo que passa a ter, em uma
temperatura T=T0+∆T, um volume V=V0+∆V, o aumento de volume ∆V
é proporcional à variação de temperatura ∆T e ao volume inicial V0.
Podemos escrever, então
∆V = β V0 ∆T (8.10)
onde β, a constante de proporcionalidade, é o coeficiente de
dilatação volumétrica, que é característico do material e dependente da
temperatura.

Da Equação 8.9 podemos escrever:

∆V/V0
β = (8.11)
∆T

de modo que podemos entender o coeficiente de dilatação volumétrica β


como a variação fracionária do volume por grau de temperatura e notar
que tem por unidades K – 1 ou (ºC) – 1. O Quadro 8.2 traz os valores
médios de β para diferentes materiais.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 187


Quadro 8.2 - Coeficiente de dilatação volumétrica

MATERIAL COEFICIENTE DE DILATAÇÃO


VOLUMÉTRICA β (10-6 por ºC-1)
Álcool etílico 750
Glicerina 490
Mercúrio 180
Alumínio 72
Latão 60
Cobre 51
Vidro (comum) 27
Vidro (pyrex) 12

Fonte: Young & Freedman (2008)

De modo análogo ao já feito para a dilatação linear, podemos


expressar o novo volume por
V = V0 (1 + β ∆T). (8.12)
Quando lidamos com formas sólidas em que duas das dimensões
do objeto sofrem dilatação muito mais significativa do que a terceira,
podemos definir um coeficiente de dilatação superficial δ. As equações
são semelhantes às escritas para a dilatação linear e para a dilatação
volumétrica:

Desafio!
Você pode demonstrar sem muito esforço que, para pequenas
variações de temperatura, temos:
β = 3 α e δ = 2 α.

∆A = δ A0 ∆T (8.13)

∆A/A0
δ = (8.14)
∆T

A = A0 (1 + δ ∆T) (8.15)
onde A0 é a área do objeto à temperatura T0 e A é a área à temperatura
T.
Convém notar que a dilatação volumétrica ocorre tanto em
sólidos quanto em fluidos, sendo que os líquidos se dilatam bem

188 UNIDADE 08
menos que os gases. Normalmente, os líquidos se expandem com o
aumento da temperatura, mas, a água, e alguns poucos materiais, têm
comportamento anômalo para um determinado intervalo de temperatura.
Quando variamos a temperatura da água de 0ºC a 4ºC, vemos que seu
volume diminui, ou seja, nesse intervalo de temperatura o coeficiente de
dilatação volumétrica da água é negativo. Acima de 4ºC a água aumenta
de volume com o aumento da temperatura e, portanto, a densidade
máxima da água ocorre a 4ºC.

Para refletir:
Você sabe por que os lagos congelam da superfície para baixo e
não ao contrário?

Calor

O calor como forma de energia

Quando queremos “esfriar” um copo d’água colocamos alguns


cubos de gelo dentro dele, não é? Temos como certo que após algum
tempo a água contida no copo terá diminuído sua temperatura e o gelo SAIBA MAIS
terá derretido, indicando que aquela porção d’água que era gelo aumentou
sua temperatura, pois agora está no estado líquido. A tendência natural Embora o
deste sistema, todos sabemos, é atingir o equilíbrio térmico. calor e suas
aplicações fossem
As variações de temperatura no gelo e na água contida no copo conhecidos desde
são devidas, basicamente, a uma transferência de energia entre estas a Antiguidade,
substâncias. Chamamos esta transferência de energia que ocorreu sua aceitação
unicamente em razão da diferença de temperatura entre elas de como forma de
energia se deu
transferência de calor ou fluxo de calor e definimos:
somente no
século XIX, após
a determinação
calor é a energia que se transfere espontaneamente empírica da
de um sistema para outro devido unicamente a uma relação entre
diferença de temperatura entre eles. caloria e joule
(1 cal = 4,186 J)
Sendo uma forma de energia o calor (Q) é medido em joule no SI, feita por James
Joule em 1850,
mas outras medidas também são usadas no dia a dia, por exemplo, a
quando de sua
caloria (cal) usada em química, a caloria (Cal) mais usada em nutrição e demonstração
a unidade térmica britânica (Btu). Temos: do equivalente
1 Cal = 1 kcal = 4.186 J mecânico do calor.
1 Btu = 252 cal = 1.055 J

