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modesto entender
Olavo de Carvalho
21 de abril de 2017 - 16:35:36
Ainda sobre a lista dos maiores. O ―Wilhelm Meister‖ de Goethe é um dos grandes livros da
humanidade, mas até hoje os críticos não sabem dizer se é ou não é um romance, e quem sou eu
para me meter nessa encrenca?
Posso estar enganado, mas a articulação dialética de sociedade e indivíduo, História e alma, é a
essência do gênero romance.
*
Da página do Rodrigo Gurgel :
Os chamados romancistas atuais acham que desespero é ter de decidir entre o jogo de futebol na
tevê, uma transa por obrigação e gritar ―Fora Temer‖ da janela da quitinete.
Na verdade, tem-se a impressão de que eles decoraram Sartre. Ou Clarice Lispector. Mas a voz
que narra é a de uma Clarice diluída, desfibrada. Talvez seja o perispírito da Clarice.
Há outras opções de estilo: pode ser um Guimarães Rosa canhestro — ou a corruptela de alguma
tradução do ―Ulysses‖. Os que se consideram mais avançadinhos têm um altar em casa para o
Paulo Leminski.
A superficialidade desses livrinhos faz-me lembrar do que Thomas Mann falava sobre o ―tempo
do homem criativo‖.
Mann dizia que esse tempo ―é de uma estrutura, de uma densidade e de uma produtividade
diferentes daquelas frouxamente tecidas e passageiras da maioria‖. E que o ―homem da maioria‖,
admirado da ―extensão de realizações que se podem acomodar neste espaço de tempo‖, pergunta
ao homem criativo: ―Quando vais fazer tudo isso?‖.
Essa perplexidade do homem comum em relação ao homem criador está perdida. Hoje, tudo é
frouxo e passageiro. Hoje, o homem da maioria olha o ―romance‖ de 21 páginas e pensa: ―Isto
até eu faço!‖.