FÍSICA FUNDAMENTAL I 189


Capacidade calorífica e calor específico

Um sistema físico muda o seu estado quando há transferência de


energia entre ele e sua vizinhança ou quando é realizado trabalho sobre
ele. Verifica-se, experimentalmente, que a temperatura é uma de suas
propriedades que podem mudar e que a variação de temperatura ∆T que
corresponde à transferência de certa quantidade de calor Q depende de
como se dá essa transferência. Para exemplificar, tomamos para sistema
um gás contido em um cilindro com um pistão móvel. Podemos transferir
calor para o gás mantendo o pistão fixo (ou seja, mantendo o volume fixo)
ou permitindo que o pistão se mova, mantendo constante a força sobre o
pistão (ou seja, mantendo a pressão constante).
A razão entre a quantidade de calor Q fornecida a um corpo em
um processo qualquer e a correspondente variação em sua temperatura
∆T é denominada de capacidade calorífica (C), isto é

Q
C= (8.16)
∆T

e tem como unidade SI o joule por kelvin (J/K).


A capacidade calorífica por unidade de massa de um corpo é
denominada de calor específico (c) e seu valor depende do material, ou
seja, cada material tem um calor específico característico (ver Quadro
8.3). Da Equação 8.16 podemos escrever

C Q
c= = (8.17)
m m ∆T

onde m é a massa do corpo. A unidade SI para o calor específico do


material é J/kg.K.

Atenção!
A capacidade calorífica caracteriza um objeto e o calor específico
caracteriza uma substância.

As equações 8.16 e 8.17 fornecem apenas valores médios


para as grandezas capacidade calorífica e calor específico na faixa de
temperatura ∆T, pois tanto uma quanto a outra depende da temperatura.
Quando temos que considerar essa dependência, devemos usar a
expressão Tfinal
Q = m ∫ c dT (8.18)
Tinicial

190 UNIDADE 08
na qual c é uma função da temperatura. No entanto, para intervalos
não muito grandes de temperaturas comuns, podemos considerar os
calores específicos como constantes e assim escrever
Q = m c ∆T. (8.19)

Calor específico molar

Quando trabalhamos com uma substância em termos do número


de moles n e não com sua massa m, é conveniente definir o que chamamos
de calor específico molar. Para isso lembramos que a massa m de um
corpo pode ser expressa por
m = n M (8.20)
onde n é o número de moles e M a massa molar ou mol. Substituindo na
Equação 8.19, fica Q = nMc∆T. O produto Mc é o que chamamos de calor
c
específico molar ou calor molar ( ). Então:
c
Q = n ∆T (8.21)
donde podemos escrever

1 Q
c=
n ∆T
(8.22)

O Quadro 8.3 mostra os valores para o calor específico e calor
molar para algumas substâncias, medidos à temperatura ambiente e
pressão atmosférica.

Quadro 8.3 - Calor específico e Calor molar

SUBSTÂNCIA CALOR CALOR MOLAR


ESPECÍFICO c(J/mol.K)
c(J/Kg.K)
Água (líquida) 4.100 75,4
Álcool etílico 2.428 111,9
Gelo (0ºC) 2.100 37,8
Alumínio 910 24,6
Mármore 879 87,9
(CaCO3)
Ferro 470 26,3
Cobre 390 24,8

Fonte: Youg & Freedman (2008)

FÍSICA FUNDAMENTAL I 191


Calor de transformação

Quando transferimos calor para um sistema, nem sempre ocorre


uma variação na sua temperatura. Pode acontecer de haver uma transição
de fase ou mudança de fase, isto é, uma mudança de estado físico do
sistema.

Atenção!
A palavra fase designa qualquer estado específico da matéria tal
como o de um sólido, um líquido ou um gás.

Um exemplo bem conhecido é a fusão do gelo. Quando fornecemos


calor para o gelo (0ºC, pressão normal) ele se transforma em água sem
aumentar sua temperatura. Dizemos que o calor fornecido foi usado para
produzir a transição de fase do estado sólido para o estado líquido. No
processo inverso, a solidificação, o calor é liberado pela água, novamente
à temperatura constante.
A quantidade de calor (Q) transferida por unidade de massa (m)
durante a mudança de fase é denominada de calor de transformação ou
calor latente (L) para o processo. Desta definição podemos expressar o
calor transferido em uma mudança de fase como
Q = m L (8.23)
Chamamos de calor de fusão (Lf) o calor transferido nas transições
de fase de sólido para líquido e de líquido para sólido e de calor de
vaporição (Lv) o calor transferido nas transições de fase de líquido para
vapor e de vapor para líquido (ver Quadro 8.4). Nas transições de fase
da fase sólida para a gasosa e vice-versa, o calor de transformação é
denominado de calor de sublimação (Ls).
Quadro 8.4 - Calores de transformação
Substâncias Ponto de fusão Calor de fusão Ponto de ebulição Calor de vapori-
normal (ºC) Lf (kJ/kg) normal (ºC) zação Lv (kJ/kg)

Hidrogênio - 259,31 58,6 - 252,89 452


Álcool etílico - 114 104,2 78 854
Mercúrio - 39 11,8 357 272
Água 0,0 334 100,0 2256
Ouro 1063,0 64,5 2660 1578
Cobre 1083 134 1187 5069

Fonte: Young & Freedman

192 UNIDADE 08
TRANSFERÊNCIA DE CALOR

Você já deve ter observado que alguns materiais permitem


a propagação do calor mais facilmente que outros. Chamamos de
condutores térmicos os materiais que, como os metais (cobre, alumínio,
prata etc.) permitem a transferência de calor, e de isolantes térmicos os
materiais que dificultam ou impedem a transferência de calor (madeira,
isopor, lã etc.). Existem três maneiras de transmissão de calor entre
sistemas físicos. São eles: condução, convecção e radiação.

Condução térmica

A condução térmica é um processo de transferência de calor


que ocorre no interior de um corpo ou entre corpos em contato térmico.
Nesse processo se observa macroscopicamente que o calor se propaga
da região de maior temperatura para a de menor temperatura por simples
contato com o material. Em nível atômico, temos os átomos da região
mais quente vibrando com maior amplitude e, assim, efetuando colisões
com átomos vizinhos, que passam a vibrar mais intensamente, colidindo,
por sua vez, com outros átomos vizinhos e assim por diante, ao longo
do material, de modo que a energia vai sendo transmitida sem que haja
deslocamento de matéria.
Nos metais, além deste mecanismo, ocorre a transmissão de calor
em função dos elétrons “livres”, que também são responsáveis por sua
boa condutividade elétrica.
Para um estudo mais efetivo do processo de condução do
calor tomemos uma barra de material condutor de comprimento L e
seção reta de área A, cujas extremidades são mantidas a diferentes
temperaturas Ta e Tb, sendo Ta > Tb (ver Figura 8.6). Os lados da
barra são isolados idealmente de modo que o calor flui unicamente
na direção e sentido da extremidade onde temos a temperatura Ta
para a extremidade onde temos a temperatura Tb, de modo que
quando uma quantidade de calor dQ é transferida através da barra
em um tempo dt, a taxa de transferência de calor é dada por dQ/dt,
designada por H e denominada de corrente de calor. Ou seja,
dQ Figura 8.6
H = (8.24)
dt

e sua unidade SI é o watt (1 W = 1 J/s).

FÍSICA FUNDAMENTAL I 193


Experimentalmente verificamos que H é diretamente proporcional
à área de seção reta da barra (A) e à diferença de temperatura (Ta - Tb) e
inversamente proporcional ao comprimento (L) da barra. Assim, podemos
escrever

dQ Ta - Tb
H= = k A (8.25)
dt L

onde k é uma constante de proporcionalidade denominada de


condutividade térmica, cujo valor depende do material da barra. A razão
(Ta – Tb)/L, que dá a diferença de temperatura por unidade de comprimento,
é denominada ‘módulo do gradiente de temperatura’. Desta equação
verificamos que a unidade SI para a condutividade térmica é W / m.K.
No Quadro 8.5 são listados os valores para a condutividade
térmica de alguns materiais. Materiais com valores elevados de k são
bons condutores de calor.

Quadro 8.5 - Condutividade térmica

MATERIAL CONDUTIVIDADE
TÉRMICA k(W/m . K)
Prata 406,0
Cobre 385,0
Alumínio 205,0
Latão 109,0
Concreto 0,8
Vidro 0,8
Madeira 0,12 - 0,04
Isopor 0,01
Hidrogêgio 0,14
Ar 0,024
Argôcio 0,016

Fonte: Young & Freedman (2008)

Convém notar que a Equação 8.25 também fornece a taxa de


transferência de calor através de uma placa ou de qualquer corpo
homogêneo com seção reta A ortogonal ao fluxo de calor e espessura L.
Podemos aplicar a Equação 8.25 para o caso particular em que o
material condutor tem uma de suas extremidades imersa em um reserva-

194 UNIDADE 08
tório térmico que pode fornecer uma quantidade ilimitada de calor e
ainda manter a temperatura Ta e a outra extremidade em um reservatório
térmico que pode absorver uma quantidade ilimitada de calor e ainda
manter a temperatura Tb. Nesse caso, dizemos que o sistema está em
regime permanente, pois a taxa de transmissão de calor é constante no
tempo e todo incremento de calor que entra na extremidade quente sai
na extremidade fria. Isto equivale a dizer que a taxa de transmissão é a
mesma em qualquer seção reta do condutor.
Para generalizar a Equação 8.25 introduzimos a coordenada x ao
longo da dimensão do material em que há transferência de calor em razão
da diferença de temperatura. Nesse caso o gradiente de temperatura é
expresso por dT/dx e escrevemos
dQ dT
H= - k A (8.26)
dt dx

onde o sinal negativo mostra que o calor flui sempre no sentido da


diminuição da temperatura. SAIBA MAIS

Convecção Na engenharia
de construção
Chamamos de convecção o processo de transferência de calor é definida a
resistência térmica
que ocorre tipicamente em fluidos envolvendo o movimento da própria dos materiais
massa de fluido, de uma região para outra, em decorrência de seu (R) como sendo
contato térmico com um objeto de temperatura mais elevada. Quando a razão entre
o movimento é provocado por diferença de densidade entre porções do a espessura
do material e a
fluido, dizemos que a convecção é natural; quando a porção do fluido
condutividade
aquecida é levada a se deslocar por uma ação externa (por exemplo, térmica, ou seja,
pelo uso de bomba ou ventilador), dizemos que a convecção é forçada. R = L / k. Sua
Um exemplo bem conhecido de convecção é o fornecido por uma unidade SI é m2 .
K/W.
porção d’água em uma panela posta sobre a chama de um fogão. A água
no fundo da panela se aquece primeiramente e diminui sua densidade;
estando menos densa, ela sobe e dá lugar à água mais fria que está acima
(mais densa), gerando o que denominamos de correntes de convecção.
Muitos outros exemplos podem ser citados: o sistema de refrigeração do
motor dos automóveis, as correntes marinhas, os ventos etc.
Por sua complexidade, não existe uma equação simples que
descreva o processo de convecção.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 195


Radiação

Atenção!
Um corpo em equilíbrio com a vizinhança irradia e absorve energia
à mesma taxa de modo que sua temperatura permanece constante.

A transferência de calor por meio de ondas eletromagnéticas é


chamada de radiação. Por este processo, que ocorre sem precisar de
um meio material, é que nos chega a energia do Sol, mas também a
de qualquer outro corpo aquecido, como a chama de uma vela ou uma
fogueira. Quanto maior a temperatura de um objeto, mais ele irradia. A
taxa de radiação H=dQ/dt de uma superfície de área A e temperatura T é
dada pela Lei de Stefan-Boltzmann, que é expressa pela equação

dQ
H= σ A eT4 (8.27)
dt

onde σ é a constante de Stefan-Boltzmann, aproximadamente igual


a 5,67x10 – 8 W/m2 . K4; e é um parâmetro denominado de emissividade,
que é um número sem dimensões compreendido entre 0 e 1, que depende
das propriedades da superfície.

É bom lembrar!
Você deve completar suas informações sobre este assunto nos
livros citados nas referências bibliográficas.

Naturalmente, um corpo enquanto irradia também absorve


radiação do meio em que se encontra. Se um corpo está à temperatura
TC e sua vizinhança à temperatura TV, a taxa de radiação resultante é
dada por:
HRes = A e σ (TC4 – TV4) (8.28)
onde podemos notar que se HRes > 0, o fluxo resultante é para fora do
corpo.
Um corpo que absorve bem o calor também é um bom emissor. O
corpo negro ideal, ou simplesmente corpo negro, tem emissividade igual
a um e absorve toda a radiação que incide sobre ele.

196 UNIDADE 08
Hoje existem vários tipos de termômetros, mas tudo
começou com o termoscópio de Galileu Galilei, datado de 1592.
Embora haja controvérsias, para a maioria dos historiadores a
construção do primeiro termômetro, cujo princípio físico era a
expansão do ar, deve ser creditada a esse cientista italiano.
O termômetro de Galileu consistia de um tubo estreito de
vidro, com uma esfera também de vidro em sua extremidade
superior, mergulhado em um reservatório aberto contendo
água. Normalmente, devido à pressão atmosférica que atua
na superfície da água do recipiente, há uma coluna de água
no tubo. Quando a esfera de vidro é aquecida, o ar que está
dentro se aquece e empurra a coluna de ar para baixo. As
variações da altura da coluna de água acusavam as variações
de temperatura.

Figura 8.7 - Termoscópio


Fonte: www.educ.fc.ul.pt

1. Conceitue ou comente:
a) temperatura;
b) equilíbrio térmico;
c) calor.
2. O que você entende por:
a) propriedade termométrica;
b) escala termométrica;
c) dilatação térmica;
d) fluxo de calor;
e) correntes de convecção.
3. Faça uma pesquisa sobre o surgimento dos diversos tipos de
termômetros. Procure saber quais são os mais utilizados nos laboratórios

FÍSICA FUNDAMENTAL I 197


de química.
4. Estabeleça as semelhanças e diferenças entre os processos de
transferência de calor.
5. Pesquise e elabore um texto próprio explicando o experimento do
equivalente mecânico do calor feito por Joule.
6. Relacione as grandezas físicas estudadas nesta unidade e identifique
aquelas com unidades SI cujos nomes homenageiam cientistas.
Estabeleça suas definições.
7. Determine a temperatura em graus Fahrenheit e em Kelvin para:
a) 36,7 ºC - temperatura normal média para o corpo humano;
b) 15 ºC – temperatura média da superfície da Terra.
8. Encontre o zero absoluto na escala Fahrenheit.
9. A que temperatura as escalas Fahrenheit e Kelvin fornecem a mesma
leitura?
10. A que temperatura a leitura na escala Celsius é o dobro da escala
Fahrenheit?
11. Uma placa de latão tem um furo circular de 2 cm de diâmetro quando
à temperatura de 28 ºC. Determine o diâmetro do furo se a temperatura
da placa for elevada para 100 ºC.
12. Um cubo de bronze tem aresta de 5 cm a 25 ºC. Determine: a) a
variação na sua área superficial, quando o cubo for aquecido a 40 ºC; b)
o seu volume a esta nova temperatura.
13. Um copo de vidro comum de 180 mL está cheio de glicerina.
Considere βglicerina = 5,1 x 10 – 4 (ºC) – 1 à temperatura de 25 ºC. Se
elevarmos a temperatura do conjunto (copo + glicerina) até 30 ºC haverá
transbordamento? Justifique.
14. Quantos cubos de gelo de 50 g, inicialmente a –10ºC, devemos
colocar em 200 g de água a 30 ºC para que a água resultante tenha a
temperatura de 10 ºC?
15. Em um experimento, projéteis de 2 g de massa são disparados a
uma velocidade de 200 m/s contra um obstáculo de madeira. Supondo
que toda a energia térmica gerada pelo impacto contra a madeira fique
nos próprios projéteis, determine a variação de temperatura sofrida por
projéteis de a) prata; e b) chumbo.

Atenção!
Procure resolver mais exercícios e problemas sobre esse
conteúdo. Para isso, procure os livros referenciados no próximo item.

198 UNIDADE 08
16. O vidro de uma janela tem 3 m2 de área e 0,7 cm de espessura. Quando
sujeito a uma diferença de temperatura de 15ºC, qual a quantidade de
calor que passa por este vidro em uma hora?
17. Uma barra foi composta por duas outras de mesmas dimensões,
de alumínio e latão. As extremidades da barra composta estão sujeitas
às temperaturas de 10ºC e 50ºC, como na figura abaixo. Calcule a
temperatura da junção dos dois metais, quando a transferência de calor
estiver ocorrendo em estado permanente.

18. Um objeto à temperatura de 60ºC é colocado em um ambiente que


está a 25ºC. Admitindo que a área superficial do objeto seja 0,80 m2 e
sua emissividade igual a 0,70, calcule a quantidade de calor que será
perdida por este objeto em 10 minutos.

FÍSICA NA ESCOLA (publicação da Sociedade Brasileira de Física).


Disponível em: <www.sbfisica.org.br/fne/>
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA (publicação da Sociedade Brasileira
de Química). Disponível em:< http://sbqensino.foco.fae.ufmg.br/
qnesc?secao=qnesc>
<www.sbq.org.br> (site da Sociedade Brasileira de Química)
<www.arscientia.com.br> (site de divulgação de Ciência, Arte e
Tecnologia)
<www.saladefisica.com.br>
<www.sbfisica.org.br>
<http://efisica.if.usp.br/mecanica/basico/vetores/>
<www.ucs.br/ccet/defq/mlandreazza/VETORES.html>
<www.mat.ufmg.br/gaal/exercicios/vetores.jpg>
<www.mat.ufmg.br/gaal/exercicios/corrida_vetores.html>
< h t t p : / / b r. g e o c i t i e s . c o m / s a l a d e f i s i c a 3 / l a b o r a t ó r i o / m o v i m e n t o s /
movimentos/html>

FÍSICA FUNDAMENTAL I 199


<http://efisica.if.usp.br/mecanica/basico/movimento>
<www.scite.pro.br/tudo/busca.php?key=fisica&midia=que&pag=3>
<www2.fc.unesp.br/experimentosdefisica>
<www.adorofisica.com.br/comprove/mecanica/mec_cine_veto.html>
<http://br.geocities.com/saladefisica3/labortório.htm>
<http://www.adorofisica.com.br/comprove/mecanica/mec_cine_vetor.
html>
<http://br.geocities.com/saladefisica3/laboratorio/foguetes/foguetes.
html>
<http://br.geocities.com/saladefisica3/laboratorio/newton2/ newton2.
html>
<http://br.geocities.com/saladefisica3/laboratorio/inclinado/inclinado.
html>
<http://br.geocities.com/saladefisica3/laboratorio/polias/polias.html>
FÍSICA NA ESCOLA (publicação da Sociedade Brasileira de Física).
Disponível em: <www.sbfisica.org.br/fne >
<www.saladefisica.com.br >
<www.feiradeciencias.com.br>
<www.fisica.ufs.br/CorpoDocente/egsantana/dinamica/trabajo/energia/
energia.htm>
<http://efisica.if.usp.br/mecanica/universitario>
FÍSICA NA ESCOLA (publicação da Sociedade Brasileira de Física).
Disponível em: <www.sbfisica.org.br/fne/>
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA (publicação da Sociedade Brasileira
de Química). Disponível em: <http://sbqensino.foco.fae.ufmg.br/
qnesc?secao=qnesc>
<www.sbq.org.br> (site da Sociedade Brasileira de Química)
<http://efisica.if.usp.br/mecanica>
<www.saladefisica.com.br>
<www.fisica.ufs.br>
<www.saladefisica.com.br>
<www.sbfisica.org.br>
<http://phet.colorado.edu/sims/wave-on-a-string/wave-on-a-string_
en.html> (com simulação)
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Resson%C3%A2ncia>
<www.if.ufrj.br/teaching>
<www.br.geocities.com/ondas>
<www.seara.ufc.br>
<www.alfaconnection.net>

200 UNIDADE 08
<www.infoescola.com/fisica/onda-estacionaria>
<www.cercomp.ufg.br/wiki/>
<www.scielo.br/img/revis>
PIRES, Denise Prazeres Lopes; AFONSO, Júlio Carlos; CHAVES,
Francisco Artur Braun. Do termoscópio ao termômetro digital: quatro
séculos de termometria. Química Nova, São Paulo, v. 29, n. 6, Dec.
2006 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0100-40422006000600041&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:
30 Jan. 2009. doi: 10.1590/S0100-40422006000600041.
<www.saladefisica.com.br>
<www.if.ufrgs.br>

BEN-DOV, Y. Convite à física. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.

CHAVES, A. S. Física: mecânica. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso


Ed., 2001.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica 1 – mecânica. São Paulo:


Adgard Blücher, 1981.

RESNICK, R; HALLIDAY, D,; KRANE, K. S. Física 1. 5ª ed. Rio de


Janeiro: LTC Editora, 2003.

CHAVES, A. S. Física: mecânica. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso


Ed., 2001.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica - mecânica. São Paulo:


Edgard Blücher, 1981

YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física I:mecânica. 12ª. ed. São


Paulo: Addison Wesley, 2008.

Livro Texto
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; KRANE, K. S. Física. V. 1, 4. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 1996.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 201


Bibliografia complementar
HEWITT, Paul G. Física conceitual. 9ª. ed. Porto Alegre: Bookman,
2002.
NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física Básica 1: mecânica. São Paulo:
Edgard Blücher, 1996.

SERWAY, R. A. Física para cientistas e engenheiros: com Física


Moderna. V. 1. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1997.

TIPLER, P. Física 1. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1999.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica 1 - mecânica. São Paulo:


Edgard Blücher, 1981.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica 2 - fluidos, oscilações e


ondas, calor. 3ª ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1996.

RESNICK, R.; HALLIDAY, D.; KRANE, K. S. Física 2. 4ª ed. Rio de


Janeiro: LTC Editora, 1996.

YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física II: termodinâmica e ondas.


12ª ed. São Paulo: Addison Wesley, 2008.

NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica 2 – fluidos, oscilações


e ondas, calor. 3ª ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1996.

SERWAY, R. A. Física para cientistas e engenheiros com Física


Moderna. 3ª. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996.

SERWAY, R. A. Física 2: movimento ondulatório e termodinâmica. 3.


ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996.

MÔNICA MARIA MACHADO RIBEIRO NUNES DE CASTRO


é professora do Departamento de Física do Centro de Ciências da
Natureza da Universidade Federal do Piauí. Graduada, por esta mesma

202 UNIDADE 08
Universidade, em Licenciatura Plena em Ciências – Habilitação em
Física, fez Especialização em Física na Universidade Federal do Ceará
e mestrado em Ciência da Informação na Universidade Federal de Minas
Gerais (2001). Participou da organização do livro Desafiando os domínios
da informação e é autora de um de seus capítulos. Tem se dedicado,
nos últimos quinze anos, principalmente à área de Ensino de Física,
ministrando disciplinas específicas da Licenciatura (Instrumentação
para o Ensino de Física e Evolução Histórica da Física) e orientando
Trabalhos de Conclusão de Curso. Na Educação a Distância, atua como
conteudista, tendo produzido o material para a disciplina de Metodologia
de Estudos Autônomos dos cursos de licenciatura em Física e em
Química. Atualmente é coordenadora do Curso de Graduação em Física
– modalidade presencial – da UFPI.

MARIA DE NAZARÉ BANDEIRA DOS SANTOS é professora


do Departamento de Física do Centro de Ciências da Natureza da
Universidade Federal do Piauí. Graduada, por esta mesma Universidade,
em Licenciatura Plena em Ciências – Habilitação em Física, fez Mestrado
em Física Aplicada à Medicina na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras
da USP de Ribeirão Preto – São Paulo (1991). Desenvolveu estudos
sobre Sistemas Dinâmicos junto a Universidade Federal de Minas Gerais
de 1997 a 2001, onde defendeu Qualify no Programa de doutoramento.
Continuou os estudos de sistemas Dinâmicos de muitos Corpos e
Transição de Percolação, junto a Universidade Federal de Alagoas (2002
e 2003), onde publicou um trabalho na área com parcerias. Tem se
dedicado, nos últimos quinze anos, principalmente à área de Ensino de
Física, ministrando disciplinas para Licenciaturas e Bacharelados (Física,
Matemática, Biologia e Química) e orientando Trabalhos de Conclusão
de Curso para graduação em Física nas Modalidades Licenciatura e
Bacharelado. Na Educação a Distância, atua como conteudista, tendo
produzido o material para as disciplinas Introdução à Física, Física
para Ciências Biológicas e Física Experimental I para o Curso de
Química. Atualmente é subcoordenadora do Curso de Graduação em
Física – modalidade presencial – da UFPI e Coordenadora do Curso de
Licenciatura Plena em Ciências da Natureza da mesma IES.

FÍSICA FUNDAMENTAL I 203


204 UNIDADE 08
FÍSICA FUNDAMENTAL I 205
206 UNIDADE 08

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